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Pesquisa histórica a respeito do palacete eclético Tereza Lara, localizado no centro histórico de São Paulo. Esta pesquisa é parte integrante de um Trabalho Final de Graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

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Fonte: Panorâmio

Culturalmente, os paulistas antigos, por volta de 1800, se homogeneizavam, inclusive na instrução precária – fossem ricos ou pobres. Moravam em iguais condições, se alimentavam basicamente da mesma maneira. Admiravam a taipa de pilão e as suas casas eram igualmente feitas. As variações eram quantitativas e não qualitativas. Foi o inesperado dinheiro do café que subverteu tudo e chegou-se ao período ostentatório do Ecletismo. A expansão da produção cafeeira e a implantação de uma rede ferroviária no estado de São Paulo provocaram um vertiginoso aumento demográfico na capital. Com a construção da estrada de ferro dos ingleses em 1867 ocorreu uma mudança gradual de usos, costumes e comportamentos, cujas novas expectativas iam exigindo alterações graduais nos programas arquitetônicos de necessidades, inclusive residenciais. A substituição da mão-de-obra escrava pela assalariada atraiu para o Brasil grandes fluxos de imigrantes, provenientes dos países europeus e asiáticos. Muitos deles foram trabalhar na lavoura das fazendas de café, enquanto outros se instalaram nas cidades.

A presença desses imigrantes mudou a fisionomia de São Paulo: línguas diferentes, novos hábitos, formas de sociabilidade inusitadas, organizações populares, movimentos políticos e culturais influenciados pelas experiências europeias demonstravam o caráter cosmopolita da cidade. Os imigrantes abriram diversos estabelecimentos comerciais e de serviços. Nesse período, a cidade expandiu-se a partir do seu núcleo central. O centro se transformara em área comercial e de escritórios.

A expansão urbana levou, de um lado, à formação de bairros operários nas zonas industriais que acompanhavam as vias férreas, como Mooca, Brás, Pari, Belém, Lapa, Bom Retiro, Ipiranga, e, de outro, à formação de bairros de elite,

como Campos Elíseos, Higienópolis e Avenida Paulista.Nos bairros populares, as ruas estreitas cortavam os

estabelecimentos industriais e as moradias densamente povoadas. A falta de saneamento básico no novo cenário industrial propiciava a transmissão de doenças. Em contraste, os bairros ricos gozavam de amplas e elegantes avenidas pelas quais se perfilavam palacetes cercados de muros, abastecidos pelos serviços públicos: rede de água, esgoto, iluminação e calçamento, além de uma lei que regulamentava a construção e a ocupação de “jardins e arvoredos”.

Graças ao aumento demográfico, todos os bairros foram vítimas de intensa especulação imobiliária que resultou no elevado preço dos terrenos e moradias e de um crescimento urbano caótico e acelerado. Quanto ao transporte, além de charretes, cavalos e carros de boi, bondes de tração animal de várias empresas trafegavam tanto pelos bairros dos operários quanto pelos da elite.

Em 1889, criou-se uma linha que partia da Sé e terminava na Colina do Ipiranga, e outras duas que se dirigiam aos bairros do Bom Retiro e Bela Vista. De 1872 a 1900, as linhas de bondes atingiram 60 quilômetros.

Bonde em 1900. Fonte: Material Comemorativo dos 450 anos de São Paulo

SITUAÇÃO HISTÓRICA

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Por ser o espaço mais emblemático da cidade, começando por abrigar o Pátio do Colégio, berço de São Paulo, não há na capital paulista maior concentração de história por metro quadrado do que no Triângulo, área que tem nos vértices a Praça da Sé e os largos São Bento e São Francisco. A planta imperial de São Paulo, em 1810, corresponde ao atual Triângulo Histórico. Era a cidade da época, o restante eram chácaras ou pequenas aglomerações.

A história da cidade, do Estado e do desenvolvimento nacional passa necessariamente pelo traçado das vias e pelas construções do Triângulo. Da conquista do planalto à inserção na economia global, é no Triângulo que São Paulo tem de fato 454 anos O perímetro delimitado pelas atuais ruas Direita, São Bento (antiga Rua Direita de São Bento) e 15 de Novembro (antiga Rua do Rosário, depois da Imperatriz e, desde o início da República, 15 de Novembro), no Vale do Anhangabaú, concentra a ferveção populacional da São Paulo do início do século XX.

As duas ruas “direitas” (a de Santo Antônio e a de São Bento) eram planas, retas e cruzavam-se em ângulo reto, fato único na cidade, razão por que este ponto era conhecido como “quatro cantos”.

A área do Triângulo era onde se concentravam as principais funções e cujos vértices eram balizados pelos conventos de São Francisco, São Bento e São Carmo. As ruas não iam além dos vales dos rios Tamanduateí e Anhangabaú.

Consideradas estreitas até para os padrões de construção da época, com o passar do tempo, as “Ruas do Triângulo” se transformaram, naturalmente, em ruas estritamente para pedestres.

Durante o governo de João Teodoro (1872-1875), foi feito o calçamento das ruas da região, uma novidade então na

época, abrangendo também o Largo do Rosário e a Praça da Sé.

O Triângulo acabou virando uma região de passeio. A expressão “fazer o Triângulo” acabou denominando o passeio de grupos de rapazes saindo do Largo São Bento, avançando pelas ruas 15 de Novembro, Direita e São Bento, enquanto as moças faziam o trajeto inverso.

O TRIÂNGULO

Planta da Cidade de São Paulo levantada pela Companhia Cantareira de Esgotos em 1881 - Sempla. Na imagem, o triângulo está delimitado pelo traçado amarelo a Rua XV de Novembro ainda se chamava Rua da imperatriz. Em vermelho, a localização do Palacete Lara. A Rua José Bonifácio se chamava Rua do Ouvidor e a Quintino Bocaiúva, Rua do Príncipe.

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Planta Imperial de 1910. Nela existem desenhos das fachadas dos edifícios de maior destaque da época e no mapa encontramos o triângulo histórico.

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A malha urbana da região é a mais consolidada da cidade. De fato, o levantamento da evolução da malha urbana da emplasa começa em 1882, quando este núcleo central da cidade já era urbanizado, como podemos ver nos mapas a seguir, retirados no site da SEMPLA:

MALHA URBANA

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A RUA DIREITAA Rua Direita foi aberta no século XVI para ligar o centro

da cidade com a aldeia indígena de Pinheiros. Iniciava-se no “Largo da Sé” e seguia em direção ao “Piques” (atual largo da Memória e Praça da Bandeira). Ali iniciava a Estrada de Sorocaba (atual Rua da Consolação) que passava por Pinheiros.

Em 1638 já havia referências da Rua Direita na malha urbana. Naquela época ela era conhecida como “Rua que vai para Santo Antônio”, numa alusão à Igreja de Santo Antônio, localizada hoje na Praça do Patriarca. Mais tarde, ela passou a ser conhecida como “Rua Direita da Misericórdia para Santo Antônio” numa referência à Igreja da Misericórdia (hoje demolida) que se localizava no “Largo da Misericórdia”.

Encontramos também para ela o nome de “Direita de Santo Antônio”. De qualquer modo, a origem do nome “Direita”, estava sempre ligada a uma Igreja, seja a da Misericórdia, seja a de Santo Antônio. Nesse caso, temos aqui uma referência da tradição portuguesa de denominar as ruas principais de cada cidade como se iniciando “à Direita” da porta principal de cada templo.

Rua Direita em 1862. Trecho entre o largo da Misericórdia e Quintino Bocaiúva. As casas térreas e sobrados da Direita eram muito valorizados, não ainda por seu potencial de comércio, mas por estarem no trajeto das grandes procissões do passado. Na época, entretanto, alguns prédios já haviam se transformado em pontos comerciais, como o sobradão (à direita), na esquina da rua Quintino Bocaiúva, de propriedade da irmã do Barão de Itapetininga, dona Francisca Vitoria Mendes dos Santos - fututo Palacete Teresa Toledo Lara

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Rua Direita em 1900: na quadra que se vê à esquerda, na esquina com o "cotovelo"da rua José Bonifácio, estava a alfaiataria de M. Carvalho (onde depois viria estabelecer-se o Café Periquito), seguida do edifício de três andares do Banco de Crédito Real e de mais dois imóveis antes da rua Quintino Bocaiúva.

Praticamente em ruínas, em 1900, o casarão da irmã do Barão de Itapetininga (na esquina com a rua Quintino Bocaiúva, após o bonde), nesta época em mãos de dona Sofia Eugênia da Silva Marques, já estava condenado a desaparecer, como o bondinho puxado a burros, que logo seria substituído pelo bonde elétrico. Este foi o sobrado adquirido por Toledo Lara para a construção do Palacete.

Em frente ao sobrado de dona Sofia, no lugar onde existia a Igreja da Misericórdia, ergueu-se o prédio (o mais alto, à direita) do sr. Claudino de Paiva Azevedo, um dos três sobrados de dois andares que ocupou a área do templo, demolido em 1888.

À esquerda, a esquina com a rua José Bonifácio, com a alfaiataria Carvalho, que depois daria lugar ao Bar Periquito. A seguir, o prédio de três andares abrigava o Banco de Crédito Real. (Acervo da Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo)

Rua Direita em 1905 e o sobrado onde funcionou a agência central do Jornal do Brasil e a charutaria Fluminense. Ficava na esquina com a rua Quintino Bocaiúva (à direita), no mesmo local onde, por volta de 1913, foi construído um outro prédio, de quatro pavimentos, que recebeu o nome de Matarazzo (o primeiro da cidade). Foi demolido em 1954, para a construção do edifício Triângulo.

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Esquina das ruas José Bonifácio (à esquerda) e Direita em 1905. Em primeiro plano, o Café Periquito, qque ficou no lugar onde havia a Alfaiataria Carvalho. A seguir, o prédio de três andares pertencia ao Banco de Crédito Real.

Rua Direita em 1916. Em primeiro plano, à esquerda, o prédio ainda existente que abrigou a Drogasil Amarante e a Casa La Saison de modas ; logo após, a esquina com a rua José Bonifácio e, a seguir, o primeiro edifício da cidade com o nome de Matarazzo.

Rua Direita, na década de 20, na esquina da praça da Sé. Da esquerda para a direita, o prédio da Casa Baruel (demolido em 1965), a Casa da Época, a Confeitaria Fasoli (estes dois últimos construídos em 1896), o palacete Guinle (de 1913, ainda existente) e o prédio onde funcionou a Drogasil Amarante (de 1896, também existente). Do outro lado da rua, o edifício que se chamou Matarazzo. A seguir, o palacete Teresa Toledo Lara. Em primeiro plano, à direita, o belo palacete da Casa Lebre, construído em 1906 e demolido em 1929.

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Rua Direita - comercial, estreita e congestionada já na década de 20

Rua Direita em 1920, na esquina com a praça da Sé. No plano médio, a esquina com a rua José Bonifácio, onde se vê o prédio de quatro andares ocupado pelo escritório das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, prédio esse que foi substituído pelo edifício Triângulo. A seguir, o palacete Teresa Toledo Lara. Nessa época, havia tráfego de automóveis e bondes. O acesso restrito a pedestres só se deu no início dos anos 1970.

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A Rua Direita entre 1930 e 1950, importante artéria comercial, intensamente trafegada por automóveis.

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A RUA QUINTINO BOCAIÚVAInicialmente chamara-se de Rua do Cônego Thomé

Pinto Guedes, que lá morava em 1765, depois chamada de Rua da Cruz Preta, porque nela havia enorme cruz preta de madeira, e em 1846, até a proclamação da República, de Rua do Príncipe. Somente em 1889 que vem a se chamar Rua Quintino Bocaiúva.

Na sua esquina com a atual Rua Barão de Paranapiacaba, funcionou uma grande caixa de água. Inicialmente, a caixa, construída por operários alemães, funcionava subterraneamente. Para apanharem água, as pessoas, com seus vasilhames, tinham que descer por uma escada larga e perigosíssima até atingir as duas torneiras existentes. Sucediam-se brigas, nas descidas e subidas, com os condutores de água derrubando seus vasilhames.

Nos primeiros anos do século XX, houve uma série de demolições para melhorar o alinhamento do início da Rua Quintino Bocaiúva que mais parecia um beco.

Largo da Misericórdia em 1908. Ao centro a rua Quintino Bocaiúva.

Esquina da Rua Direita (no primeiro plano) com o início da Rua Quintino Bocaiúva (à direita), cerca de 1900.

Rua Quintino Bocaiúva, cerca de 1910, vista da esquina com a Rua Direita em direção ao cruzamento com a Rua José Bonifácio, no plano médio. Foto por Aurélio Becherini

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Largo da Misericórdia, por volta de 1913. No plano médio, a rua Direita; à esquerda, o primeiro edifício Matarazzo em construção. À direita, o palacete Lara.

Largo da Misericórdia na década de 10, visto em direção à praça João Mendes. No centro, a rua Quintino Bocaiúva. O prédio da esquina, à direita, o palacete Teresa Toledo Lara.

Rua Quintino Bocaiúva, cerca de 1914, vista da esquina com a Rua Benjamin Constant em direção à Rua José Bonifácio. (Aurélio Becherini)

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A RUA JOSÉ BONIFÁCIOA Rua José Bonifácio de hoje também teve outro nome

no passado. Chamava-se Rua do Ouvidor, por ter sido a morada do primeiro ouvidor de São Paulo. Só bem mais tarde ganhou o nome atual e, aquela que lhe era transversal, a Ladeira do Ouvidor, acabou ficando por fim com a denominação de Rua do Ouvidor.

Ocupando uma ilha formada pelas ruas Direita, José Bonifácio e Quintino Bocaiúva, olhando para o Largo da Misericórdia, está hoje o edifício Triângulo.

Fotografia tomada entre 1892 e 1900, da esquina da Rua José Bonifácio em direção ao Viaduto do Chá, cujo início se vê ao fundo. A esquerda torre da Igreja de Santo Antonio. Ao centro a direita o Largo da Misericórdia; e a esquerda o início da Rua Quintino Bocaiúva. A extrema esquerda, em 1º plano o início da Rua José Bonifácio. Autor desconhecido, foto de 01/12/1892. Fonte: Casa da Imagem, Museu da cidade de São Paulo.

Fotografia Rua José Bonifácio em direção ao largo da misericórdia. À esquerda encontra-se o Palacete Tereza de Toledo Lara pouco depois de ter sido construído. Foto por Aurélio Becherin, por volta de 1910. Fonte: Casa da Imagem, Museu da cidade de São Paulo.

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Detalhe do mapa criado nos anos 70 pela Cota Engenharia representando trecho da cidade em perspective cavaleira, em escala 1:4.000 de todas as edificações existentes. Em destaque, o Palacete Lara.

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O PALACETE LARATERRENO

Antes da existência do Palacete naquele local, o terreno era ocupado por casas e um sobrado. Antônio de Toledo Lara comprou o sobrado da esquina da Rua Direita, que pertencera à irmã do Barão de Itapetininga, juntamente com as outras casas vizinhas, componentes do início da Rua Quintino Bocaiúva.

Nos meados do século anterior, o sobrado abrigara uma loja muito popular na cidade, a Loja do Chan-Chan e, depois, a Chapelaria Veloso Braga. Em 1908, Toledo Lara o demoliu, juntamente com as casas vizinhas para a construção do palacete. Aproximadamente na mesma época da demolição do velho sobrado, outras casas próximas também vieram abaixo.

Largo da Misericórdia em 1908, visto em direção à rua Quintino Bocaiúva. Casarões demolidos para a construção do Palacete

ESTILO

A arquitetura desta edificação é de caráter eclético, tendo como característica a incorporação de diversos estilos ao longo do tempo: renascentista, maneirista, barroco ou neoclássico, formando uma composição. O termo arquitetura eclética refere-se a um movimento arquitetônico predominante desde meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Uma das grandes influências da arquitetura eclética foi a arquitetura praticada na Escola de Belas Artes (École des Beaux Arts) de Paris, então a cidade mais importante no campo das artes. O chamado estilo "Beaux-arts", muito ornamental, foi influência obrigatória por todo o mundo ocidental. Os imigrantes europeus que vieram a São Paulo com o ciclo do café foram figuras importantes na difusão deste estilo, um exemplo é o próprio alemão Auguste Fried, autor deste projeto.

No mesmo século XIX tinha-se tomado consciência de que determinados monumentos representavam elementos de um patrimônio histórico nacional ou universal. No início do século XX, essa consciência manifestara-se em cartas e convenções internacionais. A atenção a bens isolados teria dado lugar gradativamente à consideração de entornos. A partir de 1925, em particular depois de 1931, com a Conferência Internacional de Atenas, a atenção passou a dirigir-se a visões de conjunto. Já em 1964 com a Conferência de Veneza a atenção voltou-se novamente à escala do edifício/objeto como patrimônio histórico.

No Brasi l , as concepções de patr imônio desenvolveram-se paralelamente à do movimento moderno. Neste período ressalta-se também a ascensão do Estado Novo e a busca pela criação de uma Identidade Nacional. Na ocasião assumiram que o verdadeiro exemplo de arquitetura genuinamente brasileira seria o estilo Colonial, então em São

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Paulo neste período tombaram-se edifícios relacionados com este passado. Esta valorização do colonial desenvolveu-se em oposição ao ecletismo acadêmico compreendido como estrangeiro, importado. A arquitetura eclética, nessa visão, foi muito desvalorizada. Anos depois esta visão consegue ser superada, mas até aí muitos exemplos desta arquitetura já tinham sido perdidos.

A partir dos anos 80 é que se amplia o parâmetro de proteção que passa a abranger além do valor artístico, o vernacular, o cotidiano e até a imaterialidade. Criaram-se, pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional as Áreas de Preservação do Ambiente Cultural (Apacs).

O palacete Lara resistiu ao tempo e às transformações da cidade, mantendo suas características originais preservadas. As esculturas na fachada do palacete ilustram bem sua incorporação de estilos. Possui composição elaborada e complexa. Há um grande apuro ornamental, com presença de carrancas e figuras alegóricas, que dão grande interesse visual ao prédio. O edifício é arrematado superiormente por platibanda vazada, encimada por pináculos e medalhões. No hall, os ladrilhos hidráulicos, os azulejos e o elevador francês e com grade manual, deixam clara a idade do prédio, um documento histórico e artístico de grande valor.

Trecho de Fachada voltada à Rua Quintino Bocaiúva. Percebe-se a grande quantidade de ornamentos típica do ecletismo. Foto dos anos 70. Fonte: Arquivo Sempla.

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DENOMINAÇÃO

Um aspecto interessante do edifício é o fato deste edifício ser chamado Palacete. Na realidade, de acordo com Maria Cecília Naclério Homem, o conceito de palacete geralmente segue os seguintes padrões:?Residência unifamiliar?De um ou mais andares?Com porão?Ostentando apuro estilístico?Afastada das divisas do lote (de preferência nos quatro lados)?Situada em meio a jardins?Possuindo área de serviços e edícula nos fundosInternamente:?Distribuição feita a partir do vestíbulo ou de um hall com entrada social?Divisão da casa em três grandes zonas: estar, serviços e repouso.

Mas houve alternativas importantes. Em muitas residências a implantação podia coincidir ou não com esta distribuição.

Os palacetes eram as residências mais luxuosas de São Paulo no período de fins do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Pertencentes à “aristocracia do café”, sua tipologia definiu-se no alvorecer da República velha, na passagem da economia mercantil-escravista à economia exportadora capitalista.

Eles seguiam a implantação e distribuição da casa francesa, tão diferente do morar tradicional do paulistano. Notava-se uma enorme superioridade do palacete em relação à sede da fazenda destes cafeicultores, que demonstravam ausência de conforto. Quando a família acumulava fortuna, deixava a casa do campo para o administrador e mudava para a capital.

Paris no período era a capital do luxo de da moda, tendo influenciado as classes mais altas em todo o mundo. O idioma universal era o francês, considerado elegante e refinado, “ser civilizado era ter civilté”.

E é neste contexto que os palacetes se desenvolvem, utilizando o padrão francês, introduzindo a alvenaria, definindo uma nova forma de morar para o paulistano. A Avenida Paulista era a preferida pela elite da Indústria, contava com o maior conjunto de palacetes da cidade na ocasião.

No entanto, o Palacete Lara já foi concebido para ser um edifício de comércio no térreo e serviços nos andares superiores. Já nasceu com este propósito e sempre teve este uso. Apesar de ter mais de um andar, porão e ostentar apuro estilístico, não possui a característica principal dos palacetes: nunca foi uma residência unifamiliar, nunca possuiu recuos nem jardins, nem uma edícula de serviços, enfim, não condiz com a forma de morar da aristocracia cafeeira.

Apesar de fugir do padrão dos palacetes, foi assim denominado. Uma hipótese para explicar este fato seria uma tentativa de valorizar o edifício, enobrecendo-o com um título que remetia às classes mais abastadas. Afinal de contas, o edifício era comercial, marketing sempre foi muito importante em qualquer época da história da humanidade. Palacete era um nome imponente, ostentatório, a vestimenta do edifício também era comum aos palacetes, logo, o nome cairia bem ainda que não fosse uma residência. Este fenômeno também ocorreu com a “Maison” francesa, que é um nome originalmente atribuído às residências francesas mas que, relacionado ao conceito de elegância, passou a ser amplamente utilizado para denominar edifícios comerciais de luxo em vários países.

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VOCAÇÃO MUSICAL

Nas décadas de 40 e 50 o edifício ficou conhecido como “A Esquina Musical de São Paulo”, porque além de “vender música” através da “Casa Bevilacqua” e da “Casa Irmãos Vitale”, era também sede da Rádio Record de São Paulo, e por suas escadas de mármore italiano subiam e desciam os maiores compositores e cantores brasileiros dessa época musical.

As casas de Música: Casa Bevilacqua, Casa Irmãos Vitale e Casa Amadeus Musical

Na década de 1840, o maestro italiano Isidoro Bevilacqua mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi trabalhar como professor de música da família imperial. Ali, fundou em 1946 uma loja de instrumentos musicais e partituras. Na virada do século X, a Casa Bevilacqua alugou uma filial em São Paulo que, com o fechamento da matriz carioca, se tornou a única loja da empresa. Ela se transferiu da rua São Bento para o Palacete Teresa Toledo Lara no início do ano de 1912, no início da ocupação do edifício, e em 1924 foi adquirida por J. Carvalho & Cia. E, 1992, a Casa Bevilacqua deixou o prédio e foi para o shopping Morumbi, passou a vender de tudo relacionado à música.

Já a Editora Irmãos Vitale, foi criada em 1923 na cidade de São Paulo, e desenvolvida pelos irmãos Emílio, Vicente, Affonso, José e João. A Casa Irmãos Vitale surgiu em 1939 ocupando algumas salas do Palacete para expor os produtos editoriais que comercializavam.

Em 1942 a Irmãos Vitale passa a ocupar também a loja principal, e mediante acordo serviu-se também do nome fantasia “Casa Bevilacqua”, sendo que a mesma (Casa Bevilacqua) utilizava então “apenas” parte do enorme subsolo

com a sua especialidade (os pianos) e a Irmãos Vitale comercializava todo e qualquer instrumento musical, bem como livros e partituras musicais. Em fim de março de 2009 a Irmãos Vitale mudou para Vila Mariana.

Desde 22 de abril de 2009 se encontra ali a Casa Amadeus Musical, formada por ex-funcionários das Casa Bevilacqua e Irmãos Vitale. Os demais estabelecimentos são de comércio mas muitas sala estão vazias. Após a restauração que pretende ser realizada, a ideia dos proprietários é de alugar as salas a recém-formados, principalmente de direito, que voltam a ocupar o centro após a recente revitalização de alguns prédios.

A Rádio Record

Este talvez tenha sido o período mais marcante da ocupação deste edifício, tanto é que ficou sempre marcado como edifício da Antiga Rádio record.

A pequena emissora PRA-R, posteriormente PRB-9 – Rádio Record, fundada por Álvaro Liberato de Macedo e comprada pelo grupo Paulo Machado de Carvalho, Jorge Alves de Lima, Leonardo Gomes e João Baptista do Amaral, entrou no ar com uma programação regular em 11 de junho de 1931, iniciando a primeira revolução no rádio brasileiro.

Seus locutores utilizavam uma linguagem mais cotidiana em relação às outras emissoras desta época, diminuindo assim a distância entre ouvintes, locutor e emissora. Isso fez com que a Rádio Record se diferenciasse, se tornando uma exceção entre as emissoras paulistanas, todas elas elitizadas e que adotavam uma programação de caráter emotivo. A Record já surgiu propondo a popularização do rádio, com programas de menor duração e gêneros mais variados, revolucionando a própria concepção e a forma de interpretar o rádio.

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Em São Paulo, nos anos 30 surgem, além da Rádio Record, as rádios Tupi, América, Bandeirantes, Cultura, Difusora, São Paulo, Educadora e Cruzeiro do Sul. De todas elas a maior audiência pertencia a Record. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932 os diretores das rádios organizaram a primeira cadeia de emissoras no Brasil para defender o movimento constitucionalista liderado pelo Estado de São Paulo, projetando assim o rádio paulistano em todo o Brasil.

No plano musical, a Record novamente foi pioneira em relação às outras emissoras paulistas. Foi a primeira a formar um cast permanente no país, embora os mais famosos cantores da época morassem no Rio de Janeiro. Integravam o grupo de artistas da Record a dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho, Vassourinha, Agripina, Ubirajara, Arnaldo Pescuma, Adoniran Barbosa, Antônio Rago, Januário de Oliveira, Alzirinha Camargo, Nelson Gonçalves, Deo, Isaurinha Garcia, entre outros. No entanto, as maiores atrações que se apresentavam em São Paulo vinham do Rio de Janeiro, capital artística do país.

Durante os anos 40, as rádios Nacional (Rio de Janeiro) e Record resolveram firmar um convênio que consistia no seguinte: estrelas da emissora carioca, como Francisco Alves, Cauby Peixoto, Jorge Goulart, as irmãs Batista, Marlene, Emilinha Borba e outros, poderiam vir a São Paulo, a qualquer momento, para se apresentar no auditório da Rádio Record. Quando esses astros cariocas vinham cantar em São Paulo, os programas se tornavam tão concorridos que às vezes eram realizados em salas de cinemas alugadas na velha Cinelândia paulistana.

Em 1954, a PRB-9 Rádio Record de São Paulo com um broadcasting dos mais expressivos, mantinha-se entre as primeiras na preferência do grande público, já que suas iniciativas e sua política elevaram-na a uma posição invejável

no ranking brasileiro. Nessa época a maior atração da emissora eram os programas de auditório, com música ao vivo que atraía todos os dias grande números de pessoas para os seus estúdios.

A Rádio Record, que havia começado suas atividades na Praça da República (antigo Largo Sete de Abril), mudaria de endereço algumas vezes. Mas sempre em virtude do crescimento da popularidade do rádio como veículo de comunicação que, de certo modo, obrigava a emissora líder de audiência a procurar novas instalações. Após transferir-se para a Rua Conselheiro Crispiniano ainda nos anos trinta, a Rádio Record, no início da década de 40, instalar-se-ia na Rua Quintino Bocaiúva, onde permaneceu por muito tempo. Foi nessa época, sem dúvida, o seu período mais expressivo no rádio brasileiro. Somente em meados dos anos 50 a Rádio Record mudou para a região do aeroporto.

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A Rua Direita entre 1930 e 1950, importante artéria comercial, intensamente trafegada por automóveis, foi cedendo espaço aos enormes contingentes humanos, que a cada dia a invadiam, até ser transformada em um calçadão.. Detalhe para a propaganda da Casa Bevilacqua no Palacete Teresa Toledo Lara.

Em meio à profusão de anúncios na rua Direita, em 1970, vemos a placa das casas Bevilacqua. Foto por Lindeberg de Menezes.

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Rádio Recoord em 1931. O estúdio da Record ficava na praça da República e, apesar de pequeno, reunia orquestras inteiras para a apresentação de programas musicais de excelente qualidade.

Rádio Record na Praça da República em 1930

Na rua Quintino Bocaiúva, painel do Repórter Esso, no Palacete Teresa Toledo Lara, onde funcionou a Rádio Record, anuncia a rendição da Alemanha na 2ª Guerra, em 1945.

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A cronologia construtiva foi elaborada através das plantas antigas que a equipe de restauro do Palacete forneceu. As plantas obtidas foram:

- Planta do Primeiro Pavimento datada de 1908- Planta do subsolo datada de 1915- Planta do Primeiro Pavimento datada de 1960- Planta do Segundo Pavimento datada de 1960- Planta do subsolo datada de 1995- Planta do térreo datada de 1995- Planta do Primeiro Pavimento datada de 1995- Planta do Segundo Pavimento datada de 1995

Todas elas eram plantas de prefeitura, utilizadas apenas para aprovação de alterações. Apresentam grande simplicidade nos traços, pouca definição e muitas distorções. As diferenças entre uma planta de 1960 e 1995 são enormes não só do ponto de vista da qualidade do desenho, mas de dimensões.

Nesta cronologia foi feita uma hipótese de como esta construção teria evoluído até chegar ao seu estado atual, ainda que as mudanças tenham sido poucas. A planta que mais destoa das demais é a de 1908, talvez por ser anterior à construção que é de 1910, nunca tenha sido seguida. Encontramos dentre ela e a planta de 1960 uma grande diferença formal.

O procedimento utilizado foi a sobreposição das plantas e desenho do demolido e construído aproximando-se daquela planta atual. Fiz a evolução a cada passagem de ano, por exemplo: Planta do demolido e construído do Segundo Pavimento de 1960-1995 e de 1995-2010, porque são os registros que obtive. Já a do primeiro pavimento temos uma de 1908-1960, 1960-1995 e 1995-2010, e assim por diante de

acordo com as bases disponíveis. Percebe-se principalmente que a organização interna mudou muito pouco, com a supressão ou deslocamento de algumas paredes apenas, o que é muito positivo tendo em vista que o imóvel foi tombado apenas em 1977, com quase 70 anos de história e sem grandes descaracterizações.

Apesar associarmos em geral a cor vermelha à idéia de algo negativo, as cores utilizadas no desenhos gráficos a seguir são as mesmas recomendadas pelos órgãos de preservação do Brasil e também são as mesmas utilizadas na Itália. Em linhas vermelhas, o construído. Em linhas amarelas, o demolido.

CRONOLOGIA CONSTRUTIVA

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SUBSOLO

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TÉRREO

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PRIMEIRO PAVIMENTO

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PRIMEIRO PAVIMENTO

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PRIMEIRO PAVIMENTO

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SEGUNDO PAVIMENTO

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SEGUNDO PAVIMENTO

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