Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

OS JOGOS TRADICIONAIS ENQUANTO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Professora PDE: Andreia Gonsales1

Orientador: Prof. Dr. Orlando Mendes Fogaça Junior2

Resumo O presente artigo é parte integrante das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (PDE/PR). As ações foram implementadas junto aos alunos do 6º ano do Colégio Estadual Geremia Lunardelli do Município de Lunardelli – Paraná, tendo como objetivo proporcionar aos referidos alunos uma aprendizagem de um conteúdo da disciplina de Educação Física constante das Diretrizes Curriculares da disciplina e que mesmo assim muitas vezes deixa de ser ensinado, privando os alunos de um direito que possuem, o de aprender por meio de ações teórico/práticas os jogos e brincadeiras tradicionais que foram utilizados por seus familiares em sua infância. Para o desenvolvimento da implementação pedagógica, foram utilizados encaminhamentos metodológicos diferenciados, como por exemplo, entrevistas com os familiares, recursos áudio-visuais, confecção de material alternativo com material reciclável, entre outros citados no corpo desse artigo, envolvendo experiências teóricas e práticas c o m diferentes estratégias articuladas, como textos, documentários, vídeos e imagens; o que culminou na confecção de brinquedos com materiais recicláveis e na prática dos jogos e brincadeiras tradicionais: bets, peteca e bilboquê. Palavras-chave: Educação Física. Jogos e Brincadeiras. Jogos Tradicionais. Intervenção Pedagógica. Conteúdo.

1. Introdução Esse artigo é resultado da Intervenção Pedagógica oriunda de um projeto de

pesquisa elaborado no Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de

Estado da Educação do Paraná (PDE/PR). As ações apresentadas foram

desenvolvidas junto aos alunos do 6º ano do Colégio Estadual Geremia Lunardelli,

do Município de Lunardelli-PR, sob a forma de atividades pré-estabelecidas com o

intuito de atingir o objetivo principal deste projeto que é o de propiciar a esses alunos

além de uma vivência teórico/prática, aprendizagem do Conteúdo Estruturante da

Disciplina de Educação Física Jogos e Brincadeiras, mais especificamente dos

Jogos Tradicionais por meio da interação escola/professor/aluno/família.

A motivação para se desenvolver este projeto vem da constatação de que

muito se trabalha com o esporte na escola, deixando relegado a segundo plano os

demais conteúdos igualmente relevantes para a formação plena dos nossos alunos,

1 Professora de Educação Física da Rede Pública do Estado do Paraná

²Professor do curso de Educação Física habilitação em Licenciatura da Universidade Estadual de Londrina - UEL

levando-os a refletir sobre a cultura que o cerca e a valorização da mesma, e ainda

por constatar que os jogos e brincadeiras tradicionais estão sendo esquecidos, pois

hoje depara-se com a preferência inegável pelos jogos eletrônicos e suas diversas

formas.

Diante do exposto e da relevância incontestável que os jogos e brincadeiras e

mais especificamente os Jogos Tradicionais, ora representados pela bets, peteca e

bilboquê apresentam enquanto conteúdos da Educação Física. Lançou-se mão de

uma pesquisa bibliográfica sobre o referido tema que resultou nas ações propostas

para essa Intervenção Pedagógica na Escola.

2. A importância dos Jogos e Brincadeiras enquanto conteúdo da Educação

Física Escolar

Pode-se dizer que a história da Educação Física teve seu início com o

homem primitivo, que pela necessidade em manter-se vivo, exercitava-se, de forma

natural por meio das lutas, da pesca, das caçadas nas quais se revezava em ser

presa e predador. Diante do exposto é possível afirmar que a Educação Física está

diretamente ligada à ciência do movimento e tudo que a cerca no decorrer da

evolução humana.

Para Lopes (2008, p. 03):

A Educação, e consequentemente a Educação Física, evolui à medida que se processa a evolução cultural dos povos. Assim, a sua orientação no tempo e no espaço está diretamente ligada com os sistemas políticos, sociais, econômicos e científicos nas sociedades humanas.

De acordo com a DCE’s (2008), os jogos e as brincadeiras são pensados de

maneira complementar, mesmo cada um apresentando as suas especificidades.

Como Conteúdo Estruturante, ambos compõem um conjunto de possibilidades que

ampliam a percepção e a interpretação da realidade.

No caso do jogo, ao respeitarem seus combinados, os alunos aprendem a se mover entre a liberdade e os limites, os próprios e os estabelecidos pelo grupo. Além de seu aspecto lúdico, o jogo pode servir de conteúdo para que o professor discuta as possibilidades de flexibilização das regras e da organização coletiva. As aulas de Educação Física podem contemplar variadas estratégias de jogo, sem a subordinação de um sujeito a outros. É interessante reconhecer as formas particulares que os jogos e as brincadeiras tomam em distintos contextos históricos, de modo que cabe à escola valorizar pedagogicamente as culturas locais e regionais que identificam determinada sociedade (PARANÁ, 2008, p.65).

É possível ver com clareza algo que muito confunde nossos alunos, ou seja,

que jogo não é esporte. Os jogos podem ter suas regras alteradas e combinadas

entre os participantes de forma a adaptar-se ao espaço, ao horário, ao tamanho do

grupo e tantas outras particularidades locais, valorizando assim também crenças e

objetos da cultura local. A brincadeira também possibilita este tipo de adaptação,

porém são mais voltadas para o imaginário, para reproduções de situações mágicas

ou da vida real, brinca-se de princesa, de fada, e também de mamãe e filhinho.

Vejamos mais claramente nesta definição:

[...] as brincadeiras são expressões miméticas privilegiadas na infância, momentos organizados nos quais o mundo, tal qual as crianças o compreendem, é relembrado, contestado, dramatizado, experienciado. Nelas as crianças podem viver, com menos riscos, e interpretando e atuando de diferentes formas, as situações que lhes envolvem o cotidiano. Desempenham um papel e logo depois outro, seguindo, mas também reconfigurando regras. São momentos de representação e apresentação, de apropriação do mundo (VAZ et. al., 2002, p. 72).

O jogo pode ser visto como um elo entre o brincar e o aprender. Por meio do

jogo a criança vai adquirindo auto-confiança e autonomia ao propor normas para se

jogar, de forma que também precisa respeitar, compreender entrar em acordo com

os demais colegas para juntos formarem o todo. Desta forma, mesmo brincando ela

exercita sua cidadania e a convivência em sociedade.

Segundo Lopes (2008, p. 18):

O entendimento de jogo ocorre como um modo lúdico de comunicação com o mundo e uma maneira de aprender a lidar com os sentimentos que surgem durante sua prática. No jogo não se busca resultados, é improdutivo no vencer e produtivo no criar. Criar necessidades de fantasiar o interesse pelo outro, de se expressar como pessoa que pensa, que é inventiva e que consegue demonstrar as suas habilidades.

Por meio do jogo é possível vivenciar vários papéis, como por exemplo um

aluno pode ser ora o capitão, ora o soldado, ora quem manda ou ainda quem é

mandado e essas relações de poder que se passam durante este momento de

ludicidade se reproduzem na vida fora dos muros escolares. Dessa forma,

entendemos que jogos e brincadeiras são fenômenos sociais, e:

Como fenômeno social, os jogos e brincadeiras relacionam-se aos processos de produção que vem acontecendo desde a sua invenção. Portanto, o corpo e as práticas corporais são vinculados aos interesses do capital, os quais influenciam a Educação Física na escola, devendo os mesmos serem abordados conforme a realidade regional e cultural do grupo. Os jogos e brincadeira possuem regras, mas há a liberdade dos alunos auxiliarem na construção dessas regras, segundo as necessidades e os desafios a serem enfrentados (LOPES, 2008, p. 19).

Baseados nos acima exposto foi que delimitamos nosso campo de atuação

neste projeto que foi implementado, os Jogos Tradicionais, entende que estes fazem

parte dos conteúdos da disciplina de educação Física e que ainda possibilitam

reviver a cultura de um povo, seus valores e características locais.

3. Os Jogos Tradicionais

Abordaremos a seguir, de forma mais específica, esta classificação, haja vista

ser a mesma o conteúdo foco do nosso projeto.

Na área de Educação Física escolarizada, três termos são habitualmente utilizados para classificar o jogo: popular, folclórico e tradicional. Tais expressões acabam por gerar certa dificuldade no entendimento dos professores e dos alunos sobre a essência de cada um deles. Podemos afirmar que mesmo que estes termos tenham surgido em diferentes contextos históricos e representavam coisas distintas, atualmente não podemos distingui-los, já que todas estas expressões se remetem à preservação das tradições pela coletividade, como uma cultura de origem anônima e espontânea (SANTOS, 2012, p. 67).

Como vimos, tudo que envolve o termo cultura é bastante amplo e isso

dificulta sua definição com exatidão, pois posicionamentos que fazem parte de uma

certa cultura local podem ser ofensas para outras. Com os jogos isso não é

diferente, devido ao fato dos mesmos se confundem com a história da humanidade e

permanecem vivos até hoje, podendo adquirir peculiaridades conforme a região

onde são praticados. Endossando este pensamento temos Vasconcelos (apud

Brasil, 2008, p. 49), segundo o qual:

Chamamos de “tradicionais” aos jogos que antecedem a Modernidade. Quando falamos aqui em Moderno estamos falando do período histórico e aí e importante lembrar que não passamos de uma era a outra em função apenas desse ou daquele fato histórico, como se fosse uma demarcação em um calendário. Essa passagem e gradual, construída sócio-historicamente. Passamos da Idade Media a Moderna porque os modos de produção da existência mudaram essencialmente. E passamos a compreender a nós mesmos e ao mundo de uma outra maneira. Ou seja, ressignificamos a experiência humana.

Os Jogos Tradicionais se originaram em um tempo onde a tecnologia ainda

nem existia, e vieram caminhando até a que a mesma passou a existir, de início de

forma elitizada, onde o contato humano prevalecia, onde brincar nas ruas era algo

seguro, ir no vizinho era fundamental, reunir amigos numa praça, brincar, dividir

alegrias. Algo que infelizmente se perde cada dia mais.

Os jogos tradicionais são, portanto, retratos de uma época em que o mundo era percebido em profunda comunhão cósmica, um grande abraço entre micro e macrocosmo. Em que os limites da Ciência e da Religião eram pouco definidos. “Alto” e “baixo” se comunicavam e estavam em harmonia.

O movimento dos astros interferia na vida humana e tudo participava da mesma espiral cósmica. Os jogos tradicionais, transmitidos oralmente desde a Antiguidade eram, como qualquer objeto cultural, um espelho de sua época. Portavam crenças, valores, discursos. Traziam em si a representação da forma tradicional de viver e compreender a existência. São jogos que falam sobre o grande jogo da vida. A grande maioria teve função como objeto sagrado ou de ligação com o sagrado. Sua origem remota e desconhecida, embora seja possível identificar evidencias de sua existência já em certo período, não e possível identificar sua criação (BRASIL, 2008,p. 49).

Conforme já foi dito anteriormente, os jogos enquanto compreendidos como

elementos culturais, são transmitidos, ensinados de geração a geração. A este

respeito, ainda para Santos (2012, p.70)

Apesar de a tradição ser “passada” de geração a geração, está sujeita a alterações quanto a forma e ao conteúdo devido ao processo de difusão de determinado conhecimento e da própria apropriação cultural. Ou seja, uma tradição pode apresentar uma função e um significado em dado momento histórico e em determinada realidade social e, em outro lugar e contexto, constitui outro sentido e significado. Esse processo diz respeito inclusive aos jogos, pois muitos deles fizeram “e ainda fazem” parte do cotidiano infantil até os dias de hoje. Contudo, sofreram alterações no decorrer da história, à partir da função cultural que o jogo apresenta em um contexto social específico. Com o tempo, os jogos foram sendo ensinados e incorporados até que se tornaram tradição. A estes jogos denominamos de jogos tradicionais.

Para Kishimoto (1999, apud Bernades 2005, p. 48):

os jogos tradicionais infantis fazem parte da cultura popular, expressam a produção espiritual de um povo em determinada época histórica, são transmitidos pela oralidade e sempre estão em transformação, incorporando as criações anônimas de geração para geração.

Por apresentarem muita similaridade, é possível estabelecer ligação entre os

Jogos Tradicionais e o folclore, por possuírem características comuns como a

tradição, a forma de transmissão, na maioria das vezes oralmente, o caráter de

alternância entre conservação e mudança através dos tempos e ainda a questão do

anonimato, pois muitos destes jogos surgiram no ato de brincar e não podem ser

atribuídos a esse ou aquele autor ou criador, como ocorre, por exemplo, com os

esportes.

Ainda segundo Bernardes (2005, p. 48), “As brincadeiras tradicionais

possuem, enquanto manifestações da cultura popular, a função de perpetuar a

cultura infantil e desenvolver a convivência social”.

Existem inúmeras relações de jogos, em que estes são classificados por faixa etária, por área de desenvolvimento, por tipo de estímulo, pela origem, pela utilização ou não de objetos etc. Existe também um tipo de classificação que se encontra na memória de cada um de nós; são aqueles jogos que nossos pais e avós brincaram na infância, e que nos transmitiram. Jogos que não foram tirados de livros nem ensinados por um professor,

mas sim transmitidos pelas gerações anteriores a nossa ou aprendidos com nossos colegas. Os jogos que aconteciam na rua, no parque, na praça, dentro de casa ou no recreio da escola. Estes são os Jogos Tradicionais (FRIEDMANN, 2010, p. 54).

Para Santos (2012, p. 56):

Nas aulas de Educação Física, o jogo é estudado, vivenciado e compreendido como parte da cultura e da história da humanidade, é organizado e sistematizado, de tal forma que os estudantes possam se apropriar dos conhecimentos que se relacionam a estes fenômenos. Os jogos passam a ser tratados no planejamento do professor como um conteúdo curricular e conteúdos podem ser considerados sinônimos de saberes e de conhecimentos.

Segundo Libâneo (1990 apud Santos, 2012, p.56),

Conteúdos de ensino é o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Englobam, portanto: conceitos, ideias, fatos, processos, princípios, leis científicas, regras, habilidades cognoscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudo, de trabalho e de convivência social; valores, convicções e atitudes.

É nesse sentido que o jogo, seja ele qual for, deve ser pensado enquanto

conteúdo curricular. “Como elemento integrante da cultura e como produtor dela,

precisa estar contemplado nas organizações curriculares da área de Educação

Física” (SANTOS, 2012, p. 57).

Diante do exposto, escolhemos os seguintes Jogos Tradicionais para serem

desenvolvidos em nosso Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola:

- Bets: Os relatos sobre a origem desse jogo apresentam algumas versões

diferentes sobre seu surgimento. Acredita-se que teria surgido como uma versão

bastante simplificada do jogo inglês cricket, (o cricket é uma espécie de avô do

beisebol, onde os jogadores utilizam um taco muito diferente, que lembra mais um

remo por seu formato côncavo de um lado e convexo do outro, além de ser largo em

toda sua extensão, até chegar à empunhadura, onde é reduzido.) esporte oficial e

muito popular na Inglaterra e suas antigas colônias, com uma longa série de regras,

ao contrário do Bets. O Bets é jogado em ruas, praças, escolas, ou seja, não se tem

um local especifico para sua prática, já o cricket é praticado em estádios

especialmente construídos, com campo em formato oval.

O jogo de Bets também é conhecido como jogo de Taco, Bete-Ombro, Bete,

Bet’s, Betcha, Becha, Bets Lombo, Tacobol, Casinha, entre outros. (Texto retirado

do site: http://brainly.com.br/tarefa/1091293). Acesso em: 10 de set. 2014.

- Bilboquê: outro jogo tradicional que envolve um brinquedo antigo é o bilboquê, que

é uma esfera de madeira com um orifício central, presa por um cordão em um

suporte. Com os movimentos das mãos, a esfera deve ser encaixada no pino do

suporte. Misto de jogo e brinquedo que expressa muito bem o espírito da França,

onde surgiu há cerca de 400 anos. (OS MELHORES JOGOS DO MUNDO, 1978,

p.87).

- Peteca: O jogo com petecas é de origem indígena, e desde antes do

descobrimento do Brasil já era um jogo muito praticado pelos índios. O nome peteca

é de origem Tupi (pe’teca – bater com a mão).

O jogo de Peteca guarda certa semelhança com o voleibol e o Badminton,

pelo fato de jogar-se, como estes, em um terreno dividido por uma rede.

E foi baseado em tudo que já foi citado que estabelecemos as nossas

estratégias de ação para implementar nosso projeto e que serão aqui relatadas.

4. Metodologia

Diante da justificativa apresentada para a implementação deste projeto e

considerando a necessidade de retomar estes jogos tradicionais para que os

mesmos não se percam e passem a fazer parte apenas da memória de uns poucos

tendo o professor como referência, e os alunos como publico alvo no interior da

escola, foi que sentiu a necessidade de elaborar e implementar ações que foram

desenvolvidas em dez (10) atividades a serem aplicadas durante as aulas de

educação física para os alunos do 6º ano do Colégio Estadual Geremia Lunardelli no

período matutino, entre os meses de fevereiro a junho de 2014e ainda em etapas

como exposição do mesmo aos demais docentes, equipe pedagógica e direção.

Para o desenvolvimento da implementação pedagógica foram utilizados

encaminhamentos metodológicos diferenciados, como exposição teórica, recursos

audiovisuais, textos, documentários, vídeos, debates, produções escritas e de

materiais alternativos, tanto individuais como em grupos para a compreensão do

tema proposto: jogos e brincadeira tradicionais.

Ao final de cada atividade, realizou-se uma avaliação, buscando a melhoria

do processo ensino e aprendizagem, utilizando a auto avaliação e a reflexão feita

juntamente aos envolvidos no processo.

As reflexões estabelecidas com o Grupo de Estudo em Rede - GTR, também

foram importantes apontamentos fundamentais para o aprofundamento nas

questões relativas ao estudo proposto, contribuindo, de forma relevante, para a

implementação da proposta na escola e na elaboração deste artigo.

Para ampliar conceitos referentes ao tema abordado, foram feitas sondagens

entre os alunos envolvidos e seus familiares.

Espera-se que o trabalho desenvolvido possa contribuir para que os demais

colegas professores possam pensar a realidade da escola em que atuam e ainda

para que os alunos possam estabelecer relações entre as aulas de Educação Física

que são habituados a ter e as aulas que podem ter, ampliando seus conceitos sobre

a importância da disciplina.

Um contexto escolar formado nessa perspectiva será essencial para que a

escola possa realizar sua atividade principal, que é a de propiciar o acesso ao

conhecimento.

5. Implementação do Projeto

A organização e aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola

começaram a ser pensadas e organizadas no início das atividades do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, no ano de 2013.

O projeto, que fora intitulado “Os Jogos Tradicionais enquanto conteúdo da

Educação Física Escolar”, nos permitiu comprovar a relevância incontestável que os

Jogos e Brincadeiras apresentam enquanto conteúdo da disciplina de Educação

Física, por serem elementos integrantes da cultura e como produtor dela, tal fato

aumenta ainda mais a responsabilidade da escola em contemplar em seus

Currículos e Planejamentos Disciplinares um momento para a transmissão desse

saber, aumentando igualmente a responsabilidade dos professores em possibilitar

esses saberes aos seus alunos, pois ainda somos os responsáveis pela mediação

dos conteúdos e neste caso em específico, nosso comprometimento deve ser ainda

maior.

A implementação do projeto teve como objetivos específicos desenvolver um

trabalho efetivo como conteúdo da Educação Física: Jogos Tradicionais, entendendo

o mesmo enquanto parte integrante da história da humanidade e da cultura popular;

possibilitar aos alunos a compreensão do que são os Jogos Tradicionais e a sua

importância cultural; elaborar um mapa conceitual com dados fornecidos pelos

alunos sobre o conhecimento que os mesmos apresentam sobre os Jogos

Tradicionais e sistematizar o ensino do jogo tradicional sobre três conteúdos:

bilboquê, peteca e bets.

Conforme já foi dito, a implementação deste plano de trabalho ocorreu no

Colégio Estadual Geremia Lunardelli, no município de Lunardelli – Ensino

Fundamental e Médio, e foi voltado aos alunos que cursam o 6º ano do período

matutino. Os percursos de implementação desta Intervenção Pedagógica foram:

1 – A primeira ação realizada foi a apresentação do Projeto de Intervenção

Pedagógica na Escola para a Direção, Equipe Pedagógica; Professores e

Funcionários durante a Semana Pedagógica no início do ano letivo, mais

especificamente no dia 06 de fevereiro do corrente ano. Para tanto, lançou-se mão

do uso de slides onde as etapas do projeto foram apresentadas e devidamente

explicadas. Todos os presentes se prontificaram a auxiliar no que fosse necessário e

muitos deles se puseram a recordar sua infância.

2 – Início as atividades propostas para o trabalho com os alunos, que foram

divididas em atividades e não em aulas, pois algumas poderiam utilizar mais de uma

hora/aula.

- Atividade 1: Esta atividade consistia em estabelecer conceitos sobre o jogo, o

brinquedo e a brincadeira por meio de questionamentos aos alunos sobre seu

entendimento a respeito.

Iniciou-se questionando os alunos sobre o que eles entendiam sobre jogo,

podiam dar exemplos, e imediatamente surgiu o “futebol”. Questionou-se então qual

a diferença entre jogo e brincadeira e muitos se mantiveram em silêncio, ou não

sabiam ou não quiseram arriscar. Um aluno disse que “o jogo poderia ser o futebol e

a brincadeira poderia ser de carrinho”. Diante da dificuldade apresentada pelos

alunos, explicou-se cada um dos termos conforme constante nas atividades

programadas na Unidade Didática. Feito isso, solicitou-se novos exemplos e desta

vez os mesmo foram condizentes com os conceitos.

- Atividade 2: Nesta segunda atividade, após a compreensão do que vem a ser o

jogo, o brinquedo e a brincadeira, partiu-se para o conteúdo específico: Jogo

Tradicional, questionando os alunos da seguinte forma: Vocês já ouviram falar em

Jogos Tradicionais? Sabem o que significa? Poderiam dar algum exemplo? Mas

fez-se um silêncio e percebeu-se a necessidade de explicar tais definições e então

sugiram algumas falas: “Ah, acho que pode ser a queimada e outro aluno disse

esconde-esconde professora? E assim foram surgindo mais exemplos: pega-pega;

bets; burquinha, amarelinha, etc.

Desta forma, foi-se anotando no quadro todos os exemplos de Jogos

Tradicionais que os alunos foram dando e os mesmo foram sintetizados neste mapa

conceitual:

Feito este levantamento, houve uma reflexão sobre estes jogos e brincadeiras

e como a práticas deles pode ser divertida e interessante.

- Atividade 3: Nesta atividade, houve questionamentos sobre suas famílias, no qual

foi abordado se os alunos sabiam do que seus pais brincavam quando criança, se

haviam conversado sobre isso e se já haviam brincado com eles. Após esse diálogo,

entregou-se a cada aluno um questionário para que eles realizassem uma entrevista

orientada com seus pais ou algum outro familiar mais velho para saber do que

brincavam quando crianças.

As perguntas e respostas foram:

JOGOS

TRADICIONAIS

PETECA

BURQUINHA

PIÃO

ELÁSTICO

CAVALINHO DE PAU

PETECA PULAR CORDA

BILBOQUE

AMARELINHA

QUEIMADA

PIPA BETS

PEGA-PEGA CORRIDA DO SACO

ESCONDE-ESCONDE

CARRINHO DE ROLIMÃ

BUGALHA

BALANÇA CAIXÃO

- Atividade4: Por meio da análise das respostas contidas nos questionários,

selecionou-se as brincadeiras mais citadas. Após esta seleção, dividiu-se a sala em

grupos de 4 alunos e foi solicitado a eles que escolhessem uma brincadeira para

apresentar a turma e vivenciá-la. Não seria necessário ater-se apenas as

brincadeiras citadas na entrevista, qualquer jogo e/ou brincadeira considerada

tradicional poderia ser apresentada. As brincadeiras escolhidas, apresentadas e

Quais os tipos de bincadeiras você costumava brincar em seu

tempo livre?

Amarelinha

Elástico

Queima-caçador

Onde você costumava brincar?

Na rua

No campinho

No quintal decasa

Com quem brincava?

Irmão/irmã

Primos

Amigos

Quantos dias por semana tinham para brincar?

1 dia

2 dias

3 dias

4 dias

5 dias

6 dias

Quantas horas por dia brincavam?

Até 1 hora

Até 2 horas

Até 3 horas

Até 4 horas

Até 5 horas

mais de 5 horas

vivenciadas foram: queimada, rouba-bandeira, nunca três, amarelinha, elástico, bets,

burquinha, bugalha, bilboquê, peteca, lenço que corre, pular corda e pega-pega. A

cada encerramento de aula era feita uma roda de conversa para falar sobre estes

jogos e brincadeiras e a experiência de vivenciá-los, levantando questionamentos

como “O que acharam destas brincadeiras?”; “Como foi a participação da turma?”;

Alguém sentiu-se excluído?”; “O que mais chamou sua atenção?”; “Gostaram ou não

gostaram?”; “Há como mudar alguma regra desta brincadeira?”; “Como?”: “Vocês

brincam destas brincadeiras em suas casas ou na rua onde moram”?

- Atividade 5:esta atividade era composta por um filme. Os alunos assistiram ao filme

“Menino Maluquinho” que mostrava as travessuras de um menino de classe média

que vivenciou muitas brincadeiras dos anos 80. Depois que assistiram ao filme,

solicitou-se que relatassem quais os jogos tradicionais que conseguiram identificar

no filme. A maioria respondeu carrinho de rolimã, pião, pelada de futebol. Perguntou-

se então se os jogos de hoje são diferentes dos daquele tempo, como se passa no

filme? São melhores ou piores? Quais vocês preferem? Alguns responderam que

mudou muito, pois hoje temos vídeo games; X-Box, celulares, tablets. Outros

responderam que preferem brincar se movimentando como de correr e de bola.

Outros que gostam mais de jogos eletrônicos e outros ainda que gostam dos dois.

Gostaram muito do filme, percebe-se que se identificaram muito.

- Atividade 6:Nesta atividade a conversa foi sobre o brinquedo. Mostrou-se aos

alunos várias citações de autores sobre o significado da palavra brinquedo e depois

eles foram ouvidos no tocante a relatar o que entendem por brinquedo e dar

exemplos de brinquedos que possuem. Mostrou-se então vários exemplos de

brinquedos que podem ser confeccionados com material reciclável. Após esta

explanação, foi solicitado a eles que, com a ajuda de algum familiar, construíssem

um brinquedo com algum material e/ou materiais recicláveis e trouxessem para a

escola para fazermos uma exposição. Os materiais confeccionados foram: vai-e-

vem, bilboquês, petecas, carrinhos, panelinhas, telefone sem fio, porquinho, entre

outros. Organizou-se então a exposição dos brinquedos e toda a comunidade

escolar foi convidada a vir a escola conhecer os brinquedos, principalmente os

familiares dos alunos envolvidos no projeto.

- Atividade 7: Esta atividade consistia em falarmos sobre o bilboquê, saber sua

origem e também algumas curiosidades sobre este brinquedo. Foram mostradas

algumas imagens sobre este brinquedo e solicitou-se que trouxessem garrafas pet

para confeccionar os bilboquês. Cada aluno confeccionou e após fizeram

experimentação do material construído.

- Atividade 8: Nesta atividade explicou-se aos alunos sobre a bets, a origem do jogo

e curiosidades sobre ele.Explicou-se também as regras deste jogo, porém muitos

alunos já sabiam por terem jogado na rua ou em casa. Foram destinadas várias

aulas a prática deste jogo que foi muito bem recebido. Como a turma era bem

numerosa, dividiu-se a mesma em 6 grupos, sendo 4 grupos com 4 alunos e 2

grupos com 5 alunos.

- Atividade 9: Esta atividade foi voltada para o conhecimento e prática da peteca. Foi

falado aos alunos sobre a história da peteca e curiosidades sobre este jogo. Os

alunos ficaram surpresos em saber que existem campeonatos oficiais de peteca,

pois achavam que era somente uma brincadeira sem fins competitivos. Várias aulas

foram destinadas a prática da peteca, utilizando a quadra de vôlei eles jogaram em

duplas, trios e até em equipes maiores. Também brincaram em círculo. Até se

chegar ao jogo foram vários processos pedagógicos para se aprender os

movimentos, como bater na peteca com a mão esquerda e direita, alternar uma vez

de cada, bater duas vezes seguidas com cada mão, parado, agachado, e,

movimento, com um dos pés apoiado no chão, saltando com um pé só. Alguns

alunos tiveram dificuldade em realizar certos movimentos, mas a grande maioria

conseguiu realizar as atividades sem dificuldade.

- Atividade 10: Esta atividade foi a de encerramento da implementação pedagógica.

Foram utilizadas várias aulas para dar conta desta ação. A mesma consistiu num

torneio de bets e de peteca.

No torneio de peteca a sala foi dividida em 6 grupos de 4 alunos e 2 grupos

de 5 alunos cada. O sistema foi um grupo único onde todos jogaram contra todos,

sendo o mesmo número de alunos de cada lado da quadra. Fez-se melhor de 3 sets

com duração de 10 minutos cada um. A cada vitória a equipe ganhava 3 pontos e a

cada derrota zero ponto.

Já no torneio de bets foram utilizados os mesmos grupos e o mesmo sistema

de disputa e pontuação. A participação dos alunos foi excelente, a maioria se

envolveu a ponto de traçar estratégias para ganhar, levando tudo muito a sério. O

envolvimento e o divertimento mostrado durante a exceção das atividades propostas

foi tanto que houve a necessidade de se ampliar o projeto para outras turmas que

não constavam no mesmo, pois os alunos viam as atividades e queriam fazer

também, principalmente os dos 7º anos.

6. Considerações Finais

A Educação Física deve levar em conta as necessidades atuais da educação,

visando superar as contradições existentes tanto com relação ao próprio objeto de

ensino quanto às diversas realidades, considerando e contextualizando as

experiências e características locais.

Para que isto ocorra é preciso que haja uma mudança na forma de pensar e

proceder em relação aos encaminhamentos teórico-metodológicos que nós,

professores de Educação Física, damos as nossas aulas, indo além do enfoque da

aptidão física, do rendimento esportivo, do movimento motor e assim por diante.

Dessa forma, ao abordarmos o conteúdo específico Jogos Tradicionais,

encontramos no mesmo uma forma de legitimar a nossa disciplina em toda a sua

plenitude e possibilidades.

Ao iniciarmos o processo de intervenção pedagógica, percebeu-se a

preocupação e a inquietação dos alunos devido ao fato de não estarem habituados a

este tipo de trabalho que optou por retomar conteúdos pouco abordados, porém de

grande relevância. Tal inquietação pode ser vista como uma certa resistência a esta

abordagem, pois era nítida a preocupação com o “bom” e “velho” futebol. Não vamos

mais jogar futebol? Porém, à medida que as atividades iam se desenvolvendo,

principalmente, provocando questionamentos, debates, respondendo questionários,

assistindo vídeos, pois tudo que foi trabalhado instigava trocas de experiências entre

eles e também com seus familiares, os mesmos foram percebendo que existe algo

além do futebol, que é uma prática tão forte e constante para eles e que é possível

aprender, gostar e praticar outras atividades na aula de Educação Física.

Após este impacto inicial, as atividades desenvolveram-se com muito

envolvimento e interesse. Os alunos foram participativos e receptivos em relação às

atividades apresentadas e também mostraram atitude quando lhes foi solicitado

apresentar atividades, entrevistar a família e confeccionar brinquedos.

Ao término desta intervenção pedagógica torna-se imprescindível agradecer a

todos que de forma direta e indireta auxiliaram nesta jornada que teve início em

2013 e que agora se finda deixando a saudade e a certeza do dever cumprido.

Referências

BERNARDES, Elizabeth Lannes. Jogos e Brincadeiras: ontem e hoje. 2005. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/170345693/Jogos-de-Ontem-e-Hoje. Acesso em 11 de dez. 2014. BRASIL, Programa Salto para o Futuro. Jogos e Brincadeiras: desafios e descobertas. Brasília, 2008. Disponível em: http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/165801Jogos.pdf. Acesso em 30 de nov. 2014. FRIEDMANN, Adriana. A Arte de Brincar: Brincadeiras e Jogos Tradicionais. Petrópolis, Vozes, 2010. LOPES, Wirnea Maria de P. Produção Didático-Pedagógica: Os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física como estratégia de crítica e superação da competitividade sob a égide do capitalismo: uma abordagem Histórico-Crítica. 2008. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2159-6.pdf>. Acesso em 01 de dez. 2014. Origem e características do jogo “Bet’s”. Disponível em: http://brainly.com.br/tarefa/1091293. Acesso em 10 de dez. 2014. OS MELHORES JOGOS DO MUNDO. São Paulo. Abril,1978. PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica. Curitiba, SEED, 2008.

SANTOS, Gisele Franco de Lima. Jogos tradicionais e a Educação Física.Londrina, EDUEL, 2012. VAZ, A. F.; PETERS, L. L.; LOSSO, C. D. Identidade cultural e infância em uma experiência curricular integrada a partir do resgate das brincadeiras açorianas. In: Revista de Educação Física, v. 13, n. 01, Maringá: UEM, 2002, p. 71-77.