os desafios da escola pÚblica paranaense na … · língua portuguesa e da educação básica com...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O DESPERTAR DA MAGIA NAS (RE)LEITURAS CONTEMPORÂNEAS
Lusinete dos Reis¹ Paula Ávila Nunes²
RESUMO: Este artigo apresenta o percurso de elaboração e implementação do projeto de intervenção pedagógica produzido para o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, cujo objetivo é o incentivo à leitura nos alunos, a partir do gênero conto de fadas. O projeto foi aplicado em turmas de 6º ano do ensino fundamental, no ano de 2014, no Colégio Estadual Afonso Pena, em São José dos Pinhais, PR. O objetivo da aplicação desse projeto foi o de explorar os contos de fadas e suas releituras por meio da intertextualidade para ampliar e promover a fruição por parte dos alunos e resgatar a cultura do hábito da leitura que vem se perdendo ao longo do tempo. Partiu-se da visão de que a leitura é uma forma para se obter conhecimentos, ampliar o vocabulário e adquirir o pensamento crítico, sendo fundamental no desenvolvimento do ser humano. Assim a escola, por sua vez, possui um papel importantíssimo nesse hábito da leitura, com o objetivo de formar cidadãos pensantes, com opiniões próprias e força de caráter, o que começa com o maior destaque à Literatura Infantil para crianças.
Palavras-chave: Leitura; Conto de fadas; Literatura Infantil; Clássicos.
Introdução
O presente artigo tem como finalidade expor e analisar criticamente o projeto de
intervenção pedagógica desenvolvido para o Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) e desenvolvido com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, cujo
tema foi as releituras contemporâneas de contos de fadas como forma de fomento e
incentivo à leitura. O referido trabalho baseia-se no material didático que foi
implementado no primeiro semestre do ano de 2014, no Colégio Estadual Afonso Pena,
em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.
O tema escolhido pauta-se no entendimento de que é através da leitura que se
obtém maior conhecimento, além de ampliar o vocabulário e adquirir pensamento
crítico que torne os leitores cidadãos pensantes.
A falta de interesse, de muitos alunos, em relação à leitura é notória, por isso,
tornou-se necessário elaborar um projeto para ajudar a sanar essa dificuldade e
despertar no aluno o interesse, o gosto e o prazer pela leitura.
1 Professora de Língua Portuguesa na rede estadual de ensino do Estado do Paraná desde 1996, graduada em Letras Português/ Inglês PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e pós graduada em Metodo log ia do Ens ino de L íngua Por tuguesa e Magistério da Educação Bás ica com concent ração em Educação Infant i l e Sér ies In ic ia is do Ens ino Fundamental , e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional de Estado do Paraná PDE – turma 2013, com lotação no Colégio Estadual Afonso Pena – Ensino Fundamental e Médio- São José dos Pinhais – PR, NRE, e-mail [email protected]. 2 Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná; Doutora pelo Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande Do Sul., e-mail [email protected].
A leitura é uma atividade que deve acontecer corriqueiramente, uma
habilidade a ser construída desde cedo. É uma forma de se obter
conhecimentos, ampliar o vocabulário e adquirir o pensamento crítico. As
pessoas leem para entender, conhecer, sonhar, viajar na imaginação e também
leem por prazer, por curiosidade, leem para a construção da sociedade e para
a formação de si mesmas, enquanto seres humanos.
Destarte, de todas as tipologias textuais e suportes que nos rodeiam a
leitura literária é a que tem o poder de suprir uma necessidade do ser humano:
a de responder as inquietudes, os problemas que o mundo real não consegue.
A ficção transporta o leitor a um mundo sublime, mas não vago, onde nos
apoderamos de sua magia e vamos recontando e reconstruindo nossa própria
vivência como homem e nossas atitudes na sociedade.
O trabalho demonstra que é possível proporcionar aos alunos
momentos de prazer, de liberação a imaginação e, a o me s mo t e m po ,
d e a qu i s i ç ã o d o conhecimento, capazes de enriquecer sua capacidade
de produção escrita e crescimento intelectual.
Para entender melhor a necessidade de aplicação deste projeto, faz
se necessário entender e conhecer os motivos que levaram à escolha desse
tema para elaboração do projeto de intervenção.
A falta de interesse, de muitos alunos, em relação à leitura é uma
questão social que começa em casa, junto de sua família. Muitos pais não
leem ou não contam histórias para seus filhos, na menor idade, por não
terem esse hábito e acharem que a leitura não os beneficiará. Algumas
mães, ao invés de conversar, ler, contar histórias aos seus bebês, os
colocam em frente a uma televisão, dão tablets ou celulares e os deixam lá
durante horas, para terem tempo de limpar a casa e realizar outros afazeres.
A situação, em relação à leitura, se agrava muito mais com a
desvalorização dos professores, que muitas vezes não têm tempo de preparar
uma boa aula, estão desmotivados financeiramente, têm que dar conta do
conteúdo de Língua Portuguesa, que é longo, e têm que lidar com situações de
carência e autoestima que as crianças trazem de uma sociedade violenta.
Lajolo (2001, p.12) apresenta em sua obra, “Do mundo da leitura para a leitura
do mundo”, uma pesquisa feita com professores de diferentes escolas que
representam uma grande maioria, e explanam os principais problemas com a
leitura, que são os mesmos em todo o país:
- As crianças não têm hábito de leitura: a maioria só lê obrigada; - Muitos não leem com a desculpa de não terem tempo; - Os alunos só fazem determinada atividade se forem exigidos e bem estimulados: do contrário, têm preguiça de ler; - Só a leitura e o incentivo pelos bons autores, poderá melhorar a escrita e a oralidade dos alunos, cada vez mais pobre e restrita pela mídia televisiva. (Lajolo, 2001, p.12)
A escola, em parte, é bastante responsável por essa desmotivação. Nas
escolas municipais, do 1º ao 5º ano, os alunos são acostumados a ler, porém
não conseguem compreender, de maneira eficaz, o que estão lendo. Os PCNs,
“Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa”, (1997, p.42) também
colocam esse problema em que a “escola vem produzindo grande quantidade
de ‘leitores’ capazes de decodificar qualquer texto, mas com enormes
dificuldades para compreender o que tentam ler.” Muitas dessas escolas não
envolvem o aluno nessa leitura e acabam não ajudando-os a apreender e
vivenciar o que estão lendo, mesmo sabendo que a leitura contribui para a sua
formação crítica. As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p.71)
acrescentam que: “o professor precisa atuar como mediador, provocando os
alunos a realizarem leituras significativas. Assim, o professor deve dar
condições para que o aluno atribua sentidos a sua leitura”
Ana Maria Machado (2002, p. 22) afirma em seu livro, “Como e por que
ler os clássicos universais desde cedo”, que “quando lemos um clássico, ele
também nos lê, vai nos revelando nosso próprio sentido, o significado do que
vivemos”. A escola possui um papel importantíssimo, nesse hábito da leitura
que tem por objetivo formar cidadãos com opiniões próprias. Os contos de
fadas podem aprimorar as habilidades de audição, escrita e oralidade dos
alunos, tanto dentro da escola, como também nas relações sociais.
A presença desses clássicos ajudará as crianças a criarem sua
identidade. Muitos autores dedicaram-se à explicação do valor formativo na
narração dessas histórias. O mundo encantado tem o poder de criar
expectativa e ampliar o sonho e a magia para que a criança saiba lidar com
seus impulsos contraditórios a partir da luta entre o bem e o mal, com uma
visão voltada ao mundo real.
Embasamento teórico
Este projeto embasou-se no trabalho de diversos autores que abordam a
importância da leitura dos contos de fadas na vida da criança, na formação de
sua personalidade e no desenvolvimento de um pensamento crítico e reflexivo,
possibilitando-os compreender diferentes gêneros textuais que ampliam a
aprimoram seu vocabulário, sua leitura, oralidade e escrita.
O aluno, mesmo que ainda não consiga entender o que está lendo, já
consegue estabelecer interação com o texto a partir das ilustrações nele
presentes. No livro, A psicanálise dos contos de fada, Bruno Bettlheim (1980, p.
76) lembra que “a ilustração dirige a imaginação da criança para um caminho
diferente do que, por conta própria, experimentaria”. Eis o motivo pelo qual o
trabalho com contos de fadas foi bastante produtivo para o aprimoramento da
capacidade leitora, e a escola, em âmbito geral, tem o papel fundamental de
ajudar esse aluno na prática de leitura de vários gêneros textuais. É o que
sustenta Maria Auxiliadora Cavazotti (2009, p. 60), no seu livro “Alfabetização e
letramento”, ao afirmar que A leitura de um texto não é mera decodificação de sinais
gráficos, mas a busca de significações marcadas pelo processo de produção do texto e também pela produção da leitura. Por essa razão, o professor precisa ter clareza sobre a função dos textos com os quais trabalha com os alunos e verificar, inclusive, em que contexto eles podem ou não ser alvo da interpretação crítica. (Cavazotti, 2009, p. 60)
Além disso, os livros de Literatura, principalmente os clássicos, são
instrumentos educativos. A ficção e a magia fortalecem os valores e incentivam
a criança a obter mais conhecimento. Lajolo e Zilbermann (1985, p. 76)
afirmam em seu livro, “Literatura infantil brasileira: Histórias e Histórias”, que “a
educação é um meio de ascensão social, e a literatura, um instrumento de seus
valores”. Dessa forma, a leitura tem relevância não só pedagógica como
também social. Diana Lichtenstein Corso e Mario Corso (2011, p. 13) também
afirmam em sua obra, “A psicanálise na Terra do nunca “que:
A ficção não é apenas uma forma de diversão, é também o
veículo através do qual se estabelece um cânone imaginário utilizado para elaborar algum aspecto da nossa subjetividade ou realidade social. As personagens e suas histórias apresentam situações típicas sobre determinada questão para que isso possa ser compartilhado, elaborado, assim como utilizado como parâmetro para nossa vida. Nossas histórias favoritas acabam sendo fontes de inspiração e identificação, refinam ou embrutecem nossa sensibilidade, nos ampliam ou cerceiam os horizontes, ajudam a penetrar na realidade ou a evita-la, sendo, portanto, decisivas para o que nos tornamos. (Corso & Corso, 2001, p.12)
Os professores de português devem dominar esses aspectos dos
clássicos infantis. É essencial que tenham conhecimento de que essa literatura
não foi, desde seu início, pensada para o público infantil. Os contos não eram
específicos para crianças: eles serviam para distrair os camponeses durante as
noites frias, que ficavam em volta de fogueiras, fugindo do frio, da fome e dos
perigos que os cercavam. Um bom contador distraia e encantava a sua plateia,
e, graças a eles, essas histórias foram se espalhando por toda parte e
sobreviveram na memória dos ouvintes.
Por volta do século XVII, o francês Charles Perrault ouviu essas histórias
e resolveu publicá-las, de uma forma simples e elegante. Transformou os
contos tradicionais e anônimos da memória popular em contos para crianças
da corte real, narrando os em verso e em prosa
Mais de um século depois, em 1812, na Alemanha, dois irmãos, Jacob e
Wilhelm Grimm, apaixonados por contos, tiveram a mesma ideia de Perrault e
pesquisaram histórias, adaptando-as para a literatura infantil, com o objetivo de
preservar o patrimônio literário alemão e disponibilizá-los a todos.
O dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), considerado por
muitos como o pai da literatura infantil, destacou-se justamente por escrever
seus contos diretamente para as crianças e conquistou reconhecimento
mundial com seu extraordinário talento. Soube como ninguém, descrever o
desejo da população, seu cotidiano e o sofrimento observado nas crianças
menos favorecida e pobres.
Nas histórias infantis, as fadas são seres imaginários que retratam
beleza, bondade, magia, e resolvem num passe de mágica o conflito existente
com seu pozinho mágico ou com apenas um toque da varinha de condão. Essa
magia existente nos contos renova-se sempre fazendo com que a criança
tenha o prazer de ler/reler sem perder o fascínio e encantamento.
Sendo assim este trabalho pretende ser um instrumento para ajudar,
instigar, e incentivar o hábito da leitura e a busca por novas leituras.
Implementação do projeto
A implementação foi desenvolvida no primeiro semestre do ano de 2014,
com alunos do 6º ano, sendo que nas primeiras aulas apresentou-se o projeto,
exaltando a importância da leitura na construção do conhecimento, na
ampliação do vocabulário, no pensamento crítico e na habilidade e criatividade
da produção de texto.
Na primeira etapa, conforme o método organizado na obra, “Literatura –
a formação do leitor: alternativas metodológicas”, por Bordini & Aguiar (1993),
foi efetuada uma sondagem para detectar o perfil dos alunos, suas vivências
pessoais, crenças, valores, estilo de vida e o grau de interesse literário da
turma.
Foram apresentados alguns textos, imagens de alguns personagens e
houve o debate de algumas questões para verificar o conhecimento prévio das
crianças em relação aos contos de fadas. A partir desse conhecimento iniciou-
se uma preparação do aluno para a leitura de alguns clássicos.
Na segunda etapa, para atender o horizonte de expectativas, foram
apresentadas atividades q u e satisfizessem as necessidades literárias da
turma em dois sentidos. Primeiro fizeram um reconhecimento da origem dos
contos de fadas. No segundo, foram ofertadas algumas leituras de contos de
fadas para que correspondessem às expectativas, despertando, assim, a
curiosidade e o gosto pela leitura.
Os alunos foram até a biblioteca e sala multimídia, fizeram uma
pesquisa individual e escrita, sobre a vida e a obra dos principais autores:
Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen, pesquisaram
também a origem dos contos de fadas que mais as atraíram. Alguns alunos
ficaram assustados, porém curiosos quando leram um trecho da história de
Chapeuzinho Vermelho, editado no livro “Fadas no divã: Psicanálise nas
Histórias Infantis”, onde Diana Lichtenstein Corso e Mario Corso (2006, p. 15)
apresentam um trecho da obra, resgatando a maneira como eram contadas
pelos habitantes camponeses, nas noites de inverno, quando se reunião ao
redor das fogueiras, fugindo do frio. Certo dia, a mãe de uma menina mandou que ela levasse um
pouco de pão e leite para sua avó. Quando caminhava pela floresta, um lobo aproximou-se e perguntou-lhe onde ia.
- Para a casa da vovó. - Por qual caminho, o dos alfinetes ou o das agulhas? - O das agulhas.
O Lobo saiu pelo caminho dos alfinetes e chegou primeiro à casa. Matou a avó, despejou seu sangue numa garrafa, cortou a carne em fatias e colocou numa travessa. Depois, vestiu sua roupa de dormir e deitou na cama, à espera. Pa, pam. - Entre querida. - Olá, vovó. Trouxe um pouco de pão e leite. - Sirva-se também, querida. Há carne e vinho na copa. A menina comeu o que foi oferecido, enquanto um gatinho dizia: “menina perdida! Comer a carne e beber o sangue da avó!” (...) (Corso & Corso, 2006, p.15)
Retornando à sala de aula apresentaram as pesquisas aos colegas e ao
professor.
Em seguida, foram ofertados alguns textos dos contos de fadas
tradicionais e atividades diversas, para que os alunos relembrassem as
histórias que já ouviram ou já leram. Para terem mais facilidades de trabalhar
com as releituras posteriormente. Dentre elas: Bela Adormecida, Cinderela, A
Bela e a Fera, Branca de Neve e os Sete Anões, A Pequena Sereia e
Chapeuzinho Vermelho.
Para finalizar esta etapa escolheram uma das histórias tradicionais e
acrescentaram personagens de outros contos de fadas para compor a nova
história, sem alterar a essência do conto original. Após o término do texto
apresentaram para os demais colegas.
Nesta nova etapa, o trabalho com os alunos visou propiciar a ruptura do
rompimento de expectativas das crianças, além de criarem novos horizontes
para expandir os conhecimentos pré-existentes rumo aos novos desejos e
objetivos.
Os alunos fizeram leitura dos textos “História do Shrek”, “Contos de
Fadas do Século XXI”, assistiram ao primeiro filme do “Shrek” e fizeram
atividades relacionadas aos textos. Em seguida fizeram comparações entre os
textos tradicionais, lidos na etapa anterior, com a releituras apresentadas nesta
unidade, com o objetivo de verificarem a importância de resgatar o
conhecimento adquirido, a tradição literária e as relações de sentido das
releituras que rompem as expectativas do que já conhecem.
Na quarta etapa foi explorado a oralidade nas atividades de análise entre
os textos tradicionais com os textos da Chapeuzinho Amarelo e Fita Verde no
Cabelo: Nova Velha Estória. Foi apresentado o filme Encantada, uma releitura
que mostra alguns momentos marcantes das personagens Cinderela, Branca
de Neve e Bela Adormecida, vividos pela personagem Giselle, no mundo
mágico de Andalasia, foi empurrada por Narissa dentro de um poço e veio para
o mundo real vivendo assim, novas aventuras e novo amor. Esses textos
provocaram mais dificuldades de leitura e interpretação e ajudou-os na
estimulação do conhecimento, além de aguçar a curiosidade e o
questionamento.
A atividade oral ensinou alguns alunos a debater e expor suas ideias,
seus pós e contras, e também os ensinou a ouvir, a respeitar as ideias e as
opiniões dos outros colegas de sala de aula.
A ampliação do horizonte de expectativa é a última etapa da
implementação do projeto na escola. Os alunos fizeram leitura compartilhada
do livro “O Fantástico Mistério da Feiurinha”, de Pedro Bandeira. Após a leitura,
dividiram-se em grupos e escolheram um trecho do livro para encenar. O
mesmo grupo pesquisou o conto Rosaflor Della Moura Torta, citada no livro,
em seguida, realizaram sua pesquisa na sala multimídia. Assistiram ao filme do
DVD: Xuxa em Mistério da Feiurinha (2009) e fizeram um quadro comparativo
destacando as semelhanças e diferenças entre o livro e o Filme.
Para finalizar o projeto, os alunos escolheram um dos contos de fadas
trabalhados durante o projeto de intervenção e fizeram uma releitura do texto
escolhido, sem perder o foco principal do texto original. Acrescentaram novas
personagens em tempos e espaços diferenciados.
Após a intervenção pedagógica, percebeu-se que, os alunos que mal se
interessavam pela leitura, leram, se envolveram e tiveram um crescimento
bastante significativo, já a maioria dos alunos, adquiriram confiança, coragem
de vivenciar a aventura da descoberta literária. Os alunos, mais interessados,
se tornaram mais críticos e com possibilidades de atribuir significados a
diversos tipos de textos.
GTR – Grupo de Trabalho em Rede
Durante a implementação do projeto de intervenção aconteceu uma das
fases de socialização do projeto PDE, o GTR (Grupo de Trabalho em Rede),
com professores da rede pública de ensino, de diversos lugares do Paraná.
Durante dois meses os professores deram continuidade à sua formação
profissional e puderam discutir, dar opiniões, sugestões e trocar experiência
com outros professores sobre o projeto “O DESPERTAR DA MAGIA NAS (RE)
LEITURAS CONTEMPORÂNEAS”.
O GTR foi dividido em várias temáticas que abordou desde o projeto até
a implementação feita parcialmente na escola. Na primeira temática foi
apresentado o projeto e as fundamentações teóricas para que os professores
tivessem acesso e pudessem ver a aplicabilidade. Analisaram o projeto e
compararam com a realidade de sua escola. Fizeram apontamentos diante das
semelhanças e diferenças, também interagiram com os demais participantes
compartilhando suas ideias e seus conhecimentos.
A temática 2 teve como objetivo socializar a Produção Didático-
pedagógica, bem como fazer interações das ideias e opiniões dos cursistas.
Alguns professores acreditam que a leitura dos clássicos e as releituras
contemporâneas levarão os alunos a uma reflexão sobre o conhecimento do
seu cotidiano, terão uma nova visão de leitura do mundo e enriquecerão a sua
cultura, buscando assim novas leituras. Os cursistas tiveram uma participação
sem igual, nesta Temática. Deram ideias, sugestões e compartilharam
atividades trabalhadas em salas de aulas.
Nesta última temática os cursista socializaram os resultados parciais do
desenvolvimento do Projeto de Intervenção, bem como relataram as
experiências trabalhadas por elas em suas escolas e deram ideias, sugestões
de atividades e sugestões de livros para leitura.
Os cursistas gostaram do projeto e o consideraram importante para o
ensino-aprendizagem nesta fase, em que os alunos estão no 6º ano e muitos
chegam desmotivados em relação à leitura.
Alguns comentários de professores que participaram do GTR:
Professor “A” “ (...) o seu projeto, de uma praticidade incrível, um tema muito interessante e focado
num objetivo. Realmente nesta faixa etária as crianças adoram essas leituras, o que vem facilitar a implantação do projeto, porque o interesse do aluno é a base do sucesso.”
Professor “B” “(...) Quando as crianças ingressam na escola elas sentem-se deslumbradas pela
leitura tendo comoção a cada descoberta e desde o 6º ano nós professores devemos propiciar e incentivar o educando a prática de diferentes textos, os contos de fadas são muito atraentes nessa faixa etária.
Professor “C” “(...)e acredito que o trabalho com contos de fadas vem de encontro com o anseio de
muitos dos nossos alunos e professores. Com esse gênero textual, o aluno cria e imagina situações bem próximas de sua realidade fazendo julgamento sobre os acontecimentos. (...)”
Professor “D”
“Sabemos que a leitura possibilita a capacidade de participar, argumentar, debater, escrever, criar, falar, criticar, enfim, se apresenta com grande importância para a interação das pessoas com o mundo. A formação de leitores competentes é um grande desafio, sendo assim, a escola deve oferecer aos estudantes, condições adequadas, para o desenvolvimento e aprimoramento da prática leitora, realizando ações que despertem o prazer de ler e pensar num senso sonhador e crítico. (...)” Professor “E” (...) “A leitura literária é um mundo maravilhoso, com ela podemos abrir as portas do entendimento para qualquer outro tipo de leitura, e é com essa intenção que buscamos instrumentos, métodos, maneiras , motivação para os alunos ampliarem o seu conhecimento literário.”
No término do GTR, chegou-se à conclusão de que a leitura desperta
diferentes emoções e amplia a visão de mundo do leitor e faz com que ele
entre em contato com seu mundo interior, aumenta seus desejos, seus medos
e busca soluções para seus possíveis conflitos. O gênero conto de fadas
amplia o repertório cultural e atua no desenvolvimento de atividades da leitura
e escrita na língua portuguesa.
Considerações Finais
O PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do
Paraná foi de extrema importância, oportunizou momentos de muita leitura,
estudo e reflexão que anteriormente não eram possíveis devido à carga horária
de trabalho. Oportunizou estar novamente em uma Universidade (UTFPR –
Universidade Tecnológica Federal do Paraná) para adquirir conhecimentos e
aprimoramentos para a realização desse projeto.
O presente artigo buscou elementos que pudessem mostrar que os
contos de fadas, as leituras tradicionais e contemporâneas, conseguem mexer
com a imaginação infantil e captar os desejos mais profundos do leitor, fazendo
com que ele se identifique com o que está lendo. Cada versão possibilita
inúmeras leituras por se tratarem de temas tão presentes no dia a dia da
criança como o bem, o mal, o amor, o ódio, a inveja, temas que acabam
construindo uma imaginação fértil, rica e criativa.
Todo o trabalho envolveu a leitura e a fruição por meio do gênero textual
contos de fadas e teve a participação atuante dos alunos que se envolveram
estimulando sua capacidade de ouvir, pensar, ler e interagir, tentando assim,
compreender as linhas e entrelinhas no contexto ficcional e social,
estabelecendo relação com seu cotidiano.
Durante todo o processo de aprendizagem os alunos leram várias obras
literárias infanto-juvenil de Charles Perrault; dos irmãos Jacob e Wilhelm
Grimm e de Hans Christian Andersen. Leram o conto, Chapeuzinho Amarelo,
de Chico Buarque de Holanda; Fita Verde no cabelo: Velha nova estória, João
Guimarães Rosa, Luís Fernando Veríssimo, Pedro Bandeira e assistiram
algumas releituras como: o filme Shrek da Dreamworks Animation, Encantada
da Disney Pictures e Xuxa em o Mistério de Feiurinha, PlayArte Pictures.
Nessa interação foi fundamental o papel do professor como mediador
entre a magia e a realidade, fazendo com que o aluno compreendesse a
natureza de suas linguagens.
O trabalho realizado a partir da sequência didática permitiu que os
alunos conseguissem ampliar suas competências comunicativas, suas
habilidades e também se tornaram mais críticos nas produções de seus textos.
Pudemos observar que houve uma melhora significativa na escrita, na
oralidade e no estímulo da leitura.
Um dos papéis fundamentais da escola é desenvolver no aluno o
interesse, o hábito e a vontade de buscar novas leituras, novos conhecimentos
e torná-lo sujeito transformador, crítico e capaz de enfrentar os desafios que a
vida lhe oferece.
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