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FAIR TRANSNATIONAL INVESTIGATION 2011 PIRATAS, CONTRABANDISTAS E MAGNATAS CORRUPTOS OS BANDIDOS SOCIAIS EM ÁFRICA

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FAIR TRAnsnATIonAl InvesTIgATIon 2011

Piratas, contrabandistas e magnatas corruPtosos bandidos sociais em África

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptos

FAIR DossIeR | JAneIRo 2 011

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The Forum for African Investigative Reporters (FAIR) is a professional association of investigative journalists in Africa. Its mission is to enhance, deepen and build investigative journalism as a profession throughout the continent.

FAIR was established in May 2003 by investigative journalists from six African countries on the basis of the awareness that, firstly, investigative journalists have a vital role to play to enhance the African public’s right to information about all matters of social development and social justice; and, secondly, that African investigative journalists at present face many obstacles, ranging from lack of encouragement and low pay to life-threatening situations.

FAIR’s areas of focus are:

– Independence from undue editorial pressure, physical threats and constraints on time and resources;

– Access to information and information resources as well as to train-ing and career development opportunities;

– Support through peer networking, advice and solidarity; through media legal defence funds and trauma counselling where necessary.

FAIR works to achieve its goals through:

– Professional support for African investigative journalists; – Provision of resources and networking services for African investiga-

tive journalists; – Facilitating cross-border partnerships in investigative stories through-

out Africa;

– Facilitating access to information on Africa archived internationally, as well as access to a network of internationally based colleagues;

– Initiatives to support aspiring African investigative journalists through training and placement;

– Support for, and promotion of, methods of best practice in African investigative journalism

The FAIR network now counts 180+ members in 35 African countries. This is FAIR’s fourth Transnational Investigation.

The FAIR Transnational Investigation 2011 was assisted by Freevoice.

FAIR Transnational Investigation | January 2011

Edited by Charles Rukuni and Evelyn Groenink

Designed and produced by Compress.dsl

Cover photo: © Mohamed Kadir

Text photos: © Mohamed Kadir, Christophe Assogba,

Theophilus Abbah

w w w.fairreporters.org

About the Forum for African Investigative Reporters (FAIR)

Christophe T. E. Assogba Degbe is editor of the

daily newspaper ‘La Nouvelle Gazette’, published in

Benin since 2009. His investigative exposés around

corruption, financial crime and human rights viola-

tions have won a number of West African media

awards. In 2010, Assogba also won a FAIR Grant to

investigate reasons for the continuation of child-

hood marriage and female genital mutilation in Benin.

Theophilus Abbah is the Editor of Sunday Trust,

a national investigative weekly publication with

headquarters in the Nigerian capital Abuja. In 2009,

Abbah published a FAIR grant investigation into the

use of debt relief funds made available to Nigeria by

Paris and London Clubs. In the same year he won

the FAIR Editors’ Courage Award for his publication

– in spite of pressures and threats – of a revealing investigation into

political dynasties in Nigeria.

Mohamed Kadir is a pen name for the reporter

who wrote this story. ‘Kadir’, a professional FAIR

member, has been threatened by pirates as well as

by individuals who objected to his allegations that

businesses in Kenya are financed by piracy. As a

result of the threats, Kadir has chosen to operate

under an alias for now.

Originally from the Netherlands, Evelyn Groenink

took up residence in South Africa in 1990. She has

published numerous investigations into arms trade

between European countries and the southern

African region. Groenink was instrumental in the

foundation of FAIR and has worked as its managing

director since 2005.

A veteran investigative journalist and journalism

trainer from Zimbabwe, Charles Rukuni is FAIR’s

investigative project manager and peer mentor. His

exposés have ranged from government programmes

gone wrong to diamond smuggling. On the side,

Rukuni still edits The Insider, Zimbabwe’s only

investigative newsletter.

Investigative Team 2011

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptos

FAIR DossIeR | JAneIRo 2 011

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptosos  bandidos sociais  em África

“Porque nos primeiros tempos os Helenos e os Bárbaros do litoral e das ilhas, passara a ter a via marítima como meio de comunicação bastante usual foram atentados a  se tornarem piratas sob o comando dos homens mais poderosos a pretexto de estarem a servir  as suas próprias necessidades e  apoiar  os mais necessitados.  Eles iriam cair em cima de uma cidade desprotegida pelos muros,  constituída por  um mero conjunto de aldeias, expostas ao saque, se de facto, isso for  a principal fonte de sua subsistência. Nenhuma disgraça  foi ainda associada  a tal realização, nem meso  algumas  glórias. Uma ilustração disso é fornecida pela honra com que alguns dos habitantes do continente ainda conta ter uma cidade de Marauder com sucesso. Pelas preocupações que lemos em poemas antigos  representam pessoas como se estivessem  a perguntar pelos  viajantes “Eles são  piratas?” - Como se aqueles que fazem as perguntas não  tivessem nenhuma  idéia de recusar a imputação, ou se os seus interrogadores  recriminariam lhes  por isso. “

– Tucídides, as guerras do Peloponeso, 431 aC

Introdução Aos olhos do sistema de justiça internacional e do mundo,

os piratas da Somália são párias  penais. No entanto, para

a  maioria das comunidades  a que pertencem eles são vis-

tos como  heróis, por trazerem  alimentos para as famílias

que passam  fome. Recebem elogios por criarem postos

de empregos e por contribuírem pelo desenvolvimento

de cidade, não apenas na Somália mas também em país

vizinhos como no vizinho Quênia. Os piratas, quando

questionados,  dizem que vêem se no direito de fazer algo

ao qual tem direito, principalmente agora que navios

estrangeiros têm esvaziado as suas águas costeiras de

peixes. Eles consideram-se  ‘Guardas dacostas’,  o que quer

dizer que  preenchem  um vazio que normalmente devem

ser exercido  pelo governo.

Os piratas não são os únicos “criminosos benfeitores”

em África. Em 2010, O   FAIR fez um estudo em torno do

desenvolvimento “ilegal” no Benin, Nigéria, Somália e

Quénia. O   estudo abordava o caso dos   piratas, os seus

canais de dinheiro no Quênia, os contrabandistas de

gasolina no  Benin, e o caso de um corrupto magnata que

ajudou a desenvolver a sua cidade de origem na  Nigéria, tal

como o caso dos  rebeldes dos  petróleos neste mesmo país.

Eis os resultados das  suas actividades:

• Abertura de espaços para ‘empreendedorismo

extralegal’ quando os Estados se tornam fracos ou

tidos como  inúteis para os cidadãos

• Os lucros dos   piratas na Somália chegavam a

ser  tão altos ou mesmo  três vezes  a cima do  orça-

mento do governo somali da cidade de Puntland; o

comercio informal dos contrabandistas do Benin

chegavam a contribuir para  70-80% da economia

daquele país

• Um Estado fraco que não consegue   usar o   seu

orçamento para a execução de  serviços e  desen-

volvimento encoraja o  saque  por parte de  indi-

víduos e grupos empresariais, que as suas recei-

tas  seja de fontes externas (por exemplo: piratas)

ou a partir de  orçamentos de Estado (por exem-

plo: um magnata corrupto)

• A maioria das comunidades que são beneficiam

as acções dos   magnatas corruptos,   dos bandos

de ilegais,   e dos sindicatos e não do   governo,

começam a sentir  leais  para com estes  homens

poderosos ‘extralegais’, passando a vê-los   como

verdadeiros líderes

• Embora as regras dos  homem forte,  exclui tam-

bém a prática democrática   infundindo a cultura

do   medo, esta passa a ser o outro lado da moe-

da  do ‘desenvolvimento a custa do crime’

• Os Estados pouco podem fazer   pelos   sindicatos,

uma vez que os ‘fora de leis’  estão infiltrados nestas

organizações: a lei e a ordem publica mencionadas

pelos  governantes  é uma mera  janela decorativa

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FAIR DossIeR | JAneIRo 2 011

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptos

• A circulação do dinheiro ilegal causa   danos

as  economias de  Estados vizinhos e mais estáveis

As redes  extralegais ou criminosas  são vistas como instru-

mentos que podem trazer  desenvolvimento, onde os gov-

ernos e as estruturas do Estado falham,  mesmo como, por

exemplo, no caso dos rebeldes de petróleo da Nigéria, onde

estas redes têm menos dinheiro à sua disposição do que os

estados.

Ostentação  de moradias  e a  expansão de negó-cios em Puntland“Sempre que seqüestramos  navios, restabelecemos o nosso

stock em questões essenciais como a comida. Compramos,

dos  moradores, alguns  caprinos para aproveitar a  carne e

khat (uma erva ligeiramente narcótica  que é mastigado -

pronuncia-se chat ). Nós injectamos  dinheiro na economia

da região. Como é que este povo iria  sobreviver? Acabaram

com todo o peixe do nosso mar”, diz Abdullah Abdi , um

orgulhoso  pirata de Eyl,  uma pequena cidade litorânea na

região semi-autônoma de Puntland,  na Somália.

Abdi é um dos cerca de 1.500 piratas que  tem estado a

cruzar  as rotas de navegação do oceano indico  e do  Golfo

de Aden, que liga o Mar Vermelho ao oceano índico. Os

jovens, alguns deles antigos pescadores, mas também mui-

tas pessoas que costumavam trabalhar como seguranças e

membros das  milícias do senhores da guerra da Somália e

muitos políticos, capturaram dezenas de navios e centenas

de reféns, ganhando milhões de dólares em resgate.

É difícil estabelecer a quantidade exacta de dinheiro

pago pelas  companhias de navegação como resgate para os

piratas. Em 06 de novembro de 2010, as agências de notícias

internacionais informaram que os piratas somalis haviam

liberado   o petroleiro sul-coreano, Samho Dream, após o

pagamento de um resgate de US$ 9,5 milhões. O petroleiro

foi sequestrado em Abril e levava mais de dois milhões de

barris de petróleo que estava  a ser  transportado do Iraque

para os Estados Unidos.

Segundo a ‘World Peace Foundation’ uma interna-

cional ‘think-tank’ que reúne acadêmicos, diplomatas,

advogados, oficiais militares e parceiros marítimos, que

trabalham para  uma iniciativa para combater a pirataria,

a indústria naval tem estado a perder   mais de US$  100

milhões por ano através de seqüestros .

Só as perdas em   resgate –  a rede pirata de receit-

as  – pode atingir metade ou mais do que da  quantia citada.

Fontes locais disseram  a  FAIR  que um grupo de  piratas, o

império do  pai e filho de Mohamed Abdi Hassan ‘Afweyne’

e Abdikadir,   que opera no centro da Somália,   seqües-

trou   sete navios   em 2009. (As fontes foram capazes de

nomear cinco dos navios e as datas:  o navio cruzeiro para

passageiros  Ship Indian Ocean Explorer (2 de abril de 2009),

o graneleiro “Ariana” (02 de maio de 2009), a embarcação

de pesca Alakrana (02 de outubro de 2009), o contentor do

navio Kota Wajar (15 de outubro de 2009) e o graneleiro Xin

Hai (19 de Outubro de 2009).

Se os pagamentos de resgate, como se prevê, variam

entre US$ 100 000  a US$  10 milhões dólares, como  média

de US$  1 milhão por resgate, só o montante pago em res-

gate a esse grupo de  piratas,  em 2009,  chegou a ser   tão

alto perto da  quantia de US$ 7 milhões. Segundo  observa-

dores, como o Grupo de Acompanhamento da ONU sobre a

pirataria, há pelo menos sete sindicatos, a usar  estimativa

feita pelo FAIR  dos possíveis lucros anuais  da  pirataria na

Somália  que vão até perto de US$  50 milhões.

Em comparação: em 2009, os   projectos de ajuda

para   o   desenvolvimento da Somália   pelo Reino Unido

e os EUA, no domínio da agricultura criaram posto de

emprego   no sector da     pecuária, elevando   não mais

de US$ 5 milhões. O orçamento total do governo de

Puntland,  neste mesmo ano foi de  US$  17,6 milhões.

Ainda de acordo com o Observatório do grupo de acom-

panhamento da ONU,  os sindicatos  de piratas que rondam

pela   costa somali podem ser divididos   em dois grupos

principais. O  primeiro  é de um grupo  infame da pirataria

do  centro da Somália,  Xarardhere e Hobyo: esta região é a

casa  de ‘Afweyne’  e do seu filho. O outro grupo principal

opera a partir de Puntland, no nordeste da Somália.

A ‘economia da pirataria’ é  tão poderosa  em Puntland

que  está rapidamente  a transformar esta localidade  num

Estado criminoso. O governo do presidente Abdirahman

Mohamed ‘Faroole’, em vez de lutar contra a pira-

taria e   desenvolver aquela   região e o país, começou a

tomar proveito   dos lucros dos piratas. De acordo com o

Observatório do grupo da   ONU, altos funcionários de

Puntland, incluindo o presidente Faroole   e membros

do   seu governo, (nomeadamente o ministro do Interior,

general Ahmed Jama Abdullahi e o  ministro da Segurança

Interna, general Abdillahi Sa›iid Samatar) receberam

rendimentos da pirataria e   de seqüestros. O Grupo de

Monitoramento, disse no seu relatório de  10 de Março de

2010  que “mais de 30 por cento do pagamento do resgate foi

retido por funcionários do governo de Puntland”.

O desenvolvimento   com base nos ganhos da   piratar-

ia  é  evidente  em cidades como a vila de  Eyl,  que outrora

vivia da pesca. Agora que os peixes sumiram, as praias de

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptos

Micro-economist, Ahmed Ali Ahmed

Eyl, adornada  com barcos de pesca abandonados, são cer-

cadas de dezenas de casas chamativas  para os novos ricos.

Uma rápida pesquisa mostra como os habitantes

daquela cidade estimam  Abdi e as suas  colegas. Zeynab

Abdi (nenhum parentesco), uma mulher  frágil de 58 anos

que cuida dos  seus quatro netos órfãos da guerra civil de

décadas na Somália, diz que a  sua vida está  melhor agora

que os piratas cuidam  da  sua família. “Quando eles gan-

ham dinheiro, eu consigo  alimentar os  meus filhos. O que

vem do  piratas é a minha vida.”

Zeynab  é geralmente custeada pelos  piratas “Mohamed

e  Farole”, que lhe  “ajudám  na maior parte das vezes” com

o arroz regular, feijão e a   ração de leite em pó,   mesmo

sem ela ser  parente próxima deles. “Eles me dão tudo isso

sempre  que  são pagos com dinheiro de resgate. Eu e  os

meus netos   estamos confortáveis. A pirataria é o lado

da manteiga do nosso pão”, aprova ela.   Rodeando   pela

vizinhança   para encontrar    notícias sobre novos navios

seqüestrados é   faz hoje  parte da rotina de  Zeynab Abdi

as  manhãs, logo após as orações.

A poucas ruas de distância, o retalhista   Sugule

Dahir  mostra-se orgulhoso pelo trabalho dos  piratas. “Há

muitas lojas e agora o negócio está  a crescer. Cibercafés e

escritórios para chamadas de telefone foram abertos  e as

pessoas nesta área são mais  felizes do que eram antes de a

pirataria ter iniciado.

Ahmed Ali Ahmed, um micro-economista e  empresário

que dirige várias escolas e empresas de media (comunica-

ção social)  na Somália, observou que as casas estão a ser

erguidas, onde não havia nada. “(Piratas) gostam de con-

struir  casas grandes,  e se elas  custassem apenas US$ 30

000  as pessoas daqui  investiriam facilmente  US$ 60 000

para obter a mesma coisa, porque elas não se importam.

Ouvi dizer que eles começaram a construir casas, mesmo

em Mogadishu. O  contratantes beneficiários,  são os que

fornecem aos piratas o álcool e a  khat”.

Os negócios  de Anab Farah, uma jovem de 26 anos tam-

bém está a crescer, mas no caso dela de uma maneira muito

especial: a jovem divorciada é quem cuida dos  reféns que

os piratas têm em vários locais. Farah prepara as três

refeições diárias para cada   refém, entregando-os   aos

guardas  dos reféns como take aways. Ela também vende o

khat. (Obrigatório para as actividades  dos piratas, o preço

de um quilo de khat subiu para 66 dólares, contra os 18

dólares comercializados  em outras partes da Somália).

“Os piratas são importantes para o meu trabalho. Muita

das vezes chego a ganhar ao equivalente a quatrocen-

tos dólares americanos. Alimenta a minha família e

estou a planear   comprar um carro muito em breve”, diz

Farah, antes de quebrar a conversa com   uma música

que esta a ser muito   popular nesta região de Eyl:” ya

couve, couve ya oo Somalidu dandeeda kafinkara oo

aan aheyn burcaat badhet ‘,   o que   significa “Que mais

pensa na  nossa situação, nós  somalis, senão  os piratas.”

O homem forte pode matar ti Sendo ajudado     pelos   piratas é um dos   lados da moe-

da,   vivendo  sob as regra do ‘homem forte’ é outro.  Fatuma

Mohamed, uma jovem de 24 anos   que é originária de

Djibuti,  casou se  com seu marido pescador da região de

Eyl   sem que soubesse que ele já   tinha se envolvido em

pirataria. Ela agora se sente aprisionado a   um pesadelo.

“Uma noite, depois que nos casamos, eu falei da pirataria,

e ele me perguntou qual era a minha opinião sobre isto. Eu

condenei. Disse que nem a nossa religião, nem a nossa cul-

tura permite isto. Ele permaneceu em silêncio.”

Esta,   no entanto, claro para Fatuma a origem da

sua  comida, as mensalidades escolares para as crianças e a

suas jóias de ouro abundante , e ela odeia isso. “Eu gostaria

de fugir, mas ele iria me matar”, ela suspira, “este homem

não tem medo de ninguém.”

Em contraste,     Halima   Hassan, de 15 anos, esposa

de um pirata, sente-se grata. “Os piratas são os   guardas

costeiras. Os navios estrangeiros   têm poluído  e extraído

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptos

Block of recently constructed flats in Eastleigh

os peixes das  nossas águas durante muitos anos. Alguém

deve guardá-los para nós”, diz ela. Halima   tem certeza

que: os piratas estão a trazer algum benefício para a região,

incluindo para o vizinho  Quénia, sob a forma de stoke  de

peixes, que  tem regressado as  águas costeiras do leste de

Africa,  agora que os piratas tem corrido com as traineiras

de pesca comercial  estrangeira.

“Pescadores do  Quênia vêem beneficio na   pira-

taria”,   destacou a     agência de notícias Associated Press,

em Janeiro de 2010. A agência citou o director   local

da   Associação Marítima queniano, bem como o CEO de

uma empresa de pesca queniana,  e ambos afirmaram  que

os estoques de pesca subiu ‘consideravelmente’ em 2009.

Ambos também concordaram que   isto aconteceu   muito

provavelmente,   graças à ausência de pesca comercial

por traineiras estrangeiras, que deixaram de   freqüentar

estas  águas por causa da pirataria.

Halima Hassan casou  recentemente  com um homem

mais velho que é pirata, o Sr. Hassan, tem 70 anos. O casa-

mento foi concertado  e a diferença de idade     já seria um

excelente obstáculo para a maioria das outras meninas.

Não é, contudo, para   Halima. Isso pode ter sido por ela

estar agora a  viver numa casa de aparência distinta,  con-

struída em terreno espaçoso, com uma porta da frente com

impressão azul e  folhas verdes  pinturas, e rodeado por um

gramado impecável e  árvores nativas. O interior é decora-

do com  esculturas de  padrões tradicionais, da Somália  e o

cheiro de perfume está em toda parte. Comparado com os

barracos de lata que  ficam nesta  área, pode se dizer  que

este é um palácio, e a  Halima, adornada com uma roupa

brilhante de ouro,  é a sua princesa. A sorridente Halima

guarda e cuida das ferramentas de trabalho que o   seu

marido mantém em   casa: vários lança-foguetes, AK47

fuzis, metralhadoras automáticas, granadas e pistolas.

“É assim que eu ganho o meu o pão”, diz ela, limpando

uma AK47. “Meus pais não têm dinheiro e não tenho

estudo. Sem isso, eu não comeria.  Graças a isso, eu tenho

muito” Como exemplo, ela aponta através da janela para

os carros estacionados fora: dois, Toyota Prado, um  azul e

outro de cor  prata.

Apesar de muitas jovens não estarem felizes estan-

do  casadas sem o seu consentimento, a prática é bastante

comum na Somália. Como em outros países pobres, a

prática é principalmente   impulsionada   pela pobreza.

“A terrível situação no   nosso país tem levado as famílias

a vender as suas filhas  cada vez mais cedo. São vendidas

a  qualquer coisa”, diz um jornalista local que tem  escrito

muitos relatórios sobre a prática. Mas, embora, na Somália,

a prática continua  a ser repugnante para ele e para muitos

outros progressistas, a situação mudou um pouco.

Antes de pirataria uma  menina casava  com um homem

pouco menos pobres do que sua  própria família, e a pobreza

permanecia, em grande medida, o status quo. Hoje em dia,

os dotes para algumas famílias - especialmente aquelas

que têm filhas lindas - aumentou consideravelmente.  Um

mais velho em Eyl que pediu anonimato diz que: “Eu fui

chamado muitas vezes como mediador   das negociações

entre os piratas e os pais. Os piratas trazem belas vestes,

caminhando revestido com varas de ouro, perfumes,

camelos, artefatos valiosos e dinheiro.” O mais velho está

preocupado com isso. Embora ele não tem nenhum prob-

lema com os  casamentos arranjados, por si só, sente que

a prática do vulgar “beleza-para-dinheiro” tem “matado o

tecido moral” da sociedade na região.

O “Pequeno Mogadíscio” no QuêniaAbdilkadir Issa, agradece   à pirataria, por ter ajudado

a  manter as suas duas filhas na escola. Ele não tem que  se

preocupar entre  fazer lhes casar  ou  continuar  a  susten-

tá-las, uma vez que o seu trabalho como vendedor  de  uma

loja de eletrônicos  propriedade de um pirata que paga-lhe

bem. “Meu salário me ajuda a cuidar dos  meus filhos e eu

sou grato ao patrão, apesar de sua profissão”, diz Issa.

A loja de eletrônicos não está em Eyl, mas num   bair-

ro   somali de Eastleigh na vizinha capital do Quênia,

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FAIR DossIeR | JAneIRo 2 011

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptos

Government spokesman Dr Alfred MutuaPlot holders in Nairobi are being forced to put up signs that their plots are not for sale

Nairóbi. A mesma emprega mais outros   15   trabalha-

dores. Um   grande número de edifícios altos surgiram

recentemente   em Eastleigh, e são agora apelidado de

‘a pequena   Mogadíscio’, em homenagem a capital da

Somália. Eastleigh é o bairro preferido para os somalis que

vivem em Nairobi, alguns deles refugiados da Somália.

“Centenas de jovens estão aqui  empregados no sector

da construção. Eles agora estão a construir um edifício

de nove andares, um projeto que emprega 25 pessoas”,

diz o empresário Ibrahim Abey. A loja de eletrônicos do

Senhor     Issa é parte de um dos novos complexos. Outras

empresas prósperas neste edifício   são nomeadamente,

uma loja de roupa de senhoras  e uma casa  de câmbio.

A Comunidade de Negócios de Eastleigh, uma coal-

izão de empresários somalis no Quênia, diz que não tem

conhecimento de quaisquer investimentos dos  piratas em

Eastleigh. O associação afirma que os seus membros tem

o que é preciso para gerir uma empresa como qualquer

outra pessoa no Quênia e que gostaria de agradecer todas

as investigações do governo, “desde que não seja tenden-

cioso contra eles”. Algumas das pessoas que trabalham no

bairro, no entanto, falam abertamente sobre seus patronos.

“Eu sei que o meu patrão é um pirata, mas isso não é prob-

lema meu. Eu não matei ninguém, sacrifico  me  para gan-

har o  meu salário e dividendos”, diz um gerente  queniano

que esta a frente de uma loja de  um poderoso  pirata  como

responsável   de um posto de gasolina em Eastleigh. Os

piratas não podem legalmente conduzir um negócio ou

uma conta bancária no Quênia, assim, como muitos out-

ros, ele encontram um queniano amigo  para fazer isso por

ele. “O investidor me disse para fazer dinheiro para ele,”

diz este gerente. “Isso, é na medida que ele mais ganha mas

eu cresço.”

Da mesma forma, Abdilkadir Issa não tem problema em

admitir que a sua loja de eletrônicos é o resultado do inves-

timento de piratas. Às vezes, Issa confessa, que pensa em se

juntar ao seu empregador, na pirataria, mas depois repen-

sa. Ele na verdade tem medo de morrer, terá de   responder,

quando lhe for perguntado pelos recrutadores de piratas

que pesquisam o subúrbio de Eastleigh.

Um relatório da World Peace Foundation afirma que as

empresas no Quênia jogam um papel fundamental na con-

dução da pirataria na costa somali. O relatório, intitulado

“Combate à Pirataria Marítima”, lançado em Janeiro de

2010, diz que a pirataria na Somália é controlada por cerca

de 1.500 piratas, que estão organizados em sete sindicatos

e que estes sindicatos são financiados e intermediados por

‘pequenos patrões’ da Somália, Quênia, Dubai, Líbano e

até mesmo de alguns países europeus.

Um oficial do sector marítimo, que falou ao jornal

‘Daily Nation’ do Quênia, na condição de o seu nome não

fosse mencionado por causa da sensibilidade da questão,

disse que estavam cientes do papel de um grupo seleto da

lei, segurança, aviação e companhias de navegação em

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptos

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Mombasa e Nairobi, que desempenhavam um papel no

sentido de facilitar a liberação de navios seqüestrados e

pagamentos de resgates. “Os escritórios de advocacia e de

segurança facilitavam as negociações e a elaboração de

contratos, enquanto que as empresas de aviação e navega-

ção entregavam os pagamentos de resgate para os piratas

na Somália”, disse ele. “O dinheiro ou é  entregue a com-

panias aéreas privadas que voam ao redor de Nairobi, de

descarregadas para os navios sequestrados pelos piratas

ou são carregados em navios que vão para a Somália a par-

tir do porto de Mombaça. Depois de tais missões terem sido

realizadas, os piratas pagam os serviços de advocacia, de

segurança, da aviação, e as empresas de transporte envolv-

idas, através de seus agentes em Nairóbi e em Mombasa

através de um sistema oficial de transferência de fundos

chamado Hawala”.

O porta-voz do governo queniano, Alfred Mutua, disse a

FAIR que há “suspeitas de que parte do dinheiro que está a

ser recolhido pela pirataria está a ser usado para a compra

de imóveis no país. Estimativas oficiais dizem que há entre

Ksh 96 bilhões e Ksh 164,000 milhões (US$ 1,2 bilhões e US$

2,05 bilhões) que flutuam na economia informal do país.

Os preços dos imóveis em Nairobi dispararam devido

à um grande, inesplicável injeção de dinheiro no mercado

imobiliário. Em conseqüência da compra das propriedades

por parte dos piratas e dos seus colaboradores, tornou-se

difícil para os quenianos de nível médio de renda para

pagar a compra, ou mesmo manter, as suas próprias casas.

Em Eastleigh, o senhor Kamau wa Ngige diz que ele foi

forçado a colocar placas de aviso dizendo que a sua pro-

priedade não está à venda. Ele diz que os piratas “queriam

comprar tudo”  na área. “Alguns anos atrás, o custo de

uma  trama estava  entre Ksh 3-4000000 (US$ 37 000 – US$

50 000) mas  agora  custam  entre Ksh 10-12000000 ( US$

124 000 – US$  149 000), tudo por causa do dinheiro fácil dos

piratas. Eu me pergunto por que eles ainda estão a circu-

lar  livremente no  nosso país. Eles deveria estar todos atrás

das grades”, disse Kamau.

Salah Abdi Sheikh, um escritor de economia baseado em

Nairobi, disse que não era nenhum segredo que “o dinheiro

se movia de Puntland para o Quênia.” “Há evidências de

que muitos piratas estão agora movidos pela  força  da ofer-

ta e demanda  do mercado em que há somalis, não somalis

e mesmo europeus envolvidos “. Sheikh acrescentou que

“os financiadores não vivem na Somália, mas em lugares

como Dubai e no Quênia. Quando o dinheiro é recebido, os

financeiros intruem para que sejam reencaminhados para

a região onde os mesmos vivem. “ O porta-voz do governo,

Alfred Mutua, disse que “o Banco Central do Quénia está a

investigar a proviniencia deste dinheiro” e que “as contas

bancárias estão   a ser   monitoradas para garantir que se

consiga chegar aos suspeitos.” Mutua disse acrescentando

que há  esperança  que com  nesta operação o governo con-

siga pegar sonegadores.

O Presidente da Somalilândia Faroole tem, em várias

ocasiões, condenado verbalmente     os actos de pirataria

e por outro lado o seu executivo têm detido e condenado

uma série de piratas. Mas nas costa de Puntland a activi-

dade dos  piratas  aumentou e os grantes  líderes dos piratas

continuam à solta e sem medo de virem a ser preso.

Os Contrabandistas e o comercio da  gasolina sujaJoseph Midodjiho, também conhecido por   Oloyé, não

tem um nível de escolaridade considerado, mas  é o presi-

dente da associação comercial de petróleo no Benin. Ele é

o proprietário e benfeitor da área do porto de ‘Porto Novo’

(o  centro do qual é agora disignado por Oloyé Tokpa ou

Oloyé Pier) e  detentor de um bem conhecido  posto de gas-

olina de  contrabando. “Ele da de comer a milhões”, diz um

comerciante local de gasolina Kinsegbedji Houssou Gbalé.

“É graças a Oloyé que os nossos negócios tem estado a

crescer.” Polígamo e pai de vários filhos, de estatura medi-

ana, e com um bigode fino e barba.  Oloye anda a vontade, é

muito respeitado por onde passa. Ele irradia energia, joie de

vivre, e gosta de uma piada ou um provocação.

Dos cinco barcos que chegam, a cada noite, em ‘Oloyé

Pier’, cada um transporta entre 400 e 500 latas de gasolina

adulterada. Todas pertecem a Joseph Midodjiho. Elas são

de seguida   descarregadas por jovens e adultos anciosos.

É um trabalho sujo e insalubre. O cheiro de gasolina é tão

fino que é difícil respirar. Mas a alegria entre os trabalha-

dores é tangível.

“Eu ganho CFA 50 por cada barril (cerca de 10 centavos de

US$), às vezes até CFA 3000 (US$ 6) numa  noite”, diz  Justin

Godonou, que se ri,  um eletricista   semi-qualificado que

abandonou   a escola na 3 ª Classe. Charlotte Medji, que

mora nas proximidades, mostra-se   também   feliz: “Eu

consigo  dar de comer a minha familia  com isso. Quando

os  meus filhos vem ajudar, facturamos  ainda mais.”

A descarga dos barcos, mesmo que pareça caótica, mas

com todos a tentar carregar o numero de barril possível, é

altamente organizada. Os agentes andam pelos arredores,

acompanhando de perto o trabalho dos trabalhadores,

anotando o número de barril que cada um carrega. Em

frente da porta do armazenamento vizinho, um outro

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Petrol on sale on the road side in Cotonou

A motorcyclist fills up at a roadside petrol station

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agente contabiliza o número de barril por trabalhador. Em

menos de 45 minutos 450 barris são descarregados e arma-

zenados de forma segura. É quase hora para um próximo

barco desenbarcar.

Os barcos são  provenientes  de cinco diferentes cidades

do Benin, que fazem   fronteira com a Nigéria: Atchéko,

Djoffin, Djavi, Ménontin e Sado. Todos descarregam aqui,

no porto de  Oloyé Pier. So no sector do petróleo, a empresa

de Oloyé emprega mais de 600 pessoas. Ele também possui

um esquema de empréstimos, a Caixa de Crédito Mutuelle

pour le Changement, que ajuda mulheres com crédito para

iniciarem negócios, como barracas de pão. Segundo o seu

director Eliane Toukon, 1.300 mulheres acessaram esses

empréstimos até a   data. Um morador do município do

Porto Novo Louho, Victor Adounsiba, diz-nos que a sua

esposa é uma delas. Antes, sem dinheiro, ela agora vende

comida numa escola primária na sua área, diz ele. “O Oloyé

realmente ajuda os pobres, para que não tenham que men-

digar e ser parasitas”.

As barracas de pão  que muitas iniciaram com os crédi-

tos dados por  Oloye são abastecidas  pela própria padaria

do   Oloyé que fica na sua cidade natal Adjarra, a poucos

quilómetros do Porto Novo.  Além do pão, Oloyé também

facilita transporte para Adjarra. A sua frota de carros e

mine- autocarros, conhecidos por ‘transportes de Adjarra’,

operam a partir de um largo   parque de estacionamento

no meio urbano e prestam   serviço no Porto Novo,   em

Cotonou e  em outras localidades na região sul do país.

Além disso, há centenas de jovens   que agora   usam

motorizadas fornecidas   por Oloyé para transportar

passageiros ao redor. Tal como o grupo das mulheres

empresárias, os condutores das motorizadas pagam   em

parcelas os empréstimos dados por Oloyé. Um vendedor

local de gasolina, Houssou Gbalé, admite que “Oloyé real-

mente ajuda. Mesmo que não consegue pagar seu crédito

de volta   na íntegra, Oloyé compreende.” Oloyé também

construiu escolas de aulas e organiza torneios desporti-

vos  em benefício de estudantes em Adjarra.

Estima-se que Oloye dá directamente   emprego para

seis centas  pessoas, e indiretamente para  vários milhares

de cidadãos beninenses.

O secretário-geral da Association des Importateurs

Transportateurs Revendeurs et des Produits Petroliers

(AITRPP), Theophile Adjovi, reza para que os esforços do

presidente da  AITRPP,  Oloyé  “ajudar os necessitados”. Tal

como a ajuda que presta a grande maioria das pessoas da

região, ele  apoia um corpo  pró- Governo Force Cauris pour

un Benin Emergente, dos quais Oloyé é  o líder e benfeitor.

Apesar deste quadro brilhante, Oloyé é um criminoso.

A venda da contrabandeada   gasolina adulterada, ou

“kpayo”  (gasolina suja) é ilegal no Benin. Os contrabandis-

tas lutam entre si e contra as autoridades, e como resultado

tem havido mortes.  A gasolina é considerada suja por  não

ter passado pela refinaria e polui  as cidades do país, partic-

ularmente  o centro de Cotonou. O Departamento do  Meio

Ambiente de  Benin diz que só na capital, de  Cotonou,  83

toneladas de dióxido de carbono e 36 toneladas de hidro-

carbonetos voláteis   tem sido   espirrada para fora todos

os dias, 59 por cento são generadas pelas  motocicletas. O

custo anual de infecções respiratórias na cidade foi esti-

mado em US$ 1,3 milhões e US$ 42 milhões de intoxicação

por chumbo.

Mesmo a AITRPP e a sua liderança, Adjovi e Oloyé,

haviam declarado o seu apoio a campanha do governo

beninense contra o contrabando de ‘gasolina suja’. Eles

e muitos outros comerciantes participantes comprome-

teram-se a arrumar os seus barcos, barris, mangueiras,

garrafas e outros acessórios, e no sentido de mudaram se

para actividades de negócio  legais.

O próprio   Joseph ‘Oloyé’ Midodjiho afirma que: “Nós

fizemos propostas concretas para a comissão nomeada

pelo governo sobre esta matéria. Estamos a estudar con-

juntamente a viabilidade de empréstimos com baixos juros

(para as pessoas envolvidas no negócio ilegal   de gaso-

lina) com a finalidade de iniciar novos postos de gasoline

legais. Gostaríamos de licenciar a venda do petróleo legal.

Estamos a trabalhar no sentido de racionalização e reorga-

nização do sector de petróleo.”

É questionável se   o   governo vai de facto ganhar a

luta contra os contrabandistas de gasolina. O diretor de

Promoção do Comércio Interno do Departamento de

Comércio, Allagbé Claude,  admite que esta vai ser uma

tarefa formidável. Um estudo realizado  por este  departam

ento  concluiu  que o sector informal responde a  70-80 por

cento de todas as importações de combustível,  dos  mais

de 300 milhões de litros por ano, no país. Allagbé disse que

o governo optou  por trabalhar com o sector informal para

regularizá-lo em vez de simplemente confrontá-lo, uma

vez que  o sector “levantou  pontos relevantes”.

As questões levantadas pelos contrabandistas resum-

iam   principalmente à incapacidade do governo para

atender as necessidades de combustível do Benin. Em pri-

meiro lugar, o sector formal não tem suficientes postos  de

distribuição. Em segundo lugar, o preço do combustível

‘legal’ é demasiado elevado para a maioria dos consumi-

dores e, em terceiro lugar, se o desemprego maciço no

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Chief James Ibori, developer of Oghara

sector, for evitado, os comerciantes informais deverão  ser

inseridos no sector formal. O governo estave    a trabalhar

para a implementação de todas estas medidas, segundo as

palavras de Allagbé. Mas ele também admitiu que have-

ria     “sempre   espaço para o   sector informal”, enquanto

os preços   estiverem   baixos na Nigéria, e enquanto não

haver   realmente uma diferença significativa entre os

preços da gasolina da estação e os  preços informais.

Além disso, Allagbé acredita que o Benin só poderia

conduzir uma luta bem sucedida contra os contrabandis-

tas de gasolina se houvesse colaboração do governo nige-

riano. Mas as estruturas do Estado nigeriano, como a do

Benin, parecem ser relutantes ou incapazes de reprimir os

traficantes. Allagbé negou, no entanto, que o contrabando

de gasolina seja responsável pela promoção do desenvolvi-

mento do país. “Nós acreditamos que permitiu um número

de pessoas  a ganhar o seu pão,  pelo menos em termos do

seu dia-a-dia, mas o que eles ganham é realmente uma

ninharia. É uma larga escala de importadores que tem se

beneficiado.”

Isso em si já traz um outro problema para o governo

porque  a maior parte dos  importadores  são os políticos,

funcionários governamentais e militares que utilizam

terceiros como seus “testas de ferro”. Allagbé reconhece

que estava ciente disso. “Num  encontro promovido  pelo

Departamento do Interior, onde os contrabandistas

estavam presentes, alguns deles acusaram   figuras   do

Estado como estando envolvidas no tráfico”, disse ele,

acrescentando que não era “muito importante” saber

quem estava envolvido. Mas o jornalista beninense

Kokouvi Eklou (FAIR) ha mostrado que os contrabandistas

de gasolina estão entre os principais benfeitores do partido

do governo, o que quer dizer que o  mesmo sindicato que

o  governo diz que está neste combate, tem relações privi-

legiadas, com figuras-chave no mesmo governo.

E, pode-se perguntar, quem gostaria de abater a

galinha dos ovos de ouro? Em 2004, por exemplo,- estes

são os dados  mais recentes disponiveis-, o sector informal

teve   245 milhões de litros de combustível, obtendo um

lucro de US$ 23 milhões. Isso poderia financiar todo o sec-

tor da educação  do governo no Benin.

A terra natal do  chefão Um visitante de Oghara, uma aldeia com  menos de 5 000

pessoas no estado do  Delta na Nigéria, poderia facilmente

confundir a cidade por  um lugar mais desenvolvido  no

mundo. Há ruas iluminadas. As estradas bem pavimen-

tadas têm instalações de drenagem. A ‘aldeia’ também

se orgulha com  um estádio   moderno de futebol, um

instituto politécnico, um campus para a  Universidade do

Delta do Níger, o quartel-general da logística da  Marinha

nigeriana, um Colégio Eleitoral, o Esquadrão 51 da uni-

dade móvel da polícia nigeriana, um hospital moderno

com especialistas com  facilidade de ensino e localizado

próximo a  uma dezena de hotéis.

As únicas lembranças da  localização geográfica da

vila são a sua paisagem, a cor e as características dos

seus habitantes e, talvez, o facto de que a piscina pública

esta coberta de ervas daninhas. Que isso é um local bem

governado   e   imediatamente evidente pelo fato de que,

apesar dos  semáforos estarem ainda por ser  instalado, os

peões  são geralmente disciplinados  e cortês. Autocarros

e veículos para viajantes esperam pela sua vez; as pessoas

com   bicicletas e motorizadas   também se comportam; o

tráfego flui como um rio.

Oghara é a cidade natal do Chefe James Ibori, o antigo

governador  da província do Delta. Embora acusado de cor-

rupção, os moradores de Oghara gostam do  Ibori porque

“ele é quem trouxe todo esse desenvolvimento”. Ibori é

tão popular que, em Abril 2010, mais 1 000  jovens, alguns

armados com rifles AK, bloquearam a entrada da aldeia

para impedir que a policia enviada pela Comissão dos

Crimes Económicos e Financeiros da Comissão (EFCC)  o

prendessem. Os manifestantes diziam que ele estava a ser

perseguido por causa das suas convicções políticas.

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A EFCC acusa Ibori de supostamente roubar milhões

durante seu mandato como governador da província do

Delta. As acusações incluem:

• Um esquema de fertilizantes envolvendo US$ 152

milhões

• Acções no valor de cinco biliões de nairas (

US$ 340 milhões) adquiridos em nome do Estado

de  Delta  alegadamente convertido ao pessoal da

sua empresa

• Compra de um jato Bombardier Challenger avali-

ado em US$ 20 milhões.

• Compra de combustível no valor de 350 milhões

de nairas (US$  2,3 milhões) desviados para a

conta de um assessor

• Outros 400 milhões de Naira (US$  2,7 milhões)

desviados para a conta de outro assessor

• 300 000 libras esterlinas destinadas ao desenvolvi-

mento de  vários estádios também desviados  para

conta de um assessor

• Outros US$  253  000 também para  estádios des-

viados para a conta de um assessor, e

• A compra de uma   casa em Londres, avaliada

em  mais de dois milhões de libras.

A EFCC diz que essas acusações se referem apenas a lava-

gem de dinheiro e que  ele está também  a ser  procurado

pela polícia britânica. Ibori pode ter desviado mais ver-

bas significantes para Estado, mas o seu povo, ele afirma

que as acusações de corrupção são motivadas politica-

mente. Ibori diz que ele está a ser perseguido por apoiar

o ex-presidente nigeriano Umaru Yar›Adua e a frustrar

aqueles que desafiaram-no nas   eleições presidenciais de

2007. Yar’Adua venceu as eleições controversas. Ibori tam-

bém afirma que o chefe da EFCC, Nuhu Ribadu, tem  um

rancor pessoal contra ele. Ele diz que Ribadu estava com

raiva dele por não ter sugerido ao  ex-presidente Olusegun

Obasanjo  para que lhe nomea-se  chefe da  polícia.

Ibori foi preso no   Dubai em Maio de 2010, sobre as

ordens da polícia britânica depois de fugir de  Oghara. Ele

está sob custódia desde então e, em 18 de Outubro, um

tribunal de recurso do   Dubai aprovou o pedido da Grã-

Bretanha para extraditar o ex-governador para enfrentar

as acusações de lavagem de dinheiro.

Enquanto o povo de Oghara adorá-lhe por ter recu-

perado as   infra-estruturas e a actividade económica e

social   na sua   cidade natal, os seus críticos o acusam de

“plantar todas as árvores do Estado  numa fazenda”.  Pode

haver alguma verdade nisso, já que a cidade de Oghara é

muito mais desenvolvida   do que outras cidades no mesmo

estado. Mas os defensores de Ibori   apontam   a   falta de

desenvolvimento nas fronterias com os outros Estados da

Nigéria e perguntam  o que estes  governadores tem feito

com os orçamentos que tiveram à sua disposição.

Além disso: outros governadores, tal como Ibori, que

também  foram varias vezes acusados de  corrupção, não

fazem notar os seus fundos ‘desviados’ como passou a fazer

Ibori, na Nigéria. O Prince Audu Abubakar, ex-governador

do Estado de Kogi entre 1999-2003, foi acusado pela EFCC

de ter desviado   N5 bilhões (US$   334 milhões). Mas na

sua cidade natal, para além da sua casa apalaçada  que se

ergueu   sobre uma colina, e um colégio, o desenvolvim-

ento é praticamente inexistente. A estrada que atravessa

a comunidade era, estava até pouco tempo, em um estado

pobre. Não há nenhum hospital nesta vila.

O outro governador que a EFCC esta a processar

por  práticas corruptas, é Alhaji Saminu Turaki do Estado

de  Jigawa. Ele é acusado de desviar N 30 bilhões (US$ 1,8

bilhão), que a EFCC afirma  que desperdiçou em falsos  pro-

jetos. Na sua terra de origem, em Kazaure, o único projeto

de desenvolvimento visível é um Instituto de Tecnologia

da Informação. Mas as estradas em Kazaure são ruins, há

escassez   de água, os   serviços médicos são escassos e as

escolas estão em estado deplorável.

Abandoned water project equipment, Olugbobiri

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School of Engineering, Delta Poly Otefe, Oghara

Alguns dos governadores ‘corruptos’ trouxeram algum

desenvolvimento para suas cidades de origem, mas

nenhum deles fez tanto quanto Ibori. O Reverendo Nyame

Jolly, que governou o Estado de Taraba entre 1999-2007,

e que enfrenta   acusações de corrupção levantadas pela

EFCC, no montante de N 1.3 mil milhões (US$  100 milhões)

– construiu  algumas estradas, providenciamento de  água

potável,   habitação a  baixo custos e reabilitou escolas em

Zing, a  sua cidade natal. Ele também construiu um hotel

de três estrelas, que funciona como sua propriedade pes-

soal. Chefe Joshua Dariye, que foi governador do Estado

de Plateau, no mesmo período, e que enfrenta acusações

de desperdiçar  N700 milhões  (US$  4,6 milhões) – Trouxe

para a sua cidade natal a   Universidade do Estado do

Planalto, e  fez boas  estradas. No entanto, os investimentos

nestes dois casos não se somam aos fundos que  ele esta a

ser acusado de ter  desviado e  empalidam  em comparação

com os que foram investidos pelo  Chefe Ibori  em Oghara.

Desenvolvido por rebelião armadaNa região rica em petróleo, do Delta do Níger, os rebeldes

foram interrompendo o fornecimento de petróleo e as

companhias de petróleo viram se forçadas a se envolver em

projetos que beneficiassem os cidadãos. Isto fez com que

conquistassem os corações de muitos no seio da  população

local. Mas as parcerias com o governo estadual para manter

os projetos não foram implementados. O que os rebeldes de-

senvolveram em tanques de água e infra-estrutura de saúde,

se tornou agora  inútil por causa da inatividade do governo.

O centro de saúde local, que ainda esta de pé, no seio

de uma das setes pequenas aldeias que compõem o estado

de Olugbobiri, foi construído pela empresa petrolífera

italiana AGIP, em 2008, depois que os rebeldes do Delta do

Níger atacarem   repetidamente uma estação de petróleo

da  AGIP  nas nas proximidades de Tebidaba. “Os militantes

apelaram a AGIP  a construir  isso, em troca dos  danos  que

fizeram a nossas comunidades”’, diz Amaka James Ogona

(74), chefe do reino local.

O chefe diz que as comunidades agrícolas já não produ-

zem como antigamente porque o solo tem sido danificado

pelo derramamento de óleo. Os moradores agora tornaram

se exclusivamente dependentes do óleo de palma, da

bebida obtida da palmeira, e de algum  pequeno comércio,

para sobreviver. “As empresas só começaram a dar ouvido

quando os rebeldes atacaram. Apoiamos a luta armada

contra o governo e contra as companhias de petróleo,

porque somos pobres “, diz o chefe local Finidi Moisés,

que também é vice-presidente da Comunidade  Comitê de

Desenvolvimento de Olugbobiri. “Estas instituições, que

extraem petroleo deixam da nossa terra arrasado. Mesmo

que não formos todos para pegar em armas,vimos que

os que fizeram foram capazes de torcer o braço das com-

panhias de petróleo em força-las a fazer algo por nós. ‘’O

prejuízo para nós começou em 1973, com a perfuração de

petróleo”, acrescenta o Chefe Ogona “Mas as empresas só

começaram a ouvir a comunidade, quando os rebeldes

atacaram”.

O líder militante de Olugbobiri   Josué McIver (nome

verdadeiro: Imomotimi Ukparasia) teve   os   seus homens

no  ataque à estação de petróleo  de Tebidaba intermitente-

mente durante quatro anos para forçar a empresa a ouvir

os problemas das comunidades. Foi então acordado que

AGIP iria construir um centro de saúde pelo pagamento

da indemnização. “Deve ter custado a AGIP cerca de 30

milhões   Naira (US$ 150 000) para construir isso”   acres-

centa  o  Chefe Ogona. “Mas a empresa traçou uma linha

quando se tratou do fornecimento de equipamento e de

pessoal do centro. Eles alegaram que o governo daquele

estado é quem deveria fazer isso.”

O plano da AGIP era que o centro ficasse sob gestão

do   conselho do governo local, que nos termos da

Constituição nigeriana tinha as obrigações de   fornecer

serviços e  cuidados primários de saúde. Mas nada aconte-

ceu e agora, um ano depois, o prédio já está coberto de ervas

daninhas e algumas das instalações foram vandalizadas.

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Piratas, contrabandistas e magnatas corruptos

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O único  projeto de água  nesta comunidade  que se tor-

nou realidade foi igualmente graças  ao  braço  de ferro  que

o rebeldes exerceram sob a AGIP. O reservatório de água,

com uma capacidade de 200 000 litros, foi construído pela

AGIP, após pressão dos militantes, a um custo de US$  140

000.  Foi colocado no ar sobre bungalows, ao lado de uma

árvore gigante, de pedra seca. “O governo deveria mantê-

lo, mas não foi fisso que fizeram. Não houve resposta a

nenhum dos nossos pedidos para que acompanhassem

aquilo que a AGIP fez, revela o Chefe Ogona.

Um dos projetos emanados da luta dos rebeldes arma-

dos que é de real utilidade para os moradores é a estrada

em Olugbobiri. É a única estrada transitável na área e foi

construída por trabalhadores pagos pelo líder rebelde

Joshua McIver, a quem a AGIP  deu  o contrato para fazer

o trabalho. Embora não passa por uma estrada moderna

asfaltada, a sua qualidade é certamente melhor do que

outras existentes da  comunidade: É o único caminho que

pode ser verdadeiramente  chamada  de  estrada.

O custo da construção da estrada não é conhecido.

Nem é a quantidade de dinheiro que os rebeldes foram

pagos para a sua   construíção. Nem AGIP nem os rebel-

des dão informações próximas. A maioria das pessoas em

Olugbobiri suspeitam que ser provável que os rebeldes de

McIver ficaram com parte do dinheiro que seria para as

estradas.

Os militantes parecem estar a viver bem. Os melhores

edifícios nesta área pantanosa rurais pertencem a eles,

assim como as melhores casas nas cidades. Ao contrário

das casas frágeis de pessoas normais nesta área pantano-

sa, as casas dos   rebeldes são construídas em blocos de

concreto, com boas   instalações sanitárias, electricidade

sofisticada e ar condicionado.

Embora os rebeldes pensem primeiro em si, e depois

na comunidade, a maioria das pessoas na área concordam

que as suas actividades de “braço-torção” vis-à-vis com as

companhias de petróleo trouxeram algo de bom.  Ouvimos

que o  líder rebelde “África”,  distribuiu  3 milhões de nairas

(US$  25 000)   as mulheres e  aos pobres  da  sua aldeia,  uma

semana antes do  FAIR visitar  a área.

Um outro líder rebelde, chamado ‹Boyloaf› (nome verda-

deiro Victor Eboka Bowei), é também conhecido pelas suas

ofertas de dinheiro aos   jovens, mulheres e pobres da sua

comunidade. ‹Boyloaf› já teria também financiado a insta-

lação e fornecimento de água e electricidade em Fropa, da

sua aldeia natal. O líder rebelde, formado em engenharia

pela Universidade de Calabar, do sul da  Nigéria, terá pago

as contas dos alunos que abandonaram a  escola para que

podessem fazer os exames da Ensino Secundário, que dão

acesso ao ensino superior.

Em contraste com a força econômica comparativa dos

piratas na Somália e os contrabandistas no Benin, o gov-

erno nigeriano tem muito mais dinheiro do que os rebeldes

fazem. Os críticos dos rebeldes dizem que as suas activi-

dades apenas sabotam a economia. Os ataques rebeldes

são citados como tendo   custado   ao governo   a quantia

de US$  1 e  US$  2 bilhões por mês em 2008 e 2009. Uma

comissão presidencial sobre a concepção de um plano mes-

tre para o Delta do Níger,   informou que o governo havia

perdido US$ 20,7 bilhões em receitas do petróleo devido

às actividades dos rebeldes nos primeiros sete meses de

2009.  Os maços de dinheiro de “África” e “Boyloaf”  não  é

nada se comparmos.

Novamente, os apoiantes dos rebeldes questionam para

que servem as receitas públicas, se este   mesmo governo

não é visto  a  usar esse dinheiro para o desenvolvimento?

Mas também é duvidoso que os rebeldes poderiam for-

necer uma alternativa possível para liderança do gov-

erno provincial. Apesar de apoiar a causa dos rebeldes, o

sociólogo Anele Kinikawo, um ex-chefe do Departamento

de Sociologia da Universidade de Port Harcourt no Estado

de Rivers, disse que a causa dos rebeldes tinham sido

seqüestrada   por elementos criminosos. “A região de a

galinha dos ovos de ouro muitas vezes era negligenciada.

Então, houve raivas encubadas que foram expressas pelos

actos dos militantes. Mas há lugares que os criminosos

conseguem entrar.”

Kinikawo descreve como “algumas pessoas que não

eram realmente parte da luta dos militantes  para a trans-

formação genuína da região rica em petróleo infiltraram

se   na   organização para   recorrer   a seqüestro,     vandal-

ização de gasodutos e outras sabotagens econômicas. Este

era contrário à realização dos objectivos dos   reais mili-

tantes   tinha traçado para como meta.” Como resultado,

argumenta Kinikawo, um grupo de rebeldes tenta   falar

das   injustiças ao povo da região, enquanto   que o outro

grupo   faz   isso para fins egoístas para enriquecimento

individual.

Kinikawo disse que a filantropia dos verdadeiros   mili-

tantes era a sua maneira de encontrar relevância   nas

comunidades que tem acenado. Foi também, acrescentou,

“uma forma indirecta de ensinar os pobres   como fazer

administrações estaduais”.

Os governantes na Nigéria certamente que tem muito

a responder. Uma  pesquisa conduzida por Sam Aghalino

do Departamento de História da Universidade de Ilorin,

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estado de Kwara, na Nigéria, indica   que   uma   grande

soma de dinheiro foi  atribuída à região do Delta do Níger,

entre 1999 e 2007 pelo governo do presidente   Olusegun

Obasanjo. Aghalino chamou o aumento de custo de vida de

‘salto quântico’ aos  recursos nacionais dedicados à região

do Delta do Níger. “A distribuição recente de alocação de

receitas para os governos estaduais é o mais revelador.

Com base apenas em derivados , em 2005, o estado de

Bayelsa recebeu N6.4 bilhões (US$  427 milhões), o estado

de Rivers, N8 mil milhões (US$ 534 milhões dólares ),

o  estado de Delta, N15 bilhões (US$ 1 bilhão), Akwa Ibom,

N4 0,6 bilhões (US$ 307 milhões) “, disse ele, notando que os

números têm vindo a aumentar. No entanto, os resultados

tangíveis na prestação de serviços e desenvolvimento  têm

ainda de  se materializar.

O governo federal parece estar ciente de que a militân-

cia no Delta do Níger continua a ser uma ameaça e, desde

o ano passado, iniciou um processo para “reabilitar” mili-

tantes. Em Outubro de 2009, foi dada  amnistia a todos os

militantes no Delta do Níger. Estima-se que 10 000 militan-

tes de todos os estados da região estão a ser reabilitados

através de programas de formação em diferentes vocações,

tanto na Nigéria como  em outros países. Em vários cam-

pos de  reabilitação  na Nigéria, o governo paga  a cada um,

o  estipêndio mensal de cerca de N70, 000 (US$ 467 dólares

. Isso quase que colocou o fim   da   violência no Delta do

Níger, por agora. Mas continua o desafio do subdesenvolvi-

mento e  falta de recursos que estão  a ser  bem aproveita-

dos na região.

ConclusãoQuando o objecto do presente inquérito foi divulgado  aos

diferentes contactos da  listas do  FAIR, abrangendo um to-

tal de 180 jornalistas de investigação em África e no mundo,

verificou-se que os quatro casos que estávamos a ver  não

eram   os únicos exemplos disponíveis de ‘desenvolvim-

ento ilegal’ em África. Alguns repórteres disponibilizaram

se  para contribuir  com estudos  sobre o desenvolvimento

de Lubumbasi na RDC, supostamente movido pelo gover-

nador Moise Katumbi, contra a qual tem sido derrubado

com graves acusações de comércio ilegal; há o   caso dos

agricultores na Costa do Marfim que estão a  virar-se para

o crescent negocio ilegal da marijuana confrontando os

sufocantes   impostos sobre o cacau tradicional e as cul-

turas de café,  tal como o  caso das trabalhadoras do sexo

que  alimentam  e pagam as proprinas  escolares  das famí-

lias e das  comunidades; o caso  de camponeses agrícolas

ilegalmente em reservas naturais e os casos da burla afri-

cana  baseada  no  ‹419 ‹ em que  roubam na internet  pes-

soas de países estrangeiros.

A fonte de produção do exercício desta população

parece fortalecer a conclusão de estudo singular: para mui-

tos cidadãos Africanos, ficar  longe do Estado, a trabalhar

activamente contra ele, ou simplesmente andar a saquear,

parece que traz mais comida na mesa do que  interagir com

ele.

A questão  é que os   líderes africanos terão de mostrar

que   são sérios quanto ao desenvolvimento   em mate-

ria  dos direitos humanos e democracia, ou -  se  são semel-

hantes  aos  casos da Somália, Nigéria e Benin-  se sentem

felizes em continuar a  conduzir uma máquina que não  tra-

balha. Se nada mudar, os resultados desta investigação

mostram que o progresso econômico pode cada vez estar

nas mãos de bandidos sociais com todas as conseqüências.

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