os desafios da escola pÚblica paranaense na … · pensamento empírico que o veem relacionado com...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
BLOG E AULAS DE LÍNGUA INGLESA – POR QUE NÃO?
Mariliza Fatima Ravanelli Sabbi1
Rose Maria Belim Motter2
Resumo: Este artigo pretende demonstrar os resultados do trabalho desenvolvido durante dois anos de estudos no Projeto PDE, na disciplina de Língua Inglesa, com o Projeto de Implementação “Blog e Aulas de Língua Inglesa – Por que não?” que foi realizado no Colégio Estadual de Renascença – PR, com os alunos do nono ano, do ensino fundamental. Tendo o moviemaker “We are champions because we believe in dreams” como base de discussão sobre o tema esportes e superação, os alunos pesquisaram, produziram pequenos textos e criaram o blog News English Diaries, onde fizeram seus trabalhos relacionando esportes, superação e a Copa do Mundo de 2014. Este artigo se amparou nas teorias de estudiosos como Becker, Moran, Motter, Pavanatti, Gonçalves, Blood, Wolynec, Vieira dentre outros. Também discutir-se-á os principais pontos positivos e negativos enfrentados na Implementação do Projeto em questão. Palavras-chave: Lingua Inglesa. Aprendizagem. Blog educativo. Abstract: This article aims to demonstrate the results of the work developed during two years of study in PDE Project, in the English discipline, with the Target Implementation Project “Blog and English Classes – Why not?” that was developed in the Colégio Estadual de Renascença – PR, with ninth grade of elementary school. It was had the moviemaker named “We are champions because we believe in dreams”, as a basis for discussion of sports and overcoming theme, students researched, produced small English texts and created the News English Diaries Blog, where did their works relating to sports, overcoming and the World Cup 2014. This study was based on the theories such as Becker, Moran, Motter, Pavanatti, Gonçalves, Blood, Wolynec and Vieira among others. It will also be discussed the main positives and negatives points faced in Project Implementation. Keywords: English language. Learning. Education blog.
1 Introdução
A Escola deve andar ao lado da evolução, lançando mão de tudo que implica
em melhorar a qualidade do ensino e a aquisição do conhecimento. O professor de
Língua Estrangeira Moderna - LEM, no caso a Língua Inglesa – LI -, não pode se
abster de utilizar as ferramentas tecnológicas digitais de que a sociedade hodierna
dispõe, no sentido de propiciar ao educando a aprendizagem da LI que pode, em
um futuro muito próximo ser, objeto de trabalho do estudante.
1 Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – 2013/2014, pertencente ao NRE
de Francisco Beltrão atuando no Colégio Estadual Renascença Padre José Junior Vicente – Ensino Fundamental e Médio; Graduada em Letras/inglês pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Palmas – PR; Especialista em Comunicação Falada e Escrita pela CAEDHRS de Pato Branco e em EJA pela UTFPR; [email protected] 2 Professora orientadora Rose Maria Belim Motter da Unioeste, Curso de Letras. Dra. em Engenharia
e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina.
A aprendizagem de uma Língua Estrangeira nem sempre tem tido o sucesso
esperado nas escolas públicas, é comum os professores estarem à procura de como
atingir o gosto e o conhecimento mínimo do Inglês. Já que a língua tem sido vista
como difícil, longe do cotidiano. Professor e alunos repetem frases do tipo “What´s
your name?” como situação de uso do inglês, sem avançar na perspectiva de
promover a interação pelo idioma alvo, quando se sabe que há uma imensidão de
chances reais de uso sem ser exploradas e que são oportunidades bem mais
interessantes e aprazíveis do ficar em sala de aula com atividades metódicas com
foco restrito em repetição de frases prontas ou atividades estruturais.
Os alunos mostram-se desmotivados, pois sentem a Língua em questão
como algo distante, inacessível. E em outros casos a metodologia do professor é
pautada em exercícios prontos, repetitivos que em nada representam situações
possíveis de uso.
Objetivando proporcionar ao aluno um espaço real de contato com a Língua
Inglesa, criamos um blog, atividade inovadora para a grande maioria do público alvo
e de oportunidade de apropriação do conhecimento dessa língua. O objetivo
também foi de, despertar o interesse dos estudantes para a aprendizagem de inglês,
por meio de atividades interativas, reais e prazerosas onde se pode propiciar a
prática de diferentes habilidades, em diferentes textos. Pois, segundo (WOLYNEC,
2007, s/p) “A Era da interatividade é uma evolução natural da Era da informação”. O
que incentiva trabalhos em grupos e a troca de informações.
Esta proposta foi apresentada e discutida com os cursistas do Grupo de
Trabalho em Rede, GTR 2014, com a comunidade escolar: direção, pedagógico,
professores, alunos e pais dos alunos do nono ano do ensino fundamental - público
alvo da implementação do projeto: Blog e Aulas de Língua Inglesa – Por que não?
Hoje o momento é de aprender e de interagir com o mundo digital e o conhecimento
do ponto de vista de Becker (2009) não se dá pelo empirismo e nem pelo apriorismo,
mas sim, pelo conhecimento construído. O homem age no meio em que vive e
reconstrói sua aprendizagem usando da reflexão de seus atos, resultando numa
interação com seu meio cultural e com isso o espaço de aprendizagem deve estar
inserido e inserir o aluno na História e no espaço social.
Vale ressaltar que a proposta de criar um Blog foi para que os alunos
participassem ativamente da sua construção em todos os seus aspectos: tema,
layout, nome, tudo que seria publicado seria discutido e decidido pelo grupo. Isso fez
com que os alunos se mantivessem interessados e comprometidos com o trabalho.
Segundo as avaliações escritas dos educandos o trabalho foi bom, eles tiveram a
oportunidade de mostrar sua criatividade, seus interesses e querem que o Blog
continue a ser alimentado, mudando o tema.
Este artigo pretende demonstrar os resultados do trabalho desenvolvido
durante dois anos de estudos no Projeto PDE, na disciplina de Língua Inglesa, na
criação do Blog pelos alunos, seus pontos positivos e negativos e para isso se
amparou nas teorias de estudiosos como Becker, Moran, Motter, Pavanatti,
Gonçalves, Blood, Wolynec, Vieira entre outros. Na fundamentação teórica será
discutido com base nas Diretrizes Curriculares Estaduais, DCE e em estudos de
autores já citados, o ensino aprendizagem do Inglês, explanando o Projeto de
Implementação, as discussões do GTR 2014 e a Implementação do Projeto,
analisando seus pontos positivos e possíveis pontos negativos, encerrando com as
considerações finais.
2 As teorias e estudos da língua inglesa: reflexões
Ao estudar uma língua, não é possível desvincular-se de seu significado. Ela
reflete o pensamento e a cultura do individuo, uma vez que é por ela que o mesmo
se expressa. Ao definir a Língua como objeto de estudo da Língua Estrangeira
Moderna, as DCE contemplam
As relações com a cultura, o sujeito e a identidade (...) ensinar e aprender línguas é também ensinar e aprender percepções de mundo e maneiras de atribuir sentidos, é formar subjetividades, é permitir que se reconheça no uso da língua os diferentes propósitos comunicativos, independente do grau de proficiência atingido.(2008, p.55)
Desta forma pressupõe-se que o ensino aprendizagem da LEM- Inglês deva
ser significativo para o aluno, indo além de estruturas gramaticais ou linguísticas,
não que estas não sejam importantes, não deve, porém, ser o único objetivo da
aprendizagem. Ainda na DCE (2008, p.66) “Com relação à escrita, não se pode
esquecer que ela deve ser vista como uma atividade sociointeracional, ou seja,
significativa”. Escrever deve ser uma atividade que desperte o interesse do aluno,
sendo contextualizada, e não apenas como um fazer escolar, desconectado, com
exercícios soltos, baseado em estruturas repetitivas.
Segundo Becker (2009) “o conhecimento não nasce com o indivíduo, nem é
dado pelo meio social. O sujeito constrói seu conhecimento na interação com o meio
tanto físico como social”. Se o conhecimento é construído a partir da ação e
reflexão, não pode a aquisição do conhecimento escolar basear-se na decoreba ou
em atividades desconexas.
A maioria dos educadores não consegue definir o conhecimento, ficam ou no
pensamento empírico que o veem relacionado com os sentidos ou no apriorismo,
que acredita que o indivíduo nasce inteligente ou não. Não relaciona o conhecimento
com a troca entre o Mundo, os sujeitos e suas relações. Para Becker (2009) o
conhecimento na visão apriorista é inato, vem como uma bagagem hereditária, que
amadurecerá com o tempo. O indivíduo só tem a aprimorar e o mundo tem apenas a
função passiva e, é dessa linha o professor que afirma que “ninguém ensina
ninguém”. Para um professor é comum permanecer no meio dessas correntes, se
ele não fizer uma reflexão aliando a prática com a teoria, sobre o assunto.
O conhecimento se dá, retirando o que é de seu interesse, do meio social,
reconstruindo seu pensamento, mantendo assim uma dinâmica entre teoria e
prática. Em síntese, resulta na sala aula: se o professor for empirista ele ensinará a
teoria, exigindo do aluno que a aplique sem examinar e levar em consideração as
práticas anteriores, e se for apriorista, o aluno receberá o conceito e terá que
apreendê-lo, pois o considera como alguém provido de conhecimento e deve apenas
melhorá-lo. Não levarão em consideração todos os estratos sociais, privilegiarão
alguns. O construtivista procurará ver o aluno como fruto de um meio cultural e
social, com uma bagagem hereditária que interage com o conhecimento produzido,
há muitos anos por uma população que traz consigo uma bagagem riquíssima e
deve ser levada em consideração.
Dentro dessa visão o “aluno é um sujeito cultural ativo cuja ação tem dupla
dimensão: assimiladora e acomodadora” (BECKER, 2009, p.5). O professor precisa
refletir sobre a sua prática pedagógica e quem é o sujeito. O espaço de
aprendizagem precisa estar dentro da História e num espaço social. A Escola deve
construir um conhecimento novo, que analisou os conhecimentos dados e construiu
um, em interação com o meio, através da reflexão das ações que acrescentam ao
Universo.
É interessante observar, segundo Pavanatti et al (2010) que da Grécia Antiga
vem a ideia de que o corpo é separado da mente. Pensava-se o corpo como a
dimensão física e a alma como espiritual. Posteriormente este dualismo passou a
ser um problema, pois os desejos da mente começavam a interferir nas ações do
corpo, perfazendo a individualidade do ser humano. A relação corpo e mente foi
essencial dentro da cognição, mesmo achando impossível compreender a unidade
entre ambos. Nasce então um novo paradigma: o “enfoque corpóreo”, tomando
como passível de que corpo e mente estão unidos. Segundo os autores acima
citados, a revolução cognitiva foi “marcada em seus primeiros anos pelas discussões
das hipóteses do que seriam a cognição e a ciência do conhecimento, e pela
cibernética, com o aparecimento dos primeiros computadores” (PAVANATI et al
2010, p.90).
O conhecimento humano começou a ser investigado, inicialmente, por
filósofos e psicólogos, porém com o passar do tempo, algumas outras áreas do
conhecimento passaram a interessar-se em descobrir os caminhos da mente.
Essas ciências analisam três paradigmas: o simbolismo ou cognitivismo que
não considera que o corpo interfira na aprendizagem; o conexionismo analisando o
conhecimento através de sinapses e o paradigma corpóreo que acredita que o corpo
interfere na aquisição do conhecimento.
O simbolismo, de acordo com Pavanati et al (2010) faz uma analogia entre os
computadores e a mente humana, quando compara a educação herdada e a
adquirida com o computador, pois tem o hardware - a estrutura e o software - a
programação. Vale dizer que essa comparação se dá na parte funcional. A cognição,
nesse caso, se dá através de símbolos, o cérebro é o processador destes.
Relacionando-se com essa teoria a Inteligência Artificial (IA) a partir 1930,
participava dessa teoria, porém como foi muito difícil comprovar cientificamente esta
ideia a IA passou a dividir-se na pesquisa conexionista e simbolista.
No conexionismo defende-se a ideia de que se molda a inteligência através
da simulação dos componentes cerebrais, aprendendo com a experiência.
A partir da década de 80, pesquisadores passaram a estudar mais as redes
neuronais para solucionar problemas, pois as vantagens são a habilidade em
manipular muitos dados e generalizá-los; aprender observando registros reais e o
reconhecimento de padrões não conhecidos até então; a liberdade sobre os dados,
sem modelos; a compreensão de que nem sempre quando faltam dados se impede
que a rede funcione e a facilidade de interagir com as novidades tecnológicas.
Na IA simbólica, “admite que o comportamento inteligente é simulado com
base na psicologia cognitiva” (PAVANATI et al, 2010, p.94) entendem a ideia de
informação e o modelo de representação seriam os paradigmas para se
compreender a cognição.
Opondo-se ao que dizia o simbolismo no enfoque corpóreo, entende-se que o
corpo e a mente estão juntos, no processo de aprendizagem e incluem-se três
elementos nisso: o corporal, o situacional e o cultural. Partindo deste pressuposto o
que o corpo sente, a memória guarda, sendo uma indissociável da outra. O corpo
sente e passa as informações ao cérebro que vai memorizando, estabelecendo uma
relação com o ambiente, criando novos conceitos, recriando a aprendizagem.
Lakoff e Johnson 1980, apud Pavanati et al, 2010, defendem que através da
linguagem se chega a cognição e o estudo destas levam a compreender os
conceitos da língua e de como este organiza o pensamento cognitivo dos seres
humanos. Defende, ainda, que parte deste é inconsciente, moldado por diferentes
processos que não estão ao alcance do consciente. Experimentar é primordial ao
conhecimento. Uma vez que interage com o meio, modifica, e, é modificado por ele.
Já a abordagem enativa é uma alternativa dentro da proposta cognitivista.
Apresenta-se como uma crítica ao paradigma da representação. Nesta abordagem
“o homem experimenta o mundo, e o mundo resulta inseparável do homem” Lakoff e
Johnson 1980, apud Pavanati et al, 2010, se aprende nas situações do dia a dia e
não em simulações. Estar conectado com o corpo e a mente são condições para a
aprendizagem, uma não é mais importante que a outra e através da linguagem que
há a interação com o mundo, que as identidades são criadas. “O conhecer é
resultante de um processo em que os agentes produzem e são produzidos ao
mesmo tempo” (PAVANATI et al, p.100) por isso é necessário que nossa mente seja
capaz de perceber, interpretar, compreender e dar significado, e desta forma,
precisa tanto do corpo como da mente para que isto ocorra.
Na visão de Motter et al (2010) até o inicio do séc. XXI, a aquisição do
conhecimento era deforma linear em que os livros, periódicos, entre outros, eram
impressos em papel. O leitor via de fora o conhecimento e hoje, com o acesso a
cibercultura, é possível interagir com o mesmo. O leitor passa de contemplativo para
um leitor fugaz, que recebe muitas informações e não tem tempo para absorver, por
isso deve ser ágil, desenvolvendo habilidades que o deixem pronto para conectar-se
com o que ele precisa, tem que escolher o que é importante acessar. Dentro deste
novo parâmetro há três tipos de leitores digitais: o internauta errante que faz uso do
instinto para chegar ao seu propósito, age de forma lúdica, vai descobrindo à medida
que acessa as informações; o internauta detetive usa sua memória para encontrar
seu objeto, faz uso de erros e acertos, aprende com sua experiência e o internauta
previdente que buscou aprendizagem, portanto age de forma previsível, sabe o que
irá encontrar. Esses tipos servem também enquanto leitores imersivos nos
ciberespaços.
Pensadores têm se preocupado com a discrepância entre a cibercultura
contemporânea e a educação formal. Há a necessidade de que educadores e
gestores observem esta realidade, para que no processo de ensino aprendizagem
seja superado o método escolástico, baseado em memorizações de conteúdos
clássicos e nem sempre significativos.
De acordo com Motter et al (2010) na contemporaneidade, os espaços de
formação são diversificados e entre estes espaços têm-se o ciberespaço, que
“assume um papel piramidal” em todos os setores da vida de um individuo, e com
certeza, na aquisição de uma língua estrangeira moderna, no caso, o Inglês. Língua
esta responsável pela maior parte da comunicação no espaço citado, assumindo o
status de língua global. Isto interfere no comportamento tanto do aluno como do
professor. A expansão se dá além do espaço de língua mãe, ou primeira língua. E
por isso, o conhecimento da língua não pode ser limitado a uma variante, pois com a
colonização ela recebe influência da cultura dos locais onde é falada, onde é usada
como meio de comunicação, no espaço virtual. Sabe-se que “a língua é viva, se
move, se modifica e se adapta”. No caso da língua inglesa, esta sofreu mais
interferências de outras, devido ao processo de globalização.
Diante dessas perspectivas, a forma de ensinar e aprender da língua deve
sofrer mudanças, e isto os professores precisam saber. Há algum tempo, a língua
inglesa variava apenas em britânica ou americana, hoje como língua franca recebe
influência dos locais por onde ela circula, e, é usada na comunicação, não tem mais
o status de língua imutável. Essas mudanças ocorrem principalmente na pronúncia,
porém sem perder o valor funcional, apenas quebrando a padronização linguística,
construindo novos conhecimentos em um novo espaço de aprendizagem. Isto se
reflete no ensino aprendizagem, na escola.
Motter et al demonstram que
as tecnologias somadas ao uso da língua inglesa proporcionam uma mudança paradigmática, indicando um caminho além do tradicional modelo de ensino – aprendizagem, pautado na lógica da transmissão do conhecimento. As vantagens de flexibilidade e adaptabilidade das ferramentas virtuais promovem a ruptura de certos domínios verticalmente organizados e burocraticamente centralizados, uma vez que se concebe a língua como elemento vivo, inovador e criador (2010, p.5)
Dentro desta visão os aprendizes trocarão informações baseados num
conhecimento comum, em tempo próximo ao real, independendo do espaço
geográfico e de fusos horários, o que os levará a construção do conhecimento,
mediado pela interação. Conhecimento que tem sentido, não é apenas um exercício
gramatical, devido às especificidades próprias de um ciberespaço.
Em qualquer lugar do mundo, em qualquer cultura, as pessoas se comunicam
através das tecnologias e a língua não as impedem. Esta interação cotidiana
provoca um distanciamento entre o conhecimento do ciberespaço e o do espaço
escolar, numa visão positivista. Nesse caso, vê-se o quão importante é o uso das
tecnologias no aprender da escola.
Pois, para Motter et al
as informações são produzidas e circulam entre as pessoas, modificando e superando o conhecimento já estabelecido. Interferem na compreensão das relações entre o trabalho, a cidadania e o aprendizado, que, na era da tecnologia e da sociedade globalizada, tem como premissa fundamental a flexibilidade, a integração e o compartilhamento das ideias e saberes (2010, p.6)
O uso das tecnologias na aprendizagem se dá pela mediação da
internalização do saber para o desenvolvimento potencial construindo novos
conceitos.
Muitas são as mudanças, hoje, na educação, e é exigido que o professor
busque, constantemente, o aperfeiçoamento de sua prática. O conhecimento muda
de acordo com as necessidades dos seres humanos e inovar é uma das práticas
pertinentes na docência, a fim de dar conta desta nova “era da informação”, que se
instalou e da qual a escola não pode mais fugir. Os conhecimentos são
ressignificados, tomam uma nova dimensão e são pensados e repensados,
possibilitando ao aluno uma reflexão de o que ele precisa para viver dignamente. É
natural o apego ao processo tradicional de educação, onde o espaço e as ações
enquanto educadores e educandos vêm sendo repetidas há muito tempo. O fazer
escolar torna-se um hábito, impedindo de criar novos espaços para a educação.
Segundo Motter et al (2010) é aí que entra o ciberespaço, incentivando a
imaginação para buscar novos caminhos, novas formas de aprender uma língua
estrangeira, um aprender junto com outros que buscam os mesmos objetivos, de um
jeito criativo, que da perspectiva do ensino formal não é possível.
Para evitar problemas em sala de aula, que resultaram dessa relação entre
ensino-aprendizagem e conhecimento, o professor deve repensar sua prática,
levando o aluno a aprender, buscando parcerias que os estimulem a construir novas
realidades, identidades e espaços de aprendizagem. Uma boa parceria é a escolha
de metodologias que o ajudem a alcançar seus objetivos. Sair do senso a priori em
que segundo Becker (2009, p.2) “o professor jamais aprenderá e o aluno jamais
ensinará”, pode-se ver a aprendizagem como uma possibilidade de todos, sair da
reprodução de conhecimentos tidos como “acabados” que não permitem interação,
reflexão e construção de um conhecimento novo.
Também se deve ressaltar, que o ser humano é um ser capaz, o estrato
social a que ele pertence, não deve ser um empecilho à aquisição do conhecimento
da LEM - Inglês. Porém se este ficar a mercê da sorte, em uma sala de aula, com
certeza correrá o risco de ser mais um marginalizado, propagado a carência cultural.
Ao levar para as salas de aula atividades significativas, que proporcionem
aprendizado real, com sentido para sua vida Becker (2009, p.5) cita: “Vive-se
intensamente o presente na medida em que se constrói o futuro, buscando no
passado sua fecundação”.
É necessário que o professor se indague sempre, que sujeito ele quer ajudar
a formar. Atividades que propiciem reflexão e estimulem o pensamento, sejam
significativas, ajudarão a formar um aluno que busca solucionar seus problemas,
enquanto atividades repetitivas e desconectadas criarão um sujeito que apenas
segue adiante, sem ter a clareza de seu papel na sociedade.
A Escola não pode ficar alheia à tecnologia e o blog educativo vem para
acrescentar, pois pode ser uma nova forma de ensinar e de adquirir conhecimento.
[…] o blog educativo, potencializa a interação social, a capacidade de comunicar-se, o desenvolvimento do pensamento e o prazer de aprender, na qual a construção coletiva do conhecimento se efetiva, e mais, permite acompanhar a aprendizagem do aluno (VIEIRA; HALU 2008, p.2)
Um dos objetivos deste é fazer uma ponte entre professores e alunos, além
de provocar a reflexão sobre o que se ensina. Fazer com que o professor se
mantenha atualizado, que o aluno possa estudar fora da escola, além da divulgação
do que é feito em termos de conhecimento, na escola.
Apesar de ser um gênero textual recém-criado, se compararmos com a
fábula, por exemplo, há hoje um número expressivo deles e a cada dia tendem a
crescer, segundo Gonçalves (2010) o blog já vem sendo visto como fonte de
informação e meio de expressão, além de um meio de comunicação. De acordo com
Blood
The original weblogs were link-driven sites. Each was a mixture in unique proportions of links, commentary, and personal thoughts and essays. Weblogs could only be created by people who already knew how to make a website. A weblog editor had either taught herself to code HTML for fun, or, after working all day creating commercial websites, spent several off-work hours every day surfing the web and posting to her site. These were web enthusiasts.(2001, s/p)
1
Se os blogs despertam o interesse dos internautas, e o aluno é um deles,
nada melhor do que usar esta ferramenta em benefício da aprendizagem. É
interessante levar em consideração o fato de que para utilizá-lo não há a
necessidade de ser um expert em tecnologia, além de não reduzir a aprendizagem
apenas ao tempo escolar. Também se apresenta como um processo colaborativo e
de autoanálise, pois ao conhecer a ideia de quem fez uso do blog, poderá refletir
formular e reformular suas próprias ideias, melhorando sua escrita, leitura e re-
escrita.
3 Lemos, entendemos... E agora? – Mãos a obra!
Dentro das ações planejadas para o Projeto de Implementação foi preparado
uma Unidade Didática com Material Multimídia Digital, que foi realizada no Colégio
Estadual de Renascença Pe. J. J. Vicente – Renascença, Paraná, com alunos do
Nono Ano do Ensino Fundamental.
Após a apresentação do Projeto a comunidade escolar e aos alunos
envolvidos o trabalho foi iniciado através de um moviemaker, feito especialmente
para este projeto, em que o foco foi esportes e superação, mostrando exemplos de
atletas em esportes olímpicos e/ou esportes radicais superando seus limites,
alcançando seus objetivos.
1 Os weblogs originais eram sites com links guiados. Eram uma mistura única de proposições de links, comentários pessoais e ensaios. Os weblogs só podiam ser criados por pessoas que soubessem fazer um site. Um editor de weblog ou havia aprendido a usar o código html para se divertir ,ou , depois de passar o dia criando sites comerciais, gastava algumas horas fora de seu trabalho, postando em seu site para se distrair. Eram entusiastas da internet. (tradução nossa)
Segundo Gonçalves
Ao considerar que o aluno aprende quando encontra significado naquilo que lhe é ensinado e busca novos conhecimentos quando a instituição educacional lhe dá subsídios para construir a própria autonomia, é preciso que o professor assuma a postura de dar ao educando significado àquilo que pretende ensinar, é preciso que o docente ofereça a ele atividades interessantes e desafiadoras que partam de sua experiência cotidiana ou que lhe possibilitem fazer relações com o seu dia a dia. Essas atividades devem favorecer momentos de trabalho individual e coletivo, para que o aluno possa construir conhecimento, apropriar-se dele e tornar-se um indivíduo autônomo, capaz de aprender sempre. (2010, p175)
Partindo do conhecimento do aluno, este foi envolvido e levado a pensar
sobre seus desafios diários e envolvido pela tecnologia presente no mundo
moderno. As atividades de brainstorm e discussão do assunto foram realizadas em
sala de aula e as dúvidas naturais sobre o vocabulário e a estrutura linguística
fizeram parte das atividades, foram trabalhadas com atividades no laboratório de
informática e em sala de aula. Os alunos desenvolveram, também, uma bricolagem
com o tema do moviemaker, a música Reach de Gloria Stefen. Visitaram blogs
educativos para reconhecerem o gênero e suas especificidades, animaram-se e
aceitaram a proposta de criação de um blog educativo, dividindo-se em pequenos
grupos em que cada um ficou responsável por um assunto a ser pesquisado. O tema
escolhido foi esporte e superação.
Para Motter
a introdução dos elementos tecnológicos no processo de aprendência, tem fundamental importância. Além de integrarem as diferenças locais nos contextos universais, trazem o universal para contextos locais, promovendo a reflexão e compreensão do diferente, do outro, da alteridade. A educação passa a ser compreendida como resultado de agenciamentos coletivos que englobam pessoas e aparatos tecnológicos. Assim, ensinar e aprender merecem ser compreendidos. ( 2010 p.6)
Após a pesquisa, sistematização e produção dos textos foi o momento de
criação do Blog. Novamente o grupo discutiu e decidiu o nome, layout, fonte, enfim,
todos os detalhes e nasceu aí o News English Diaries. As produções dos alunos
foram postadas e o Blog recebeu até o dia 30/08/14 mais de quatrocentas visitas
como mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 01 – Períodos e quantidade de acessos ao blog.
Para Motter et al
O uso consciente das tecnologias pode colaborar para uma mudança de civilização que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educacionais tradicionais, como também as organizações e empresas e, sobretudo os papéis de cada sujeito ocupa na sociedade.( 2010 p. 5)
Ressalta-se que os alunos desta turma, na sua maioria, não moram na sede
do município onde se localiza a escola e sim, na zona rural. Vários alunos são
oriundos de Acampamentos e Reassentamentos de agricultores sem terra e,
portanto, sem acesso a internet, fazendo uso da mesma apenas na Escola. Esta
dificuldade, porém não diminuiu o interesse dos alunos e nem a participação destes
nas atividades propostas. Observando o gráfico abaixo, vê-se que os alunos
enfrentaram dificuldades, porém estas, não os impediu de atingirem seus objetivos.
Gráfico 02 – Dificuldades enfrentadas.
Motter et al entende que
A ressignificação do conhecimento e sua construção como sendo verdadeiro possibilita que cada indivíduo alcance sua própria forma e identidade. O voltar-se para si mesmo é o efeito da melhor arte e cria a dimensão estética para aquele que insiste em viver com dignidade.( 2010 p.8)
Quando discutida a Proposta no GTR, alguns participantes relatam que a
acham muito interessante, mas que enfrentam dificuldades com relação aos
laboratórios de informática das escolas, na sua maioria defasados e sem condições
de uso. Uma das participantes comenta: “Realmente observamos em nossas aulas
que quando usamos tecnologias nossos alunos ficam muito mais atentos e
participativos. Mas o que vemos é a dificuldade para usá-las, pois as nossas
escolas estão com computadores defasados, internet lenta e não temos ninguém
fazendo a manutenção no dia a dia nas escolas. Enfim, vamos tentando utilizar o
que há disponível, mas nem tudo dá certo como planejado, sempre temos que ter
uma carta na manga".
Os autores supra citados afirmam
As informações são produzidas e circulam entre as pessoas, modificando e superando o conhecimento já estabelecido. Interferem na compreensão das relações entre o trabalho, a cidadania e o aprendizado, que, na era da tecnologia e da sociedade globalizada, tem como premissa fundamental a flexibilidade, a integração e o compartilhamento das ideias e saberes. (2010 p. 6)
As dificuldades vão aparecendo à medida que se vai rompendo as barreiras
da educação tradicional. Há uma necessidade eminente de repensar o ensino de
uma Língua Estrangeira, uma vez de que o conhecimento se dá pela interação com
o outro. Observa-se que as aulas de Língua Inglesa não sofrem muitas mudanças
com relação à metodologia. O professor necessita desafiar-se e desafiar seu aluno
a sair do cotidiano, mesmo que em muitos casos o sucesso obtido não é o
esperado, pois ensinar o aluno a lidar com as frustrações é, também, função da
escola. Para os autores mencionados, “No processo de ensino-aprendizagem há
espaço para as singularidades e a cibercultura pode promover a conservação de
valores internos para que possamos crescer com eles e também observar e valorizar
os valores dos outros.” ( 2010 p.8).
Mesmo enfrentando dificuldades com relação a precariedade dos laboratórios
de informática e as dificuldades de acesso a internet nas suas residências, os alunos
podem obter sucesso na aprendizagem quando o conteúdo for significativo. Isso
mostra que quando a metodologia desperta interesse, o aluno procura vencer
desafios.
Ainda há um longo caminho a percorrer e muitas barreiras estarão por vir.
Transpô-las e ensinar aos alunos como alcançar o sucesso é uma das tarefas do
Professor que busca o aprendizado significativo, que elevará seu aluno do senso
comum para uma um conhecimento sistematizado e consciente do papel que cada
um exerce na sociedade. Esperamos ter contribuido para que os usos de
metodologias interessantes permeiem o cotidiano das aulas de Língua Inglesa nas
escolas públicas do Paraná.
4 Considerações finais
Pensar em metodologias que propiciem aos alunos interesse pelo
aprendizado da Língua Inglesa foi durante todo o período do PDE o objetivo
principal. A DCE do Estado do Paraná e os autores que tratam da tecnologia na
Educação foram a base de todo estudo que deu sustentação ao Projeto de
Implementação, a Implementação e ao GTR.
Buscamos entender o processo de aquisição do conhecimento e através da
tecnologia aliada a Língua Inglesa desenvolver uma metodologia que trouxesse
aprendizagem real da Língua, com atividades interessantes e criativas, despertando
o interesse do aluno. Como a tecnologia está presente no cotidiano e a internet pode
ser uma ferramenta atrativa, a criação de um Blog pareceu ser propícia, interessante
e assustadora. Lidar com situações que poderiam fugir do nosso controle nos tira de
nossa zona de conforto.
As dificuldades foram surgindo com o avançar do trabalho e foram sendo
resolvidas. Conforme os próprios alunos as relatam, eles navegam na internet muito
bem, porém trabalhar com o computador escolhendo imagens, vídeos, salvando-os
em pastas, editar textos e produzi-los nem sempre é tarefa fácil, muitas vezes os
computadores, que não estão em excelentes condições de uso, também são um
problema. Outras vezes o sinal da internet é um obstáculo, mas quando se tem um
objetivo a alcançar um ajuda ao outro e todos vão conseguindo.
A tecnologia é uma ferramenta que auxilia na aprendizagem de uma LEM, no
caso Inglês, por ser provocativa ao aluno e parte de seu dia a dia, embora para a
maioria dos alunos o uso da internet se dá na escola ou quando vem a cidade, pois
moram no interior do município e não há sinal para internet.
Tentamos com esta metodologia tornar as aulas de Língua Inglesa atrativas e
promover a aprendizagem aos alunos. Os resultados foram bons, e, pela
participação dos alunos vale relembrar aquela famosa frase já batida, porém sábia:
“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
REFERÊNCIAS
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