os desafios da escola pÚblica paranaense na … · probabilidade disso repetir-se de geração...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013
Título: : Produção textual a partir do resgate de memórias
Autor: Maria Elizabete Kastel
Disciplina/Área:
(ingresso no PDE)
Língua Portuguesa
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Eurico Gaspar Dutra – Ensino Fundamental e Médio, situado na Rua Duque de Caxias n. 723/Município de Virmond.
Município da escola: Virmond
Núcleo Regional de Educação: Laranjeiras do Sul
Professor Orientador: Professora/Doutora Raquel Terezinha Rodrigues
Instituição de Ensino Superior: UNICENTRO
Relação Interdisciplinar:
(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Não há.
Resumo:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
O presente trabalho propõe estimular os alunos à produção textual por meio do emprego do gênero memórias, considerando desde obras literárias até a interação com os moradores locais, para uma produção textual a partir das reminiscências coletadas junto a tais sujeitos.
Durante a realização das atividades será utilizada a obra Memórias Sentimentais de João Miramar de Oswald de Andrade, a qual
relata as memórias de um personagem, por meio de capítulos, que representam fragmentos de situações vivenciadas por ele. Os alunos terão acesso à leitura, à análise e interpretação da referida obra de Oswald de Andrade, que servirá de suporte para as atividades de produção de texto, com a intenção de valorizar o gênero textual memórias.
A interação com os moradores visa resgatar aspectos da localidade, permitindo aos educandos elaborarem suas próprias percepções acerca das situações descritas, encontrando na produção textual uma importante fonte de preservação da memória.
As atividades serão desenvolvidas segundo o método recepcional, descrito por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar.
Palavras-chave:
(3 a 5 palavras)
Leitura, Pesquisa, Literatura, Textos Memorialísticos.
Formato do Material Didático: Unidade Didática
Público: (indicar o grupo para o qual o material didático foi desenvolvido: professores, alunos, comunidade...)
Alunos do 3º ano do Ensino Médio
APRESENTAÇÃO
Os alunos ainda encontram dificuldades em adquirir o hábito da leitura,
situação que se reflete na sua escrita. Essa dificuldade origina-se pelo fato de a
leitura não ter a devida valorização no meio social, fazendo com que os educandos
só a pratiquem, na maioria das situações, no âmbito escolar, tendo dificuldades para
elaborar textos, pelo pouco vocabulário que dominam como também pela falta de
referenciais literárias que possam sustentar sua argumentação textual.
Santos (2006, p. 4) relata que:
No Brasil, infelizmente, lê-se pouco, normalmente ocorre nas escolas, pois o exemplo de casa com raras exceções existe. Daí que ao chegar à vida adulta a maioria esqueceu há tempos o gosto por esse hábito e a probabilidade disso repetir-se de geração para geração, de pai para filho, da escola para o aluno, é deveras preocupante e real.
Mesmo no Ensino Médio, os educandos, muitas vezes, não cultivam o hábito
da leitura, fazendo com que efetivem o ato de ler apenas para atender as
solicitações dos professores.
Essa condição foi identificada no decurso da minha prática docente no Ensino
Médio, onde os alunos demonstravam pouco interesse pela leitura, sendo uma das
consequências deste posicionamento a dificuldade na escrita e na interpretação.
Ao ter a oportunidade de participar do PDE, optei em realizar um projeto
voltado para a leitura, no sentido de mobilizar o educando a ter uma postura
favorável ao ato de ler, oportunizando a este ter uma interação maior com o texto.
Essa interação objetiva o desenvolvimento da escrita, em especial, da produção
textual que, conforme o aluno se torna um leitor, passa a ter condições de escrever
um texto marcado “[...] pela originalidade, clareza e segurança, expressando suas
idéias de forma coesa e coerente” (MENESES e TAVARES, 2010, p. 265).
Nesse cenário, considerei como importante o estabelecimento de uma prática
de leitura mais dinâmica em sala de aula, com o intuito de despertar o interesse do
estudante, para que este reconheça a relevância social do ato de ler.
Essa relevância, conforme indica Brito (2010, p. 2) advém do fato de tornar
“[...] o indivíduo capaz de compreender o significado das inúmeras vozes que se
manifestam no debate social e de pronunciar-se com sua própria voz, tomando
consciência de todos os seus direitos e sabendo lutar por eles”. Nesse sentido, ao
elaborar sua produção textual, o aluno tem condições de empregar os
conhecimentos assimilados na leitura para expressar seus posicionamentos e suas
percepções acerca do tema que está abordando.
Assim, as atividades de leitura foram desenvolvidas considerando como
principal referencial o gênero memórias, como forma de contribuir para que os
alunos pudessem ter uma relação maior com a leitura, não somente de produções
textuais, mas também de situações históricas e de suas próprias reminiscências.
Com o presente trabalho pretende-se despertar o gosto pela leitura de obras
literárias do gênero memórias, destacando a importância de tais obras,
proporcionando a leitura, análise e interpretação, tendo como principal referencial
literário a obra “Memórias Sentimentais de João Miramar, bem como conhecimentos
sobre o autor e o período histórico em que foi escrita”.
Além da abordagem dessa obra, os alunos realizarão pesquisas junto aos
moradores locais, através das quais serão levantadas informações históricas acerca
do município de Virmond-PR, valorizando os relatos orais, que serão preservados
em forma de registros escritos.
Para a organização do trabalho optou-se por elaborar uma Unidade Didática
com atividades que serão desenvolvidas com os alunos do 3º ano do Ensino Médio.
O método selecionado para a realização das atividades é o método
recepcional, elaborado por Bordini e Aguiar (2000), que contempla as percepções do
leitor para a realização da leitura, favorecendo uma interação mais significativa com
o texto, sobretudo na compreensão dos seus significados e na relação com outros
textos e vivências.
A intenção maior é permitir que o aluno estabeleça uma relação mais próxima
com a leitura, para que possa compreender sua importância, sobretudo para a
aquisição de saberes, contribuindo para a sua escrita, em especial, na produção de
textos melhor elaborados.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A escrita é um recurso de comunicação social de grande importância para o
ser humano, por dotar-lhe da capacidade de expressão, empregando a diversidade
textual para atender as mais diversas necessidades.
Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008), a escrita
representa “[...] uma formadora de subjetividades, podendo ter um papel de
resistência aos valores prescritos socialmente”. Esse papel relaciona-se ao exercício
da autonomia do estudante que, conforme reconhece Freire (1997), é uma forma de
efetivar seu posicionamento acerca dos eventos sociais, identificando sua
capacidade de interpretar e assumir posicionamentos em relação a sua percepção
pessoal, demonstrando o alcance social da prática da escrita (PARANÁ, 2008, p.
56).
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008) realçam que “A
produção escrita possibilita que o sujeito se posicione, tenha voz em seu texto,
interagindo com as práticas de linguagem da sociedade” (PARANÁ, 2008, p. 56).
Contudo, o alcance comunicativo da escrita, no âmbito escolar, ainda é
restrito, condição originária de uma prática docente tradicional, no que se refere à
produção de texto, havendo um enfoque excessivo na correção gramatical,
ignorando que um escrito também é demarcado pelo sentido que consegue
expressar.
No Ensino Médio, essa situação se acentua, devido à proximidade do
vestibular, onde a redação é um dos principais critérios avaliados. Cleide Inês Wittke
(2010, p. 2) destaca que:
[...] em algumas escolas, existem professores específicos para administrar a disciplina de redação. A esses profissionais compete a tarefa de ensinar o aluno a escrever narrações, descrições e, principalmente, dissertações. Ao propor a dinâmica da escrita, de modo geral, o professor está mais interessado em avaliar se o aluno sabe escrever de acordo com as regras da língua padrão do que realmente preocupado em saber o que o educando conhece e pensa sobre determinado assunto ou acerca da realidade em que vive.
A prática da escrita tradicional, no Ensino Médio, conforme a caracterização
efetivada por Wittke (2010), é uma característica presente também no Ensino
Fundamental, onde valoriza-se a tipologia textual, ignorando a potencialidade deste
recurso como forma de comunicação social (WITTKE, 2010).
Para Emerson de Pietri (2010), o enfoque exacerbado na tipologia textual
resulta em um texto “[...] formalmente bom – sem muitos problemas de ordem
ortográfica ou gramatical -, mas sem nada a dizer, em que não se reconhece a
existência de um sujeito responsável pelo enunciado, mas tão somente um sujeito
que reproduz o senso comum” (PIETRI, 2010, p. 144).
Essa situação, no entendimento do referido autor, não condiz com a
intencionalidade de formação de um aluno com condições de interagir no meio social
onde está inserido, que pode encontrar no texto escrito um importante recurso para
expressar seus pensamentos, posicionamentos e percepções sobre diversos temas.
O texto, de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008)
é reconhecido como “[...] um elo de interação social e os gêneros discursivos são
construções coletivas. Assim, entende-se o texto como uma forma de atuar, de agir
no mundo” (PARANÁ, 2008, p. 68).
No âmbito do Ensino Médio, é importante que o docente evidencie que o texto
é uma unidade de significação, tendo uma funcionalidade fora do âmbito escolar,
ressaltando sua condição de proporcionar a expressão humana, fazendo com que o
aluno possa se reconhecer como um autor de textos. Nesse sentido, para Lejeune
(2008), o autor é identificado como “[...] uma pessoa real socialmente responsável e
o produtor de um discurso” (LEJEUNE, 2008, p. 23).
A produção de discurso é uma constante na vida do ser humano, identificando
que a atuação social acaba deixando marcas no meio onde este está inserido.
Nesse sentido, a produção textual, ao incorporar um discurso, representa, no
entendimento de Clara Rocha (1992), uma forma de testemunho, propiciando a
constituição de uma marca escrita de sua existência.
A marca escrita remete a noção abordada por Lejeune (2008) de que o texto
retrata “[...] uma realidade extratextual indubitável, remetendo a uma pessoa real,
que solicita, dessa forma, que lhe seja, em última instância, atribuída a
responsabilidade da enunciação de todo o texto escrito” (LEJEUNE, 2008, p. 23).
A partir dessa noção realçada por Lejeune (2008), o professor necessita
realçar o alcance social da produção textual, identificando que atende as mais
diversas necessidades de comunicação, como também representando uma forma de
expressão importante para o ser humano acentuar sua presença na sociedade.
Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação a percepção do aluno da
produção textual como meio de expressão se torna possível quando se compreende
que o ato de escrever é uma habilidade que pode ser desenvolvida, exigindo
empenho e trabalho, sendo que o docente necessita criar condições para que o
estudante possa identificar a relevância da escrita para a expressão de ideias,
vivências, opiniões, críticas, entre outras (PARANÁ, 2008).
A produção textual pode ser mediada pelo gênero memória, onde o aluno
consegue elaborar um sentido para seus escritos a partir dos saberes que já domina
advindo de experiências vivenciadas, no compartilhamento de informações com as
pessoas no meio social, acrescidos dos conhecimentos adquiridos no processo de
ensino.
O gênero memória possibilita o resgate de fragmentos que possam auxiliar na
constituição do retrato de um determinado período ou evento, possibilitando que o
aluno perceba que as reminiscências servem de suporte para amparar sua escrita.
O resgate de fragmentos da memória se justifica na compreensão de Antônio
Candido (1998), devido a visão fragmentária de a vida ser “[...] imanente à nossa
própria experiência; é uma condição que não estabelecemos, mas a que nos
submetemos” (CANDIDO, 1998, p. 58).
A memória é pontuada por vivências advindas do contato com o meio social,
que são preservadas e, quando invocadas, propiciam maior poder cognitivo ao
educando para compreender determinada situação. Com isso, na produção de texto,
pode estabelecer um significado compatível com seus saberes, estabelecendo uma
escrita pontuada pela sua capacidade de comunicação, expressando seus sentidos.
Por meio da memória, o aluno tem a condição de compreender, segundo
Oliveira, Silva e Silva (2010) que a “[...] realidade do mundo não é estática, ela se
transforma, se modifica, é multifacetada e por isso, o desafia compreender o seu
próprio processo de aprendizagem, que deve ser criativo e não repetitivo e imutável”
(OLIVEIRA, SILVA e SILVA, 2010, p. 52).
A utilização de uma obra literária que contempla a memória, como a escrita
por Oswald de Andrade “Memórias Sentimentais de João Miramar”, pode servir
como recurso didático no incentivo a produção de texto. Essa obra se destaca por
apresentar, segundo Eliane Zagury (1982), “[...] uma perenidade estética, no sentido
de arte como eternidade relativa da vida, como documento transmissor do fulcro de
uma individualidade valorizada em sua especificidade” (ZAGURY, 1982, p. 22).
A obra percorre a trajetória do personagem principal, propiciando uma
imersão em suas memórias, por meio de fragmentos, onde pondera a sua
perspectiva, realçando o caráter individual das suas reminiscências. Por ser uma
obra instigante, tem a condição de oportunizar um trabalho de leitura diferenciada
em sala de aula, colaborando para despertar o gosto pela leitura, além de contribuir
para a produção textual.
Ao ser empregada como recurso didático para a produção textual, o aluno
terá condições de refletir sobre uma importante obra, como também identificar que a
escrita acaba sendo uma forma de a pessoa marcar seu testemunho sobre o que
está vivenciando, tendo como fonte principal a sua memória, que registra resquícios
de vivências e experiências que foram importantes na sua formação.
ATIVIDADES DA UNIDADE DIDÁTICA
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
As atividades serão desenvolvidas em conformidade com as etapas previstas
no método recepcional, descrito por Bordini e Aguiar (2000), cuja intenção inicial é
estimular o gosto pela leitura junto ao aluno. A partir desse interesse pela leitura, o
estudante se torna melhor capacitado para elaborar sua produção textual, pelo fato
de adquirir um vocabulário maior, ter um universo de referências mais substancial e
possuir informações sobre diversas temáticas que colaboram na elaboração de sua
argumentação no texto que irá elaborar.
Soares (2002) aponta que leitura e escrita são indissociáveis, ponderando
que os conhecimentos assimilados no processo de leitura favorecem o exercício da
produção textual, permitindo que a escrita elaborada pelo aluno consiga representar
o seu pensamento, exposto de forma coesa e coerente, sobretudo no Ensino Médio,
pois já trazem conhecimentos adquiridos ao longo da sua jornada escolar.
Nesse sentido, as atividades propostas para a produção textual partirão de
leituras prévias, intermediadas pelas etapas do método recepcional, colaborando
para que o educando tenha acesso a textos que orientem sua produção textual.
1º ETAPA – DETERMINAÇÃO DOS HORIZONTES DE EXPECTATIVAS
A primeira etapa do método recepcional é a determinação dos horizontes de
expectativas, onde a intenção é identificar as perspectivas iniciais do educando
acerca da proposta de trabalho, pautado na perspectiva da memória.
Nesse sentido, a primeira atividade proposta é a apresentação da poesia
“Memória” de Cecília Meireles
MMemória – Cecília Meireles (2004)
. Minha família anda longe
contravos de circunstancias: uns converteram-se em flores, outros em pedra, água, líquen,
[...] Minha família anda longe.
Mas eu sei reconhecê-la: um cílio dentro do Oceano...
uma ruga num caminho caída como pulseira,
. [...]
Mas sei que tudo é memória...
Após a leitura da poesia, será elaborada uma produção textual, pautada nas
seguintes questões:
PRODUZINDO UM TEXTO
a) A autora identifica que a memória é feita de fragmentos ([...] um pedaço em
cada parte... pelas esquinas do tempo). Essa condição é decorrente de que as
vivências são amplas no decurso da vida, sendo mantido na memória fatos e
eventos importantes. Nesse sentido, descreva as sensações oriundas de fatos e
eventos que marcam sua memória.
b) Há determinadas lembranças que são demarcadas por objetos, que acabam
tendo um valor sentimental e que trazem boas recordações. Na poesia, a autora
cita cílios, rugas e uma pulseira como mecanismos que remetem a sua família.
Em relação a sua memória, quais objetos que lhe trazem boas recordações e por
quê ficaram marcados em sua vida?
c) A trajetória humana, conforme identifica a autora, é demarcada pela interação
com as pessoas. Como você percebe a influência dessa interação ao longo da
sua vida?
d) A exatidão nem sempre é possível nas memórias. Nessa situação, há formas
de registro que facilitam a reconstituição dos fatos passados. Aponte algumas
formas de registro de memórias e de que forma eles colaboram para perpetuar
um momento, uma pessoa ou um evento significativo.
e) Descreva suas impressões acerca da poesia.
f) Qual a importância das memórias?
Nessas questões de interpretação, é importante que o(a) professor(a) explore a interpretação dos alunos, que possam, a partir do texto, perceberem a importância das memórias. (O)A docente pode intervir, expondo em algumas questões as suas perspectivas, com a intenção de estimular a participação dos educandos.
MOMENTO DA SOCIALIZAÇÃO
O(a) docente solicitará que alguns alunos compartilhem a produção textual,
estabelecendo um debate acerca da memória. Como fator de motivação, pode
destacar alguns eventos que podem ser recordados como conquistas esportivas,
aventuras nas férias, experiências na escola. O início do momento da socialização
pode ser efetivado por meio do compartilhamento da(o) professor(a) em relação a
algum fato ou evento que marcou sua memória.
Na sequência, aborda-se as características do gênero literário memórias,
identificando que incorpora, além de dados pessoais e bibliográficos, depoimentos
orais que oportunizam resgatar eventos importantes que influenciaram na condição
que a pessoa, a comunidade e a sociedade apresenta na atualidade, reforçando que
as lembranças são importante fonte de conhecimento.
INFORMAÇÃO IMPORTANTE
O gênero literário memórias
objetiva “[...] resgatar um
passado, com base nas
lembranças de pessoas que, de
fato, viveram esse tempo.
Representa o resultado de um
encontro, no qual as experiências
de uma geração anterior são
evocadas e repassadas para
outra, dando assim continuidade
ao fio da história” (LIMA, 2009,
p. 22).
O gênero memórias é uma importante fonte de apoio na produção textual,
onde o aluno poderá encontrar referenciais da sua vivência prática para elaborar sua
argumentação. Além disso, serve também para registrar acontecimentos, incluindo
as experiências pessoais, conforme pode ser identificado na letra da música “Eu
nasci há dez mil anos atrás”, de Raul Seixas e Paulo Coelho:
Eu nasci há dez mil anos atrás (Raul Seixas e Paulo Coelho)
Eu nasci!
Há dez mil'anos atrás
E não tem nada nesse mundo
Que eu não saiba demais...(2x)
[...]
Eu fui testemunha
Do amor de Rapunzel
Eu vi a estrela de Davi
Brilhar no céu
E para aquele que provar
Que eu tô mentindo
Eu tiro o meu chapéu... A letra da música está disponível no endereço eletrônico: <http://letras.mus.br/raul-
seixas/48309/>
O vídeo da música está disponível no endereço eletrônico:
<http://www.youtube.com/watch?v=3j2x29Lymtc>
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
a) A música é uma narrativa em forma de poema, considerando que a narrativa
é uma das principais características do gênero memórias, destaque algumas
expressões que marcam essa condição: Eu Nasci! Que eu não saiba demais.
b) O “eu poético” demonstra possuir um grande conhecimento histórico. De que
forma é possível assimilar tantos saberes? Em quais fontes podem ser
acessados? Por meio da leitura, posto que os livros são formas de registro
escrito de memórias e acontecimentos históricos, também de forma oral e em
museus, etc.
c) Como forma de suscitar a atenção em torno de sua narrativa, o autor mistura
fatos históricos reais com histórias de ficção. Exemplifique em que momento
isso ocorre. Quando diz: Eu fui testemunha do amor de Rapunzel. O amor de
Rapunzel é relatado em um conto de fadas, então ocorre uma mistura com
fatos históricos, como: Quilombo dos Palmares e Hitler.
d) No verso “Eu vi a arca de Noé”, identifica-se uma passagem bíblica, na sua
opinião, em quais fontes o autor adquiriu este conhecimento?
Através de relatos orais, leituras (bíblia, livros, etc.)
e) Discussão sobre os temas históricos abordados pela canção. Essa discussão
será mediada pelo(a) docente, considerando, por exemplo, a história da 2ª
Guerra Mundial, realçando que a leitura oportuniza a aquisição desses
conhecimentos. É importante que o(a) professor(a) relate que esses
conhecimentos são importantes para que o aluno desenvolva sua escrita,
podendo elaborar textos com maior significado.
MOMENTO DA PESQUISA
Com a intenção de oportunizar ao aluno ter uma noção mais abrangente em
relação à obra literária que norteará o desenvolvimento do projeto (“Memórias
sentimentais de João Miramar”), o(a) docente solicitará que seja feita uma pesquisa
na biblioteca e na sala de informática sobre o Modernismo. Após essa pesquisa, os
estudantes produzirão um texto destacando as informações que consideraram mais
relevantes no decurso da pesquisa acerca do Modernismo. Esse material poderá ser
coletado e catalogado em forma textual até a realização da 3ª Etapa do projeto.
Para refletir: “A vida não é o que a gente viveu, e sim o que a gente recorda e como
recorda para contá-la” (Gabriel Garcia Marques).
2º ETAPA – ATENDIMENTO DOS HORIZONTES DE EXPECTATIVAS
Nessa etapa o(a) docente proporcionará aos alunos experiências que possam
atender as expectativas que criaram a partir da 1ª etapa no que se refere à questão
da memória. Essa condição é importante para que os educandos possam
estabelecer um vínculo maior com a temática, fazendo com que prestem maior
atenção aos seus sentidos e significados, como também interajam com o
conhecimento oriundo das atividades propostas.
A primeira atividade será a visita à Casa da Memória Polonesa, que é um
local onde estão conservados documentos, relatos e fotos acerca da Colonização do
município de Virmond – PR.
Figura 1 – Casa da Memória Polonesa Fonte: Arquivo Pessoal (2013). A visita, além de proporcionar a interação com fontes históricas importantes
acerca do município, será guiada pelo Sr. Geraldo Zapahowski, que é o principal
idealizador deste espaço, sendo descendente da terceira geração de imigrantes
poloneses que chegaram ao Brasil na década de 1880. O Sr. Geraldo Zapahoswki
fará uma palestra para os alunos, esclarecendo a importância da preservação da
memória e os objetivos para a constituição da Casa da Memória Polonesa.
Após a realização da visita, os alunos elaborarão uma produção textual, em
forma de diário relatando o que foi vivenciado durante o dia, suas impressões
acerca do local visitado, do material encontrado e a importância da memória como
fonte de conhecimento.
Na sequência, os educandos iniciarão a produção e organização de uma
coletânea que conterá relatos, textos produzidos e outros materiais coletados ao
longo do projeto, que será colocada à disposição da comunidade escolar após seu
término.
Como primeira atividade, serão convidados alguns familiares para fazerem o
relato oral acerca de suas memórias envolvendo o município de Virmond – PR.
Esses relatos serão gravados para serem transcritos para comporem a coletânea.
SUGESTÃO PARA O PROFESSOR
Explore por meio de questionamentos a percepção
dos estudantes em relação aos fatos relatados
pelos convidados e também a forma com que os
fatos e eventos foram contados;
Solicite aos alunos que recontem brevemente os
eventos relatados. Questione sobre se
compreenderam o que o convidado expôs, quais
sentimentos e sensações que sentiram e se têm
alguma dúvida;
Após o registro, solicite uma produção textual para
os educandos, indicando o relato que
consideraram mais interessante ou o que mais
suscitou a atenção;
Verificar como está a transcrição dos relatos para
a elaboração da coletânea de textos
Para refletir: “O trabalho com memórias oferece um meio eficiente de vincular o
ambiente em que as crianças vivem a um passado mais amplo e alcançar uma
percepção viva do passado, o qual passa a ser não somente conhecido, mas
sentido pessoalmente. Por isso, o trabalho com a memória da comunidade não
pode se restringir à recuperação de um passado morto e enterrado dentro de uma
abordagem pitoresca ou nostálgica, como se só o que já passou fosse bom e
tivesse valor. Trata-se, antes, de resgatar memórias vivas das pessoas mais velhas
que, passadas continuamente às gerações mais novas pelas palavras, pelos
gestos, pelo sentimento de comunidade de destino, ligam os moradores de um
lugar.” (Anna Helena Altenfelder).
3ª ETAPA – RUPTURA DOS HORIZONTES E DE EXPECTATIVAS
A ruptura dos horizontes e de expectativas visa oportunizar aos alunos
identificarem que o universo das memorias é amplo e nem sempre é acessado de
forma linear, podendo ser constituído de fragmentos que recriam situações,
momentos e eventos que tiveram significado histórico.
A abordagem inicial dessa etapa será a leitura de um trecho do texto de
Remédios (1997, p.09), que oportuniza importantes reflexões sobre o motivo da
leitura de memórias.
MOMENTO DA LEITURA
Literatura confessional: espaço autobiográfico
No século XX, diários íntimos, memórias, relatos pessoais, confissões tornam-se produto de consumo corrente, marcados pela crença no indivíduo, pela atitude confessional e pelo objetivo de preservar um capital de vivências, recordações e fatos
históricos. Por que se lê uma auto-biografia? Quais as razões que movem o leitor: a curiosidade, a identificação com os problemas postos pelo autor, a procura de uma consolação, a admiração por um herói, por um artista, por uma pessoa qualquer? Parece que a literatura confessional é aquela que mais se aproxima do leitor, porque fala de um eu, de uma pessoa viva que ali se encontra e que diante do leitor desnuda sua vida, estabelecendo-se, então, uma perfeita união entre autor e o leitor.
A partir da leitura do texto de Remédios (1997), o(a) professor(a) pode
aproveitar as questões propostas pela autora e debater em sala de aula,
destacando:
a) Qual o significado de capital de vivências? Essa questão permite aos
alunos perceberem que a memória representa um patrimônio de significados e
sentidos do ser humano, constituído ao longo de sua vida. Nesse contexto, a
percepção de capital de vivências refere-se ao conhecimento adquirido no decorrer
de sua vida.
b) Por que se lê uma autobiografia? A tendência é de que os educandos
apontem como principal motivo a curiosidade, sendo importante o(a) professor(a)
destacar que, considerando este interesse inicial, é possível haver um
aprofundamento maior, relacionando-se a identificação da relevância dos fatos
narrados, da importância social do autobiografado e a intencionalidade de expor
suas memórias. Nesse contexto, o(a) professor(a) pode ressaltar que a leitura de
memórias permite a conexão com toda uma realidade social que circunda o
autobiografado, oportunizando a percepção de fatos e eventos de relevância
histórica.
C) Qual o significado do termo confessionalidade no âmbito do gênero
memória? O(A) professor(a) pode auxiliar os alunos a identificarem o significado
desse termo, realçando que se refere a textos literários demarcados pela expressão
da intimidade do autor, onde este se torna o sujeito da narrativa. Há o emprego da
consciência individual na confessionalidade, realçando que a história é escrita por
meio da percepção de quem escreve, destacando a forma com que se sentiu em
determinadas situações e eventos.
Para refletir: “O confessionalismo é, por vezes, entendido como a literatura do eu.
Em termos literários, tal atitude narrativa consubstancia-se no narrador
autodiegético (esta designação indica o narrador da história que a relata como
sendo seu protagonista, quase sempre no decurso de narrativas de caráter
autobiográfico), o que relata suas próprias experiências, como personagem central
da história” (Maria de Lourdes A. Ferraz).
Na sequência, aborda-se o significado da Semana de Arte Moderna na cultura
brasileira. Inicialmente, será efetivada a apresentação dos textos elaborados pelos
educandos acerca do Modernismo, com a socialização das informações. Após essa
atividade, será apresentado o vídeo Movimento Modernista. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=xIRD1Bj7b54 > Duração de 13min.35s.
Ao término do vídeo, o(a) professor(a) aborda as seguintes questões
envolvendo os textos elaborados e o vídeo apresentado:
a) O que foi o Modernismo?
b) Quais foram às principais críticas ao Movimento, como as efetivadas por
Monteiro Lobato?
c) Qual o principal objetivo do Modernismo?
d) Quem foram os principais idealizadores do Movimento?
e) Quais são as contribuições do Movimento para a literatura brasileira?
Ao término dessa atividade, o(a) docente aborda aspectos relacionados a
Oswald de Andrade, tendo como suporte a utilização do seguinte texto:
Meu nome é Oswáááld
Oswald de Andrade nasceu em 1890. Paulistano, viveu no bairro do Brás e no
centro da cidade. Seu nome foi dado pela avó, Dona Antônia, inspirada pelo
personagem Oswald, de um romance francês intitulado Corina, escrito por Madame
de Staël. Por isso, a pronúncia 'correta' do nome do escritor e expoente do
modernismo literário brasileiro é Oswáld (à francesa) e não Ôswald (à inglesa), como
nos habituamos a chamá-lo. Esta história está detalhada no livro de memórias do
escritor, chamado Um homem sem profissão.
Sobre a formação de uma identidade nacional
No início do século 20, a elite brasileira apoiava-se culturalmente nos hábitos e
pensamentos estrangeiros. A proposta de Oswald de Andrade para renovar a cultura
brasileira não era a de rejeitar os conhecimentos do povo europeu, mas apropriar-se
deles para criar algo novo, adequado à identidade do povo brasileiro. Por sua obra e
por suas atitudes ousadas para a época ele foi considerado o mais „rebelde‟ dentre
os modernistas.
Semana de Arte Moderna
Realizada nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 no Theatro Municipal de São
Paulo, a Semana deu visibilidade às ideias modernistas. Para intelectuais como
Mário e Oswald de Andrade, o moderno nas artes visuais, na literatura e na música
correspondia ao fortalecimento da identidade brasileira da época, sem deixar de
manter alguns laços com as correntes artísticas estrangeiras.
Oswald e a poesia
As marcas da oralidade e da cultura popular estão amplamente presentes na poesia
de Oswald de Andrade. Com seus versos livres, utilizados também por outros
modernistas, ele deixou uma herança que mudou definitivamente o modo de se
fazer poesia e literatura no Brasil. Até então a prosa e a poesia brasileiras eram
marcadas por elementos do parnasianismo. „Aprendi com meu filho de dez anos/
Que a poesia é a descoberta/ Das coisas que eu nunca vi‟, escreveu.
Oswald contestador
Para Oswald de Andrade „contestar é um dever da inteligência‟. Antes, durante e
depois da Semana de Arte Moderna, ele questionou o modo como aceitávamos a
cultura estrangeira e a forma como escrevíamos nossa prosa e poesia. Não por
acaso, conseguiu que a Semana fosse realizada em São Paulo (e não no Rio de
Janeiro que, na época, era o local de maior efervescência cultural do país)
justamente no centenário da Independência do Brasil. Isso, claro, com a ajuda dos
demais modernistas e de mecenas, como Paulo Prado.
Tupi or not Tupi
Oswald quebrou tabus, questionou a identidade cultural do povo brasileiro e
estimulou que nos aproveitássemos dos conhecimentos de várias culturas para
criarmos algo novo e adequado ao nosso povo.
O legado de Oswald
Oswald de Andrade escreveu livros de prosa, poesia e peças teatrais, cujos ecos
são perceptíveis em produções brasileiras atuais. Dentre suas obras mais
importantes pode-se destacar o Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de
Andrade, Pau Brasil, O Homem do Povo, O Rei da Vela, Serafim Ponte Grande,
Memórias Sentimentais de João Miramar, Dicionário de Bolso e A Utopia
Antropofágica.
Fonte: NADAL (2013)
PRODUZINDO UM TEXTO
Finda a apresentação de aspectos relacionados a Oswald de Andrade, o(a)
professor(a) abre espaço para que os alunos compartilhem suas percepções acerca
do autor, sendo que, ao final, solicita-se a produção textual com o tema: Oswald de
Andrade e sua participação no Movimento Modernista.
Em relação aos fatores que podem ser apresentados são: articulador da
Semana de Arte Moderna de 1922, sua proposta literária contribuiu para renovar a
literatura brasileira, atuação como agitador cultural, a postura de contestador
visando modernizar as artes e a cultura do Brasil, propositor de uma nova estética
artística para a arte nacional.
4ª ETAPA – QUESTIONAMENTOS: HORIZONTES DE EXPECTATIVAS
Na etapa anterior, foi possível criar expectativas junto aos alunos acerca da
obra de Oswald de Andrade, sendo feito um resgate histórico do Movimento
Modernista, como também apontada a sua relevância no cenário literário e cultural
brasileiro.
Nesse sentido, os estudantes terão acesso ao livro “Memórias Sentimentais
de João Miramar”, será feita a leitura em sala de aula para analisar se a obra
corresponde à perspectiva criada com a abordagem de aspectos históricos da vida
cultural de Oswald de Andrade.
Um primeiro aspecto a ser destacado pelo(a) professor(a) é de que o livro
não apresenta uma estrutura linear, mas é constituído de fragmentos que permitem
reconstituir a vida de João Miramar.
Para refletir: “Os fragmentos e não capítulos constituem-se de variados tipos de
discurso, como cartas, citações, impressões, diálogos, descrições, relatos,
poemas... E o nexo que une uns aos outros dilui-se facilmente. Isso faz da fábula
uma organização pouco precisa, mas que permite vislumbrar um Miramar na
infância e adolescência, com amizades escolares e relações familiares; sua precoce
viagem à Europa, as experiências várias dessa aventura; e o posterior Miramar,
retornado ao Brasil, em suas relações de trabalho, negócios e amizades, em seu
crescente desacerto com a esposa paralelo ao envolvimento com a amante (Rolah),
em sua derrocada econômica e sentimental e, finalmente, em seu tempo de escritor
das memórias” (Juarez Poleto).
ATIVIDADES:
a) Elabore um texto identificando o enredo do livro “Memórias Sentimentais
de João Miramar. A obra retrata os principais momentos da vida de João
Miramar: a infância de muitos estudos, a viagem à Europa e quando
retorna ao Brasil fica sabendo que sua mãe havia falecido. O casamento
com Célia, os acontecimentos que envolviam sua família durante a
Primeira Guerra Mundial, o nascimento de sua filha Celiazinha, o caso
romântico com Rolah (amante), que viria, mais tarde, a acabar com o seu
casamento. No final ele vai à falência, sua amante o abandona, Célia
morre e Miramar recupera a fortuna quando fica com a guarda da filha.
b) Destaque no texto algumas cidades em que o narrador esteve e qual foi à
experiência vivenciada. São Paulo, Veneza, Rio de Janeiro, Milão,
Barcelona. São Paulo demarca a infância do personagem, onde vivenciou
situações importantes, como a entrada na escola mista.
c) Relate algumas das experiências vivenciadas pelo personagem na
adolescência. Miramar narra sua adolescência, identificando desejos,
namoros, amigos e viagens, sempre destacando suas impressões ao
longo dos capítulos onde tais eventos ocorrem. Após a formatura no
colégio, ele e seus amigos começam a sair, ir a teatros e fazer planos de
viagens e futuro.
d) Aponte um evento na vida de João Miramar que considera importante e
justifique. A sua infância, podendo ser destacada a sua ida ao circo, na
qual desejou ser “sequestrado” pelos ciganos.
e) Identifique uma diferença da obra com outras que retratam memórias de
uma pessoa. Uma diferença reside na forma da narrativa, composta de
pequenas unidades, relatando fatos que nem sempre estão interligados,
mas oportunizam a percepção do significado das vivências para o
personagem.
f) Elabore um final alternativo para a narrativa. Após tantas experiências,
escolhi por permanecer em São Paulo, cultivando gardênias e catalogando
minhas lembranças, espalhadas em cartas, fotos, cartões-postais e
reminiscências mantidas na memória, vivendo a viuvez ao lado de um
novo companheiro: um cãozinho.
As atividades propostas procuram estimular os estudantes a terem um contato
maior com a obra, percebendo que a narrativa proposta por Oswald de Andrade
apresenta suas memórias de forma dinâmica, demandando que o leitor efetive a
leitura com atenção para encontrar o sentido exposto pelo autor.
Para refletir: “O que chamo de vida escrita é a unidade entre escrever e viver e vice-
versa, pois a escrita se faz por seus traços de memória marcados, rasurados ou
recriados, no tremor ou firmeza das mãos, no pulsar do sangue que faz bater o
coração na ponta dos dedos, na superfície das páginas, da tela, da pedra, e onde
se possam fazer traços, naquilo que não se lê, o que se torna letra, som ou sulco,
marcas dessa escavação penosa que fazemos no real” (Silviano Brandão).
5ª ETAPA: AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
A ampliação do horizonte de expectativas refere-se a percepção dos alunos
da amplitude da leitura, que oportuniza não apenas interagir com uma obra textual,
mas também de estabelecer relações intertextuais com outras obras como também
com saberes e experiências originárias do seu cotidiano. Apesar de se constituir na
etapa final, representa o início de uma interação mais significativa com a leitura,
alimentada pela continuidade do uso do método recepcional, que é de grande
importância para o desenvolvimento de um leitor melhor preparado para entender os
sentidos e os significados da obra, como também de estabelecer conexões com
outros textos e gêneros textuais.
Para refletir: “Com o aprimoramento da leitura numa percepção estética e ideológica
mais aguda e com a visão crítica sobre sua atuação e a de seu grupo, o aluno
torna-se agente de aprendizagem, determinando ele mesmo a continuidade do
processo, num constante enriquecimento cultural e social” (Maria da Glória Bordini e
Vera Teixeira Aguiar).
ATIVIDADES
A atividade envolverá a letra da música “Minha vida” de Lulu Santos, que
refaz um relato autobiográfico de sua vida. A letra da referida música está disponível
em: < http://letras.mus.br/lulu-santos/84595/>. O vídeo da música está disponível
em: < http://www.youtube.com/watch?v=16JxDZBH9U8>. O tempo de duração é de
5min.12seg.
Minha Vida (Lulu Santos)
Quando eu era pequeno
Eu achava a vida chata
Como não devia ser
Os garotos da escola
Só a fim de jogar bola
E eu queria ir tocar guitarra na TV...
Após ler a letra e assistir o vídeo, solicitar aos alunos que elaborem um texto
em forma de letra de música como a efetivada por Lulu Santos, tendo como base o
livro “Memórias sentimentais de João Miramar”, retratando as experiências
vivenciadas pelo personagem principal. O foco maior pode ser na idade adulta, por
representar a etapa onde há a descrição de um número maior de situações
vivenciadas. A sua infância é abordada nos capítulos 1 a 5. A sua adolescência é
relatada nos capítulos 6 a 20. O período adulto inicia-se no capítulo 21.
ATIVIDADE DE REFLEXÃO:
a) Aponte algumas diferenças entre o relato memorialístico elaborado por João
Miramar e Lulu Santos. João Miramar apresenta mais eventos significativos em sua
vida, ao passo que Lulu Santos sintetiza os períodos de sua vida.
b) João Miramar reconstitui sua memória a partir de fragmentos de suas vivências,
ao passo que Lulu Santos descreve os principais eventos de sua vida. O que você
identifica nessas situações? Há a identificação de que o gênero memórias permite
que se faça uma descrição ou narrativa memorialística de diversas formas,
dependendo da forma com que as reminiscência são descritas pelo autor.
c) Descreva um aspecto que você considera comum em relação a vida dos
retratados na música e no livro. O fato de terem deixado suas casas e a forma com
que as suas mães identificaram esta saída.
d) Sintetize algumas experiências de sua vida em forma de poema.
ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL
Os alunos realizarão uma entrevista com o Sr. Geraldo Zapahowski, sendo
aberto espaço para que todos façam perguntas relativas à sua vida. Os estudantes
deverão anotar as respostas e, a partir das informações colhidas, elaborar um texto
que contemple aspectos considerados como relevantes na reconstrução da memória
do entrevistado, ficando o gênero textual a escolha de cada aluno.
Após a elaboração da produção textual, os textos serão reestruturados,
socializados e organizados para comporem uma coletânea. A base para a
proposição desta atividade é o capitulo final do livro “Memórias Sentimentais de
João Miramar”.
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