pauliceia desvairada - mario de andrade - iba mendes

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Mário de Andrade

Pauliceia Desvairada  Edição comemorativa aos 70 anos da morte do escritor

Publicado originalmente em 1922.

Mário Raul de Moraes Andrade(1893 — 1945)

 “Projeto Livro Livre”

Livro 718

Poeteiro Editor Digital PROJETO LIVRO LIVRE 

São Paulo - 2016

www.poeteiro.com

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PROJETO LIVRO LIVREPROJETO LIVRO LIVREPROJETO LIVRO LIVREPROJETO LIVRO LIVRE

Oh! Bendito o que semeiaLivros... livros à mão cheia...

E manda o ovo ensar!O livro caindo nalma

" #erme $ que %a& a alma'" chuva $ que %a& o mar.

(astro )lves 

O “Projeto Livro Livre” é uma iniciativa que propõe o compartilhamento, deforma livre e gratuita, de obras literárias já em domnio p!blico ou que tenham

a sua divulga"#o devidamente autori$ada, especialmente o livro em seu formato%igital&

'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo ., os direitos patrimoniais doautor perduram por setenta anos contados de / de janeiro do ano subsequenteao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundo o 12digo dos%ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e artigo 7), odireito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anos ap2s a mortedo criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicada ou divulgadapostumamente&

O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol dadivulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhumdireito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por algumara$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe,a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo&

:speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejamrepensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectualuma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidor

ao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos;

3té lá, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento daeduca"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obrasem domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro <ário de 3ndrade=“Pauliceia Desvairada”.

> isso;Iba Mendes

[email protected]

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ÍNDICE

A Mário de Andrade........................................................................................

Prefácio interessantíssimo...............................................................................Inspiração.........................................................................................................

O trovador........................................................................................................

Os cortejos.......................................................................................................

A escalada........................................................................................................

Rua de São Bento............................................................................................

O rean!o.........................................................................................................

"iet#..................................................................................................................

Paisa$em n% &..................................................................................................

Ode ao ur$u#s................................................................................................

"ristura.............................................................................................................

'omin$o...........................................................................................................

O domador.......................................................................................................

An!an$aa(.....................................................................................................

A caçada...........................................................................................................

)oturno............................................................................................................

Paisa$em n% *...................................................................................................

"u.....................................................................................................................

Paisa$em n% +...................................................................................................

,ollo-ue sentimental.......................................................................................Reli$ião.............................................................................................................

Paisa$em n% ..................................................................................................

As enfiraturas do Ipiran$a..............................................................................

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PAULICEIA DESVAIRADA

A MÁRIO DE ANDRADE 

Mestre querido.

Nas muitas horas breves que me fizestes ganhara vosso lado dizíeis da vossa confiança pela arte

livre e sincera... Não de mim, mas de vossaexperiência recebi a coragem da minha erdade

e o orgulho do meu !deal. "ermiti#me que ora vos oferte este livro quede v$s me veio. "rouvera %eus& nunca vosperturbe a d'vida feroz de (driano )ixte...

Mas não sei, Mestre, se me perdoareis a dist*nciamediada entre estes poemas e vossas altíssimas

liç+es... ecebei no vosso perdão o esforçodo escolhido por v$s para 'nico discípulo-

daquele que neste momento de martírio muitoa medo inda vos chama o seu uia, o seu Mestre,

o seu )enhor.Mário de Andrade

14 de dezembro de 1921S. PAULO

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PREFÁCIO INTERESSANTÍSSIMO

"Dans mon pays de fiel e d!or !en s#is la loi$./. /0(//N

1eitor2/st3 fundado o %esvairismo.

/ste pref3cio, apesar de interessante, in'til.

(lguns dados. Nem todos. )em conclus+es. "ara quem me aceita são in'teisambos. 4s curiosos terão prazer em descobrir minhas conclus+es, confrontandoobra e dados. "ara quem me re5eita trabalho perdido explicar o que, antes deler, 53 não aceitou.

6uando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconscienteme grita. "enso depois2 não s$ para corrigir, como para 5ustificar o que escrevi.%aí a razão deste "ref3cio !nteressantíssimo.

(li3s muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia aseriedade. Nem eu sei.

/ desculpe#me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. )ou

passadista, confesso. Ningu7m pode se libertar duma s8 vez das teorias#av$sque bebeu- e o autor deste livro seria hip$crita si pretendesse representarorientação moderna que ainda não compreende bem.

1ivro evidentemente impressionista. 4ra, segundo modernos, erro grave o!mpressionismo. 4s arquitetos fogem do g$tico como da arte nova, filiando#se,para al7m dos tempos hist$ricos, nos volumes elementares2 cubo, esfera, etc.4s pintores desdenham %elacroix como 9histler, para se apoiarem na calmaconstrutiva de afael, de !ngres, do reco. Na escultura odin 7 ruim, osimagin3rios africanos são bons. 4s m'sicos desprezam %ebuss:, genuflexosdiante da polifonia catedralesca de "alestrina e ;oão )ebastião <ach. ( poesia...=tende a despo5ar o homem de todos os seus aspectos contingentes eefêmeros, para apanhar nele a humanidade>... )ou passadista, confesso.

=/ste (lcorão nada mais 7 que uma embrulhada de sonhos confusos eincoerentes. Não 7 inspiração provinda de %eus, mas criada pelo autor. Maom7não 7 profeta, 7 um homem que faz versos. 6ue se apresente com algum sinalrevelador do seu destino, como os antigos profetas?. @alvez digam de mim oque disseram do criador de (l3. %iferença cabal entre n$s dois2 Maom7

apresentava#se como profeta- 5ulguei mais conveniente apresentar#me comolouco.

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ocê 53 leu )ão ;oão /vangelistaA 9alt 9hitmanA Mailarm7A erhaerenA

"erto de dez anos metrifiquei, rimei. /xemploA

ARTISTA 

4 meu dese5o 7 ser pintor B 1ionardo,cu5o ideal em piedades se acrisola-

fazendo abrir#se ao mundo a ampla corolado sonho ilustre que em meu peito guardo...

Meu anseio 7, trazendo ao fundo pardo

da vida, a cor da veneziana escola,dar tons de rosa e de ouro, por esmola,a quanto houver de penedia ou cardo.

6uando encontrar o manancial das tintase os pinc7is exaltados com que pintas,eronese& teus quadros e teus frisos,

irei morar onde as %esgraças moram-

e viverei de colorir sorrisosnos l3bios dos que imprecam ou que choram&

4s )rs. 1aurindo de <rito, Martins Contes, "aulo )et'bal, embora não tenhamevidentemente a envergadura de icente de Darvalho ou de Crancisca ;'lia,publicam seus versos. / fazem muito bem. "odia, como eles, publicar meusversos metrificados.

Não sou futurista Ede MarinettiF. %isse e repito#o. @enho pontos de contactocom o futurismo. 4sGald de

(ndrade, chamando#me de futurista, errou. ( culpa 7 minha. )abia da existênciado artigo e deixei que saísse. @al foi o esc*ndalo, que dese5ei a morte do mundo./ra vaidoso. 6uis sair da obscuridade. 0o5e tenho orgulho. Não me pesariareentrar na obscuridade. "ensei que se discutiriam minhas ideias Eque nem sãominhasF2 discutiram minhas intenç+es. ;3 agora não me calo. @antoridicularizariam meu silêncio como esta grita. (ndarei a vida de braços no ar,como o ?!ndiferente? de 9atteau.

?(lguns leitores ao lerem estas frases Epoesia citadaF não compreenderam logo.Dreio mesmo que 7 impossível compreender inteiramente H primeira leitura

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pensamentos assim esquematizados sem uma certa pr3tica. Nem 7 nisso queum poeta pode queixar#se dos seus leitores. No que estes se tornamconden3veis 7 em não pensar que um autor que assina não escreve asnidadespelo simples prazer de experimentar tinta- e que, sob essa extravag*ncia

aparente havia um sentido porventura interessantíssimo, que havia qualquercoisa por compreender?. ;oão /pstein.

03 neste mundo um senhor chamado Idislas Milner. /ntretanto escreveu isto2?4 fato duma obra se afastar de preceitos e regras aprendidas, não d3 a medidado seu valor>. "erdoe#me dar algum valor a meu livro. Não h3 pai que, sendopai, abandone o filho corcunda que se afoga- para salvar o lindo herdeiro dovizinho. ( ama#de#leite do conto foi uma grandíssima cabotina desnaturada.

@odo escritor acredita na valia do que escreve. )i mostra 7 por vaidade. )i não

mostra 7 por vaidade tamb7m.

Não fu5o do ridículo. @enho companheiros ilustres.

4 ridículo 7 muitas vezes sub5etivo. !ndepende do maior ou menor alvo dequem o sofre. Driam8#lo para vestir com ele quem fere nosso orgulho,ignor*ncia, esterilidade.

Jm pouco de teoriaA (credito que o lirismo, nascido no subconsciente,acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versosinteiros, sem pre5uízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada./ntroncamento 7 sueto para os condenados da prisão alexandrina. 03 por7mraro exemplo dele neste livro. Jso de cachimbo...

( inspiração 7 fugaz, violenta. 6ualquer impecilho a perturba e mesmoemudece. (rte, que, somada a 1irismo, d3 "oesia, não consiste em pre5udicar adoida carreira do estado lírico para avis3#lo das pedras e cercas de arame docaminho. %eixe que tropece, caia e se fira. (rte 7 mondar mais tarde o poemade repetiç+es fastientas, de sentimentalidades rom*nticas, de pormenoresin'teis ou inexpressivos.

6ue (rte não se5a por7m limpar versos de exageros coloridos. /xagero2 símbolosempre novo da vida como do sonho. "or ele vida e sonho se irmanam. /,consciente, não 7 defeito, mas meio legítimo de expressão.

?4 vento senta no ombro das tuas velas&? )haKespeare. 0omero 53 escreveraque a terra mugia debaixo dos p7s de homens a cavalos. Mas você deve saber

que h3 milh+es de exageros na obra dos mestres.

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@aine disse que o ideal dum artista consiste em =apresentar, mais que ospr$prios ob5etos, completa e claramente qualquer característica essencial esaliente deles, por meio de alteraç+es sistem3ticas das relaç+es naturais entreas suas partes, de modo a tornar essa característica mais visível e dominadora?.

4 )r. 1uís Darlos, por7m, reconheço que tem o direito de citar o mesmo emdefesa das suas =Dolunas>.

;3 raciocinou sobre o chamado =belo horrível?A L pena. 4 belo horrível 7 umaescapat$ria criada pela dimensão da orelha de certos fil$sofos para 5ustificar aatração exercida, em todos os tempos, pelo feio sobre os artistas. Não mevenham dizer que o artista, reproduzindo o feio, o horrível, faz obra bela.Dhamar de belo o que 7 feio, horrível, s$ porque est3 expressado com grandeza,comoção, arte, 7 desvirtuar ou desconhecer o conceito da beleza. Mas feio Bpecado... (trai. (nita Malfatti falava#me outro dia no encanto sempre novo do

feio. 4ra (nita Malfatti ainda não leu /mílio <a:ard2 =4 fim l$gico dum quadro 7ser agrad3vel de ver. @odavia comprazem#se os artistas em exprimir o singularencanto da fei'ra. 4 artista sublima tudo>.

<elo da arte2 arbitr3rio, convencional, transit$rio B questão de moda. <elo danatureza2 imut3vel, ob5etivo, natural B tem a eternidade que a natureza tiver.(rte não consegue reproduzir natureza, nem este 7 seu Cim. @odos os grandesartistas, ora consciente Eafael das Madonas, odin do <alzac, <eethoven da"astoral, Machado de (ssis do <r3s DubasF, ora inconscientemente Ea grande

maioriaF foram deformadores da natureza. %onde infiro que o belo artístico ser3tanto mais artístico, tanto mais sub5etivo quanto mais se afastar do belonatural. 4utros infiram o que quiserem. "ouco me importa.

Nossos sentidos são fr3geis. ( percepção das coisas exteriores 7 fraca,pre5udicada por mil v7us, provenientes das nossas taras físicas e morais2doenças, preconceitos, indisposiç+es, antipatias, ignor*ncias, hereditariedade,circunst*ncias de tempo, de lugar, etc... )$ idealmente podemos conceber osob5etos como os atos na sua inteireza bela ou feia. ( arte que, mesmo tirandoos seus temas do mundo ob5etivo, desenvolve#se em comparaç+es afastadas,exageradas, sem exatidão aparente, ou indica os ob5etos, como um universal,sem delimitação qualificativa nenhuma, tem o poder de nos conduzir a essaidealização livre, musical. /sta idealização livre, sub5etiva, permite criar todo umambiente de realidades ideais onde sentimentos, seres e coisas, belezas edefeitos se apresentam na sua plenitude her$ica, que ultrapassa a defeituosapercepção dos sentidos. Não sei que futurismo pode existir em quem quaseperfilha a concepção est7tica de Cichte. Cu5amos da natureza& )$ assim a artenão se ressentir3 da ridícula fraqueza da fotografia... colorida.

Não acho mais graça nenhuma nisso da gente submeter comoç+es a um leito de"rocusto para que obtenham, em ritmo convencional, n'mero convencional de

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sílabas. ;3, primeiro livro, usei indiferentemente, sem obrigação de retornoperi$dico, os diversos metros pares. (gora liberto#me tamb7m dessepreconceito. (dquiro outros. azão para que me insultemA

Mas não desdenho baloiços dançarinos de redondilhas e decassílabos. (contecea comoção caber neles. /ntram pois Hs vezes no cabar7 rítmico dos meusversos. Nesta questão de metros não sou aliado- sou como a (rgentina2enriqueço#me.

)obre a ordemA B epugna#me, com efeito, o que Musset chamou2 ?1art deservir H point un d7noument bien cuit?.

/xiste a ordem dos colegiais infantes que saem das escolas de mãos dadas, doisa dois. /xiste uma ordem nos estudantes das escolas superiores que descem

uma escada de quatro em quatro degraus, chocando#se lindamente. /xiste umaordem, inda mais alta, na f'ria desencadeada dos elementos.

6uem leciona 0ist$ria do <rasil obedecera a uma ordem que, certo, nãoconsiste em estudar a guerra do "araguai antes do ilustre acaso de "edrolvares. 6uem canta seu subconsciente seguir3 a ordem imprevista dascomoç+es, das associaç+es de imagens, dos contatos exteriores. (contece que otema Hs vezes descaminha.

4 impulso clama dentro de n$s como turba enfurecida. )eria engraçadíssimoque a esta se dissesse2 =(lto l3& Dada qual berre por sua vez- e quem tiver oargumenta mais forte, guarde#o para o fim&> ( turba 7 confusão aparente.6uem souber afastar#se idealmente dela, ver3 o imponente desenvolver#sedessa alma coletiva, falando a ret$rica exata das reivindicaç+es.

Minhas reivindicaç+esA 1iberdade. Jso dela- não abuso. )ei embrid3#la nasminhas verdades filos$ficas e religiosas- porque verdades filos$ficas, religiosas,não são convencionais como a (rte, são verdades. @anto não abuso& Nãopretendo obrigar ningu7m a seguir#me. Dostumo andar sozinho.

irgílio, 0omero, não usaram rima. irgílio. 0omero, têm asson*nciasadmir3veis.

( língua brasileira 7 das mais ricas e sonoras. / possui o admirabilíssimo =ão?.

Marinetti foi grande quando redescobriu o poder sugestivo, associativo,simb$lico, universal, musical da palavra em liberdade. (li3s2 velha como (dão.Marmetti errou2 fez dela sistema. L apenas auxiliar poderosíssimo. Jso palavras

em liberdade. )into que o meu copo 7 grande demais para mim, e inda bebo nocopo dos outros.

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)ei construir teorias engenhosas. 6uer verA ( po7tica est3 muito mais atrasadaque a m'sica. /sta abandonou, talvez mesmo antes do s7culo O, o regime damelodia quando muito oitavada, para enriquecer#se com os infinitos recursos da

harmonia. ( po7tica, com rara exceção at7 meados do s7culo PQ francês, foiessencialmente mel$dica. Dhamo de verso mel$dico o mesmo que melodiamusical2 arabesco horizontal de vozes EsonsF consecutivas, contendopensamento inteligível. 4ra, si em vez de unicamente usar versos mel$dicoshorizontais2 =Mnezarete, a divina, a p3lida "hr:nea comparece ante a austera erígida assembleia do (re$pago supremo...> fizermos que se sigam palavras semligação imediata entre si2 estas palavras, pelo fato mesmo de se não seguiremintelectual, gramaticalmente, se sobrep+em umas Hs outras, para a nossasensação, formando, não mais melodias, mas harmonias. /xplico melhor20armonia2 combinação de sons simult*neos. /xemplo2 ?(rroubos... 1utas...

)eta... Dantigas... "ovoar&...> /stas palavras não se ligam. Não formamenumeração. Dada uma 7 frase, período elíptico, reduzido ao mínimotelegr3fico. )i pronuncio ?(rroubos>, como não faz parte de frase EmelodiaF, apalavra chama a atenção para seu insulamento e fica vibrando, H espera dumafrase que lhe faça adquirir significado e 6J/ NR4 /M. ?1utas? não d3conclusão alguma a ?(rroubos?- e, nas mesmas condiç+es, não fazendoesquecer a primeira palavra, fica vibrando com ela. (s outras vozes fazem omesmo. (ssim2 em vez de melodia Efrase gramaticalF temos acorde arpe5ado,harmonia, B o verso harm8nico. Mas, si em vez de usar s$ palavras soltas, uso

frases soltas2 mesma sensação de superposição, não 53 de palavras EnotasF masde frases EmelodiasF. "ortanto2 polifonia po7tica. (ssim, em Pa#li%eiaDes&airada usam#se o verso mel$dico2 ?)ão "aulo 7 um palco de bailadosrussos?- o verso harm8nico2 ?( cainçalha... ( <olsa... (s 5ogatinas...> e apolifonia po7tica Eum e Hs vezes dois e mesmo mais versos consecutivosF2 ?(engrenagem trepida... ( bruna neva... 6ue talA Não se esqueça por7m queoutro vir3 destruir tudo isto que construí. "ara a5untar H teoria2

4s gênios po7ticos do passado conseguiram dar maior interesse ao versomel$dico, não s$ criando#o mais belo, como fazendo#o mais variado, maiscomotivo, mais imprevisto. (lguns mesmo conseguiram formar harmonias, porvezes ricas. 0armonias por7m inconscientes, espor3dicas. "rovo inconsciência2ictor 0ugo, muita vez harm8nico, exclamou depois de ouvir o quarteto doigoletto2 =Caçam que possa combinar simultaneamente v3rias frases e verãode que sou capaz?. /ncontro anedota em alli, /st7tica Musical. )e non 7 vero...

03 certas figuras de ret$rica em que podemos ver embrião da harmonia orai,como na lição das sinfonias de "it3goras encontramos germe da harmoniamusical. (ntítese B genuína disson*ncia. / si tão apreciada 7 5usto porque

poetas como m'sicos, sempre sentiram o grande encanto da disson*ncia, deque fala . Migot.

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Doment3rio H frase de 0ugo. 0armonia oral não se realiza, como a musical, nossentidos, porque palavras não se fundem como sons, antes baralham#setornam#se incompreensíveis. ( realização da harmonia po7tica efetua#se na

inteligência. ( compreensão das artes do tempo nunca 7 imediata, masmediata. Na arte do tempo coordenamos atos de mem$ria consecutivos, queassimilamos num todo final. /ste todo, resultante de estados de consciênciasucessivos, d3 a compreensão final, completa da m'sica, poesia, dançaterminada. ictor 0ugo errou querendo realizar ob5etivamente o que se realizasub5etivamente, dentro de n$s.

4s psic$logos não admitirão a teoria.. / responder lhes com o =)$#quem#ama>de <ilac. 4u com os versos de 0eine de que <ilac tirou o ?)$#quem#ama>./ntretanto2 si você 53 teve por acaso na vida um acontecimento forte,

imprevisto E53 teve, naturalmenteF recorde#se do tumulto desordenado dasmuitas ideias que nesse momento lhe tumultuaram no c7rebro. /ssas ideias,reduzidas ao mínimo telegr3fico da palavra, não se continuavam, porque nãofaziam parte de frase alguma, não tinham resposta, solução, continuidade.ibravam, ressoavam, amontovam#se, sobrepunham#se. )em ligação, semconcord*ncia aparente B embora nascidas do mesmo acontecimento Bformavam, pela sucessão rapidíssima, verdadeiras simultaneidades, verdadeirasharmonias acompanhando a melodia en7rgica e larga do acontecimento.

<ilac, @arde, 7 muitas vezes tentativa de harmonia po7tica. %aí, em parte aomenos, o estilo novo do livro. %escobriu, para a língua brasileira, a harmoniapo7tica, antes dele empregada raramente Eonçalves %ias, genialmente, nacena de luta, S B ;uca B "iramaF. 4 defeito de <ilac foi não metodizar oinvento- tirar dele todas as consequências. /xplica#se historicamente seudefeito2 @arde 7 um apogeu. (s decadências não vêm depois dos apogeus. 4apogeu 53 7 a decadência, porque sendo estagnação não pode conter em si umprogresso, uma evolução ascensional. <ilac representa uma fase destrutiva dapoesia- porque toda perfeição em arte significa destruição. !magino o seu susto,leitor, lendo isto. Não tenho tempo para explicar2 estude si quiser. 4 nossoprimitivismo representa uma nova fase construtiva. ( n$s competeesquematizar metodizar as liç+es do passado.

olto ao poeta. /le fez como os criadores do 4rganum medieval2 aceitouharmonias de quartas e de quintas desprezando terceiras, sextas, todos osdemais intervalos. 4 n'mero das suas harmonias 7 muito restrito. (ssim, ?... oar e o chão, a fauna e a flora, a erva e o p3ssaro, a pedra e o tronco, os ninhos ea hera, a 3gua e o r7ptil, a folha e o inseto, a flor e a fera? d3 impressão dumalonga, mon$tona s7rie de quintas medievais, fastidiosa, excessiva, in'til, incapaz

de sugestionar o ouvinte e dar#lhe a sensação do crep'sculo na mata.

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1irismo2 estado efetivo sublime B vizinho da sublime loucura. "reocupação dem7trica e de rima pre5udica a naturalidade livre do lirismo ob5etivado. "or issopoetas sinceros confessam nunca ter escrito seus milhores versos. ostand porexemplo2 e, entre n$s, mais ou menos, o sr. (madeu (maral. @enho a felicidade

de escrever meus milhores versos. Milhor do que isso não posso fazer.

ibot disse algures que inspiração 7 telegrama cifrado transmitido pelaatividade inconsciente H atividade consciente que o traduz. /ssa atividadeconsciente pode ser repartida entre poeta e leitor. (ssim aquele que nãoescorcha e esmiuça friamente o momento lírico- e bondosamente concede aoleitor a gl$ria de colaborar nos poemas.

?( linguagem admite a forma dubitativa que o m3rmore não admite?. enan.

?/ntre o artista pl3stico e o m'sico est3 o poeta, que se avizinha do artistapl3stico com a sua produção consciente, enquanto atinge as possibilidades dom'sico no fundo obscuro do inconsciente>. %e 9agner.

ocê est3 reparando de que maneira costumo andar sozinho...

%om 1irismo, ao desembarcar do /ldorado do !nconsciente no cais da terra doDonsciente, 7 inspecionado pela visita m7dica, a !nteligência, que o alimpa dosmacaquinhos e de toda e qualquer doença que possa espalhar confusão,

obscuridade na terrinha progressista. %om 1irismo sofre mais uma visitaalfandeg3ria, descoberta por Creud, que a denominou Densura. )oucontrabandista& / contr3rio H lei da vacina obrigat$ria.

"arece que sou todo instinto... Não 7 verdade. 03 no meu livro, e não medesagrada, tendência pronunciadamente intelectualista. 6ue quer vocêADonsigo passar minhas sedas sem pagar direitos. Mas 7 psicologicamenteimpossível livrar#me das in5eç+es e dos t8nicos.

( gram3tica apareceu depois de organizadas as línguas. (contece que meuinconsciente não sabe da existência de gram3ticas, nem de línguas organizadas./ como %om 1irismo 7 contrabandista...

ocê perceber3 com facilidade que si na minha poesia a gram3tica Hs vezes 7desprezada, graves insultos não sofre neste pref3cio interessantíssimo. "ref3cio2ro5ão do meu eu superior. ersos2 paisagem do meu eu profundo.

"ronomesA /screvo brasileiro. )i uso ortografia portuguesa 7 porque, nãoalterando o resultado, d3#me uma ortografia.

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/screver arte moderna não significa 5amais para mim representar a vida atual noque tem de exterior2 autom$veis, cinema, asfalto. )i estas palavras frequentam#me o livro não 7 porque pense com elas escrever moderno, mas porque sendomeu livro moderno, elas têm nele sua razão de ser.

)ei mais que pode ser moderno artista que se inspire na r7cia de 4rfeu ou na1usit*nia de NunTlvares. econheço mais a existência de temas eternos,passíveis de afeiçoar pela modernidade2 universo, p3tria, amor e a presença#dos#ausentes, ex#gozo#amargo#de#infelizes.

Não quis tamb7m tentar primitivismo vesgo e insincero. )omos na realidade osprimitivos duma era nova. /steticamente2 fui buscar entre as hip$teses feitaspor psic$logos, naturalistas e críticos sobre os primitivos das eras passadas,expressão mais humana e livre de arte.

4 passado 7 lição para se meditar, não para reproduzir. ?/ tu che s7 costí, animaviva, "artiti da cotesti che son morti>.

"or muitos anos procurei#me a mim mesmo. (chei. (gora não me digam queando H procura de originalidade, porque 53 descobri onde ela estava, pertence#me, 7 minha.

6uando uma das poesias deste livro foi publicada, muita gente me disse2 ?Não

entendi>. "essoas houve por7m que confessaram2 =/ntendi, mas não senti>. 4smeus amigos... percebi mais duma vez que sentiam, mas não entendiam./videntemente meu livro 7 bom.

/scritor de nome disse dos meus amigos e de mim que ou 7ramos gênios oubestas. (cho que tem razão. )entimos, tanto eu como meu amigos, o anseio dofarol. )i f8ssemos tão carneiros a ponto de termos escola coletiva, esta seria porcerto o =Carolismo?. Nosso dese5o2 alumiar. ( extrema#esquerda em que noscolocamos não permite meio#termo. )i gênios2 indicaremos o caminho a seguir-bestas2 naufr3gios por evitar.

Danto da minha maneira. 6ue me importa si me não entendemA Não tenhoforças bastantes para me universalizarA "aciência. Dom o v3rio ala'de queconstruí, me parto por essa selva selvagem da cidade. Domo o homem primitivocantarei a principio s$. Mas canto 7 agente simp3tico2 faz renascer na alma dumoutro predisposto ou apenas sinceramente curioso e livre, o mesmo estadolírico provocado em n$s por alegrias, sofrimentos, ideais. )empre hei#de achartamb7m algum, alguma que se embalarão H cadência libert3ria dos meusversos. Nesse momento2 novo (nfião moreno e caixa#dT$culos, farei que as

pr$prias pedras se re'nam em muralhas H magia do meu cantar. / dentrodessas muralhas esconderemos nossa tribo.

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INSPIRAÇÃO 

"Onde ae na for+a do &er,o -a&ia

empesades de &enos e frios de %r#delssimos in&erno$C. 1J!) %/ )4J)(

)ão "aulo& comoção de minha vida...4s meus amores são flores feitas de original&...

(rlequinal&... @ra5es de losangos... Dinza e ouro...1uz e bruma... Corno e inverno morno...

/leg*ncias sutis sem esc*ndalos, sem ci'mes..."erfumes de "aris... (r:s&

<ofetadas líricas no @rianon... (lgodoal&...

)ão "aulo& comoção de minha vida...alicismo a berrar nos desertos da (m7rica.

O TROVADOR

)entimentos em mim do asperamentedos homens das primeiras eras...

(s primaveras de sarcasmointermitentemente no meu coração arlequinal...

!ntermitentemente...4utras vezes 7 um doente, um frio

na minha alma doente como um longo som redondo...Dantabona& Dantabona&

%lorom...

)ou um tupi tangendo um ala'de&

OS CORTEJOS 

Monotonias das minhas retinas...)erpentinas de entes frementes a se desenrolar...

@odos os sempres das minhas vis+es& ?<on giorno, caro?.

0orríveis as cidades&aidades e mais vaidades...

Nada de asas& Nada de poesia& Nada de alegria&4h& os tumultu3rios das ausências&

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"auliceia B a grande boca de mil dentes-e os 5orros dentre a língua trissulcade pus e de mais pus de distinção...

iram homens fracos, baixos, magros...

)erpentinas de entes frementes a se desenrolar...

/stes homens de )ão "aulo,todos iguais e desiguais,

quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,parecem#me uns macacos, uns macacos.

A ESCALADA 

EMaçonariamente.FB (lcantilaç+es&... 1adeiras sem conto&...

/stas cruzes, estas crucificaç+es da honra&...B Não h3 ponto final no morro das ambiç+es.

(s bebedeiras do vinho dos aplaudires...Dhampanhaç+es... Dospe os fardos&

E)ão "aulo 7 trono.F B / as imensid+es das escadarias&...B 6ueres te assentar no píncaro mais altoA DatedralA...

B /stas cadeias da virtude&...B @ripinga#te& E4s empurr+es dos braços em segredo.F

"rincipiar3s escravo, ir3s a Dhico#ei&

E03 fita de s7rie no Dolombo,O /mp#rr,o na /s%#rid,o. Cilm nacional.F

B (deus lírios de Dubatão para os que andam sozinhos&E)ono tr7 tustune per i ragazzini.F

B /stes mil quilos da crença&...B @ripinga#te. (lcançar3s o s$lio e o sol sonante&

Dospe os fardos& Dospe os fardos&ê que facilidade as tais asasA

E@oca a banda do Cieramosca2 "a, pa, pa, pum&@oca a banda da polícia2 ta, ra, ta, tchim&F

Ls rei& 4lha o rei nu&6ue 7 dos teus fardos, 0ermes "ançaA&

B %eixei#os l3 nas margens das escadarias,4nde nas violetas corria o rio dos olhos de minha mãe.

B )ossega. Ls rico, 7s grandíssimo, 7s monarca&(lgu7m agora tTos vir3 trazer.

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E/ ei#lo na curul do vesgo 4lho#na#@reva.F

RUA DE SÃO BENTO 

@ri*ngulo.

03 navios de vela para os meus naufr3gios&/ os cantares da uiara rua de )ão <ento...

/ntre estas duas ondas pl'mbeas de casas pl'mbeas,as minhas delícias das asfixias da alma&

03 leilão. 03 feira de carnes brancas. "obres arrozais&

"obres brisas sem pel'cias lisas a alisar&( cainçalha... ( <olsa... (s 5ogatinas...

Não tenho navios de vela para mais naufr3gios&Caltam#me as forças& Calta#me o ar&

Mas qual& Não h3 sequer um porto morto&=Dan :ou dance the tarantella> B =(ch& Sa>.

)ão as calif$mias duma vida milion3rianuma cidade arlequinal...

4 Dlube Domercial... ( "adaria /spiritual...Mas a desilusão dos sombrais amorososp+e maoraion emporaire, PYYZ nt&...

Minha 1oucura, acalma#te&este o 0aerproof  dos tamb7ns&

Nem chegar3s tão cedoH f3brica de tecidos dos teus êxtases2

telefone2 (l7m, [QQP.../ntre estas duas ondas pl'mbeas de casas pl'mbeas,

vê, l3 nos muito#ao#longes do horizonte,a sua chamin7 de c7u azul&

O REBANHO

4h& minhas alucinaç+es&i os deputados, chap7us altos,

)ob o p3lio vesperal, feito de mangas#rosas,)aírem de mãos dadas do Dongresso...

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Domo um possesso num acesso em meus aplausos(os salvadores do meu estado amado&...

%esciam, inteligentes, de mãos dadas,

/ntre o trepidar dos t3xis vascole5antes,( rua Marechal %eodoro...4h& minhas alucinaç+es&

Domo um possesso num aceso em meus aplausos(os her$is do meu estado amado&...

/ as esperanças de ver tudo salvo&%uas mil reformas, três pro5etos...

/migram os futuros noturnos.../ verde, verde, verde&...

4h& minhas alucinaç+es&Mas os deputados chap7us altos,

Mudavam#se pouco a pouco em cabras&Drescem#lhes os cornos, descem#lhes barbinhas...

/ vi os chap7us altos do meu estado amado,Dom os tri*ngulos de madeira no pescoço,

Nos verdes esperança, sob as fran5as de ouro da tarde,)e punham a pastar

ente do "al3cio do senhor presidente...

4h& minhas alucinaç+es&

TIETÊ 

/ra uma vez um rio..."or7m os <orbas#atos dos uitra#nacionais esperiamente&

0avia nas manhãs cheias de )ol do entusiasmoas monç+es da ambição...

/ as gig*nteas vit$rias&(s embarcaç+es singravam rumo do abismal %escaminho...

(rroubos... 1utas... )etas... Dantigas... "ovoar&itmos de <recheret&... / a santificação da morte&

Coram#se os ouros... / o ho5e das turmalinas&...

B Nadador& amos partir pela via dum Mato#rossoAB !o& Mai&... EMais dez braçadas.

6uina Migone. 0at )tores. Meia de seda.F

ado a pranzare con la uth.

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PAISAGEM N° 1 

Minha 1ondres das neblinas finas...

"leno verão. 4s dez mil milh+es de rosas paulistanas.03 neves de perfumes no ar.Caz frio, muito frio...

/ a ironia das pernas das costureirinhas"arecidas com bailarinas...

4 vento 7 como uma navalhaNas mãos dum espanhol. (rlequinal...

03 duas horas queimou )ol.%aqui a duas horas queima )ol.

"assa um )ão <obo, cantando, sob os pl3tanos,Jm tralal3... ( guarda#cívica& "risão&

Necessidade a prisão"ara que ha5a civilizaçãoA

Meu coração sente#se muito triste.../nquanto o cinzento das ruas arrepiadas

%ialoga um lamento com o vento...

Meu coração sente#se muito alegre&/ste friozinho arrebitado

%3 uma vontade de sorrir&

/ sigo. / vou sentindo,\ inquieta alacridade da invernia,

Domo um gosto de l3grimas na boca...

ODE AO BURGUÊS 

/u insulto o burguês& 4 burguês#níquel,4 burguês#burguês&

( digestão bem feita de )ão "aulo&4 homem#curva& o homem#n3degas&

4 homem que sendo francês, brasileiro, italiano,L sempre um cauteloso pouco#a#pouco&

/u insulto as aristocracias cautelosas&

4s bar+es lampe+es& os condes ;o+es& os duques zurros&6ue vivem dentro de muros sem pulos-

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/ gemem sangues de alguns milr7is fracos"ara dizerem que as filhas da senhora falam o francês

/ tocam o Prinemps com as unhas&

/u insulto o burguês#funesto&4 indigesto fei5ão com toucinho, dono das tradiç+es&Cora os que algarismam os amanhãs&

4lha a vida dos nossos setembros&Car3 )olA Dhover3A (rlequinal&

Mas H chuva dos rosais4 êxtase far3 sempre )ol&

Morte H gordura&Morte Hs adiposidades cerebrais&

Morte ao burguês#mensal&(o burguês#cinema& ao burguês#tílburi&"adaria )uíça& Morte viva ao (driano&

?B (i, filha, que te darei pelos teus anosAB Jm colar... B Donto e quinhentos&&&

Mas n$s morremos de fome&?

Dome& Dome#te a ti mesmo, oh& gelatina pasma&4h& p#r)e de batatas morais&

4h& cabelos nas ventas& oh& carecas&]dio aos temperamentos regulares

]dio aos rel$gios musculares& Morte e inf*mia&]dio H soma& ]dio aos secos e molhados&

]dio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,)empiternamente as mesmices convencionais&

%e mãos nas costas& Marco eu o compasso& /ia&%ois a dois& "rimeira posição& Marcha&

@odos para a Dentral do meu rancor inebriante

]dio e insulto& ]dio e raiva& ]dio e mais $dio&Morte ao burguês de giolhos.

Dheirando religião e que não crê em %eus&]dio vermelho& ]dio fecundo& ]dio cíclico&

]dio fundamento, sem perdão&

Cora& Cu& Cora o bom burguês&...

TRISTURA 

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"Une rose dans les )nbres$M(11(ML

"rofundo. !mundo meu coração...

4lha o edifício2 Matadouros da Dontinental.4s vícios viciaram#me na ba5ulação sem sacrifícios...Minha alma corcunda como a avenida )ão ;oão...

/ dizem que os polichinelos são alegres&/u nunca em guisos nos meus interiores arlequinais&...

"auliceia, minha noiva... 03 matrim8nios assim...Ningu7m os assistir3 nos 5amais&

(s permanências de ser um na febre&

Nunca nos encontramos...Mas h3 rendez&o#s na meia#noite do (rmenonville...

/ tivemos uma filha, uma s$...<atismos do sr. cura <ruma-

3gua#benta das garoas mon$tonas...egistei#a no cart$rio da Donsolação...

Dhamei#a )olitude das "lebes...

"obres cabelos cortados da nossa mon5a&

DOMINGO

Missas de chegar tarde, em rendas,e dos olhares acrob3ticos...@antos tel7grafos sem fio&.

)anta Decília regorgita de corpos lavadose de sacril7gios picturais...

Mas ;esus Dristo nos desertos,mas o sacerdote no ?Donfiteor?... Dontrastar&

B Cutilidade, civilização...

0o5e quem 5ogaA... 4 "aulistano."ara o ;ardim (m7rica das rosas e dos ponta#p7s&

Criedenreich fez goal& Dorner& 6ue 5uiz&

ostar de <iancoA (doro. 6ual <art8.../ o meu xar3 maravilhoso&...

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B Cutilidade, civilização...

Mornamente em gasolinas... @rinta e cinco contos&@ens dez milr7isA amos ao corso...

/ filar cigarros a quinzena inteira...!r ao corso 7 lei. iste MaríliaA/ CilisA 6ue vestido2 pele s$&

(utom$veis fechados... Ciguras im$veis...4 boce5o do luxo... /nterro.

/ tamb7m as famílias dominicais por atacado,entre os convenientes perenemente...

B Cutilidade, civilização.

Dentral. %rama de adult7rio.

( <ertini arranca os cabelos e morre.Cugas... @iros... @om Mix&

(manhã fita alemã... de beiços...(s meninas mordem os beiços pensando em fita alemã...

(s romas de "etr8nio.../ o leito virginal... @udo azul e branco&

%escansar... 4s an5os... !maculado&(s meninas sonham masculinidades...

Cutilidade, civilização.

O DOMADOR

(lturas da (venida. <onde [.(sfaltos. astos, altos repuxos de poeira

)ob o arlequinal do c7u ouro#rosa#verde...(s su5idades implexas do urbanismo.

3iles de manuelino. Dalvícies de "ensilv*nia.

ritos de goticismo.Na frente o ram da irrigação,4nde um )ol bruxo se dispersa

Num triunfo persa de esmeraldas, top3zios e rubis...1*nguidos boticellis a ler 0enr: <ordeauxNas clausuras sem drag+es dos torre+es...

M3rio, paga os duzentos r7is.)ão cinco no banco2 um branco,

Jm noite, um ouro,Jm cinzento de tísica e M3rio...

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)olicitudes& )olicitudes&

Mas... olhai, oh meus olhos saudosos dos ontens/sse espet3culo encantado da (venida&

evivei, oh ga'chos "aulistas ancestremente&/ oh cavalos de c$lera sanguínea&1aran5a da Dhina, laran5a da Dhina, laran5a da Dhina&

(bacate, cambuc3 e tangerina&#ardae& (os aplausos do esfusiante cloGn.

0er$ico sucessor da raça heril dos bandeirantes,"assa galhardo um filho de imigrante,1ouramente domando um autom$vel&

ANHANGABAÚ 

"arques do (nhangaba' nos fogar7us da aurora...4h larguezas dos meus itiner3rios...

/st3tuas de bronze nu correndo eternamente,num parado desd7m pelas velocidades...

4 carvalho votivo escondido nos orgulhosdo bicho de m3rmore parido no Salon...

"rurido de estesias perfumando em rosaiso esqueleto trêmulo do morcego...Nada de poesia, nada de alegrias&...

/ o contraste boçal do lavradorque sem amor afia a foice...

/stes meus parques do (nhangaba' ou de "aris,onde as tuas 3guas, onde as m3goas dos teus saposA

=Meu pai foi rei&B Coi. B Não foi. B Coi. B Não foi.?

4nde as tuas bananeirasA4nde o teu rio frio encanecido pelos nevoeiros,

contando hist$rias aos sacisA...

Meu querido palimpsesto sem valor&Dr8nica em mau latim

cobrindo uma 7cloga que não se5a de irgílio&...

A CAÇADA 

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( bruma neva... Dlamor de vit$rias e dolos...Monte )ão <ernardo sem cães para os alvíssimos&

Dataclismos de heroísmos... 4 vento gela...

4s cinismos plantando o estandarte-enviando para todo o universonovas cartas#de#az#Daminha&..

4s (b7is quase todos muito ruinsa escalar, em lama, a gl$ria...

Dospe os fardos&

Mas sobre a turba ade5am os cartazes de Papel e 5ina como grandes mariposas de sonho queimando#se na luz...

/ o maxixe do crime puladinhona eternização dos três dias... @ripudiares gaios&...

oubar... encer... iver os respeitosamente, no crep'sculo...

( velhice e a riqueza têm as mesmas cãs.( engrenagem trepida... ( bruma neva...

Jma síncope2 a sereia da políciaque vai prender um bêbedo no "iques...

Não h3 mais lugares no boa#vista triangular.Cormigueiro onde todos se mordem e devoram...4 vento gela... Cermentação de $dios egoísmos

para a caninha#do#] dos progredires...

iva virgem vaga desamparada...Malfadada& /m breve não ser3 mais virgem

nem desamparada&@er3 o amparo de todos os desamparos&

@ossem2 4 %i3rio& ( "latea...1ívidos doze#anos por um tostão

@amb7m quero ler o anivers3rio dos reis...0onra ao m7rito& 4s virtusosos hão#de sempre ser louvados

e retratificados...Mais um crime na Mo$ca&

4s 5ornais estampam as aparênciasdos grandes que fazem anos, dos criminosos que fazem danos...

4s quarenta#graus das riquezas& 4 vento gela...(bandonos& !deais p3lidos&

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B <atatT assat8 furnn&...

Dalor&... 4s diabos andam no ar

Dorpos de nuas carregando...(s lassitudes dos sempres imprevistos&

/ as almas acordando Hs mãos dos enlaçados&!dílios sob os pl3tanos&...

/ o ci'me universal Hs fanfarras gloriosas%e saias cor#de#rosa e gravatas cor#de#rosa&...

<alc+es na cautela late5ante, onde florem !racemas"ara os encontros dos guerreiros brancos... <rancosA

/ que os cães latam nos 5ardins&Ningu7m, ningu7m, ningu7m se importa&

@odos embarcam na (lameda dos <ei5os da (ventura&Mas eu... /stas minhas grades em gir*ndolas de 5asmins,

/nquanto as travessas do Dambuci nos livres%a liberdade dos l3bios entreabertos&...

(rlequinal& (rlequinal&(s nuvens baixas muito grossas,

Ceitas de corpos de mariposas,umore5ando na epiderme das 3rvores...

Mas sobre estas minhas grades em gir*ndolas de 5asmins,4 estel3rio delira em carnagens de luz,

/ meu c7u 7 todo um ro5ão de l3grimas&...

/ os bondes riscam como um fogo de artifício,)apateando nos trilhos,

;orrando um orifício na treva cor de cal...

B <atatT assat8 furnn&...

PAISAGEM Nº 2

/scuridão dum meio#dia de invernia...Marasmos... /stremeç+es... <rancos...

4 c7u 7 toda uma batalha convencional de %onfei  brancos-e as onças pardas das montanhas no longe...

4h& para al7m vivem as primaveras eternas&

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(s casas adormecidasparecem teatrais gestos dum explorador do polo

que o gelo parou no frio...

13 para as bandas da !piranga as oficinas tossem...@odos os estiolados são muito brancos.4s invernos de "auliceia são como enterros de virgem...

!talianinha, toma al tuo paese&

1embras#teA (s barcarolas dos c7us azuis nas 3guas verdes...

erde B cor dos olhos dos loucos&(s cascatas das violetas para os lagos..."rimaveral B cor dos olhos dos loucos&

%eus recortou a alma de "auliceianum cor de cinza sem odor...

4h& para al7m vivem as primaveras eternas&...

Mas os homens passam sonambulando.../ rodando num bando nef3rio,

vestidas de eletricidade e gasolina,as doenças 5ocotoam em redor.

rande função ao ar livre&<ailado de Docteau com os barulhadores de ussolo&

4pus PQ^P

)ão "aulo 7 um palco de bailados russos.)arabandam a tísica, a ambição, as inve5as, os crimes

e tamb7m as apoteoses da ilusão...Mas o Ni5insK: sou eu&

/ vem a Morte, minha _arsavina&6u3, qu3, qu3& amos dançar o fox#trot da desesperança,

a rir, a rir dos nossos desiguais&

TU 

Morrente chama esgalga,Mais morta inda no espírito&

/spírito de fidalga,

6ue vive dum boce5o entre dois galanteios/ de longe em longe uma ch3vena da treva bem forte&

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Mulher mais longa6ue os pasmos alucinados%as torres de )ão <ento&

Mulher feita de asfalto e de lamas de v3rzea,@oda insultos nos olhos,@oda convite nessa boca louca de rubores&

Dostureirinha de )ão "aulo,`talo#franco#luso#brasílico#sax8nica,

osto dos seus crepusculares,Drepusculares e por isso mais ardentes,

<andeirantemente&

1ad: Macbeth feita de n7voa fina,"ura neblina da manhã&

Mulher que 7s minha madrasta e minha mãe&@rituração ascencional dos meus sentidos&

isco de aeroplano entre Mogi e "aris&"ura neblina da manhã&

osto dos teus dese5os de crime turco/ das tuas ambiç+es retorcidas como roubos&

(mo#te de pesadelos taciturnos,Materialização da Danaã do meu "oe...

Never more&

/mílio de Menezes insultou a mem$ria do meu "oe...

4h& !ncendi3ria dos meus al7ns sonoros&@u 7s o meu gato preto&

@u me esmagaste nas paredes do meu sonho&/ste sonho medonho&

/ ser3s sempre, morrente chama esgalga,Meio fidalga, meio barregã,(s alucinaç+es crucificantes

%e todas as auroras do meu 5ardim&

PAISAGEM Nº  

DhoveA)orri uma garoa cor de cinza,

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Muito triste, como um tristemente longo...( casa _osmos não tem imperme3veis em liquidação...

Mas neste largo do (rouche"osso abrir meu guarda#chuva paradoxal,

/ste lírico pl3tano de rendas mar...

(li em frente... B M3rio, p+e a m3scara&B @ens razão, minha 1oucura, tens razão.

4 rei de @ule 5ogou a taça ao mar...

4s homens passam encharcados...4s reflexos dos vultos curtos

Mancham o peipa&)...(s rolas da Normal

/svoaçam entre os dedos da garoa...E/ si pusesse um verso de Drisfal

No %e "rofundisA...F%e repente

Jm raio de )ol ariscoisca o chuvisco ao meio.

COLLO!UE SENTIMENTAL

@enho os p7s chagados nos espinhos das calçadas...0igien$polis&... (s <abil8nias dos meus dese5os baixos...

Dasas nobres de estilo... /nriqueceres em trag7dias...Mas a noite 7 toda um v7u#de#noiva ao luar&

( preamar dos brilhos das mans+es...4 5azz#band da cor... 4 arco#íris dos perfumes...

4 clamor dos cofres abarrotados de vidas...4mbros nus, ombros nus, l3bios pesados de adult7rio...

/ o ro#6e B cogumelo das podrid+es.../x7rcitos de casacas eruditamente bem talhadas...

)em crimes, sem roubos o carnaval dos títulos...)i não fosse o talco adeus sacos de farinha&

!mpiedosamente...

B Davalheiro... B )ou conde& B "erdão.)abe que existe um <r3s, um <om etiroA

B (pre& respiro... "ensei que era pedido.)$ conheço "aris&

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B enha comigo então./squeça um pouco os braços da vizinha...

B "ercebeu, hein& %ou#lhe gorgeta e cale#se.4 sultão tem dez mil... Mas eu sou conde&

B êA /stas paragens trevas de silêncio...Nada de asas, nada de alegria... ( 1ua...

( rua toda nua... (s casas sem luzes.../ a mirra dos martírios inconscientes...

B %eixe#me por o lenço no nariz.

@enho todos os perfumes de "aris&

B Mas olhe, em baixo das portas, a escorrer...B "ara os esgotos& "ara os esgotos&

B... a escorrer,Jm fio de l3grimas sem nome&...

RELIGIÃO 

%eus& creio em @i& Dreio na tua <íblia&

Não que a explicasse eu mesmo,"orque a recebi das mãos dos que viveram as iluminaç+es&

Datolicismo& sem pinturas de Dalixto&... (s humildades...No poço das minhas erronias

vi que reluzia a 1ua dos teus perdoares&...

io#me dos 1uteros parasitaise dos orgulhos soezes que não sabem ser orgulhosos da erdade-

e os maç+es, que são pecados vivos,e que nem sabem ser "ecado&

4hl minhas culpas e meus tresvarios&/ as nobilitaç+es dos meus arrependimentos

chovendo para a fecundação das "alestinas&Donfessar&...

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Noturno em sangue do ;ardim das 4liveiras&...

Naves de )anta /figênia,

os meus 5oelhos criaram escudos de defesa contra v$s&Dantai como me arrastei por v$s&%izei como me debrucei sobre v$s&

Mas dos longínquos veio o edentor&/ no poço sem fundo das minhas erroniasvi que reluzia a 1ua dos seus perdoares&...

=)anta Maria, mãe de %eus...>( minha mãe#da#terra 7 toda os meus entusiasmos-

dar#lhe#ia os meus dinheiros e minhas mãos tamb7m&)anta Maria dos olhos verdes, verdes,venho depositar aos vossos p7s verdes

a coroa de luz da minha loucura&

(lcançai para mima 0ospedaria dos ;amais !luminados&

PAISAGEM Nº "

4s caminh+es rodando, as carroças rodando,3pidas as ruas se desenrolando,

umor surdo e rouco, estr7pitos, estalidos.../ o largo coro de ouro das sacas de caf7&...

Na confluência o grito inglês da )ão "aulo ailGa:...Mas as ventaneiras da desilusão& a baixa do caf7&...(s quebras, as ameaças, as aud3cias superfinas&...

Cogem os fazendeiros para o lar&... Dincinato <raga&...Muito ao longe o <rasil com seus braços cruzados...

4h& as indiferenças maternais&...

4s caminh+es rodando, as carroças rodando,3pidas as ruas se desenrolando,

umor surdo e rouco, estr7pitos, estalidos.../ o largo coro de ouro das sacas de caf7&...

1utar&( vit$ria de todos os sozinhos&...

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(s bandeiras e os clarins nos armaz7ns abarrotados...0ostilizar&... Mas as ventaneiras dos largos cruzados&...

/ a coroação com os pr$prios dedos&

Mutismos presidenciais, para tr3s&"onhamos os Eit$ria&F colares de presas inimigas&/nguirlandemo#nos de caf7#cere5a&

@arat3& e o pean de esc3rnio para o mundo&

4h& este orgulho m3ximo de ser paulistamente&&&

AS ENFIBRATURAS DO IPIRANGA7O8A58:O P8O3A*O; 

<O= 0oe is me5o -a&e seen 0-a : -a&e seen= see 0-a : see>"

)0(_/)"/(/

%istribuição das vozes2

4) 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!) B Eescritores e demais artíficeselogi3veisF B 1argo, imponente coro afinadíssimo de sopranos, contraltos,

barítonos, baixos.

() )/N/D@J%/) @/MJ1!N() B Emilion3rios e burguesesF B Doro desopranistas.

4) )(N%("!1!4) !N%!C//N@/) B Eoperariado, gente pobreF B <arítonos ebaixos.

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/) B En$sF B @enores, sempre tenores& 6ue odiga 9alter von )tolzing&

M!N0( 14JDJ( B )oprano ligeiro. )olista.(companhamento de orquestra e banda.

1ocal de execução2 ( esplanada do @eatro Municipal. <anda e orquestracolocadas no terrapleno que tomba sobre os 5ardins. )ão perto de cinos muiinstrumentistas dirigidos por maestros... vindos do estrangeiro. 6uando a solistacanta h3 silêncio orquestral B salvo nos casos propositadamente mencionados./, mesmo assim, os instrumentos que então ressoam, fazem#no a contragosto

dos maestros. Nos coros dos 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!) a banda 5unta#se H orquestra. L um #i  formidando.

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6uando cantam as ;J/N!1!%(%/) (J!/%/) Eh3 naturalmente falta deensaiosF muitos instrumentos silenciam. (lguns desafinam. 4utros partem ascordas. )$ aguentam o rubato lancinante violinos, flautas, clarins, a bateria e

mais bor7s e marac3s.

4) 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!) estão nas 5anelas e terraços do @eatroMunicipal. (s )/N/D@J%/) @/MJ1!N() disseminaram#se pelas sacadas do(utom$vel Dlube, da "refeitura, da 8tisserie, da @ipografia 9eisflog, do 0otelDarlton e mesmo da 1ivraria (lves, ao longe. 4s )(N%("!1!4) !N%!C//N@/)berram do iaduto do Dh3. Mas as ;J/N!1!%(%/) (J!/%/) estão em baixo,nos parques do (nhangaba', com os p7s enterrados no solo. M!N0( 14JDJ(no meio delas.

N( (J4( %4 N44 %!(

P8/L?D:O

(s caixas anunciam a arraiada. @odos os Y.YYY cantores concertamapressadamente as gargantas e tomam f8lego com exagero, enquanto os bor7s,as trompas, o $rgão, cada timbre por sua vez, entre largos silêncios reflexivos,enunciam, sem desenvolvimento, nem harmonização o tema2 ?Jtilius est saepeet securius quos non habeat multas consolationes in hac vita.?

/ começa o orat$rio profano, que teve por nome() /NC!<(@J() %4 !"!(N(.

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)EP:A*@SS:MOF

N$s somos as ;uvenilidades (uriverdes&(s fran5adas fl*mulas das bananeiras,

(s esmeraldas das araras,4s rubis dos colibris,

4s lirismos dos sabi3s e das 5andaias,4s abacaxis, as mangas, os ca5us

(lme5am localizar#se triunfantemente,Na fremente celebração do Jniversal&...N$s somos as ;uvenilidades (uriverdes&

(s forças vivas do torrão natal,(s ignor*ncias iluminadas,

4s novos s$is luscofuscolares

/ntre os sublimes das dedicaç+es&...@odos para a fraterna m'sica do Jniversal&

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N$s somos as ;uvenilidades (uriverdes&

4) )(N%("!1!4) !N%!C//N@/)

7*UM /S5AMP:DO P8/5O; 

3 de rumor& 3 de rumor&/sta gente não nos deixa mais dormir&(ntes =/ lucevan le stelle> de "uccini&

4h& p7 de an5o, p7 de an5o&Cora& Cora o que 7 de despertar&

E A or#esra n#m %res%endo %romái%o de %onrabaiBos an#n%ia...F

4) 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!)

)omos os 4rientalismos Donvencionais&4s alicerces não devem cair mais&Nada de subidas ou de verticais&(mamos as chatezas horizontais&

(batemos perobas de ramos desiguais&4diamos as matinadas arlequinais&

iva a 1impeza "'blica e os h3bitos morais&)omos os 4rientalismos Donvencionais&

%eve haver on !herings para todos os tatus&%eve haver itais <rasis para os urutus&

Mesmo peso de fei5ão em todos os tutus&)$ 7 nobre o passo dos 5aburus&

03 estilos consagrados para "acaembus&6ue os nossos antepassados foram homens de truz&

Não lhe bastam velasA "ara que mais luz&

@emos nossos coros s$ no tom de d$&"ara os desafinados, doutrina de cip$&

Jsamos capas de seda, 7 s$ escovar o p$&%iariamente H mesa temos mocot$&.

"er omnia saecula saeculorum moinhos terão m$&(nualmente de sobrecasaca, não de palet$,

amos visitar o esqueleto de nossa grande av$&l$ria aos iguais& Jm 7 todos& @odos são um s$&

)omos os 4rientalismos Donvencionais&

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() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)7P/85U8CADAS (OM O 3ACO8DO= 8/(OM/EAM MA:S AL5O= :*(/85AS;

Magia das alvoradas entre magn$lias e rosas...(pelos do estel3rio visível aos algu7ns...B "ão de ícaros sobre a toalha ext3tica do azul&

4s tuins esperanças das nossas ilus+es&)uaviloquências entre as deliquescências%os s3faros, aos raios do maior solar&...

)obracemos as muralhas& !nveste com os cardos&asga#te nos ac'leos& @omba sobre o chão&

0ão#de vir valquírias para os olhos#fechados&

(nda& Não pares nunca& (liena o duvidar/ as vacilaç+es perpetuamente&

() )/N/D@J%/) @/MJ1!N()75/MPO D/ M:*U/5/;

6uem são estes homensAMaiores menores

Domo 7 bom ser rico&Maiores menores.

%as nossas poltronasMaiores menores

4lhamos as est3tuasMaiores menores%o signor imenes

B 4 grande escultor

)$ admiramos os c7lebres/ os recomendados tamb7m&

6uem tem galeria@er3 um <ouguereau&

(ssinar o 1íricoA/leg*ncia de preceito&Mas que paulific*ncia

Maiores menores4 5ris,o e :solda Maiores menores

"referimos os coros

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%os 4rientalis Bmos Donvencionais&

%epois os sanchismosE(i& gentes, que bom&F

%a alta madrugadaNo largo do "aissandu&

(largar as ruas.../ as instituiç+esA

Não pode& Não pode&Maiores menores

Mas não h3 quem digaMaiores menores

6uem são esses homens

6ue cantam do chãoA

Ea or#esra sFbio em#de%e= depois d#ma 6rande 6ar6al-ada de 5imbalesF

M!N0( 14JDJ(78/(:5A5:GO / CALADA;

%ramas da luz do luar no segredo das frestas

"erquirindo as escurid+es...( traição das mordaças&

/ a paixão oriental dissolvida no mel&...

/stas mar7s da espuma branca/ a onipotência intransponível dos rochedos&

!ntransponivelmente& 4h&...( minha voz tem dedos muito claros6ue vão roçar nos l3bios do )enhor-Mas as minhas tranças muito negras

/maranharam#se nas raízes do 5acarand3...

4s c7rebros das cascatas marulhantes/ o benefício das manhãs serenas do <rasil&

E6randes 6lissandos de -arpaF

/stas nuvens da tempestade branca/ os telhados que não deixam H chuva batizar&

"ropositadamente& 4h&...4s meus olhos têm bei5os muito verdes

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6ue vão cair Hs plantas do )enhor-Mas as minhas mãos muito fr3geis

(poiaram#se nas faldas do Dubatão.4s c7rebros das cascatas marulhantes

/ o beneficio das manhãs solenes do <rasil

Enoas lon6as de rompasF

/stas espigas da colheita branca/ os escalrachos roubando a uberdade&

/nredadamente& 4h&...4s meus 5oelhos têm quedas muito crentes

6ue vão bater no peito do )enhor-Mas os meus suspiros muito louros

/ntreteceram#se com a rama dos cafezais...

4s c7rebros das cascatas marulhantes/ o benefício das manhãs gloriosas do <rasil&

E-arpas= rompas= Hr6,oF

() )/N/D@J%/) @/MJ1!N()

7:*:(:A*DO UMA AGO5A;

6uem 7 essa mulher&L louca, mas louca"ois anda no chão&

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)7*UM (8/S(/*DO 3A*5IS5:(O;

]dios, inve5as, infelicidades&...Drenças sem %eus& "atriotismos diplom3ticos&

Degar&%esvalorização das l3grimas lustrais&

N$s não queremos mascaradas& / ainda menosDord+es =Clor#do#abacate> das superfluidades&4s tumultos da luz&... (s liç+es dos maiores&...

/ a integralização da vida no Jniversal&(s estradas correndo todas para o mesmo final&...

/ a p3tria simples, una, intangivelmente"artindo para a celebração do Jniversal&

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entem nossos desvarios fervorosos&Culgurem nossos pensamentos dadivosos&

Dlangorem nossas palavras prof7ticasNa grande profecia virginal&

)omos as ;uvenilidades (uriverdes&

( passiflora& o espanto& a loucura& o dese5o&Dravos& mais cravos para nossa cruz&

4) 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!)75U55:. O (8/S(/*DO J 8/SOLG:DO *UMA SOL/*/ MA8(KA 3?*/C8/;

"ara que escravosA "ara que cruzesA

)ubmetei#vos H metrificação&( verdadeira luz est3 nas corporaç+es&

(os maiores2 serrote- aos menores2 o salto.../ a glorificação das nossas ovaç+es&

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)7*UM (LAMO8;

)omos as ;uvenilidades (uriverdes&( passiflora& o espanto& a loucura& o dese5o&

Dravos& mais cravos para nossa cruz&

OS ORIENTALISMOS CONVENCIONAIS7A 5/MPO;

"ara que cravosA "ara que cruzesA)ubmetei#vos H poda&

"ara que as artes vivam e revivamJse#se o regime do quartel&

L a riqueza& 4 nosso anel de matrim8nio&/ as fecundidades regulares, refletidas.../ os perenementes da ligação mensal...

() )/N/D@J%/) @/MJ1!N()7AOS M:ADOS D/ 3LAU5:M :MPO5/*5/; 

<ravíssimo& <em dito& )ai azar&

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4s perenementes da ligação anual&

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)

EC/88A*DOF

)omos as ;uvenilidades (uriverdes&( passiflora& o espanto& a loucura& o dese5o&

Dravos& mais cravos para nossa cruz&

4) 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!)7DA (APO;

"ara que cravosA "ara que cruzesAJniversalizai#vos no senso comum&

)enti sentimentos de vossos pais e av$s&"ara as almas sempres torresmos cerebrais&

/ a sesta na rede pelos meios#dias&(cordar Hs seis- deitar Hs vinte e meia-

/ o banho semanal com sabão de cinza,1impando da terra, calmando das erupç+es...

/ a dignificação boce5al do mundo sem estaç+es&...

"rimavera, inverno, verão, outono..."ara que estaç+esA

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)7'I GO(:3/8A*5/S;

Dães& "iores que cães&)omos as ;uvenilidades (uriverdes&

$s, burros& malditos& cães& piores que cães&

4) 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!)7S/MP8/ MA8(KA 3?*/C8/= (ADA G/ MA:S 3O85/ PO8JM; 

"ara que burrosA "ara que cãesA"rodutividades regulares. ivam as maleitas&

!ntermitências de polegadas certas&

Nas arquiteturas renascença g3lica-Na m'sica erdi- na escultura Cídias-

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Dorot na pintura- nos versos 1econte-Na prosa Macedo, %(nnunzio e <ourget&

/ na vida enfim, eternamente eterna,Doncertos de meia H luz do lampeão,

alsas de odard no piano alemão,Marido, mulher, as filhas, o noivo...

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)7*UMA 8:5A D/S(OMPASSADA;

Malditos& <oçais& Dães& "iores que cães&)omos as ;uvenilidades (uriverdes&

( passiflora&... $s, malditos& boçais&

4) 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!)E333 F

... 4 corso aos domingos, o ch3 no @rianon.../ as......... cidades, as......... cidades,as......... cidades, as......... cidades,

e mil......... cidades...

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)E3333 F

)eus borras& )eus bêbedos& !nfames& Malditos&( passiflora& o espanto& a loucura& o d.....

4) 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!)733333;

... e as perpetuidades%as celebridades das nossas vaidades-

%as antiguidades Hs atualidades,(o fim das idades sem desigualdades

6uem h3#de...

() ;J/N!1!%(%/) (J!/%/)7LOU(OS= SUCL:M/S= 5OMCA*DO /AUS5OS;

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)eus..............................&&&E( maior palavra feia que o leitor conhecerF

N$s somos as ;uvenilidades (uriverdes&

( passiflora& o espanto&... a loucura& o dese5o&...Dravos&... Mais cravos... para... a nossa...

)ilêncio. 4s 4!/N@(1!)M4) D4N/ND!4N(!), bem como as )/N/D@J%/)@/MJ1!N() e os )(N%("!1!4) !N%!C//N@/) fugiram e se esconderam,tapando os ouvidos H grande, H m3xima erdade. ( orquestra evaporou#se,espavorida. 4s maesri  sucumbiram. Daiu a noite, ali3s- e na solidão da noite dasmil estrelas as ;J/N!1!%(%/) (J!/%/), tombadas no solo, chorando,chorando o arrependimento do tresvario final.

M!N0( 14JDJ(7SUAG/M/*5/ /*5OA A (A*5:A D/ ADO8M/*5A8; 

Dhorai& Dhorai& %epois dormi&enham os descansos veludosos

estir os vossos membros... %escansai&"onde os l3bios na terra& "onde os olhos na terra&

ossos bei5os finais, vossas l3grimas primeiras

"ara a branca fecundação&/spalhai vossas almas sobre o verde&

uardai nos mantos de sombra dos manac3s4s vossos vaga#lumes interiores&

!nda serão um )ol nos ouros do amanhã&Dhorai& %epois dormi&

( mansa noite com seus dedos estelaresCechar3 nossas p3lpebras...

(s v7speras do azul...(s milhores vozes para vosso adormentar&

Mas o Druzeiro do )ul e a saudade dos martírios...4ndular do vai#vem& /mbalar do vai#vem&

"ara a restauração o vinho dos noturnos&...Mas em vinte anos se abrirão as searas&

irão os setembros das floradas virginais&irão os dezembros do )ol po5ando os gr*nulos&

irão os fevereiros do caf7#cere5a&irão os marços das maturaç+es&

irão os abris dos preparativos festivais&

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/ nos vinte anos se abrirão as searas&/ virão os maios& / virão os maios&

ezas de Maria... <imbalhadas... 4s votivos...(s preces subidas... (s graças vertidas...

@ereis a cultura da recordação&6ue o Druzeiro do )ul e a saudade dos martírios"lantem#se na tumba da noite em que sonhais...

!mportaA&... %igo#vos eu nos mansos4h& ;uvenilidades (uriverdes, meus irmãos2

Dhorai& Dhorai& %epois dormi&enham os descansos veludosos

estir os vossos membros&... %escansai&

%iuturnamente cantareis e tombareis.

(s rosas... (s borboletas... 4s orvalhos...4 todo#dia dos imolados sem razão...

Cechai vossos peitos&6ue a noite venha depor seus cabelos al7ns

Nas feridas de ardor dos cutilados&/ enfim no luto em luz, EDhorai&F

%as praias sem borrascas, EDhorai&F%as florestas sem traiç+es de guaranis

E%epois dormi&F

6ue vos sepulte a "az !nvulner3vel&enham os descansos veludosos

estir os vossos membros... %escansai&Equase a sorrir, dormindoF

/u... os desertos... os Daíns... a maldição...

E(s ;J/N!1!%(%/) (J!/%/) e M!N0( 14JDJ( adormecem eternamentesurdas, enquanto das 5anelas de pal3cios, teatros, tipografias, hot7is Bescancaradas, mas cegas B cresce uma enorme vaia de assovios, zurros,patadas.F

LAUS D/O

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8/17/2019 Pauliceia Desvairada - Mario de Andrade - Iba Mendes

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NOTAS BIOGRÁFICAS

Romancista, cronista, ensaísta, musicógrafo, crítico, jornalista, professor,

pesquisador, conferencista, poeta, contista, e sabe-se lá que ângulos maisoferece a complexa e extraordinária personalidade artística de Mário de

Andrade! iulgador e agitador de id"ias, criador de escolas, destruidor de

preconceitos e tabus, ele fe#, so#in$o, pelo desenolimento cultural e artístico

da nossa gente, muito mais do que algumas academias e conseratórios

reunidos% &'o $á, em erdade, setor da ida intelectual brasileira que seu

espírito ágil e original n'o ten$a deixado a marca%

Mário Raul de Morais Andrade nasceu em ('o )aulo, a * de outubro de +*, e

faleceu aqui mesmo, a ./ de feereiro de +*0/% 1e# os primeiros estudos no

ginásio 2&ossa (en$ora do 3armo4% 3ursou, depois, o 23onseratório ramático

e Musical4% 5streou em +*+6, com um indeciso lirin$o de poemas 7 28á uma

gota de sangue em cada poema%4 Mas cinco anos depois publica 2)aulicdia

esairada4, marco dos mais importantes na $istória da poesia brasileira,

aut9ntico estopim deflagrador de noas correntes est"ticas% 5m seguida Mário

de Andrade eneredou pelo ensaio, conto, romance, sem di#er, no entanto,

adeus :s musas% 3omo ficcionista " autor de 2Macunaíma4, 2Amar, ;erbo

<ntransitio4, e dos olumes de contos 2)rimeiro Andar4, 2=ela#arte4 e 23ontos

&oos4, que se enfileiram entre os que de mel$or produ#iu o g9nero entre nós%

Ao lado dos olumes que deixou 7 e suas obras completas formam um sólidoconjunto de .> liros 7 " indispensáel ressaltar a sua atua?'o como criador do

primeiro epartamento de 3ultura, de ('o )aulo, que entre tantas outras

reali#a?@es culturais, organi#ou a iscoteca )blica Municipal, criou o curso de

5tnografia e 1olclore, promoeu o primeiro congresso de Bíngua &acional

3antada, al"m de inmeras outras reali#a?@es de ital importância para o

desenolimento da ida cultural brasileira% Mário de Andrade foi tamb"m o

fundador da (ociedade de 5tnografia e 1olclore e um dos organi#adores do

(eri?o de )atrimCnio 8istórico e Artístico &acional, tendo ainda regido a

cadeira de 1ilosofia de Arte, do <nstituto de Artes da Dniersidade do istrito1ederal, do qual foi diretor%

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