pedagogia - livros sobre avalialção escolar ensinam a avaliar

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1 ENSAIOS PEDAGÓGICOS Revista eletrônica do curso de Pedagogia das Faculdades OPET ISSN 2175-1773 – Dezembro de 2012 LIVROS SOBRE AVALIAÇÃO ESCOLAR ENSINAM A AVALIAR? Márcio Francisco Rodrigues Filho 1 RESUMO Fruto da pesquisa “A produção de um modelo de docência: um estudo sobre literatura de formação de professores”, coordenada pelo professor Luís Henrique Sommer na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Neste trabalho, a partir de uma perspectiva foucaultiana do discurso, centro-me na análise das formas com que os professores são dispostos na literatura de formação docente que dizem respeito à avaliação escolar que são tomados como referência nas disciplinas de didáticas e metodologias dos cursos de Pedagogia do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil. Exponho meu recorte da pesquisa geral no que diz respeito à avaliação escolar, resumindo o alcance obtido pela pesquisa nos 12 meses de duração do estudo, procurando mostrar que os livros entendidos como didáticos mais referenciados nos cursos de pedagogia gaúchos são vetores ideológicos e pouco contribuem para o ensino da avaliação escolar, isto é, não são livros didáticos, portanto, não ensinam a avaliar. Palavras-chave: avaliação escolar; didática avaliativa; Foucault; formação de professores. ABSTRACT Fruit of the research study “The production of a model of teaching: a literature study on teacher training,” coordinated by teacher Luís Henrique Sommer in College Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). In this work, from a Foucaultian perspective of the speech, I focused on analyzing the ways in which teachers are placed in the teacher education literature pertaining to school evaluation that are taken as reference in the disciplines and methodologies of teaching courses pedagogy of the Rio Grande do Sul/Brazil. I expose my clipping of the general survey regarding the school evaluation, summarizing the range obtained by the survey within 12 months of the study, aiming to show that books perceived as referenced in more didactic pedagogy courses Gauchos are vectors ideological and contribute little to learning school evaluation, i.e. are not textbooks therefore not teach assessed. Key words: school evaluation; didactic evaluation; Foucault; formation of teachers. 1 Mestrando em filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Bolsista Capes. Pesquisa nas áreas de filosofia da mente, teoria do conhecimento e epistemologia. Professor de filosofia da rede pública estadual do Rio Grande do Sul e professor dos cursos de Aprendizagem Comercial do SENAC (Canoas/RS). email: [email protected]

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1 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 LIVROS SOBRE AVALIAO ESCOLAR ENSINAM A AVALIAR? Mrcio Francisco Rodrigues Filho1 RESUMO FrutodapesquisaAproduodeummodelodedocncia:umestudosobre literaturadeformaodeprofessores,coordenadapeloprofessorLusHenrique Sommer na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Neste trabalho, a partir de uma perspectivafoucaultianadodiscurso,centro-menaanlisedas formascomqueos professoressodispostosnaliteraturadeformaodocentequedizemrespeito avaliaoescolarquesotomadoscomoreferncianasdisciplinasdedidticase metodologiasdoscursosdePedagogiadoEstadodoRioGrandedoSul/Brasil. Exponhomeurecortedapesquisageralnoquedizrespeitoavaliaoescolar, resumindooalcanceobtidopelapesquisanos12mesesdeduraodoestudo, procurando mostrar que os livros entendidos como didticos mais referenciados nos cursosdepedagogiagachossovetoresideolgicosepoucocontribuemparao ensino da avaliao escolar, isto , no so livros didticos, portanto, no ensinam a avaliar. Palavras-chave:avaliaoescolar;didticaavaliativa;Foucault;formaode professores. ABSTRACT Fruit of the research study The production of a model of teaching: a literature study onteachertraining,coordinatedbyteacherLusHenriqueSommerinCollege Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). In this work, from a Foucaultian perspectiveofthespeech,Ifocusedonanalyzingthewaysinwhichteachersare placedintheteachereducationliteraturepertainingtoschoolevaluationthatare takenasreferenceinthedisciplinesandmethodologiesofteachingcourses pedagogy of the Rio Grande do Sul/Brazil. I expose my clipping of the general survey regardingtheschoolevaluation,summarizingtherangeobtainedbythesurvey within 12 months of the study, aiming to show that books perceived as referenced in more didactic pedagogy courses Gauchos are vectors ideological and contribute little to learning school evaluation, i.e. are not textbooks therefore not teach assessed. Key words: school evaluation; didactic evaluation; Foucault; formation of teachers. 1MestrandoemfilosofiapelaUniversidadedoValedoRiodosSinos.BolsistaCapes. Pesquisanasreasdefilosofiadamente,teoriadoconhecimentoeepistemologia. Professor de filosofia da rede pblica estadual do Rio Grande do Sul e professor dos cursos deAprendizagemComercialdoSENAC(Canoas/RS).email: [email protected] 2 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 INTRODUO Este artigo resultado de minha experincia no projeto de pesquisa: A produo de ummodelodedocncia:umestudosobreliteraturadeformaodeprofessores, coordenado pelo professor Lus Henrique Sommer, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Pesquisa que teve como objetivo, investigar o processo de fabricao do docente e da escola contemporneos, a partir de uma anlise foucaultiana de exame dasprticasdiscursivasqueestariampresentesnaformaodocentena contemporaneidade.Aqui,procuroexporasformascomoosprofessoressoposicionadosnaliteratura deformaodocentequetematizaespecificamenteaavaliaoescolar.Paraisso, centrei-menaanlisedelivrossobreavaliaoescolarrecorrentemente referenciadosnasdisciplinasdedidticasemetodologiasdecursosdepedagogia do Rio Grande do Sul. O artigo est dividido em trs partes. Na primeira, exponho a introduoeajustificativademinhametodologia,poisestapesquisatomaos moldesdapesquisageral.Asegundaparteconsistenaexposiodaanlisedos livros e consequentemente a forma com que os professores so expostos nesse tipo de literatura. Por fim, na terceira e ltima parte apresento uma concluso embasada naanlisegeraldasformascomqueosprofessoressoposicionadosnoslivros sobreavaliaoescolarnoslivrosdidticosmaisrecorrentesdoscursosde pedagogia do Rio Grande do Sul que sustenta que os livros tomados como didticos peloscursosdepedagogiagachossovetoresideolgicosepoucocontribuem como ferramenta de auxlio didtico, pois no ensinam a avaliar. 1.UMA METODOLOGIA FOUCAULTIANA Emtermosterico-metodolgicos,meuprincipalreferencialfoiumaanlisede discursoextradodaproduodeMichelFoucault,maisprecisamenteaobra intitulada A Ordem do Discurso, livro que reproduz a aula inaugural pronunciada por Foucaultaoassumiractedravacanteno CollgedeFrance pelamorte de Hyppolite em 2 de Dezembro de 1970.Essaperspectivaterico-metodolgicasefeznecessria,umavezqueamesma perspectiva foi introduzida como metodologia na pesquisa geral e agora, nesse meu recorte,tambmseenquadracomometodologia.IssoporqueFoucaultfoium pensador que trabalhou fortemente as formas de certas prticas das instituies em relao aos indivduos, destacando a semelhana nos modos de tratamento dado ou infligidosaosgrandesgruposdeindivduosqueconstituemoslimitesdogrupo social:osloucos,prisioneiros,algunsgruposdeestrangeiros,soldadosecrianas. Foucault,emltimaanlise,acreditouqueessesgrupostendemaservistoscom desconfianaeexcludosporumaregra,confinando-aseminstalaesseguras, especializadas,construdaseorganizadasemmodelossemelhantes(asilos, presdios,quartis,escolas):oqueofilsofoFranceschamoudeinstituio disciplinar.Masessaperspectivametodolgicasetornamaisclaranasprprias palavras de Foucault: [...]emtodasociedadeaproduododiscursoaomesmotempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo nmero deprocedimentosquetemporfunoconjurarseuspoderese perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e temvel materialidade (FOUCAULT, 2005 p. 8-9). 3 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 Dessa forma, a partir dessa perspectiva que toma como pressuposto uma ordem no discurso,aquiaordemserreveladacomoveremosnosdiscursossobrea avaliaoescolar.IssoporquedeacordocomGarcia(2002),precisocolocarem pautaotipodesubjetivaosequerproduzirefomentar,quandosepeos educadoresealunosaseremdirigidospordeterminadasprescriesqueacabam por disciplinar os modos plurais de subjetivao. Assim, durante a pesquisa analisei osseislivrosmaisreferenciadosnasdisciplinasdedidticaemetodologiados cursosdepedagogiagachosaprocuradaformacomoosprofessoresso dispostosnoquedizrespeitoavaliaoescolar,ecomopoderemosver,estase centraremquestesefenmenosmaisamplosdoqueasprticas,didticase metodologias especficas de avaliao e por isso, sero tidas nesta pesquisa, como umaordemdodiscursosobreaavaliaoescolarquesecentraemquestes ideolgicas abrangentes e que, por vezes, deixam de lado o seu propsito: ensinar o futuro docente a avaliar ou ainda, fazer e aplicar um mtodo avaliativo.

2.A ANLISE DOS LIVROS SOBRE AVALIAO Os livros analisados nessa pesquisa foram seis: Avaliao: uma prtica em busca de novossentidos,deMariaTeresaEsteban.Avaliao:mitoedesafio:uma perspectiva construtivista e Avaliar para promover: as setas do caminho, ambos de JussaraMariaLerchHoffman.Avaliaodaaprendizagemescolar:estudose proposies,deCiprianoC.Luckesi.Avaliao:daexignciaregularizaodas aprendizagensentreduaslgicas,dePhilippePerrenoud.Avaliao:concepo dialtica-libertadoradoprocessodeavaliaoescolar,deCelsodosSantos Vasconcellos.Aanlisedosdadostomouaclassificaodesenvolvidanapesquisageral.Assim, os livros referenciados nas disciplinas de didticas e metodologia foram divididos em trs grandes categorias: textos didticos, textos metadidticos e textos ideolgicos.Os textos didticos so vetores de discursos que se prope a ofertar conhecimentos acercadosprocedimentosmetodolgicosdaavaliaoescolar.Isto,sotextos que tem por objetivo ensinar a avaliar. Textos metadidticos so aqueles que falam sobreavaliao,masnosepropemaensinaraavaliar.Seupropsitono ensinar a avaliar como os textos didticos, mas sim, analisar criticamente o que se diznostextosdidticosacercadoprocessodeavaliao.Geralmenteso produesacadmicas,produtosdepesquisaestruturadoscomodiscursoscrticos sobre modelos de ensinar a avaliar. A terceira e ltima categoria a dos chamados textosideolgicos.Soassimchamadosporquesovetoresdeiderios pedaggicos.Nemadidtica,nemtampoucoasprticasdeavaliaoemsalade aulasoobjetosdeanlisedessestextos,masprocessosmaisgerais:educao como fenmeno sociolgico, filosfico, antropolgico. So textos cheios de certezas, utilizam-sedeumalinguagemimperativa,categrica,prescritiva.Ditoisso,agora exponhoaanlisedosseislivrosdeavaliaomaisreferenciadosnoscursosde pedagogia gachos.OlivroAvaliao:mitoedesafio:umaperspectivaconstrutivistadeJussaraMaria LerchHoffmanproblematizaaavaliaoatravsdosmitosquecercamamesma, destacandoseusaspectosmaisfortescomosendo:avaliaocomoatodejulgar, processoavaliativotomadocomoprocedimentoexigidoemintervalosdetempo especfico e burocraticamente: 4 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 Exercendo-seaavaliaocomoumafunoclassificatriae burocrtica,persegue-seumprincpioclarodedescontinuidade,de segmentao,deparcelarizaodoconhecimento.(HOFFMANN, 2001, p. 18) A autora problematiza sobre as questes que envolvem uma concepo reducionista daavaliao:julgamentoderesultado:avaliaocomoregistrodedesempenho classificatrio, avaliao comparativa, comparao com modelos, do agir a partir da atribuio denotase conceitos.Aprovao ereprovaocomopropostaautoritria inerente ao pedaggica e as influncias do modelo de Ralph Tyler: [...]oenfoquedestetericocomportamentalista(mudanade comportamentos)eresumeoprocessoavaliativoverificaodas mudanas,ocorridaspreviamentedelineadasemobjetivosdefinidos pelo professor. (HOFFMAN, 2001, p. 37). Seutextocheiodeconselhosprticosouprescriesemuitopouco,ounada ofereceemquestesmetodolgicaseprticasdecomoavaliar.Ointeresseda autora nopareceestarnosentido prtico deumensinaravaliar,oqueelaquer umaespciede mudana nasideologias,dascrenasdesalade aula,procurando uma reconstruo do significado da ao avaliativa atravs de um acompanhamento permanentedodesenvolvimentodoeducando,ondefrisaquenecessrio revitaliz-lonodinamismoqueencerraaaoeareflexo,ouseja,aautora concebe a avaliao como algo indissocivel da educao, mas de modo a observar einvestigarumsentidodefavorecereampliaraspossibilidadesprpriasdo educando (HOFFMAN, 2001). Hoffmann(2001),frisaaimportnciadeseperceberasdiferentesdisposiesdas respostasdosalunos,osignificadodostestescomosendofundamentoparaao educativa,umiralmnoprocessodeconstruodeconhecimento.Oteste,ela frisa que um instrumento de questionamento sobre as percepes do mundo, onde o professor tem uma tarefa de interpretao. Hoffman declara sempre que as tarefas realizadas pelos alunos devem ter como finalidade a investigao, e sugere: Sevalorizarmososerrosdosalunos,considerandoosviraser essenciaisdoprocessoeducativo,temosdeassumirtambma possibilidade das incertezas, das dvidas, [...] a partir da analise das respostas deles, favorecendo, ento, a discusso sobre essas idias novas ou diferentes. (HOFFMANN, 2001, p. 59). Buscandosempreocomprometimentocomumateoriaqueestejamoldadana concepodeerroconstitutivo,ondeaavaliaodevepartirdacompreensodo docentedosfenmenoseobjetos,paradepoisobservarseoprofessortema capacidade de provocar necessrio ao processo de compreender, a autora procura em diversas passagens instigar o professor a assumir a responsabilidade de refletir sobretodaaproduodeconhecimentodoaluno,promovendoomovimento, favorecendoainiciativaeacuriosidadenoperguntarenoresponder,construindo novos saberes juntamente com os alunos (HOFFMANN, 2001, p. 71). Nota-se que Hoffman toma o problema da avaliao como uma faculdade de julgar. OsconceitosparecemsertiradosdafilosofiaidealistadofilsofoalemoImanuel Kant, que no citado em nenhum momento na obra. Segundo a autora a avaliao tomada como a priori, uma faculdade subjetiva do docente, algo dado, que no construdo,nemtrabalhadoempiricamentecomosalunos.Portanto,parauma 5 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 melhor didtica de julgar a autora privilegiar tarefas intermedirias, sucessivas em todososgrausdeensino;descaracterizandoasfuneseregistroperidicosde funesburocrticas, paraconverterosmtodostradicionais eminvestigaesque valorizaro as respostas dos alunos. Desta maneira, a avaliao parece estar sendo tomadadeformaamplaequenoabordaespecificadamenteaavaliaonuma concepodidticaesimfilosfica,categrica,imprimindonosdocentes concepes avaliativas prximas de um discurso formativo, pronto, que almeja poder privilegiar o entendimento e no apenas a memorizao.Oprofessor,porvezes,colocadocomopsiclogoemmuitosenunciadosque enfatizamanecessidadedodocentecompreenderaavaliaocomoumsignificar subjetivo;relaoentredoissujeitosindividuais,dinamizandoessarelao procurando distanciar da preciso de uma mquina: certo e errado. Ponto que nos mostraaordemdodiscursoquesesubjazportrsdademandadaautora.Um ensinaraavaliarqueprocuramudaraconcepodeprofessor-aluno,aluno-professor,quebuscaumaimpressodevisosobreaavaliao.Masquetipode avaliao? No vemos em nenhum momento, didticas ou metodologias de ensino, deesobreavaliaoesim,discursosideolgicosacercadeprocessosmuitomais amplos. Da mesma autora, o livro Avaliar para promover: as setas do caminho, um livro que buscafazerumresgatedosentidooriginaldotemapromoo,quesegundo Hoffmann, no se trata de um acesso a graus superiores de ensino e sim acesso a umnvelqualitativamentesuperiordeconhecimento.Veremos.Queaautora tambm se distancia das didticas e metodologias de ensino sobre a avaliao. Uma vezqueissoelasepropeatrabalharcomumanovaconcepodetempo, caminhoeaonosprocessospedaggicosavaliativosenopropriamentea ensinar a avaliar: [...]pretendodialogarcomoleitor,paraque,juntos,possamos reforarassetasdoscaminhosemavaliao,apartirdo engajamentoemaeseducacionaiscomprometidascomuma escola do presente e do futuro. (HOFFMANN, 2001, p. 9). Olivroapontaqueotempoumdeterminantedasatividades,dasdeciseseda ateno dos discentes, neste sentido a autora ressalta a importncia de apontar os rumosdocaminho(seguiroprocessoesuadinmica),adinmicado desenvolvimentodoalunofazcomquenosepossamanteciparosrumosda avaliao,oferecermaisopespara assituaesdiversasdesaladeaula:livros, temas de estudo. J que para Hoffmann, o tempo de avaliao decorrente de suas demandaseestratgiasdeaprendizagemenodocursodasatividadesprevistas peloprofessor,porquefazercumprirastarefasnotempoprejudicaosalunose desenvolveratividadescomaplenaparticipaoenadagarantequeoprofessor estejacentradonointeressedosdiscentesounodesenvolvimentodessese ressalta: Apreocupaodaescolaedosprofessoresemcontrolarparaque todososalunosaprendamaomesmotempoedamesmaforma resulta, tambm, numa sequncia padronizadora e rgida das tarefas avaliativas. (HOFFMANN, 2001, p. 44). Hoffmann acredita que a pirmide da avaliao deve se basear nos valores sociais e ticosparadepoissubiremdireoaoprocessodeavaliaoederegistros.A prticaavaliativatomadacomoumfenmenosociolgicoeainda,Hoffmann 6 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 utiliza-se novamente do conteito de a priori sempre quando quer tratar de conceitos quetenhamrelaocom otempo.Desta forma, otempo tratadocomo faculdade cognitiva de interpretao do mundo, por sua vez, de avaliar. O texto no faz jus didticaavaliativa,topoucoaprticaavaliativaemsaladeaula,masapenasum processo amplo de saberes que o professor deve conhecer de forma categrica para interpretar o conhecimento dos discentes.Indo adiante na anlise, segue o livro Avaliao da aprendizagem escolar: estudos e proposies,deCiprianoC.Luckesiquesetratadeumconjuntodeartigos publicadospeloautor,queanalisamaprticadaavaliaodaaprendizagemna escola. O autor ressalta que a sociedade de maneira geral esta preocupada com a ateno a promoo, mais do que ao ensino e aprendizagem, pois para o autor: os alunostmasuaatenosituadanapromoo,estointeressadosnocomeodo ano de como ser o processo de promoo no final do ano escolar. Procuram saber asnormaseosmodoscomopodemobtersuasnotasparapassardeano,epara isso os professores foram a ateno nas provas: [...] Os professores utilizam as provas como instrumento de ameaa etorturaprviadosalunos[...]Estudem!Casocontrrio,vocs poderosedarmalnodiadaprova.[...]Sadismohomeoptico. (LUCKESI, 1995, p. 18-19). Emsntese,aprticaeducativa,segundooLuckesi,partedeumapedagogiado exame.Asprovasservemparareprovarenoparaauxiliarnaaprendizagem. Pontos a mais e pontos a menos de acordo com atividades extras. A avaliao serve comoumdisciplinamentodosalunos:provasemformadeameaas.Oautor destacapossveisconsequnciasdessetipodeavaliaoasquaisacentralizao daatenonosexames;noauxilianaaprendizagemeainda,setornatilpara desenvolverpersonalidadessubmissas.Almdisso,oautorretrataaavaliao educacional como uma manifestao da exacerbao do autoritarismo: [...] a prtica de avaliao escolar perde seu significado constitutivo. Emfunodeestarnobojodeumapedagogiaquetraduzas aspiraesdeumasociedadedelimitadamenteconservadora,ela exacerbaaautoridadeeoprimeoeducando,impedindooseu crescimento.Deinstrumentodialticosetornaeminstrumento disciplinadordahistriaindividualdecrescimentodecadaum. (LUCKESI, 1995, p. 41). Nota-se que o autor tambm no trata no texto de formas especficas de avaliao: registros,nemdeprticasdeensino.Notrabalhaquestesdedidticaespecfica de avaliao e sim, comenta a respeito da aprendizagem escolar no que se refere avaliao num sentido muito mais abrangente. A avaliao aqui tomada como um comportamentocoletivo.Umaordemdediscursoforjadasobreavisodoautora respeito das prticas de avaliao e suas consequncias e no, um livro que aborde propriamente didticas avaliativas, nem se quer mtodos e sim, um extremo analisar daavaliao.Luckesiprocuramostrarqueaavaliaonadamaisdoqueuma formaautoritriadeimporummodelosocialcarreiristaaqualapromooeo resultadoatravsdenotas,conceitossoosfatoresmaisimportantes;noo crescimento individual de cada aluno. Outro livro mais referenciados nas disciplinas de didtica e metodologia o do autor PhilippePerrenoud:Avaliao:daexignciaregularizaodasaprendizagens 7 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 entreduaslgicas,ondePerrenouddiscorreprimeiramentesobredoisfatos,que segundo ele so fundamentais nos programas de avaliao: textos legislativos, e os programas dos professores, onde os primeiros que dizem respeito ao o que se deve ensinar,masnooquesedeveapreender,deixandooquesedeveavaliaraum nvel de exigncia a critrio do professor. Os segundos (programas), os professores estoinseridosatravsdeumaesferaautnoma:nodominamenoensinamos mesmossaberesecompetncias.Assim,oautorprescrevemaneiraspara reconstituirasnormasdeexcelncia,nveisdeexignciaeosprocedimentosde avaliao: [...]Acadaumsuaverdade:aexcelnciaeoxitonosonicos; suadefiniovariadeumestabelecimento,deumaturma,deum anoaoutronombitodeummesmoplanodeestudos.Essa diversidadeamplamentedesconhecida,porquepoucolegtima,no impedequeumjulgamentodeexcelnciacriadoporumanica pessoa,demaneiradiscricionria,sejaenunciadoemnomeda instituio e adquira, ento, fora de lei. (Perrenoud, 1999, p.31). Dessa forma, o autor se centra em avaliar sempre para o agir, buscando a eficcia do ensino ou da seleo, onde a avaliao pode ser utilizada em um duplo sentido: ajusteperidicodocurrculo,dasnormasedocontroledoensino,ouseja,do trabalhodosprofessores.Emsuma,Perrenoudestpreocupadocomtextos legislativosquedizemoquesedeveensinar,masnooquesedeveapreender, deixandooquesedeveavaliareonveldetalexignciaacritriodoprofessor, descaracterizando a avaliao, que para ele deveria ser: formativa (regular a ao); cumulativaou(balancearosconhecimentos);prognstica(fundamentara orientao);iniciativa(prosalunosparatrabalhar);repressiva(contereventuais excessos)ouaindainformativa,destina-seaospais(normaspararegulamentara avaliao).Emboraestejapreocupadocomosprocedimentosmetodolgicosdoprocessode avaliar, ainda assim o autor prescreve categorias a serem seguidas pelos docentes naprticaavaliativaquandoserefereaexcelncia,nveisdeexigncia,eos procedimentosdeavaliaocomomeioparaverificarseoalunoadquiriuo conhecimentovisado,sem,noentanto,especificarosmeiosdeavaliaoeainda, como e quando e de que forma faz-los ou aplic-los.Demaneirageral,temaavaliaocomoumformatodisciplinarnico,ondea excelnciaescolarfrutodeumtrabalho,daqualidadedeumaprticaatreladaa uma viso de progresso e desenvolvimento. A formatao da subjetividade do aluno emummodeloquebuscaaexcelnciaindispensveleindissociveldeuma ordemdediscursoprogressistaquenoabordaquestesprticas,masapenas analisa sintomas subjetivos sobre as prticas avaliativas. Outro livro analisado foi: Avaliao: concepo dialtica-libertadora do processo de avaliaoescolar,deCelsodosSantosVasconcellos.Otextoprocuraumsentido paraaavaliao,destemodo,procuradistinguiraavaliaoenota,poisnem sempreumanotaaltapressupeumbomndicedeaprendizadoedissooautor concluitrsaspectosbsicos(nenhumabordaquestesprticasdeformato constitutivo:como,ondeequandofazerumaavaliao?):A)Aavaliaovista como um processo humano que implica uma reflexo crtica sobre a prtica. A nota tem como papel principal um sistema formal, seja por nmero (0-10) ou conceito (a, b, c). B) O professor no deve procurar um culpado (quem erra, o criminoso), deve ajudarnoprocessodeconstruodoconhecimento.C)Aavaliaocomouma 8 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 concepo de educao: ver quem assimilou o contedo, quem capaz, quem sabe dequemnosabe,poisantesdetudoaavaliaoumaquestopolticaede representatividadedosinteressesdeclasse,poisaavaliaoparasertomada como objeto de analise de aproveitamento. Neste sentido, em busca de uma avaliao que significa avaliar para que os alunos aprendam mais e melhor; o autor d as seguintes prescries: a) deslocar o eixo de preocupaodoprofessor,nonocontroledotransmitidoesimnaaprendizagem dosalunos;b)superarosujeitopassivodaeducaotradicionaleoativoda educao nova em direo do interativo; c) o maior objetivo do professor no deve ser o quanto o aluno sabe, mas sim garantir a aprendizagem de todos; entre outras prescries que giram sempre em torno da subjetividade do aluno: [...]Darnotapeloesforodoaluno[...] O fatodoalunotirarnota porsuaprpriaatividade,restitui-lheadignidade,fazcomque desenvolva a fibra e a autoconfiana. (VASCONCELLOS, 2000, p. 72 Vasconcellospareceestarpreocupadoemdarumsentidoparaaavaliao,tenta distinguiravaliaodenota, fazuma avaliaodaavaliaoenquantoprocessode construodoconhecimentoesedefato,aavaliaoatravsdenotas,como anlisedeaproveitamentocapazdecumprirestepapel.Entoaavaliao entendidapeloautorcomomtodoparaqueosalunosaprendammaisemelhor, teriadeagirnosseguintessentidos:fazerdoprofessorumtransmissorenoum controlador.Darumsentidoaoestudodosalunos,umsignificadorelevantee principalmente:avaliarosalunosatravsdenotas,apenasatravsdecritrios objetivos: responsabilidade, aproveitamento, etc.Oautorentendeaavaliaocomoumprocessocontnuo,umregistrodosalunos pretendendodesritualizarasprovasetransform-lasemumaatividadecomoas outras. Se imbui ainda em questionar a avaliao em seus mais diferentes aspectos, porm no trata especificamente de uma didtica de avaliar, mas de seu todo, com prescriesdecomo oprofessordeveseportarpara obter melhoresresultadosde suasavaliaes,ouseja,tentarmudaroconceitoqueosprofessorestmde avaliao. O livro uma espcie de abordagem ideolgica e prescritiva, uma ordem dediscursoquetomacomopressupostoummodelodeprofessoresqueestoem faze de formao, mas que parecem j saber proporcionar didticas e metodologias de avaliao aos seus alunos. Uma contradio explicita, por assim dizer. Por ltimo, temos o livro de Maria Teresa Esteban: Avaliao: uma prtica em busca denovossentidos,ondeestanotaqueumareformanaavaliaoescolar necessria,poisaavaliaodeveserreconstruda, mas essasereconstria partir deum discursocrticodaconcepo de avaliaocomoquantificao,tomandoos sujeitosescolarescomohistricosesociais,porqueotempoescolartemde respeitarosritmosindividuais,estabelecendoparmetrosaosquaisasrespostas dosdiscentes devem sercomparadas, fazendoumaavaliaodemocrtica,imersa numa pedagogia da incluso. Otextobuscaumapedagogiamulticultural,democrticaequevislumbraaescola como uma zona fronteiria de cruzamento de culturas, eis aqui a opinio central do texto, pois o discurso do erro parte do processo de construo de conhecimento e atensoentreindividualecoletivofazempartedosconceitosessenciais desenvolvidospelaautora.Assim,abuscaporentenderadicotomiaentreerroe acerto,saberenosaber,devesertomadacomomarcoparaumaavaliaoque tem ponto de partida no o certo e o errado, mas sim, o debate sobre o ainda no 9 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 saber,refletindosobreashistriasdocotidianoecompartilhando-as,parase entender os fatos do cotidiano como processos construtores de conhecimento. Hquerefletir,questionareproblematizarse,atquepontoestes mesmosmecanismoseestratgiasestocontribuindonaformao decidadosporto-alegrenses,riograndenses,brasileirosedo mundo,maissensveis,solidrios,apaixonados,ticos,coletivos, construtores de uma cidadania melhor. (ESTEBAN, 2003, p. 141). Alm disso, a autora est preocupada com o problema de se tratar avaliao como mecanismodecontroledossujeitosedosresultadosescolares.Concebequea avaliao imposta como uma dinmica de sala de aula limitada a procedimentos que favoreamaprodutividadedosalunosprejudicial,masseutextocheiode certezasexpostasatravsdeumdiscursodoerrocomopartedoprocessode construo de conhecimento, onde as diferenas so tomadas como peculiaridades a serem trabalhadas e incorporadas pelo coletivo, ao invs de serem tomadas como deficinciasaseremcorrigidas,ouseja,umadoutrinaquesecolocadaemprtica seriacapazdeevitaroerroincorporando-ocomosendoalgoinerenteaatividade pedaggica, porm ainda, sem um tratamento especfico.presenteaolongodetodootextoumaabordagemdeanliseenode metodologiasedidticassobreavaliaoesimumaabordagemsociolgicada avaliao que se foca no carter da possibilidade como sendo um meio de mudar a realidadeatravsdaconstruodeumaavaliaodemocrtica,imersanuma pedagogiadaincluso.Umapedagogiamulticultural,democrticaquevislumbraa escolacomoumazonafronteiriadecruzamentodeculturas.Ummaterialquese afastadadidticaedaanalisedaavaliao,imersonatotalmenteemuma antropologiasocial,quetomacomomedidaadiscussodofracassoescolardas classes menos abastadas para prescrever enunciados avaliativos e imperativos. No se trata de um texto de ensino de avaliao, isto , que demonstra como uma boa avaliaodeveserfeitaedoqueconstitudaesim,deumtextoantropolgico sobre a avaliao escolar. Novamente uma ordem do discurso escolar se abriga em umtextoextremamentereferenciadonasdisciplinasdedidticasavaliativasdos cursos de pedagogia gachos. CONCLUSO Diante de todos os termos apresentados, concluo que o que mais chamou a ateno nessestextosfoiprepondernciadeenunciadosqueforamclassificadospela pesquisamaiorcomosendotextosideolgicos,osquaissignificamaavaliao escolarantescomoumdebatedevaloressociaiseticos,paraapenas secundariamentecontemplarsaberesespecficossobreasprticas,instrumentose registros de avaliao. As discusses em torno da avaliao escolar subordinam-se acompreensesmaisamplas,denaturezasociolgica,filosfica,ticaepoucoou nada contribuem para ensinar prticas avaliativas.Emoutrostermos,taistextospropemreflexessobreossentidosdaavaliao escolareseuspossveisperversosefeitos,porexemplo,sobrealunosdeclasses populares e muito pouco oferecem em termos de instrumentos, registros, processos de avaliao, poisensino, metodologia, didtica, planejamento so conceitos pouco abordados,ouporvezes,deixadosdeladopeloslivrosdeavaliaomais 10 ENSAIOS PEDAGGICOS Revista eletrnica do curso de Pedagogia das Faculdades OPETISSN 2175-1773 Dezembro de 2012 referenciadosnasdisciplinasdedidticaemetodologiadoscursosdepedagogia gachos.Todos os textos tomam como pressuposto que os professores j saibam o que de fato um registro de avaliao, metodologias e didticas gerais e como faz-las. E por isso,creioquepartindodessepressuposto,taistextossepreocupammuitomais comdiscussessobreaavaliaodoqueensinarmtodosavaliativos,ouseja, como constru-los. Nesse sentido tais textos so entendidos por esta pesquisa como sendo textos ideolgicos, vetores de discursos gerais e amplos sobre a avaliao e no propriamente textos didticos, isto , de ensino de avaliao escolar. REFERNCIAS ESTEBAN, Maria Teresa. Avaliao: uma prtica em busca de novossentidos. 4 Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. So Paulo: Loyola, 2005. GARCIA,MariaM.A.Pedagogiascrticasesubjetivao:umaperspectiva foucaultiana. Petrpolis: Vozes, 202. HOFFMANN,JussaraMariaLercch.Avaliao:mitoedesafio:umaperspectiva construtivista. Mediao, Porto Alegre, 2001, 30ed. ___________. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediao, 2001. LUCKESI,CiprianoC.Avaliaodaaprendizagemescolar:estudoseproposies. So Paulo: Cortez, 1995. PERRENOUD, Philippe. 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