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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

DIVERSIDADE CULTURAL: NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Autora: Cecília Vilela Corrêa 1

Orientadora: Rejane Christine de Barros Palma2

RESUMO:O objetivo deste artigo consiste em apresentar os resultados da intervenção didática realizada junto a 9(nove) professores do Colégio Estadual “Benedita Rosa Rezende”, localizada na zona Leste do município de Londrina. Teve como finalidade promover reflexões a respeito da Diversidade Cultural e seus conflitos no ambiente escolar e novas práticas pedagógicas que visem diminuir a desigualdade social, a fim de que os alunos possam ter uma formação escolar mais justa, igualitária e de qualidade. As ações propostas foram organizadas em 8 (oito) unidades didáticas, aplicadas durante os meses de abril a junho de 2014. Constaram de análise de textos informativos, literários, musicais, imagéticos, além de exibição de vídeos e videoclipes e realização de dinâmicas. A proposta de trabalho foi desenvolvida a partir da metodologia de Gasparin (2007), cujo ponto central é a consideração dos saberes trazidos pelos alunos e a forma pela qual estes saberes podem ser alterados e incorporados à prática social final de alunos e professores. Os resultados obtidos permitem afirmar que a diversidade constitui parte integrante da existência humana e a escola, como importante instituição social posta no terreno das desigualdades, das identidades e das diferenças, não pode se omitir ao debate sobre esta temática. Nesta dimensão, (re) pensar a diversidade implica, em primeiro plano, a construção de uma escola realmente democrática, moldada por novas práticas pedagógicas que trabalhem as desigualdades e diferenças como substratos para a promoção de discussões continuadas acerca da diversidade nas relações que se tecem não apenas no contexto escolar, mas nas demais dimensões da vida em sociedade.

Palavras-chave: Diversidade, contexto escolar, desigualdades.

INTRODUÇÂO

O objetivo deste artigo consiste em apresentar os resultados da intervenção

didático-pedagógica realizada nos meses de abril a junho de 2014, junto aos

professores do Colégio Estadual “Benedita Rosa Rezende”, situado na cidade de

Londrina, estado do Paraná.

A intervenção foi concretizada pela realização de oito (8) encontros

presenciais, com duração de quatro (4) horas cada um, num total de trinta e duas

(32) horas, sendo distribuídos em sete unidades e um espaço de tempo para

aplicação de atividades pelos participantes, seguindo a proposta de projeto docente

embasada na Pedagogia Histórico-crítica.

1 Professora pedagoga da rede estadual de ensino do Paraná, integrante do PDE-2013. Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Especialista em Administração, Orientação e Supervisão Escolar pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR). 2 Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Professora orientadora do PDE-2013. Docente da Universidade Estadual de Londrina- UEL.

A apresentação do trabalho foi realizada por unidades temáticas, em que

professores tiveram contato com materiais variados e atividades que os levassem a

pensar sobre o tema proposto.

O objeto de estudo volta-se para a diversidade. Nas últimas décadas, esta

temática tem trazido muitas discussões em torno da educação de modo intenso.

Profissionais de ensino e acadêmicos têm se manifestado a favor de uma educação

voltada para a promoção dos direitos humanos, vislumbrando um ensino plural,

antirracista, democrático, buscando minimizar as diferenças existentes na nossa

sociedade.

Considerando que tudo remete ao contexto das relações sociais é evidente

que discutir diversidade no espaço escolar possibilitará a compreensão de que, a

partir do momento das discussões e percepções reais sobre a diversidade, os

sujeitos podem sair do conformismo e buscar condições mais justas ‟[...] rompendo

com práticas seletivas, fragmentadas, corporativistas, sexistas e racistas existentes”

(GOMES, 2002, p.20).

Nesse sentido, cabe à escola, com urgência mudar seu modelo monocultural

e assumir uma proposta pluricultural para melhor atender as necessidades da

sociedade e dos sujeitos nela inseridos.

Importa ainda buscar um currículo mais adequado, pertinente e enriquecedor,

para que a escola possa trabalhar melhor com os conflitos e desafios existentes em

sala de aula e no espaço escolar como um todo, tendo clareza sobre a concepção

de educação, além de repensar práticas e ações pedagógicas mais direcionadas

dentro do currículo.

Assim, o trabalho realizado teve como escopo provocar um debate em torno

da diversidade cultural, no currículo e nas ações pedagógicas, a fim de que os

professores pudessem se apropriar e aplicar a temática diversidade cultural na sua

prática pedagógica, tornando-a mais significativa para os alunos.

DESIGUALDADE E DIVERSIDADE: DOIS CONCEITOS QUE SE ENTRECRUZAM

Em primeiro plano, importa considerar os diferentes percursos de

aprendizagem que o sujeito trilha ao longo de sua existência. Este processo vincula-

se às condições que lhe são oferecidas, as quais são distintas de um indivíduo para

outro.

Segundo Saviani e Duarte (2012, p. 2-3):

O acesso ao conhecimento dá-se de maneira profundamente desigual e seletiva, porém, tudo camuflado pelo discurso de respeito às diferenças culturais, pelo fetichismo da democratização do acesso ao conhecimento e pela subordinação dos objetivos da educação escolar a uma lógica de permanente esforço do indivíduo para se adaptar às mudanças constantes das condições de vida e de trabalho, normalmente no sentido da precarização.

Para uma educação plena, justa e igualitária, a escola precisa sair da forma

reprodutora dos conteúdos, por vezes insatisfatórios, sem sentido real,

desconectados da realidade vivenciada dos educandos.

Saviani (2003, p.14-15) postula que “[...] a escola é uma instituição cujo papel

consiste na socialização do saber sistematizado [...] é a exigência da apropriação do

conhecimento sistematizado por parte das novas gerações que torna necessária a

existência da escola”. Esta escola tem por necessidade romper com paradigmas da

desigualdade social que vem desastrosamente comprometendo o crescimento do

sujeito na sociedade em que está inserido.

De acordo com Elvira de Souza Lima (2006, p.17):

A diversidade é norma da espécie humana: seres humanos são diversos em suas experiências culturais, são únicas em suas personalidades e são também diversos em suas formas de perceber o mundo. Seres humanos apresentam ainda diversidade biológica... Como toda forma de diversidade hoje é percebida na escola há a demanda óbvia, por um currículo que atenda essa universalidade.

Tais diferenças necessitam ser vistas como um meio de transformação, ao

invés de serem vistas como obstáculos, dificuldades. A escola pode contribuir muito,

observando seus alunos, seu entorno social e, partindo dessa premissa, planejar-se

quanto às formas de atender aos diferentes modos de vida e aprendizagem,

colaborando para a formação mais ampla dos indivíduos.

A Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural (2009) preconiza que “A

diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que

caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade”. A

diversidade se apresenta entre as próprias etnias, culturas, linguagens, religiões,

sexualidade e podemos dizer que não somos apenas um mosaico, mas sim seres de

diversos contextos convivendo num imenso contexto.

ANÁLISE DOS RESULTADOS DA INTERVENÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

A etapa inicial da intervenção constou da apresentação do projeto ao grupo

de professores, funcionários e equipe pedagógica da instituição selecionada para a

aplicação das atividades previstas. Na ocasião, foi comentado que uma das etapas

da intervenção seria a explicitação e o trabalho prático com a metodologia proposta

por Gasparin (2009), temática que já havia sido trazida pela SEED na formação

continuada do início do ano letivo.

Houve uma boa receptividade do grupo ao projeto, e foi salientado pela

equipe que o projeto encontrava-se em consonância com outras experiências

vivenciadas em torno da mesma temática. Assim, destacaram-se, nos últimos anos,

projetos envolvendo a diversidade em diferentes áreas do conhecimento: na

disciplina de Geografia havia sido trabalhada a diversidade de gênero, em História a

temática abordada foi a representação do negro no cinema brasileiro, enquanto na

disciplina de Educação Física o objeto de estudo foi a utilização de um jogo de

origem africana que visa minimizar os problemas relativos à diversidade no contexto

escolar.

Os professores e equipe foram convidados a participar do grupo de estudos

que seria realizado aos sábados, com duração de 4 horas quinzenais. Houve

inicialmente a adesão de 12 (doze) profissionais inscritos, com posterior desistência

de três professores, devido a razões de ordem particular.

No primeiro encontro, foram trabalhados dois textos para ampliar a

compreensão acerca do conceito de Diversidade Cultural.

Discutiu-se também a definição de desigualdade social. A sistematização dos

saberes construídos neste primeiro encontro deu-se, primeiramente, pela discussão

dos textos e esclarecimento de alguns pontos que não haviam sido clarificados na

leitura realizada.

Para fins didáticos, os professores são identificados, neste estudo, por nomes

fictícios, a saber: Arco-íris, Dubai, Ébano, Elias, Fat Boy, Iansã, João Paulo, Marfim

e Peri, sinalizando elementos metafóricos para expressar a diversidade presente na

sociedade e na escola, como agência social de destaque na consolidação de uma

proposta de superação das desigualdades.

Quando questionados sobre diversidade cultural brasileira, os participantes do

grupo apresentaram as seguintes percepções:

O Brasil é um país construído historicamente, em tempos diferentes, por várias etnias. Vivemos num país com uma diversidade cultural significativa, pois aqui temos indígenas, europeus, africanos, asiáticos e outros povos que aqui se instalaram e que formaram a população brasileira. Estamos caminhando também para a diversidade de gênero. A nossa sociedade é muito tradicionalista e há muito preconceito com relação à homossexualidade. Mas, setores da sociedade têm discutido e reivindicado leis para garantir os direitos de cada cidadão.A diversidade cultural de nosso país é ampla e, portanto gera muito preconceito e discriminação, como por exemplo: condição social, não modelo de beleza e outros. (MARFIM, 2014) O Brasil é um país imenso, foi colonizado por vários povos que trouxeram na sua bagagem suas culturas, costumes e tudo mais. Toda essa cultura se expandiu no nosso território e temos essa diversidade cultural, que hoje se torna um desafio para uma convivência mais respeitosa e harmoniosa. (ÉBANO, 2014) A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. (PERI, 2014).

Verifica-se, nas falas transcritas, a percepção clara sobre a diversidade

presente, sobretudo, quando Marfim refere-se à construção da nação brasileira, a

partir de componentes histórico-culturais distintos. Da mesma forma, Ébano atenta

para a questão das culturas trazidas pelos povos formadores da nação brasileira e

do desafio em buscar uma convivência harmoniosa entre povos de origens distintas.

Peri vai além e menciona exemplos de esferas da vida em sociedade nas quais se

comprova a diversidade, tais como a culinária, a moda, religião e as tradições.

Perguntados se a escola consegue lidar com as diferenças, houve consenso

nas respostas quando todos os respondentes declararam que ainda persistem

dificuldades no trabalho com a diversidade presente na escola.

Discutidas as percepções iniciais dos participantes do grupo de estudos,

foram apresentados os conceitos de desigualdade social de dois autores distintos,

os quais foram confrontados, permitindo a expansão dos saberes dos participantes,

conforme se percebe nas falas transcritas na sequência.

Eu entendo que vivemos num país em que uma minoria detém o poder e a riqueza, vivendo de privilégios e ostentação. Enquanto que a maioria da população, trabalhadora, vive numa condição de pobreza e restrições. (MARFIM, 2014). É um processo que vem desde a nossa colonização que excluiu e desconsiderou as culturas aqui existentes e que desencadeou o processo de má distribuição de rendas, o preconceito, a discriminação e a oportunidade das classes minoritárias neste país. (ELIAS, 2014) As diferenças sociais não deveriam causar desigualdades, mas elas causam. Desde a nossa colonização ela se faz presente e permeia até hoje nossa sociedade. (ÉBANO, 2014)

Merece destaque o posicionamento assumido por Elias, quando se refere à

forma pela qual o país foi colonizado e sua influência nos problemas que afetam,

desde então, a sociedade brasileira. Esta percepção é confirmada por Ébano em

sua fala.

Tendo em vista a amplitude da questão, buscou-se, por meio da exibição de

um videoclipe de Lenine, ampliar a compreensão sobre as contradições reveladas

no atual estágio de constituição da humanidade.

Questionados sobre o trecho da música com maior significância, foram

destacados por Peri e por Arco-íris a primeira estrofe da música que para eles

retrata toda a essência dos questionamentos: Porque somos todos diferentes? E se

fôssemos iguais, como seria?, enquanto outras 05 pessoas ressaltaram o parágrafo

seguinte: “A humanidade caminha atropelando os sinais a história vai repetindo os

erros que o homem traz [...]”.

Foram mencionadas outras músicas e intérpretes que abordam a diversidade,

conforme segue: Racismo é burrice, de Gabriel Pensador; Cidadão, de Chico

Buarque; Só os loucos sabem, de Charlie Brown Jr; Perfeição, Renato Russo;

Em continuidade aos trabalhos do primeiro encontro, foi realizada uma

dinâmica para que o grupo refletisse sobre as atitudes, observações e críticas

realizadas nas ações cotidianas e que interferem no convívio humano. Por meio de

ações simples, como observar o outro e assumir seu lugar, foram debatidas as

impressões do grupo sobre as facilidades e/ou dificuldades em considerar a

presença do outro e assumir seu lugar.

Para compreender melhor a desigualdade social e a diversidade cultural,

foram exibidos dois vídeos, com o objetivo de perceber a extensão da desigualdade

social e das diversidades do nosso país.

Quando levados a refletir sobre as contradições entre ricos e pobres no Brasil,

os respondentes buscaram soluções para minimizar as desigualdades sociais

presentes em nosso país, conforme se apresenta na sequência.

É extremamente importante que todos tenham direito e acesso à educação para transformar a condição de miséria de muitas pessoas que vivem nesse país. Também de políticas públicas mais eficientes, que minimizem a situação deplorável de muitos brasileiros, como o direito à saúde, à moradia, ao trabalho e principalmente a educação que está estabelecida na Constituição do país. (MARFIM, 2014) Penso que uma forma digna e eficaz seja através do estudo, onde o sujeito poderia se libertar e se tornar sujeito da sua própria história. (IANSÃ, 2014)

Duas informações pontuais trazidas por Marfim e Iansã devem ser ratificadas.

Na primeira fala apresentada, tem-se a menção à necessidade de políticas públicas

que visem buscar soluções para as mazelas sociais que atingem uma parcela

considerável da população brasileira. Já na fala de Iansã, a educação é

contemplada como maneira privilegiada de fazer com que o homem se torne sujeito

de sua própria história.

Diante dos resultados da experiência vivenciada ao término da primeira

unidade, evidencia-se a percepção de que a diversidade cultural tem sido discutida

largamente nas manifestações artístico-literárias e acadêmicas. Da mesma forma, os

participantes do grupo apresentam uma concepção bastante adequada deste

fenômeno na realidade brasileira.

A segunda unidade didática teve como objetivo ampliar o conhecimento dos

professores sobre cultura, tendo em vista a premência em ampliar a compreensão

sobre o universo complexo eu também se pode encontrar no interior da escola,

interferindo no trabalho que nela se desenvolve.

Com os professores divididos em duas equipes, foi realizada uma dinâmica

de grupo, na qual foram distribuídas tarefas de desenho e recorte de partes do corpo

humano, buscando em seguida formar o todo, a partir de partes desordenadamente

representadas.

Diante do resultado, houve perplexidade por parte dos participantes, que

teceram críticas ao seu próprio trabalho, mas reconheceram também as falhas nos

desenhos dos colegas e, principalmente, no resultado final obtido pelo grupo. Houve

até mesmo um comentário: Fomos nós que fizemos isso aí? Em seguida, o resultado

final foi relacionado à prática docente, em que, muitas vezes, o conhecimento é

fragmentado, mutilado, e desconexo com a realidade e com as demandas de seus

usuários.

Os participantes do grupo foram solicitados a comentar a afirmação: Somos

todos iguais e diferentes. São transcritas as respostas consideradas mais relevantes

para o encaminhamento das discussões que se pretende articular neste estudo.

Somos todos iguais quando nos reportamos à nossa constituição corporal interna, mas na realidade somos todos diferentes em nossa constituição externa. Creio que isso é que cria todo esse conflito. Além de que pensamos e vemos o mundo de forma diferente, e quando não aceitamos que somos todos iguais, nos colocamos na posição de sermos diferentes. (FAT BOY, 2014) As diferenças fazem parte de um processo cultural e social, que se utilizou para dominar o outro, esquecendo-se que somos parte de um grande processo de criação e crescimento histórico. Que temos valores a serem respeitados e socializados, e tais valores só irão se refletir na medida em que as pessoas derem mais valor ao estudo e ao conhecimento. E é

justamente através desse conhecimento que nos libertamos e nos tornamos iguais. (ÉBANO, 2014)

É oportuno mencionar, quando se compara as falas de Fat Boy e de Ébano,

que o primeiro respondente mostrou-se repetitivo ao comparar o aspecto interior e

exterior dos sujeitos, mencionando as diferentes formas de pensar e ver o mundo.

Na percepção mais apurada de Ébano, as diferenças são consideradas partes

integrantes do processo cultural e social, frutos do crescimento histórico. Para esta

profissional, somente por meio do conhecimento é possível ao homem se libertar e

buscar a igualdade.

Na sequência, foi explorado o texto Escola e cultura, tendo sido aplicada uma

enquete visando identificar os hábitos culturais dos professores participantes,

Cultura, na acepção trazida pelos respondentes, foi assim definida:

Cultura é aquilo que recebemos dentro do seio familiar que passa de geração a geração. (PERI, 2014) Cultura é um conjunto de costumes, crenças, práticas comuns, regras, normas, códigos, vestimenta, religião, rituais e maneiras de ser que predominam na maioria das pessoas de uma determinada raça ou região. Também pode demonstrar a educação ou habilidades que possui um indivíduo. (ELIAS, 2014) Cultura é tudo o que aprendo. (IANSÃ,2014)

As falas transcritas deixam entrever uma concepção fortemente focada no

senso comum, o que leva a ponderar sobre a necessidade de ser fortalecida, na

formação docente, a prática de pesquisa como fator preponderante para o

atendimento das demandas trazidas pela modernidade.

Quando questionados se participam de eventos culturais em sua cidade, 06

respondentes disseram que sim, 02 afirmaram que só às vezes e um disse que não.

Estes dados podem ser confirmados pela observação do Gráfico 1.

Gráfico 1- Participação em eventos culturais Fonte: CORRÊA, 2014

Os percentuais obtidos a respeito da participação em eventos culturais

deixam entrever que a maioria dos profissionais, perfazendo 67% da amostra da

pesquisa, participam deste tipo de atividade, tendo sido mencionados como exemplo

cinema e shows.

Ao serem indagados se compartilham a realização de eventos culturais com

colegas e alunos e quais os motivos, 04 respondentes disseram que sim e

05profissionais deram resposta negativa. Os percentuais dos dados obtidos podem

ser observados no Gráfico 2.

Gráfico 2-Estímulo à participação de alunos e colegas em eventos culturais Fonte: CORRÊA, 2014

A respeito desta questão, houve a prevalência de respostas negativas, sendo

56% do total. Questionados sobre este ponto, alguns professores disseram que não

se sentem bem em frequentar o mesmo ambiente que os alunos, por se sentirem

vulneráveis quando inseridos na sociedade.

Um dos profissionais manifestou-se verbalmente dizendo: “E se eu estiver

bebendo em um bar e me deparar com um aluno? Será que eles vão conseguir

separar o lado profissional e o pessoal?” Esta é uma das questões que ainda precisa

ser mais explorada no universo escolar, sobretudo no período noturno, que

concentra um número maior de alunos mais velhos.

Explorando o texto jornalístico, foram trabalhadas duas reportagens. Na

primeira, A cultura e o óbvio, abordou-se a resistência na formação de hábitos como

cinema e teatro, e ainda é feita a menção ao projeto realizado por escola do

município de Londrina, intitulado Quarta literária, que explora clássicos da literatura

brasileira.

Indagados se na escola de atuação são desenvolvidos trabalhos similares ao

citado na reportagem, 06 professores disseram que sim, e três deram respostas

negativas. Neste ponto, cabe ponderar a ausência de um trabalho coletivo, que

considere a tarefa educativa como resultante de uma conjugação de esforços, e,

sobretudo, de objetivos comuns, previamente estabelecidos no coletivo.

Quando perguntados se acreditam que os profissionais da escola estariam

dispostos a desenvolver atividades coletivas, 04 respondentes disseram que sim,

enquanto 03 deram respostas negativas e outros 02 situaram suas respostas no

campo da dúvida.

Ao refletir sobre as ações desenvolvidas na escola pelos professores diante

do universo distinto que se apresenta, foram exibidos dois vídeos, sendo o primeiro

relativo à diversidade cultural na formação do nosso povo, a partir das várias etnias

que colonizaram o país e suas contribuições na formação da nação.

O segundo vídeo explora a postura humana diante das escolhas espontâneas

ou condicionadas que é necessário assumir em sociedade. Buscou-se promover

reflexões sobre o cotidiano escolar e as ações docentes em sala de aula em relação

aos alunos.

Após a discussão suscitada pelos vídeos, os professores deveriam descrever

sua postura, em situações de conflito. Foram selecionadas duas respostas, as quais

evidenciam posturas diferenciadas, sinalizando o modo particular de cada docente

atuar, embora todos trabalhem na mesma instituição e existe um regimento que

deveria sistematizar a condução deste tipo de ocorrência;

Procuro interferir para não criar mais polêmica em sala, peço que se coloquem no lugar do outro e questiono como seria se fosse ele ou ela o alvo do assunto ou situação. Feitas as interferências, continuo dando aula e se não resolver, encaminho para as pedagogas. (JOÃO PAULO, 2014) Tento resolver, mas prefiro mandar logo para as pedagogas e elas resolvem. Não posso parar a aula sempre. Se fizer isso, não dou conta de dar as matérias da turma. (DUBAI, 2014)

No posicionamento assumido por João Paulo, denota-se a presença de

indicadores de mudança, na medida em que são reforçadas situações em que existe

um diálogo com o aluno, a partir da mediação do professor, sugerindo que o aluno

que apresentou atitude inadequada se coloque na posição do outro que teve seus

direitos atingidos. Em direção contrária, Dubai relata que solicita a intervenção da

equipe pedagógica.

Depreende-se, da diversidade de situações, que o papel do professor mostra-

se preponderante para minimizar as situações de conflito, inevitáveis no contexto

escolar. A isso se refere Gomes (2007, p. 17-23):

O nosso grande desafio está em desenvolver uma postura ética de não hierarquizada as diferenças e entender que nenhum grupo humano e social é melhor ou pior do que o outro. Na realidade, somos diferentes. [...]Não podemos esquecer que essa sociedade é construída em contextos históricos, socioeconômicos e políticos tensos, marcados por processos de colonização e dominação. Estamos, portanto no terreno das desigualdades, das identidades e das diferenças.

Conforme refere a autora, a escola se encontra no terreno das desigualdades,

das identidades e das diferenças. Cabe, portanto, aos profissionais que nela atuam

a construção de uma prática que permite conciliar tais elementos, no intuito de tornar

explícita a compreensão de que não se trata de extinguir as diferenças, mas fazer

delas o ponto de partida para a consolidação de uma educação pautada no respeito

à diversidade.

Retomando a situação retratada no segundo vídeo, em que o humorista utiliza

a expressão “rezar por alguém”, observou-se que os professores atingiram a

compreensão das condições a que muitas vezes estão sujeitos os profissionais da

educação, sobretudo em um contexto em que nem sempre a opção por esta carreira

se concretiza de maneira espontânea ou prioritária.

Em termos poéticos, Alves (2002, p. 54-55) estabelece uma comparação

bastante pertinente que pode ser adapatada à prática pedagógica, na qual a

mudança emerge como um ponto central para a consolidação de uma educação de

qualidade.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. [...] Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. [...] A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece:pum! - e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado.

Estão presentes, na comparação elaborada por Alves (2002) aspectos

também presentes na experiência docente. Deste modo, na observação da realidade

escolar da atualidade, percebe-se a presença de profissionais que demonstram

resistência a mudanças, como o piruá a que se refere o autor, escondido em sua

casca dura. Muitas vezes, alguns professores não reconhecem o grande poder de

transformação que detêm em suas mãos. Outros, no entanto, permanecem

atrelados a suas concepções, seja por comodismo ou por outros motivos. Trata-se

de:

[...] pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. [...] Sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. [...] Vão ficar duras a vida inteira. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. (ALVES, 2002, p. 57)

Ampliando tal discussão, uma das questões propostas em seguida visava

identificar se todos os profissionais inseridos no contexto escolar realmente estão

engajados com o propósito de ensinar e transformar a realidade. Foram encontradas

algumas respostas bastante interessantes, que são transcritas a seguir.

Encerrando a segunda unidade, houve a exibição de um videoclipe de Zé

Ramalho, com a música Vida de gado.

A Unidade III teve início com a apresentação da metodologia ensino-

aprendizagem de Gasparin (2007), norteada pela Pedagogia Histórico-Crítica, por

meio de slides.

Foi explicitada a organização da prática didática a partir da obra de Gasparin.

Assim fez-se referência à Prática Social Inicial, como os saberes que os alunos e os

professores já possuem; a problematização que encerra a reflexão dos principais

problemas da prática social, seguida pela instrumentalização, ou seja, as ações

didático-pedagógicas; a catarse elevada à condição de uma nova forma de entender

a prática social e por fim, a Prática Social Final, sinalizando uma nova proposta de

ação a partir do novo conteúdo sistematizado.

Após o detalhamento da metodologia proposta por Gasparin, foi solicitado que

os participantes do grupo tecessem comentário sobre sua aplicabilidade.

É uma proposta interessante, que faz o aluno pensar e o professor também. (PERI, 2014) Na semana pedagógica do início deste ano, foi apresentada a proposta de Gasparin. Achei pertinente, diferente. Mas, ela precisa ser abraçada por vários professores. É justamente neste ponto que penso ser difícil a aplicação. Conversando com a colega ao lado, ela disse que já havia trabalhado com essa proposta e gostou muito e que deu ótimos resultados. (IANSÃ, 2014) Trabalho com a disciplina de História e é muito interessante este modelo de planejamento. (MARFIM,2014)

Após as reflexões suscitadas, foi exibido o vídeo Validação: Fazendo a

diferença, com vistas a observar que pequenos gestos de atenção, carinho, enfim,

“um olhar diferente”’ pode mudar a vida de muitas pessoas, inclusive dos alunos na

escola.

A este respeito, deve-se salientar que houve bastante receptividade por parte

dos professores, pois, quando questionados se sobre a possibilidade de os

educadores realmente fazerem a diferença com pequenas atitudes positivas, foram

obtidas as seguintes impressões:

Tive uma aluna em sala de aula, que veio transferida de outra escola e que certa vez que me chamou atenção pelo fato de estarmos em pleno verão e a mesma vir de blusa de moletom. Questionei e ela se esquivou. Os colegas faziam chacotas com ela. Interferi e numa conversa particular ao final da aula, ela me confidenciou que havia tentado suicídio cortando os pulsos e que havia uma cicatriz. Então, busquei trabalhar a temática de modo geral para amenizar a situação e o resultado foi positivo. (FAT BOY, 2014)

Trazida para o contexto escolar, a discussão desencadeou a importância de

se estabelecer um clima harmonioso, em que as diferenças sejam concebidas como

elementos de enriquecimento da prática educativa escolar,

Isso é confirmado quando João Paulo (2004) comenta que toda a comunidade

escolar deve conhecer a realidade cultural, pois só assim poderá desenvolver

práticas transformadoras, as quais não devem envolver apenas alterações no

currículo, mas principalmente nas relações que se estabelecem no ambiente

escolar, na medida em que o respeito, a ética, a solidariedade não se ensina, se

vive.

Na mesma direção, Arco-íris (2014) pontuou que os homens nunca serão

iguais, portanto, a instituição escolar é responsável por acolher a diversidade e

construir sua história. A profissional refere que uma educação de qualidade é um

direito de todos, e para cumprir seu papel, a escola precisa ressignificar os

conteúdos curriculares, inovar sua prática pedagógica para produzir saberes

significativos capazes de quebrar as barreiras do preconceito e discriminação.

Porém, uma das reflexões mais significativas foi exposta por Elias (2014),

quando pontuou que todos da escola devem ter um olhar diferente para o diferente,

não para fazê-lo igual, mas para respeitar sua essência.

Outra dinâmica realizada consistiu em demonstrar que a escola é um espaço

de todos, e o mesmo esforço demonstrado pelos participantes para se adequar ao

espaço reduzido de um pequeno círculo produzido em uma folha de sulfite deve ser

levado a termo na adequação das escolas aos anseios e necessidades dos

diferentes atores sociais que a compõem.

O trabalho com imagens e a produção de texto opinativo deu sequência à

unidade, tendo sido realizada a prática social final proposta por Gasparin, quando

um novo plano de ação passa a ser concretizado.

A quarta unidade constou da apresentação de um modelo de planejamento

sugerido por Gasparin, no intuito de que os professores possam compreender e

aplicar em sala de aula, o material proposto.

Para coleta dos materiais os professores utilizaram o laboratório de

informática, a fim de produzir um material mais elaborado. Com objetivo de auxiliar

na organização dos trabalhos, foram apresentadas algumas referências norteadoras,

como vídeos, músicas e textos.

Foi proposta a leitura do texto Não somos donos da teia da vida. Após a

leitura e análise das principais temáticas discutidas no texto, foram promovidos

debates sobre a responsabilidade que cada professor deve assumir por seus atos,

bem como sobre o poder de modificar tais situações tomando consciência do papel

fundamental que exerce na escola e na vida das pessoas.Depois, em duplas,

trocaram experiências vividas e se colocaram diante do grande grupo para relatar os

aspectos positivos e/ou negativos de sua profissão.

Na atividade relatada, observou-se que os participantes do grupo nem sempre

corresponderam às expectativas inicialmente estabelecidas, recorrendo a relatos

apenas orais para expressar suas impressões sobre a temática discutida pelo texto.

Desta forma, nova indagação deve ser feita: Como o professor poderá

contribuir para a formação de sujeitos críticos quando ele mesmo não assume este

papel?

Alarcão (2004) também apresenta a mesma questão, quando adverte que a

atividade docente se realiza em ações práticas, exige fundamentação teórica e

produz dados tangíveis. Dadas estas especificidades, requer reflexão teórico-prática

permanente que se concretiza por meio de um diálogo consigo mesmo, com os

outros que já construíram conhecimentos e com cada situação vivenciada.

A culminância da quarta unidade deu-se com a realização de uma dinâmica

cantada, durante a qual a turma foi dividida em dois grupos, e cada um recebeu uma

folha com perguntas relacionadas aos mais distintos momentos que demarcam a

profissão docente e o outro grupo cantavam trechos de músicas para expressar os

sentimentos e emoções vivenciados no magistério.

Os resultados da quarta unidade deixam entrever a necessidade de realizar

mais eventos como os aqui descritos, na medida em que se entende que é preciso

que o professor tenha momentos para ressignificar sua prática, questionar suas

próprias ações e a efetividade destas na condução de um projeto educativo de

qualidade.

Neste ponto, retoma-se o questionamento feito por Gomes (2008), no

momento em que a autora pontua que a escola não pode se distanciar da discussão

da diversidade, na medida em que estase encontra de maneira inequívoca no

universo escolar por meio da presença de professores/as e alunos/as dos mais

diferentes pertencimentos étnico-raciais, idade, culturas.

A quinta unidade tratou da prática efetiva da proposta metodologia

concebida por Gasparin. Os professores elaboraram a partir de um esquema

inicialmente formulado, planos de aula para ser aplicados em suas turmas. Para a

aplicação, os professores tiveram um intervalo de três semanas.

A sexta unidade constou da coleta dos resultados dos trabalhos feitos em sala de

aula, também as impressões trazidas pelos professores, a fim de avaliar a

aplicabilidade do esquema, fazendo parte do cotidiano escolar, visando assim, tornar

o aluno mais crítico, mais integrado no ambiente escolar.

Após a exibição e posterior reflexão sobre as ideias contidas no texto

musical Perfeição, de Renato Russo, os professores passaram a relatar seus

trabalhos em sala de aula, expondo suas dificuldades e as dos alunos. Cada

professor teve quinze minutos para sua explanação e impressões.

Marfim, Ébano, Iansã, João Paulo, Peri e Fat Boy relataram que a

experiência de uma nova proposta de plano de aula foi positiva, ficando mais

evidente a participação mais efetiva dos alunos no processo da construção do saber.

Para Arco-íris, Elias e Dubai, este processo ainda é muito trabalhoso e os mesmos

não se sentem preparados assumir esta nova metodologia em sala de aula.

Acreditam que necessitam de mais formação e informação para realizarem as

atividades em sala de aula do modo proposto.

O fechamento da unidade deu-se pela elaboração de uma mostra cultural

retratando a diversidade cultural no município de Londrina. Esta tarefa foi um pouco

comprometida pelas condições de trabalho dos professores, pois coincidiu com o

final de bimestre. Foram coletadas imagens, objetos e depoimentos encontrados em

fontes diversas para apontar o multiculturalismo existente na realidade do município

em que esta intervenção foi concretizada.

A oitava unidade constou da socialização dos saberes construídos pelos

participantes no decorrer das ações que compuseram a proposta didático-

pedagógica. Assim, os professores apresentaram a Mostra Cultural sobre o

município de Londrina para a escola como um todo.

Esta atividade teve como objetivo contribuir para a reflexão sobre a

multiplicidade cultural no país e na escola, buscando minimizar as diversidades

encontradas no cotidiano escolar, bem como desenvolver novas práticas

pedagógicas, a fim de reverter essa situação posta historicamente.

A culminância do projeto ocorreu com a confraternização entre os grupos e

com avaliação final do trabalho desenvolvido durante o período da apresentação do

projeto. No final, os professores produziram um texto relatando suas impressões,

suas dificuldades e descobertas.

Na sequência, são apresentados recortes destes relatos, evidenciando o

impacto positivo desencadeado pela intervenção aqui descrita.

Sua Produção Didático-Pedagógica objetiva provocar um debate em torno da diversidade cultural, no currículo e nas ações pedagógicas, a fim de que os professores possam se apropriar e aplicar a temática diversidade cultural na sua prática pedagógica, tornando-a mais significativa para os alunos, portanto, ela contribuirá para atender a uma necessidade pessoal e social de nossos educandos, de modo que depois de serem aprendidos os conteúdos propostos, possam ser instrumentos de mudanças sociais, devendo ser incorporados dentro de uma totalidade, isto é, o aluno deve assumir uma nova postura diante da sociedade. Este trabalho aponta a necessidade de se perceber a importância da escola na formação de um sujeito crítico, a fim de que o mesmo possa obter uma educação plena e igualitária, em que as desigualdades sociais e a diversidade cultural se façam presentes, levando-nos a entender que o que se está posto em termos de educação necessita de mudanças. (IANSÃ, 2014)

O trabalho, dentro do contexto escolar, é um processo contínuo de formação onde aprender e ensinar deve ser visto como uma via de mão dupla. Professor não pode ser detentor do conhecimento e o aluno não é uma tábua rasa. Há sim uma diferença de saberes, os quais devem ser cruzados para que haja interação e construção dos conhecimentos acerca das hipóteses levantadas. (ÉBANO, 2014)

Foi possível perceber, durante a realização das diferentes etapas concluídas

em atendimento à proposta de intervenção, que existe ainda um longo caminho a

ser percorrido na proposição de um trabalho docente que efetivamente contemple os

saberes dos alunos conforme preceituam os autores que dão suporte à análise aqui

concebida, em especial a proposta de Gasparin.

Assim, embora em algumas ações propostas os resultados não tenham sido

os esperados, deve-se apontar a viabilidade de realização de novas experiências, no

intuito de suscitar, no professor, a necessidade de uma formação continuada que

atenda às demandas da educação em uma sociedade em permanente evolução.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A concretização das diferentes etapas da intervenção que deu origem a este

artigo partiu da necessidade de se perceber a importância da escola na formação de

um sujeito crítico, a fim de que o mesmo possa obter uma educação plena e

igualitária, em que as desigualdades sociais e a diversidade cultural se façam

presentes, levando-nos a entender que o que se está posto em termos de educação

necessita de mudanças.

A diversidade é inerente ao ser humano e representa uma importante

discussão a ser considerada no trabalho escolar, ainda mais, considerando-se a

necessidade de se contextualizar o diferente no cotidiano da escola. As diferentes

demandas sociais materializam a realidade de cada unidade escolar, urge ser

perfilhada para que cada vez mais a prática curricular e as ações pedagógicas

possam vislumbrar e oportunizar a permanência destas culturas excluídas no

ambiente escolar.

Neste sentido, este trabalho mostrou-se válido por discutir alternativas

pedagógicas para a inserção da prática docente em uma proposta pluricultural que

vise atender as necessidades dos sujeitos e da sociedade que ele está inserido.

Para tanto, este trabalho foi dividido em unidades temáticas cujos temas

abordados foram a diversidade cultural, desigualdade social, cultura e planejamento,

visando novas ações pedagógicas no currículo para melhoria da educação.

Os resultados atingidos por meio da intervenção realizada permitem afirmar,

sem incorrer em erro, que a diversidade constitui parte integrante da existência

humana e a escola, como importante instituição social fundada no terreno das

desigualdades, das identidades e das diferenças, não pode se omitir ao debate

sobre a diversidade.

Nesta dimensão, (re) pensar a diversidade implica, em primeiro plano, a

construção de uma escola realmente democrática, moldada por novas práticas

pedagógicas que trabalhem as desigualdades e diferenças como substratos para a

promoção de discussões continuadas acerca da diversidade nas relações que se

tecem não apenas no contexto escolar, mas nas demais dimensões da vida em

sociedade.

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva.3 ed. São Paulo:Cortez, 2004. ALVES, Rubem. O amor que acende a lua.2 ed. Campinas: Papirus, 2002.

CANDAU, Maria Vera. Sociedade Multicultural e educação: tensões e desafios. In: CANDAU, Maria Vera (org). Cultura(s) e educação: entre o crítico e pós-críticos. Rio de Janeiro: DP & A, 2005.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL. 2009 GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 4. ed. campinas: Autores Associados, 2007.

GOMES, Nilma Lino. Indagações sobre Currículo, Diversidade. Brasília: Ministério da Educação Básica, 2008. LIMA, Elvira de Souza. Currículo e desenvolvimento humano. In: MOREIRA, Antônio Flávio e ARROYO, Miguel. Indagações sobre currículo. Brasília: Departamento de Públicas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, 2006, p. 11-47. MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos.Rev. Bras. Educ. [online]. 2003, n.23, p. 156-168. SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Autores Associados, 2003. SAVIANI, Demerval e DUARTE, Newton. Pedagogia Histórico-Crítica e luta de classes na educação escolar. Campinas: Autores associados, 2012.

VIGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução de

Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2000.