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Os Melhores Poemas

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Os Melhores Poemas

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Fricote - Luiz Caldas

Composição: Luiz Caldas E Paulinho Camafeu

Nega do cabelo duro

Que não gosta de pentear

Quando passa na baixa do tubo

O negão começa a gritar

Pega ela aí

pega ela aí

Pra que ?

Pra passar batom

De que cor?

De violeta

Na boca e na bochecha

Pra que?

Pra passar batom

De que cor?

De cor azul

Na boca e na porta do céu

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Um sorriso negro – Dona Ivone Lara

Um sorriso negro, um abraço negro

Traz....felicidade

Negro sem emprego, fica sem sossego

Negro é a raiz da liberdade

..Negro é uma cor de respeito

Negro é inspiração

Negro é silêncio, é luto

negro é...a solução

Negro que já foi escravo

Negro é a voz da verdade

Negro é destino é amor

Negro também é saudade.. (um sorriso negro !)

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CADERNOS NEGROS é uma publicação do

grupo QUILOMBHOJE. Constitui uma

antologia de contos e poemas, iniciada em

1978, com Cadernos negros 01, chegando ao

número 32 em 2010.

O significado dessa publicação é tornar-se um

contraponto essencial no âmbito da literatura

brasileira como instituição.

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Essa literatura, denominada hoje de negra, afro-brasileira ou afro-

descendente é aquela de onde também emerge uma consciência negra (Luís

Gama; Maria Firmino; Cruz e Souza; Carolina de Jesus, Solano Trindade). O

eu-enunciador (voz poética) assume a identidade negra, buscando recuperar

as raízes da cultura afro-brasileira, protestando contra o preconceito e

discriminação racial; afirmando sua ancestralidade afro-brasileira, seu corpo,

ideias, memória; musicalidade; religiosidade

De mim

parte um canto guerreiro

um vôo rasante talvez rumo

norte

caminho trilhado da cana-de-

açúcar

ao trigo crescido, pingado de

sangue

do corte do açoite. Suor

escorrido

da briga do dia

que os ventos do sul e o tempo

distante

não podem ocultar.

(Celi, ―Negritude‖)

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Observa-se o desejo de influir, através da

palavra poética, na modificação da ordem

social. Os poemas são sobretudo engajados:

“Nossa pele teve maldição de raça

e exploração de classe

duas faces da mesma diáspora e

desgraça.” (Jamu Minka, “Efeitos

Colaterais”)

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Os poetas, com freqüência, socorrem-se da crença

de que a palavra poética é uma poderosa arma na

defesa dos direitos humanos e contra a

discriminação e a opressão que atingem negros e

pobres:

“Os gritos aflitos do negro

Os gritos aflitos do pobre

Os gritos aflitos de todos

Os povos sofridos do mundo

No meu peito desabrocham

Em força em revolta.”

(Carlos de Assumpção, “Linhagem”)

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Além do engajamento, afirmado na força da palavra

poética, bem ao gosto sartreano, é comum o

exercício da ―martirologia‖, uma rememoração dos

sofrimentos impostos pela escravidão, e o rancor

invade muitas vezes a retórica poética:

“Nossa raça traz o selo dos sóis e luas

dos séculos a pele é mapa de pesadelos

oceânicos e orgulhosa moldura de

cicatrizes quilombolas”

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O ressentimento explode com facilidade, numa forma

de exorcizar o passado. É necessário dar uma

resposta ao ―branco‖ a partir do diagnóstico da

herança colonial:

“Ah, senhores, que túmulo de

merda será o vosso, que vermes

vos roerão na morte amarga e

sonora, que alvos dragões

defecarão em vossa carne.

Nenhuma estupidez escraviza o

negro ao branco e permanece

impune”

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Podemos concluir que nessas diversas antologias

de Cadernos negros, os poetas parecem obedecer a

uma pauta prévia: um ―eu‖ enunciador fala em nome

de um ―nós‖ da comunidade, dirigindo-se a um ―tu‖

leitor, que deve sensibilizar-se pela palavra poética

e motivar-se a aderir a mesma luta:

“Quando te envolver

Em minha negritude

Pegarás em armas

Armas-palavras

E sairás pelas ruas

Aos brados”

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POEMAS SELECIONADOS

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a mulher ainda desespera

à espera do primeiro beijo

úmido de sim

e permissão de macho

a mulher no entanto conspira

na sua ira secular de silêncio

em sua ilha de nãos

e arremessos

exercitando batalhões oníricos

o relógio com suas obrigações e rugas

questiona eros

homo

hetero

o útero e seu mistério

sapato de salto

batom

rouge

e este inadiável instante etéreo

de saltar

para

dentro

de

si

na conquista do espaço além da moda

é tempo de mulher

é tempo de colher

orgasmos reais de

mulheridade

o casamento se cale

até que a liberdade o repare

o macho relaxe

ao primeiro beijo

e o fêmeo desejo

intumesça a chama

e abra o céu ao meio.

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Miriam Alves: “Mahin Amanhã”

Ouve-se nos cantos a conspiração

vozes baixas sussurram frases precisas

escorre nos becos a lâminas das adagas

Multidão tropeça nas pedras

Revolta

há revoada de pássaros

sussuro, sussurro:

―é amanhã, amanhã.

Mahin falou, é amanhã‖

A cidade toda se prepara

Malês

bantus

geges

nagôs

vestes coloridas resguardam esperanças

aguardam a luta

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Arma-se a grande derrubada

branca

a luta é tramada na língua dos

Orixás

―é aminhã, aminhã‖

sussuram

Malês

bantus

geges

nagôs

―é aminhã, Luiza Mahin falô‖

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Conceição Evaristo ―A noite não adormece nos olhos das mulheres‖

A noite não adormece

nos olhos das mulheres

a lua fêmea, semelhante nossa,

em vigília atenta vigia

a nossa memória.

A noite não adormece

nos olhos das mulheres

há mais olhos que sono

onde lágrimas suspensas

virgulam o lapso

de nossas molhadas lembranças.

A noite não adormece

nos olhos das mulheres

vaginas abertas

retêm e expulsam a vida

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donde Ainás, Nzingas, Ngambeles

e outras meninas luas

afastam delas e de nós

os nossos cálices de lágrimas.

A noite não adormecerá

jamais nos olhos das fêmeas

pois do nosso sangue-mulher

do nosso líquido lembradiço

em cada gota que jorra

um fio invisível e tônico

pacientemente cose a rede

de nossa milenar resistência

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QUESTÕES

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Eu sou descendente de Zumbi

Zumbi é meu pai e meu guia

Me envia mensagens do orum

Meus dentes brilham na noite escura

Afiados como o agadá de Ogum

Eu sou descendente de Zumbi

Sou bravo valente sou nobre

Os gritos aflitos do negro

Os gritos aflitos do pobre

Os gritos aflitos de todos

Os povos sofridos do mundo

No meu peito desabrocham

Em força em revolta

Me empurram pra luta me comovem

Eu sou descendente de Zumbi

Zumbi é meu pai e meu guia

Eu trago quilombos e vozes bravias dentro de mim

Eu trago os duros punhos cerrados

Cerrados como rochas

Floridos como jardins

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1. Sobre o sujeito poético, nesse poema, é coerente afirmar:

(01) Situa-se na esfera de um ser envolvido com uma religiosidade

tradicional africana.

(02) Aparece como uma figura multifacetada, que tende a acentuar tanto a

igualdade quanto a diferença entre ele e Zumbi.

(04) É fruto de um nascimento predestinado, que tem como objetivo de vida

a preservação de sua individualidade.

(08) Herda uma condição adversa, mas tem consciência de que nasceu

para alterar a ordem encontrada.

(16) Revela-se um ser ambivalente, que não permanece ligado ao tempo e

ao espaço que lhe deram origem.

(32) Assume uma posição coletiva com ideal de pacificação social e

imposição de uma crença mítica.

(64) Confessa que as suas características advêm de sua origem e dela

resulta uma espécie de missão que ele tem de cumprir.

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O sinhô foi açoitar

a outra nega Fulô

— ou será que era a mesma?

A nega tirou a saia,

– a blusa e se pelou.

O sinhô ficou tarado,

largou o relho e se engraçou.

A nega em vez de deitar

pegou um pau e sampou

– nas guampas do sinhô.

— Essa nega Fulô!

Esta nossa Fulô!,

dizia intimamente satisfeito

o velho pai João

Oliveira Silveira: “OUTRA NEGA FULÔ”

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– pra escândalo do bom Jorge de Lima,

seminegro e cristão.

E a mãe-preta chegou bem cretina

fingindo uma dor no coração.

— Fulô! Fulô! Ó Fulô!

– A sinhá burra e besta perguntou

onde é que tava o sinhô

que o diabo lhe mandou.

— Ah, foi você que matou!

— É sim, fui eu que matou —

– disse bem longe a Fulô

pro seu nego, que levou

ela pro mato, e com ele

aí sim ela deitou.

Essa nega Fulô!

– Esta nossa Fulô!

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2. Assinale as opções mais adequadas:

(01) O título do poema contextualizado — Outra nega Fulô — conduz a uma leitura de

que a relação senhor/escrava persiste nos mesmos moldes escravistas dos séculos

passados.

(02) O verso 12 — ―Esta nossa Fulô!‖ —, reiterado no final do poema, evidencia um

sujeito-poético afro-brasileiro, com suas ideias e sentimentos.

(04) Os versos 13-14 e 17-18 apresentam, sob outra perspectiva, uma reconfiguração

do caráter bondoso do ―pai João‖ e da ―mãe preta‖, figuras presentes no imaginário

brasileiro.

(08) O poema dialoga explicitamente com a conhecida obra ―Essa negra Fulô‖, escrita

pelo poeta Jorge de Lima.

(16) O uso de uma linguagem simples, informal, e a rejeição à gramática normativa

constituem características da poética moderna presentes no texto.

(32) O poema reitera o estereótipo depreciativo da ―Nega Fulô‖, que se deita com o

―sinhô‖.

(64) A mulher negra, no poema, aparece como um objeto sexual do seu ―sinhô‖.

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“Em Maio” – Oswaldo de Camargo

Já não há mais razão para chamar as lembranças

e mostrá-las ao povo

em maio.

Em maio sopram ventos desatados

por mãos de mando, turvam o sentido

do que sonhamos.

Em maio uma tal senhora liberdade se alvoroça

e desce às praças das bocas entreabertas

e começa:

"Outrora, nas senzalas, os senhores..."

Mas a liberdade que desce à praça

nos meados de maio,

pedindo rumores,

é uma senhora esquálida, seca, desvalida,

e nada sabe de nossa vida.

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A liberdade que sei é uma menina sem jeito,

vem montada no ombro dos moleques

ou se esconde

no peito, em fogo, dos que jamais irão

à praça.

Na praça estão os fracos, os velhos, os decadentes

e seu grito: "Ó bendita Liberdade!"

E ela sorri e se orgulha, de verdade,

do muito que tem feito!

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No poema, a voz poética:

(01) contesta o significado atribuído a um relevante fato histórico do discurso

oficial.

(02) evidencia uma consciência crítica que se rebela em decorrência de uma

condição social imposta e consagrada pelos discursos constituídos.

(04) canta uma outra liberdade, sonhada e construída pelo cidadão negro.

(08) rejeita o ritual da praça por considerá-lo arbitrário e indicador de uma

ideologia conservadora e autoritária.

(16) desloca-se para um contexto do qual ele será considerado como excluído.

(32) nega que senhores e escravos, no mundo de outrora, davam relevância à

liberdade conquistada na praça.

(64) critica a coisificação consentida do ser negro, ou seja, a sua alienação.

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