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Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7941.2018v35n3p1020
Os fundamentos essenciais da argumentação no ensino de Ciências: um
estudo a partir das unidades, elementos taxonômicos e qualidade do
argumento+ *
Geraldo Fernandes 1
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Diamantina – MG
António M. Rodrigues1
Carlos A. Ferreira1
Faculdade de Motricidade Humana – Universidade de Lisboa
Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Educação e Formação
Instituto de Educação
Lisboa – Portugal
Resumo
Este estudo tem por objetivo compreender as discussões argumentativas
estabelecidas por crianças durante o desenvolvimento de Atividades de
Investigação no Ensino de Ciências (AIEC). Para isso, elaboramos dois
instrumentos de análise da argumentação. O primeiro, denominado de
Elementos Taxonômicos da Argumentação Científica (ETAC), procura
caracterizar a estrutura e a progressão do argumento e o segundo, de-
nominado de Qualidade do Argumento Modificado, visa hierarquizar o
argumento em diferentes níveis. Para exemplificar o uso desses instru-
mentos, foi analisado o argumento de crianças e jovens em uma oficina
que trabalhou com conceitos de Física sobre o “Voo dos Aviões”. Como
resultado, as categorias evidenciadas pelos ETAC não podem ser pensa-
das como unidades isoladas e autônomas, mas sim num continuum de
evolução, caracterizando-se em movimentos discursivos do mais simples
ao mais complexo.
+ The essential foundations of argumentation in science education: a study from the units, taxonomic elements
and quality of the argument
* Recebido: maio de 2018.
Aceito: outubro de 2018.
1 E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1021
Palavras-chave: Argumentação científica; Ensino de Ciências por In-
vestigação; Elementos Taxonômicos da Argumentação Científica.
Abstract
This study aims to understand the argumentative discussions established
by children during the development of Inquiry-based Activities in Science
Education (IBASE). For this, we elaborated two instruments of analysis
of the argumentation. The first, called Taxonomical Elements of
Scientific Argumentation (TESA), seeks to characterize the structure and
progression of the argument and the second, called Quality of the
Modified Argument, aims to rank the argument at different levels. To
exemplify the use of these instruments, the children's and young people's
argument was analyzed in a scientific workshop on "Flight of the
Airplanes". As a result, the categories evidenced by TESAs cannot be
thought of as isolated and autonomous units, but rather as a continuum
of evolution, characterizing in discursive movements from the simplest to
the most complex.
Keywords: Scientific argumentation; Inquiry Activities in Science
Education; Taxonomic Elements of Scientific Argumentation.
I. Introdução
Nos últimos anos, assistiu-se a um crescente número de estudos sobre a argumenta-
ção de crianças e jovens (oral, escrita e gestual) em contexto de aprendizagem de ciências
(DRIVER; NEWTON, 1997; SASSERON, 2008). Um grupo de estudos destaca a importân-
cia da argumentação na construção do conhecimento científico através do desenvolvimento de
atividades investigativas no contexto escolar (CHIN; OSBORNE, 2010; ERDURAN; SI-
MON; OSBORNE, 2004; GARCIA-MILA; GILABERT; ERDURAN; FELTON, 2013; JI-
MÉNEZ-ALEIXANDRE; PUIG, 2012; OSBORNE; ERDURAN; SIMON, 2004). Outro gru-
po de estudos destaca a perspectiva sociocultural (MORTIMER; SCOTT, 2003; SCOTT;
MORTIMER, 2005; VYGOTSKY, 1980, 1986), que aponta para o papel da interação social
nos processos de aprendizagem e de pensamento (MORTIMER; SCOTT, 2003; SCOTT;
MORTIMER, 2005).
Este estudo tem por objetivo analisar o argumento de um grupo de crianças e jovens
em um cenário de ensino não formal e apoiado por diferentes recursos de aprendizagem vi-
sando o desenvolvimento de atividades investigativas no ensino de ciências (AIEC). Neste
sentido, buscamos responder a seguinte questão: Como se caracteriza o argumento de crian-
ças e jovens em um contexto não formal de ensino de Ciências?
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Para responder a nossa questão de investigação, elaboramos dois instrumentos: os
Elementos Taxonômicos da Argumentação Científica (ETAC) e a Qualidade do Argumento
Modificado (QAM). Assim, o estudo do processo da argumentação em sala de aula e em ou-
tros contextos, bem como da sua estrutura e qualidade, passa a ser o principal objetivo desta
discussão, fundamentalmente no que diz respeito à compreensão do desenvolvimento de ati-
vidades de ensino de Ciências.
Para compreendermos melhor a nossa proposta, organizamos a fundamentação teóri-
ca deste trabalho em quatro fundamentos ou características da argumentação científica: (1) a
estrutura ou a complexidade do argumento; (2) a qualidade de um argumento; (3) o processo
de movimento e progressão do argumento; e (4) a construção social do argumento.
II. Argumentação no ensino de ciências: definições e fundamentos essenciais
II.1 Definindo argumento e argumentação
A necessidade de compreender a alfabetização científica conduziu a um aumento
significativo no número de estudos baseados em argumentos e argumentação (CAVAGNET-
TO, 2010; SASSERON; CARVALHO, 2009). Muitos destes estudos sugerem que o uso de
argumentos científicos pelos alunos é passível de desenvolver capacidades comunicacionais,
consciência metacognitiva, pensamento crítico, compreensão da cultura e da prática da ciência
e alfabetização científica (CAVAGNETTO, 2010).
Berland (2011) vê a argumentação científica como “uma prática dialógica na qual os
indivíduos comparam diferentes ideias de forma a fazer sentido a questão em estudo” (p. 630,
tradução nossa). Por outro lado, Berland e Hammer (2012) descrevem a argumentação cientí-
fica “como uma forma de expor e confrontar incoerências entre as ideias e as evidências; é
uma forma importante de a comunidade avaliar as hipóteses e a validade das afirmações” (p.
68, tradução nossa).
Na literatura, encontramos várias definições para “argumento” e “argumentação”, fa-
to que gera alguma confusão relativamente a ambos os termos (BERLAND; HAMMER,
2012; CAVAGNETTO, 2010; GARCIA-MILA et al., 2013). Para Sampson e Clark (2008) “o
termo „argumento‟ descreve os artefatos que um estudante ou um grupo de estudantes cria
quando lhe é solicitado que indique e justifique afirmações ou explicações, ao passo que o
termo „argumentação‟ se refere ao processo de construção desses artefatos” (p. 448, tradução
nossa).
Nesta linha de raciocínio, é importante deixar claro o nosso entendimento sobre ar-
gumentação. Primeiramente, a argumentação pode ser compreendida como uma ferramenta
para a aprendizagem de Ciências, na medida em que se estabelece com os aprendizes uma
relação social de troca de ideias; ou como uma ferramenta de compreensão do processo de
aprendizagem de Ciências, através da análise da estrutura, qualidade e movimento do argu-
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mento. Em segundo lugar, a argumentação refere-se ao processo discursivo (oral ou escrito)
apoiado por um argumento (componentes e artefatos) que surge durante as “etapas ou passos
das atividades investigativas”. São essas etapas: (1) apresentar um problema e refletir sobre
ele; (2) elaborar hipóteses; (3) explicar o processo investigativo; (4) analisar e interpretar os
dados; (5) concluir as atividades.
Uma vez definidos os termos „argumento‟ e „argumentação‟, apresentamos os qua-
tros fundamentos essenciais acerca de como os alunos geram discussões no contexto da edu-
cação científica.
II.2 Os fundamentos essenciais da argumentação no contexto da educação científica
Para quem estuda a forma como os alunos geram discussões no contexto da educação
científica e durante o desenvolvimento de atividades de investigação, organizamos esta fun-
damentação teórica em torno de quatro características do argumento, onde chamamos de fun-
damentos essenciais da argumentação no ensino de Ciências: (1) a estrutura ou a complexi-
dade do argumento (ou seja, os componentes de um argumento); (2) a qualidade de um argu-
mento (isto é, o que faz um argumento ser melhor que o outro); (3) o processo de movimento
e progressão do argumento (ou seja, o processo de desenvolvimento do argumento); e (4) a
construção social do argumento (ou seja, a influência do contexto social para o desenvolvi-
mento do argumento). Estes elementos têm como objetivo proporcionar perspectivas teóricas
subjacentes às estruturas, qualidades, progressões e aspectos sociais do argumento no contex-
to da educação científica.
II.2.1 A Estrutura do Argumento
A primeira característica do argumento é, sobretudo, a forma como surge organizado
e estruturado nas falas dos participantes no processo argumentativo (OSBORNE et al., 2004).
A análise das estruturas dos argumentos dos estudantes fornece informações sobre a forma e o
tipo de raciocínio usados pelos alunos quando elaboram argumentos com base nas atividades
científicas desenvolvidas (CLARK; SAMPSON, 2007). Organizamos este tópico apresentan-
do alguns exemplos de trabalhos essenciais para compreender como pode o argumento ser
estruturado.
O primeiro exemplo é o “Toulmin‟s Argument Pattern - TAP” (Padrão Argumentati-
vo de Toulmin) que influenciou (e ainda influencia) vários estudos sobre a estrutura da argu-
mentação e o processo de ensino-aprendizagem. Toulmin (2003), versão mais atual para a
obra The Uses of Argument de 1958, apresenta a distinção entre argumentos lógico-formais,
usados em matemática, e a utilização de argumentos em contextos linguísticos.
Segundo Sasseron e Carvalho (2011), Toulmin preocupou-se em estabelecer uma in-
terpretação estrutural da argumentação e o seu objetivo era mostrar que nem todos os argu-
mentos podem ser enquadrados na forma “das premissas às conclusões”. Para isso, Toulmin
confere uma forma ao argumento esquematizado da seguinte maneira:
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Fig. 1 – Esquema TAP (extraído de Sampson e Clark, 2008, p. 450, tradução nossa).
O modelo de Toulmin (Fig. 1) especifica os componentes da construção do pensa-
mento a partir de dados para uma conclusão ou afirmação do conhecimento. Driver, Newton
e Osborne (2000) resumem os principais componentes identificados por Toulmin no Quadro
1.
Quadro 1 – Características dos componentes TAP.
Componentes TAP Características
Dados (D) Estes são os fatos aos quais os envolvidos no discurso argumentativo
recorrem para sustentar as suas alegações.
Alegações (afirmações
ou conclusões) (C) Esta é a conclusão cujos méritos devem ser estabelecidos.
Garantias (W) Estas são as razões (regras, princípios etc.) propostas para justificar as
ligações entre os dados e a afirmação de conhecimentos ou conclusão.
Apoio (conhecimento
básico) (B)
Estas são as assunções básicas, geralmente tidas como as mais comuns,
que fornecem as justificações para garantias específicas.
Qualificadores (Q) Especificam as condições sob as quais a alegação pode ser tida por ver-
dadeira. Representam as limitações existentes acerca da alegação.
Refutações (R) Especificam as condições em que a afirmação não será verdadeira.
Fonte: Driver et al. (2000, p. 293, tradução nossa).
Embora seja muito utilizado, o modelo de Toulmin é alvo de restrições efetuadas por
diversos investigadores, que propõem complementações para melhor adequação à realidade
do ensino e da aprendizagem (CLARK; SAMPSON, 2007; DRIVER et al., 2000; JIMÉNEZ-
ALEIXANDRE; BUGALLO RODRÍGUEZ; DUSCHL, 2000; SAMPSON; CLARK, 2008;
SASSERON, 2008).
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Driver et al. (2000) apontam limites para a utilização do modelo de Toulmin: (a) o
padrão não considera o contexto da construção da argumentação; (b) frequentemente, partes
da argumentação, como a garantia, não são explicitadas nos discursos, embora se encontrem
implícitas; (c) o fluxo natural da conversação não se desenvolve necessariamente em sequên-
cia, dificultando a caracterização da argumentação em sala de aula; e (d) no ensino das ciên-
cias nem tudo se faz oralmente. Pelo contrário, recorre-se a diversas formas de linguagem
semiótica para complementar a comunicação – gestos, manipulação de materiais, ilustrações e
gráficos. Na revisão de Sampson e Clark (2008), surgem também restrições relativamente ao
TAP, na medida em que existe uma “distinção fiável entre alegações, dados, provas e apoios
[conhecimento básico], dado que os comentários feitos pelos estudantes podem ser frequen-
temente classificados em múltiplas categorias” (p. 451, tradução nossa).
Nos últimos anos, a partir destas dificuldades, começaram a surgir diferentes traba-
lhos que, mesmo utilizando o TAP como referencial, apresentam soluções de análise do ar-
gumento na sala de aula.
Um exemplo dessas soluções é o trabalho de Sasseron e Carvalho (2009, 2011, 2013)
que buscaram compreender a forma como se processava a Alfabetização Científica entre alu-
nos do ensino básico e que somente com o padrão de Toulmin não era possível de analisar as
argumentações que ocorriam em sala de aula. Assim, Sasseron (2008) apresenta um paralelo
entre as ideias apresentadas por Toulmin e os seus Indicadores da Alfabetização Científica
(IAC) com três objetivos essenciais: (a) trabalhar com os dados de uma investigação; (b) iden-
tificar a estruturação do pensamento; (c) entender a situação analisada. O Quadro 2 vem ca-
racterizar as dimensões e funcionalidades dos IAC.
Quadro 2 – Indicadores de Alfabetização Científica (IAC).
Dimensões Funcionalidade IAC Descrição
Dimensão Es-
truturante
Indicadores
relacionados
com o tratamen-
to e análise dos
dados de uma
investigação
Seriação de
Informações
Bases para a ação investigativa. Podem
resultar de uma lista ou da relação dos da-
dos trabalhados ou com os quais se vá tra-
balhar.
Organização
de Informa-
ções
Verifica-se quando preparamos os dados
existentes sobre o problema investigado.
Ocorre tanto no início da apresentação de
uma questão (pergunta ou problema de
investigação) quanto na retomada de uma
questão.
Classificação
de Informa-
ções
Caracteriza os dados obtidos para ordenar
(organizar) os elementos com que se traba-
lha.
Indicadores
relacionados
com a obtenção
de dados e deli-
Levantamento
de Hipóteses
Suposições acerca de determinado tema
(podem surgir sob a forma de uma afirma-
ção ou de uma pergunta).
Teste de Hipó- Coloca à prova as suposições anteriormente
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Dimensões Funcionalidade IAC Descrição
mitação de vari-
áveis
teses levantadas (pode ocorrer quer face à mani-
pulação direta de objetos quer ao nível das
ideias).
Dimensão
Epistemológica
Indicadores para
estruturação do
pensamento
Raciocínio
Lógico
Compreende o modo como as ideias são
desenvolvidas e apresentadas. Está direta-
mente relacionado com a forma como o
pensamento é exposto.
Raciocínio
Proporcional
Caracteriza a forma como se estrutura o
pensamento e como as variáveis se relacio-
nam entre si.
Indicadores de
relação entre
variáveis e in-
formações
Justificativa
Quando numa qualquer afirmação é apre-
sentada uma garantia para aquilo que é
proposto.
Previsão
É explicitada quando se afirma uma ação
e/ou fenômeno associado a determinados
acontecimentos.
Explicação
Quando se procura relacionar informações e
hipóteses já levantadas (pode ser acompa-
nhada por uma justificativa e uma previ-
são).
Fonte: Sasseron e Carvalho (2009, 2013) – modificado.
Complementarmente, Sasseron e Carvalho (2013) propõem uma análise na estrutura
das respostas dos alunos e nas ações do professor, de modo a fomentar as discussões ocorridas
na sala de aula. Para a análise da estrutura das falas dos alunos, as autoras utilizam os IAC e
para as ações do professor, elas propõem novas categorias, os propósitos do professor, que se
relacionam diretamente com a promoção das AIEC e da argumentação em sala de aula
(Quadro 3).
Quadro 3 – Propósitos e ações do professor na promoção da construção de entendimento de
ideias científicas.
Propósitos do professor Ações do professor Indicadores de AC expressos
pelos alunos
Recuperação de ideias já dis-
cutidas
Referência a ideias previamente
trabalhadas e/ou experiências
prévias dos alunos
Organização, seriação e classi-
ficação de informações
Proposta de um problema Problematização de uma situa-
ção
Levantamento de hipóteses,
teste de hipóteses
Delimitação de variáveis Descrição e caracterização do
fenômeno e/ou de objetos
Organização e seriação de
informações
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Propósitos do professor Ações do professor Indicadores de AC expressos
pelos alunos
Reconhecimento de variáveis Dar nome às categorias advindas
da caracterização Classificação de informações
Construção de relação entre
variáveis Entrecruzamento de informações
Levantamento de hipóteses,
explicação, previsão, justifica-
ção
Fonte: Sasseron e Carvalho (2013, p. 176).
Para Sasseron e Carvalho (2013), a estruturação do argumento está associada aos
propósitos do professor em forma de planejamento (etapas em que se começa a estabelecer os
elementos constituintes do argumento), às suas ações (referem-se especificamente ao conteú-
do e despontam a possibilidade de se examinar a qualidade das ideias em discussão) e ao tra-
balho dos alunos por meio dos IAC (cujas ideias correspondem à construção dos elementos
constitutivos do argumento) (Quadro 3). Ao analisarmos os IAC de Sasseron (2008), perce-
bemos que eles não discutem os comentários emotivos que fazem parte da argumentação raci-
onal e que dão enfoque à veracidade e à autoridade do pensamento do aluno e também não
explicita os comentários dos alunos que se desviam do assunto principal e que muitas vezes
estão presentes no discurso argumentativo.
Um segundo exemplo referente à estrutura da argumentação é o trabalho de Bellucco
e Carvalho (2014) que, a partir de uma revisão da literatura sobre argumentação e aprendiza-
gem, identificaram um conjunto de categorias do processo argumentativo em ensino de Ciên-
cias designado por “aspectos campo-dependentes”, definido no Quadro 4.
Quadro 4 – Características campo-dependentes da argumentação científica.
Características
Campo-
Dependentes
Descrição
Seriação Lista de dados trabalhados ou a trabalhar. Estabelece as bases para a investi-
gação.
Classificação e or-
ganização de infor-
mações
Trata-se da busca por similaridades num arranjo de informações, podendo
criar-se hierarquias entre elas.
Levantamento e teste
de hipóteses
Suposições sobre um tema em estudo que são colocadas à prova.
Justificativa Cria a base para sustentar uma alegação que leva a uma conclusão. Poderá
ser o uso de definição, o apelo à analogia ou a comparações, exemplos, atri-
butos, consistência com outros conhecimentos – incluindo a experiência e a
metafísica – e plausibilidade.
Explicação Relaciona informações e hipóteses, geralmente após a uma justificativa.
Previsão Antecipar ações e/ou fenômenos relacionando acontecimentos.
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Características
Campo-
Dependentes
Descrição
Abdução Uso de uma hipótese/regra como justificativa para explicar um conhecimento
novo, de forma a criar dados para sustentar uma conclusão.
Dedução Raciocínio do geral para o particular.
Indução Conclusão apoiada numa inferência, das partes para o todo.
Raciocínio lógico e
proporcional
Forma como o pensamento é estruturado e como se relacionam as variáveis
no mesmo.
Fonte: Bellucco e Carvalho (2014, p. 34).
Para Bellucco e Carvalho (2014), as características campo-dependentes da argumen-
tação, destacadas no Quadro 4, deverão perpassar em maior ou menor grau sem a necessidade
de intervenções extra do professor por todas as etapas do raciocínio científico: a) elaboração e
testes de hipóteses, em que o conhecimento prévio é tido como hipótese de pesquisa na reso-
lução do problema; b) argumentação; c) solução do problema, produzindo uma explicação; d)
construção do raciocínio proporcional do tipo “se, então, portanto”, o que envolve a seleção e
a relação de variáveis relevantes face à solução do problema e à necessidade de uma nova
palavra/conceito. Por exemplo, ao usar o conhecimento prévio como hipótese de pesquisa, um
estudante pode recorrer a um raciocínio abdutivo que tente explicar e justificar a resposta ao
problema proposto. Por outro lado, ao manipular uma experiência (dispositivo do tipo hands-
on), no processo de reconhecimento das variáveis envolvidas no fenômeno, o aluno procura
enumerar, classificar e organizar as informações observadas com base no seu arcabouço teó-
rico.
Uma limitação das características campo-dependentes da argumentação científica re-
fere-se ao fato de que, mesmo que as categorias de Bellucco e Carvalho (2014) tenham ori-
gem em diferentes estudos, não encontramos novos elementos, ou seja, podemos encontrar
nas características campo-dependentes (Quadro 4) os Indicadores de Alfabetização Científica
de Sasseron e Carvalho (2013): seriação, classificação e organização de informações, justifi-
cativa, explicação, previsão e raciocínio lógico e proporcional, bem como as Operações Epis-
têmicas de Jiménez-Aleixandre et al. (2000): abdução e dedução.
O último exemplo, referente à estrutura do argumento, é o esquema de codificação de
base e hierarquia para a classificação da estrutura argumentativa de Clark e Sampson (2007).
O estudo destes autores centra-se no apoio à argumentação científica em sala de aula através
de um sistema de discurso on-line personalizado, designado “Personally‐seeded discussions”,
que apoia a aprendizagem e colaboração através de uma estrutura de atividades que contrasta
com as próprias ideias dos alunos, visando envolvê-los no discurso argumentativo de ativida-
des investigativas em ensino de Ciências.
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1029
Este estudo explora a eficácia da abordagem “Personally‐seeded discussions”, base-
ada sobre o esquema de codificação desenvolvido por Erduran et al. (2004)2, que analisa a
estrutura do argumento dos alunos segundo a perspectiva de Toulmin (2003).
O esquema de codificação de Clark e Sampson (2007) utiliza os três códigos básicos
de Erduran et al. (2004) para os comentários dos alunos: (1) afirmação (claim), (2) fundamen-
tos (grounds), e (3) refutação (rebuttal). Os autores adicionaram quatro códigos para caracte-
rizar as operações epistemológicas das comunicações e interações dos alunos no ambiente on-
line: (4) apoio, (5) inquirição (questões), (6) apelo emotivo, e (7) comentários extra-tarefa. O
esquema de codificação de Clark e Sampson (2007) é representado no Quadro 5.
Quadro 5 – Esquema de codificação de base e hierarquia para classificação da estrutura argu-
mentativa.
Operações epis-
temológicas Descrição
Afirmação
(Claim)
A afirmação criada por cada grupo de estudantes através da interface “criador
de princípios” é colocada como discussão inicial. Grupo de alunos também
podem apresentar afirmações opostas dentro de um episódio nas discussões on-
line (por exemplo: "Todos os objetos permanecerão com diferentes temperatu-
ras no mesmo ambiente").
Fundamentos
(Grounds)
Incluem dados, garantias e bases de sustentação (conhecimento básico).
Refutação
(Rebuttal)
Inclui ataques aos fundamentos de uma afirmação ou diretamente à afirmação.
Apoio O apoio engloba os comentários que sustentam as alegações ou as refutações
iniciais.
Questões
As perguntas incluem comentários que carecem da clarificação de comentários
anteriores ou indagam sobre o posicionamento de outros grupos face a uma
determinada questão.
Apelo emotivo
Ocasionalmente, os comentários não fazem parte da argumentação racional,
sendo essencialmente emotivos no conteúdo. Porém, dão enfoque à veracidade
e à autoridade.
Comentários
extra tarefa Por vezes, os comentários também se desviam do assunto principal.
Fonte: Clark e Sampson (2007, p. 264) adaptado pelos autores.
Clark e Sampson (2007) usaram os códigos do Quadro 5 para classificar os argumen-
tos dos alunos segundo a hierarquia da estrutura e qualidade da argumentação de Erduran et
al. (2004). As operações epistemológicas que destacamos neste instrumento estão relaciona-
dos ao “apelo emotivo” e “comentários extra tarefa” que não aparecem nos exemplos citados
anteriormente.
2 O estudo de Erduran et al. (2004) será melhor apresentado no tópico referente à Qualidade do Argumento e
através do Quadro 7.
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Vale destacar que, os exemplos citados anteriormente tiveram somente o objetivo de
ilustrar o primeiro fundamento essencial da argumentação científica referente à sua estrutura,
porém outros trabalhos poderiam ser citados, como por exemplo, as Operações Epistêmicas
(OE) de Jiménez-Aleixandre et al. (2000) – dedução, causalidade, definição, classificação,
consistência e plausibilidade, apelo a analogias e a exemplos etc. –, utilizadas para analisar a
argumentação dos alunos juntamente com o padrão de Toulmin.
II.2.2 A Qualidade do Argumento
A segunda característica do argumento ou segundo fundamento essencial da argu-
mentação no ensino de Ciências consiste em identificar bons argumentos. Neste sentido, al-
guns estudos procuram caracterizar a qualidade do argumento por estruturas qualitativas
(SAMPSON; BLANCHARD, 2012; SAMPSON; CLARK, 2006), outros por níveis hierár-
quicos (ERDURAN et al., 2004; GARCIA-MILA et al., 2013; OSBORNE et al., 2004), ou
seja, apresentam uma estrutura ou hierarquia de códigos para classificar a qualidade do argu-
mento (DRIVER et al., 2000; SASSERON; CARVALHO, 2009).
Apoiado no Padrão do Argumento de Toulmin (2003) (TAP), Erduran et al. (2004)
define a qualidade da argumentação em termos de presença e natureza das refutações manifes-
tadas entre os estudantes. Assim, para Erduran et al. (2004) “compreender a presença de uma
refutação como indicador expressivo da qualidade da argumentação e a forma como contradiz
os argumentos de terceiros obriga ambos os participantes a avaliar a validade e a força desse
argumento” (p. 07, tradução nossa).
Para exemplificar, podemos citar alguns trabalhos que apresentam estruturas qualita-
tivas e/ou níveis hierárquicos e que poderão ser orientadores para verificar a qualidade de um
argumento.
Um exemplo de estruturas qualitativas é o trabalho de Sampson e Blanchard (2012)
que apresentam um modelo que descreve os componentes de um argumento no ensino de Ci-
ências (afirmação, evidência e análise racional) e critérios de avaliação da qualidade de um
argumento no ensino de Ciências (Fig. 2).
Este modelo destaca três critérios a fim de avaliar a estrutura/qualidade de um argu-
mento (Fig. 2): 1) Critérios empíricos: incluem normas, a forma como a “afirmação” se en-
caixa com todas as evidências disponíveis, a adequação das evidências contidas no argumen-
to, bem como a qualidade geral da evidência; b) Critérios teóricos: referem-se aos padrões de
natureza conceitual, que incluem julgamentos sobre a utilidade da conclusão, a sua adequação
e a consistência da conclusão com outras teorias, leis ou modelos; c) Critérios de análise: são
usados para avaliar a qualidade geral da linha de raciocínio (por exemplo, análise de correla-
ção e/ou hipotético-dedutivo) e para determinar se a análise e a interpretação dos dados são
coerentes. A natureza dos componentes que constituem um argumento científico e que conta
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1031
como qualidade e como resultado, depende da disciplina e até da área de investigação
(SAMPSON; BLANCHARD, 2012, p. 1123).
Fig. 2 – Alguns critérios qualitativos que podem ser usados para avaliar a qualidade
de um argumento científico (extraído de Sampson e Blanchard, 2012, p. 1124, tradução nos-
sa).
O trabalho de Sampson e Clark (2006) é outro exemplo de estrutura qualitativa e
que vem complementar os critérios da qualidade de um argumento no ensino de Ciências de
Sampson e Blanchard (2012) com a proposição de cinco critérios epistêmicos:
Quadro 6 - Critérios epistêmicos para analisar a qualidade do argumento.
Critérios epistemológicos Descrições
1. Examinar a natureza e a quali-
dade da afirmação de conheci-
mento
Os métodos analíticos devem centrar-se nas formas de afirma-
ção feitas pelos estudantes e na capacidade para coordenar as
afirmações com as provas disponíveis.
2. Avaliar como (ou se) a afirma-
ção se justifica
Os estudantes necessitam aprender a fornecer evidências empí-
ricas, mas eles também necessitam aprender que tipos de provas
são necessários para garantir um argumento.
3. Verificar se uma afirmação Os estudantes tendem a não se concentrar nos padrões existen-
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explica todas as evidências dispo-
níveis
tes nos dados, dando antes prioridade às evidências avulsas que
apoiam crenças pessoais.
4. Verificar como (ou se) a argu-
mentação tenta eliminar alternati-
vas
Um fenômeno poderá ser explicado por mais do que uma afir-
mação, os estudantes precisam de aprender a desafiar a fragili-
dade de explicações alternativas.
5. Verificar como as referências
epistemológicas são usadas para
coordenar as afirmações e as evi-
dências
Os estudantes necessitam de aprender como justificar/avaliar a
forma como as evidências são reunidas e interpretadas, já que
os estudantes não verificam o planejamento das investigações
ou os métodos usados para obter evidências.
Fonte: Sampson e Clark (2006, p. 658-660), tradução nossa.
Os níveis qualitativos podem possibilitar, em alguns momentos, à generalização e
subjetividade da qualidade do argumento dos participantes. Essa limitação pode ser decorren-
te do caráter descritivo e narrativo de alguns instrumentos e que por vezes, tem dificuldade
em caracterizar o argumento de uma determinada população, da qual seria representativa.
Diferente das estruturas qualitativas, o Quadro 7 apresenta um exemplo de níveis hie-
rárquicos para avaliação da qualidade do argumento em termos de cinco níveis de argumenta-
ção, proposto por Erduran et al. (2004) e usado por Garcia-Mila et al. (2013), Clark e Samp-
son (2007), Osborne et al. (2004) e Simon et al. (2012).
Quadro 7 – Quadro analítico usado para avaliar a qualidade da argumentação.
Nível Descrições
Nível 1 A argumentação consiste nos argumentos que são uma simples afirmação versus uma
contra-afirmação ou uma afirmação versus outra afirmação.
Nível 2 A argumentação encerra argumentos que consistem numa afirmação versus outra afir-
mação que inclui dados, provas ou apoios (bases de sustentação), mas não contém
refutações.
Nível 3 A argumentação possui argumentos com várias afirmações ou contra-afirmações que
apresentam dados, provas ou apoios (bases de sustentação) com a ocasional refutação
frágil.
Nível 4 A argumentação revela argumentos com a pretensão de ter uma refutação claramente
identificável. Tal argumento poderá incluir várias afirmações e contra afirmações.
Nível 5 A argumentação exibe uma extensa argumentação com mais de uma refutação.
Fonte: Erduran et al. (2004, p. 16), tradução nossa.
Para Erduran et al. (2004), “quando as crianças se envolvem num processo e se apoi-
am mutuamente em termos de elevada qualidade argumentativa, a interação entre as dimen-
sões pessoal e social promove a reflexão, a posse e o desenvolvimento do conhecimento,
crenças e valores” (p. 03).
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1033
Segundo Clark e Sampson (2007), o esquema de codificação de Erduran et al. (2004)
centra-se na qualidade de argumentação dialógica nas discussões com toda a turma. A fim de
avaliar a qualidade deste tipo de argumentação, Erduran et al. (2004) concentraram-se apenas
na estrutura do argumento e na identificação dos componentes estruturais presentes nos argu-
mentos dos alunos, ou seja, no uso de afirmações, alegações opostas, refutações e fundamen-
tos (com base no modelo de Toulmin). Para Clark e Sampson (2007), Erduran et al. (2004)
colapsaram os elementos “dados, provas e apoios” de Toulmin em um único código – “fun-
damentos” (que são os fatos específicos invocados para sustentar uma dada afirmação), devi-
do às dificuldades práticas de diferenciação entre estes componentes de argumentação.
Os estudos que caracterizam a qualidade do argumento em níveis hierárquicos
(CLARK; STEGMANN; WEINBERGER; MENEKSE; ERKENS, 2007; ERDURAN et al.,
2004; GARCIA-MILA et al., 2013; OSBORNE et al., 2004; SIMON et al., 2012) veem os
argumentos mais simples como os que consistem numa afirmação e que, ao mesmo tempo,
são importantes, na medida em que é a partir deles que se dá o primeiro passo para iniciar o
processo de criação de diferentes níveis da qualidade do argumento. Além disso, estes estudos
sugerem que os professores sejam capazes de identificar a evolução dos níveis discursivos dos
alunos e de expor as suas limitações (por exemplo, a falta de justificativa no argumento). Por
isso, o segundo nível é formado por argumentos acompanhados de afirmações que contenham
dados ou garantias, e o terceiro, formado por argumentos que consistem em afirmações ou
contra afirmações, dados, justificativas e refutações. Verifica-se nos trabalhos citados no iní-
cio do parágrafo que os argumentos com refutações apresentam, no entanto, melhor qualidade
do que aquelas que as não têm.
Podemos dizer que “o critério para avaliar a qualidade dos argumentos incluiu a pro-
fundidade das explicações dadas, a elaboração das afirmações ou dos fundamentos menciona-
dos, a adequação de vários exemplos usados como justificativa e a presença ou ausência de
contra-argumentos para refutação de ideias opostas” (CHIN; OSBORNE, 2010, p. 891, tradu-
ção nossa).
II.2.3 O processo de movimento e progressão do argumento
A terceira característica ou terceiro fundamento essencial da argumentação está rela-
cionado com o seu processo de estímulo, movimento e progressão. Existe uma necessidade de
planejamento por parte do professor na condução de ações tendo em vista o desenvolvimento
da argumentação e das capacidades essenciais dos alunos para que o discurso em sala de aula
aconteça (CHIN; OSBORNE, 2010; CLARK; SAMPSON, 2007; OSBORNE et al., 2004).
Quando se estabelece uma interação argumentativa na sala de aula, o discurso apresenta um
movimento (BERLAND; REISER, 2011; DRIVER et al., 2000) e uma progressão (BER-
LAND; MCNEILL, 2010) que caracterizam o processo argumentativo e o desenvolvimento
da aprendizagem dos alunos.
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1034
Na perspectiva do processo de movimento e progressão do argumento podemos citar,
por exemplo, a criação de um ciclo argumentativo nas discussões científicas de sala de aula,
como propõe Sasseron e Carvalho (2011, 2013). O ciclo argumentativo destas autoras analisa
tanto o surgimento de IAC, nas aulas de Ciências, como a construção de argumentos pelo pro-
fessor e pelos alunos, ou seja, o ciclo “teria início com a recuperação de ideias já discutidas na
sala de aula, aproveitando as informações que os alunos já possuíam” (p. 251).
Neste sentido, para ilustrar o fundamento sobre o movimento e progressão do argu-
mento, podemos citar o trabalho de Berland e Reiser (2011) que apresenta uma análise sobre
o movimento discursivo (discourse moves). Segundo estes autores, esses movimentos surgem
a partir das descrições do processo argumentativo em sala de aula em que os alunos estão en-
volvidos num processo de sensemaking [construção de sentidos] colaborativo a partir da aná-
lise estrutural do argumento de Toulmin (2003). Através deste processo, Berland e Reiser
(2011) identificaram cinco características do discurso como sendo a chave para a argumenta-
ção científica. No discurso argumentativo, os estudantes “constroem afirmações e defendem
as suas próprias afirmações e as de terceiros. Escutam e respondem às afirmações de terceiros.
Protegem-se questionando essas afirmações. Escutam e respondem às afirmações uns dos
outros e defendem-se avaliando-as, criticando-as e, simultaneamente, corrigindo as suas pró-
prias afirmações e as de terceiros” (BERLAND; REISER, 2011, p. 199, tradução nossa). As
palavras em itálico indicam as principais ações de cada movimento do discurso. Estes “mo-
vimentos do discurso” estão relacionados com os objetivos de sensemaking e persuasão, ca-
racterizando-se pelas várias maneiras que o discurso em sala de aula pode estar envolvido
nestes objetivos.
A Fig. 3 resume essa relação. Por exemplo, dois movimentos discursivos relacionam-
se diretamente com o objetivo de persuasão: a) defesa de uma declaração; e b) avaliação e
crítica dos argumentos. Ambos os movimentos de discurso implicam envolvimento na persua-
são, já que demonstram por que razão um pedido é mais persuasivo do que outro. Além disso,
o objetivo de sensemaking envolve três movimentos de discurso: a) construção de uma decla-
ração; b) questionamento e defesa das declarações; e c) revisão das declarações.
No diagrama da Fig. 3, “dar atenção aos outros” está compartilhado por ambos os
objetivos (sensemaking e persuasão), ou seja, um aluno pode ouvir outras ideias em qualquer
desses objetivos. No entanto, essa atenção envolve movimentos diferentes do discurso, de-
pendendo do objetivo da interação. Quando um aluno estiver concentrado em sensemaking,
ele poderá questionar as ideias dos outros, ao passo que a persuasão está mais relacionada
com a avaliação e crítica de ideias.
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1035
Fig. 3 – Associação das alterações discursivas da argumentação científica aos obje-
tivos da persuasão e do sensemaking (extraído de Berland e Reiser, 2011, p. 200, tradução
nossa).
Berland e Reiser (2011) sugerem que as diferentes configurações deste modelo não
representam sobreposições, mas diferentes interpretações de argumentação, além de verificar
que cada turma de alunos pode possuir objetivos distintos durante o processo argumentativo.
É igualmente importante destacar que este movimento discursivo pode mudar segundo o con-
teúdo científico trabalhado e dependendo da forma como o professor conduz a argumentação.
Podemos também resgatar, de forma resumida, outros trabalhos que caracterizaram
este fundamento, como por exemplo, as três dimensões de uma progressão de aprendizagem
de Berland e Mcneill (2010): 1) Contexto instrucional; 2) Produtos argumentativos: e 3) Pro-
cesso argumentativo. Os padrões de interações do discurso entre professores e alunos na sala
de aula, por Mortimer e Scott (2003): I-R-A-F (Iniciação – Resposta – Avaliação – Feed-
back). E por fim, as estratégias para apoiar um processo argumentativo por Osborne et al.
(2004): 1) lista de tópicos para argumentação; 2) pequenos grupos; 3) modelos de escrita; 4)
role-plays; e 5) apresentações de grupo. Numa perspectiva de desenvolvimento, movimento e
progressão do argumento, estes exemplos, em forma de atividades e ações, são importantes,
na medida em que incentivam o uso do argumento seguido por desafios críticos e atividades
(escrita, discussão e apresentação de ideias) que podem ser alteradas de acordo com o público
de alunos, além de, também, serem essenciais para o desenvolvimento de capacidades na
construção e defesa do argumento.
II.2.4 A construção social do Argumento
O último fundamento essencial da argumentação está relacionado com a construção
social do argumento, ou seja, assumimos que a argumentação é uma atividade social (BER-
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1036
LAND; MCNEILL, 2010; CHIN; OSBORNE, 2010; DRIVER et al., 2000; JIMÉNEZ-
ALEIXANDRE et al., 2000; OSBORNE et al., 2004) e que o conhecimento científico, en-
quanto construção social é, portanto, provisório (DRIVER et al., 2000).
Para Chin e Osborne (2010), a argumentação, num contexto social, “exige que os es-
tudantes respondam às afirmações de terceiros com argumentos e contra-argumentos próprios,
construindo explanações, levantando questões e refutando ideias alternativas” (p. 231, tradu-
ção nossa).
Algumas investigações (BERLAND; HAMMER, 2012; MORTIMER; SCOTT,
2003) têm adotado a perspectiva teórica associada à corrente sócio-histórica ou sociocultural
de Vygotsky (1980, 1986), com enfoque no processo de compreensão da construção de signi-
ficados, criados no contexto da interação social e interiorizados pelos indivíduos. Assim, as
perspectivas cognitivistas sobre a argumentação forneceram uma importante base teórica so-
bre os processos e resultados cognitivos e socio cognitivos do cruzamento da argumentação
com a aprendizagem (BRICKER; BELL, 2008).
Para um grupo de trabalhos (BERLAND; MCNEILL, 2010; MORTIMER; SCOTT,
2003; SCOTT; MORTIMER, 2005), o desenvolvimento de um argumento científico requer
uma interação social com os pares (alunos-professor-especialistas) num contexto de sala de
aula. Ou seja, o discurso argumentativo exige que os participantes interajam com as ideias
dos outros em diferentes níveis e desenvolvimento de argumentação (ver tópicos sobre a qua-
lidade e movimento da argumentação). No entanto, Berland e Mcneill (2010) e Berland e Rei-
ser (2011) apontam que estudos sobre a argumentação revelam um conflito com o processo
social da argumentação científica, ou seja, a interação em sala de aula caracteriza-se por ações
do tipo I-R-A: o professor Inicia uma interação através da colocação de uma pergunta, um
aluno Responde à questão e o professor Avalia a resposta dada.
Neste sentido, podemos citar os trabalhos de Mortimer e Scott (2003) e Scott e Mor-
timer (2005) que apresentam uma ferramenta analítica, ou um sistema de referência, para a
conversa de sala de aula, em particular sobre a forma pela qual os diferentes tipos de interação
entre professores e alunos contribuem para a construção de significados e da aprendizagem
(Quadro 8). O desenvolvimento do referencial destes trabalhos não se baseia no padrão de
Toulmin, mas na teoria sociocultural de Vygostsky e na linguagem social de Bakhtin (MOR-
TIMER ; SCOTT, 2003). Alguns pontos fundamentais para o ensino de Ciências emergem da
análise destes referenciais, particularmente em relação ao que os autores identificam como o
aspecto central da "abordagem comunicativa".
A estrutura analítica da ferramenta de Mortimer e Scott (2003) baseia-se em cinco
aspectos inter-relacionados que se centram no papel do professor (e não do aluno) e são agru-
pados em termos de focos do ensino, abordagem e ações:
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1037
Quadro 8 – Aspectos da estrutura de análise das interações sociais e a produção de significa-
dos em aulas de Ciências por Mortimer e Scott (2003).
Papel do
professor
Aspectos de Aná-
lise Elementos característicos
Focos de
ensino
1. Intensões do
professor
Criar um problema.
Explorar a visão dos estudantes.
Introduzir e desenvolver a „estória científica‟
Conduzir os estudantes no trabalho com as ideias científicas,
dando apoio ao processo de internalização.
Conduzir os estudantes na aplicação das ideias científicas e na
expansão do seu uso, transferindo para estes, progressivamente,
o controle e a responsabilidade por tal uso.
Manter a narrativa: sustentar o desenvolvimento da „estória cien-
tífica‟.
2. Conteúdo
Descrição
Explicação
Generalização
Abordagem 3. Abordagem
Comunicativa
Interativa/dialógica (I/D)
Não-interativa/ dialógica (NI/D)
Interativa/ de autoridade (I/A)
Não-interativa/ de autoridade (NI/A)
Ações
4. Padrões de
interação
I – Iniciação do professor
R – Resposta do aluno
A – Avaliação do professor
P – Prosseguimento da fala do aluno
F – Feedback para o aluno melhor elaborar a sua fala.
5. Intervenções do
professor
Dar forma aos significados
Selecionar significados
Marcar significados-chave
Partilhar significados
Verificar o entendimento dos estudantes
Rever o progresso da estória científica
Fonte: Mortimer e Scott (2003) (adaptação dos autores).
De acordo com Mortimer e Scott (2003), a ênfase dada à produção de significados na
sala de aula recai no foco de ensino desempenhado pelo professor, na sua tarefa de tornar dis-
ponível a visão da natureza da ciência, diferenciá-la de outras visões e dar apoio à construção
de significados pelos alunos.
Relativamente à abordagem comunicativa, os autores consideram que existe uma
tensão entre discurso dialógico e discurso de autoridade, que podem considerar-se casos ex-
tremos da abordagem comunicativa. Nesta concepção, a participação de alunos e professores
no processo de comunicação pode ser “interativa” (quando há a participação de mais de uma
pessoa) e “não interativa” (quando somente um indivíduo está envolvido na ação comunicati-
va).
Os padrões de interações do discurso entre professores e alunos na sala de aula po-
dem ser representados de duas maneiras: o triádico I-R-A (Iniciação – Resposta – Avaliação)
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1038
e as interações não triádicas em cadeia, que podem ser identificadas quando o professor apre-
senta um feedback (F) ou um prosseguimento (P) à fala do aluno, com o objetivo de sustentar
a sua produção discursiva e dar continuidade à interação: I-R-F-R-P-R... Essas cadeias podem
ser abertas quando não apresentam uma avaliação ao seu final, ou fechadas, quando apresen-
tam (MORTIMER; SCOTT, 2003). Os autores descrevem ainda cadeias em que uma pergunta
do professor gera diferentes respostas por parte dos alunos e, por fim, interações geradas a
partir de uma iniciação do estudante.
Mortimer e Scott (2003) acreditam que a ferramenta analítica do Quadro 8 constitui
um importante instrumento para avaliar o discurso de sala de aula, porém podemos verificar
que não tem o objetivo de caracterizar a estrutura da resposta do aluno, como é apresentado
em Sasseron (2008); Bellucco e Carvalho (2014); Jiménez-Aleixandre et al. (2000) e a quali-
dade do argumento como indica Sampson e Blanchard (2012); Erduran et al. (2004) e Clark et
al. (2007). Assim, para nós, este tipo de interação apresenta limitação em caracterizar-se co-
mo um “processo de construção social do argumento”, pois não se sabe qual a estrutura da
resposta do aluno e como ela foi construída, salvo a presença de um movimento discursivo
quando se aprofunda a análise do papel do professor (Abordagem e Ações) e os aspectos de
análise (Padrões de interação e Intervenções do professor).
No sentido de contribuir para a natureza social da argumentação científica e diante
desta falta de clareza sobre os aspectos sociais para a produção da argumentação, existem
autores que afirmam que os estudos etnográficos, por exemplo, teriam a capacidade de pro-
porcionar uma melhor compreensão de como a argumentação científica é influenciada pela
vida quotidiana dos alunos (BRICKER; BELL, 2008). Para outros, as análises sociológicas
do discurso seriam outra opção para organizar um entendimento comum relativamente àquilo
que está a acontecer na sala de aula e como os indivíduos devem comportar-se no espaço es-
colar ou fora dele (por exemplo, BERNSTEIN, 1993; BRICKER; BELL, 2008; BERLAND,
2011). Assim, qualquer programa educacional projetado para melhorar os processos de argu-
mentação exigirá não apenas os elementos cognitivos do processo argumentativo (qualidade,
estrutura e progressão), mas também irá requerer uma compreensão dos contextos sociais e
culturais em que o argumento é realizado (DRIVER et al., 2000).
A análise e a síntese dos tópicos anteriores (estrutura, qualidade, processo e constru-
ção social do argumento) destinam-se a fornecer uma revisão e aprofundamento teórico para
investigações futuras sobre a argumentação no ensino de Ciências. Neste sentido, não foi pos-
sível esclarecer nos modelos de estrutura e qualidade dos argumentos, no ensino de Ciências,
citados anteriormente, as principais evidências que caracterizam, ou que estejam preocupados
em analisar, as relações sociais dos sujeitos participantes na construção do argumento científi-
co escolar.
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1039
II.3 Propondo dois instrumentos para análise do argumento
A partir da nossa questão de pesquisa - Como se caracteriza o argumento de crianças
e jovens em um contexto não formal de ensino de Ciências? –, à luz das premissas dos refe-
renciais apresentados na seção anterior, emerge nosso objetivo em construir um instrumento
metodológico para analisar o argumento de um grupo de crianças e jovens em um cenário de
ensino não formal e apoiado por diferentes recursos de aprendizagem visando o desenvolvi-
mento de atividades investigativas no ensino de Ciências. Organizamos a nossa proposição
em dois instrumentos, o primeiro refere-se à estrutura do argumento e o segundo a qualidade
do argumento e que estão apresentados a seguir.
II.3.1 Os Elementos e Unidades Taxonômicas da Argumentação Científica
As diversas pesquisas sobre os fundamentos essenciais da argumentação científica
escolar (estrutura, qualidade, processo móvel e construção social), utilizadas neste trabalho,
ofereceram-nos um conjunto de elementos e unidades ‒ isto é, a relação das diferentes catego-
rias evidenciadas no referencial apresentado ‒ com os quais iremos trabalhar.
Nos tópicos anteriores, vimos que alguns trabalhos são orientadores para compreen-
dermos principalmente a estrutura e a qualidade do argumento. A partir destas referências e de
outras, detectamos um conjunto de elementos que integram a forma como o processo argu-
mentativo no ensino de Ciências é estruturado e os reagrupamos num único quadro (Quadro
9). Primeiramente, organizamos os principais verbos passíveis de serem identificados no pro-
cesso argumentativo em elementos designados Unidades Taxonômicas (UT). Percebemos que
estas unidades têm origem em diferentes estudos e naqueles anteriormente citados
(BELLUCCO; CARVALHO, 2014; JIMÉNEZ-ALEIXANDRE et al., 2000; SAMPSON;
BLANCHARD, 2012; SAMPSON; CLARK, 2008; SASSERON, 2008).
Para facilitar o processo de análise do argumento científico em sala de aula, as UT
são reagrupadas em componentes, sob a designação de Elementos Taxonômicos da Argumen-
tação Científica (ETAC), que procuram caracterizar o argumento por meio de ações (orais e
escritos) e que acontece durante a realização de atividades de investigação no ensino de Ciên-
cias (AIEC).
Quadro 9 – Elementos Taxonômicos da Argumentação Científica (ETAC).
Unidades taxionômi-
cas (UT) ETAC Definições
Responde e/ou Descre-
ve Elementos descritores de ideias/
informações
Respostas simples ou apoiadas por alega-
ções em busca de uma conclusão. Nor-
malmente surgem após uma pergunta
Explica
Justifica Elementos de sustentação de ideias/
informações
Sustenta uma alegação em busca de uma
conclusão
Organiza a informação
Classifica a informação Elementos organizadores de ideias/
informações
Lista de ideias e informações organizadas
ou classificadas que é utilizada para se
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1040
Unidades taxionômi-
cas (UT) ETAC Definições
chegar a uma conclusão
Pergunta
Problematiza Elementos de problematização
Perguntas simples ou elaboradas (proble-
máticas) para compreender o fenômeno
estudado ou introduzir novas ideias
Introduz ideias
Formula hipóteses
Prevê
Supõe
Avalia
Testa hipóteses
Induz
Deduz
Generaliza
Elementos de levantamento de hipó-
teses
Suposições, avaliações, deduções, genera-
lizações ou previsões sobre conceitos,
fenômenos ou eventos passíveis de serem
colocados à prova
Define conceitos
Exemplifica
Relaciona
Reconhece
Retoma ideias (Revê)
Propõe
Delimita
Complementa
Sugere
Elementos cons-
trutores
De pensamento
O pensamento é construído a partir de
definições, exemplos, relações, retomada
de ideias, complementações, sugestões
Raciocina (Lógica e
Proporcionalmente) De raciocínio
O raciocínio pode ser apresentado de for-
ma lógica (a partir de elementos corretos)
ou proporcional (relacionando-o com as
variáveis)
Refuta
Critica
Questiona
Reivindica
Discorda
De oposição de
ideias
A oposição de ideias é construída a partir
de questões, refutações, críticas, desacor-
dos e reinvindicações
Apoia
Defende ideias
Concorda
Confirma
Conclui
De defesa e con-
clusão
As ideias e informações podem ser apoia-
das, defendidas, confirmadas ou concluí-
das
Gosta
Não gosta
Exclama
Ri
Expressa sons
Elementos descritores de emoção
Não fazem parte de um argumento racio-
nal, mas expressa opiniões, sensações e
expressões sobre o fenômeno estudado ou
ideia defendida
Fonte: Elaborado pelos autores.
O Quadro 9 detalha as unidades e elementos da argumentação que julgamos ser re-
correntes em aulas investigativas. Partimos da premissa de que a identificação destes elemen-
tos nos discursos dos alunos pode fornecer evidências sobre o processo de construção e de
reconhecimento de significados e que podem ser justificados da seguinte maneira:
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1041
a) Elementos descritores de ideias/informações: as unidades que caracterizam estes
elementos, normalmente surgem após uma pergunta realizada pelo professor (por exemplo:
“Professor - Qual a diferença entre sólido, líquido e gasoso?”). Trata-se de respostas simples
ou apoiadas por alegações em busca de uma conclusão, mas não necessariamente respondem
corretamente a pergunta inicial (ex.: “Aluno - O sólido é gelo, o líquido é água e gasoso é o ar
que respiramos”).
b) Elementos de sustentação de ideias/informações: estes elementos são caracteriza-
dos por unidades que buscam sustentar a alegação do professor ou de outros estudantes a fim
de chegar a uma conclusão. Os estudantes tendem a explicar as alegações por meio de afirma-
ções e/ou evidências empíricas. Segundo Clark e Sampson (2007), a sustentação de informa-
ções que são criadas pelos estudantes é colocada como discussão inicial. Grupos de alunos
também podem apresentar afirmações opostas dentro de um episódio nas discussões estabele-
cidas (ex.: “Aluno - Todos os objetos permanecerão com diferentes temperaturas no mesmo
ambiente”).
c) Elementos organizadores de ideias/ informações: estes elementos são caracteriza-
dos por unidades que apresenta uma lista de ideias, pensamentos, informações organizadas
e/ou classificadas para se chegar a uma conclusão. Ao relacionar estes elementos com os indi-
cadores de Sasseron (2008), verifica-se uma relação com as ações desempenhadas nas tarefas
de organizar, classificar e seriar os dados: (ex.: “Aluno – Eu peguei o gelo, levei para fora da
sala, coloquei no sol e observei o que ia acontecer. O gelo derreteu, virou água e começou a
sumir”.)
d) Elementos de problematização: os estudantes expressam unidades que são caracte-
rizadas por perguntas simples, elaboradas ou problematizadas para compreender o fenômeno
estudado. Para Clark e Sampson (2007), as perguntas incluem comentários e feedbacks ou o
posicionamento de outros grupos em face de uma determinada questão.
e) Elementos de levantamento de hipóteses: são formados por unidades que evidenci-
am suposições, avaliações, deduções, generalizações ou previsões sobre conceitos, fenômenos
ou eventos passíveis de serem colocados à prova. Para Sasseron (2008), o levantamento de
hipóteses aponta suposições acerca de certo tema e o teste de hipóteses concerne nas etapas
em que se coloca à prova as suposições anteriormente levantadas. As unidades taxonômicas
que representam este grupo também podem surgir sob a forma de uma suposição, caracteriza-
da por uma afirmação ou uma pergunta (ex.: “Aluno - O gelo não seria a água congelada? Se
eu pôr no sol ele não vai virar água?”).
f) Elementos construtores: são formados por unidades que estão associadas ao pro-
cesso de construção de significados e que podem ser de pensamento, de raciocínio (lógico ou
proporcional), de oposição de ideias, defesa e conclusão. Os elementos construtores compre-
endem uma dimensão epistemológica, ou seja, a construção do pensamento se dá a partir de
definições, exemplos, relações, retomada de ideias, complementação etc. Segundo Sasseron e
Carvalho (2013), os elementos construtores de raciocínio são elementos que indicam a forma
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1042
como o pensamento é exposto (raciocínio lógico) e como as variáveis se relacionam entre si
(raciocínio proporcional) (ex.: “Professor - Qual a diferença do movimento das moléculas da
água?” “Aluno - O gelo é devagar e a água é rápida.”). Os elementos construtores de oposi-
ção de ideias incluem ataques aos fundamentos de uma afirmação ou diretamente à afirmação,
ou seja, são caracterizados por unidades que especificam as condições em que a afirmação
não será verdadeira. Por fim, os elementos construtores de defesa e conclusão são formados
por unidades em que os participantes defendem afirmações e as suas ideias, além de serem
também essenciais para o desenvolvimento de capacidades na defesa e conclusão dos seus
argumentos.
g) Elementos descritores de emoção: trata-se de elementos em que os estudantes ma-
nifestam opiniões, sensações e expressões sobre o fenômeno estudado ou ideia defendida (ex.:
“O que eu mais gostei foi ver a perna do besouro no microscópio”). Segundo Clark e Samp-
son (2007), ocasionalmente, os comentários de apelo emotivo não fazem parte da argumenta-
ção racional, sendo essencialmente emotivos no conteúdo, porém dão enfoque à veracidade e
à autoridade.
Mesmo que os ETAC tenham origem em estudos sobre o „argumento‟ e a „argumen-
tação‟ no ensino de Ciências, o seu uso está relacionado com a ampliação de diferentes refe-
renciais, ou seja, podemos encontrar neste instrumento os Indicadores da Alfabetização Cien-
tífica de Sasseron (2008) e as Características Campo-Dependentes de Bellucco e Carvalho
(2014). Estes aspectos encontram-se ampliados para outros elementos, neste caso, a proble-
matização, a oposição e a defesa de ideias e pensamento emotivo. O instrumento procura
igualmente fornecer elementos para compreender as respostas (R) do aluno nos “Padrões de
Interação” de Mortimer e Scott (2003), que não são especificados e complementam o “es-
quema básico de codificação hierárquica para classificar a estrutura argumentativa”, de Clark
e Sampson (2007).
II.3.2 Níveis Hierárquicos da Qualidade do Argumento Modificado
A partir dos trabalhos sobre a qualidade do argumento, apresentados anteriormente,
sentimos a necessidade de levar em consideração a qualidade dos elementos de defesa e con-
clusão de ideias e não somente a qualidade da justificativa (SASSERON; CARVALHO,
2013) ou a qualidade da capacidade de refutação (ERDURAN et al., 2004). Assim, propo-
mos uma reorganização do sistema hierárquico de categorias para avaliar a qualidade do ar-
gumento e denominamos de Níveis Hierárquicos da Qualidade do Argumento Modificado
(Quadro 10).
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1043
Quadro 10 – Níveis hierárquicos da qualidade do argumento modificado.
Nível Descrição
0 Uma informação simples sem justificativa ou fundamento.
1 Uma ou mais informações com justificações ou fundamentos simples, mas sem conclusão e
refutação.
2 Uma ou mais informações com justificações ou fundamentos simples, com conclusão e sem
refutação.
3 Uma ou mais informações com justificações ou fundamentos simples, com conclusão e
refutação.
4 Uma ou mais informações com justificações ou fundamentos detalhados, mas sem conclu-
são e refutação.
5 Uma ou mais informações com justificações ou fundamentos detalhados, com conclusão e
sem refutação.
6 Uma ou mais informações com justificações ou fundamentos detalhados, com conclusão e
refutação.
Fonte: elaborado pelos autores.
Este quadro analítico, referente à qualidade do argumento, foi estruturado com o ob-
jetivo de hierarquizar o argumento com justificativas, conclusões e refutações, pois nem todos
os turnos de falas que se analisam podem ser hierarquizados segundo os modelos anterior-
mente apresentados. Os argumentos mais simples consistem na introdução de ideias ou afir-
mações utilizadas para iniciar o processo de criação de diferentes níveis da qualidade do ar-
gumento. A evolução dos níveis discursivos dos alunos (do simples para o mais elaborado)
começa a ser formado por argumentos acompanhados de afirmações que contenham dados ou
garantias, contra afirmações, justificativas e refutações. Os argumentos com justificações ou
fundamentos detalhados, com conclusão e refutação apresentam, no entanto, melhor qualidade
do que aquelas que as não têm.
A partir dos instrumentos apresentados nos Quadros 9 e 10, esta pesquisa buscará ca-
racterizar o argumento de um grupo de alunos durante o desenvolvimento de uma AIEC. Nes-
te sentido, acreditamos que é possível compreender o argumento e argumentação, a partir da
estrutura e da qualidade do argumento com os ETAC e os níveis modificados da qualidade do
argumento.
III. Metodologia
III.1 Sujeitos e Cenário da Pesquisa
O desenvolvimento da nossa pesquisa aconteceu no contexto de uma oficina em en-
sino de Ciências dentro de um projeto de inclusão social, educacional e tecnológico designado
por “Projeto Experimental de Educação Científica e Tecnológica (PEECT)”. Este projeto de-
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1044
senvolveu-se na região da Tapada das Mercês no concelho de Sintra em Portugal. O Projeto
EECT atende alunos de várias escolas da região, alguns do primeiro ciclo (anos iniciais do
ensino fundamental), mas principalmente do segundo e terceiro ciclos (ensino fundamental e
médio respectivamente). Este projeto recebe apoio e financiamento do “Programa Escolhas”3,
programa governamental que também apoia outros projetos em todo território português.
O Projeto EECT se desenvolve num contexto social vulnerável, onde predominam
famílias maioritariamente de imigrantes. Para apoiar os alunos oriundos desta realidade, o
projeto procura desenvolver ações de “inclusão escolar”, “educação não formal” e “inclusão
digital” durante todo o ano num espaço que possui Tecnologias de Informação e Comunica-
ção para o Ensino (TICE) e desenvolve diversas oficinas de formação. As principais oficinas
são de aeromodelismo, nas quais os participantes constroem aeromodelos e modelos de fogue-
tes (temática relacionada com o espaço, o universo, a aeronáutica e a astronomia), além de
atividades com a robótica (temática associada às energias alternativas), em que se constroem
modelos de barcos e carros, movidos a energia solar, e turbinas eólicas.
Inseridas num contexto não formal, estas atividades visam complementar o ensino
formal de educação científica e tecnológica que é ministrado nas escolas da região de Sintra
em Portugal, possuindo uma componente mais prática do que meramente expositiva (teórica).
A nossa amostra foi formada por 13 crianças e jovens participantes do projeto EECT,
com idade de 12 a 14 anos, convidadas pela equipe a participar de uma Oficina de Ensino de
Ciências que durou uma semana. Os participantes entregaram aos coordenadores do projeto
EECT uma ficha de autorização dos pais para participar das atividades que seriam filmadas.
Os participantes foram identificados respetivamente pelos códigos A1, A2 etc., de forma a
preservar a sua identidade.
Para o desenvolvimento da investigação, contamos ainda com o apoio da equipe do
projeto EECT, formada pelo coordenador (professor especialista em ciência e tecnologia com
20 anos de experiência à docência), uma psicóloga, um técnico de informática e uma estagiá-
ria. A equipe ajudou na elaboração das atividades e ofereceu apoio aos participantes durante o
desenvolvimento da oficina.
III.2 Os Episódios em forma de Hipermídia
A oficina temática, desenvolvida no âmbito do projeto EECT, teve como tema o es-
tudo do voo de foguetes, satélites e aviões, com o objetivo de aprofundar os conceitos cientí-
ficos da “Oficina de Aeromodelos”, que os participantes já desenvolviam no projeto EECT.
3 O Programa Escolhas é financiado pelo Instituto da Segurança Social, pela Direção Geral de Educação de Por-
tugal e pelo Fundo Social Europeu, através do Programa Operacional Potencial Humano – POPH/QREN. Este
Programa financia projetos de inclusão social em comunidades vulneráveis, muitos dos quais localizados em
territórios onde se concentram descendentes de imigrantes e minorias étnicas em todo o território Português
(Disponível em: <http://www.programaescolhas.pt/>).
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1045
Foi elaborado, para o desenvolvimento deste trabalho, um recurso digital temático
designado por Módulo Temático Virtual (MTV) (FERNANDES; RODIGUES; FERREIRA,
2015). O MTV elaborado procurou apresentar atividades que fizessem sentido aos participan-
tes e abrangessem conceitos físicos e com o objetivo de estimular o diálogo e a troca de in-
formações. O conteúdo que seria desenvolvido com os participantes ficou estruturado em três
episódios:
Episódio 1: Conhecendo o Ar e a Atmosfera;
Episódio 2: Conhecendo o movimento dos satélites;
Episódio 3: Conhecendo o voo do Avião.
Cada episódio continha entre duas a três atividades4 baseadas no Ensino de Ciências
por Investigação (ENCI). Todos os estudantes tinham acesso a um computador e os episódios,
com suas atividades, foram planejados levando em consideração os elementos e etapas das
Atividades Investigativas em Ensino de Ciências (AIEC) de Fernandes et al. (2015).
Quadro 11 - Principais elementos e etapas de investigação.
Nº Elementos das AIEC Etapas de Investigação
1 Problema
Explorar o mundo
Apresentar um problema
Refletir sobre o problema
2 Hipótese Gerar hipóteses
Avaliar as hipóteses
3 Processo investigativo Planear a investigação
Investigar
4 Interpretação Analisar os dados obtidos
Interpretar as novas informações
5 Conclusão
Sistematizar e registrar
Comunicar as informações
Aplicar o conhecimento a novas situações
Fonte: Fernandes et al. (2015, modificado).
Foram levadas em consideração três etapas ou partes: 1) apresentação de um proble-
ma e descrição das respetivas hipóteses; 2) a interação com Objetos Virtuais de Aprendiza-
gem (OVA), acompanhada de um pequeno roteiro (processo investigativo); e 3) a explicação
oral daquilo que foi observado durante a interação (interpretação e conclusão). Ou seja, para
que fossem consideradas Atividades de Investigação (AI), as atividades teriam que apresentar
uma situação-problema que levasse ao levantamento de hipóteses. A interação com o objeto
informático iria favorecer as respostas para as situações questionadas. Por outro lado, os regis-
tros escritos, juntamente com a argumentação dos participantes, forneceriam o feedback sobre
4 No Episódio I foram desenvolvidas três atividades, no Episódio II foram três atividades e no Episódio III foram
duas atividades.
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1046
o processo de aprendizagem. No final de cada episódio, buscou-se recuperar o tema e os prin-
cipais conceitos estudados através da argumentação das crianças e jovens participantes.
Na apresentação dos resultados iremos aprofundar somente a análise dos dados do
Episódio III, que apresenta os principais elementos necessários para que um avião possa voar
(Quadro 12).
Quadro 12 - Quadro sintético do Episódio III e atividades (AT) do MTV.
EPISÓDIO III – CONHECENDO O VOO DO AVIÃO
Atividade Objetivo Descrição
1 De onde vem o avião?
Apresentar os pri-
meiros conceitos
sobre o voo do avi-
ão através de um
vídeo.
Fazer o levantamento inicial do conhecimento
quotidiano dos alunos sobre o voo do avião. O
vídeo apresentado está acompanhado de um
texto, sendo que a atividade consiste em identi-
ficar no texto os conceitos desconhecidos e pro-
porcionar a aprendizagem de novos conceitos.
2 O que faz o avião voar?
Caracterizar os
princípios básicos
para o voo do avião.
Através de uma simulação e de um vídeo, os
alunos descobrem os princípios básicos para o
voo do avião.
III.3 Eixos de análise
Com o objetivo de compreender o desempenho dos alunos-participantes por meio
dos Elementos Taxonômicos da Alfabetização Científica (ETAC) e dos níveis de Qualidade
do Argumento Modificado, analisaremos o Episódio III por meio das etapas das Atividades
Investigativas do Ensino de Ciências (AIEC) de Fernandes et al. (2015).
Etapa 1: Problemas e hipóteses – explorar o mundo e gerar hipóteses.
Etapa 2: Processo de investigação – construir a compreensão do processo.
Etapa 3: Interpretação – analisar os dados.
Etapa 4: Conclusão – comunicar as informações e aplicar o conhecimento em novas
situações.
IV. Resultados
Etapa 1: Problemas e hipóteses – explorar o mundo e gerar hipóteses
Esta primeira etapa tem início com o processo de problematização e levantamento de
hipóteses através da apresentação de um vídeo que explora os conceitos que caracteriza o
“Voo dos aviões”. Os diálogos dos participantes foram organizados em turnos de fala (T) e a
análise destes turnos será apresentada em forma de Unidades Taxonômicas (UT) e Qualidade
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1047
do Argumento Modificado (QAM). A apresentação do problema deste Episódio foi conduzida
oralmente, tendo-se seguido pelo levantamento de hipóteses dos participantes.
Quadro 13 – Turnos de fala que caracterizam as UT e QAM para a Etapa 1.
T Diálogos ANÁLISE/ UT QAM
8 Mediador: Então, antes de vermos o site ou qualquer outra
coisa, o que é que vocês acham que faz o avião voar?
9 A3: o motor! Formula hipótese
Defende ideia 0
10 Mediador: ele disse que é o motor. Mais alguma outra coisa?
11 A5: o vento. Complementa
Formula hipótese 0
12 Mediador: o vento... O que mais?
17 Participantes: o motor, o condutor, o vento...
Complementa
Organiza infor-
mação
Formula hipótese
Conclui
0
Com as informações disponibilizadas pela sequência de diálogos, percebemos a
construção de hipóteses pelos participantes para o problema conduzido pelo mediador. Desta-
camos que os argumentos dos participantes são bastante lógicos, embora ainda pouco consis-
tentes e frágeis. Segundo Fernandes et al. (2015), para que os alunos consigam gerar as suas
hipóteses é importante que o professor deixe claro aos alunos que eles devem fazer suas pre-
dições para as questões-foco, antes de iniciar o processo de investigação. Para avaliar as hipó-
teses dos alunos, sugere-se que o professor/mediador recolha os resultados conhecidos pelos
alunos e tente listá-los para que estes sejam orientadores do processo de investigação (FER-
NANDES et al., 2015). De qualquer modo, o argumento anterior reflete o início da constru-
ção das relações de causa e efeito para a situação investigada.
A qualidade do argumento tem o Nível 0, uma vez que são informações simples, sem
justificativa ou fundamento.
Etapa 2: Processo de investigação – construir a compreensão do processo
Esta etapa consistia na identificação dos conceitos presentes no vídeo pelos aprendi-
zes e nos quais eles apresentavam dúvidas. Para isso, pedimos aos estudantes que destacassem
de alguma forma (sublinhando, por exemplo) as palavras no texto impresso da narração do
vídeo. Em seguida, pedimos-lhes que escrevessem as palavras que desconheciam, ou nas
quais tinham dúvidas, numa ficha online para que a equipe e o professor pudessem trabalhar
com eles. À medida que os alunos iam escrevendo, as palavras apareciam no computador da
equipe: turbinas, pressão, Santos Dumont, Horizonte, etc. Após a identificação das palavras o
professor iniciou algumas explicações:
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1048
Quadro 14 – Turnos de fala que caracterizam as UT e QAM para a Etapa 2.
T Falas Análise/ UT QAM
42 Professor: vejam pessoal, as asas empurram o ar para
baixo, e o ar? O que é que o ar faz com as asas do avião?
43 A3: [empurra-as] Para cima.
Explica
Raciocina de forma
proporcional
Relaciona
1
44 A5: Empurra para cima.
Explica
Confirma
Raciocina de forma
proporcional
Relaciona
2
45 Professor: Empurra o avião para cima. Se o ar empurra o
avião para cima, ele cai?
46 A3: Não, [porque o ar] empurra para cima.
Discorda
Justifica
Raciocínio lógico
Conclui
3
No turno 43, a qualidade do argumento do aprendiz A5 inicia-se com o Nível 1 e no
turno 46 podemos verificar o Nível 3: “[o avião] não cai, [por que o ar] empurra [a asa do
avião] para cima”, ou seja, é uma afirmação simples com justificativa (por que o ar empurra
a asa do avião para cima), refutação (não cai) e conclusão (não, empurra para cima).
Verifica-se também nesta etapa que houve uma evolução dos argumentos, que se re-
velaram mais consistentes e menos frágeis em comparação com a Etapa 1. No turno 43, o
participante A3 explica sua ideia (elemento de sustentação de ideias), raciocina de forma
proporcional (elemento construtor de raciocício) e faz relação com a situação-problema (e-
lemento construtor de pensamento): “[o ar empurra as asas do avião] Para cima.”. No turno
45 o professor, apresenta outra situação problema: “Se o ar empurra o avião para cima, ele
cai? (Professor)”, e o participante A3 discorda do professor (elemento de oposição de idei-
as), justifica a sua discordânica (elemento de sustentação de ideias), realiza um raciocício
lógico (elemento construtor de raciocínio) e conclui a sua afirmação (elemento de defesa e
conclusão): “Não [cai], [porque o ar] empurra [o avião] para cima (A3)”. Construções deste
tipo caracterizar-se-ão ao longo da atividade e são reforçadas principalmente durante as fases
de investigação, interpretação e conclusão.
Também percebemos que a atividade de investigação contribuiu para que os aprendi-
zes justificassem corretamente o conceito, mas em cooperação com outro participante (dispo-
sição sócio afetivas), como exemplificamos a seguir:
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1049
Quadro 15 – Turnos de fala que caracterizam as UT e QAM para a Etapa 2.
T Diálogos Análise/ UT QAM
49 Professor: Os motores são as turbinas. Qual é a função das tur-
binas?
50 A6: o motor empurra o avião para a frente.
Explica
Raciocínio lógico
Relaciona
1
51 Professor: empurrar o avião para a frente.
52 A3: e ele vai para a frente.
Explica
Raciocínio lógico
Complementa
1
Podemos verificar nos turnos 50 e 52 que a cooperação com outros estudantes se ca-
racterizou pelo complemento de ideias entre os aprendizes A6 e A3: “o motor empurra o
avião para a frente (A6) e ele vai para a frente (A3)”. Assim, os dois participantes recorreram
aos ETAC de sustentação de ideias, construção de raciocínio lógico e de pensamento. Nes-
te sentido, podemos perceber que ocorreu também um movimento e progressão do argumento
(BERLAND; REISER, 2011; DRIVER et al., 2000; BERLAND; MCNEILL, 2010), ou seja,
segundo Berland e Reiser (2001, p. 199) os participantes “constroem afirmações e defendem
as suas próprias afirmações e as de terceiros”.
Etapa 3: Interpretação – analisar os dados
Nesta etapa, procuramos analisar a forma como decorreu o processo de interpretação
das atividades após as etapas de problematização, levantamento de hipóteses e processo inves-
tigativo. O professor/coordenador do projeto também participou das discussões, procurando
relacionar as atividades do MTV com as atividades do projeto EECT sobre o “Voo dos Avi-
ões”. Nesta etapa, o professor buscou discutir com os estudantes a “função das asas e do mo-
tor do avião”. Nos diálogos que se seguem entre A3, A5 e o professor, pode-se observar que
se trata de uma recuperação dos principais conceitos identificados na etapa de problematiza-
ção e levantamento de hipóteses.
Quadro 16 – Turnos de fala que caracterizam as UT e QAM para a Etapa 3.
T Diálogos Análise/ UT QAM
85
Professor: Tenho aqui um modelinho de avião que vocês
já viram. A pergunta é: qual é a função da asa de um
avião?
86 A3: empurra o vento para baixo.
Explica
Raciocina de forma
lógica
Retoma ideias (revê)
Conclui
2
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1050
87 Professor: Se a asa empurra o vento para baixo o que é
que o vento faz?
88 A5: empurra o avião para cima.
Explica
Raciocina de forma
proporcional
Conclui
2
89 A3: empurra para cima.
Retoma ideias (revê)
Explica
Raciocina proporcional
Confirma
Conclui
2
90 Professor: Empurra o avião para cima e ele consegue ir,
tudo bem?
Nos turnos de fala do Quadro 16, inicialmente, os participantes comentam sobre a
“lei da ação e reação” sem saber de fato que existe a 3ª Lei de Newton, mas que é caracteriza-
da nas suas falas. O estudante A3 retoma a ideia e fornece uma explicação para a pergunta do
professor, que passa por um raciocínio lógico e proporcional (SASSERON; CARVALHO,
2009, 2013; BELLUCO; CARVALHO, 2014): “Se a asa de um avião empurra o vento para
baixo, [logo] o vento empurra o avião para cima”.
A conclusão a que chegamos com esta alegação é a de que a atividade investigativa e
os recursos midiáticos ajudaram os alunos a compreender que “a função da asa do avião é
empurrar o vento para baixo para que o vento empurre o avião para cima”. Esta análise mos-
tra que A3 utilizou cinco Unidades Taxonômicas na sua fala: a recuperação de ideias; a expli-
cação de uma questão; o raciocínio lógico e proporcional demonstrado na estruturação coe-
rente dos seus argumentos; a confirmação e a conclusão coerente das suas ideias. Ou seja,
apoiou-se em elementos de sustentação de ideias (explicações) e organizou os seus argu-
mentos sobre elementos de construção (de pensamento, raciocínio e conclusão).
Quadro 17 – Turnos de fala que caracterizam as UT e QAM para a Etapa 3.
T Diálogos Análise/ UT QAM
90 Professor: Empurra o avião para cima e ele conse-
gue ir, tudo bem?
91 A3: E o motor faz ele [o avião] ir para frente.
Introduz a ideia
Raciocina de forma
lógica
Complementa
1
92 Professor: E o motor, que fica em baixo, faz ele ir
para frente.
No turno 91, A3 introduz outra ideia e complementa os argumentos anteriores:
“... e o motor faz [o avião] ir para frente”. É apresentado um elemento de construção de
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1051
pensamento (SAMPSON; CLARK, 2006) e ao mesmo tempo um elemento de levantamen-
to de hipóteses.
Assim, as ideias de A3, a partir dos turnos 86 a 91, são: “As asas do avião empurram
o vento para baixo, o vento empurra o avião para cima e o motor o faz ir para frente”. E deste
modo, A3 produziu um texto oral justificando a alegação do professor.
Etapa 4: Conclusão – comunicar as informações e aplicar o conhecimento em novas si-
tuações
Na última etapa, os participantes conseguem aprofundar o argumento e aplicar o co-
nhecimento sobre a função do motor do avião em novas situações:
Quadro 18 – Turnos de fala que caracterizam as UT e QAM para a Etapa 4.
T Diálogos Análise/ UT QAM
123 Professor: e se eu tiver um avião grande? Viajar com
pessoas...
124 A6: tem que ter o motor.
Explica
Formula hipótese
Raciocina de forma lógica
Relaciona
Complementa
1
125 Professor. E qual é a função do motor?
126 A6: É para ele [o avião] andar e tentar levantar voo.
Justifica
Raciocina de forma lógica
Classifica a informação
5
Podemos verificar nos turnos 124 e 126 que A6 recorre aos elementos de organiza-
ção de ideias, isto é, que a função do motor “é para ele andar e tentar levantar voo”. Neste
sentido, podemos perceber que A6 apresenta informações com justificativas ou fundamentos
detalhados com conclusão, porém sem nenhuma refutação. Estes turnos também são caracte-
rizados por ETAC de levantamento de hipóteses e construção do pensamento (para viajar
com as pessoas tem que ter motor), sustentação de ideias e raciocínio lógico (tem que ter
motor para o avião andar e tentar levantar voo).
Em busca de uma compreensão mais aprofundada do episódio que acabamos de ana-
lisar (Episódio III), comparamos os argumentos da segunda atividade do primeiro episódio
(EPI – AT 2) com as duas últimas atividades do Episódio III (Fig. 4).
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1052
Fig. 4 – Comparação dos ETAC do Episódio I com o Episódio III.
Na Fig. 4, podemos verificar que o Episódio I (Conhecendo o ar e atmosfera) possui
uma maior percentagem de elementos descritores de ideias e informações em comparação
com o Episódio III. Ou seja, no primeiro episódio, os participantes apresentaram respostas
simples após a apresentação de uma pergunta. Eram respostas diretas com poucos elementos
de sustentação de ideias (2%), enquanto no último episódio os aprendizes apresentaram me-
nos descritores de ideias (10.0%) e mais elementos construtores de defesa e sustentação de
ideias (aproximadamente 15.0%). Estes dados indicam que nos três episódios se verifica a
presença de reconhecimento do contexto e os participantes conseguiram selecionar significa-
dos, mas somente a partir do Episódio III (Conhecendo o voo dos aviões) que os participantes
conseguiram produzir textos orais justificando corretamente o conceito.
Estes resultados podem estar essencialmente relacionados com as atividades de in-
vestigação desenvolvidas, com o trabalho colaborativo verificado entre os participantes, com
,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
EPI - AT 2 EP III - AT 1 EP III - AT 2
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1053
o apoio da equipe do Projeto, no sentido de esclarecer as dúvidas e com a reestruturação de
pensamentos e ideias por via do debate argumentativo (sustentação de ideias).
Por outro lado, a análise do argumento dos participantes no Episódio I apresentou
uma percentagem significativa de elementos construtores de raciocínio lógico (aproximada-
mente 22.0%), em comparação com o Episódio III (aproximadamente 13.0%). Esta diferença
relacionar-se-ia com o grau de dificuldade constatado entre os dois episódios, ou seja, enquan-
to no primeiro episódio pretendíamos introduzir a temática e desenvolver atividades lúdicas
para identificar e trabalhar alguns conceitos (Episódio I), no último procurávamos aprofundar
os conceitos mais elaborados de forma a cumprir o objetivo da pesquisa (Episódio III). Uma
vez que as atividades do último episódio eram mais elaboradas, foi possível identificar uma
percentagem significativa dos elementos de levantamento de hipóteses (aproximadamente
19.0%) em comparação com o primeiro episódio.
Os elementos taxonômicos que obtiveram uma baixa percentagem em todos os Epi-
sódios relacionavam-se com os elementos construtores do raciocínio proporcional, com a pro-
blematização, com os descritores de emoções, com os organizadores e oposição de ideias (ver
Figura 4). Estes dados permitem inferir que, após a identificação de que tais habilidades não
estão a ser caracterizadas, é importante que o professor ou o mediador do processo de ensino-
aprendizagem crie sequências de ensino, módulos temáticos, ações ou estimule argumentos
capazes de desenvolver tais capacidades de pensamento científico.
Chamamos igualmente a atenção para o fato que se verificou uma evolução ao nível
da estrutura da argumentação através da análise dos ETAC entre o Episódio I e o Episódio III.
V. Conclusão
A investigação empírica e teórica sobre o „argumento‟ e a „argumentação‟ na educa-
ção científica tornou-se, nas últimas décadas, um dos referenciais mais importantes para a
compreensão da construção do pensamento das crianças e dos jovens durante o desenvolvi-
mento de atividades investigativas (DRIVER et al., 2000; ERDURAN et al., 2004;
SAMPSON; CLARK, 2008; SAMPSON; CLARK, 2006; SASSERON; CARVALHO, 2013;
JIMÉNEZ-ALEIXANDRE; PUIG, 2012).
Os instrumentos apresentados na revisão da literatura deste estudo podem fornecer
um conjunto de informações sobre os elementos essenciais de como os alunos geram discus-
sões no contexto da educação científica, ou seja, como saber se o argumento desenvolvido
durante a realização de uma AIEC atinge os objetivos desejados? Como saber se o pensamen-
to dos alunos está a ser desenvolvido durante uma AIEC? Para nós, a resposta para tais ques-
tões depende da estrutura, da qualidade, do movimento e dos aspectos sociais do argumento
escolhidos para a análise.
Existem diferentes instrumentos que buscam categorizar a estrutura e qualidade do
argumento e que são instrumentos de análise muito próximos. Por exemplo, os quadros de-
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
1054
senvolvidos por Bellucco e Carvalho (2014), Sasseron (2008), Sasseron e Carvalho (2013)
assemelham-se no que se refere à seriação, classificação e organização de informações, bem
como à justificativa, à explicação, à previsão e ao raciocínio lógico e proporcional da argu-
mentação. O papel do professor é evidenciado em Sasseron e Carvalho (2013) e Mortimer e
Scott (2003) quando estes autores evidenciam as ações e o propósito do professor, mesmo
tendo referências teóricas diferentes para as suas proposições. Além disso, não está claro nos
trabalhos apresentados o real significado da influência do contexto social para a produção do
argumento. Ou seja, os aspectos sociais que contribuem para a construção da argumentação
são somente aqueles construídos na sala de aula através de ações colaborativas (numa pers-
pectiva sociocultural) ou são aqueles que acontecem fora da escola, construídos no contexto
das relações familiares, econômicas e políticas? Uma sugestão seria levar em consideração os
estudos etnográficos ou sociológicos do discurso e as suas relações com a alfabetização cien-
tífica.
À luz destes pressupostos, buscamos analisar o argumento de um grupo de crianças e
jovens em um cenário de ensino não formal e apoiado por diferentes recursos de aprendiza-
gem visando o desenvolvimento de atividades investigativas no ensino de ciências (AIEC).
Neste sentido, buscamos responder a seguinte questão: Como se caracteriza o argumento de
crianças e jovens em um contexto não formal de ensino de Ciências?
Para responder a tal questão, foi elaborado um instrumento de análise do argumento
por meio de uma taxonomia (ou unidades taxonômicas - UT) e que teve como objetivo orga-
nizar as estruturas do argumento de diferentes estudos para o planejamento, execução e co-
municação dos resultados de investigações sobre o argumento e a argumentação no ensino de
Ciências, facilitando ainda a compreensão do processo de construção do pensamento científi-
co. As UT básicas e os ETAC da estrutura do argumento, exemplificado nas atividades de-
senvolvidas num projeto de educação científica e tecnológica, sugerem uma série de mensa-
gens fundamentais sobre a natureza da argumentação no ensino de Ciências. Em primeiro
lugar, as UT vêm auxiliar o professor a identificar os elementos que estruturam a argumenta-
ção desenvolvida durante uma AIEC. Em segundo lugar, estas unidades, organizadas em
ETAC (Quadro 9), podem movimentar-se ao longo de uma atividade, demonstrando quais
elementos são mais característicos.
Uma conclusão importante deste trabalho diz respeito ao fato de as categorias evi-
denciadas nos Quadros 9 e 10 não poderem ser pensadas como unidades isoladas e autôno-
mas, mas sim num continuum de evolução, caracterizando-se em movimentos discursivos, ou
seja, elementos argumentativos, do mais simples ao mais complexo (BERLAND; MCNEILL,
2010; BERLAND; REISER, 2011).
Também foi evidenciado que a qualidade do argumento cresceu ao longo das discus-
sões, uma vez que novos elementos foram apresentados e incorporados na argumentação, con-
ferindo-lhe mais coesão (SASSERON; CARVALHO, 2009, 2013).
Fernandes, G., Rodrigues, A. M. e Ferreira, C. A. 1055
Estando na posse dos Elementos das Atividades de Investigação de Ensino de Ciên-
cias (problema, hipótese, processo de investigação, interpretação e conclusão) (Quadro 11),
percebemos que existe uma aproximação com o nosso instrumento de análise que merece ser
aprofundado em outras investigações e está caracterizado no Quadro 19.
Quadro 19 – Relação entre os Elementos das AIEC e os ETAC.
Nº ELEMENTOS DAS
AIEC ETAC
1 Problema Elementos de problematização
Elementos descritores
de ideias/ informações
Elementos descritores
de emoções
2 Hipótese Elementos de formulação de hipóteses
3 Processo de investigação
Elementos de sustentação de ideias/
informações
Elementos organizadores de ideias/
informações
4 Interpretação
Elementos construtores de pensamento
Elementos construtores de raciocínio
Elementos construtores de oposição de
ideias
5 Conclusão Elementos de defesa e conclusão
De acordo com o Quadro 19, os elementos descritores de ideias/informações e emo-
ções são característicos de todos os elementos das AIEC, o que significa que podem estar pre-
sentes em qualquer etapa.
Um dos limites deste estudo reside na ausência de ações e do papel do professor no
desenvolvimento do argumento, destacando somente os instrumentos ETAC (Quadro 9) e os
níveis hierárquicos da Qualidade do Argumento Modificado (Quadro 10). Outra limitação
reside no número de estudos, aqui apresentados, que incidem sobre „argumento‟ e „argumen-
tação‟, uma vez que tal temática é amplamente discutida na educação científica. Estudos futu-
ros podem centrar-se num tópico da revisão especial e expandir a investigação através de ba-
ses de dados e revistas da área sob a forma de revisão sistemática e apontar limites, possibili-
dades e complementar o sistema de categorização apresentado nos Quadros 9 e 10.
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer às crianças do “Projeto Experimental de Educa-
ção Científica e Tecnológica (PEECT)” do Programa Escolhas em Portugal, aos revisores
anônimos pelas cuidadosas observações que fizeram às versões anteriores do manuscrito e à
"Fundação para a Ciência e a Tecnologia – FCT" pelo financiamento do projeto.
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 1020-1059, dez. 2018.
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