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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
CONTRIBUIÇÕES DO GÊNERO CRÔNICA PARA O APRIMORAMENTO
DAS ESTRATÉGIAS DE LEITURA
Fabiana Lecheta1
Margareth de Souza Freitas Thomopoulos2
Resumo: o presente artigo é fruto de uma pesquisa-ação desenvolvida por meio do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). O projeto de intervenção na escola, que engendrou a pesquisa, situa-se na área dos estudos linguísticos, mais especificamente na seara da Leitura e Produção de Textos, e foi aplicada a duas turmas do oitavo ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Joaquim de Oliveira Franco, situado no município de Mandirituba - PR, entre os meses de março e agosto de 2015 do colégio. Com o objetivo de despertar nos alunos o gosto pela leitura e contribuir para a melhoria de sua produção textual, buscou-se adequar o trabalho com a leitura ao universo escolar e ao contexto sociocultural dos alunos, de modo a que as atividades envolvendo essa habilidade fossem prazerosas e significativas para eles. Optou-se pela exploração do gênero crônica por ser este composto a partir da observação de fatos do cotidiano e por se relacionar diretamente com questões sociais, comportamentais e sentimentais. Por trás do humor, da ironia e da simplicidade, existe um trabalho estilístico que faz da crônica um caminho mais agradável e cativante para o mundo da leitura. Por meio de uma sequência didática (Dolz e Schneuwly, 2010), foram desenvolvidas treze atividades, que envolveram o conhecimento prévio dos alunos, a leitura de crônicas para a apropriação da estrutura composicional do gênero, a produção escrita e a divulgação na escola por meio de banners. O resultado encontrado com a aplicação do projeto foi satisfatório, pois constatou-se que as crônicas podem se constituir num importante caminho para o contato inicial e para o desenvolvimento e aprimoramento da leitura na escola e consequentemente, diminuir as distâncias entre o aluno e a prática da leitura. Palavras-chave: leitura, escrita, crônica, sequência didática.
Abstract: this article is the result of a research-action developed through the Educational Development program (EDP), the State Secretariat of education of Paraná (SEED), in partnership with the Federal Technological University of Paraná (UTFPR). The intervention project in school, who came up with the survey, is located in the area of linguistic studies, more specifically in the field of reading and producing texts, and was applied to two classes of eighth grade of elementary school of Joaquim de Oliveira Franco State College, located in the municipality of Mandirituba-PR, between the months of March and August
1 Professora PDE. Graduada em Letras Português-Inglês – Uniandrade e Professora de Língua
Portuguesa e Inglesa no Colégio Estadual Joaquim de Oliveira Franco. 2 Orientadora PDE. Doutora em Linguística pela Unicamp. Professora Associada da UTFPR.
2015. In order to awaken in students a taste for reading and contributing to the improvement of textual production, sought to adapt the work with reading to the school and the universe socio-cultural context of the students, so that the activities involving this ability were pleasant and meaningful to them. We opted for the exploration of the genre for being chronic this compound from the observation of facts of daily life and connect directly with social, behavioral and emotional issues. Behind the humor, irony and simplicity, there is a stylistic work which makes a nice way and chronic captivating to the world of reading. Through didactic sequence (Dolz and Schneuwly, 2010), 13 activities were developed, involving prior knowledge of students, reading Chronicles for the appropriation of the compositional structure of the genre, written production and dissemination in school through banners. The results found with the implementation of the project has been successful, because it was found that the Chronicles can be an important way to the initial contact to the development and improvement of reading in school and consequently, reduce the distance between the student and the practice of reading.
Key-words: Reading, Writing, Chronicle, Didactic Sequence.
1. Introdução
Vivemos em um mundo dominado por códigos e imagens, e saber ler torna-se
uma exigência da sociedade contemporânea, constituindo-se em elemento essencial
para a inserção social do indivíduo e para a formação da cidadania, uma vez que, por
meio da leitura, ele terá acesso a uma enorme gama de informações e novos
conhecimentos, fundamentais para que possa interagir de forma consciente na
sociedade.
A leitura, processo cognitivo complexo de produção de sentido, é uma
ferramenta imprescindível na formação do ser humano; é a ponte que o leva à
aquisição de conhecimentos que ampliam sua visão de mundo, promovendo seu
desenvolvimento pessoal e social, capacitando-o a interagir no mundo de maneira mais
crítica e consciente. Ler é, portanto, compreender melhor o mundo em que se vive, é
adquirir e ampliar conhecimentos.
No entanto, sabe-se que apenas decodificar palavras é insuficiente para a
participação em práticas sociais que envolvem a língua escrita. É necessário letrar
nossos alunos para que saibam utilizar a leitura e a escrita de acordo com as contínuas
exigências sociais.
Pensar em leitura enquanto prática social é ainda pensar nas diversas relações
de interação do leitor com o universo sociocultural à sua volta; é pensar em um leitor
capaz de utilizar a leitura como fonte de informação e disseminação de cultura, pois,
como diria Foucambert (1994),
Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas
respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa
escrita, significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao
que já se é. (FOUCAMBERT, 1994, p.5)
Magda Soares (1999) corrobora essa ideia acrescentando que não basta saber
ler e escrever, é necessário que o indivíduo faça uso social da leitura e da escrita,
pratique essas duas habilidades, posicione-se e interaja de acordo com as exigências
da sociedade moderna diante das práticas de linguagem, demarcando assim a sua voz
no contexto social.
Nessa perspectiva, o trabalho com a leitura e produção de crônicas buscou dar à
leitura e à escrita um caráter social, tornando as aulas mais dinâmicas, bem como
procurou despertar nos alunos o interesse pela leitura, visando motivá-los a
desenvolver o hábito de leitura, transformando-os em cidadãos críticos e participativos.
O foco da intervenção foi o aprimoramento das estratégias de leitura demarcadas
pelo gênero crônica, aguçando a capacidade crítica dos alunos e sua sensibilidade para
as temáticas contempladas pelo gênero. Além disso, procurou-se ampliar o acervo de
leitura dos alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Joaquim de Oliveira Franco,
apresentando um levantamento bibliográfico sobre o tema, proporcionando-lhes a
leitura de uma variedade de crônicas que permitisse relacionar as características
constitutivas do gênero e organizar um conjunto de textos a serem lidos e apreciados
para embasar a produção de textos.
2. Metodologia
2.1 A opção pela crônica
Tomar o gênero discursivo crônica como instrumento para desenvolver a leitura e
a escrita na escola adquire maior significado na perspectiva de que
a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade
da atividade humana é inesgotável e cada esfera dessa atividade comporta um
repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à
medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. (BAKHTIN)
Assim, pode-se inferir que esse gênero, talvez até mais que outros, produza uma
gama de possibilidades que ampliará o resultado do trabalho, reunindo, numa
abordagem ampla, a junção de outros gêneros.
Do ponto de vista da leitura literária, a crônica traz a possibilidade de fruição,
pois é um texto pouco extenso, que permite realizar atividades em apenas uma aula,
proporcionando o contato dos alunos com vários textos. Neste aspecto, a relevância do
texto literário vem ao encontro de uma necessidade urgente na escola, e mesmo fora
dela, de criar situações que estimulem a leitura por parte dos alunos. Desse modo, esta
proposta buscou caminhos de despertar o interesse e aproximar o aluno do mundo da
leitura, por meio do gênero crônica.
2.2 A sequência didática
Ler é compreender melhor o mundo em que se vive, é adquirir e ampliar
conhecimentos. Nesse contexto, é fundamental que ocorra a compreensão, interação e
produção de sentidos a partir do texto lido. Para isso, no ensino/aprendizagem da
leitura é de suma importância os critérios utilizados para a escolha de textos a serem
trabalhados, bem como o uso de estratégias de leitura.
Sabe-se da dificuldade que a escola e principalmente o professor de Língua
Portuguesa tem enfrentado em relação ao ensino de leitura, em tornar o aluno um leitor
de variados gêneros textuais. Sabe-se também que muitas lacunas são deixadas ao
longo da trajetória da vida escolar dos alunos e que precisam ser preenchidas por meio
de estratégias de leitura que lhes permitam um crescimento intelectual significativo.
Diante disso, fez-se necessário buscar metodologias e estratégias que
mudassem essa situação e como metodologia de trabalho com a leitura e a escrita,
tomou-se a “sequência didática” como forma de aplicação da proposta, segundo a
exposição de Schneuwly e Dolz:
[...] um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática,
em torno de um gênero textual oral ou escrito. (...) Uma sequência didática tem,
precisamente, a finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de
texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira mais adequada
numa dada situação de comunicação.
Optou-se por montar uma sequência didática para o gênero crônica, com foco
nos textos de humor, desenvolver com os alunos a sequência planejada, aprimorar, por
meio da leitura compartilhada das crônicas, a capacidade crítica dos alunos, sua
sensibilidade para as temáticas contempladas, bem como suas estratégias de
aproximação do gênero e trabalhar com os estudantes a produção de textos de acordo
com o gênero estudado.
A sequência didática obedece a uma estrutura regular com os seguintes passos:
apresentação da situação, produção inicial, módulos e produção final.
O primeiro passo tem como objetivo apresentar ao aluno o gênero com o qual
será trabalhado. Nesta etapa, é elaborado o projeto de trabalho e são discutidas as
fases que virão a seguir. Cada um deve compreender o papel que desempenhará nas
atividades e compreender as metas estabelecidas.
A produção inicial é o primeiro exercício – escrita de uma crônica – e serve como
diagnóstico dos conhecimentos e das dificuldades de cada aluno para subsidiar o
planejamento das intervenções necessárias para saná-las. Ela servirá de parâmetro de
comparação com a produção final para verificar a evolução na caminhada.
Nos módulos, a primeira produção é avaliada e discutida. Além disso, outras
produções do gênero vão sendo apresentadas, a fim de ir aprimorando a primeira
produção. As dificuldades são apontadas e criam-se formas e situações de solução
para cada problema apresentado.
Na produção final, o aluno apresenta o resultado de todo o trabalho desenvolvido
desde o início, e o professor pode avaliar os avanços conquistados no aprendizado do
gênero em questão.
3. Apresentação e análise dos resultados
Passamos agora a apresentar as atividades propostas, analisando-as a partir
dos eventos que mais se destacaram.
3.1 Atividade 1: A importância da leitura
O objetivo da primeira atividade era motivar o aluno para o trabalho com a leitura,
levando-o a perceber sua relevância na vida das pessoas. Iniciou-se o trabalho com os
vídeos “A importância da leitura na vida das pessoas” e “A menina que odiava livros”,
com a intenção de provocar uma reflexão sobre o tema. Logo após a exibição dos
vídeos, foram feitos alguns questionamentos orais sobre o que os alunos entendiam por
leitura e quais eram suas experiências como leitores. Essa atividade inicial atraiu a
atenção dos alunos, principalmente em virtude dos vídeos apresentados. Alguns até se
identificaram com a personagem da animação “A menina que odiava livros”.
A maior dificuldade encontrada na aplicação desse exercício foi quanto à
participação oral dos alunos e às suas experiências de leitura, pois muitos não estavam
habituados a trabalhar com a oralidade nem tampouco a ler com frequência. Percebeu-
se depois desse trabalho inicial um leve despertar dos alunos para a importância e a
necessidade de se ler. Minhas impressões sobre a realidade dos alunos referenda a
convicção de que é preciso investir muito mais na formação de leitores.
3.2 Atividade 2: Introdução ao gênero e seus elementos constitutivos
A proposta da segunda atividade era investigar os conhecimentos prévios dos
alunos sobre o gênero crônica e ajudá-los a complementar esses conhecimentos.
Primeiramente foi promovida uma discussão oral sobre o gênero. Após esse momento,
foi lido um texto da Olimpíada de Língua Portuguesa, que apresentou um pouco da
história das crônicas (origem e evolução), os elementos constitutivos do gênero, sua
função social e sua esfera de circulação. Ao final da aula, a turma foi dividida em
grupos e levada à biblioteca da escola e à sala de informática para pesquisa, leitura,
apresentação e reconhecimento dos elementos constitutivos nas crônicas pesquisadas.
Essa segunda atividade também revelou dificuldade por parte dos alunos quanto
à expressão oral e à prática de leitura e compreensão textual; porém houve um maior
entendimento à medida que o conteúdo foi sendo explorado, e as dúvidas, sanadas.
Verificou-se que os alunos tinham conhecimento do gênero, mas simplesmente não
sabiam defini-lo. Foi produtiva a proposta de pesquisa e a apresentação de crônicas.
Foi interessante levá-los a um ambiente diferente da sala de aula, desafiá-los a
trabalhar em grupo e apresentar para os colegas a crônica lida. Acredita-se que isso
motiva e contribui para o desenvolvimento do hábito da leitura.
3.3 Atividade 3: O primeiro contato com o gênero
A finalidade da terceira etapa era aproximar os alunos do gênero e promover
uma reflexão crítica do texto, levando-os à percepção da carga emotiva veiculada pelo
gênero, bem como observar os elementos narrativos básicos e a presença da visão
pessoal do autor. Com esse propósito, foi utilizado o texto de Fernando Sabino, “A
última crônica”.
O trabalho introduziu o uso das mídias áudio e vídeo, com a apresentação do
áudio do texto (CD da OLP) e do vídeo sobre a vida e a obra do autor, com a
apresentação de questões pessoais sobre o tema “aniversário”. Para finalizar, foi
apresentada uma nova modalidade relacionada ao texto: um curta-metragem baseado
na crônica estudada. A intenção era fazer um paralelo entre o texto original e a
adaptação cinematográfica. Estamos certos de que essa integração entre o texto e as
mídias contribui muito para o processo de ensino/aprendizagem da leitura.
Esse terceiro momento do projeto foi bem produtivo principalmente pela
proximidade do tema e pela utilização do CD e do vídeo. A maior dificuldade
encontrada foi com o vocabulário do texto, pois o mesmo apresentava termos mais
formais, dificultando a compreensão. Após a retomada do texto e o estudo do
vocabulário, essa dificuldade foi sanada. A atividade foi muito proveitosa, pois alguns
alunos relataram que se identificaram com a família e com o protagonista do texto e, a
partir da situação, perceberam que o cronista conseguiu tocar com emoção os alunos
em sala de aula.
3.4 Atividade 4: Aproximação do gênero e distinção dos tons das crônicas
A intenção desse momento era dar subsídios para que os alunos pudessem
diferenciar os tipos de crônicas e levá-los a perceber que a crônica pode divertir,
sensibilizar, humanizar e permitir uma convivência muito próxima com a palavra.
Inicialmente foi proposto um exercício para relacionar os tons presentes no gênero
(lírico, irônico, humorístico, reflexivo).
Posteriormente, a classe foi novamente dividida em pequenos grupos para a
leitura de três crônicas: “Inferno Nacional”, de Stanislaw Ponte Preta, “Chegou o verão”
e “O homem trocado”, de Luis Fernando Veríssimo. Após a leitura, convidou-se cada
grupo a retomar o seu texto e preencher um quadro procurando identificar os aspectos
estruturais do gênero (personagem(s), cenário, foco narrativo e desfecho), aspectos
relacionados ao conteúdo (assunto/tema e situação do cotidiano retratada) e ao estilo
das crônicas.
Depois dessa atividade, organizou-se uma roda de discussão para que cada
grupo apresentasse um item da análise do texto e todos os grupos completassem o
quadro. O trabalho em grupo foi interessante, porém tumultuou um pouco a aula devido
à falta de maturidade dos alunos. Em certo momento foi preciso retomar e fazer
coletivamente o exercício. Um dos pontos positivos da aula foi que os alunos gostaram
bastante das crônicas lidas principalmente pelo teor irônico e humorístico.
3.5 Atividade 5: A escrita da primeira crônica
O objetivo da atividade era a escrita da primeira crônica para se fazer um
diagnóstico dos conhecimentos prévios dos alunos quanto ao gênero e das dificuldades
de cada aluno na produção de uma crônica para planejar as intervenções necessárias
para saná-las. A ideia inicial era, com base nas leituras dos textos e dos comentários
sobre o gênero crônica, produzir um texto baseado em uma cena do cotidiano que
tivesse chamado a atenção do aluno, mas, devido à grande dificuldade demonstrada
pelos alunos e percebida por meio dos rascunhos feitos no caderno de redigir essa
produção inicial, ela foi modificada. Antecipou-se a atividade 10, que também visava
exercitar a escrita e a criatividade, e foi proposto que os alunos por meio do início de
duas crônicas de Moacyr Scliar intituladas “Os terroristas” e “O amigo secreto”,
escolhessem e continuassem coerentemente o texto, com base nas características do
gênero.
Trabalhou-se nessas produções os discursos direto e indireto, pois fazia parte do
conteúdo programático da série. A partir dessa mudança, a aceitabilidade dos alunos e
as suas produções melhoraram um pouco, porém muitas ainda não tinham muito
conteúdo e apresentavam muitos problemas relacionados ao gênero e à língua.
Percebeu-se que, após a devolutiva dos textos dos alunos pela professora, com
sugestões para sua melhoria, houve uma evolução quanto à forma e ao conteúdo, mas
ficou patente que a falta de leitura dificulta a produção escrita.
3.6 Atividade 6: Mestres do humor
O objetivo desta fase da proposta era trabalhar especificamente com as crônicas
de humor. Para isso, utilizou-se duas crônicas humorísticas, “Emergência” e “A
estranha passageira”, de dois dos principais cronistas do humor: Luis Fernando
Veríssimo e Stanislaw Ponte Preta. Ambas abordam a mesma temática: o
comportamento de um passageiro de primeira viagem em um avião. Primeiramente foi
apresentada aos alunos a biografia dos autores e, após esse momento, foram
sugeridas questões de interpretação textual. Ficou visível nessa atividade que os
alunos se identificam mais com textos humorísticos e que isso facilita a compreensão. A
dificuldade encontrada foi que a grande maioria dos alunos nunca havia viajado de
avião e desconhecia alguns dos procedimentos indicados no texto, o que atrapalhou a
compreensão do vocabulário e o desenvolvimento dos exercícios. Para finalizar essa
etapa, foi proposto o vídeo (entrevista) “Um papo com Luis Fernando Veríssimo”, em
que autor procura definir o que é uma crônica e fala um pouco da história de vida e da
profissão de escritor/cronista. Percebeu-se que, por se tratar de um gênero oral, a
entrevista facilitou o entendimento da definição do gênero.
3.7 Atividade 7: O cotidiano e o futebol
O intuito da atividade 7 era explorar e reforçar alguns elementos constitutivos da
crônica e os recursos literários utilizados pelo autor para realçar uma ideia.
Primeiramente foi apresentada a biografia do jornalista e cronista Armando Nogueira e,
na sequência, a crônica “Peladas”. Depois de ler e ouvir a crônica sobre o futebol, os
alunos resolveram em pequenos grupos os exercícios sugeridos e fizeram uma
pesquisa de outros materiais sobre esse assunto. Um das atividades propostas era
entender o jargão futebolístico (gírias usadas por profissionais da área) e, com o auxílio
do dicionário, encontrar os sentidos denotativo e o conotativo de algumas expressões
do texto, rico em figuras de linguagem. Não houve grandes dificuldades nessa sétima
etapa do projeto. O fato de o tema explorar o cotidiano do aluno, faz pensar que essa
etapa foi bem significativa e proveitosa.
3.8 Atividade 8: Analisando os recursos discursivos e linguísticos da
crônica
A ideia dessa atividade era analisar alguns recursos discursivos e linguísticos
utilizados pelo cronista Fernando Sabino, bem como o estilo humorístico e a sequência
do texto. Iniciou-se o trabalho por meio de uma atividade que abordava a sequência da
crônica “O homem nu”. Após esse momento, utilizou-se questões referentes aos
recursos discursivos e linguísticos da crônica e uma animação do texto. A animação e a
sequência do texto foram facilmente assimiladas pelos alunos, ao contrário das
atividades referentes aos recursos discursivos e linguísticos, nas quais os alunos
demonstraram dificuldade, devido à deficiência de conhecimento da estrutura da língua.
3.9 Atividade 9: Dos Gêneros jornalísticos à crônica
Esta atividade tinha como finalidade reconhecer as diferenças entre os gêneros
“notícia/reportagem” e “crônica” para que nas próximas atividades o aluno pudesse
escrever uma crônica baseada em um desses gêneros. Para isso, partiu-se de um novo
cronista, “Moacyr Scliar”, com sua maneira peculiar de escrever crônicas: muitas delas
são escritas a partir de notícias e reportagens. Após ser apresentada a biografia do
autor, foram lidas a reportagem que deu causa ao texto e a crônica “Tormento não tem
idade”. Na sequência, foi trabalhada uma atividade para que os alunos pudessem
identificar as diferenças entre os dois gêneros. Em termos de aceitação dos alunos, o
resultado foi satisfatório, pois apresentaram pouca dificuldade na resolução da atividade
e conseguiram fazer a relação entre o texto e a notícia.
3.10 Atividade 10: Estudando o foco narrativo de uma crônica
A finalidade dessa atividade era fazer com que os alunos percebessem a
importância de definir o foco narrativo em seus textos, observando o emprego dos
pronomes e verbos, bem como que identificassem os tipos diferentes de narrador que
compõem a sequência narrativa. Iniciou-se a aula apresentando dois trechos de
crônicas: uma de Fernando Sabino e outra de Moacyr Scliar, para que fossem
trabalhados os exercícios propostos, adaptados do caderno de atividades da OLP. Os
alunos não encontraram grandes dificuldades na resolução dos exercícios, pois
relataram que em anos anteriores já haviam estudado o foco narrativo e os tipos de
narrador de um texto narrativo.
3.11 Atividade 11: A escrita final
O objetivo da penúltima atividade da Unidade Didática era dar subsídios para a
produção final de uma crônica. A ideia para a produção final da crônica era que os
alunos escolhessem uma das opções sugeridas para o desenvolvimento de seus
textos. A primeira sugestão era a escrita de uma crônica a partir de uma notícia (como
foi visto nas crônicas de Moacyr Scliar) e a segunda, a produção a partir de uma
situação retratada em uma foto (proposta do caderno de atividades da OLP).
A princípio, no início da proposta, houve uma boa aceitação dos alunos, porém,
no decorrer das aulas e do tempo previsto para a produção, encontraram dificuldades
em retratar uma situação do cotidiano em uma foto e transformar em uma crônica. Em
virtude disso, a grande maioria optou por produzir seu texto baseado em uma notícia.
Mesmo assim, muitos ainda não conseguiam encontrar uma boa notícia para a
produção e então foi sugerido o site http://g1.globo.com/planeta-bizarro/index.html, que
continha notícias engraçadas e inusitadas. Na entrega dos textos, percebeu-se que os
alunos empolgaram-se com as propostas e produziram boas crônicas humorísticas.
3.12 Atividade 12: Aprimoramento e reescrita do texto
O objetivo da última atividade era fazer a revisão textual para burilar e reescrever
o texto final fazendo as alterações e as melhorias necessárias. Primeiramente foi feito o
aprimoramento coletivo (foi selecionado o texto do oitavo ano “A” para trabalhar na
turma B e vice-versa). Depois da análise de todos os textos, foram escolhidos alguns
trechos que precisavam ser revisados e reescritos e fragmentos de várias produções
que apresentavam o mesmo tipo de problema e então foram feitas atividades de
reflexão sobre a língua portuguesa.
Os aspectos observados foram: elementos estruturais da narrativa, ortografia,
coesão e coerência, pontuação e acentuação. A reconstrução foi realizada junto com o
aluno e copiada nos cadernos. Já a segunda etapa foi a reescrita individual e para isso
foi utilizado um roteiro adaptado do caderno da OLP. Nesta revisão, cada aluno se
apropriou do seu próprio texto para reestruturá-lo. Os alunos não tiveram grandes
dificuldades nessa atividade, devido principalmente aos apontamentos feitos nos textos.
Percebeu-se que, após a devolutiva dos textos dos alunos pela professora, com
sugestões para sua melhoria, houve uma evolução quanto à forma e ao conteúdo, mas
ficou patente que a falta de leitura dificulta a produção escrita. No entanto, as etapas
das reestruturações foram bem produtivas e proveitosas, pois os alunos conseguiram
compreender a importância e a necessidade do re-aprimoramento textual.
4. Considerações Finais
O ensino da leitura e da escrita na escola tem sofrido um desgaste significativo,
tanto pelo desinteresse dos alunos, quanto pelas políticas de baixo investimento no
ensino. Nesse segundo aspecto, as perspectivas não são nada boas, uma vez que as
turmas numerosas e heterogêneas dificultam o trabalho individualizado. Parece ser de
consenso que a escola deveria ser a principal formadora de leitores fluentes, mas isso
não acontece e, muitas vezes, os alunos só conseguem ler o óbvio. Essa situação
desperta um sentimento de angústia e, ao mesmo tempo, constitui um desafio para os
professores, principalmente para os de Língua Portuguesa, que são vistos como os
“culpados” por tal fracasso.
No que se refere ao desestímulo dos alunos, o trabalho do professor pode
promover uma mudança de atitude.
Estratégias de produção de texto com função social concreta podem, como se
observou no desenvolvimento desta proposta, conquistar o estudante para que este se
posicione diante do texto lido e, ao entender como o texto funciona, o aluno-leitor
passará a se enxergar como sujeito de sua leitura e, de certa maneira, será convocado
pelo texto a participar da elaboração dos significados, confrontando o texto com o
próprio saber, isto é, com a sua experiência de vida. Aquele que lê, de fato, não amplia
apenas o seu universo, mas o próprio universo da obra, contribuindo com sua
experiência cultural, uma vez que um leitor que se constitui como sujeito de sua leitura
dialoga com o texto, relacionando-o com seus conhecimentos anteriores.
Também a promoção da leitura, que tem sido objeto de uma luta incessante dos
educadores para que se efetive no ambiente escolar, com uma boa iniciativa, pode
chegar a muito bons resultados.
Cabe salientar, então, a importância de o professor promover atividades que
possibilitem a reflexão do aluno sobre as diversas funções e formas de uso da
linguagem, que vão além da mera informação, descrição ou relato, e que contribuam de
forma significativa para a formação do leitor cidadão, para que ele possa efetuar o ato
de ler de forma plena, praticando-o com autonomia e criticidade.
No entanto, toda e qualquer proposta precisa considerar todo um conjunto de
estratégias e de interesses mútuos dos envolvidos no processo para que seja
satisfatória. Escola, família e sociedade precisam almejar horizontes comuns, porque
esforços individuais são tentativas inúteis de sanar essas dificuldades.
Constatou-se, na aplicação desta proposta, que as crônicas podem-se constituir
num importante caminho para o contato inicial e para o desenvolvimento e
aprimoramento da leitura na escola. A escrita de crônicas também possibilita o
crescimento na produção textual pelo aluno. Além disso, a utilização da sequência
didática como forma de abordagem e de encaminhamento pedagógico também é um
meio de se chegar mais eficientemente aos objetivos propostos.
Por fim, é preciso que se reflita sobre o fato de que há muitos problemas que
envolvem o processo de ensino-aprendizagem na escola que não podem ser resolvidos
simplesmente com iniciativas como as que aqui se apresentaram.
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