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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

1 Professora PDE licenciada em Pedagogia e História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Especialista em Administração, Supervisão e Orientação Educacional: a gestão do trabalho na escola (UEPG). ² Professora Orientadora, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora Adjunta do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS DE ENSINO PARA AS

NOVAS GERAÇÕES

Profª PDE Biani Glai Venske Alves¹

Prof.ª Dra. Silvana Maura Batista de Carvalho²

A produção do presente artigo tem por objetivo sistematizar as reflexões realizadas ao longo do curso do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e as abordagens teóricas e práticas efetuadas na escola. O projeto inicial partiu de reflexões sobre a sociedade contemporânea e os desafios educacionais atuais bem como da necessidade de repensar a atuação do professor em relação às metodologias de ensino utilizadas em sala de aula. Nos rumos da sociedade atual percebe-se que o individualismo e o consumismo se apresentam como os grandes desafios do futuro, aliados ao acesso irrestrito à internet e às mídias eletrônicas. Assim, entende-se que nesse contexto sócio-educacional torna-se imprescindível repensar a questão sobre as metodologias de ensino utilizadas pelos professores em sala de aula frente aos objetivos que pretendem atingir. Para tanto, mediante a análise de questionários respondidos por alunos dos primeiros anos do Ensino Médio, construiu-se um Caderno Pedagógico norteador para desenvolvimento de oficinas pedagógicas junto aos professores das disciplinas da área de Ciências Humanas, com a finalidade de instrumentalizá-los para uma ação interdisciplinar conjunta, baseada em alternativas metodológicas. Essa ação constituiu-se na definição de uma unidade desenvolvida interdisciplinarmente utilizando-se do auxílio de uma rede social como alternativa metodológica de ensino. A realização dessa experiência somadas às reflexões suscitadas durante a implementação na escola e, também junto aos demais professores da rede pública estadual de educação do Paraná, durante o Grupo de Trabalho em Rede(GTR) resultou em uma nova perspectiva do uso da tecnologia na Educação.

Palavras chave: Formação Docente - Público Escolar - Metodologia de Ensino

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta os resultados obtidos após desenvolvimento de projeto

PDE, elaboração de Caderno Pedagógico e implementação das atividades

planejadas em um colégio público estadual na cidade de Ponta Grossa-Pr. Visa

portanto, relatar experiência vivenciada através do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), do Governo do Estado do Paraná em conjunto com a

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A partir de estudos sobre o tema Formação de Professores: práticas

docentes, uso e produção de materiais didático-pedagógicos como recursos de

ensino e aprendizagem, desenvolveu-se um projeto visando o aprofundamento de

estudos sobre a sociedade contemporânea, as reflexões sobre a educação nessa

realidade através das metodologias utilizadas em sala de aula. Esse recorte que

privilegiou a metodologia justifica-se partindo do entendimento de que “[...] os

profissionais da educação podem alterar o rumo do processo ensino aprendizagem

[ensino e aprendizagem] com mais força e determinação que planos, leis, decretos e

projetos construídos em instâncias muitas vezes distantes das possibilidades e

limites da escola [...]. (RESENDE,1995, p. 10)”

Assim, acredita-se que é na atuação diária, nos embates, nas dificuldades e

conquistas enfim, na reflexão sobre essa prática cotidiana que reside a chave para

uma educação mais significativa e motivadora para alunos e professores,

especialmente nesse momento de grandes mudanças sociais, econômicas e

tecnológicas.

Sendo assim, procedeu-se a análise das possibilidades de alternativas

metodológicas inovadoras para trabalho em sala de aula, a partir da compreensão

da visão do adolescente atual, visando contribuir para a melhoria da qualidade da

educação básica, oferecendo subsídios para a prática docente, em nível de ensino

médio. A pesquisa culminou na efetiva utilização de meios tecnológicos (telefone

celular) em sala de aula, em conjunto com uma rede social (Facebook). A

associação entre conteúdo curricular e redes sociais resultou em estímulo para a

aprendizagem do educando que de maneira leve e descontraída aprofundou seus

estudos no tema proposto (Escravidão: da antiguidade aos dias de hoje) superando

as expectativas iniciais.

O resultado favoreceu também o debate entre os profissionais da educação

sobre necessidade de repensar a utilização da tecnologia em sala de aula, pois

concluiu-se que não é possível reverter esse quadro já consolidado de acesso e

utilização da internet nas práticas cotidianas e portanto também dentro do ambiente

escolar.

DESENVOLVIMENTO

O mundo mudou, parece clichê dizer isso pois a evolução é constante, mas é

o que se pensa sempre que se reflete sobre a realidade, especialmente sobre os

últimos dez anos (primeira década do século XXI).

Ao acordar liga-se a TV no noticiário, ou o rádio talvez, se acessa a internet

enquanto se faz o café, informa-se sobre os conflitos em um país estrangeiro, a

previsão do tempo, decisões políticas polêmicas no país, os assassinatos e

acidentes, os protestos em algum lugar distante, a cotação do dólar, as alterações

de preços na cesta básica, a desenvolvimento das bolsas de valores pelo mundo,

tudo isso permeado pelo “hit” do momento.

Alguma chamada leva ao Youtube, é mais um a acessar um vídeo com

milhares ou milhões de “views” nos últimos dias ou horas. Ao mesmo tempo, faz-se

uma postagem desejando um bom dia nas redes sociais e “espia-se” um pouco do

que os amigos, seguidores ou seguidos compartilharam nas últimas horas. Se lê um

artigo sobre algum assunto de interesse, enquanto propagandas bombardeiam em

dezenas de pop ups de irritantes a sedutores.

Se surgir algum questionamento, há o Google para resolver, se não souber o

caminho, o maps indica. Durante o café pode-se visitar um museu na França,

passeia-se pelos seus corredores observando obras de arte. Pelo celular chega uma

nova mensagem. Antes de sair para trabalhar já sabe-se também sobre um novo

escândalo político, e qual celebridade está passando as férias em algum paraíso

tropical.

Na escola encontram-se os alunos animados digitando mensagens em seus

celulares. Vários deles exibem em suas vestimentas, por mais que seja o uniforme

escolar, acessórios da moda, maquiagens aprendidas em tutorias na internet, o

penteado do famoso jogador de futebol ou da celebridade internacional do momento.

Outros pequenos detalhes distinguem os alunos pelo seu gosto musical, seus ídolos,

a questão econômica não passa despercebida, assim como o desânimo na hora de

iniciar a aula.

Nesse momento os aparelhos devem ser desligados, os lugares devem ser

respeitados, o silêncio deve ser observado, abrem-se os livros, o professor posta-se

à frente da turma e, parece que somente agora, é hora de aprender. Ou seja, jovens

que cresceram em plena Era Digital são obrigados a usar lápis e caderno, ouvir

durante horas professores falando de conteúdos científicos, os quais não

conseguem fazer ligação com o seu dia a dia, dar significado, compreender. Após

horas de explicações orais, cópias e exercícios, retornam para casa e com seus

notebooks, tablet’s e celulares retomam ao “seu mundo”.

A escola parece não conseguir superar seu modelo de criação. Essa

organização escolar nasce com a modernidade e sua necessidade de preparar o

jovem para um novo mundo de desenvolvimento e progresso. Com o advento da

Revolução Industrial houve a necessidade de formar trabalhadores para as fábricas,

ao mesmo tempo, era necessária uma instituição que contribuísse na disseminação

do conhecimento verdadeiro, do saber científico.

Na sociedade atual entretanto, a disseminação do conhecimento não é mais

exclusividade da escola. Essa disseminação se faz, também na escola, mas ela se

dá na família, na igreja, na associação de moradores, nos grupos de amigos, na rua,

através do rádio, da TV, dos jornais, das revistas, das propagandas, campanhas

educativas, e, principalmente através da internet.

Isso ocorre porque, atualmente, não há mais a crença na infalibilidade da

ciência, que tem seus propósitos, muitas vezes, questionados, e, nem mesmo, na

visão redentora da educação, como preconizada pela modernidade. Boff (apud:

ASSMAN) afirma que, hoje:

[...] aprender não pode se reduzir a uma apropriação dos saberes acumulados da humanidade. Aprende-se não só com o cérebro e nem só na escola. Aprende-se a vida inteira e por todas as formas de viver. [...]Conhecer é um processo biológico. Cada ser, principalmente o vivo, para existir e para viver tem que se flexibilizar, se adaptar, se re-estruturar, interagir, criar e coevoluir. [...]. (1998, p.11-12)

Essa nova visão de educação, que inclui análise de questões emocionais e

sociais da aprendizagem, é incompatível com a escola tradicional e sua

organização. É inconcebível, até mesmo biologicamente, que um estudante

permaneça horas sentado ouvindo um professor, ou, resolvendo exercícios

mecanicamente. Na realidade atual, compreender o mundo que se vive, entender o

adolescente, suas necessidades e, principalmente, os desafios da educação nessa

sociedade e para esses jovens, tornou-se fundamental para que se possa repensar

a escola, a prática docente e suas metodologias.

Percebe-se assim, a crise da escola enquanto instituição da modernidade,

portanto, desconectada da realidade atual. Por outro lado, essa instituição, continua

sendo a única que pode tornar-se crítica suficiente para contribuir com o futuro da

sociedade que se descortina, na qual a multiplicidade das fontes de informação tem

criado na população algumas características que precisam ser mais profundamente

analisadas. Pois, segundo Lipovetsky:

Os espíritos em seu conjunto, com efeito, estão mais informados, porém mais desestruturados, mais adultos, porém mais instáveis, menos “ideologizados” porém mais tributários das modas, mais abertos porém mais influenciáveis, menos extremistas, porém mais dispersos, mais realistas, porém mais indistintos, mais críticos porém mais superficiais, mais céticos porém menos meditativos. A independência maior nas ideias vai de par com a frivolidade; a tolerância é acompanhada de mais indiferença e relaxamento na coisa pensante [...]. (2009, p. 19).

É perceptível, na sociedade atual, devido a massificação da informação, a

desorientação, não só dos jovens, mas de toda a população. Essa vulnerabilidade

apresentada pelo autor pode ser observada no comportamento, em especial dos

adolescentes, nas redes sociais. Postagens e comentários no Facebook ilustram

essa constatação. Escreve-se sobre política, religião, problemas sociais, entre

outros, retratando em grande parte, preconceito, superficialidade e incoerências.

Compartilham-se palavras de ordem, autoajuda e textos depreciativos sobre

o outro como se fossem verdades. Essa situação é compreensível se pensarmos na

multiplicidade de informações que são despejadas diariamente sobre esses jovens.

Essas informações, acessadas diariamente, apresentam conceitos, crenças,

ideologias e diferentes formas de viver. Em um mundo onde todos têm voz e podem

se expressar, é compreensível que aqueles menos esclarecidos sintam-se confusos.

A atenção, portanto, deve estar voltada, principalmente, na crítica às mídias de

massa e no seu poder de influenciar e convencer os mais desavisados.

Se o adolescente já possui naturalmente características próprias, apesar de

ter na cultura e nas condições sociais fatores que os diferenciam, que denotam

crise, devido a todas as transformações físicas, psicológicas e sociais pelos quais

passam, essa crise ganha maior proporção quando inserida nessa sociedade

indistinta. Mas não podemos analisar apenas pelo lado negativo, afinal, a crise

específica da adolescência está relacionada ao natural crescimento, e esse

crescimento implica em desorganizações e consequentes reorganizações físicas,

hormonais, psíquicas e emocionais (GUIMARÃES et all, 2004). Essas

reorganizações estão relacionadas, por sua vez, a construção de sua própria

identidade e da consciência que tem de si mesmo e do mundo.

Some-se a essas desorganizações citadas, uma gama imensa de

informações de toda natureza e em infinita quantidade. Através da internet o

adolescente tem o acesso ao mundo virtual que, no entanto, está se transformando,

cada vez mais rápido, no seu mundo real. Seus amigos estão nas redes sociais em

qualquer lugar do mundo.

Tem-se assim, um cenário perturbador. Adolescentes em crise, vivendo em

um mundo cheio de contradições, e, com acesso irrestrito a informações e

ferramentas de comunicação. Esse quadro, no entanto, pode ser revertido se essas

ferramentas eletrônicas forem utilizadas de forma adequada, através da ação de

mediadores. Entre esses está o professor, cuja ação educativa se utilize de

metodologias que estimulem o diálogo, o debate bem conduzido, permitindo o

aprofundamento de temas que fazem parte da vida do aluno, é possível conduzi-lo à

desconstrução e posterior reconstrução de conceitos que o ajudem a compreender

melhor o mundo em que vivem. Para isso é necessário fazer da tecnologia e das

mídias um potente aliado do professor.

Outra característica destes tempos acelerados de consumo é o império do

individualismo, perceptível pela busca constante da felicidade, em especial, aquela

que traz prazer imediato e se ele não vem, descarta-se e busca-se novos interesses.

Sobre essa questão comenta Libâneo:

A padronização de hábitos de consumo e de gostos vai levando a uma vida moral também descartável. O individualismo e o egoísmo estão se acentuando. Valem mais os interesses pragmáticos e imediatos dos indivíduos do que os princípios, valores, atitudes voltados para a vida coletiva, para a solidariedade, para o respeito à vida.[...] (LIBÂNEO, 1998, p.16).

Assim, numa sociedade já caracterizada pelo crescente individualismo e

egoísmo, na qual a valorização do outro cede espaço aos interesses particulares e

imediatos, encontra-se, ainda, uma nova realidade, permeada pela mídia, quando a

internet ganha um espaço considerável na formação do novo indivíduo que, em

apenas um clique, pode navegar pelas mais diversas páginas e diferentes

assuntos, com total liberdade, escolhendo, sem os limites do espaço e do tempo,

como nas mídias tradicionais e, sem as amarras do compromisso com a atividade.

Dessa forma, não se “perde tempo” com aquilo que não é “interessante”. Um

exemplo disso são as comunidades de afinidades ou grupos de interesses, sobre

os quais, como afirmam Lipovetsky e Serroy “[...] existem apenas pela escolha livre

e subjetiva, reversível e emocional de indivíduos descomprometidos, que entram e

saem à vontade dessas plataformas digitais” (2011, p 79).

O descomprometimento, a efemeridade, o culto ao individualismo e ao

consumismo, entre outros, demonstram uma tendência dos novos tempos: o

pessimismo quanto ao futuro, a preocupação constante com o que está por vir: “[...]

a absolutização do porvir histórico foi sucedida pela inquietação, pela pane das

representações de futuro, pelo eclipse da ideia de progresso.” (LIPOVETSKY, 2004,

p. 66).

Essa preocupação leva a aproveitar o agora (carpe diem), acreditando que o

amanhã poderá não ser tão promissor, contrariando veementemente, a visão

moderna que trazia em si um grande otimismo quanto ao futuro. Essa visão

pessimista hoje é observada no descrédito de grande parte da população quanto à

capacidade das instituições responderem às novas demandas sociais. A população

está mais informada, mais realista e crítica, entretanto, também está mais

desestruturada, instável e superficial (LIPOVESTKY,2009).

Os adolescentes mergulhados num mundo de incertezas, as quais já

constituem uma característica da faixa etária, ainda estão cercados de milhares de

estímulos através das mídias, dos meios eletrônicos, da internet, e ainda se

deparam com uma escola que não atende a seus interesses e necessidades. Um

sistema educacional defasado, baseado no modelo educacional do século XIX, com

propostas curriculares a compartimentalização do conhecimento em disciplinas

estanques e as metodologias ultrapassadas, além das dificuldades impostas por um

espaço e uma organização escolar ineficiente. Essas questões desestimulam

professores, ao mesmo tempo em que, desestimulam alunos levando-os a

desvalorizar a educação.

Nesse contexto social e educacional da atualidade cabe refletir sobre os

rumos que a escola e, em especial, os professores precisam seguir. Entretanto, não

se pode ingenuamente crer que a mudança possa ocorrer sem que diversos fatores

que contribuem com a manutenção do modelo escolar, sejam confrontados. A

própria autonomia da escola também revela muitas limitações diante de inúmeras

questões como a burocracia, rigidez curricular, exigência de resultados em

avaliações institucionais, entre outros. Tal situação acaba comprometendo cada vez

mais os resultados educacionais e, os professores mergulhados em novas

exigências se veem impotentes.

Mas, segundo Inbernón algumas medidas devem ser imediatas como:

A primeira ideia, é a recuperação, por parte dos professores e de qualquer agente educativo, do controle sobre seu processo de trabalho, desvalorizado em consequência da fragmentação organizativa e curricular, do isolamento, da autonomia fictícia e da rotinização e mecanização laboral. [...]. (IMBERNÓN, 2000, p. 80).

Sendo assim, é fundamental que se busque a mudança, começando pelo

questionamento dos impasses da educação atual, mas, é necessário também, a

reflexão sobre a ação exercida na escola, e, em particular na sala de aula, como

afirma o referido autor sobre a rotinização e mecanização laboral.

O isolamento tem que dar lugar à colaboração e a participação de todos.

Cabe ao professor fomentar essas discussões e, com o olhar voltado a uma nova

sociedade, repensar sua prática, pois, por maiores que possam ser as críticas à

instituição escolar, ainda precisa-se da mesma como ponto referencial de formação

intelectual, espaço de construção do conhecimento. Não é necessário destruir a

escola, mas sim, buscar no passado o que houve de acertos, o que não deve ser

descartado e, no novo, a busca por sensibilizar toda a comunidade escolar através

do diálogo.

O mundo atual não comporta mais atitudes autoritárias, portanto, a tarefa

imediata é ouvir, refletir, dialogar e reconduzir a escola pois:

A humanidade chegou numa encruzilhada ético-política, e ao que tudo indica não encontrará saídas para sua própria sobrevivência, como espécie ameaçada por si mesma, enquanto não construir consensos sobre como incentivar conjuntamente nosso potencial de iniciativas e nossas frágeis predisposições à solidariedade. [...]. (ASSMANN, 1998, p.28).

Sendo assim, percebe-se a importância de repensar a escola, o trabalho

docente e, especialmente, suas metodologias, que já não atendem mais a uma

sociedade que tem valores distintos aos da modernidade. Os jovens de hoje estão

altamente motivados para tudo que diz respeito ao novo, e a escola tem a tarefa

fundamental de inserir-se nesse novo mundo e, compreendendo a visão e os valores

propagados pela atual geração, oferecer subsídios, meios, que possam fazer com

que o jovem encontre significado e importância na instituição escolar e, possa

reconhecer as contribuições no seu processo de formação pessoal e social.

Sendo assim, o projeto aqui proposto visou buscar o diálogo, primeiramente

com os maiores interessados em uma escola mais voltada à sua realidade, os

alunos, para entender um pouco mais sobre a visão que o adolescente atual tem a

respeito da escola e, então, refletir sobre novas possibilidades para docência, que

poderiam tornar mais efetivo e significativo o trabalho do professor. Em suma,

buscou-se no aluno indícios para nortear a busca por novas metodologias de ensino.

Entende-se também, o papel fundamental do professor como mediador e

orientador do processo de ensino e de aprendizagem. É necessário que esse

profissional esteja, portanto, atento às novas demandas da sociedade, que se

instrumentalize com novas metodologias e tecnologias, que busque o conhecimento

e avalie constantemente sua prática para poder contribuir, de forma mais eficiente,

no processo de formação escolar dos educandos para os desafios diários da vida.

Sabe-se, que a geração que hoje está nos bancos escolares nasceu e foi

criada em plena Era Digital e da Informação, consequentemente, possui valores

bastante distintos das gerações anteriores. O individualismo, o consumismo e o

descomprometimento com aquilo em que não percebe importância é a tônica de

jovens que estão conectados virtualmente ao mundo todo mas, sem ligações

concretas com o outro, com o próximo. Tanto que, alguns como Cecchettini, os

intitulam de geração Z, devido ao termo zapear (2011, p.7), que ilustra essa

característica descompromissada.

Além disso, esse jovem de hoje não aceita imposições, as quais são

incompreensíveis para sua visão de mundo. Por isso, a escola deve se abrir às

novas realidades, aceitar e compreender as novas necessidades, outras culturas,

diversas formas de viver. Para além da compreensão do perfil do jovem atual, cabe

à escola atender à necessidade de inserir esses alunos no mercado de trabalho e

prepará-los, criticamente, para as questões éticas e políticas fundamentais na

construção de uma sociedade mais humana e justa.

Não se trata de condenar o consumo, o individualismo, ou as mídias, mas,

compreender a sociedade que se descortina e, assim reorientar os rumos da escola

e do trabalho do professor para esse novo mundo. “O que está em jogo aqui é

realmente fazer com que o mundo, e o desejo de se inserir nele, entre na escola.

Uma escola não mais fechada em si mesma, mas aberta e voltada para a vida [...] .”

(LIPOVETSKY, SERROY, 2011, p. 160).

Para que a escola realmente volte-se para a vida é necessário que haja uma

significativa mudança no que diz respeito às relações sociais dentro da escola. Para

isso, entende-se que a ação do professor é fundamental na medida em que cabe a

ele criar novas maneiras de incentivar e de buscar a participação dos alunos em sala

de aula. Essa participação se dará tanto pelas relações entre professor e aluno, visto

que somente se houver confiança entre aluno e professor, haverá ensino e

aprendizagem, quanto pelos meios metodológicos e tecnológicos que devem ser

inseridos nas aulas, tornando-as mais estimulantes.

A inserção de novas metodologias e de novos meios tecnológicos no Ensino

Médio está previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s):

A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação. Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização [...]. (2000, p. 05)

Assim, partindo-se dessa perspectiva de formação geral e capacidade de

utilização de diferentes metodologias é possível entender que as inovações na

escola são necessárias e desejadas há algumas décadas, e que as mudanças nas

práticas metodológicas, visando uma maior conexão com a realidade da sociedade

atual, estão presentes e indicam o caminho da utilização dos vários meios

tecnológicos à disposição de alunos e professores. Nesse repensar das práticas

pedagógicas não há mais espaço para métodos que privilegiem o acúmulo de

conhecimentos através da memorização, o que se pretende hoje, é levar o aluno a

buscar de maneira autônoma e crítica, a construção de seu próprio conhecimento.

Entende-se assim, a importância de repensar as metodologias devido a esse

novo aluno extremamente informado, mas, nem sempre orientado, não sabendo,

muitas vezes, filtrar as informações a que tem acesso. Esse aluno que domina o

mundo digital, mas, pode apresentar dificuldades em relacionar-se no mundo real. E,

nesse ponto o papel do professor se faz fundamental na medida em que tem a

possibilidade de, através da sua prática, conduzir o aluno a decifrar os códigos que o

levarão a apropriar-se do conhecimento, entendendo, assim, o significado da cultura

e da educação para sua vida, tornando-se mais consciente, crítico e preparado para

os desafios futuros.

Por outro lado, entende-se, que a tecnologia, as mídias, as redes sociais, e os

meios de comunicação em geral podem se tornar instrumentos de transformação

social se puderem estar lado a lado com uma educação de qualidade. Através dos

diversos meios de comunicação pode-se construir uma escola mais democrática,

participativa e adequada a cada estudante. Ainda, no caso específico dos

conteúdos, devem ser planejados tendo em vista a realidade do aluno, como afirma

Moran:

[...] uma escola que fale mais da vida, dos problemas que afligem os jovens. Tem que preparar para o futuro, estando sintonizada com o presente. É importante buscar nos meios de comunicação abordagens do quotidiano e incorporá-las criteriosamente nas aulas. [...] ( 2007, p. 163).

Esse deve ser o grande avanço da escola, a inserção e utilização de todos os

meios que se tem à disposição para tornar as aulas mais atraentes, com métodos

que privilegiem e observem essas características da sociedade e dos adolescentes.

A energia da instabilidade emocional, da criatividade, e da abertura ao novo, não

devem ser reprimidas, e, sim, direcionadas ao desenvolvimento de projetos e

pesquisas relacionadas com seus interesses e utilizando das ferramentas

eletrônicas com as quais possuem tanta familiaridade.

Produção de blogs, videologs, jornais e telejornais, apresentações em power

point, e desenvolvimento de grupos de discussões no Facebook podem ser algumas

das alternativas que podem substituir as avaliações convencionais. A criação de

paródias, peças de teatro, construção de maquetes e ações de protagonismo

incentivado através do envolvimento do aluno em campanhas sociais, possibilitam

que o aluno envolva-se não apenas intelectualmente, mas também emocionalmente

no projeto em realização, tornando a aprendizagem mais significativa.

Para que isso ocorra, entretanto, é necessário repensar o papel do professor

e sua prática, pois, se a referência anterior sobre os ideais da modernidade, que

determinaram a organização escolar e, que continuam presentes na escola atual,

não se pode deixar de perceber que muitos professores também continuam

preparando suas aulas e atuando do mesmo modo autoritário e repressor. Expondo

conteúdos exclusivamente veiculados nos livros didáticos, sua única fonte de

consulta muitas vezes, ou, reproduzindo os mesmos conteúdos por anos sem

atualizá-los, ou, nem mesmo contextualizá-los à vida do estudante.

Diante desse contexto contraditório, o professor tem o desafio de repensar e

modificar sua prática, visto que, os tempos são outros, a sociedade é outra, os

jovens estão cada vez mais informados e não aceitam imposições. O professor não

é mais o detentor exclusivo do conhecimento e precisa, portanto, ouvir, compreender

e, ir ao encontro dessas novas necessidades da sociedade atual e dos jovens em

geral. Nessa nova era do conhecimento e/ou da informação, é improdutivo, para não

dizer impossível, continuar com os conceitos modernos de prática docente. Como

afirma Magalhães, que na:

[...]era da internet, o professor não é a única e nem a mais importante fonte do conhecimento. O indivíduo é bombardeado de informações a todo momento e através de diversas fontes. Cabe ao docente, mais do que transmitir o saber, articular experiências em que o aluno reflita sobre suas relações com o mundo e o conhecimento, assumindo o papel ativo no processo ensino-aprendizagem, que, por sua vez, deverá abordar o indivíduo como um todo e não apenas como um talento a ser desenvolvido. O desafio está portanto na incorporação de novas tecnologias a novos processos de aprendizagem que oportunizem aos discentes atividades que exijam não apenas o seu investimento intelectual, mas também emocional, sensitivo, intuitivo, estético, etc, tentando não simplesmente desenvolver habilidades (Dewey/Anísio Teixeira), mas o indivíduo em sua totalidade. [...]. (2001, p. 01).

O caminho a ser proposto para a prática de professores na atualidade, é ouvir

a sociedade, ouvir seu aluno, compreender suas necessidades, inseri-las no

planejamento curricular e, através do diálogo, buscar os caminhos de novas

metodologias que atendam aos interesses e necessidades dos jovens. O professor

tem como papel fundamental sistematizar e organizar as informações e

conhecimentos trazidos pelos estudantes, que chegam de forma difusa e desconexa

muitas vezes, e, orientar as discussões de modo a dar sentido a essas informações,

construindo, desse modo conceitos, significados.

Em meio a uma sociedade tão rica em sua diversidade, mas também difusa,

desorientada e pessimista em relação ao futuro, entendemos que o papel da escola

e do professor, em especial, tornou-se fundamental e urgente. Não cabe mais ao

professor a simples transmissão de conhecimentos, mas sim despertar no estudante

o pensamento crítico e a sensibilização sobre os desafios da construção de uma

sociedade mais justa e humana.

Reconduzir os rumos da humanidade tornou-se, especialmente nos dias

atuais, não uma simples utopia, mas uma necessidade de sobrevivência. Para tanto,

entende-se a necessidade de levar adiante, em especial aos profissionais da

educação, essas reflexões visando causar um certo desconforto concretizado na

compreensão de que mudanças significativas e urgentes devem ocorrer, e elas

devem vir do interior das salas de aula. Assim, esclarecer, motivar e instrumentalizar

professores para atuar nesse repensar a sociedade atual tornaram-se objetivos

desejados e esperados através da metodologia definida e descrita na sequência.

METODOLOGIA

Para que essas reflexões pudessem ser levadas aos docentes e os objetivos

propostos fossem atingidos, iniciou-se a implementação das atividades já no início

do segundo semestre de 2013 com a aplicação de questionários a duas turmas do

1º ano do Ensino Médio com aval da direção e equipe pedagógica do colégio.

Na sequência a tabulação e análise desses questionários tornaram-se o ponto

de partida para constatações acerca das preferências e necessidades dos alunos.

Assim, partindo dessa análise a luz do referencial teórico estudado, construiu-se o

material didático em forma de Caderno Pedagógico, sistematizando os conteúdos a

serem debatidos com os professores e apresentando materiais de apoio e

enriquecimento como os gráficos, com os resultados do questionário aplicado aos

alunos, textos complementares, vídeos, sugestão de sites, livros, entre outros.

Num segundo momento, direção e equipe pedagógica foram novamente

contatadas para esclarecimentos a respeito do projeto em desenvolvimento e

solicitação de espaço durante a Semana Pedagógica realizada de 03 a 06/02/2014.

Acatada a solicitação, iniciou-se na primeira semana do ano letivo de 2014, a

implementação dessas práticas com a apresentação do projeto de trabalho. Essa

apresentação inicial despertou o interesse de diversos professores que chegaram a

comentar que o tema poderia fazer parte dos estudos da Semana Pedagógica visto

ser um tema atual e voltado à prática de sala de aula.

Na apresentação salientou-se a importância do professor ter momentos de

estudo fora do ambiente de trabalho e, especialmente, da importância de retomar a

pesquisa com base nas experiências de sala de aula. O retorno à Universidade, o

estímulo à busca de novos autores e, consequentemente a troca de experiência com

professores tanto da universidade quanto de outras instituições escolares. Nos dias

que se seguiram novos convites foram feitos além da exposição de banners sobre o

projeto na sala dos professores.

Após período de volta a rotina, ajustes de início de ano, organização de

horários de aula entre outros, realizou-se a primeira oficina de estudos tratando-se

sobre o tema Hipermodernidade e Educação: uma análise da sociedade

contemporânea e cultura e educação em uma sociedade midiática. Nesse momento

o fato de não haver uma certificação pelo grupo de estudo desmotivou alguns

professores que privilegiaram cursos que oportunizassem horas para avanço na

carreira profissional do Estado. Assim, contando com alguns professores, direção e

equipe pedagógica, iniciaram-se os estudos.

No segundo encontro, motivados pela análise dos resultados do gráfico sobre

o resultado da pesquisa com os alunos, debateu-se e produziu-se um plano de aula

interdisciplinar como previsto no Caderno Pedagógico. Nesse encontro houve a

definição do trabalho em conjunto a ser realizado entre as disciplinas de História e

Filosofia atingindo mais um dos objetivos previstos no planejamento. Ficou definido

o tema de trabalho “Escravidão”, comum à ementa das duas disciplinas e como

metodologia a experiência de organizar um grupo fechado para discussão sobre o

tema através da rede social Facebook.

Contando com a colaboração da direção do colégio que disponibilizou uma

senha de wi fi e permitiu a utilização de celulares durante as aulas das referidas

disciplinas, iniciou-se a implementação do projeto de intervenção pedagógica com a

explicação aos alunos sobre o trabalho a ser desenvolvido, tema, metodologia e

critérios de avaliação. Os quais puderam pesquisar textos, vídeos, músicas,

poemas, imagens entre outros, utilizando-se da tão familiar tecnologia. Suas

postagens eram curtidas e comentadas por outros colegas e debatidas nas aulas de

História e Filosofia, com cada professora direcionando a discussão de acordo com

as particularidades e objetivos de cada disciplina. Enquanto isso, paralelamente

continuavam as oficinas com os professores, agora sobre o tema Metodologia de

Ensino e Alternativas Metodológicas para as Nova Gerações.

Com o projeto sendo desenvolvido concomitantemente passou-se à nova

etapa com a realização da oficina junto aos professores abordando o tema

Interdisciplinaridade e planejamento da ação interdisciplinar. Nessa etapa as

docentes envolvidas na ação interdisciplinar discutiram os primeiros resultados

alcançados e os novos rumos a serem trilhados, procedendo assim a um

replanejamento.

No final do mês de abril/2014 um novo encontro para avaliação preliminar

concluiu que os resultados eram animadores. Alunos trouxeram vertentes do tema

Escravidão muitas vezes não debatido em aulas regulares. Muitos motivados

passaram a fazer postagens diárias e a esperar pelas aulas para poder pesquisar e

discutir questões como a escravização do pensamento, das modas, das fábricas

clandestinas, do consumo, dos negros, da mídia, escravos sexuais em todos os

tempos, ou seja, uma gama infindável que resultou na desconstrução da imagem da

escravidão exclusivamente como associada à africanos ocorrida na Era Moderna.

Esse resultado preliminar foi confirmado quando posteriormente os alunos foram

reunidos para uma avaliação geral sobre o trabalho realizado.

Nessa oportunidade junto com os alunos constatou-se que os objetivos

previamente estabelecidos confirmaram-se. O entusiasmo, a busca do

conhecimento pela pesquisa, o debate suscitado pelas informações trazidas pelos

próprios alunos, bem como a reflexão sobre a construção histórica e filosófica de

seu modo de vida associado ao meio utilizado (rede social), tão familiar à maioria

dos alunos, resultou em uma avaliação de modo geral positiva por parte dos

mesmos.

Inclusive, como foi sugerido por uma aluna a formação de um novo grupo

fechado, nos mesmos moldes do trabalho desenvolvido, com a intenção de

aprofundamento de estudos visando o Processo Seletivo Seriado (PSS) da

Universidade Estadual de Ponta Grossa. Nesse grupo professores das diversas

disciplinas seriam convidados a postar questões e os alunos interessados a

responder as quais seriam corrigidas posteriormente. A maior restrição se deu pela

falta de acesso de alguns alunos à internet, que os obrigaram a utilizá-la somente

quando oportunizado em sala de aula.

Da mesma forma na avaliação final da ação interdisciplinar, as professoras

envolvidas mostraram entusiasmo e desejo de prosseguir com o projeto em outros

temas. O aprofundamento das discussões sobre o tema de estudo foi considerado

um ponto muito positivo, bem como a facilidade de monitorar as discussões via

internet e as reais possibilidades de trabalhar com as redes sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar o trabalho faz-se necessário retomar os objetivos iniciais, entre os

quais estava o desejo de chamar a atenção e despertar o interesse dos

adolescentes em relação às tarefas e atividades escolares. Há dúvida se apenas o

uso da tecnologia daria conta da melhoria da qualidade da educação e quais

atitudes e comportamentos seriam desejados ou necessários nos profissionais da

educação para auxiliar nessa onda irreversível de mudança.

Quanto ao primeiro objetivo pode-se afirmar que houve por parte dos alunos

uma grande disposição em relação às atividades propostas durante o

desenvolvimento do projeto. A possibilidade de utilizar de uma rede social para

construção do conhecimento apresentou inúmeras vantagens. Segundo Tomaél,

Alcará e Di Chiara a rede é “[...] uma estrutura não linear, descentralizada, flexível,

dinâmica, sem limites definidos e auto organizável, estabelece-se por relações

horizontais de cooperação [...] (2005, p. 94). Assim, ajusta-se adequadamente ao

jovem atual que não consegue mais adaptar-se a esquemas rígidos, controlados e

hierárquicos.

Segundo os mesmos autores:

A literatura nos permite inferir que as redes sociais são recursos importantes para a inovação, em virtude de manterem canais e fluxos de informação em que a confiança e o respeito entre atores os aproximam e os levam ao compartilhamento de informações que incide no conhecimento detido por eles, modificando-o ou ampliando-o. (TOMAÉL, ALCARÁ, DI CHIARA, 2005, p.102)

Desse modo, as redes sociais permitem ao educando buscar informações que

serão agregadas ao seu conhecimento prévio com possibilidade de ampliar a

compreensão através de trocas e compartilhamentos dessas informações com seus

colegas de maneira natural ao seu modo de vida, pois essas trocas e

compartilhamentos de informações, sonhos, desejos já fazem parte de sua rotina.

No ambiente escolar o diferencial é a mediação que ocorre por parte do professor

que não reprime, apenas fomenta a discussão e encoraja a busca de novos dados a

serem incorporados aos anteriores. Essa construção conjunta ocorre pois há a

segurança e confiança entre os envolvidos, tornando-os protagonistas na ação de

construção do próprio conhecimento.

Outro ponto positivo observado foi a possibilidade do trabalho conjunto sem

as tensões de formação de grupos, divisão de tarefas ou da necessidade de

deslocamentos para realização do trabalho. A liberdade tão desejada pelos

adolescentes encontrou naturalmente a associação ao trabalho cooperativo tão

eficiente na educação.

Para que seja mais eficiente, o compartilhamento da informação e do conhecimento em rede requer a adoção de uma postura de cooperação, em que os atores utilizem múltiplos recursos, valorizando tanto o contato pessoal quanto o uso da tecnologia como ferramenta de comunicação que culmine no aprendizado. (Ibidem)

Essa associação entre o virtual e o presencial, entre a utilização da tecnologia

e a tradicional sala de aula mostrou-se portanto, não apenas possível, mas também

uma experiência de sucesso devido as inúmeras possibilidades apresentadas. As

informações pesquisadas, selecionadas e compartilhadas foram alvo de debates

fazendo os alunos perceberem que não existem informações mais ou menos

importantes e portanto, retirando a sua preocupação quanto ao julgamento sobre o

seu trabalho, levando-os a compreender a importância de sua contribuição como

parte da construção coletiva do conhecimento.

Finalizando, sabe-se que a utilização das novas tecnologias já vem sendo

implementado pelos governos federal e estadual a mais de uma década. As escolas

em sua maioria já encontram-se servidas de laboratórios de informática. Tablet’s

estão sendo disponibilizados aos professores e cursos, promovidos pelas

coordenações regionais de tecnologia educacional (CRTE’s), complementam a

formação dos profissionais para a utilização desses meios nas escolas. Além disso o

Programa Ensino Médio Inovador–ProEMI e o Pacto Nacional pelo Fortalecimento

do Ensino Médio, ambos do Ministério da Educação, incentivam essa prática

visando atender às atuais demandas do público escolar atual.

Sendo assim, conclui-se que está na efetiva implementação e utilização

desses meios tecnológicos disponíveis na escola, em conjunto com uma ação

mediadora do professor, estabelecendo limites e critérios, conduzindo democrática

e criticamente o processo de ensino e aprendizagem, um caminho para a melhoria

da qualidade da educação.

REFERENCIAS

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