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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Educação Física - N. 2013
PERFIL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM ESCOLAS
DE NATAÇÃO DE JUIZ DE FORA – MG.
Dalila Pires Batista¹
Ana Carla Leite Gonçalves²
Resumo
A cada dia o ser humano deseja alcançar maiores e melhores resultados
naquilo que se propõe a fazer; e na prática de atividade física isso não é diferente.
Dessa forma, busca-se nessa pesquisa trazer esclarecimentos acerca dos profissionais
que hoje atuam em escolas de natação e sobre o quanto os mesmos estão preparados/
capacitados para atender às necessidades de cada aluno. Deseja-se entender se seriam a
graduação em Educação Física, os cursos extracurriculares e os estágios curriculares
suficientes para formar um profissional capacitado a desenvolver com qualidade seu
trabalho. Resolveu-se levantar tais questões a partir de uma experiência desagradável
vivida no “Estágio Supervisionado”, quando se percebeu o despreparo de alguns
profissionais atuando nessa área. O trabalho caracterizou os quatro períodos do
desenvolvimento humano, baseando-se em Freire (2001), com o objetivo de esclarecer
sobre a necessidade do conhecimento acerca do trabalho que será proposto a cada
indivíduo. Partindo desses pontos, o referido trabalho também se baseou em autores que
levantassem questões e esclarecimentos acerca do referido tema, natação. Como forma
de enriquecimento e complemento ao presente estudo, realizou-se pesquisa de campo,
que consistiu na aplicação de questionários a professores de escolas de natação em Juiz
de Fora - MG. A partir dos resultados obtidos, fica certo descontentamento ao ver que
infelizmente o desenvolvimento de aspectos afetivos e sociais está ficando de lado.
Através do referido trabalho, pode-se considerar que um bom profissional é aquele que
conecta: teoria, prática e desejo interno de se dedicar com seriedade e comprometimento
àquilo que for desenvolver.
Palavras-chave: Profissional. Natação. Indivíduo.
Abstract
Every day humans want to achieve bigger and better results in what it claims to do, and
in physical activity is no different. So, this research seeks to shed light on the
professionals who work in swimming schools today and how much they are prepared /
able to meet the needs of each student. We want to understand if it would be a degree in
physical education, extracurricular courses and internships sufficient to form a skilled
professional to develop their work with quality. Resolved raising such issues from an
unpleasant experience living in "Supervised", where it was perceived unpreparedness of
some professionals working in this area. The study characterized the four periods of
human development, based on Freire (2001) in order to clarify the need for knowledge
about the work that will be offered to each individual. Based on these points, the work
also relied on authors who raise questions and clarifications about the said topic,
swimming. As a way to enrich and complement the present study, we carried out field
research that involved the use of questionnaires to teachers of swimming schools in Juiz
de Fora - MG. From the results, that was appeared some discontented to see that
unfortunately the development of social and emotional aspects are standing aside.
Through such work, we can consider that a good professional is the one who connects:
theory, practice and internal desire to engage with seriousness and commitment to what
is developing.
Keywords: Professional. Swimming. Individual.
Apresentação
Minhas primeiras observações feitas àquele menino me fizeram enxergar o
quanto ele era apavorado com o meio aquático; mal saía do lugar e, quando o fazia, já
estava em pânico em busca de um ponto de apoio.
Aquele fato me incomodou de tal maneira que resolvi pedir autorização ao
professor para que eu pudesse entrar na piscina, de forma a orientar aquele menino com
maior aproximação. Durante várias aulas interferi, apoiando-o para que se
desenvolvesse. Os dias foram passando e pude perceber que fiz alguma diferença na
vida daquela criança, sua evolução foi formidável.
Aproximadamente dois meses depois, durante uma aula, o professor estava
preparando as crianças para um festival de natação que iria ocorrer na escola. Todos os
alunos fizeram suas respectivas largadas do lado de fora da piscina, realizaram uma
volta completa – sem uso de material –, com exceção, é claro, daquele menino, que,
por determinação do professor, teria que fazer uso do material. Ele foi o último a largar,
fez apenas meio percurso com a prancha, protelou muito. Tentei intervir, disse que o
menino precisava tentar fazer como as outras crianças que estavam sem material, mas,
segundo o professor, o garoto não poderia, não conseguiria. O professor insistiu e, com
insatisfação, o menino acatou a ordem e seguiu.
Logo em seguida tive a oportunidade de realizar uma atividade recreativa
com os alunos: todos mergulharam em busca de um determinado objeto, inclusive o
menino. Ele mergulhou sozinho, sem auxílio de material. Curioso, não?
Palmer deixa claro: “[...] não seja nunca hesitante ao encorajar qualquer
indivíduo da classe [...] nunca negligencie aqueles que podem em favor daqueles que
não podem [...] encorajar a tentativa é tão importante quanto encorajar o que está
correto (1990, p. 19).”
Creio que o ser humano carrega dentro de si muitas limitações com as quais
precisa aprender a lidar. Mas, muitas vezes, o mesmo é posto em situações nas quais
precisa enfrentar seus medos, inseguranças e dúvidas a fim de se superar e, dessa forma,
amadurecer; e aquela criança, outrora desesperada, a cada dia tem vencido seus próprios
limites.
De todas as formas que o homem possui para se libertar e se movimentar,
resolveu-se apontar uma: vista como modalidade esportiva por alguns, terapia para
outros e uma “válvula de escape” para tantos outros sobreviventes desse corrido século
em que estamos, verificou-se a necessidade de se aprofundar o conhecimento acerca da
referida prática e do perfil do profissional que atua na disseminação desse conteúdo, a
natação.
Muito se ouve dizer sobre a natação. Mas quem são os profissionais que
estão ministrando essa modalidade e o quanto eles estão preparados/capacitados para
atender às necessidades de cada um que se lhe apresenta?
Enfim, a partir de uma experiência frustrante relacionada à disciplina
“estágio supervisionado”, percebi o despreparo de alguns profissionais atuando nessa
rica área, que é às vezes, pouco explorada pelos mesmos. Foi assim que surgiu a escolha
deste tema.
Busca-se através do presente estudo abordar questões relacionadas ao perfil
do profissional de Educação Física nas escolas de natação de Juiz de Fora, bem como
enfatizar a importância do profissional aprofundar seu conhecimento a cada dia.
Levanta-se então uma questão: seriam a graduação em Educação Física, os
cursos extracurriculares e os estágios suficientes para formar um profissional capacitado
a desenvolver com qualidade e segurança essa modalidade, otimizando cada conquista
do aluno?
O objetivo do presente trabalho não é desvalorizar a formação acadêmica,
mas sim buscar esclarecimentos acerca do perfil do profissional que atua em escolas de
natação de Juiz de Fora, levantando a questão sobre a possível importância de se
aprofundar o conhecimento (especialização) sobre aquilo que se transmite a outrem.
Deseja-se obter informações acerca deste tema através de revisão de
literatura, buscando em diversos autores, como Catteau & Garoff (1990), Machado
(1995; 1978), Palmer (1990) e Papalia (2001), base para a referida investigação; além
de realizar pesquisa de campo com os professores de escolas de natação em Juiz de Fora
- MG, com o intuito de coletar mais dados que contribuam para o enriquecimento dessa
pesquisa e trazer à tona a importância de um desenvolvimento de qualidade no campo
proposto.
Com isso, este estudo pretende reforçar a ideia de que natação faz muito bem,
desde que seja bem desenvolvida e acompanhada por competentes profissionais.
O DESENVOLVIMENTO HUMANO E O MEIO AQUÁTICO
Segundo Freire, existem quatro períodos do desenvolvimento humano. E o
primeiro período, que vai do “nascimento até o surgimento da linguagem, é chamado
por Piaget, do ponto de vista da inteligência, de sensório-motor”. Sendo que nesse
mesmo período existem “três estágios: „o dos reflexos, o da organização das percepções
e hábitos e o da inteligência propriamente dita‟” (2001, p. 33).
O segundo período, que se mantém até aproximadamente os seis ou sete
anos de idade, é marcado pelo
[...] surgimento da linguagem, inicia-se um novo período, que
incorpora o anterior e acrescenta às atividades da criança os símbolos,
a representação mental. É a chamada primeira infância, ou período
pré-operatório, intuitivo ou simbólico. A questão daí para frente não
será somente o fazer, mas também o compreender. É quando surge,
segundo Le Boulch, a função de interiorização, que permite à criança
conscientizar-se de aspectos de seu corpo e exprimi-los verbalmente
através da função simbólica (p. 34).
Certo dia tive a oportunidade de ministrar uma aula para crianças de 3 e 4
anos. Entusiasmada com a oportunidade, tratei logo de realizar uma aula mais lúdica,
em vista da ausência de um ambiente favorável1 àquelas crianças.
A primeira atividade se baseou em deslocamento na piscina com o uso de
material (macarrão), intitulado naquele momento de “cavalo”.
As crianças tinham que se deslocar usando braços e pernas (como no nado
crawl); logo em seguida foram guiadas até a parte mais funda da piscina, onde teriam
que desenvolver o mergulho. Nesse momento, envolvidas pela “historinha” de que iriam
ao fundo do mar fazer uma visita aos animais daquele local, uma das crianças
surpreendeu-me ao voltar: “tia, meu dedo está doendo”. Assustada, perguntei-lhe o que
havia lhe acontecido, e com um sorriso encantado ela disse: “é que encostei meu dedo
no dente do tubarão”.
1 Entende-se por “ambiente favorável” um ambiente que apresente, segundo o autor Borsari
(1980, p. 32) “ [...] atividades lúdicas, como jogos, canções e brincadeiras” .
Muitos professores, preocupados com o que os pais vão pensar ao ver que
seus filhos estão “brincando” ao invés de aprender a nadar “crawl, costas, peito e
borboleta”, acabam comprometendo as etapas pedagógicas.
Palmer (1990, p. 21) deixa claro que “As atividades devem ser praticadas na
sequência correta; tentar executar atividades para as quais os nadadores não estão
preparados pode resultar em todos os alunos rodando em círculos e indo a lugar algum”.
Quem disse que uma criança de três anos precisa aprender o “crawl”
propriamente dito? Com conhecimento, sabedoria e um ambiente de ludicidade, a
criança tem grandes oportunidades de se desenvolver, sem a maçante ideia de ter que
executar movimentos sincronizados para parecer “bonito” aos olhos dos pais.
Kerbej (2002, p. 12) levanta um ponto de muita importância e afirma que
“Seria um erro comparar a natação do adulto [...] com a „natação‟ dos bebês, pois esta se
destina a crianças pequenas [...] seria um erro a procura sistemática de movimentos para
uma aprendizagem dos nados existentes [...]”.
Machado (1978, p. 2) traz à tona uma questão um tanto quanto preocupante,
que infelizmente existe até os dias de hoje “em muitos clubes brasileiros considerados
bons”. O fato é que não se sabe “se por falta de conhecimento ou por um arraigado
tradicionalismo [...] presenciamos, o funcionamento de escolinhas de natação com
métodos antiquados e sem nenhuma seqüência pedagógica” e, segundo o mesmo autor,
isso “demonstra um completo desconhecimento do que sejam a pedagogia e sua
aplicação”.
Como sugere Palmer (1990, p. 19), “[...] como um professor de natação,
torne-se conhecedor da natação e de todos os assuntos relacionados a ela, e pareça
sempre uma autoridade no assunto.” Sendo o professor a autoridade no ambiente
aquático, nada mais correto do que esclarecer aos pais que as atividades que são
propostas às crianças não são simplesmente perda de tempo, têm muita relevância no
que diz respeito ao bom desenvolvimento das mesmas.
Retomando os períodos de desenvolvimento citados por Freire (2001), o
terceiro carrega a bagagem dos anos anteriores, nos quais o pequeno passou
[...] aprendendo a se movimentar, a pensar, a sentir e a se relacionar, a
criança se vê em condições de estabelecer com o mundo uma relação
de igualdade. Ou seja, passará de um estado em que se coloca como
centro de todas as coisas para um estado onde não é mais centro, e sim
um organismo relacionado com os outros. Piaget denominou esse
período operatório-concreto, marcado pelo início da cooperação e
do raciocínio lógico [...]. Em termos de idade, diríamos que ele vai
dos 6, 7 anos, mais ou menos, até os 10, 12 anos aproximadamente (p.
34).
O quarto e o último períodos se iniciam na puberdade e são caracterizados
por Freire (2001, p. 35) como o período de “[...] desenvolvimento da inteligência [...]
denominado por Piaget operatório-formal ou hipotético-dedutivo, o sujeito rompe
as barreiras da realidade concreta, da prática atual” e a partir daí tem seu interesse
voltado para “problemas hipotéticos”.
O objetivo ao se caracterizar tais fases de desenvolvimento humano é o de
esclarecer sobre a necessidade de se ter conhecimento acerca do trabalho que será
proposto a cada indivíduo, uma vez que, se essas fases não forem respeitadas, a chance
de o aprendiz obter sucesso naquilo que for realizar será mínima, visto que em muitas
situações as crianças, e até mesmo os adultos, não têm consciência de certas ações por
“imaturidade” e muitas não têm sua autoconfiança trabalhada. Tal é a importância de se
trabalhar esse último aspecto que Weinberg & Gould (2001, p. 310) afirmam que “os
psicólogos do esporte definem autoconfiança como a crença de que você pode realizar
com sucesso um comportamento desejado”. Sem autoconfiança, portanto, é impossível
se alcançar qualquer objetivo, inclusive aprender a nadar.
Partindo do pressuposto de se orientar cada atividade/aula através das fases
de desenvolvimento humano, adequando da melhor forma possível os meios e métodos
de ensino, surge uma questão, tão pouco discutida, porém de extrema importância:
talvez por ignorância de muitos pais, que desconhecem a importância que os jogos e
brincadeiras exercem na vida do ser humano, e pela falta de argumentação ou até
mesmo de conhecimento por parte dos professores, aquilo que deveria ser uma
manifestação saudável e agradável acaba se transformando num martírio para o ser que
se encontra nesse ambiente novo. Lembrando que
Aprender a nadar deve ser uma atividade agradável para
qualquer idade. O progresso deve ser gradativo, do mais fácil
para o mais complexo e do conhecido para o desconhecido; os
exercícios deverão ser apresentados de maneira a despertar o
interesse e a atenção do aluno (KERBEJ, 2002, p. 17).
Santos (1996, p. 17) cita autores de nome que defendem essa forma de
trabalho: “Vários autores como Vygotski, Piaget, Wallon, Pickard e outros grandes
pesquisadores têm mostrado, através de seus estudos, a importância e o papel do „jogo‟
no processo de aprendizagem da criança”.
Machado (1978 p. 2) diz que “a criança aprende muito melhor brincando do
que de qualquer outra forma”, com isso,
[...] os objetivos e a atitude dos nossos alunos frente e esse esporte; os
métodos e estratégias dos professores; o conhecimento científico e
prático dos técnicos; precisam ser analisados criteriosamente. Não
podemos “queimar etapas”, ensinado os estilos sem planejamento e
respeito às fases de desenvolvimento de cada aluno; administrar aulas
pensando somente no pódio, como ponto de chegada. Nadar é uma
atividade que deve proporcionar, em primeiro lugar, o prazer; ajudar o
desenvolvimento integral do aluno e produzir experiências boas e não
frustrantes (VELASCO, 1997, p. 39).
Pensando naqueles que ainda acham que as necessidades que cada fase
demonstra – como, por exemplo, o aprender brincando – não seja algo que deva
pertencer às instituições de ensino, buscou-se trazer esclarecimentos acerca dos
benefícios que um ambiente lúdico, descontraído e harmonioso gera para a vida do ser
humano. Firma-se o fato de que
[...] brincando, as crianças estimulam os sentidos, aprendem a usar os
músculos, coordenam a visão com o movimento, adquirem domínio
sobre seus corpos e novas habilidades. Por meio do faz-de-conta,
experimentam papéis [...] adquirem compreensão dos pontos de vista
das outras pessoas [...] experimentam a alegria da criatividade [...]
(BODROVA e LEONG, 1998; F. DAVDISON, 1998; FURTH e
KANE, 1992; JOHNSON, 1998; NOOUROT, 1998; SINGER e
SINGER, 1990 apud PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2001, p. 328).
Santos (1996, p.17) afirma que “todo trabalho pedagógico relacionado à
aprendizagem infantil vai depender de nossa concepção de criança, principalmente da
nossa postura político-filosófica a respeito do processo de desenvolvimento humano”.
Muitos professores atuam no ensino da natação de forma não condizente
com as reais necessidades dos alunos, e Santos (1996, p. 17) levanta apontamentos de
que infelizmente a “metodologia desenvolvida no contexto atual, com raras exceções,
está fundamentada na „pedagogia tradicional‟, que tem como herança o „ensino
militarista‟ [...]” E afirma que esses “métodos [...] constituíam basicamente na
fragmentação dos movimentos dos nados [...] e na repetição mecânica dos exercícios”.
Segundo Catteau & Garoff (1990, p. 22) “A presença de nadadores nos
exércitos sempre aumentou consideravelmente o poder ofensivo”. E fazendo menção a
essa forte influência que os militares exerceram no ensino da natação, os autores ainda
afirmam que "não é de estranhar que a decisão de ensinar sistematicamente natação aos
soldados tenha repercutido na orientação da pedagogia da natação”.
Acredita-se que não existe atitude mais mecânica do que exigir que crianças
de 3, 4 anos permaneçam durante 30 minutos dentro de uma piscina executando
movimentos dos quatro nados. É comprovado que através do brincar pode-se alcançar
diversos objetivos, inclusive nadar!
Santos (1996, p.18) explicita o fato de “que é possível ensinar a natação
para crianças respeitando seu processo de desenvolvimento. É possível sim, criar um
clima de prazer e realização”. Ele ainda afirma que “resgatar o caráter lúdico, a
criatividade, a fantasia, a criticidade, a espontaneidade do movimento humano é o
objetivo principal”. Também é o objetivo do presente trabalho trazer à tona tais
aspectos, como o lúdico, que vale ressaltar, segundo Ferreira (1999, p. 1238), é algo que
se refere “a jogos, brinquedos e divertimento”.
Um fato que muitas das vezes passa despercebido aos olhos de alguns é a
influência que o passado exerce no futuro. Pensando nos materiais que o professor tem
disponíveis para adicionar às suas aulas, vemos que tal utilização já se fazia há muitos e
muitos anos:
Aprofundando-se na origem pedagógica da natação, podemos
perceber que o homem utilizou inicialmente diversos acessórios
(auxiliares) para aprender nadar. Segundo historiadores romanos
eram utilizados: cintos de junco [...], tubos cheios de ar, cintos de
cortiça para auxiliar os não nadadores (SANTOS, 1996, p. 22).
Segundo Santos (1996, p. 29), também eram usados “bexigas de porco
infladas, almofadas, golas, cintos, argolas, etc.”, como nos mostra a Figura 1:
Figura 1: Acessórios para aprendizagem de natação.
Se hoje esses materiais servem como auxiliares nas aulas de natação, no
passado serviam para a realização de movimentos mecanizados, os quais davam todo o
suporte àqueles que desejassem aprender a nadar, uma vez que,
a falta de conhecimentos a respeito das leis e princípios da física
levam os instrutores desta época acreditarem que o homem não era
capaz de flutuar naturalmente, pois a maioria dos objetos utilizados
em seus métodos de ensino tinha a finalidade principal de facilitar a
flutuação do corpo na água (SANTOS, 1996, p. 25).
Com o decorrer dos anos, e com as pesquisas que foram sendo realizadas a
respeito dessa modalidade, muito se descobriu sobre as funções do corpo humano, sobre
a “bóia” natural que possuímos (os pulmões), e a partir daí “entendemos que a
capacidade de flutuação do corpo no meio líquido é um fator importantíssimo para se
aprender a nadar” e ainda que “a flutuabilidade é uma capacidade que o homem pode
desenvolver a partir de conhecimentos dos fenômenos físicos”, como o Empuxo de
Arquimedes2 (SANTOS, 1996, p. 26).
Pensando nessa condição natural que o homem possui de flutuar na água,
surge a questão sobre o porquê da realização de movimentos de braços e pernas; mas
Santos (1996, p. 26) cita que “os movimentos de pernas e braços são utilizados para
propulsão (deslocamentos associados a leis atuantes, que são hidrostática, pressões e
densidade)”.
Enfim, a partir do momento em que houver o interesse de se adquirir
conhecimento/embasamento acerca da importância de se respeitar cada período do
desenvolvimento humano, entendendo o porquê de muitas coisas que estão presentes
em nosso dia a dia, muito se tem a acrescentar àqueles que se habilitam a uma nova
aprendizagem.
Ao dar início a uma aula, na qual os alunos são novos àquele ambiente, o
professor precisa buscar esclarecimento acerca das pessoas às quais estará ministrando
suas aulas, entendendo que cada aluno é único e que cada qual precisa ser respeitado.
O professor precisa entender o porquê de cada aluno estar ali, seus reais
desejos e necessidades, e isso só se torna possível quando se deseja de fato realizar um
trabalho consciente e provido de conhecimentos. Velasco (1997, p. 57) afirma que o
professor que deseja realizar seu trabalho de forma correta “necessita de informações
sobre o nível de desenvolvimento, os aspectos de personalidade, os objetivos e
principalmente de dados físico-sócio-emocionais de cada aluno que se lhe apresenta”.
Mas, com estes dados gerais, o professor não deve basear suas ações
tomando todos os alunos por características daquela determinada faixa etária, pois as
pessoas se desenvolvem de acordo com parâmetros individuais, o que nos torna
exemplares únicos da criação humana, o que, segundo Tubino (1980, p. 100), é
chamado de “princípio da individualidade biológica”, que afirma que “não existam
pessoas iguais entre si”. Velasco (1997, p. 15) conclui dizendo que “nenhuma
aprendizagem ocorrerá, se não pudermos respeitar as características individuais de cada
aluno que se nos apresentar”.
É importante ainda salientar que existem vários motivos pelos quais uma
criança pode ser matriculada em uma escola de natação, e Machado (1995, p. 336)
2 O princípio de Arquimedes ou lei do empuxo contribuiu de uma forma significativa para o avanço no
processo de ensino-aprendizagem da natação e diz que “todo o corpo mergulhado em um líquido recebe
um empuxo de baixo para cima, igual ao peso por ele deslocado” (SANTOS, 1996, p.26).
aponta que muitas crianças são matriculadas com o intuito de “aprenderem a nadar [...]
Há crianças calmas, quietas, agitadas, barulhentas, medrosas, afoitas, interessadas,
apáticas, tristes, alegres, gordas, magras, grandes demais, muito pequenas [...] e nós
somos os artífices de tão grande discrepância”.
Lembrando sempre que o ser humano é impulsionado pelos desejos e
vontades e, segundo Machado (1995, p.335) “aprender é motivar e é preciso motivação
para aprender”. E ainda segundo o mesmo autor, “todo material que usemos ainda será
pouco para tentar motivar, não apenas a criança, mas também os pais”. Dessa forma
“[...], quadros, figuras, cartazes, músicas, desenhos, pranchas, uniformes, toucas,
reuniões, festas, filmes, passeios, competições e prêmio, tudo o que pudermos lançar
mão, o faremos, para estimular o principiante” (p. 336).
Mesmo usando de todos os meios apresentados acima, é importante levar
em consideração as palavras de Kerbej (2002, p.19) que afirma que “é muito mais fácil
trabalhar com o aluno que „quer‟ do que com o que está sendo „forçado a‟”.
No capítulo que se segue, discorreremos a respeito dos conteúdos desta
prática aquática, apresentando os contextos para que estas características citadas acima
sejam aplicadas, visando a um facilitado processo de ensino-aprendizagem.
NATAÇÃO
Não se tem conhecimento sobre um momento cronológico para o surgimento
da natação, e, segundo Catteau & Garoff (1990, p.21) “as origens da natação se
confundem com as origens da humanidade”.
Existem, porém, alguns achados arqueológicos que indicam a prática da
natação há aproximadamente “9000 anos antes da nossa era”, como nos mostra a Figura
2 abaixo.
Figura 2: Pintura em gruta no deserto da Líbia
Nota-se que há séculos a natação faz parte da vida do ser humano e “dessa
nossa convivência com o meio aquático, surgiu a necessidade de criarmos condições
que garantissem, não só uma maior permanência, como também um melhor e mais
adequado deslocamento neste meio” (SANTOS, 1996, p. 22).
Cada autor cogita uma ordem para o surgimento dos nados e baseando-nos
em um deles,
podemos nos atrever a dizer que o nado peito clássico pode ter sido a
primeira forma que o homem encontrou para nadar, uma vez que
acreditamos ter sido esta forma de locomoção adquirida através da
imitação da rã, do sapo ou animal congênere, razão do aprendizado do
homem (MACHADO, 1978, p. 73).
Já os autores Catteau & Garoff (990, p. 20) citam que “três mil anos
antes da nossa era, o hieróglifo „nadar‟ (Figura 3) atesta um raro grau de acabamento da
técnica que, mais tarde, receberá o nome de crawl”.
Figura 3: Hieróglifo “nadar”
Nessa busca incessante por novidade é que provavelmente foram surgindo e
se desenvolvendo os nados. Segundo Catteau & Garoff (1990, p. 121), “atualmente,
quatro modalidades de nado são praticadas em competições: crawl (nado livre),
borboleta, costas e peito”.
Mas uma dúvida recorrente que paira no pensamento de muitos é sobre a
ordem em que se deve ensinar ao aprendiz os referidos nados. Palmer (1990, p. 23)
sugere que “devemos também levar em consideração o fato de que a própria ação
natural de andar é muito semelhante aos movimentos alternados e verticais do crawl e
do costas”. Baseando-se na presente ideia, acredita-se que essa seja uma boa ordem de
introdução dos nados para que haja uma adaptação mais “natural” do aluno ao meio em
questão.
Fatos como estes devem ser analisados cuidadosamente, porque a cada dia
cresce o número de adeptos nas escolas de natação, indivíduos em busca da realização
de um desejo e/ou de suprir alguma necessidade. Através da prática da referida
modalidade, buscam alcançar efeitos benéficos. Velasco (1997, p. 27) sugere objetivos
tais como “saúde: produção de efeitos benéficos ao físico, lazer: oportunidade de
satisfações emocionais, necessidade: sobrevivência ou reabilitação e esporte:
performance e resultados”.
Sendo a natação parte integrante da vida do ser humano desde a antiguidade,
e com o passar das gerações, com os avanços da medicina, com a tecnologia e a ciência,
muito se buscou por entender melhor sobre os mecanismos da ação de se locomover na
água. E assim foram surgindo pesquisadores e estudiosos interessados no assunto, com
suas teses sobre os meios e métodos de se aperfeiçoar, através da prática dessa
modalidade em especial, essa diferente forma de locomoção.
Partindo desse princípio, houve a necessidade de basear este trabalho em
autores que levantassem questões e esclarecimentos pertinentes a essa modalidade. O
primeiro autor escolhido para dar início a esse vasto mundo, cheio de possibilidades, o
mundo aquático, é David Machado (1978), que traz esclarecimentos acerca de três
pontos que formam a base do ensino da natação, também conhecido como tripé
pedagógico: concepção global, analítica e sintética.
A concepção global se ancora na tendência natural do ser humano, como a
necessidade de sobreviver, a distração ou até mesmo a vontade de se impor e mostrar
quem é o melhor; não levando em conta ações específicas que apontem para algum
resultado específico.
Já a concepção analítica acredita que, se o indivíduo deseja alcançar o
objetivo, no caso, o ato de nadar, ele precisa simplesmente realizar movimentos que o
façam avançar na água, compreendendo as partes para, enfim, alcançar o todo.
E por fim a concepção sintética que segundo Machado (1978, p. 01)
“representa, hoje, a mais avançada forma pedagógica utilizada [...] partindo do „todo‟
para as „partes‟”.
A seguir, apresentaremos os nados e suas características principais de
execução.
Nado Crawl: Segundo Machado (1978, p. 40) “o nado crawl é o resultado
de uma longa busca de um estilo que diminuísse a resistência da água e aumentasse a
velocidade do homem” (Figura 4).
Figura 4: Nado crawl
Esse nado, caracterizado por movimentos alternados de pernas (a partir dos
quadris) e braços (a partir da articulação do ombro), teve sua inserção na Austrália por
Harry Wickham, em 1893, sendo que há relatos de que nativos do Pacífico já o
praticavam há algum tempo (MACHADO, 1978).
Ainda em 1893, Alick Wickham obtém ótima performance no crawl.
Surpreendido, um técnico australiano diz: “„Veja que forte rastejar!‟, daí o batismo de
seu estilo como crawl, palavra em inglês que significa „rastejar‟” (MACHADO, 1978,
p. 41).
Neste nado, o corpo deve estar na posição de decúbito ventral, paralelo ao nível
da água; braços e pernas realizando movimentos no plano vertical. As pernas, com
papel equilibrador, realizam em torno de 20% do trabalho no desenvolvimento do nado.
Já os braços ficam com maior percentual, 80% da propulsão total, com fase aérea e
aquática.
Um fato curioso sobre o nado crawl é que, oficialmente, segundo as regras
da FINA (Federação Internacional de Natação), ele não existe exatamente com esta
denominação, mas com a de nado Livre, que nos remete automaticamente ao crawl e
que, segundo Catteau & Garoff (1990, p. 122), “é a forma de propulsão que apresenta o
melhor rendimento”.
Nado Costas: De acordo com registros, os ingleses Archibald Sinclair e William Henry,
no ano de 1903, cogitavam a possibilidade da aplicação de um nado com movimentos
alternados de braços e pernas, denominado costas. Mas só em 1912, nas olimpíadas de
Estocolmo, que Henry Hebner, um americano, surge com um nado inovador, no qual se
alternavam braços e pernas, parecido com o nado crawl, porém intitulado de nado costas
(Figura 5) (MACHADO, 1978).
Figura 5: Nado costas
Como citado acima, o nado costas se assemelha ao nado crawl no trabalho
alternado de braços e pernas, porém a pernada de costas tem seu momento de maior
força no sentido de “baixo para cima”, e o corpo deve estar em decúbito dorsal, ou seja,
as costas direcionadas para o fundo da piscina.
Nado Peito: O nado peito (Figura 6) sofreu várias modificações em seu
nome até se firmar como o conhecemos nos dias de hoje. Este era conhecido como
“braçada inglesa”, até sofrer alteração no primeiro campeonato ocorrido na Inglaterra,
no ano de 1837. Depois o nado recebeu o nome de “braçada francesa”. Durante esse
período de competição, o nado peito chegou a ser caracterizado como sendo “o melhor
nado livre” (MACHADO, 1978).
Figura 6: Nado peito
Este nado se baseia em movimentos simultâneos de braços e pernas, no qual
o “movimento de pernas é executado mais em função da empurrada para trás e isso
justifica a ação propulsiva para frente” e os braços realizam “movimento de tração [...]
ao mesmo tempo em que executam uma flexão do cotovelo que se projeta para a frente”
(MACHADO, 1978, p. 81-82).
Segundo Gomes (1995), este nado sofre grande resistência frontal, tornando-
o o mais lento de todos e exigindo uma coordenação elaborada dos movimentos, o que
torna sua aprendizagem mais complexa.
Nado Borboleta: Segundo Machado (1978, p. 90), “o nado borboleta é o mais novo dos
estilos, tendo surgido devido à imperfeição existente nas regras da FINA.” Em 1927, o
nadador alemão Rademacher provocou a primeira alteração do nado, partindo do peito
clássico. Esse nado, esquecido até o ano de 1933, passa a ser reconhecido como nado
“borboleta” (Figura 7).
Figura 7: Nado borboleta
Somente em 1953 tal nado rumaria a uma carreira de sucesso, anunciando
muitos progressos. Vinte e cinco anos depois, o autor Machado (1978, p. 90) se refere
ao nado borboleta como sendo “um dos nados mais velozes que o homem conhece”. E,
segundo o mesmo autor, “este estilo, conquanto exija coordenação, força e resistência, é
de fácil aprendizado, por permitir mais rápido a utilização de superfícies propulsivas”.
O corpo sai da linha horizontal e parte para uma posição mais oblíqua e
inconstante, devido ao movimento ondulatório produzido pelo movimento de pernas,
braços e cabeça. As pernas realizam movimento no sentido vertical e simultâneo, assim
como os braços, que têm uma fase aérea e uma submersa rotação simultânea para frente
(MACHADO, 1978).
O nado borboleta é um espetáculo visto de fora d‟água, mas aqueles que
desejam aprender a executá-lo precisam ter muita determinação, força e coordenação
motora, uma vez que braços e pernas realizam movimentos simultâneos na água e estes
precisam ultrapassar as barreiras da resistência da mesma.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS – PESQUISA DE
CAMPO
Com o objetivo de enriquecer e complementar o presente trabalho, buscou-
se, através de pesquisa de campo, tratar as questões abordadas no texto e sua relação
com o profissional que hoje atua nas escolas de natação de Juiz de Fora - MG.
Desenvolveu-se um questionário (em anexo) com perguntas específicas (fechadas) e
uma questão aberta, na qual o entrevistado poderia expressar sua opinião. A coleta dos
dados contou com a participação de treze escolas de natação, sendo esta escolha feita de
forma aleatória.
Do total da amostra, que contou com trinta e quatro entrevistados, 76% são
do gênero feminino, e 24% do gênero masculino; 34% têm entre vinte um e vinte nove
anos de idade; 50% deles têm entre trinta e trinta e oito anos; 13% têm entre quarenta e
quarenta e oito anos; e 3% possuem 50 anos.
21%
35%
21%
5%
18% 1
2
3
4
5 Acima de 16 anos
De 4 a 7 anos
De 8 a 11 anos
De 12 a 15 anos
Até 3 anos
Da totalidade dos entrevistados, apenas um não possui curso superior; este é
provisionado3. Já o restante possui graduação em Educação Física.
Parece estranho incluir em um questionário direcionado para profissionais
de Educação Física a questão: “Possui curso superior? Qual o curso?”. Mas, percebeu-se
a necessidade dessa confirmação, uma vez que muito se observa pessoas que, por
experiência própria em determinado esporte, atletas, por exemplo, atuam como
“treinadores” da respectiva modalidade. E como o referido trabalho defende a
necessidade de se ter embasamento científico, metodológico e pedagógico, pensa-se que
não basta apenas ter experiência, é preciso ter também o conhecimento teórico, a
fundamentação.
Com relação ao tempo de atuação na área de natação, estabeleceu-se o
seguinte (Figura 8):
Figura 8: Gráfico de tempo de atuação na área de natação
Dos trinta e quatro entrevistados, apenas 35% possuem especialização em
natação. Daqueles que não possuem, um declarou o seguinte:
“Não possuo especialização em natação propriamente dita, mas como
trabalho com natação infantil e acredito no elemento lúdico como norteador de minhas
aulas, acredito ser minha especialização em „Organização e administração da
recreação e do lazer‟ de grande valia para o bom andamento da mesma.”
3 Registro profissional requerido por todos aqueles que, comprovadamente, exerciam atividades próprias
dos Profissionais de Educação Física (definidas no Art. 3º da Lei nº 9.696/1998), antes da regulamentação
da Profissão, nos termos estabelecidos pela legislação vigente.
Referindo-se a essa resposta, acredita-se que, se este professor reconhece a
importância de um ambiente favorável para o bom desenvolvimento de suas aulas,
algum proveito de fato esta especialização, que não é específica em natação, teve para a
atuação profissional do entrevistado.
É importante salientar que, segundo Catteau & Garoff (1990, p. 253), “a
qualidade das inter-relações entre meio ambiente, professor, alunos, natação, depende
notadamente do nível de competência do professor”, além do mais, estes autores
afirmam que “sua formação deverá dar-lhe uma visão das leis do comportamento
humano, nas quais buscará um apoio [...]. O conhecimento da especificidade da natação
constitui um outro pólo da relação pedagógica [...]”.
Pensando na contribuição que a presente pesquisa pode ter para aqueles
envolvidos com o meio aquático, buscou-se esclarecer algumas razões pelas quais as
crianças, em especial, praticam esporte. Segundo Weinberg & Gould (2001, p. 474), “a
maioria das crianças participa de esportes para divertir-se [...] melhorar suas
habilidades, fazer exercício [...] estar com seus amigos, fazer novas amizades [...]”.
Portanto, se “nadar é divertido: faça que seja durante todo o tempo”. (PALMER, 1990,
p. 17)
A faixa etária atendida pelas escolas de natação em que os profissionais
atuam varia de quatro meses de vida até idade indeterminada, ou seja, qualquer pessoa
que estiver disposta a praticar natação. Mas é importante estar atento a um ponto
importante, no qual Kerbej (2002, p. 26) levanta: “cuidado ao escolher uma escola:
certifique-se de que os profissionais tenham habilidades e conhecimentos para ensinar
os bebês.” Ou seja, não basta apenas ser formado em Educação Física; a graduação é a
base, o primeiro degrau de um longo caminhar. O profissional precisa ter domínio sobre
os conteúdos ministrados em aula e só consegue obter tal domínio aquele que busca a
cada dia por mais e mais conhecimentos.
É importante, entretanto, salientar que a teoria complementa a prática e
vice-versa, mas não basta o profissional ser “Doctor of Philosophy” (PhD) no assunto se
este não tiver “feeling” (sentimento) para atuar, de modo que poderíamos estabelecer a
seguinte relação: Teoria + prática – dom = prejuízos para a criança. (MICHAELIS,
2009).
Um ponto de suma importância que se resolveu destacar é que assim como
muitas crianças começam sua prática esportiva, outras tantas interrompem esse ciclo.
Segundo Weinberg & Gould (2001, p. 474), “de cada 10 crianças que começam uma
temporada de esporte, 3 a 4 terão desistido no início da temporada seguinte”. Isso é tão
grave que
um estudo profundo de 50 desistências na natação, variando em idade
de 10 a 18 anos, revelou que “ter outras coisas para fazer” e
“mudanças de interesse” foram as razões principais que a grande
maioria das crianças deu para interromper o envolvimento ( GOULD,
FELTZ, HORN e WEISS, 1982 apud WEINBERG & GOULD, 1990,
p. 474).
Ainda com base no referido estudo, Weinberg & Gould, (1990, p. 474)
apontam “outras razões que a amostra classificou como importantes [...] foram: „não foi
tão bom como queria que fosse‟, „não foi suficientemente divertido‟[...] não gostava da
pressão‟, „tédio‟[...] e „não suficientemente excitante‟”.
Pensando na gravidade dos resultados obtidos através do estudo citado por
Weinberg & Gould, (1990, p. 474), levanta-se o título do presente estudo: Perfil do
profissional de Educação Física em escolas de natação de Juiz de Fora - MG, e
sugere-se então um momento de reflexão para aqueles profissionais que hoje
desenvolvem seu trabalho no referido campo, para que pensem em como está seu nível
de conhecimento no campo em que atuam e se tinham, ou ainda têm, emoção e amor
por aquilo que fazem, e uma das coisas fundamentais ao se trabalhar com crianças: ter
muita imaginação. Muitos podem, no entanto, pensar que esses pontos levantados são
insignificantes, mas acredita-se que são valiosos para um trabalho de qualidade.
Analisando o fato de que infelizmente muitos profissionais não são/estão
capacitados para atuar, buscou-se entender onde os entrevistados obtiveram
conhecimentos para o desenvolvimento das aulas de natação, surgindo resultados
preocupantes, observados nas respostas da questão: “Qual a origem de seu
embasamento para a prática pedagógica e metodológica nas aulas de natação?”
(Figura 9):
Figura 9: Gráfico de origem do embasamento para aulas de natação
Um ponto que chamou muito a atenção é que, das sessenta e sete vezes em
que palavras-chave foram citadas nas respostas, apenas em 8% delas aparece o
“elemento lúdico” como componente de “pedagogia e metodologia”. A partir desse
pressuposto, indaga-se sobre o funcionamento e desenvolvimento de muitas escolas de
natação.
Pensando nisso, Machado (1978, p. 38) afirma que “em muitas de nossas
chamadas „escolinhas de natação‟ os alunos são guiados por leigos [...] e atuam pelo
instinto [...]”, mas é preciso entender que “na época que atravessamos não nos interessa
apenas um aprendizado, mas sim um aprendizado correto”.
E quando se pensa nesse aprendizado “correto”, pensa-se em algo adequado
às fases de desenvolvimento do ser humano e, acima de tudo, ás necessidades
individuais de cada um que se apresentar ao profissional. Deve-se destacar que, em
muitos casos, o que se vê nas escolas de natação é um público grande de crianças, e
quando se fala em criança, logo se pensa na junção criança-ambiente lúdico.
Cursos/Livros/I
nternet/DVD/
Revistas/
Artigos
28%
Elemento
lúdico
8%
Ministrar aulas
desde o 4º
periodo
2% Experiência de
estágio
10%
Experiência
prática 10%
Graduação
24%
Interação com
outros
professores
6%
Metodologia
"Gustavo
Borges"
2%
Natação
competitiva/
Treinamento
7%
Recreativa
3%
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em busca de respostas acerca do tema proposto, ancorou-se em autores
renomados a fim de se ter um maior embasamento para a referida pesquisa, os quais
forneceram muitos conhecimentos a respeito daquilo que possa ser a forma correta de se
obter resultados positivos, e até mesmo mostraram situações para reflexão acerca da
criança, do meio em que está inserida durante a prática e da influência que pais e
professores exercem no desenvolvimento de cada aula e também no desenvolvimento
destas crianças.
Foi realizada uma pesquisa de campo com profissionais que atuam nas
escolas de natação de Juiz de Fora - MG.
Com base na discussão traçada sobre a questão de a graduação em Educação
Física, os cursos extracurriculares e os estágios serem ou não suficientes para formar um
profissional capacitado, observou-se, na apuração dos resultados, que, para o trabalho
eficaz em natação, faz-se necessário que o profissional aprofunde seu conhecimento
acerca da modalidade e principalmente acerca do aluno que se lhe apresenta, de forma
que se respeite o mesmo, suas limitações, expectativas e inseguranças, entendendo que
cada um carrega em si experiências boas e ruins, e portanto, precisa ser cuidadosamente
respeitado.
Entendeu-se que a formação do profissional de Educação Física deve se
basear no conhecimento científico e prático, e na preocupação com o indivíduo, seu
desenvolvimento e progresso.
Com este trabalho, fruto de inquietações acerca do perfil do profissional que
hoje atua em escolas de natação de Juiz de Fora - MG, espera-se que possa acrescentar a
todos aqueles que se envolverem com atividades com crianças, de modo geral, e com a
modalidade natação, de forma mais específica, um entendimento de que, para se realizar
uma atividade, não basta apenas fazê-la; é preciso fazer com paixão, dedicação e
seriedade, sabendo que cada pessoa é única, e, sendo assim, cada uma deve ser olhado
com olhos de atenção, zelo, cuidado.
Vislumbrando que cada exemplo citado neste trabalho abre novas
possibilidades de pesquisa para aqueles que desejarem, a cada dia, trazer acréscimos ao
estudo da Educação Física e, em especial, da natação, esperamos ter contribuído para o
crescimento/aperfeiçoamento daqueles que se dispõem a aprender a ensinar.
REFERÊNCIAS
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São Paulo: EPU, 1980.
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1990.
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língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
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Física. São Paulo: Scipione, 2001.
GOMES, Wagner D. F. Natação: uma alternativa metodológica. Rio de Janeiro: Sprint,
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KERBEJ, Francisco Carlos. Natação: algo mais que 4 nados. Barueri: Manole, 2002.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação.
São Paulo: Cortez, 2001.
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MICHAELIS. Moderno Dicionário Inglês. Disponível em:
<http://michaelis.uol.com.br>. Acesso em: 09 nov. 2011.
PALMER, Mervyn L. A ciência do ensino da natação. São Paulo: Manole, 1990
PAPALIA, Dianne E.; OLDS, Sally Wendkos e Feldman, Ruth Duskin.
Desenvolvimento Humano. São Paulo: Artmed, 2001.
SANTOS, Carlos Antonio. Natação - ensino e aprendizagem. Rio de Janeiro: Sprint,
1996.
TUBINO, Manoel José Gomes. Metodologia científica do treinamento desportivo.
São Paulo: Ibrasa, 1980.
VELASCO, Cacilda Gonçalves. Natação segundo a psicomotricidade. Rio de Janeiro:
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WEINBERG, Robert S. & GOULD, Daniel. Fundamentos da psicologia do esporte e
do exercício. Porto Alegre: Artmed, 2001.