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PERFORMANCE PRESENTE FUTURO / Textos10
english version: page 105
Exoskeleton Ljubljana, 2003
Foto
IgorSkafar
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Textos / PERFORMANCE PRESENTE FUTURO 11
Questes de identidade e experincias alternadas, ntimas e involuntrias do corpo, bem
como o escalonamento telemtico da experincia, so explorados em performances
recentes. A tecnologia inserida e agregada. O corpo invadido, aumentado e expandi-
do. Interfaces virtuais/reais permitem que o corpo atue em espaos eletrnicos. O que se
torna importante no meramente a identidade do corpo, mas sua conectividade no
sua mobilidade ou localizao, mas sua interface. A Escultura Estmago um objetoinserido na cavidade estomacal. Ele acionado por um servo motor e um circuito lgico
preso a um cabo flexi-drive. Ele abre e fecha, se expande e se retrai, possui uma luz pis-
cante e emite um som de bip. O softwareStimbo possibilita a coreografia remota do corpo
usando um sistema de estimulao muscular de interface que funciona mediante o toque
de tela. Na performance Carne Fractal, as pessoas no Centro Pompidou, em Paris, no
Mdia Lab de Helsink e na Conferncia Portas da Percepo, em Amsterd, puderam aces-
sar e ativar o artista em Luxemburgo. O Exosqueleto uma mquina andante de seis
pernas pneumaticamente ativada e que acionada por meio de gestos de brao. O
Hexapode um rob andante de seis pernas mais dcil e flexvel que, embora se parea
com inseto, caminha como um cachorro. A Orelha Extra um projeto proposto de cons-truir cirurgicamente uma orelha que, ao ser conectada a um modeme a um computador
que possa ser incorporado ao espao pessoal do usurio (wearable computer), torna-se
uma antena de internet, capaz de transmitir sons reais de udio para ampliar os sons locais
ouvidos pelas orelhas verdadeiras. A Orelha Extra Escala 1/4 uma pequena rplica
de orelha cultivada com clulas humanas uma entidade viva parcial aguardando a liga-
o prosttica com o corpo. O Movatar um sistema de captura inversa de movimento
um avatar inteligente que ser capaz de atuar no mundo real acessando e ativando um
corpo. Em performances anteriores, o artista ligou-se a dispositivos protticos para ampli-
ar o corpo. Agora, o prprio corpo torna-se uma prtese possudo por um avatar para
atuar no mundo fsico. E a Cabea Prottica um agente conversacional personificadoque fala com a pessoa que o interroga, com movimentos labiais sincronizados em tempo
real e expresses faciais.
ZUMBIS E CYBORGS O corpo uma arquitetura evolucionria que opera e que se torna
consciente no mundo. Alterar essa arquitetura ajustar seu grau de conscincia. O corpo
sempre foi um corpo prottico, expandido por seus instrumentos e mquinas. Sempre h
o perigo de o corpo agir involuntariamente e de ser automaticamente condicionado. Um
DOS ZUMBIS AOS CORPOS CYBORGS
Carne Fractal, Mquinas Quimeras e rgos Extras
STELARC
Stelarc um artista australiano que tem
extensivamente apresentado suas perfor-mances no Japo, na Europa e nos Estados
Unidos, incluindo msica contempornea,
festivais de dana e teatro experimental. Ele
tem empregado instrumentos cirrgicos,
prteses, robtica, sistemas de realidade
virtual e a internet para explorar interfaces
alternativas, ntimas e involuntrias com o
corpo. Desempenhou performances com
uma Terceira Mo, um Brao Virtual, um
Corpo Virtual e uma Escultura Estomacal.
Ele tem pesquisado o corpo tanto acstica
quanto visualmente ampliando ondas
cerebrais, fluxo sanguneo e sinais muscu-
lares e filmando o interior de seus pulmes,estmago e clon, aproximadamente dois
metros de espao interno. Promoveu vinte e
cinco Suspenses do corpo, com inseres
na pele, em diferentes posies e situaes
variadas em locais remotos. Titular em Arte
da Performance, Instituto de Artes, Univer-
sidade de Brunel, West London, UK e
Pesquisador Snior e Artista Visitante no
MARCS Labs da Universidade de Western
Sydney, Austrlia.
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cincia mutante e movedia que no est nem totalmente aqui, neste corpo, nem
totalmente l, naqueles corpos. No se trata de um corpo fragmentado, mas de uma
multiplicidade de corpos e de partes de corpos estimulando e guiando remotamente uns
aos outros. No se tratam de mecanismos do tipo senhor e escravo, mas de circuitos de
retroalimentao de conscincias alternadas, ao e fisiologia divididas. Imagine um lado
de seu corpo sendo guiado remotamente, enquanto o outro lado capaz de colaborarcom a ao local. Voc v uma parte de seu corpo se mover, mas voc no iniciou o movi-
mento nem tampouco est contraindo os msculos para produzi-lo. Imagine as conse-
qncias e vantagens de ser um corpo dividido com entrada para a voltagem, induzindo
o comportamento de um agente remoto, e sada para a voltagem deixar seu corpo e con-
trolar dispositivos perifricos. Isso seria um corpo mais complexo e interessante no
apenas uma nica entidade com um agente, mas um hospedeiro para uma multiplicidade
de agentes remotos e externos, com diferentes fisiologias e em diferentes localizaes.
Considere uma tarefa que se inicia com um corpo em um lugar e que completada por
outro corpo em outro lugar. Ou a transmisso e o condicionamento de uma habilidade
o corpo no como lugar de inscrio, mas como um meio para a manifestao de aesremotas. Esse corpo fisicamente dividido pode ter um brao fazendo gestos involuntrios
(remotamente ativado por um agente desconhecido) enquanto o outro brao aper-
feioado por uma prtese de exosqueleto a fim de atuar com singular habilidade e
extrema velocidade. Um corpo capaz de incorporar movimentos que, de tempos em tem-
pos, seriam puros movimentos mecnicos, realizados sem memria ou desejo...
STIMBOD O que torna isso possvel um sistema de estimulao muscular de toque de
tela. Foi desenvolvido um mtodo que permite que os movimentos do corpo sejam progra-
mados ao tocarem-se as reas dos msculos no modelo de computador. A carne laranja
mapeia os possveis locais de estimulao, enquanto a carne vermelha indica o(s) mscu-lo(s) acionado(s). A seqncia de movimentos pode ser continuamente reativada com sua
funo circular. Alm de fazer uma coreografia ao pressionar, tambm possvel colar
umas s outras seqncias disponveis em uma biblioteca de cones de gestos. O sistema
permite a estimulao do movimento programado para anlise e avaliao antes da trans-
misso para ativar o corpo. Em um nvel bsico de estimulao, isso um sistema de inci-
tao do corpo. Em um nvel mais elevado de estimulao, um sistema de ativao do
corpo. No se trata de um controle remoto do corpo, mas de construir corpos com fisiolo-
gia dividida, operando com mltiplos agentes. Existiriam aes sem expectativas. Um sis-
tema tele-Stimbod de mo dupla criaria um corpo possudo e possuidor uma fisiologia
dividida para colaborar e realizar tarefas iniciadas remotamente e completadas localmente ao mesmo tempo e em uma nica fisiologia.
AUSNCIA EXTREMA E A EXPERINCIA DO ALIENGENA Um Stimbod como esse seria
um corpo oco, um corpo hospedeiro para a projeo e a atuao de agentes remotos. A
Luva Anestsica e a Mo Aliengena so condies patolgicas nas quais o paciente
experimenta partes de seu corpo como se estivessem ausentes, como se no lhes per-
tencessem, como se no estivessem sob seu controle uma ausncia de fisiologia, por um
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PERFORMANCE PRESENTE FUTURO / Textos14
lado, e uma ausncia de ao, por outro lado. Em um Stimbod, o corpo no apenas teria
uma fisiologia dividida como tambm iria experimentar partes de si mesmo como sendo
automatizadas, ausentes e aliengenas. O problema no seria mais possuir uma persona-
lidade dividida, mas uma fisicalidade perdida. Em nossos passados platnicos, cartesianos
e freudianos, isso poderia ter sido considerado patolgico. Em nosso presente fou-
caultiano, concentramo-nos na inscrio e no controle do corpo. Contudo, no terreno dacomplexidade ciberntica que agora habitamos, a inadequao e a obsolescncia do corpo
biolgico guiado pelo agente-ego no poderiam ser mais aparentes. Uma transio do
psico-corpo para o sistema ciberntico torna-se necessria para funcionar efetivamente e
intuitivamente em espaos remotos e dar mais velocidade a situaes e terrenos tecnolgi-
cos complexos. Pode o corpo lidar com experincias de ausncia extrema e ao alienge-
na sem ser sobrepujado por antiquados medos metafsicos de obsesses de individuali-
dade e de liberdade de ao? Um Stimbod teria de experimentar algo que no nem a
presena-integral-neste-corpo, nem a presena-integral-naquele-corpo, mas parcialmente-
aqui e parcialmente-projetada-ali. Um sistema operacional de espacialidade distribuda,
mas formando interface com agrupamentos de corpos nos quais a conscincia flui e reflui,expandidos por um agente alternado e aliengena.
PARASITA: EVENTO PARA UM CORPO INVADIDO E INVOLUNTRIO Um dispositivo
customizado de busca foi construdo para escanear, selecionar e exibir imagens do corpo
funcionando em um campo de vdeo interativo. Anlises dos arquivos JPEG fornecem
dados que so mapeados no corpo via um sistema de estimulao muscular. H uma
entrada tica e eltrica para o corpo. As imagens que voc v so as imagens que o
movem. Considere a viso do corpo, aumentada e ajustada a um virtualismo paralelo
que aumenta sua intensidade para compensar o crepsculo do mundo real. Imagine o
dispo-sitivo de busca selecionando imagens do corpo fora do www, construindo ummetacorpo que, por sua vez, move o corpo fsico. Representaes do corpo ativam a fisi-
ologia do corpo. O movimento resultante espelhado em um espao VRML no local da
performance e tambm carregado para um websitecomo uma fonte de imagens poten-
cial e recursiva para a reativao do corpo. Som em RealAudio inserido em sinais cor-
porais sampleados e ressoa gerado por presso, proximidade, flexo e sensores que
medem a acelerao. A fisicalidade do corpo fornece circuitos de retroalimentao de
neurnios interativos, terminais nervosos, msculos, transdutores e mecanismos de
Terceira Mo. O sistema expande eletronicamente os parmetros ticos e operacionais
alm do acrscimo cyborg de sua Terceira Mo e de outros dispositivos perifricos. A
prtese da Terceira Mo tem seu contraponto na prtese do cdigo de softwaredo dis-positivo de busca. Conectado, o corpo torna-se um parasita sustentado por um sistema
nervoso virtual, expandido e externo.
EXOSQUELETO Uma mquina andante de seis pernas pneumaticamente acionada foi
construda para o corpo. O locomotor, com sua marcha ondulada ou em trip, move-se para
frente, para trs, para os lados e gira em torno de si mesmo. Ele tambm pode agachar-se
ou erguer-se ao espalhar ou contrair suas pernas. O corpo posicionado em uma mesa
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giratria, que lhe permite girar sobre seu eixo. Ele tem um exosqueleto na parte superior do
corpo e nos braos. O brao esquerdo um brao expandido com um manipulador pneumti-co, tendo 11 graus de liberdade. Parece humano na forma, mas possui funes adicionais.
Os dedos abrem e fecham, tornando-se mltiplos agarradores. H uma flexo individual dos
dedos, com rotao de polegar e de pulso. O corpo ativa a mquina andante ao mover o
brao. Gestos diferentes causam diferentes movimentos uma translao de movimentos do
membro para a perna. O brao do corpo guia a coreografia dos movimentos do locomotor e
assim compe a cacofonia de sons modulados, mecnicos e modulados por sensores.
HEXAPODE O que explorado uma arquitetura andante que explora a gravidade e as
dinmicas intrnsecas da mquina para gerar locomoo dinmica. Ao mover o peso do
corpo e torcer e contorcer o torso, possvel dar incio ao andar, mudar o modo de loco-moo, modular a velocidade e o ritmo e mudar sua direo. O corpo torna-se o corpo da
mquina. As pernas da mquina tornam-se as pernas expandidas do corpo. um sistema
mais intuitivo e interativo que no funciona por meio da inteligncia, mas por causa de
sua arquitetura. um mecanismo mais obediente e flexvel. Parece-se com um inseto, mas
anda como um cachorro com locomoo dinmica. Esperanosamente, essa operao
hbrida de humano-mquina ir iniciar diferentes tipos de coreografias. Ele possui cerca de
5 metros de dimetro e pesa cerca de 250 kg.
Split Body: voltage-in / voltage-out
Ljubljana, 1996
Foto
IgorAndjelic
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PERFORMANCE PRESENTE FUTURO / Textos16
MQUINA MSCULO Os fluidos estimuladores musculares de borracha eliminaram
problemas de frico e de fadiga que constituam um empecilho ao sistema mecnico
anterior do rob Hexapode. Os msculos de borracha contraem-se quando inflados e se
expandem quando esvaziados. Isso resulta em um design de engenharia mais confivel e
robusto. O corpo fica de p dentro do chassi da mquina, que incorpora um exosqueletona parte de baixo do corpo, conectando-a ao rob. Codificadores nas juntas dos quadris
fornecem dados que iro permitir ao controlador humano mover-se e dirigir a mquina,
bem como variar a velocidade em que ela se move. A ao do operador humano de erguer
uma perna eleva as trs pernas alternadas da mquina e move-as para frente. Ao torcer o
torso, o corpo faz a mquina caminhar na direo para a qual ele est voltado. Dessa
forma, a interface e a interao so mais diretas, permitindo uma coreografia intuitiva
humano-mquina. O sistema andante, com sensores para medir a acelerao agregada,
gera dados que so convertidos em sons capazes de aumentar o mecanismo de operao
acstico pneumtico e mecnico. Uma vez que a mquina est em movimento, j no faz
mais sentido perguntar se o humano ou a mquina que est no controle, pois eles setornam totalmente integrados e movem-se como se fossem um. O rob de seis pernas
expande o corpo e transforma seu andar bpede em um movimento semelhante ao de um
inseto de seis pernas. A aparncia e os movimentos das pernas da mquina so, ao mesmo
tempo, movimentos semelhantes aos de pernas e aos de asas.
ORELHA EXTRA Tendo desenvolvido uma Terceira Mo, considere a possibilidade de
construir uma orelha extra, posicionada junto orelha real. Uma varredura de laser foi
Skin for Prosthetic Head
San Francisco, 2002
Foto
BarrettFox
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Textos / PERFORMANCE PRESENTE FUTURO 17
Extra Ear: Ear on Arm
Londres, Los Angeles, Melbourne, 2006Foto Nina Sellars
feita para criar uma simulao em 3D da Orelha Extra do lugar. Embora a posio
escolhida seja em frente ao lado da orelha direita, essa pode no ser a mais certa e segu-
ra localizao para posicion-la. Em vez disso, a orelha poderia ser construda no ante-
brao e posteriormente reposicionada. Mas isso tambm iria exigir uma microcirurgia
para garantir o fluxo sanguneo. Em vez da prtese hardwarede uma mo mecnica, a
Orelha Extra seria uma extenso macia, imitando a orelha real na forma e na estrutu-ra, mas com dife-rentes funes. Imagine uma orelha que no pode ouvir, mas que emite
sons. Implantada com um chip sonoro e um sensor de proximidade, a orelha falaria com
qualquer um que se aproximasse dela. Talvez o objetivo final para a Orelha Extra seja
sussurrar palavras doces outra orelha. Ou, ento, imagine a Orelha Extra como uma
antena de internet capaz de amplificar sons de RealAudio a fim de expandir os sons locais
ouvidos pelas ore-lhas reais. A orelha no apenas um rgo auditivo, mas tambm um
rgo de equilbrio. Ter uma orelha extra indica mais do que um excesso anatmico visu-
al. Ela tambm indica uma reorientao para o corpo.
ORELHA EXTRA ESCALA 1/4 Com o auxlio de Oron Catts e Lonat Zurr, do Tissure Art& Culture Project, da Symbiotica e de um laboratrio alemo, uma rplica em escala 1/4
de minha orelha foi produzida mediante o uso de clulas humanas. Ela foi exibida na
Galerija Kapelica, em Lubliana, em maio de 2003. A orelha foi cultivada em um biorreator
de microgravidade e era alimentada com nutrientes a cada trs ou quatro dias. De acordo
com o que foi planejado, a base de cartilagem de uma orelha seria cultivada mediante o
uso de clulas de minha medula ssea e depois implantada sob a pele do antebrao.
Inicialmente, isso resultaria apenas no relevo de uma orelha, porm, ao cortar e erguer a
aba da ore-lha e ao construir-se um lbulo, uma orelha em 3D seria estruturada no brao.
Esse procedimento exigiria apenas o auxlio de um cirurgio plstico, a fim de tornar sua
realizao mais vivel. Outras rplicas em escala 1/4 de minha orelha foram cultivadaspara o Clemenger Contemporary Art Award no Ian Potter, NGV, em Melbourne (usando
clulas de rato), e para o National Review of Live Arts, The Powerstation, em Midland
(usando a linha de clulas He La). A preocupao no com o patolgico e o monstruoso,
mas com arquiteturas anatmicas alternativas. Uma parte do corpo replicada, transferi-
da e reinserida em outro lugar. A Orelha Extra Escala 1/4 uma forma de vida parcial
espera de tornar-se uma parte prottica do corpo.
ORELHA EXTRA: ORELHA NO BRAO No momento, a Orelha Extra est sendo cirur-
gicamente construda em meu brao. Uma orelha esquerda em um brao esquerdo. Uma
orelha que no apenas ouve, mas que tambm transmite. Um trao facial foi replicado,transferido e reposicionado em outro lugar. Em 2006, os procedimentos cirrgicos tiveram
incio. Um excesso de pele foi criado por meio do implante de um dilatador de pele no
antebrao. Ao injetar uma soluo salina em um orifcio subcutneo, o implante de silicone
sob a forma de rim esticou a pele, formando uma bolsa de pele em excesso usada na cons-
truo cirrgica da orelha. Quando estiver eletronicamente completa, ela ser parte de um
conjunto bluetooth de fone de ouvido e microfone acoplado. Eu serei capaz de falar com
uma pessoa distante por meio da Orelha Extra, mas ouvirei o som da pessoa falando
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PERFORMANCE PRESENTE FUTURO / Textos18
comigo em minha boca. Se minha boca estiver fechada, somente eu serei capaz de ouvi-
la. Se eu abrir minha boca e algum estiver por perto, ir ouvir o som de uma pessoa dis-
tante emanando de meu corpo.
MOVATAR UM SISTEMA INVERSO DE CAPTURA DE MOVIMENTO Considere uma enti-
dade computador, um corpo virtual ou um avatar que pode acessar um corpo fsico, ativan-do-o para atuar no mundo real. Se o avatar for imbudo de inteligncia artificial, tornando-
se cada vez mais autnomo e imprevisvel, ento teramos uma forma de Vida Artificial (VA)
atuando com um corpo humano em um espao fsico. Ao criar-se uma interface com um soft-
warevisual apropriado e um sistema de estimulao muscular, isso seria possvel. O avatar
se tornaria um Movatar. E com circuitos apropriados de retroalimentao do mundo real,
seria possvel responder e atuar de modo mais complexo e instigante. O Movatar poderia
no apenas atuar, mas tambm expressar suas emoes por meio de msculos faciais apro-
priados em seu corpo fsico. Como uma entidade VRML, ele poderia ser conectado de qual-
quer lugar a fim de permitir que seu corpo seja acessado e ativado. Ou, do ponto de vista
dele, o Movatar poderia atuar em qualquer parte do mundo real, a qualquer hora, e comuma multiplicidade de corpos fsicos em diversas situaes e em locais remotos.
CABEA PROTTICA O objetivo era construir uma cabea automatizada, animada e
razoavelmente informada, embora no imbuda de inteligncia artificial, capaz de responder
pessoa que a estivesse interrogando. O projeto Cabea Prottica uma cabea avatar
em 3D dotada de sincronicidade labial em tempo real, sntese discursiva e expresses faci-
ais. A cabea assente, balana e vira-se, mudando tambm o olhar, o que contribui para a
personalidade do agente, bem como os sinais no verbais que ele pode emitir. Os Agentes
Conversacionais Personalizados (ACPs) esto relacionados com o comportamento comunica-
tivo. Com uma viso ou um sistema de sensor, a Cabea Prottica tambm ser capaz dereconhecer a presena do corpo fsico que dela se aproxima. E, eventualmente, ser capaz de
analisar o tom de voz do usurio e seu estado emocional. O APC ser um agente muito mais
sedutor quando puder cumpriment-lo pela cor de sua roupa e comentar o sorriso em seu
rosto. Noes de inteligncia, conscincia e personalizao tornam-se problemticas. No
momento em que o corpo fsico foi exposto como inadequado, vazio e involuntrio, o APC
torna-se sedutor com sua estranha simulao de reconhecimento e resposta em tempo real.
Inicialmente, tive de tomar decises quanto ao seu banco de dados e tambm se a cabea
seria patolgica, filosfica ou sedutora. Em anos recentes, tenho recebido uma quantidade
cada vez maior de estudantes PhD pedindo entrevistas para ajud-los a escrever suas teses.
Agora posso responder que, como estou muito ocupado para receb-los, seria possvel paraeles entrevistar minha cabea. Um problema iria surgir quando a Cabea Prottica aumen-
tasse seu banco de dados, tornando-se mais informada e autnoma em suas respostas.
Ento, eu no mais seria capaz de assumir plena responsabilidade pelo que minha cabea diz.
LIQUIDIFICADOR Para o Teknikunst de 2005, e em colaborao com Nina Sellars, os dois
artistas submeteram-se a procedimentos cirrgicos para extrair 4,6 litros de biomate-
rial dos braos e pernas de Nina e do torso de Stelarc. O material extrado inclua gor-
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Textos / PERFORMANCE PRESENTE FUTURO 19
dura, terminais nervosos perifricos, tecido conjuntivo e sangue O+. O biomaterial foi
higienizado pelo autoclave e colocado em um recipiente hermeticamente selado que
era parte da instalao intitulada Blender (liquidificador). A cada trs ou quatro minu-
tos, as lminas do liquidificador eram acionadas por cilindros de ar comprimido. Ooxignio tambm era adicionado mistura, reanimando novamente o material. Os sons
eram amplificados e registrados na mquina que misturava e borbulhava. De um dia
para o outro, o material assentava-se em diferentes camadas. Esse era um corpo lqui-
do, hospedado por uma instalao mquina o oposto da Escultura Estmago, na
qual uma pequena mquina realizava uma coreografia dentro de um macio e mido
rgo fsico. Essa performance e projeto no foram o resultado da soma das idias de
cada artista, mas uma colaborao na subtrao fsica de cada corpo. A instalao foi
exibida no Meat Market Project Space, em Melbourne, e na Experimental Art
Foundation, em Adelaide, em 2007.
PROPOSTA DE CABEA PARCIAL O projeto Cabea Parcial foi desenvolvido a par-
tir da concluso da Cabea Prottica e da Orelha Extra Escala 1/4. O objetivo
agora cultivar no apenas uma orelha, mas tambm pequenas rplicas da boca, nariz
e olhos do artista por meio do uso de clulas primrias. Isso ser um retrato parcial, par-
cialmente vivo, mas no exatamente humano, ainda. humano na forma, mas primata
na substncia. Essas arquiteturas faciais sero cultivadas em scaffolds (ambientes de
desenvolvimento integrado) de polmeros, agrupados e contidos dentro de um sistema
auto-sustentvel de gotejamento de nutrientes em uma incubadora. Uma microcmera
ir monitorar o crescimento dos elementos faciais e as imagens sero projetadas no
espao e transmitidas para um website. Um contador digital indicar o crescentenmero de clulas. Enquanto a Cabea Prottica pode ser vista como um retrato digi-
tal interativo, a Cabea Parcial um retrato biotecnolgico, porm parcial, do artista.
Um rosto em fragmentos.
PROJETO DE CABEA PARCIAL Em 2006, o projeto da Cabea Parcial foi realizado,
porm em um formato diferente daquele inicialmente proposto. O rosto do artista foi
escaneado, bem como o crnio de um homindeo. Fez-se, ento, um transplante digital,
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PERFORMANCE PRESENTE FUTURO / Textos20
AGRADECIMENTOS O circuito do Sistema
de Estimulao Muscular foi projetado pela
Bio-Electronics, Logitronics e Rainer Linz em
Melbourne, com a caixa fabricada por Jason
Patterson. A interface grfica foi feita por
Troy Innocent na Empire Ridge, com a ajuda
de Tim Ryan. A Escultura Estmago foi cons-
truda por Jason Patterson em Melbourne.Os softwares da Carne Fractal, do Corpo
Ping e do Parasita foram desenvolvidos por
Gary Zebington, Dmitri Aronov e pelo grupo
Merlin em Sydney.
O Exosqueleto foi finalizado pelo F18 como
parte do estgio de Stelarc na cidade de
Hamburgo e coordenado por Eva Diegritz, de
Kampnagel.
Jason Patterson construiu o manipulador do
Brao Expandido.
A F18, de Hamburgo, construiu o Movi-
mento Prottico.
Rainer Linz, Damien Everett e Gary Zebing-
ton desenvolveram o Movatar.
O Hexapode uma colaborao entre a
Digital Reseach Unit, a Nottingham Trent
University e o Evolutionary and Adaptive
Systems Group, COGS, da Sussex University.
A equipe do projeto incluiu Barry Smith
(coordenador do projeto), Project Inman
Harvey (designer de robs), John Luxton
(engenheiro) e Sophia Lycouris (coregrafa).
Na Mquina Msculo, o Dr. Philip Breedon
(FaCCT, TNTU) foi o gerente de desenvolvi-
mento e de projeto, e Stan Wijnans (DRU,
TNTU) desenvolveu tecnologia do sensor
com o V2 e fez o design sonoro. O segundo
estgio do projeto foi patrocinado pela
AHRB, do Reino Unido. A primeira perfor-mance em Londres foi feita na Galeria 291,
em 1 de junho de 2003.
A Orelha Extra Escala 1/4 foi uma colabo-
rao com a TC&A (Oron Catts e Lonat Zurr,
da Symbiotica).
A Cabea Prottica foi feita com a ajuda de
Karen Marcelo, Sam Trychin e Barrett Fox, do SF.
O Liquidificador foi construdo por Adam
Fiannaca, e o design sonoro de Rainer Linz.
O biorreator da Cabea Parcial foi planejado
por Tim Wetherell. O trabalho de cultura de
tecido foi feito por Cynthia Wong, do Tissue
Engineering Group, da Swinburne University.
O rob Cabea Andante foi construdo peloF18 e o softwareda Cabea Virtual foi feito
por Steve Middleton, em Melbourne.
Rainer Linz produziu o Stelarc (corpo ampli-
ficado) e os CDs de udio da Carne Fractal
(performances na internet).
O CD de udio do Humanide foi uma cola-
borao com Chris Coe (Digital Primate) e
Rainer Linz (Ontological Oscillators).
Gary Zebington o webmaster do site de
Stelarc. www.stelarc.va.com.au
sobrepondo-se o rosto humano ao crnio do homindeo. O resultado foi a imagem de uma
forma que era ps-homindea, mas pr-humana. Esses dados foram usados para imprimir
um scaffold(ambiente de desenvolvimento integrado) em 3D, semeado com clulas vivas
e colocado em uma mesa giratria com um biorreator customizado. Uma cmera moni-
torou o rosto que girava lentamente e o projetou em uma parede atrs da instalao. A
instalao foi exibida apenas no Heide Museum of Modern Art, em Melbourne. Por causade um vazamento de nutrientes e do mau funcionamento do sensor de temperatura, o
ambiente foi contaminado e, depois de uma semana, passou a ser preservado em formol
como lembrana da exibio.
CABEA ANDANTE Trata-se de um rob andante de seis pernas e 2 metros de dimetro,
pneumaticamente acionado e autnomo. Montado verticalmente em seu chassi, ele uma
tela LCD transmitindo a imagem de uma forma semelhante a uma cabea humana gera-
da por computador. A tela LCD pode girar de um lado para o outro. O rob possui um sen-
sor scannerde ultra-som que detecta a presena de uma pessoa sua frente. Ele per-
manece imvel at que algum chegue no espao da galeria, quando ento se ergue, sele-ciona algo de sua biblioteca de movimentos e realiza uma coreografia por vrios minutos.
Depois pra, senta-se e espera at detectar mais algum. O rob atua em uma platafor-
ma de 4 a 5 metros de dimetro e seu sistema de sensor de oscilao detecta quando ele
se aproxima das bordas. O rob Cabea Andante ir se tornar um sistema real-virtual
em que os movimentos de suas pernas mecnicas ativaro seus comportamentos faciais
de assentimento, giros, piscadelas e vocalizaes. Outras possibilidades incluem o rob
sendo guiado por seu modelo em 3D baseado na webcom um menu de cones de movi-
mentos que podem ser acionados em conjunto.
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Textos / PERFORMANCE PRESENTE FUTURO 21
Walking Head
Hamburg, Melbourne, 2006
Foto
Stelarc