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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E INCLUSÃO:

Construindo estratégias para superação de dificuldades de

aprendizagem de conceitos matemáticos básicos

EliasaTernowski1

Leoni Malinoski Fillos2

RESUMO

A inclusão é realizada na escola efetivamente quando todos os alunos encontram condições de igualdade para a assimilação de conhecimentos, desenvolvimento cognitivo e formação de cidadania. É preciso que a escola se constitua em um espaço onde todos os estudantes sintam-se aceitos e tenham garantida uma educação de qualidade. Nessa perspectiva, este artigo apresenta os resultados da aplicação do projeto de Intervenção Pedagógica, inserido no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2013, da Secretaria do Estado da Educação do Paraná, cujo foco de estudo foi sanar dificuldades em Matemática de alunos do Ensino Médiode tal modo que não se sintam excluídos do processo educativo. O objetivo do estudo foi intervir no processo educativo para que alunos com defasagem de conteúdos pudessem se apropriar dos conceitos básicos de Matemática não assimilados em anos escolares anteriores. O projeto foi realizado com alunos que frequentam o 1° ano do ensino médio no Colégio Estadual Padre José Orestes Preima, município de Prudentópolis (PR), em horário de contra-turno, sendo propostas atividades diversificadas como jogos, utilização de mídias, situações problemas e tarefas investigativas inseridas no contexto, enredo e personagens do filme Alice no País das Maravilhas. Os resultados indicam que atividades diferenciadas estimulam à aprendizagem, tornando a aquisição dos conceitos matemáticos mais eficaz e significativa.

PALAVRAS-CHAVE: Alice no País das Maravilhas. Dificuldades de aprendizagem.

Educação Matemática. Inclusão.

1 Professora da Rede Pública do Estado do Paraná. Licenciada em Matemática e Especialista em

Ensino e Formação de Recursos Humanos para a Educação Básica pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO/Irati-PR. E-mail: [email protected] 2 Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/Matemática. Professora do

Departamento de Matemática da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. E-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

Segundo Dourado (2007, p. 923), “a educação é entendida como um

processo amplo de socialização da cultura, historicamente produzida pelo homem, e

a escola, como lócus privilegiado de produção e apropriação do saber”. O

conhecimento é um processo contínuo que demanda reavaliação constante e o

repensar de estratégias para que se busque o seu aprimoramento. Nesta busca, o

processo educativo vem se desenvolvendo com o objetivo de formar sujeitos para

um novo modelo de sociedade, ou seja, sujeitos críticos, participativos e

emancipados. Para tal, a escola possui função primordial de atender e incluir alunos

com suas diversidades.

Ao concluir o Ensino Fundamental espera-se que o aluno possua

conhecimentos que são fundamentais para a continuidade de seus estudos e para a

aquisição de novos conhecimentos no Ensino Médio. Se ao ingressar no Ensino

Médio o aluno não tiver consolidado tais conhecimentos, ele terá dificuldades em

acompanhar o processo pedagógico e, como consequência, poderá se sentir

marginalizado. Quando falamos em exclusão, nos referimos também à dificuldade

de aprendizagem que o aluno possui devido a falhas que ocorreram no seu

processo educativo.

Nesse sentido, durante o Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE/2013) foi desenvolvido o projeto de intervenção pedagógica “Educação

Matemática e Inclusão: construindo estratégias para superar dificuldades de

aprendizagem do Ensino Médio”, com o intuito de auxiliar um aluno portador de

deficiência física e com dificuldade de aprendizagem matemática a encontrar o

significado de frequentar a escola pela sua função. Partimos do pressuposto de que

não basta que o aluno esteja presente na sala de aula para que o estejamos

incluindo socialmente. É necessário que o aluno assimile conceitos essenciais à

compreensão dos conteúdos disciplinares (MANTOAN, 2006).

Durante o Ensino Fundamental o aluno demonstrou muitas dificuldades no

processo de ensino e aprendizagem, especialmente na disciplina de Matemática. No

Ensino Médio, praticamente não participava das atividades propostas, realizando-as

somente quando a professora estava ao seu lado e direcionando o seu pensamento.

Nas atividades em grupo, os demais alunos não queriam a participação dele, pois o

mesmo não buscava inserir-se no desenvolvimento das atividades. Assim, a fim de

reverter esse quadro de insucesso, entendemos a necessidade de uma intervenção

de modo que os conteúdos básicos do Ensino Fundamental pudessem ser revistos e

ressignificados por este aluno.

Foi elaborada, nessa perspectiva, a Unidade Didática, ou seja, uma produção

didático-pedagógica composta de atividades diferenciadas pautadas em jogos,

situações problemas e mídias tecnológicas, com o intuito de que com essas

atividades o aluno desenvolvesse capacidades matemáticas não desenvolvidas de

maneira eficaz no Ensino Fundamental. Tais atividades, para que se tornassem

dinâmicas e atrativas, foram inseridas no contexto, enredo e personagens do filme

Alice no País das Maravilhas e se constituíram no núcleo de referências para a

implementação do projeto.

O presente artigo apresenta o resultado desta implementação, que foi

desenvolvida no primeiro semestre de 2014, em Prudentópolis (PR), no Colégio

Estadual Padre José Orestes Preima – Ensino Fundamental e Médio, com 06 (seis)

alunos da 1ª série do Ensino Médio, com dificuldades em Matemática.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Especial (PARANÁ,

2006), a inclusão e a diversidade são temas que vêm sendo discutidos amplamente

na última década. Diversos congressos, debates e produções acadêmicas têm

enfatizado a temática, assim como a mídia tem chamado a atenção para a questão.

Isso, porém, não significa que inclusão esteja sendo realizada efetivamente em

nossa sociedade, onde diversos grupos encontram-se ainda marginalizados, sofrem

preconceitos, não têm voz nem vez, sendo-lhes negados direitos garantidos por lei.

Para Mantoan (2006), a exclusão escolar ocorre das mais diversas maneiras,

pois a escola se democratizou, aceitando novos grupos sociais, mas os

conhecimentos e a forma de transmissão destes permaneceram os mesmos. Ou

seja, a escola comum tem recebido sujeitos com diferentes características físicas,

mentais e/ou intelectuais, porém, mesmo diante desse quadro de diversidades,

utiliza a mesma metodologia de trabalho para todos.

Para Souza e Oliveira (2009, p.5), “o magistério, na educação inclusiva, deve

partir do pressuposto de que ensinar a todos, não significa ensinar tudo, da mesma

forma, a todos, com os mesmos objetivos e formas de avaliação”. Para que a escola

consiga realmente incluir os alunos é necessário que os professores repensem a

sua prática pedagógica, pois

[...] o adentramento de alunos especiais nas escolas comuns, vem trazendo novas e maiores responsabilidades e desafios, sem que os docentes recebam o devido conhecimento social e a melhoria de suas condições salariais e de trabalho (SOUZA; OLIVEIRA, 2009, p. 8).

No entender de Mantoan (2006), a inclusão requer uma mudança na

perspectiva educacional, pois deve atingir a todos os alunos, e não somente os

alunos com deficiência ou os que apresentam dificuldades de aprendizagem. Cada

aluno possui a sua especificidade, pois possui diferenças individuais decorrentes da

sua vivência.

Os problemas enfrentados ao lidar com alunos com deficiências também podem ser observados em alunos sem deficiência, mas que também não conseguem se alfabetizar no tempo desejado pela escola, tampouco compreender conceitos da maneira como os professores se esforçam para ensinar (MIRALHA; SCHULÜNZEN, 2007, p.87).

A exclusão escolar ocorre muitas vezes quando o aluno não consegue

assimilar os conteúdos da mesma maneira que os demais colegas, sentindo-se

constrangido e até mesmo rejeitado em diversas situações de sala de aula. Isso, em

geral, gera dificuldades e pouco aproveitamento, além de aversão às disciplinas

curriculares e ao seu estudo. Veiga (1998, p. 47) reforça que “os estudantes

apresentam diferentes ritmos de aprendizagem e os professores estão

despreparados para lidar com essas diferenças e com as limitações dos alunos”.

Uma das disciplinas em que se percebe de forma explícita a dificuldade de

assimilação dos conteúdos e mesmo a aversão pelo estudo é a Matemática,

considerada historicamente uma área do conhecimento altamente seletiva e

excludente e responsável por um elevado índice de reprovações e evasão nas

escolas.

Se é verdade que a Matemática permeia as atividades humanas, o que há de errado em seu ensino? A Matemática está presente no noticiário econômico do jornal e da TV, na música, na pintura, nas receitas culinárias e na natureza de uma forma geral. Vivemos em um mundo de números representados por toda a parte. O próprio corpo humano já confere a vivência de uma espacialidade (BICUDO, 2005, p. 22).

Para Lorenzato (2008), a linguagem matemática possui expressões, regras,

vocábulos e símbolos próprios que são resultados de processo histórico e para que

possam ser compreendidos e empregados corretamente é necessário que o aluno

compreenda o significado de cada um. Muitas vezes, o professor acaba dando mais

ênfase à utilização do algoritmo e acaba esquecendo-se da importância da

compreensão do processo algorítmico.

Ao desenvolver a sua prática pedagógica o professor deve investigar quais os

conceitos matemáticos que o aluno possui. Partindo desses conceitos, que possuem

significado para o aluno, pois foram adquiridos através das interações com situações

da vida cotidiana, o professor deve propor situações que os incentivem a revisar,

ampliar e transformá-los em conceitos mais elaborados e abrangentes (CARVALHO,

2009).

O erro pode ter distintas causas: falta de atenção, pressa, chute, falta de raciocínio, falta de estudo, mau uso ou má interpretação da linguagem oral ou escrita da matemática, deficiência de conhecimento da língua materna ou de conhecimentos matemáticos. Detectar a(s) causa(s) de cada erro, na maioria das vezes, não é fácil (LORENZATO, 2008, p. 50).

Para que se consiga sanar as deficiências na aprendizagem da Matemática é

primordial que se consiga detectar as causas que dificultam o processo de

aprendizagem do aluno. Identificando-as o professor poderá interferir e “proporcionar

um ensino partindo do momento em que o aluno está, precisando considerar os pré-

requisitos cognitivos matemáticos referentes ao assunto a ser aprendido pelo aluno”

(LORENZATO, 2008, p.27). Pois, “ensinar, na perspectiva inclusiva, significa

ressignificar o papel do professor, da escola, da educação e de práticas

pedagógicas que são usuais no contexto excludente do nosso ensino, em todos os

níveis” (MANTOAN, 2006, p. 54).

A Educação Matemática, nessa perspectiva, somente atinge a sua finalidade

quando o aluno através do conhecimento matemático desenvolve valores e atitudes

que auxiliarão na sua formação integral como cidadão (PARANÁ, 2008). Para tanto,

ao concluir o Ensino Fundamental o aluno deve possuir conhecimentos que são

fundamentais para a continuidade de seus estudos e para a aquisição de novos

conhecimentos no Ensino Médio. Se ao ingressar ao Ensino Médio o aluno não tiver

consolidado tais conhecimentos, ele terá dificuldades em acompanhar o processo

pedagógico, e como consequência, poderá se sentir marginalizado. Portanto,

quando falamos em exclusão também nos referimos à dificuldade de aprendizagem

que o aluno possui devido a falhas que ocorreram no seu processo educativo.

Enfim, acreditamos que a superação da exclusão só será alcançada à medida que a auto-estima e valores como respeito a si, ao outro e ao meio sejam afloradas. A inclusão de qualquer pessoa, deficiente ou dita normal, depende de condições sociais, econômicas e culturais que envolvem família, escola e sociedade e principalmente da ação de todos (SANTOS; SCHLUNZEN; BARDY, 2007, p. 46).

Somente superaremos a exclusão social e escolar quando todos –

comunidade escolar, sociedade e governo – nos envolvermos efetivamente, com o

intuito de assegurarmos o direito a cada pessoa de ser reconhecida como indivíduo

único, com características próprias, e desenvolvermos o respeito às diferenças

existentes.

Além de ser um direito, o convívio com as diferenças certamente contribuirá para a formação de cidadãos de uma sociedade mais justa, da qual a discriminação e o preconceito não farão parte. A escola é o local privilegiado para a tomada de consciência da riqueza que representa o convívio com as diferenças, pois educar implica o encontro com o outro, que necessariamente é diferente (GESSINGER; LIMA; BORGES, 2010, p. 2).

A escola é um espaço onde ocorre a socialização de valores e atitudes

através da reflexão das nossas ações. “É aqui que entra uma visão de Educação

Matemática que trata com a diferença e também trata dela, não de modo a corrigi-la,

mas de modo a promover reflexão sobre ela de uma forma dificilmente atingível com

outros assuntos” (LINS, 2005, p.118). A Matemática do dia a dia é diferente da

matemática do matemático e esta diferença dentro da Educação Matemática pode

nos proporcionar situações que são essenciais para que possamos trabalhar com as

diferenças. Sendo assim, “[...] a Educação Matemática é o melhor lugar que temos,

dentro desta escola disciplinar historicamente construída, para discutir a diferença,

discutir estes dois processos, a exclusão pelo outro e a minha própria recusa em ser

de certo modo” (LINS, 2005, p. 118).

3. METODOLOGIA

O presente estudo foi desenvolvido no primeiro semestre do ano de 2014,

com 06 (seis) alunos da 1ª série do Ensino Médio do Colégio Estadual Padre José

Orestes Preima– Ensino Fundamental e Médio, localizada no município de

Prudentópolis (PR).

Inicialmente o projeto foi idealizado com o intuito de sanar as dificuldades em

Matemática de um único aluno do Ensino Médio, portador de deficiência física e com

acentuada defasagem de aprendizagem. Entretanto, devido às características das

atividades que compunham a produção didático-pedagógica e para que o aluno

pudesse interagir com outros colegas, outros alunos foram convidados a participar

da Intervenção Pedagógica, de modo que mais cinco alunos integraram-se ao

projeto, sendo selecionados pela equipe pedagógica a partir do critério: alunos com

dificuldades de aprendizagem em Matemática.

Antes do desenvolvimento do projeto, o aluno e sua mãe foram consultados

quanto à possibilidade do mesmo em participar das atividades de implementação em

contra-turno, e ambos demonstraram muito interesse pela intervenção. Mas no

período de implementação, primeiro semestre de 2014, o aluno estava com

problemas de saúde, ficando impossibilitada a sua participação.

Conversando com a Equipe Pedagógica, com o NRE e a Professora

Orientadora, decidimos pela continuação da implementação do projeto com os

demais alunos, incluindo mais um aluno. Esperamos ansiosamente que o aluno

portador de deficiência se recuperasse e pudesse participar de algumas atividades,

o que não foi possível, pois durante o primeiro semestre de 2014 o mesmo

encontrava-se de atestado médico, retornando suas atividades escolares somente

no mês de outubro.

A implementação com os demais alunos foi realizada em contra-turno, sendo

8 encontros de 4 horas, com um total de 32 horas. O material de apoio foi a unidade

didática, produzida no segundo semestre do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), contendo diversas atividades para serem desenvolvidas em

computadores ligados à Internet e de raciocínio lógico-matemático, todas

interligadas entre si e tendo os personagens do filme Alice no País das Maravilhas

como pano de fundo para a contextualização e retomada dos conteúdos curriculares

da disciplina.

Assim, a proposta do primeiro encontro foi que os alunos assistissem ao

referido filme, para que se familiarizassem com os personagens e com o enredo da

história. No segundo encontro, conforme a sequência do material didático, seriam

desenvolvidas atividades lógico-matemáticas online. Para nossa decepção, porém,

não conseguimos acesso à internet no laboratório de informática da escola, o que

nos fez alterar a sequência das atividades, sendo propostas nesse encontro

atividades que não eram online.

No terceiro encontro, conseguimos acesso à internet depois de algumas

tentativas, mas não foi possível abrir os aplicativos nos computadores. Entrei em

contado com o NRE para pedir a visita do técnico responsável pelos laboratórios de

informática das escolas. Relatei o problema e o mesmo me informou que não seria

possível, pois os computadores eram muito antigos e não comportariam os jogos

online.

Devido a esses problemas, a partir do quarto encontro busquei a seguinte

alternativa para realizar as atividades propostas na Unidade Didática: salvei os jogos

online no pendrive e usando o notebook e o projetor multimídia, passamos a

desenvolver as atividades, projetando-as em uma tela. Surgiu, entretanto, outra

dificuldade: enquanto um aluno jogava, os demais tinham que ficar esperando. Para

que eles não se dispersassem, optei, então, por realizar uma competição entre eles,

para que sempre buscassem uma pontuação maior. Dos seis alunos, dois se

desestimularam e abandonaram o projeto. Os outros quatro permaneceram no

projeto e serão aqui identificados por: Aluno A, Aluno J, Aluno L e Aluno M.

Concomitante ao processo de implementação foram realizados estudos junto

ao Grupo de Trabalho em Rede (GTR), com professores de Matemática de distintas

regiões do Paraná. As discussões realizadas no GTR ampliaram os conhecimentos

teórico-metodológicos a respeito do uso de tecnologias na educação e de

investigações nas aulas de Matemática e, por consequência, oportunizaram melhor

direcionamento à execução do projeto.

A seguir são apresentados e discutidos os resultados obtidos na

implementação na escola.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A escola tem recebido sujeitos com diferentes características físicas, mentais

e/ou intelectuais, porém, mesmo diante desse quadro de diversidade, utiliza a

mesma metodologia de trabalho para todos. A inclusão requer uma mudança de

perspectiva educacional, pois deve atingir a todos os alunos, cada um com suas

diferenças individuais. Conforme pontua o Professor Cleto, participante do GTR,

A inclusão exige mais da escola/professores, a utilização de mídias, jogos entre outros mecanismos, aumenta a possibilidade da criança se inserir na escola. Sendo a relação escola/aluno/professor permeada pelo respeito/afeto, estimulando este educando a superar as dificuldades, valorizando os pequenos avanços (somos convidados a trabalhar o diferente). Às vezes esperamos o aluno ideal (sem dificuldades/inteligente), mas muitas vezes o educando (com dificuldades) espera o professor ideal que o ajude a vencer as dificuldades (Arquivo da Professora Autora).

Como primeira atividade do projeto propôs-se que os alunos assistissem ao

filme Alice no País das Maravilhas, que se familiarizassem com a história e seus

personagens. Essa proposta foi recebida com desconfiança e inquietação por

acharem que se tratava de um filme muito infantil. Porém, no decorrer do filme,

perceberam que era adequado à sua faixa etária e fizeram vários questionamentos

que os auxiliaram na atividade seguinte, que consistia em analisar e entender alguns

personagens do filme.

As demais atividades consistiam em jogos, jogos online, situações problemas

e atividades investigativas, todas interligadas pelos personagens do filme Alice no

País das Maravilhas.

As atividades preferidas pelos alunos foram os jogos virtuais, que foram

gravados em pendrive, pois, devido aos fatores já citados, não foi possível serem

trabalhados online. Os jogos virtuais3 foram: Material dourado virtual, Calculadora

quebrada, Bilhar holandês, Sudoku, Jogo da memória, Calculando e Fila do banco

(problema de lógica).

Tais jogos despertaram o interesse dos alunos e a motivação pela resolução

de problemas de raciocínio lógico, aprimorando seus conhecimentos matemáticos.

3Jogos disponíveis nos sites:<http://www.educacaodinamica.com.br>,

<http://rachacuca.com.br> e <http://revistaescola.abril.com.br>.

Instigaram a busca de estratégias e estimularam a interação, a troca de ideias e

competição sadia em sala de aula. Como destacou o professor Marcelo, participante

do GTR,

[...] Este público a que se destina tem facilidade na interpretação dessas atividades. A atividade Calculadora Quebrada no site Racha Cuca é muito instigante, pois os alunos querem passar de nível como em um jogo de vídeo game normal, gerando uma disputa muito proveitosa, além de os mesmos terem que traçar estratégias e metas para resolver problemas de raciocínio lógico (Arquivo da Professora Autora).

Os demais jogos consistiam em adaptações do dominó, escopa, memória,

jogo dos pontinhos, entre outros. O objetivo dos jogos era desenvolver habilidades

envolvendo as quatro operações básicas com números inteiros e o raciocínio lógico.

Dentre os jogos o preferido foi o dominó, pois sempre que sobrava um tempinho os

alunos pediam para jogarem.

No decorrer do desenvolvimento do projeto foi possível perceber a melhoria

do raciocínio e do cálculo mental dos alunos, pois passaram a realizar as atividades

com mais rapidez e desenvoltura.

Com exceção do aluno M, os demais são meus alunos no ensino regular.

Com o desenvolvimento das atividades da Unidade Didática pude notar que o aluno

A não acompanhava as atividades em sala de aula devido a sua agitação. Essa

agitação causou algumas dificuldades na implementação do projeto, pois o mesmo

não conseguia aguardar que os demais alunos jogassem na sua vez. Assim, os

alunos se sentiam pressionados e eu não podia dar a atenção devida aos demais,

pois precisava chamar a atenção deste aluno. No decorrer das atividades e depois

de muita conversa, o aluno A começou a se acalmar e pudemos realizar as demais

atividades, sem que ele interferisse com o comportamento inadequado.

Pude perceber que o projeto foi bastante produtivo, pois em sala de aula, no

período regular, os alunos A, J e L começaram a prestar mais atenção e a fazer as

atividades do dia a dia com mais empenho e dedicação. O aluno A ficou mais

acomodado, sentiu-se mais instigado e passou a ter mais interesse pelos conteúdos

trabalhados nas aulas. Como consequência, as notas em Matemática desses

estudantes melhoraram, sendo que foi muito prazeroso verificar que no 3º bimestre

eles tiraram a nota máxima em uma das avaliações de matemática realizadas.

Conforme destacou a professora Lígia no GTR,

Durante o ensino médio, nós educadores podemos perceber muitas defasagens apresentadas pelos nossos alunos durante toda sua vida escolar. Dificuldades de leitura, interpretação, operações básicas, entre outras. Temos lido, estudado, debatido muito sobre o assunto diversidade e inclusão. Não devemos pensar somente que o aluno tem que ser incluído socialmente na escola, mas sim que ele sinta-se sujeito do processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, é necessário que nós educadores da rede pública principalmente, pensemos na possibilidade de incluir estes alunos com dificuldades/defasagens. Como fazer isso? Buscando estratégias metodológicas, estudando constantemente, se utilizando das mídias, para intervir na melhoria da aprendizagem de nossos alunos (Arquivo da Professora Autora).

Antes da implementação didático-pedagógica, em sala de aula estes alunos

se mostravam indisciplinados, desrespeitosos e em algumas situações até

agressivos. Durante a implementação foi sendo formado um elo de amizade entre

nós. Hoje, em sala de aula, o comportamento dos mesmos é diferente. Realizam as

atividades propostas, buscando desenvolvê-las da melhor maneira possível.

Acredito que podemos muito, quando unimos nossas forças. Quando trocamos experiências pedagógicas que dão certo. Quando respeitamos os alunos da mesma forma em que gostamos de ser respeitamos. Quando demonstramos afeto pelos nossos alunos quando cobramos dele alguma coisa, mostrando nossa preocupação com o seu desenvolvimento como educando e também como cidadão. Não significa tirarmos a responsabilidade de suas famílias, muito menos facilitadores para que sejam acomodados mas sim, tratar nossos educandos com respeito, respeitando sua cultura, suas dificuldades, procurando ajudá-los a superar suas dificuldades e não se sintam excluídos do processo de ensino-aprendizagem (Professora LIGIA – participante do GTR; Arquivo da Professora Autora).

Assim, para atingirmos a todos os nossos alunos, muitas vezes não basta

uma atividade diferenciada. É necessário que eles se sintam importantes, especiais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo, que apresenta os resultados das atividades desenvolvidas no

projeto de intervenção pedagógica, inseridas no PDE/2013, teve por foco sanar as

dificuldades em Matemática de alunos do Ensino Médio, a partir do uso de mídias

tecnológicas e jogos.

As atividades do material didático, que deram suporte ao projeto de

intervenção na escola, foram propostas com o intuito de que o aluno portador de

deficiência física pudesse desenvolver capacidades matemáticas que não foram

desenvolvidas no Ensino Fundamental. Tais atividades foram pautadas nas

dificuldades deste aluno, mas pode-se perceber que os demais alunos inseridos no

projeto puderam se beneficiar delas, pois obtiveram melhorias no cálculo mental e

no desenvolvimento do raciocínio lógico.Deste modo, este material poderá ser

utilizado por outros professores, pois se constitui em um instrumento para a

superação das dificuldades em Matemática.

Como nem tudo são flores, a implementação deste estudo, de certo modo foi

frustrante para mim e para os alunos. Quando pensei nas atividades online,

acreditava que a escola teria um laboratório novo, com condições para que fosse

possível desenvolver as atividades. A escola na qual foi desenvolvido o projeto

iniciaria o ano de 2014 em um prédio novo e com imobiliário novo. Mas, infelizmente,

os computadores do laboratório de informática foram aproveitados do prédio

anterior. Eram computadores antigos e com vários itens a serem consertados, sendo

necessária, portanto, a adequação das atividades, que foram realizadas com o

auxílio de notebook e do data-show.

Mesmo assim, foi gratificante perceber o entusiasmo dos alunos que

participaram do estudo, seus questionamentos, a interação entre eles e o visível

avanço na aprendizagem. Aguardo com ansiedade o momento no qual todas as

escolas possuam um laboratório de informática com condições necessárias para que

possamos desenvolver atividades diferenciadas, que com certeza repercutirão na

qualidade do ensino.

Destaco também as importantes contribuições do Grupo de Trabalho em

Rede, a troca de experiências entre os professores e as reflexões a respeito da

inclusão escolar, das dificuldades em Matemática e dos recursos midiáticos.

Certamente essas discussões possibilitaram aos professores envolvidos repensarem

a sua prática pedagógica, visando à formação de um indivíduo atuante na sociedade

na qual está inserido.

Concluo este estudo com o sentimento de que pude suprir defasagens de

aprendizagem dos alunos participantes deste estudo e, mais do que isto, contribuir

na formação de estudantes críticos e autônomos.

6. REFERÊNCIAS

CARVALHO, Dione Lucchesi de. Metodologia do ensino da matemática. 3.ed.rev.

São Paulo: Cortez, 2009. DOURADO, L. F. Políticas e gestão da educação básica no Brasil: limites e perspectivas. Educação e Sociedade, Campinas, vol 28, n.100 – Especial, 2007, p. 921-946. GESSINGER, R. M.; LIMA, V. M. R.; BORGES, R. M. R.. A Formação de Professores de Matemática na Perspectiva da Educação Inclusiva. In: X Encontro Nacional de Educação Matemática, 2010, Salvador. Anais..., Salvador, 2010.

LINS. R. C. Matemática, monstros, significados e Educação Matemática. In: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. de C. Educação Matemática: pesquisa em movimento. 2.ed.rev. São Paulo: Cortez, 2005. LORENZATO, Sérgio. Para aprender matemática. 2.ed.rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? 2.ed. São Paulo: Moderna, 2006. MIRALHA, J. O.; SCHULÜNZEN, E. T. M. Inclusão escolar e a prática pedagógica. In: IX Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Professores, 2007, Águas de Lindóia. Anais... Bauru: Editora da UNESP, 2007. PARANÁ. Diretrizes curriculares da educação especial para a construção de currículos inclusivos. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 2006. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Matemática. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 2008. SANTOS, N. A. D.; SCHLUNZEN, E. T. M.; BARDY, L. R. Inclusão digital e social de pessoas com deficiência (DP) por meio do trabalho com projetos em um ambiente construcionista, contextualizado e significativo In: IX Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Professores, 2007, Águas de Lindóia. Anais... Bauru: Editora da UNESP, 2007. v. 1. SOUZA, S. F.; OLIVEIRA, M. A. M. Políticas para a inclusão: ênfase na formação de docentes. In: 32a Semana Anual da Anped, 2009, Caxambu-MG. Sociedade, cultura e educação: novas regulações?Anais... Rio de Janeiro: Associação Nacional de

Pós-graduação e Pesquisa em Educação, 2009. VEIGA, I. P. A. et al. Escola: espaço do projeto político-pedagógico. 4 ed. Campinas: Papirus, 1998.