planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS XIV COLEGIADO DE LETRAS GILVANDA DO NASCIMENTO SANTOS PLANEJAMENTO ESCOLAR: UM INSTRUMENTO FACILITADOR DO TRABALHO DOCENTE Conceição do Coité 2010

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Page 1: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV

COLEGIADO DE LETRAS

GILVANDA DO NASCIMENTO SANTOS

PLANEJAMENTO ESCOLAR: UM INSTRUMENTO

FACILITADOR DO TRABALHO DOCENTE

Conceição do Coité

2010

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GILVANDA DO NASCIMENTO SANTOS

PLANEJAMENTO ESCOLAR: UM INSTRUMENTO

FACILITADOR DO TRABALHO DOCENTE

Monografia apresentada ao Departamento de

Educação da Universidade do Estado da Bahia

(UNEB), curso de Letras Vernáculas, como parte

do processo avaliativo para obtenção do grau de

Licenciado em Letras.

Orientador: Prof. Paulo de Tarso Vellanes

Conceição do Coité

2010

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Dedico este trabalho àqueles que contribuíram para sua realização. Minhas colegas professoras que se comprometeram a colaborar conforme minhas necessidades de pesquisa, em especial Solange amiga verdadeira para todas as horas.

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4

Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que

sou um ser condicionado, mas consciente do

inacabamento, sei que posso ir mais além

dele.

Paulo Freire

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Agradecimentos

Agradeço a força superior que nos irradia luz e que nos faz fortes para

superar etapas difíceis, transformando-as em gratificantes, aos amigos que

acompanharam meus passos mesmo quando foi preciso correr para andarmos

juntos, entre eles: Solange, Lissandra, Mara e Sandrinha e ao meu colega

Luciano. Também para aqueles que esperaram minhas visitas que nunca

acontecia. A painho que mesmo na sua simplicidade me ensinou o melhor

caminho a seguir, os estudos. Aos amores da minha vida Na e Lu que

suportaram com paciência minhas queixas, minhas ausências e a falta dos

meus carinhos. Aos professores que, de coração, se dedicaram pelo melhor

desempenho dos seus alunos em especial meu professor e orientador Paulo de

Tarso Vellanes

Enfim, a todos aqueles que participaram ao meu lado desta jornada às

vezes cansativa, mas necessária e prazerosa.

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RESUMO

Este trabalho monográfico apresenta uma análise crítica sobre a importância do planejamento escolar como instrumento facilitador do trabalho docente. Se o mesmo ajuda a resolver os problemas da escola. A pesquisa realizou-se na Escola Municipal Áurea Nogueira no município de Serrinha - BA no intuito de investigar o planejamento escolar enquanto instrumento do trabalho do corpo docente, o papel do professor na elaboração do planejamento escolar e identificar qual a participação da comunidade escolar na construção do planejamento. Como referencial teórico que contribuiu para a pesquisa encontra-se: Vasconcellos (2006), Luck (1995) entre outros. O percurso metodológico se sustenta na abordagem qualitativa, na pesquisa de campo e no estudo de caso. A pesquisa evidenciou a relevância deste instrumento pedagógico, além de apresentar a insatisfação por parte de alguns educadores na construção do mesmo. Palavras chave: Professor, planejamento, comunidade escolar

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ABSTRACT

This monograph presents a critical analysis of the importance of school planning as a facilitator of teaching. If it helps solve the problems of the school. The research took place at the Municipal School Áurea Nogueira in the city of Serrinha - BA in order to investigate the school planning as a tool of the work of faculty, the teacher's role in preparing the school planning and to identify which community participation in school construction planning. The theoretical discussion that contributed to the research is: Vasconcellos (2006), Luck (1995) among others. The methodological approach relies on a qualitative approach in field research and case study. The research showed the importance of this teaching tool, and shows the dissatisfaction of some teachers in the same building. Keywords: Educators, planning, community school

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................9

CAPÍTULO 1– PLANEJAMENTO EM FOCO...................................................11

1.1 Planejamento: conceitos e importância.......................................................12

1.2 Planejamento Escolar..................................................................................13

1.3 Planejamento Escolar na escola: o papel dos sujeitos ...............................18

CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA .....................................................................20

2.1 Abordagem qualitativa ................................................................................21

2.2 Métodos e técnicas .....................................................................................21

2.3 Lócus da pesquisa ......................................................................................23

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DE DADOS .............................................................24

3.1 O conceito de planejar ................................................................................24

3.2 A ideia de planejamento escolar .................................................................25

3.3 Planejamento e plano de aula ....................................................................27

3.4 O papel do professor na elaboração do planejamento escolar ..................29

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................32

REFERÊNCIAS.................................................................................................34

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INTRODUÇÃO

A educação é importante para contribuir com o processo de

desenvolvimento do homem, seja ela informal que acontece no dia a dia

através da observação, da convivência com os grupos sociais, ou a educação

formal que se aprende na escola. Através da educação formal, o homem

adquire os conhecimentos essenciais para ser inserido no mercado de

trabalho. Passa a ser cidadão consciente dos seus deveres e direitos.

Como a sociedade passa por constantes transformações e o indivíduo

tem que estar preparado para acompanhar essas mudanças, é na educação

que ele acredita encontrar o caminho seguro para enfrentar tais mudanças.

Nesse contexto de transformações, de construções, observa-se a

importância do educador que precisa estar apto para acompanhar e tentar

satisfazer às exigências da sociedade perante o cidadão, ter a capacidade de

construir a própria vida, relacionar-se bem com todos viver num mundo

competitivo etc.

O professor sozinho não conseguirá resolver estes e outros tantos

problemas existentes na escola. Ele precisa trabalhar em conjunto e fazer uso

de instrumento que o auxilie na sua jornada pedagógica, a exemplo do

planejamento escolar.

Dentro desse contexto, surgiu o desejo de pesquisar sobre planejamento

escolar; como ele é visto pelo educador, o papel do educador na elaboração do

planejamento e a participação da comunidade escolar.

A pesquisa vem traçar discussão acerca da postura de alguns

profissionais da educação da rede pública do município de Serrinha sobre o

planejamento.

Nesse víeis, foram pensados objetivos como: analisar o planejamento

escolar enquanto instrumento facilitador do trabalho docente. Além disso,

procura-se refletir sobre a importância do planejamento enquanto objetivo

comum da escola, analisar o papel do professor na elaboração do

planejamento escolar e identificar qual a participação da comunidade escolar

na elaboração do planejamento.

Para o desenvolvimento desta investigação, fez-se uso da abordagem

qualitativa, tendo como tipo de pesquisa a pesquisa de campo. As técnicas de

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coletas de dados foram: o questionário, a observação participante e o estudo

de caso.

O planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente.

A escolha dessa temática se deu pela inquietação da pesquisadora que atua

na área da educação e percebeu através de discussões que alguns colegas

reconhecem a importância do planejamento, mas não executa sua construção.

Assim este trabalho monográfico está organizado em três capítulos. O

primeiro traz as discussões sobre o planejamento, conceitos e importância, a

necessidade dele no ambiente escolar e o papel dos sujeitos.

O segundo capítulo apresenta a fundamentação metodológica da

pesquisa, o texto baseia-se em: CHAUÍ (2000), DEMO (2002), GIL (1999),

MARCONI e LAKATOS (2002). Esse capítulo, ainda apresenta métodos e

técnicas de coletas de dados, a observação, o questionário, os sujeitos e o

lócus.

O terceiro capitulo refere-se à análise de dados com o objetivo de

analisar as falas dos professores, e está dividido em quatro categorias:

conceito de planejar, ideia de planejamento, planejamento escolar e plano de

aula e o papel do professor na elaboração do planejamento.

Para finalizar o trabalho, traça-se as considerações finais a respeito do

que foi observado sobre o tema, para que a sociedade perceba a relevância

em se discutir e por em prática instrumentos que ajude e reconheça a prática

do educador.

Espera-se que esta pesquisa possa colaborar com o educador na sua

prática pedagógica.

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CAPÍTULO 1

O PLANEJAMENTO EM FOCO

O ser humano está sempre idealizando um futuro e para que este futuro

venha a se realizar de maneira mais precisa possível se faz necessário não só

a obstinação e a perseverança, mas planejar este futuro a médio e longo prazo;

pois ao planejar o indivíduo se vê comprometido com a ação.

O processo de planejamento consiste em preparar, organizar, criar e

estruturar o objetivo por meio do pensamento do sujeito. Há quem acredite no

planejamento como uma obrigação enfadonha, mas não percebe que ao

acordar nosso pensamento já se projeta no que se vai fazer durante o dia e ao

mesmo tempo começa a se planejar.

Todo planejamento precisa de uma elaboração e segundo Vasconcellos

(2006), essa elaboração se dá tendo como referência as três dimensões da

ação humana consciente: realidade, finalidade e mediação.

I. Realidade – Tanto para que quanto o que estão referidos à situação, à

realidade. Ela é o ponto de partida e o de chegada (só que já transformada).

Ao ser conhecida, a realidade pode trazer possibilidades não

exploradas, à medida que revela o que temos, portanto, os meios que dão

condições para nossas eventuais realizações.

II. Finalidade – Diz respeito aos fins, ao estado futuro de coisas, à

direção para transformar, o que é naquilo que deve ser.

Ao assumir finalidades, o homem nega a realidade presente e afirma

uma outra ainda não existente. A determinação da ação passa a vir não

simplesmente do passado ou do presente, mas também do futuro.

III. Mediação – É a previsão das ações, do movimento, da seqüência de

operações a serem realizadas para a transformação da realidade.

Em qualquer instituição o planejamento deve estar sempre em foco, ser

discutido, revisto, reelaborado, pois o planejamento é uma atividade de caráter

político e ideológico pois representa tomada de decisões e posicionamentos e

que vem provocar transformações.

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1.1 Planejamento: conceitos e importância

Em seu texto “Planejamento em Orientação Educacional”, Luck, (1991),

expõe alguns conceitos sobre planejamento, baseando-se em outros autores.

1. “Processo permanente e metodológico de abordagem racional e

científica de problemas” (BAPTISTA, 1981, p. 13).

2. “Processo de tomada de decisão, execução e teste de decisões”

(GOLDBER, 1973, p.64).

3. “Processo de antecipação e antevisão de condições, estabelecidos ou

situações futuras, desejadas, e a previsão de todos os aspectos

necessários para a obtenção desses resultados” (CHRUDEN e

SHERMAN, 1972, p.52).

4. “Processo que consiste em preparar um conjunto de decisões tendo em

vista agir, posteriormente, para atingir determinados objetivos”(TURRA

et al. 1975, p.13).

5. “Processo de direção e controle das ações de uma pessoa, em busca de

um objetivo determinado (KAUFMAN, 1978).

6. “Visão antecipada de estágios mais avançados de desenvolvimento e de

qualidade de instituição e previsão dos passos necessários para atingi-

los” (JULIATTO, 1991).

7. “Processo que se inicia com a fixação de objetivos e define as

estratégias, as políticas e os planos detalhados para os atingir”

(HAMPTON, 1980, p. 120).

Segundo uma descrição mais específica e analítica, o planejamento é

conceituado como sendo:

8 Processo de estruturação e organização da ação internacional, realizado

mediante:

-análise de informações relevantes do presente e do passado,

objetivando, principalmente, o estabelecimento de necessidades a

serem atendidas;- estabelecimento de estados e situações futuros,

desejados;

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-previsão de condições necessárias ao estabelecimento desses estados

e situações;

-escolha e determinação de uma linha de ação capaz de produzir os

resultados desejados, de forma a maximizar os meios e recursos

disponíveis para alcançá-los. (LUCK, 1991).

Para Padilha (2001, p. 30), Planejamento é o processo de busca de

equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, visando ao melhor

funcionamento de empresas, instituições, setores de trabalho, organizações

grupais e outras atividades humanas. O ato de planejar é sempre processo de

reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão de

necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e recursos

(humanos) disponíveis, visando à concentração de objetivos, em prazos

determinados e etapas definidas, a partir dos resultados das avaliações.

Ao planejar, antecipamos uma série de acontecimentos que podem

ocorrer na ação e nos preparamos para lidar com eles, diminuindo assim a

quantidade de imprevistos e tornando as nossas ações mais precisas e de

melhor qualidade. Além de aprendermos que o planejamento fornece a reflexão

sobre a prática educativa e, dessa forma funciona também como um

instrumento de aprendizagem. Quando planejamos tomamos uma série de

decisões e fazemos uma série de relações entre conhecimentos teóricos,

científicos e conhecimentos práticos de nossa experiência pessoal e

profissional. O planejamento é importante, pois ele ajuda a aprender coisas tão

importantes como à relação ensino-aprendizagem.

1.2. Planejamento Escolar

O planejar é uma ação indispensável à vida pessoal e também

profissional seja na área da educação ou as demais áreas. Contudo a pesquisa

vem refletir a importância do professor fazer uso do planejamento na prática

das suas atividades profissionais já que o planejamento escolar é um

instrumento facilitador do trabalho docente ele conduz ao debate, a reflexão e a

melhoria da qualidade de ensino. É um instrumento importante em qualquer

setor da vida da sociedade, pois torna possível definir o que se deseja a curto,

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médio e longo prazo e não pode ser encarado como ação puramente formal,

mas como uma ação viva e decisiva, pois é um ato político decisório, como

bem coloca Luckesi (1990):

O planejamento, entendido como ato político, será dinâmico e constante, pois estará afeito a uma constante tomada de decisão. Não necessariamente deverá ser registrado em documento escrito. Poderá tão somente ser assumido como uma decisão e permanecer na memória viva como guia de ação. Aliás, só como memória viva ele faz sentido. Papéis e formulários são simplesmente mecanismo de registro e fixação gráfica do decidido.

Diante desse contexto percebe-se que a escola atravessa um momento

de grande crise e não tem conseguido preparar o homem para vida social, nem

desenvolver sua visão de mundo, tampouco preparar-lhe para o exercício da

cidadania, da sua profissão e consequentemente para o exercício de sua

profissão. E nesses termos a formação profissional do educador se constitui

em um problema: fornece técnica de ensino – receitas, mas não conhecimento

que o embasa e conscientiza para sua prática do planejar. Portanto, pensar a

prática pedagógica se torna um reflexo da formação do educador para que a

mesma seja bem estruturada e bem planejada, pois enquanto parte integrante

do processo educativo, o planejamento deve ser alvo de constantes

indagações, quanto a sua validade, instrumento de melhoria qualitativa do

trabalho, do professor, uma vez que não é abordada a orientação teórica

subjacente ao planejamento.

Além da importância do planejamento social, profissional e acadêmico o

planejar pessoal se constitui uma situação real que estabelece o que se quer

mudar, estruturar e organizar para que a mudança da sua realidade se

transforme, pois o individuo muitas vezes vê o planejamento como mais uma

tarefa a ser realizada, não como algo que venha a facilitar o seu trabalho. Por

conta desse pensamento a vida se torna uma caixa de surpresa, em que o

momento será sempre o presente, que as suas decisões não serão

conscientes, articuladas de acordo às suas necessidades, o que se pretende

alcançar, quais interesses reais da sua realidade e o resultado do que se

espera do futuro.

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15

O planejamento constitui-se a instrumento utilizado pelo educador para

direcionar a sua ação, deve partir do conhecimento da realidade concreta, deve

está em permanente processo de avaliação e reflexão e, principalmente, deve

ser construído coletivamente, atentando para a dimensão técnica, já que se

define a maneira como será estruturado e também política, pois, proporcionará

a mudança de atitude. Essa capacidade de planejar, segundo Marx, é própria

do ser humano, quando diz:

Uma aranha executa operações semelhantes ás do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas distingui o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que já tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade (1980, livro 1, v. 1, p.202).

Nota se que a ação realizada, deve deixar a formalidade, ou obrigação

de ser executada, como ocorre na realidade escolar e passar a ter significância

e sentido, resgatando o seu potencial transformador.

Fusari (1988), em seu texto O Planejamento do trabalho pedagógico:

Algumas Indagações e Tentativas de Resposta, aborda a superação do

planejamento enquanto instrumento tecnicista para a concepção do

planejamento como expressão da práxis (ação/reflexão). Através de perguntas

e respostas procura demonstrar a problemática do planejamento e a visão

equivocada de que o mesmo serve apenas burocraticamente.

Distingue o planejamento do plano:

Enquanto o planejamento do ensino é o processo que envolve a atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação entre os educadores e entre os próprios educandos (FUSARI, 1989, p.10).

O plano de ensino é um momento de documentação do processo

educacional escolar como um todo. Plano de ensino é, pois, um documento

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elaborado pelo(s) docente(s), contendo a(s) sua(s) proposta(s) de trabalho,

numa área e/ou disciplina específica.

A sua função como meio de capacitação dos professores fica explicito

quando diz:

A ausência de um processo de planejamento do ensino nas escolas, aliadas às demais dificuldades enfrentadas pelos docentes no exercício do seu trabalho, tem levado a uma continua improvisação pedagógica nas aulas. Em outras palavras, aquilo que deveria ser uma prática eventual acaba sendo uma regra, prejudicando, assim, a aprendizagem dos

alunos e o próprio trabalho escolar como um todo”. (FUSARI 1989, p. 10)

Além disso, toda a elaboração do planejamento deverá estar pautada na

realidade concreta do ambiente escolar e é imprescindível que aja a reflexão

das ações determinadas nos planos ou projetos com o intuito de avaliá-los. A

práxis deve estar presente a todo o momento, como forma de análise do

planejamento, significando, portanto, um olhar crítico do professor em ralação a

sua própria conduta, como também do desenrolar do processo.

Sendo o planejamento um processo permanente e contínuo de um

processo que inclui a reflexão, a análise e a ação como componentes básicos e

indispensáveis Luck (1995), cita algumas qualidades interdependentes do

processo de planejamento, que comprovam a indispensável presença do

planejamento, no ambiente escolar, proporcionando um melhor andamento do

trabalho desenvolvido na escola, como:

continuidade - a ininterrupção entre um objetivo e outro, um momento e

outro, uma atividade e outra;

flexibilidade – a capacidade do plano ou projeto de adaptar-se a

situações novas surgidas durante a sua execução;

inclusividade – assegurada na medida em que os objetivos, estratégias,

atividades levam em consideração todos os aspectos essenciais dos

problemas e são suficientes para resolvê-los;

objetividade – resulta de observações, anotações, análises,

interpretações precisas e pertinentes dos fatos como se apresentam o

que permite a apresentação de propostas de solução ajustadas e

adequadas ao mesmo;

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17

operacionalidade – diz respeito á sua capacidade de aplicação e de

execução, isto é, corresponde a sua capacidade de ser viável factível e

executável;

orientação - condição de apresentar clara, precisa e objetivamente

diretrizes de ação, de especificar os efeitos que pretende produzir, o que

se pretende fazer e em que circunstância;

responsabilização – perpassa pela capacidade de ser uma criação

coletiva, definindo-se responsabilidades: quem fará o que, em que

momento, com que objetivo, etc.

A percepção da importância do planejamento enquanto resultado prático

deve estar presente, ou seja, por possuir uma dimensão política já que

envolverá interesses de indivíduos isoladamente ou de um grupo social, com

ação que afeta a vida das pessoas e da sociedade envolvidas, deverá haver a

reflexão constante daqueles que estão envolvidas no processo, com a

finalidade de possibilitar a mudança e proporcionar ações práticas. Pode-se

afirmar que é necessário o planejamento para nortear e garantir a coerência

frente a uma realidade concreta e dinâmica.

Vasconcellos (1995, p.41) relata que:

Os autores mais progressistas, ao abordarem a problemática, lembram que, antes de ser uma mera questão técnica, o planejamento é uma questão política, na medida em que envolve posicionamentos, opções, jogos de poder, compromisso com a reprodução ou com a transformação, etc. Isso é um avanço, mas ainda não da conta da sua significação. Para ter sentido, o enfoque do planejamento, com a reprodução, com efeito, necessita desse deslocamento. Todavia não basta trabalhar numa nova abordagem; é preciso trabalhar também a descrença que o professor traz, portanto, a percepção, o conhecimento, as representações prévias que já tem quanto ao planejamento. Há, então, esta questão mais elementar hoje colocada, que é a valorização do planejamento, o estar mobilizado para fazê-lo, entendê-lo realmente como necessidade. Trata-se de um problema filosófico-axiológico, de posicionamento valorativo, de ver sentido, acreditar. O planejamento é político, é hora da tomada de decisões, de resgate dos princípios que embasam a prática pedagógica. Mas para chegar a isto, é preciso atribuir-lhe valor, acreditar nele, sentir que planejar faz sentido. O primeiro passo, portanto, é chegar ao ponto do: Planejamento ser necessidade do professor!

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18

Com tantas possibilidades de reflexão, de construção de conhecimento

pode-se perceber a importância do planejamento na atuação do professor e

entender que o processo de planejamento tem como uns dos principais

objetivos evitar a rotina e a improvisação.

1.3 O planejamento escolar na escola: o papel dos sujeitos

Como já foi citado anteriormente o planejamento escolar tem uma

importância relevante no processo de ensino aprendizagem, porém o

planejamento escolar para a grande maioria dos professores é apenas uma

atividade rotineira, elaborada isoladamente, que consiste em copiar algum

objetivo do livro didático, definir conteúdo, documentar e engavetar. Ele não é

discutindo, analisado pelo corpo docente, a comunidade escolar não participa,

não há uma reflexão a cerca da prática dos professores, das metodologias

utilizadas, ou mesmo a socialização das estratégias utilizadas em sala de aula,

que são bem sucedidas. Portanto, não define um ideal de grupo, não explicita o

desejo da comunidade escolar em torno de um desejo único de transformação

da realidade da instituição, enquanto ação e reflexão da prática docente e

avaliação do conjunto da instituição.

A forma tecnicista de elaboração causa um desencontro, uma aversão

ao planejamento, os professores não percebem um sentido ao realizá-lo

apenas tem uma obrigação que deve ser mecanicamente comprida com a

finalidade de ser entregue à secretaria da escola, como uma exigência

burocrática.

O planejamento é um forte aliado contra o ativismo que frequentimente toma conta do cotidiano escolar e que transforma o professor em uma máquina de dar aulas e executar tarefas, ás vezes sem consciência do significado das mesmas. É um processo que envolve discussões de questões básicas – e muitas vezes esquecidas – como a responsabilidade da educação escolar, os princípios e objetivos da escola e os compromissos dos professores com essas definições (FUSARI, 1989).

Contudo, por mais que se busque aclarar a necessidade de elaboração

e execução do planejamento escolar para que a decisão não seja meramente

um ato burocrático é preciso que explicite, discuta suas finalidades mais

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19

específicas: facilitar o trabalho do professor e fornecer a reflexão sobre a

prática educativa.

Toda a comunidade escolar deve estar voltada na realização das ações

do planejamento não só o professor; e esta deve reconhecer o planejamento

escolar como movimento contínuo que não se esgota no período previsto em

calendário escolar, mas antecede e ultrapassa esse limite.

Page 20: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

20

CAPITULO 2 METODOLOGIA

O Ser humano durante sua existência se questiona com a realidade,

busca entendê-la e explicá-la. Primeiro ele usa o seu conhecimento pautado

nas suas próprias inferências, juntamente com suas hipóteses e informação,

ele tem o senso comum como única fonte do saber e informação adquirida.

Com o passar do tempo e diante das necessidades de cada contexto

social, este ser a partir do seu conhecimento investigativo motiva-se a buscar

provas concretas que ultrapassam os limites do senso comum. A pesquisa

surge de uma vontade, de uma curiosidade de procurar provas concretas para

se ter conclusões a respeito de suas inferências. Logo diante de sua

curiosidade e da vontade de buscar sempre mais ele percebe que suas

opiniões por se só não basta para confirmar suas descobertas, é preciso

ultrapassar o senso comum, criar métodos para conhecer melhor tudo que o

cerca.

Para Chauí (2000) O senso comum baseia-se em hábitos e tradições,

cristalizadas o que difere dos processos científicos de pesquisa que necessita

de instrumentos metódicos e sistemáticos que busca rigorosamente a verdade

das coisas. Desta forma, a racionalidade está à frente das questões subjetivas

do senso comum. Sobre a ciência Demo (2002, p.43) acrescenta que:

É possível alargar ainda mais a desmistificação do conceito esteriotipado de pesquisa tendo em vista que aparece naturalmente, porque necessariamente na formação histórica do sujeito social competente. Essa competência deve ser formal (domínio cientifico- tecnológico) e político ( construção e cidadania), onde dialogar crítica e produtivamente com a sociedade e com a realidade é própria demonstração da competência e da cidadania.

Assim a pesquisa científica é indispensável como forma de investigação, pois a

mesma se utiliza de métodos, de técnicas seguras que vão desde a percepção,

formulação do problema até a apresentação dos resultados.

Page 21: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

21

O homem é um ser que constantemente esta em busca de mais, ele

procura superar seus desafios, suas descobertas. E a pesquisa cientifica é um

meio seguro pelo qual ele encontrará respostas.

2.1 Abordagem Qualitativa

A opção pela pesquisa qualitativa se faz importante porque a mesma

compreende um conjunto de métodos e técnicas que visa descrever um

fenômeno no campo das ciências sociais.

Por estas questões este trabalho monográfico tem caráter qualitativo,

pois ela estuda os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem em

que o planejamento escolar caracteriza-se como fenômeno que deve ser

discutido e analisado, uma vez que ele pode ser considerado um entrave no

processo educativo. Neste sentido, a abordagem qualitativa será uma aliada

para a compreensão e explicação da dinâmica dos sujeitos envolvidos nesse

processo. De acordo com Bell (2008, p.15)

Os pesquisadores que adotam uma perspectiva qualitativa estão mais preocupados em entender as preocupações que os indivíduos tem do mundo. Eles põem em dúvida a existência de “fatos” sociais e questionam se uma abordagem “cientifica” pode ser utilizada ao lidarmos com seres humanos.

Adotar a abordagem qualitativa de pesquisa foi necessário, já que este

trabalho está voltado para o ensino/aprendizagem, processo em que está

envolvida toda a comunidade escolar. Sendo, assim, essa abordagem se faz

ideal dentro de um contexto que não deve ser quantitativo, mas refletido,

analisado e compreendido.

2.2 Métodos e técnicas

A técnica utilizada para coleta de dados foi o questionário, pela

necessidade de garantir o anonimato dos sujeitos envolvidos, já que estes são

colegas de trabalho do lócus da pesquisa, além de esta ser uma técnica que

ajuda o investigado responder no momento que julgar conveniente sem receber

influência do investigador. Outro fator que levou a opção pelo questionário foi

Page 22: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

22

por estar próximo ao final do ano letivo e a possibilidade de os professores

saírem de férias. Com o questionário, as respostas poderiam ser enviadas por

e-mail.

O questionário direcionado para professores teve 10 questões abertas

voltadas para a concepção que estes professores tem sobre o planejamento

escolar. Essas questões foram divididas em quatro categorias como: o conceito

de planejar; a ideia de planejamento escolar; planejamento e plano de aula e o

papel do professor na elaboração do planejamento escolar.

A observação participante ou outra técnica de investigação desta pesquisa,

pois como professora do quadro do lócus estudado, estou envolvida

diretamente com a problemática em questão.

Segundo Marconi e Lakatos (2002) na observação participante em sua

forma natural, o pesquisador está muito próximo à comunidade investigada,

participando de forma real das suas atividades.

Descombe (1998 apud BELL 2008) ainda afirma que a observação

participante propicia aos pesquisadores o convívio com os indivíduos

pesquisados para que os primeiros enxerguem as coisas da mesma forma que

os segundos. De modo que compartilhem, as mesmas experiências.

Assim, pertencer à mesma comunidade desses profissionais da educação

é a justificativa para a adoção dessa outra técnica de pesquisa.

Como procedimento de investigação dos instrumentos para analise dos

dados foi utilizado o estudo de caso, que segundo Yin (apud GIL 1999, p. 73):

“É um estudo empírico que investiga um fenômeno atual dentro do seu

contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não

são claramente definidos e no qual são utilizadas várias fontes de evidência.”

Este método propicia um estudo mais detalhado sobre a temática abordada

e traz oportunidades para que um problema seja estudado com mais

profundidade dentro de um tempo limitado. O pesquisador pode se torna parte

no caso a partir de sua constante presença ou a permanência no campo da

pesquisa. O estudo de caso ainda ajuda a relacionar a teoria com a prática

Page 23: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

23

2.3 Lócus da pesquisa

O universo da pesquisa foi a Escola Municipal Áurea Nogueira, situada na

rua, Leovigildo Ribeiro, 434 na zona urbana do município de Serrinha- BA.

Esta escola funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno com

aproximadamente 300 alunos distribuídos nos respectivos turnos.

A escola possui uma boa estrutura física, com 07 salas de aulas, uma sala

de leitura com um pequeno acervo, almoxarifado, sala de professor que no

momento divide o mesmo espaço com a diretoria, 02 banheiros, uma cozinha e

um pequeno espaço de lazer para os alunos. Na área externa foi construída em

outubro de 2009 uma horta escolar e em novembro o início da construção de

uma quadra poliesportiva.

O corpo discente é oriundo da periferia da cidade. Alguns são filhos de pais

analfabetos ou com um grau mínimo de escolaridade Muitos alunos são de

famílias carentes e, portanto, trabalham na feira livre aos sábados para ajudar

no sustento da família. Mesmo assim todos eles frequentam regularmente as

aulas.

O corpo docente é composto por 12 professores, sendo que 10 são

concursados. Destes, 8 possuem graduação em Pedagogia e 2 em Letras

Vernáculas. Todos com jornada de trabalho superior ou igual a 40 horas

semanais.

Como modalidade de ensino a escola oferece o ensino fundamental I

escolhido para a aplicação da pesquisa e EJA I.

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24

CAPÍTULO 3

ANÁLISE DE DADOS

Com a finalização da pesquisa que teve como temática, planejamento

escolar um instrumento facilitador do trabalho docente realizado na escola

municipal Áurea Nogueira em Serrinha – Bahia e aplicada através de

questionário com 10 perguntas abertas e da observação participante, parte-se

para a análise de dados que:

Segundo (GIL 1999) a análise tem o objetivo de organizar e sumariar os

dados de forma que estes possibilitem o fornecimento de respostas ao

problema proposto para investigação.

A análise possibilitou respostas ao problema desta investigação,

planejamento escolar realmente colabora no trabalho do professor e se ajuda

a resolver os problemas da escola.

A partir do questionário, da observação participante foi possível decidir

em quatro categorias, para obter respostas à problemática da pesquisa. Cada

categoria será analisada a partir das falas dos sujeitos investigados que serão

classificados como P1, P2, P3 e P4. Todas as discussões serão pautadas a luz

de teóricos como, Luck (1995), Vasconcellos (2006), entre outros.

3.1 O conceito de planejar

Este ponto se faz relevante por fazer conhecer melhor que pensamento

o professor da escola Áurea Nogueira tem sobre a questão abordada e se ele a

utiliza na sua vida profissional e pessoal.

Quanto a este questionamento a fala de P1 vem demonstrar que:

“Planejar significa traçar caminhos para se chegar a determinado objetivo,

significa prever uma ação futura”.

Os demais professores parecem seguir o mesmo conceito de P1.

Page 25: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

25

P2: “Planejar é a tentativa de construir um caminho seguro para a

aprendizagem significativa é organizar estratégias a ser aplicada em sala de

aula, envolvendo questões diversas é o caminho que conduz a metas e

objetivos a serem alcançados “.

P3: “Planejar significa traçar meios sobre ações que se deseja alcançar

no futuro.”

P4: “É projetar o que desejamos desenvolver durante um curto e longo

prazo, é programar suas ações para que seu objetivo seja alcançado”.

A partir das falas citadas pelos professores acima, observa-se que eles

comungam das mesmas ideias quanto ao conceito de planejar. Que para LUCK

(1995, p. 25) “Planejar vem levantar a situação presente para estabelecer o

que se quer, organizar a ação futura para se chegar a uma maior eficiência,

certeza, além de determinar melhores resultados dos esforços.”

É notável que os depoimentos dos professores P1, P2, P3 e P4 apontam

o planejar como algo essencial para se obter certa segurança nos objetivos que

se deseja alcançar tanto na vida profissional como pessoal. Vasconcellos

(1995) diz que: “Planejar é antecipar uma interferência na realidade buscando

sua mudança.”

Ao planejar o indivíduo antecede suas ações, traça os objetivos e

começa a estabelecer mudanças no ambiente familiar e profissional. Esta

concepção de planejar ficar clara nas falas dos professores do lócus da

pesquisa, porém foi observado que na prática os professores realizam com

freqüência suas ações na improvisação, isto no ambiente escolar.

3.2 A ideia de planejamento escolar

Este ponto traz, mais uma vez, a discussão no âmbito educacional

sobre a elaboração e importância do planejamento escolar para o professor.

Temos na fala do P1 que: “Planejamento escolar é um instrumento que auxilia

na resolução de resultados de problemas que surgem na e da escola,

envolvendo todos que nela trabalham.”

Nota-se na fala do professor 1 que ele entende que o planejamento

escolar é realmente um instrumento importante para auxiliá-lo nas suas

atividades educativas como também pode ajudar ou alcançar objetivos tanto

Page 26: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

26

individual como coletivo. O que é percebido na fala de P2: “O planejamento

norteia e evita a improvisação, além de ajudar a intermediação dialógica entre

professor e aluno, como também colabora com toda a comunidade local..”

Para estes educadores o planejamento é uma atividade que se faz

notória, pois envolve a comunidade na qual a escola encontra-se inserida

através de elaboração e execução de atividades diversas, demonstrando desta

forma que este instrumento não se restringe a aspecto teóricos, mas sim

enfatiza também a realidade vigente.

O professor 3, ao se referir ao planejamento escolar, esclarece o

seguinte: “Não posso responder sobre algo que nunca fiz. Nas escolas em que

trabalhei não havia planejamento escolar. Sempre realizei o plano de aula, que

acredito ser o suficiente para ajudar nas minhas aulas.”

Nota-se no depoimento deste professor que ele não vê tanta importância

no planejamento, já que ele acredita ser o plano de aula suficiente. Ele afirma

não conhecer o planejamento escolar, talvez por falta de interesse ou de

compromisso do próprio professor, pois é importante salientar que ele atua na

área a cerca de 10 anos, seis em sala de aula como educador.

Às vezes fica difícil acreditar que ainda exista professor com formação

acadêmica na área da educação que diz desconhecer instrumentos

pedagógicos. Principalmente por que no município onde atua este educador

sempre é realizada a jornada pedagógica além de outros encontros de

educadores com temas que sempre englobam tais instrumentos.

Até onde se sabe, é correto afirmar que no lócus da pesquisa até 2008

não havia documentos como matriz curricular, projeto político pedagógico e

planejamento escolar. Em março de 2009, a matriz curricular foi entregue a

escola pela Secretaria de Educação do município que diz pretender junto com

os funcionários da escola elaborar o PPP. O planejamento escolar, no período

da jornada pedagógica foi discutido com professores do ensino fundamental I.

Mas até o final do ano letivo de 2009 o que se pode constatar na escola foi:

matriz curricular guardada, PPP e planejamento em discussões raras e

superficiais.

Pode se levar em conta também que a ação para construção do

planejamento envolve habilidades de trabalho em grupo, está ciente que nem

sempre sua opinião será acatada, saber articular com os outros, e o professor

Page 27: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

27

3 muitas vezes se mostrou introspectivo, intolerante. Provavelmente problemas

como estes incentivem o professor a não ir além do que já conhece.

Para P4 “É um guia para a realização de uma aula inovadora e

envolvente e que evita a rotina e a improvisação num ambiente tão dinâmico

como a escola.” Constata-se que, os professores 1,2 e 4 vê o planejamento

escolar como instrumento necessário, algo que visa objetivos, desejos e que irá

ajudar o educador a estar sempre inovando, não deixando que suas aulas

sejam repetitivas e monótonas. Sobre esta questão Luck (1995, p. 38) “afirma

que o planejamento feito com responsabilidade, serenidade e determinação de

aplicação, resulta uma série de contribuições que recompensa todo o esforço

do professor e o seu tempo gasto na função de organização.”

A autora vem comprovar que o planejamento vai além de uma mera

atividade escolar, ele salienta um desejo, uma satisfação de torna algo real.

Sobre a questão discutida anteriormente, os professores admitem que

pela complexidade na elaboração do planejamento, por ter tantas outras

atividades escolares a cumprir além da falta de tempo já que todos trabalham

40 ou mais horas semanais o planejamento escolar se torna uma atividade a

não ser realizada. Vasconcellos (2006, p. 16) afirma que: “Há uma ambigüidade

na prática dos professores, Pois ao mesmo tempo em que não negam a

importância do planejamento, percebem sérias limitações em sua realização.”

O que se percebe é que a construção do planejamento nesta unidade de

pesquisa demonstra ser uma atividade, uma situação não desempenha, nem

produzida pelos sujeitos entrevistados. O que vai confirmar na observação do

pesquisador na categoria 3.2 O conceito de planejar em que o professor na

prática não planeja, mas reconhece sua importância.

3.3 Planejamento e plano de aula

Esta categoria vem tentar esclarecer se existe realmente diferença para

o educador entre planejamento escolar e plano de aula.

Ao se pronunciar sobre esta questão o professor 1 cita: “Planejamento

escolar é mais global, prevê ações mais coletivas. Plano de aula é mais

específico, prevê ações mais direcionadas.”

Page 28: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

28

O professor 2 segue o mesmo raciocínio que o professor anterior

quando diz: “Planejamento escolar é mais amplo, mais global, suas ações são

coletivas e o plano de aula é mais específico com ações mais direcionadas.”

Estes professores, tem a concepção que planejamento e plano de aula

são diferentes. Enquanto um é construído em conjunto, o outro é particular,

uma atividade elaborada quase que exclusivamente pelo professor.

No depoimento do professor 3 ele acredita que: “O escolar é o

planejamento coletivo e o plano de aula é o individual, logo deixa o professor

mais livre para executar as atividades a sua maneira.”

É possível identificar na fala de P3 a ideia que ele faz sobre plano de

aula, para ele parece ser algo que lhe dá liberdade para escolher quando fazer,

como fazer.

É evidente que existe distinção entre estes dois instrumentos. Porém

para elaborá-los o sujeito envolvido deve reconhecer a realidade em que está e

que se deseja melhorar, fazendo em grupo uma leitura do contexto em que se

vive. O plano de aula como afirma P3 dá ao professor mais liberdade, mas isso

não implica fazê-lo a sua maneira, porque como o planejamento escolar, sua

construção está voltada para a prática do professor e para a aprendizagem do

corpo docente. Logo deve ser compartilhado, discutido. Fusari (1989) esclarece

que: ”Planejamento e plano são coisas diferentes se completam e interpretam

no cotidiano da prática dos professores.”

Assim como os demais professores P4 também concorda que há

diferença entre plano e planejamento, pois ele acredita que: “Plano de aula é

mais restrito a objetivos referentes a determinados conteúdos e o planejamento

escolar é mais amplo que diz respeito à comunidade escolar.”

Através dos depoimentos dos professores e da colaboração do autor

citado fica claro que planejamento escolar representa o processo, a ação

planejada a longo prazo, a rota que deve seguir o curso e o plano de aula a

atividade de curto prazo, o objeto diário. Portanto, instrumentos distintos.

Page 29: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

29

3.4 O papel do professor na elaboração do planejamento escolar

Em seu depoimento P1 aponta: “O professor juntamente com a

comunidade escolar representa o “conjunto” que deve planejar coletivamente.

Todos os envolvidos no processo, contribuem para a aprendizagem do aluno.”

Para Vasconcellos (2006. p, 50) “Embora o professor entre só na sala de

aula, esta imbuído nele um projeto coletivo da sociedade no sentido da

formação das novas gerações. Tornando o exercício do professor de caráter

publico.”

P2 assim como P1 mostra a importância do professor na elaboração do

planejamento e que o ato de construí-lo não é apenas responsabilidade do

corpo docente.

O papel do professor é o de possibilitar caminhos ao conhecimento, às mudanças e as transformações que são os objetivos da educação. O planejamento deve estar de acordo com o nível dos estudantes. Relacionando os conteúdos, os conhecimentos próprios e a realidade de forma a criar novos conhecimentos que auxiliem na vida cotidiana do educando. E que a construção do planejamento deve ser em conjunto

Percebe-se, ainda na fala de P2, que o planejamento escolar precisa

está pautado na realidade do aluno, assim projetar novos conhecimentos que

os ajude no seu dia a dia a superar melhor seus desafios. P3 demonstra

também ter a mesma opinião que seus colegas, pois ele explica: “O professor

tem um papel importante na elaboração do planejamento, mas ele precisa da

colaboração dos demais funcionários: diretor, vice, coordenador e outros.”

Acredita-se que o planejamento deva ser um ato coletivo construído a

partir de experiências individuais. Ele é considerado um ato político

pedagógico, necessita ser pensado, repensado, discutido e colocado em

prática com todos os atores sociais inseridos na escola.

O planejamento escolar não deve seguir uma tendência descendente,

com posturas e ideologias determinadas e estáticas, mas sim de forma

ascendente e horizontal em que todos tenham a oportunidade de expressão e

que sejam respeitadas as experiências alheias. Seria vantajoso envolver na

elaboração, discussão, e execução alguns pais de alunos, gestores entre

Page 30: Planejamento escolar um instrumento facilitador do trabalho docente

30

outros funcionários, afinal cada um tem suas particularidades e ricas

contribuições. Talvez assim o planejamento tenha maior impacto na escola.

Quando questionado sobre o papel do professor na elaboração do

planejamento P4 explicitou:

O professor constitui um integrante fundamental, pois conhece a realidade da sala de aula e o comportamento dos alunos, já que estão em contato direto com este ambiente. Assim, quando o professor participa da discussão, da elaboração e execução do planejamento escolar, ele se sente integrante deste, fazendo o possível para que os objetivos sejam alcançados. Trago uma metáfora que relaciono com este tema é através do livro a Águia e a Galinha, Boff(1997), onde há o confronto entre duas dimensões fundamentais da existência humana: a dimensão do enraizamento, do cotidiano, do limitado, que seria o símbolo da galinha e a dimensão da abertura, do desejo, do ilimitado, o qual seja o símbolo da águia. Ocorre o questionamento de como equilibrar essas duas dimensões e como impedir que a cultura da homogeneização afogue a águia dentro de nós e nos impeça de voar. A história da águia e a galinha evoca dimensões profundas do espírito, indispensáveis para o processo de realização humana: o sentimento da auto-estima, a capacidade de dar a volta por cima nas dificuldades quase insuperáveis, a criatividade diante de situações de opressão coletiva que ameaçam o horizonte da esperança. Assim, o professor se sente parte integrante do processo quando atua em todas as fases da elaboração do planejamento escolar.

Ao passar para o relato de P4, nota-se que há uma relação com os

depoimentos dos professores anteriores, porém P4 enfatiza que este agente é

uma peça muito importante porque ao notar que está de fato inserido no ato de

planejar ele se sente comprometido com o planejamento.

Um indivíduo que se percebe parte significante de um processo que tem

por finalidade, como deixa cloro Vasconcellos (2006, p. 60):

Resgatar a intencionalidade da ação (marca essencialmente humana), possibilitando a (re)significação do trabalho, o resgate do sentido da ação educativa. Combater a alienação: explicitar e criticar as pressões sociais e os compromissos ideológicos; tomar consciência de que projeto está envolvido. Dar coerência à ação da instituição, integrando e mobilizando o coletivo em torno de consensos (provisórios); superar o caráter fragmentário das práticas em educação, a mera justaposição.

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31

Sente-se capaz de tomar decisões, de ter opiniões, de atuar melhor no

seu contexto educacional. Ele realiza passos que se complementam e se

interpenetram na ação didática pedagógica.

Se o professor é um sujeito principal na construção do planejamento

escolar ele por está diretamente em contato com o aluno passa a conhecer

suas maiores necessidades de aprendizagem. Este contato leva o professor a

ser ou a se tornar mais dinâmico, original àquele que cria e inova a sua prática

em sala de aula, ou seja, um sujeito que acredita em si e junto com seus

alunos produzirá conhecimento.

Este indivíduo irá produzir o planejamento escolar consciente e imbuído

na melhoria dos índices educacionais brasileiros.

Nas falas dos educadores, identifica-se que ele é o elo principal na

construção do planejamento escolar, mas também é primordial a participação

de todos os funcionários, pois o corpo docente não é o único responsável pela

aprendizagem e o desenvolvimento do aluno. Ele é o sujeito que aprende e

media o objeto de aprendizagem e o estudante, portanto as atividades

pedagógicas devem ser construída coletivamente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a pesquisa pode se observar que o planejamento escolar tem

sido constantemente discutido na área da educação. Principalmente no período

da jornada pedagógica, o que traz a idéia de que apesar deste instrumento às

vezes parecer para alguns professores apenas um atividade corriqueira que

não tem utilidade. Além do mais, não resolve os problemas da escola, pode vir

sim a atrapalhar já que a sua construção toma o pouco tempo que o professor

tem para resolver questões mais urgente como repetência e evasão escolar.

Com tantas queixas ou limitações, fica difícil mesmo o envolvimento do professor com qualquer coisa que diz respeito a planejar. Podemos perceber, pois, no discurso dos professores uma série de eventos obstáculos epistemológicos (cf.Bachelard,1884-1962) em relação ao planejamento, que devem ser trabalhado.(VASCONCELLOS 2006,p.20)

Mas a pesquisa também constatou que existem professores como os do

lócus pesquisado que veem no planejamento qualidades como as enumeradas

por Luck (1995 ) que são: continuidade, flexibilidade, inclusividade,

objetividade, responsabilização entre outras.

Estas qualidades fazem do planejamento escolar um instrumento tão

importante quanto outros, que tem finalidades iguais ou semelhantes, como é o

caso do PPP, Projeto Político Pedagógico.

Os professores acreditam que o planejamento evita as centralizações,

por que cada membro da comunidade escolar irá decidir de acordo a sua

especificidade, mas as iniciativas serão tomadas em conjunto.

Infelizmente, a pesquisa constatou também que o comportamento dos

professores não condiz com suas falas, seus desejos em relação ao

planejamento escolar. Talvez por ser o instrumento de exigências burocráticas,

vertical e por tantos outros entraves, paralisa a ação do professor.

Sendo assim parece correto afirmar que o planejamento facilita, porém,

não resolve todos os problemas da escola. De certa forma ameniza-os,

direciona a comunidade escolar a melhor maneira de solucioná-los.

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Basta ao educador ir além desta consciência e não ausentar-se deste

momento, nem tão pouco, estar nele de forma superficial. Não esperar para

quando instâncias superiores venham decidir o momento de por em ação

atividades que dever ser de praxe do educador.

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REFERÊNCIAS

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planejamento social. São Paulo: Moraes, 1981, p. 13. BELL, Judith. Projeto de pesquisa: guia para pesquisadores iniciantes em educação, saúde e ciências sociais. 4. ed. Porto Alegre: Artmede, 2008.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 7 ed. São Paulo: Ática, 2000.

DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas,

2002. FUSARI, J.C. O papel do planejamento na formação do educador. São Paulo: [s.n.], 1988. _____. O planejamento da educação escolar: subsídios para ação-reflexão-

ação. São Paulo, SE/COGESP, 1989. GANDIN, Danilo. A prática do planejamento participativo. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1994. _____. Planejamento como prática educativa. 7 ed. São Paulo. Loyola,

1994. GIL. Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. LÜCK, Heloisa. Planejamento em orientação educacional. Petrópolis. Vozes,

1991. _____._____.Petrópolis. Vozes, 1995. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1990. MARCONI. Marina de Andrade; LAKATOS. Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e dissertações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MARTINS, Jorge dos Santos. Guia para elaboração de Projetos de Pesquisa. Salvador: [s.n], 1998.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1980, livro 1, v, 1 e 2.

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35

MENEGOLLA, Maximiliano; SANT’ANNA, Ilza Martins. Porque planejar? Como planejar?: currículo área – aula. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1996. PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político pedagógico da escola. São Paulo: Cortez /Instituto Paulo Freire, 2001. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento, plano de ensino-aprendizagem e projeto educativo: elementos metodológicos para elaboração e realização. São Paulo: Libertad, 1997. ______. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização São Paulo: Libertad, 1995. ______.______. 16 ed. São Paulo: Libertad, 2006.

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ANEXO

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Questionário para educadores Tempo de trabalho:________________________________________________

Formação:_______________________________________________________ 1 – O que significa planejar? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2 – Na sua vida profissional e pessoal é necessário planejar? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3 – A escola em que você atua possui planejamento escolar? Este instrumento ajuda a resolver os problemas da escola? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4 – O planejamento escolar é um instrumento facilitador do trabalho docente? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5 – O planejamento escolar deve ser um ato coletivo ou individual? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6 – Há diferença entre planejamento escolar e plano de aula? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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7 – O planejamento evita a rotina e a improvisação? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8 – O planejamento favorece a reflexão sobre a prática educativa? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9 – Qual o papel do professor na elaboração do planejamento escolar? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10 – Planejamento é uma atividade de caráter político e ideológico? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________