patrimônio, paisagem e cidade

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Patrimônio, Paisagem e Cidade - 1

Organizadores

Marta Enokibara Nilson Ghirardello

Rosio Fernández Baca Salcedo

PATRIMÔNIO, PAISAGEM E CIDADE

1ª Edição

ANAP Tupã - SP

2016

Patrimônio, Paisagem e Cidade - 101

Capítulo 5

RAÍZES DO PAISAGISMO NO BUTANTAN: O HORTO OSVALDO CRUZ E A CONTRIBUIÇÃO DE F C HOEHNE

Erika Hingst-Zaher26 Luíza Teixeira-Costa27

1 INTRODUÇÃO

Antes da implantação do Jardim Botânico de São Paulo, da

criação dos bairros-jardim pela Companhia City e antes mesmo da região do bairro do Butantã se fundir à mancha urbana da capital paulista, foi criado no Instituto Butantan, o Horto Oswaldo Cruz (HOC). Com o objetivo inicial de cultivar plantas medicinais e tóxicas, o Horto desempenhou - e ainda hoje desempenha - múltiplas funções ao longo de seus quase 100 anos de história, sempre aliando a pesquisa científica ao diálogo com o público.

Embora a história deste horto botânico já tenha sido contada anteriormente, é válido o esforço de analisá-la sob uma nova perspectiva, focando-se nas personagens principais dessa história: as espécies vegetais originalmente cultivadas no HOC. Partindo desta perspectiva, este capítulo aborda aspectos do paisagismo da capital paulista relacionados à vegetação original do Horto, destacando a importância do trabalho de seu diretor, Frederico Carlos Hoehne,

26 Doutora em Ciências Biológicas (Genética). Pesquisadora no Instituto Butantan. E-mail: [email protected] 27 Mestra em Botânica. Doutoranda no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]

102 especialmente no que diz respeito ao cultivo e estudo de espécies vegetais e sua utilização na construção do espaço público no início do século XX. 2 CONTEXTO HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DO HORTO OSWALDO CRUZ

O paisagismo no Brasil data inicialmente de meados do século

XVII, durante o período da dominação Holandesa em Pernambuco, quando foi criado primeiro jardim botânico do Brasil (PAIVA, 2004). Posteriormente, intensificou-se ao atingir os espaços públicos do Rio de Janeiro, entre eles o Passeio Público, concluído em 1783 (SILVA, 2010), tendo sido influenciado pelo “jardim romântico francês” (GALLERANI, 2004). Nesse contexto, os jardins e hortos botânicos instituídos no País a partir do final do século XVII tiveram grande relevância por serem locais de cultivo e aclimatação de diversas espécies vegetais, incluindo aquelas com potencial uso paisagístico (VEIGA et al., 2003).

Dentro da lógica utilitarista das ciências naturais vigente na Europa a partir da segunda metade do século XVIII, diversos jardins e hortos botânicos foram criados, tanto nas metrópoles quanto nas colônias de países como França e Portugal (SANJAD, 2010). Essa lógica ressaltava a relação entre os estudos possibilitados pelo estabelecimento de coleções botânicas e sua aplicação na agricultura e exploração de outros recursos naturais, como plantas medicinais e especiarias (BEDIAGA, 2007). No caso do Brasil, os exemplos mais marcantes na ainda escassa literatura sobre o tema incluem a criação do Jardim Botânico do Grão-Pará em 1789 (SANJAD, 2001) e a criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro em 1808 (SOUZA 2009) que, juntamente a espaços semelhantes criados em outras cidades, fizerem parte da rede luso-brasileira de jardins botânicos (SANJAD, 2010).

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Na cidade de São Paulo, a intenção de se criar um Jardim Botânico destinado ao cultivo e estudo das “plantas úteis” surgiu desde a fundação da cidade de São Paulo no século XVI. Entretanto, “somente após dois séculos é que essa intenção começou a ganhar forma” (ROCHA; CAVALHEIRO, 2011). O primeiro Jardim Botânico de São Paulo foi criado a partir de ordem régia em 1799, no local do atual Parque da Luz (Idem), e apenas em 1938 foi oficializado em sua atual localização, no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (HOEHNE et al., 1941). Até a implantação definitiva de um Jardim Botânico em São Paulo, ocorreram diversas tentativas frustradas e mudanças de local (ROCHA; CAVALHEIRO, 2011). Devido à boa reputação da qual já gozava naquela época no ramo da ciência, tanto em âmbito nacional quanto internacional (HOEHNE, 1925a), o Instituto Butantan foi escolhido para fazer parte desta história, abrigando um horto botânico a partir de 1917 (OLIVEIRA et al., 2005).

Originalmente proposto durante uma reunião da Sociedade Botânica da França (NEIVA, 1918), o Horto Oswaldo Cruz (HOC) foi criado com o objetivo de cultivar plantas medicinais e tóxicas que deveriam ser pesquisadas quanto às suas propriedades químicas e fisiológicas (HOEHNE, 1925a). Para tal, além da área de cultivo foi criado também um laboratório químico para a pesquisa e eventual produção de insumos biológicos de origem vegetal (OLIVEIRA et al., 2005). Foi instituída também a Seção de Botânica do Estado de São Paulo, que além do Horto era composta por um herbário e pela Estação Biológica do Alto da Serra, localizada na região de Paranapiacaba, na Serra do Mar (HOEHNE, 1925a).

Para chefiar o Horto Oswaldo Cruz, assim como a Seção de Botânica, foi contratado o botânico autodidata Frederico Carlos Hoehne, que na época se ocupava como jardineiro chefe no Museu Nacional do Rio de Janeiro (TEIXEIRA, 1962). Embora não possuísse instrução formal no campo da Botânica, Hoehne recebeu título de doutor honoris causa da Universidade de Goettingen (Alemanha)

104 devido ao seu notório saber e contribuição para esta área da ciência (TEIXEIRA, 1962). A despeito do trabalho e dedicação de Hoehne, o Horto Oswaldo Cruz (HOC) e a Seção de Botânica tiveram curta duração no Instituto Butantan como áreas dedicadas à pesquisa botânica (INSTITUTO BUTANTAN, 1922). Tendo sido oficialmente inaugurada em 1918 (NEIVA 1918), a Seção de Botânica foi transferida ao Museu Paulista juntamente com todo seu pessoal já em meados de 1922 (INSTITUTO BUTANTAN, 1922). Embora tenha se mantido aberto e funcional por mais alguns anos, posteriormente o HOC foi desanexado da Seção de Botânica e passou à alçada do Instituto Butantan, recebendo novos direcionamentos (OLIVEIRA et al., 2005).

Pelo breve histórico acima relatado, a criação do Horto Oswaldo Cruz não parece estar relacionada a questões de paisagismo e difusão vegetal, e sim à pesquisa de plantas medicinais. Entretanto, nota-se que este propósito remonta à origem dos jardins botânicos no mundo, criados para o cultivo e estudo de plantas com potencial medicinal (BEDIAGA, 2007). Ainda, de acordo com a definição moderna de jardins botânicos, cunhada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 3 de agosto de 2000), o Horto Oswaldo Cruz enquadra-se, de fato, como um jardim botânico. Este enquadramento já lhe confere relevância na arquitetura paisagística, assim como na arborização urbana, tendo em vista que o contato do público com recintos botânicos historicamente contribuiu para o surgimento de uma demanda popular pela presença de árvores em espaços públicos das cidades (SEGAWA 1996).

Além disso, a escolha das espécies vegetais originalmente cultivadas na área incluiu espécies de importância paisagística e histórica para a cidade de São Paulo. É interessante notar que o trabalho realizado por Hoehne à frente do Horto e da Seção de Botânica envolveu também a comunicação com o público, difundindo

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temas relacionados ao cultivo de plantas em diferentes ambientes e buscando informações sobre seus usos. 3 O INVENTÁRIO DAS ESPÉCIES VEGETAIS DO HORTO OSWALDO CRUZ

Como relatado por Hoehne (1925a), a área na qual foi

construído o Horto Oswaldo Cruz correspondia, antes de sua construção, a uma região de várzea na qual havia apenas um capinzal e uma pequena plantação de mandioca. Segundo o autor, a única remanescente da vegetação original seria um exemplar de figueira (Ficus pohliana, Moraceae), destacado por este em diferentes partes de sua obra, que se apresentava carregado de variadas espécies de epífitas (HOEHNE, 1925a, pg. 49). Embora a diversidade de epífitas tenha decrescido localmente, juntamente com a redução da área delimitada inicialmente como HOC, ainda hoje é possível localizar descendentes da figueira mencionada por Hoehne, levando a crer que sua manutenção na área se devesse ao seu valor paisagístico, representado pelo porte e pela profusão de orquídeas e bromélias epífitas em seus troncos.

Em torno desta árvore, diversas outras espécies botânicas foram plantadas, de modo que ainda durante a preparação do terreno para a inauguração do Horto, 1694 espécimes foram semeados (INSTITUTO BUTANTAN, 1917). De acordo com documentos produzidos por Hoehne durante a gestão do HOC, as sementes e mudas plantadas na área foram obtidas inicialmente junto aos agricultores que já prestavam serviços ao Butantan e “diversos amigos do Instituto” (INSTITUTO BUTANTAN, 1917). Além disso, de forma a divulgar a existência e o propósito do recém-criado Horto, seu diretor também estendia ao público geral o pedido de mudas e sementes de plantas tóxicas e medicinais (HOEHNE, 1918), notadamente na revista de comunicação rural “Chácaras e Quintaes”,

106 editada pelo Conde de Barbiellini e considerada a precursora das revistas atuais de agropecuária (ANTUNIASSI; MOURA, 2005). Além da comunicação estabelecida com o público através de meios de divulgação científica e educação (FIORAVANTI, 2011), em troca do material enviado, Hoehne oferecia ao público serviços de identificação de plantas, estabelecendo e fortalecendo, desde os primórdios da história do HOC, a prática de ciência cidadã já promovida no Instituto Butantan (IBu) por Vital Brazil (TEIXEIRA et al. 2015), que deu origem à forte relação entre o IBu e o público, existente até os dias atuais.

Uma vez reunido um número de plantas e sementes suficiente para o início do projeto, Hoehne menciona que o plantio fora feito

De accordo com os processos e methodos mais modernos da esthética, arranjamos o plano de modo a fazer predominar as linhas curvas. Como modelo para o conjuncto escolhemos o Jardim Botanico de Dahlem, em Berlin (...). (HOEHNE, 1925ª)

As Figuras 1 e 2 abaixo ressaltam o predomínio de linhas curvas mencionadas no trecho acima ilustrando, em planta baixa e em vista aérea, a ampla área originalmente ocupada pelo Horto Oswaldo Cruz.

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Figura 1: planta baixa da área original do Horto Oswaldo Cruz.

Fonte: HOEHNE, 1925a

Figura 2: vista aérea do Horto Oswaldo Cruz.

Fonte: HOEHNE, 1925a

A partir do relato de Hoehne notam-se ainda dois importantes

pontos: o valor do aspecto estético e a influência europeia nesta fase do paisagismo. O primeiro ponto pode representar uma relação com o público visitante do Instituto Butantan. Embora o Horto ainda não

108 fosse aberto à visitação, uma análise das fotos da época revela o HOC como um espaço aberto, sem muros, que poderia ser contemplada pelos visitantes sem a necessidade de entrada no espaço de cultivo das plantas. Assim, uma estética agradável, oferecendo sensação de bem estar, contribuiria para despertar o interesse do público (DEMATTÊ 1999). De fato, a importância que Hoehne conferia à vegetação transcendia o aspecto utilitarista, relacionando-se também à apreciação estética da natureza (FRANCO; DRUMMOND, 2002). O valor estético das plantas e de ambientes naturais de modo geral era inclusive utilizado por Hoehne ao abordar os temas de proteção e conservação (FRANCO; DRUMMOND, 2007).

Embora Hoehne tenha seguido a inspiração alemã para a criação do HOC, o paisagismo na cidade de São Paulo sofreu influência predominantemente francesa (SANTOS; TEIXEIRA, 2001), desde aspectos relacionados ao formato de praças e canteiros, até a escolha das espécies vegetais utilizadas (DOURADO, 2011). Além da preocupação inicial de embelezar as ruas da cidade em crescimento, o paisagismo em São Paulo também esteve ligado à preocupação com a qualidade de vida da população, guiada por influência do pensamento higienista do início do século XIX (ANDRADE, 2004; VIGNOLA JR., 2005), que considerava a arborização urbana como capaz de afastar os miasmas – odores fétidos que poderiam levar ao surgimento de doenças como a malária (SEGAWA, 1996; HALLIDAY, 2001). Essas ideias marcaram o início da arborização urbana também em outras capitais do País (SANTOS; TEIXEIRA, 2001). Todavia, o pensamento de valorização da flora e da cultura nacionais esteve sempre presente nos trabalhos de Hoehne, podendo ser considerado pioneiro para a época (FRANCO; DRUMMOND, 2005). Esta valorização refletiu-se na escolha das espécies originalmente cultivadas no HOC.

A lista de espécies cultivadas no Horto foi publicada originalmente em 1918, nos Relatórios Anuais do Instituto Butantan,

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contendo também as espécies presentes no herbário da Seção de Botânica. No ano seguinte esta listagem, aqui apresentada em anexo, ganha uma publicação em separado, intitulada “Catálogo do Herbário e das espécies cultivadas no Horto Oswaldo Cruz” (HOEHNE, 1919). Embora dê maior ênfase ao material de coleção, o Catálogo, documento em torno do qual foi desenvolvida a pesquisa aqui reportada, representa a primeira fonte oficial de informação quanto às espécies vegetais selecionadas para serem cultivadas e estudadas na área do HOC. A lista destas espécies é apresentada ao final desde capítulo (Quadro 1).

A análise quantitativa dessa listagem reporta um total de 164 espécies plantadas na área, sendo evidente a predominância de nativas – 80% das espécies. Infelizmente não são mencionadas informações quanto ao número de indivíduos de cada uma das espécies cultivadas. Quanto aos hábitos da vegetação selecionada, uma análise da lista feita por Hoehne revela a presença de: 53 arbóreas (32%), 15 arbustivas (10%), 37 epifíticas (22%), 50 herbáceas (30%) e 09 lianescentes (6%). Embora não tenham sido publicadas atualizações posteriores da lista original de espécies, outros documentos produzidos por Hoehne sobre o HOC evidenciam que diversas outras espécies foram acrescentadas posteriormente à área. Dentre as espécies nativas originariamente comuns na região dos campos do Butantã (JOLY, 1950), destacam-se exemplares de Myrtaceae, acrescentados posteriormente ao cultivo no HOC (HOEHNE, 1925a). Atualmente, exemplares nativos e exóticos da família correspondem a cerca de 5% da arborização viária do bairro Butantã (LIMNIOS, 2006).

Outras espécies nativas de grande relevância para a arborização urbana e para o paisagismo que fazem parte da listagem de espécies do HOC merecem destaque, como Caesalpinia ferrea (pau-ferro, Fabaceae) e Caesalpinia pluviosa (sibipiruna, Fabaceae), muito comuns até hoje nas ruas da capital paulista, e em especial no

110 bairro Butantã, por influência da Companhia City, responsável pelo projeto urbanístico e paisagístico no bairro (LIMNIOS, 2006). Esta companhia foi a primeira no Brasil a aplicar a ideia de bairros-jardim na urbanização, o que contribuiu para a posterior consolidação da relevância de espaços livres urbanos, especialmente os parques e jardins (MACEDO, 2007). No caso do bairro do Butantã a urbanização começou a ser planejada entre 1913 e 1914 como um bairro de operários (D'ELBOUX, 2015). A partir de 1918 iniciaram-se as obras da Cia. City no bairro (CIA CITY DE DESENVOLVIMENTO, 1980), que na época ainda não fazia parte do perímetro urbano da cidade (D'ELBOUX, 2015).

Prosseguindo a análise das espécies listadas no Catálogo do HOC (HOEHNE, 1919) apontamos algumas das espécies originalmente cultivadas no local e relacionadas ao paisagismo e arborização das vias públicas. Destacamos a presença de Miconia candolleana (vassourinha, Melastomataceae), espécie comum na vegetação original presente nas baixadas do Butantã (JOLY, 1950), cultivada no HOC por seu uso medicinal (BOSCOLO; VALLE 2008) e indicada para arborização urbana (HOEHNE, 1944). É interessante notar que, mesmo com o alto percentual de espécies nativas da região Sudeste cultivadas no HOC, as espécies arbóreas anteriormente citadas – pau-ferro, sibipiruna e vassourinha – são as únicas que, segundo Joly (1950), eram originalmente encontradas naquela localidade. Entretanto, o trabalho de Joly não teve como objetivo esgotar as possibilidades de espécies vegetais comuns na região, especialmente tendo em vista que, quando da publicação referida, a urbanização já havia “explodido” no bairro do Butantã (ALMEIDA, 1975).

Constam ainda no Catálogo as seguintes espécies: Rollinia emarginata (araticum-mirim, Anonaceae), Grevillea robusta (grevilha, Proteaceae), Cassia multijuga (canafístula, Fabacaeae), Handroanthus umbellatus (ipê-do-brejo, Bignoniaceae) e Cybistax antisyphilitica (ipê-verde, Bignoniaceae), todas estas listadas por

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Hoehne, já em 1925, como úteis para a arborização urbana, e até hoje recomendadas para este mesmo fim pelo “Manual Técnico de Arborização Urbana de São Paulo” (SÃO PAULO, 2015), doravante mencionado como “Manual” (2015).

Dentre as 53 árvores listadas no Catálogo (HOEHNE, 1919), 11 espécies são atualmente indicadas pelo “Manual” (2015), e seis também foram indicadas por Hoehne em sua publicação sobre arborização urbana datada de 1944. Apenas uma das árvores indicadas por Hoehne nesta mesma publicação, e cultivada no HOC devido a seu uso medicinal (HOEHNE, 1925a; 1939) é hoje considerada inadequada para o plantio em vias urbanas. Trata-se da espécie Melia azedarach (cinamomo, Meliaceae), apontada no “Manual” (2015) da capital paulista como imprópria para o plantio em área urbana por ser exótica e altamente invasora. De fato, pode-se notar que atualmente diversos exemplares de cinamomo encontram-se dispersos pela área do HOC, resultando em forte competição com as espécies nativas que recolonizaram a região.

Outras duas espécies de grande importância para a arborização e para a história da cidade de São Paulo, a Tipuana tipu (tipuana, Fabaceae) e o Jacaranda mimosifolia (jacarandá-mimoso, Bignoniaceae) foram também cultivadas no Horto por suas conhecidas propriedades medicinais (RIBEIRO, 2010; ARRUDA et al. 2012). Estas duas espécies arbóreas são as mais comuns na cidade de São Paulo (CARDIM, 2008), e embora exóticas, originárias da Argentina, imagina-se que seu uso tenha sido difundido na cidade de São Paulo por conta do trabalho do paisagista francês Charles Thays, responsável pela arborização da cidade de Buenos Aires, que influenciou muitas outras cidades da América do Sul (DOURADO, 2011). Até hoje ambas as espécies são amplamente utilizadas para a arborização urbana, sendo inclusive indicadas no “Manual” (2015).

Em contraponto ao propósito original do HOC – o cultivo e estudo de plantas de interesse medicinal e tóxico – é importante

112 notar que 37% das plantas originalmente cultivadas na área, totalizando 60 espécies, não se enquadram nessa classificação, estando ausentes do abrangente compilado intitulado “Plantas e substâncias vegetais tóxicas e medicinais” (HOEHNE, 1939). As mesmas espécies também não fazem parte do rol de plantas tradicionalmente comestíveis, como Solanum gilo (jiló, Solanaceae) e Triticum sativum (trigo, Poaceae), e tampouco são de uso convencional para na produção de tecidos, como Linum usitatissimum (linho, Linaceae) e Indigofera anil (anileira, Fabaceae). Entretanto, a maioria dessas 60 espécies apresenta grande potencial paisagístico, sendo até hoje utilizadas com este fim. Exemplos incluem Bactris setosa (palmeira-tucum, Arecaceae), Bougainvillea spectabilis (primavera, Nyctaginaceae) e diversas espécies de epífitas, dentre as quais merecem destaque aquelas da família Orchidaceae.

Convém esclarecer que o destaque dado às orquídeas no HOC se deve ao grande número de trabalhos de autoria do próprio Hoehne sobre espécies pertencentes a este grupo. É importante lembrar que Hoehne era um botânico autodidata, cujo interesse pela botânica foi despertado aos 8 anos de idade, justamente por ter ganho de seu pai uma orquídea (OLIVEIRA et al., 2005). Durante sua carreira, Hoehne descreveu um total de 717 espécies vegetais, dentre as quais 405 eram orquídeas28. Além das descrições das espécies, o autor publicou ainda a “Iconografia das Orchidaceae do Brasil” (HOEHNE, 1949), obra ricamente ilustrada e ainda hoje considerada como referência no assunto. O Catálogo do HOC (HOEHNE, 1919) lista 28 espécies de orquídeas cultivadas ao ar livre no horto. Cerca de 120 espécies adicionais, provenientes principalmente de São Paulo e Minas Gerais, eram cultivadas na estufa do HOC (HOEHNE,

28 Dados obtidos através do portal Tropicos, administrado pelo Missouri Botanical Garden, disponíveis em http://www.tropicos.org (acessado em 26 de agosto de 2014).

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1925a) juntamente com diversas outras epífitas e também espécies provenientes de lugares de clima mais quente (HOEHNE, 1925a).

Levantam-se assim alguns questionamentos a respeito da escolha das espécies originalmente plantadas na área do Horto Oswaldo Cruz. Nota-se que uma parte das espécies foi de fato cultivada devido a seu potencial uso medicinal e/ou por conta de suas propriedades tóxicas. Entretanto, observa-se também a presença de plantas utilizadas para alimentação, incluindo alguns temperos e especiarias, outras usadas na produção e tingimento de tecidos, e ainda aquelas de importância no paisagismo. De modo geral, pode-se afirmar que, embora o intuito original fosse relacionado a aplicações médicas e farmacêuticas, como ressaltado pela carta da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo solicitando ao governo do estado o desenvolvimento do projeto de criação do HOC (HOEHNE, 1925a), o Horto Oswaldo Cruz foi, na prática, uma área de cultivo das chamadas “plantas úteis”.

Embora careça de uma definição formal na literatura, o termo pode ser entendido como fazendo referência a plantas de interesse comercial, o que inclui, sem restringir, todos os usos mencionados – medicinal, farmacêutico, tóxico, alimentício, de vestuário e paisagístico. Embora algumas publicações nacionais não considerem com “plantas úteis” aquelas espécies empregadas no paisagismo/arborização (MORS; RIZZINI, 1966), publicações mais abrangentes, como a imponente obra em seis volumes denominada “Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas” (CORRÊA, 1926 – 1978) incluem, de fato, plantas utilizadas para fins paisagísticos. Deste modo, ressaltamos o alinhamento entre os trabalhos de referência contemporâneos e a concepção de Hoehne em relação à inclusão de espécies com potencial paisagístico dentro da coleção viva de “plantas úteis” cultivadas na área do Horto Oswaldo Cruz.

114 4 O LEGADO DO HORTO OSWALDO CRUZ E DE FREDERICO HOEHNE

Hoehne é considerado por diversos autores como um dos

primeiros conservacionistas brasileiros (FRANCO; DRUMMOND, 2005; MOLINA; NORDER, 2014), merecendo este título não apenas por sua contribuição ao conhecimento da flora, mas principalmente pela atuação em defesa da manutenção das florestas, por defender o uso de espécies nativas no paisagismo e por divulgar suas ideias em meios de comunicação de massa, (FRANCO; DRUMMOND, 2005; FIORAVANTI, 2011).

No período que passou como jardineiro-chefe no Museu Nacional, travou amizade com o zoólogo Alípio de Miranda Ribeiro (1874-1939) que, em 1908, indicou o nome de Hoehne como botânico para integrar a Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas (CLTEMA), sendo responsável pela coleta, armazenamento e identificação do material vegetal durante as expedições (DA SILVA, 2014; MOLINA; NORDER, 2014). Durante quatro anos Hoehne percorreu o Brasil nas grandes expedições da Comissão Rondon, coletando material que posteriormente organizaria nos herbários da Seção de Botânica, e que serviria como base para a publicação dos quatro volumes de sua obra “História Natural: Botânica”. Participou ainda de uma parte da expedição Roosevelt-Rondon (1913-1914) (MOLINA; NORDER, 2014).

Após o encerramento das atividades do Horto Oswaldo Cruz no ramo da pesquisa Botânica, Hoehne seguiu à frente da Seção de Botânica quando esta foi anexada ao Museu Paulista (TEIXEIRA, 1988) e, posteriormente, ao Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal (HOEHNE, 1940). Esta trajetória culminou com o convite feito a Hoehne para que implantasse um Jardim Botânico na área do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, que passou a ser administrado pelo então criado Departamento de Botânica do Estado (ROCHA; CAVALHEIRO, 2011).

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Estando à frente dos espaços para cultivo e manutenção de coleções de plantas e seu estudo, Hoehne contribuiu com a difusão de conhecimentos de botânica através da promoção de cursos para o público no Jardim Botânico (FIORAVANTI, 2011). Além do contato direto com o público através dos cursos ministrados, Hoehne também difundiu a ciência botânica por meio de diversas publicações em revistas como Braziléia, Chácaras e Quintais e Revista Nacional. Publicou ainda artigos em jornais e boletins de agricultura sobre temas como defesa da natureza, reflorestamento, flora nativa, ensino de biologia, instituições científicas e orquidáceas (DA SILVA, 2014). Destaca-se ainda a série de livros infantis “Dramas e Histórias da Natureza”, com dois volumes; “Aventuras do Casaquinha Verde” (HOEHNE, 1925b) e “O Jequitibá Rei” (HOEHNE, 1930); além do livro intitulado “Iconografia das orchidáceas do Brasil” (HOEHNE, 1949), que apresenta um capítulo no qual o autor convida o leitor a uma “excursão mental pelo País”. De modo semelhante em cada uma destas publicações, o autor descreve em detalhes a flora e a fauna nacionais, mostrando sua preocupação em relação às formas pelas quais é possível despertar o gosto e o amor pela natureza, concluindo que a divulgação do conhecimento é a principal forma de atingir este objetivo, não apenas nas escolas, mas também em museus de história natural, hortos botânicos e jardins zoológicos (HOEHNE, 1925a; 1925b).

Com a saída de Hoehne e a desvinculação da Seção de Botânica, a finalidade original do Horto Oswaldo Cruz – cultivo de espécies vegetais de interesse médico – foi mantida por mais alguns anos, porém sem grande sucesso (OLIVEIRA et al., 2005). Novos usos foram posteriormente atribuídos à área, até que uma restauração promovida em 1992 teve como objetivo abrir o HOC para visitação do público, transformando-o num local para realização de atividades voltas à temática de educação ambiental (OLIVEIRA et al., 2005). Atualmente o HOC funciona como um anexo do Museu Biológico do

116 Instituto Butantan, oferecendo a grupos agendados atividades educativas sobre educação ambiental e animais peçonhentos. A área abriga também a sede do Observatório de Aves do Instituto Butantan, responsável pelo desenvolvimento de pesquisas científicas relacionadas à fauna e à flora locais e ao monitoramento de longo prazo.

5 CONCLUSÕES

De acordo com o exposto neste capitulo, conclui-se que originalmente, o Horto Oswaldo Cruz, mais do que uma área de cultivo para plantas de interesse medicinal e tóxico, incluía um amplo espectro de espécies vegetais de interesse econômico – as chamadas “plantas úteis”. Embora o HOC tenha apresentado influência europeia em seu traçado, as plantas presentes originalmente na área eram majoritariamente nativas. Esta observação ressalta a valorização da flora e da cultura nacional promovida por Frederico C. Hoehne, que esteve à frente do HOC durante o curto período em que este exerceu seu objetivo inicial de cultivo de espécies vegetais. O valor estético do HOC de modo geral, além do valor paisagístico individual das plantas, também foi algo relevante durante a criação da área, de modo a propiciar uma sensação agradável ao público visitante do Instituto Butantan e instigar questões relacionadas à arborização urbana e à preservação de ambientes naturais. Atualmente o HOC funciona como um anexo do Museu Biológico do Instituto Butantan, realizando pesquisa e divulgação científica conjuntamente, mantendo vivos os ideais de sua criação. REFERENCIAL

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ANEXO Apresentamos aqui a lista das espécies originalmente cultivadas na área do Horto Oswaldo Cruz. Os nomes científicos foram atualizados levando em conta alterações taxonômicas e sistemáticas. Os nomes populares apresentados são aqueles que constam na publicação original, corrigidos apenas em relação às mudanças ortográficas vigentes.

Quadro 1: Espécies originalmente cultivadas na área do Horto Oswaldo Cruz

Família Espécie

Nome científico Nome popular

Amaranthaceae Chenopodium ambrosioides chenopodium ou erva-de-santa-maria

Amaranthaceae Chenopodium hircinum chenopodium ou erva-de-santa-maria

Amaranthaceae Chenopodium multifidum chenopodium

Anacardiaceae Lithraea molleoides aroeira-branca ou aroeira-brava

Anacardiaceae Schinus terebinthifolius aroeira-vermelha ou aroeira-pimenta

Anonaceae Rollinia emarginata araticum-mirim

Apiaceae Coriandrum sativum coentro

Apocynaceae Araujia sericifera paina de seda

Apocynaceae Echites peltatus paina de penas

Apocynaceae Laseguea erecta -

Apocynaceae Oxypetalum appendiculatum cipó de leite

Apocynaceae Oxypetalum guilleminianum cipó de leite

Arecaceae Bactris setosa tucum

Arecaceae Cocos weddelliana palmeira de Petrópolis

122

Família Espécie

Nome científico Nome popular

Arystolochiaceae Aristolochia brasiliensis papo-de-peru

Arystolochiaceae Aristolochia rumicifolia jarrinha

Asteraceae Acanthospermum brasilum carrapicho-rasteiro

Asteraceae Acanthospermum hispidum carrapicho-rasteiro

Asteraceae Baccharis genistelloides carqueja

Asteraceae Calea pinnatifida jasmim do mato

Asteraceae Epaltes brasiliensis planta de santa Lucia

Asteraceae Eupatorium dendroides chilca

Asteraceae Helianthus annuus girassol

Asteraceae Moquinia paniculata cambar branco

Asteraceae Piptocarpha axillaris vassoura-preta

Asteraceae Senecio brasiliensis erva-lanceta

Asteraceae Tagetes minuta cravinho de defunto

Asteraceae Trixis divaricata erva de mulher

Bignoniaceae Cybistax antisyphilitica ipê-verde ou caroba de flor verde

Bignoniaceae Handroanthus umbellatus ipê do brejo ou ipê-amarelo

Bignoniaceae Jacaranda caroba carobinha do campo

Bignoniaceae Jacaranda semiserrata caroba da mata ou jacarandá-branco

Bignoniaceae Stenolobium stans ipê de jardim

Bignoniaceae Tabebuia roseoalba ipê-branco

Bignoniaceae Zeyheria tuberculosa ipê-tabaco ou ipê-felpudo

Brassicaceae Brassica nigra mostarda-preta

Brassicaceae Coronopus didymus menstruço

Bromeliaceae Aechmea nudicaulis gravatá do campo

Bromeliaceae Billbegia ensifolia gravatá da flor verde

Bromeliaceae Dyckia coccinea gravatá

Bromeliaceae Tillandsia langsdorfii -

Bromeliaceae Tillandsia pulchella cravina-pão

Patrimônio, Paisagem e Cidade - 123

Família Espécie

Nome científico Nome popular

Bromeliaceae Tillandsia usneoides barba de velho

Cardiopteridaceae Villaresia dichotoma congonheira

Celastraceae Maytenus alaternoides espinheira-santa

Celastraceae Maytenus evonymoides carvalho

Celastraceae Salacia campestris tapicuru ou bacupari do campo

Chloranthaceae Hedyosmum brasiliense chá-de-soldado ou chá-de-bugre

Clethraceae Clethra brasiliensis guaperé

Cunoniaceae Belangera tomentosa cangalheira ou guarapere

Curcubitaceae Cayaponia pilosa fruta-de-gentio

Curcubitaceae Wilbrandia hibiscoides quiabo de cipó

Cyatheaceae Alsophila atrovirens Samambaiaçu

Erythroxylaceae Erythroxylum testaceum Fruta-de-tucano

Escalloniaceae Escallonia chlorophylla -

Euphorbiaceae Croton floribundus capixingui

Euphorbiaceae Hura crepitans assacú

Euphorbiaceae Joannesia princeps andauassú

Euphorbiaceae Ricinus communis mamona

Euphorbiaceae Sapium biglandulosum leiteira

Fabaceae Abrus precatorius ervilha do rosário

Fabaceae Andira anthelminthica Angelim amargoso

Fabaceae Canavalia ensiformis feijão de porco

Fabaceae Canavalia gladiata feijão-bravo

Fabaceae Canavalia picta -

Fabaceae Cassia bicapsularis canudo-de-pito

Fabaceae Cassia hoffmannseggii folha de padre

Fabaceae Cassia multijuga canafístula

Fabaceae Cassia occidentalis fedegoso

Fabaceae Cassia speciosa pau-fava ou fedegoso

Fabaceae Cassia splendida fedegoso

124

Família Espécie

Nome científico Nome popular

Fabaceae Erythrina falcata suinã ou mulungu

Fabaceae Erythrina reticulata mulungu

Fabaceae Indigofera anil indigofera ou anileira

Fabaceae Inga sessilis ingá-ferradura ou ingazeiro

Fabaceae Piptadenia colubrina angico-branco

Fabaceae Piptadenia communis pau-jacaré

Fabaceae Rhynchosia phaseoloides favinha-brava

Fabaceae Schizolobium excelsum guapuruvú

Fabaceae Tipuana tipu tipuana

Gesneraceae Condonanthe devosiana -

Gesneraceae Hypocyrta macrocalyx -

Lamiaceae Mentha piperita hortelã-pimenta

Lamiaceae Mentha pulegium poejo

Lentibulariaceae Utricularia lundii -

Lentibulariaceae Utricularia reniformis -

Linaceae Linum usitatissimum linho

Lythraceae Diplusodon virgatus -

Lythraceae Lafoensia pacari dedaleira-amarela

Malpighiaceae Banisteria parviflora -

Malvaceae Bombax endecaphyllum imbirussú

Malvaceae Bombax insigne castanha-do-maranhão

Malvaceae Luehea divaricata açoita-cavalo

Malvaceae Malva parviflora malva-crespa ou malvavisco

Malvaceae Malva sylvestris malva de caspa

Marantaceae Calathea lindbergii caeté

Martyniaceae Proboscidea lutea cornos-do-diabo

Melastomataceae Miconia candolleana vassourinha

Meliaceae Melia azedarach cinamomo ou santa-Bárbara

Patrimônio, Paisagem e Cidade - 125

Família Espécie

Nome científico Nome popular

Moraceae Ficus pohliana figueira-branca

Nyctaginaceae Bougainvillea spectabilis três-marias ou primavera

Orchidaceae Barbosella crassifolia orquídea

Orchidaceae Bifrenaria harrisoniae orquídea

Orchidaceae Campylocentrum micranthum orquídea

Orchidaceae Catasetum atratum orquídea

Orchidaceae Catasetum cernuum orquídea

Orchidaceae Cattleya forbesii orquídea

Orchidaceae Cattleya loddigesii orquídea

Orchidaceae Colax jugosus orquídea

Orchidaceae Dichaea pendula orquídea

Orchidaceae Epidendrum elongatum orquídea

Orchidaceae Epidendrum inversum orquídea

Orchidaceae Epidendrum paulense orquídea

Orchidaceae Epidendrum variegatum orquídea

Orchidaceae Gomesa polymorpha orquídea

Orchidaceae Grobya amherstiae orquídea

Orchidaceae Isabelia virginalis orquídea

Orchidaceae Oncidium crispum orquídea

Orchidaceae Oncidium flexuosum orquídea

Orchidaceae Oncidium longipes orquídea

Orchidaceae Oncidium pumilum orquídea

Orchidaceae Oncidium uliginosum orquídea

Orchidaceae Pleorothallis leptotifolia orquídea

Orchidaceae Pleorothallis sonderiana orquídea

Orchidaceae Rodriguezia decora orquídea

Orchidaceae Scuticaria hadwenii orquídea

Orchidaceae Zygopetalum mackaii orquídea

Orchidaceae Zygopetalum sellowii orquídea

126

Família Espécie

Nome científico Nome popular

Papaveraceae Papaver somniferum papoula

Phytolaccaceae Phytolacca thyrsiflora erva-dos-cachos

Poaceae Triticum sativum trigo

Primulaceae Rapanea umbellata prímula

Proteaceae Grevillea robusta grevilha

Pteridaceae Adiantum cuneatum avenca-miúda

Pteridaceae Adiantum subcordatum avenca-grande

Pteridaceae Adiantum trapeziforme avenca-paulista

Pteridaceae Blechnum brasiliense aamambaia

Pteridaceae Lindsaya botrichioides avenca

Pteridaceae Polypodium crassifolium feto

Pteridaceae Polypodium lepidopteris feto

Pteridaceae Polypodium repens feto

Ranunculaceae Anemone sellowii ranunculus

Rhamnaceae Rhamnus polymorpha canjica

Rubiaceae Cinchona officinalis quina-vermelha

Rubiaceae Posoqueria latifolia laranja de macaco

Rubiaceae Richardsonia brasiliensis poaia-branca

Rubiaceae Tocoyena formosa guamurú

Rutaceae Esenbeckia grandiflora guaxupita

Rutaceae Metrodorea nigra chupa-ferro

Rutaceae Pilocarpus pennatifolius jaborandi-graúdo

Salicaceae Casearia sylvestris guaçatonga

Sapindaceae Alophyllus edulis chal-chal

Solanaceae Atropa belladonna beladona

Solanaceae Cestrum corymbosum coerana-amarela

Solanaceae Datura stramonium figueirinha do inferno

Solanaceae Nicotiana tabacum fumo ou tabaco

Solanaceae Solanum auriculatum fumo-bravo

Patrimônio, Paisagem e Cidade - 127

Família Espécie

Nome científico Nome popular

Solanaceae Solanum gilo jiló

Solanaceae Solanum juciri juqueri

Violaceae Viola gracillima violeta branca do campo

Vochysiaceae Qualea grandiflora pau-terra

Winteraceae Drimys winteri casca-d'anta

Fonte: Hoehne, 1919