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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

COMO INICIAR A DISCIPLINA DE HISTÓRIA NA SEGUNDA FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL ATRAVÉS DO TEMA GERADOR IDENTIDADE

LOPES, Roseli de Fátima1.

DeNipoti, Cláudio Luiz2

RESUMO

Este projeto se justifica em buscar uma forma não fragmentada para o ensino de História tendo o tema gerador identidade como forma de levar o aluno a aprender, participando, formulando problemas, refletindo, agindo, investigando, construindo novos conhecimentos e informações, problematizando, seguindo uma trilha motivacional cujos conteúdos serão conectados a uma problemática do seu contexto social, político e econômico, significando uma outra maneira de repensar a prática pedagógica e as teorias. Tendo como objetivo despertar nos alunos o interesse pela busca de informações e conhecimentos sobre sua identidade e cotidiano, oportunizando um encontro prazeroso com a História. A implementação do projeto se deu junto aos alunos do 6º ano do Colégio Estadual Presidente Tancredo Neves – Ensino Fundamental e Médio no município de Imbaú, através do desenvolvimento de Unidade Didática e com professores da Rede Pública do Estado do Paraná, através do portal Dia a dia Educação/Educadores. Palavras-chave: História. Identidade. Tema Gerador.

1 Introdução

Discutir o ensino de História, hoje, é pensar os processos formativos que se

desenvolveram nos diversos espaços, é pensar fontes e formas de educar cidadãos,

numa sociedade complexa e marcada por diferenças e desigualdades.

Onde o homem moderno não é mais aquele que sofre a ruptura entre o

passado e o presente, o antes e o depois, mas aquele que carrega com si mesmo a

ruptura como objeto de sua vontade. Dessa forma a função da educação escolar e

dos processos educativos é a transmissão, a preservação da experiência humana

entendida como cultura.

(...) a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última: a educação não é nada fora da cultura e sem ela; dir-se-

1 Autora, Professora PDE – 2013. Professora de História no Colégio Est. Presidente Tancredo Neves – E. F. M. e Normal, Imbaú, Paraná. 2Professor, Orientador, UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa. PDE 2013.

á que é pela e na educação, através do trabalho paciente e continuamente recomeçado de uma tradição docente, que a cultura se transmite e se perpetua: a educação realiza a cultura como memória viva, reativação incessante e sempre ameaçada, fio precário e promessa necessária da continuidade humana. (FORQUIM,1993, p.14)

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, os objetivos gerais

da área de conhecimentos históricos preconizam o conhecimento e compreensão do

universo em que vivem os alunos em famílias e em comunidades, numa perspectiva

socioambiental, através da construção de repertórios histórico-culturais, através de

uma educação crítica, criativa, refletiva e motivadora. E a função da História é fazer

com que o aluno compreenda melhor a realidade em que está vivendo. E não serão

os erros do passado que nos darão uma visão diferente do presente. Mas eles

também fazem parte da ponte entre o passado e o presente. (NIKITIUK, 2001)

O método formal de ensinar, tradicionalista, já não funciona como

antigamente, não se prende mais a atenção do aluno somente com um professor

sentado à frente da sala e agindo como um ditador de regras e conteúdos naquele

ambiente. A preocupação é emergente, porém está passando despercebida por

parte dos professores. A história está aberta a novas possibilidades, novos

horizontes, e é nesse âmbito que as práticas de ensino devem caminhar também,

para que seja melhor entendida pelos alunos.

Sendo assim, este projeto se justifica pela forma fragmentada como o ensino

de História está sendo desenvolvido. Geralmente os professores da primeira fase do

ensino fundamental não trabalham o aluno como sendo parte da história. Tendo o

tema gerador identidade como forma de levar o aluno a aprender participando,

formulando problemas, refletindo, agindo, investigando, construindo novos

conhecimentos e informações, problematizando, seguindo uma trilha motivacional

cujos conteúdos serão conectados a uma problemática do seu contexto social,

político e econômico, significando uma outra maneira de repensar a prática

pedagógica e as teorias.

Desta forma, desenvolveu-se junto aos alunos do 6º ano, do Colégio

Estadual Presidente Tancredo Neves – Ensino Fundamental e Médio, do município

de Imbaú, tendo como objetivo despertar nos alunos o interesse pela busca de

informações e conhecimentos sobre sua identidade e cotidiano, oportunizando um

encontro prazeroso com a História.

2 Fundamentação Teórica

2.1 O trabalho com o tema gerador

Entender diferentes concepções de educação não significa apenas conhecer

o que diferentes filósofos e pensadores escrevem a respeito. Significa também a

possibilidade de melhor compreender nossa prática educativa e, consequentemente,

de poder transformá-la.

O conhecimento resulta de uma motivação dos seres humanos para explicar

o mundo e a si mesmos, bem como para responder aos desafios que o ambiente

lhes propõe. Desde que nascemos temos por característica universal o desejo de

conhecer, de explicar o que é percebido. Foi esse desejo que impulsionou, e

continua a impulsionar as grandes descobertas da humanidade, as belas produções

artísticas, literárias, e os avanços da ciência e da tecnologia. (BRASIL, 2006)

Cabe ao professor a tarefa de “ler” o seu grupo, buscando identificar traços

comuns e aspectos ou temas que reúnam o grupo em torno de uma questão.

De acordo com Brasil (2006, p. 11) no começo dos anos de 1960, Paulo

Freire levantou uma questão fundamental para a educação: a importância de se

trabalhar com temas significativos para os alunos. Freire propôs o que chamou de

temas geradores: educador e educando debruçam-se sobre aspectos da realidade

que, mantendo ligação com o universo conhecido deles, são capazes de impulsioná-

los para novas descobertas.

Assumir o Tema Gerador como estratégia metodológica, implica,

sobremaneira, na aceitação de que uma dada realidade poderá suscitar diversas

explicações. Significa, também, aceitar que as opiniões das pessoas estão

assentadas em valores, princípios éticos e, experiências de vida, distintos.

De acordo com Marques,

Se acreditamos que a educação tem um papel importante no processo de humanização das relações entre os homens e no processo de transformação da realidade social, é preciso apontar suas responsabilidades: a educação pode servir de instrumento tanto de libertação quanto de domesticação do homem. A educação, como qualquer outra produção histórico-social reflete representações e valores de um determinado grupo, isto é, reflete ideologia. Qualquer representação de uma pessoa elabora sobre si mesma, sobre os homens, sobre a sociedade, sobre tudo que exprime valores como certo/errado, bom/mau,

verdadeiro/falso, revela a sua inserção como indivíduo em um grupo que possui uma determinada ideologia. É necessário detectar as contradições entre essas representações do grupo e a história de vida e de produção de cada um para que o indivíduo se torne consciente de si e de seu papel social. Precisamos conhecer a ideologia inerente a cada concepção de educação para que possamos optar por aquela que seja coerente com nossa visão de homem e de mundo e com nosso papel social. (MARQUES, 2012, s/p)

Portanto, o desenvolvimento deste trabalho gerará, com certeza, um leque

de diferentes respostas/posições sobre um mesmo assunto.

Pois, antes mesmo de ter acesso a conhecimentos considerados oficiais ou formais, cada um de nós cria, pela própria experiência concreta, explicações para os fenômenos naturais, sociais e culturais. Nossas teorias particulares são, inclusive, a porta de acesso a outros novos conhecimentos. Sendo assim, cada aluno é um sujeito repleto de saberes. Saberes particulares, diversos, nascidos da interação com o meio físico, familiar, da experiência com o trabalho, do fazer e dos papéis sociais que cada um de nós desempenha em cada fase da vida. (BRASIL, 2006, p.7)

O planejamento pedagógico que tem o Tema Gerador como aquele que

indica o caminho a ser seguido, que parte da escuta da realidade, que organiza esta

realidade, que propõe conteúdos e atividades de caráter reflexivo, a práxis é

epistemologicamente diferente. Freire denomina esta prática de Educação

Libertadora.

Para Freire o Tema Gerador divide-se em:

Macro – estrutural – É aquele Tema Gerador que abarca uma situação –

limite vinculada aos “temas de caráter universal, contidos na unidade epocal mais

ampla, que abarca toda uma gama de unidades e subunidades, continentais,

nacionais, regionais [...]” (Freire, 1987, p. 94)

Micro – estrutural – É aquele Tema Gerador que abarca temas de caráter

particular, porque estão próximos do dia a dia dos alunos.

Construída a noção de como se categoriza os Temas Geradores em macro ou micro

- estruturais, passamos à etapa seguinte da estruturação do Tema Gerador. Esta

etapa contempla a organização da trama dos Temas Geradores em uma Rede

Temática.

Escolhida a Rede Temática, passa-se à elaboração do planejamento

pedagógico e à definição dos conteúdos programáticos decorrentes da Rede

Temática. No caso deste projeto tem-se a rede temática Identidade, através da qual

se trabalhará a história e a realidade do aluno.

O professor vai definir por uns ou outros conteúdos programáticos, porque são esses que contribuirão para “descodificação da situação existencial” através de movimentos do “abstrato ao concreto, que se dá na análise de uma situação codificada” FREIRE (1987, p. 97).

Trabalhar com temas geradores ajuda a organizar o trabalho de sala de aula

porque possibilita uma aprendizagem significativa.

2.2 O ensino de História

A escola é o lugar especialmente estruturado para potencializar a

aprendizagem dos alunos. A escola, poderíamos afirmar, é o cenário no qual, alunos

e professores, juntos, vão construindo uma história que modifica, amplia, transforma

e interfere em diferentes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na qual está

inserida e o da sociedade, numa perspectiva mais ampla. Nessa perspectiva, o

estudo da História possibilita o questionamento e a reflexão sobre a realidade atual e

a construção de uma consciência histórica capaz de reinterpretar o passado, de

reavaliar ações e de projetar o futuro.

De acordo com Serrazes (2013)

A supervalorização do tempo presente, por exemplo, é uma característica da sociedade contemporânea, que, diante da rapidez das informações, da influência da mídia, com seu bombardeio de imagens, do consumismo e da valorização do novo, parece negligenciar outras dimensões do tempo, relegando o passado à categoria de objeto descartável. Em contrapartida, podemos perceber que, nos últimos anos, o cinema, a TV e as editoras têm investido em publicações e em produções sobre temas históricos, tornando a História um objeto de consumo, o que, sem dúvida, segue uma lógica capitalista de ampliação e diversificação do mercado, porém, também demonstra os anseios e as expectativas de nossa época, ou seja, a necessidade de encontrarmos nossas raízes, de compreendermos nossa realidade e até de reavaliarmos nossas ações como sujeitos históricos, pois o ponto de partida da História como estudo é o tempo presente. (SERRAZES, 2013, p.10)

Assim, percebemos como o conhecimento histórico é essencial para a

formação integral do indivíduo, o que, em nossa sociedade, enfrenta inúmeros

desafios, já que parte dessa formação acontece na escola, um espaço de múltiplas

interações, contradições e conflitos.

O ensino de história no Brasil traz atualmente, variadas discussões sobre

‘como ensinar’ pois o método formal de ensinar, tradicionalista, já não funciona como

antigamente, não se prende mais a atenção do aluno somente com um professor

sentado à frente da sala e agindo como um ditador de regras e conteúdos naquele

ambiente.

A escola, como instituição educativa, tem sido questionada acerca de seus objetivos e de suas práticas, e as diversas disciplinas tornaram-se alvos de críticas e, consequentemente, objetos de estudos que visam discutir os fundamentos de cada área e as possibilidades de realizar um trabalho educativo interdisciplinar e, principalmente, de colocar em prática metodologias diversificadas, centradas na construção de conhecimentos significativos e na interação professor-aluno. (SERRAZES, 2013, p. 11)

Além do que, como bem sabemos, a História ensinada é sempre fruto de

uma seleção, um "recorte" temporal, histórico. As histórias são frutos de múltiplas

leituras, interpretações de sujeitos históricos situados socialmente. Assim como a

História, o currículo escolar não é um mero conjunto neutro de conhecimentos

escolares a serem ensinados, apreendidos e avaliados. Conforme define Goodson

(1995, p. 27), inspirado em Hobsbawm, o currículo é "sempre parte de uma tradição

seletiva, um perfeito exemplo de invenção da tradição".

As aulas tradicionais, que usam muito do método expositivo, e da visão de

História política/linear, pouco ajudam os alunos na apreensão do conhecimento

histórico. Mas o fato, é que a grande maioria dos professores de História da rede

pública, continua sim, utilizando desse método de lecionar.

Nas palavras de Freire (2011a, p. 101), “assim como não posso ser

professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de

minha disciplina, não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro

ensino daqueles conteúdos.”

Porém, não é raro nos depararmos com o descontentamento entre a relação

professor-aluno no ensino aprendizagem de história. Há uma dúplice decepção de

ambos os lados. Os professores queixam-se do desinteresse pleno de seus alunos e

o distanciamento dos mesmos, promovido por meios, sejam eles sociais ou até

mesmo virtuais que o distanciam dos conteúdos históricos e de sua vida real. Já

pelo lado dos alunos o que mais se acentua quando é proposto para falarem da aula

de história ou do professor, é que: as aulas são chatas, os temas são

desinteressantes e sonolentos, e os professores são distantes e inacessíveis.

A preocupação é emergente, porém está passando despercebida por parte

dos professores. A história está aberta a novas possibilidades, novos horizontes, e é

nesse âmbito que as práticas de ensino devem caminhar também, para que seja

melhor entendida pelos alunos.

O professor precisa ser, além de um especialista em sua área de conhecimento, um condutor, um educador de crianças, de adolescentes, de jovens, papel que não vem sendo assumido, pelo corpo docente, principalmente a partir dos anos finais do Ensino Fundamental. A grande questão proposta por Arroyo (...) é que esse professor é, ou precisaria ser, um especialista em infância. (...) Os profissionais têm de dominar saberes não apenas sobre práticas de ensino, mas sobre o desenvolvimento integral do ser humano. Sobre os processos de socialização total dos indivíduos nas sociedades modernas. Têm de dominar conteúdos e processos para estimular o conjunto de capacidades humanas não só cognitivas e intelectuais, mas também sociais, afetivas, expressivas, comunicativas e entender como todas elas interferem nos processos de apreensão do conhecimento”. (XAVIER 2008, p. 29)

Através de uma interação e aproximação entre professor e aluno, pode se

tornar mais fácil o aparecimento desse interesse e participação tão desejados. Para

isso faz-se necessário que o professor compreenda que cada aluno já vem para a

sala de aula com algumas opiniões formadas pelo meio em que vive, por cada

comunidade que participa, e o estimule a não tomar sempre essas opiniões como

verdades absolutas, mas sim debater sobre essas temáticas e tentar analisá-las por

ângulos diferentes, vendo-as por variadas visões, para então poder construir uma

visão crítica própria.

Portanto, no campo das possibilidades, a intenção é pensar o ensino de história como exercício de compreensão das construções culturais e das relações entre um “nós” e um “outro” por meio das narrativas construídas, considerando a complexidade dos processos de subjetivação e fabricação de identidades no mundo contemporâneo. (BRUCE; FALCÂO; DIDIER, 2006: p.12)

O estudo da História é importante para o conhecimento de si mesmo e do

outro, o que contribui para a tolerância e para uma convivência mais solidária entre

as pessoas, pois constrói identidades e cidadania.

2.3 O ensino de História e o tema gerador identidade

O ensino tradicional de História que ainda se faz presente em muitas escolas

hoje, não traz praticamente nada da realidade de morador, de sujeitos construtores

da história, da sua história e que pode juntar, fundir sua história vivida na história do

outro, daquele com quem o aluno convive diariamente, e assim constituírem uma

história de grupo, que se forja nas suas crenças, lutas e batalhas diárias, não em

guerras imaginárias ou apenas descritas por algumas pessoas a quem interessa

difundir “aquela história” como versão.

Segundo Serrazes (2013) a trajetória da história ensinada não corresponde,

necessariamente, à da história conhecimento, pois elas são entrecortadas por

debates historiográficos e, também, por questões políticas, ou seja, as propostas

curriculares são influenciadas pela forma de governo, pela ideologia partidária e

pelas relações de poder de forma geral.

Durante muito tempo, a disciplina História foi entendida como um conjunto de conteúdos a serem memorizados, sem muita relação com a vida cotidiana e o presente, porém, nos últimos anos, o ensino dessa disciplina tem sido repensado, afinal, diante da complexidade do mundo contemporâneo, tornou-se necessário compreender a dinâmica das transformações e, principalmente, construir identidades, pois vivemos em sociedade e necessitamos de elos com o nosso passado que nos aproximem de nossos ancestrais, dando-nos um sentido de pertencimento, e que, também, nos possibilitem responder às indagações existenciais de nosso próprio tempo, como “quem somos”, “de onde viemos” e “para onde vamos”. (SERRAZES, 2013, P.12)

Inserir ideias, vivências e pensamentos que os alunos trazem de casa e da

sua família, a “sua história”, para constituir uma história de grupo, dentro da escola,

da turma em que estão inseridos, só é feita em alguns momentos.

Para Ciampa (1987) a identidade, deve ser entendida como resultado de um

processo histórico que compreende toda vivência humana e como um processo de

construção de subjetividade.

A escola tem errado muito quando busca centrar o seu trabalho em questões

distantes da realidade e da convivência do aluno o qual faz parte do seu contexto e

está ali diariamente construindo conhecimentos e ao mesmo tempo repassando sua

identidade para o grupo em que está inserido.

Segundo Lima (1999) conhecer, entender, respeitar e preservar as raízes e

a origem de um povo, comunidade ou uma região é sobre tudo garantir a esse povo

a condição de existir e proteger a sua identidade, valorizando e cultivando a sua

história local, facilitando o entendimento e a inserção dos alunos no contexto

histórico, não só regional mas também nacional.

Muito tem se falado em identidade nos últimos tempos. De acordo com o

dicionário (FERREIRA, 2001, p.371) “o significado da palavra identidade é a

qualidade de idêntico. Os caracteres próprios e exclusivos duma pessoa: nome,

idade, estado, profissão, sexo, etc”. Já a etimologia da palavra identidade vem do

latim e remete a idem, que significa o mesmo.

Portanto, trabalhar a identidade de cada criança buscando criar um clima

socializador e interativo com as experiências pessoais de cada um, é tarefa

imprescindível e necessária para uma aprendizagem mais significativa e feliz.

A História torna-se apaixonante quando compreendemos seu significado e, principalmente, quando aprendemos a refletir, a pensar historicamente. Esse é o nosso maior desafio como professores dessa disciplina: motivar os alunos a aprender História, desenvolver a reflexão crítica sobre as ações de nossos antepassados e, sobretudo, contribuir para a formação de uma consciência histórica que leve os alunos a reinterpretar o passado, a reavaliar as ações do presente e a projetar o futuro. (SERRAZES, 2013)

Para Freire (2011a), o fundamental é que o indivíduo se reconheça e se

constitua como sujeito no mundo, responsável pela construção das condições do

mundo em que vive, e não um objeto, à mercê de situações sem poder ser

modificadas.

Quando falamos em construção de identidade devemos compreender o ser

em toda a sua complexidade, com todas as atividades que realizam em sua vida.

Para isso, é necessário que o professor de História não apenas conheça os

conteúdos a serem ensinados, mas que também reflita sobre os fundamentos e os

métodos de ensino dessa disciplina para que possa atuar de forma mais

significativa, potencializando o caráter transformador do estudo da História.

Pois, segundo Brasil,

As crianças, os adolescentes e os jovens formam-se na comunidade. Nela produzem e desenvolvem hábitos, atitudes, sentidos, conhecimentos, destrezas e competências. Essa educação fez com que eles sejam quem são. Eles chegam à escola com a educação vivenciada na família e na comunidade. O seu saber e patrimônio cultural não podem ser desrespeitados, nem devem ser apenas o ponto de partida para a educação escolar. Seu saber e patrimônio cultural devem fazer parte do processo da formação escolar. (BRASIL, 2004, p.12)

Trabalhar a história da identidade de cada aluno partindo da vida dos alunos,

o seu nascimento, e os documentos que comprovam essa história como verídica

proporcionará um aprendizado de construção coletiva de saberes, onde cada um

agregará ao seu saber o saber da humanidade, mas que tem seu jeito próprio de

fazer esse saber na construção com o saber trazido pelos tantos pares que aqui se

encontram.

A partir do exposto, este trabalho propôs uma organização dos conteúdos

baseada no tema gerador identidade, buscando uma maior flexibilidade curricular e

reconhecendo a impossibilidade de se ensinar considerando novas possibilidades de

trabalho pedagógico, em que os alunos sejam motivados a construir e a reconstruir

conceitos históricos.

3 Metodologia

A aplicação do presente projeto deu-se junto aos alunos do 6º ano no

Colégio Estadual Presidente Tancredo Neves – Ensino Fundamental e Médio,

município de Imbaú, durante o primeiro semestre do ano letivo de 2014, através do

desenvolvimento de atividades disponibilizadas em uma Unidade Didática, durante o

período de 32 horas aulas, distribuídas em 08 encontros com os alunos e 01 com

equipe pedagógica e demais professores da escola. E junto aos professores da

Rede Pública Estadual, através do Grupo de Trabalho em Rede – GTR 2014, no

portal Dia a dia educação.

4 Aplicação da proposta na escola e no grupo de trabalho em rede

O trabalho teve início com um encontro com a equipe pedagógica,

administrativa e professores do Colégio, no mês de fevereiro, durante a semana

pedagógica 2014. Após, teve início o desenvolvimento do trabalho junto aos alunos

através das seguintes ações:

1º encontro: Apresentação do Projeto aos alunos e discussão sobre a

implementação da Produção Didática.

2º encontro: Reflexão sobre o tema: História e Identidade.

Trabalho com o texto: História e Identidade, onde os alunos foram levados a

refletir sobre seu papel e importância para a História. E sobre a formação da

Identidade histórica.

3º encontro: Refletindo sobre o tema: Quem sou eu? Leitura e explanação

do tema: Nossa História. Foi trabalhado leitura e interpretação de texto, para que o

aluno pudesse se identificar como sujeito histórico.

Atividades desenvolvidas pelos alunos. FONTE: Arquivo da autora

4º encontro: Neste encontro foi Conversando sobre o primeiro documento

pessoal. Trabalhando e pesquisando fontes. Trabalhou-se o texto sobre a

importância de termos nossos documentos pessoais, os tipos de documentos que

mais utilizamos. Também foi realizada uma atividade onde os alunos deveriam

preencher uma certidão de nascimento, pode-se perceber o pouco conhecimento

que os mesmos tem sobre seus dados pessoais, sendo assim, realizaram uma

pesquisa, em casa, sobre estes dados. O resultado foi muito enriquecedor.

Atividades desenvolvidas pelos alunos com dados do registro de nascimento.

FONTE: Arquivo da autora

5º encontro: Reflexão sobre o tema: A família. Leitura e explanação do texto:

Outros modelos de família. Estes temas foram trabalhados através de pesquisa e

preenchimento de uma árvore genealógica, foi realizado um trabalho com uma foto

que o aluno trouxe, onde pode-se conhecer um pouco mais sobre o cotidiano dos

mesmos, com o texto sobre a origem familiar deles pode-se trabalhar algumas

questões sobre a regionalização e cultura. Foi também realizado estudo de um texto

sobre os diferentes tipos de famílias, onde conversou-se sobre a composição

familiar no decorrer da história.

Apresentação cultural desenvolvida pelos alunos. FONTE: Arquivo da autora

6º encontro: Refletindo sobre o texto: Quem somos? Nossa cultura.

Trabalhando o texto: Cultura e manifestações populares. Através destas atividades

neste encontro trabalhou-se o que é cultura, o respeito pelos diferentes tipos de

cultura, a cultura e algumas manifestações populares de nosso país. Além da

realização de uma pesquisa com um familiar sobre histórias contadas e sobre a

cultura da região.

7º encontro: Reflexão sobre o tema: O estudo da identidade através da

História local. Trabalhando com entrevistas. Neste encontro, dando prosseguimento

à pesquisa solicitada em encontro anterior sobre a cultura da região, trabalhou-se

alguns pontos relacionados à história local como o histórico do município, a cultura

local, como festas tradicionais e alguns costumes. Foi solicitado para o próximo

encontro a realização de uma pesquisa, já estruturada, com moradores mais antigos

e que trouxessem fotos antigas de pessoas e localidades do município.

8º encontro: Neste último encontro os alunos puderam analisar o resultado

da pesquisa realizada, seguindo um roteiro apresentado. Puderam também trabalhar

análise de imagens, tendo como fonte as fotos trazidas.

Ao final dos encontros pode-se perceber que o trabalho foi muito bom,

trouxe resultados positivos, pois os alunos participaram ativamente das atividades

propostas, além de terem adquirido conhecimentos sobre seu papel como sujeito

histórico.

Quanto ao Grupo de Trabalho em Rede, foi desenvolvido através do portal

Dia a dia da educação, área dos educadores, onde professores da rede pública de

todo o estado do Paraná puderam se inscrever, de acordo com o tema de seu

interesse.

A turma era composta de 17 (dezessete) professores, que durante o período

do grupo de trabalho puderam analisar o projeto e a unidade didática, comentá-los,

fazerem discussões sobre o assunto apresentado, trocarem experiências nos fóruns,

fazerem seus relatos nos diários e aplicarem o projeto em suas turmas, de acordo

com sua realidade, de acordo com o módulo aplicado.

Entre as postagens realizadas tem-se relatos como:

A produção didático pedagógica da prof.ª Roseli é sem dúvida um trabalho muito bem elaborado por alguém que tem propriedade no que faz. Conhece os limites dos alunos de acordo com idade e série. Com linguagem fácil e simples consegue de maneira muito didática e prática desenvolver a noção de identidade histórica. Podemos aprender muito com esse trabalho e aplicá-los em nossas escolas. Não se trata de algo revolucionário, ou de algo baseado apenas em teorias, mas de algo bastante acessível e bem feito. As atividades com a família, comunidade e fontes históricas ajudam o aluno a reconhecer o seu lugar na sociedade. As ideias foram organizadas em uma sequencia bastante didática. Partindo de um contexto familiar o aluno chega a um contexto histórico muito mais amplo. Olhando o trabalho vemos que é bastante interessante, resta-nos aplicar na prática para poder diagnosticar se os alunos se sentem motivados e curiosos na pesquisa e na busca por novas descobertas em torno de sua identidade (JOSIEL DOS SANTOS LIMA, GTR – 2014)

Houve também relatos com relação à forma como o conteúdo foi

apresentado:

Trabalhar com o conteúdo identidade contribui com o desenvolvimento do pensamento histórico por ter significado para o aluno além de permitir aos sujeitos compreender suas relações com a sociedade e deve ser contemplado em todos os anos da Educação Básica por ser um conteúdo que não se esgota as possibilidades e contribui para o aluno pensar

historicamente e possibilitar a valorização e preservação de documentos escritos. (CAROLINA DO ROCIO NIZER, GTR – 2014)

Ao final da aplicação do Projeto junto aos Alunos e aos Professores do GTR,

pode-se perceber que o projeto alcançou seus objetivos, os resultados obtidos foram

satisfatórios e que as estratégias pedagógicas aplicadas, trouxeram resultados

positivos, criando condições para que o aluno viva novas formas comunicativas

através de um universo textual conhecido e significativo para ele de uma maneira

mais prazerosa.

5 Considerações finais

Ao final deste trabalho pode-se concluir que diante de todas as dificuldades

encontradas em sala de aula, é necessário que o professor crie em sua sala de aula

condições que levem os alunos a gostarem daquilo que estão fazendo, ou seja, é

fundamental criar condições e meios motivadores para despertar seu interesse e

assim, desenvolver um processo de ensino/aprendizagem que traga resultados

positivos.

Sendo assim, cabe ao educador buscar constantemente alternativas viáveis

para organização do trabalho pedagógico no cotidiano escolar visando melhor

atender os alunos, suas expectativas, dificuldades, através de uma educação de

qualidade. Segundo Freire (1996) o trabalho de ensinar, exige - entre outros

aspectos - rigorosidade metódica, pesquisa, criticidade, respeito aos saberes dos

educandos e querer bem os alunos.

Que o trabalho desenvolvido através do tema gerador Identidade permitiu

compreender a vivência humana e como um processo de construção de

subjetividade foram exploradas as possibilidades de transformação da mesma,

através de educação libertadora e emancipadora, que permitiu aos alunos serem

sujeitos de suas próprias histórias, saírem das condições de alienação e

passividades vivenciadas por eles até então.

E que o PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, apesar de

apresentar diversas ‘dificuldades’, oportuniza momentos de aprendizagem e reflexão

aos professor da Rede Estadual de Ensino, que no decorrer de sua carreira acabam

sendo deixados de lado, por motivos diversos, como desestímulo, falta de tempo,

entre outros, porém, é uma proposta que realmente viabiliza a melhoria da qualidade

da educação e nos possibilita contribuir para a melhoria do trabalho docente na

escola.

Referências

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