os desafios da escola pÚblica paranaense na … · de marcelino freire para selecionar os textos...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA
TURMA - PDE/2013
UNIDADE 3
Título: LETRAMENTO LITERÁRIO E A REPRESENTAÇÃO ESTÉTICA DA
VIOLÊNCIA NA NARRATIVA FICCIONAL
Autor ILIETE CASSIANO
Disciplina/Área Língua Portuguesa (Letras anglo-portuguesa)
Escola de Implementação do Projeto
Colégio Estadual “Castro Alves” - Ensino Fundamental, Médio e Profissional.
Município da escola Cornélio Procópio
Núcleo Regional de Educação
Cornélio Procópio
Professor Orientador Profª. Dra. Vanderléia da Silva Oliveira
Instituição de Ensino Superior
Universidade do Norte do Paraná (UENP)
Relação Interdisciplinar Não há.
Resumo
A unidade didática compõe o Caderno Pedagógico Figurações da violência e a leitura literária no espaço escolar, que tem por pressuposto o letramento literário, imprescindível para a formação do leitor. Pretende-se, através da leitura de contos, desenvolver uma proposta pedagógica que discuta o processo de letramento literário, abordando a temática violência. Essa proposta metodológica se pautará na sugestão de leitura proposta por Cosson (2009), denominada Sequência Básica, tendo como corpus básico a obra Rasif, mar que arrebenta, de Marcelino Freire.
Palavras-chave Letramento literário; contos; violência; formação do leitor; Marcelino Freire.
Formato do Material Didático
Caderno Pedagógico
Público Alvo Alunos da 2ª Série do Ensino Médio
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ - UENP
CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO
CADERNO PEDAGÓGICO
FIGURAÇÕES DA VIOLÊNCIA E A LEITURA LITERÁRIA
NO ESPAÇO ESCOLAR
Organizadores:
Célia Maria Vilela Edilaine de Freitas Martins Delgado
Iliete Cassiano Ana Paula Franco Nobile Brandileone
Vanderléia da Silva 0liveira
CORNÉLIO PROCÓPIO - PARANÁ
2013
APRESENTAÇÃO
A literatura é “atividade [...] [que] se exprime pela reconstrução, a partir da linguagem, de todo o universo simbólico que as palavras encerram e pela concretização desse universo com base nas vivências pessoais do sujeito”. (BORDINI, AGUIAR, 1993, p. 15)
1
Este Caderno Pedagógico resulta de uma proposta apresentada a três
professoras vinculadas ao PDE, turma 2013, a partir da qual o estudo se
voltaria para o letramento literário e a abordagem da temática da violência em
sala de aula, atendendo a uma das etapas do programa de formação.
Tal proposta insere-se, por sua vez, em uma pesquisa maior, financiada
pela Fundação Araucária e desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa CRELIT, da
UENP-CCP, Centro de Letras, Comunicação e Artes. O projeto, intitulado “A
representação da violência na literatura brasileira contemporânea”, estuda
obras compreendidas em um período de 1990 a 2010, tendo como objetivo
discutir o modo de representação da violência, tema esse que, segundo
Resende (2008)2 em sua obra Contemporâneos, é um traço muito marcante
na produção contemporânea ligada ao cenário urbano.
O projeto objetiva verificar a figuração da violência de forma a apontar
questões sociais complexas que constituem o perfil dos leitores atuais, dentre
eles, portanto, os jovens em sala de aula. Neste sentido, sob o termo
“violência” entendem-se, aqui, as formas de pressão, coerção ou mesmo
exclusão permeadas pela imposição da força física ou psicológica, de modo a
causar danos aos indivíduos que a sofrem. Em uma sociedade multifacetada
como a brasileira, preocupada com processos de inclusão cada vez mais
amplos de camadas diversas da população, entender os mecanismos de
representação explicitados ou indiciados na Arte, no caso, especificamente, a
Literatura, traz à tona elementos subjacentes ao tecido social, porém atuantes,
esclarecendo as relações de poder que permeiam as concepções e ações dos
indivíduos.
Quando se pensa em violência, rapidamente nos vem à cabeça a mais
1 BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: a formação do leitor,
alternativas metodológicas. 2. ed. São Paulo: Mercado Aberto, 1993. 2 RESENDE, Beatriz. Contemporâneos: expressões da literatura brasileira no século XXI. Rio
de Janeiro: Casa da Palavra: Biblioteca Nacional, 2008. p. 15-40.
notória entre todas: a violência física, os maus tratos e agressões. Mas, não
podemos esquecer que esse tema é muito mais complexo e abrangente, o que
pode ser percebido pelas palavras de Ives Mychaud:
Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. (MYCHAUD, 1989, p. 20).
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Partindo desse conceito, encontramos possíveis classificações, tais
como violência civil, social, econômica, cultural e política. Podemos também
classificar o termo de uma maneira mais específica como violência familiar,
moral, psicológica, sexual, doméstica e de gênero, dentre outras, o que revela
a complexidade do tema e suas múltiplas variáveis. Estudiosos como Roger
Dadoun (1998) e René Girard (1998)4, por exemplo, afirmam que a violência é
intrínseca ao homem, instintiva, pois ela se revela desde muito cedo através de
situações como disputas, ciúmes, desavenças, entre outros. Ela aparece como
sendo uma característica primordial da vida social desde o homem pré-histórico
ao contemporâneo, logo, o ser humano é violento por natureza.
Fato é que a produção literária contemporânea, sobretudo a narrativa,
tem se valido desta temática como elemento interno e estrutural do texto.
Trazer, pois, para o centro das discussões os excluídos e oprimidos para tratar
da desigualdade social e econômica, da criminalidade, das injustiças, da
miséria, da violência policial, da intolerância e do preconceito têm sido marca
da produção literária contemporânea. Segundo Pellegrini:
É inegável que a violência, por qualquer ângulo que se olhe, surge como constitutiva da cultura brasileira, como um elemento fundante a partir do qual se organiza a própria ordem social e, como consequência, a experiência criativa e a expressão simbólica, aliás, como acontece com a maior parte das culturas de extração colonial. Nesse sentido, a história brasileira, transposta em temas literários, comporta uma violência de múltiplos matizes, tons e semitons, que pode ser encontrada assim desde as origens, tanto em prosa quanto em poesia: a conquista, a ocupação, a cãoonização, o aniquilamento dos índios, a escravidão, as lutas pela independência, a formação das cidades e dos latifúndios, os processos de industrialização, o imperialismo, as ditaduras [...] (PELLEGRINI, 2004, p.16).
5
3 MICHAUD, Yves. A violência. São Paulo: Ática, 1989.
4 DADOUN, Roger. A Violência: ensaio acerca do homo violens. Trad. Pilar Ferreira de
Carvalho e Carmen de Carvalho Ferreira. Rio de Janeiro: Difel, 1998. 5 PELEGRINI, Tânia. No fio de navalha: literatura e violência no Brasil de hoje. Estudos de
Literatura Brasileira Contemporânea. Nº 24, 2004. Disponível em:
Sob este aspecto, vale resgatar as palavras de Schollhammer (2007),
que vincula a presença da violência na ficção brasileira contemporânea aos
meios de comunicação:
Nos meios de comunicação de massa, a violência encontrou um lugar de destaque e, pelo seu poder de fascínio ambíguo, porém efetivo, entre atração e rejeição, tornou-se uma mercadoria de grande valor, explorada por todos os meios, sem exceção, em graus mais ou menos problemáticos. Não vamos aqui repetir as denúncias contra essa exploração, muito menos entrar na discussão sobre a possível influência negativa dessa divulgação obscena, mas simplesmente constatar que a violência representada, tanto na mídia quanto na produção cultural, deve ser considerada um agente importante nas dinâmicas sociais e culturais brasileiras. (SCHØLLHAMMER, 2007, p. 28).
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Vale, entretanto, destacar que essa relação entre literatura e violência
social e/ou literatura e marginalidade já esteve presente na narrativa da década
de 30, não sendo, por assim dizer, exclusividade da atual narrativa brasileira,
que a (re)inscreve em tons realistas, segundo Antonio Candido (1987).
Também a pretensão de criticar o desequilíbrio social, não raro pelo olhar do
marginalizado, volta a aparecer nas narrativas contemporâneas, mas agora
ganhando contornos de inovação, pois sob uma vertente mais cruel, que o
crítico denomina de “realismo feroz” ou “ultrarrealismo”; tendência literária já
notada, assegura Candido, na produção literária de João Antônio e Rubem
Fonseca, que agride o leitor não apenas pelos temas que escolhe, mas
também pelos recursos técnicos que emprega:
Não se cogita mais de produzir (nem de usar como categorias) a Beleza, a Graça, a Emoção, a Simetria, a Harmonia. O que vale é o Impacto, produzido pela Habilidade ou pela Força. Não se deseja emocionar nem suscitar contemplação, mas causar choque no leitor [...]. (1987, p.214)
Também Alfredo Bosi7, em 1978, no prefácio de O conto brasileiro
contemporâneo, já apontava para um tipo de representação da violência
consolidado por Fonseca que, com seu estilo característico, absorvendo o
<http://seer.bce.unb.br/index.php/estudos/article/view/2150/1710> Acesso em: 11 set. 2013. 6 SCHØLLHAMMER, Karl Erik. Breve mapeamento das relações entre violência e cultura no
Brasil contemporâneo. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº. 29. Brasília, janeiro-junho de 2007, pp. 27-53. Disponível em: <http://seer.bce.unb.br/index.php/estudos/article/view/2074/1643> Acesso em: 6 jul. 2013. 7 BOSI, Alfredo. Situação e Formas do Conto Brasileiro Contemporâneo. In: O conto brasileiro
contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1978.
antigo coloquialismo do submundo em uma versão chula e descarnada, revela
uma crueza sem compaixão em relação ao homem, até então inédita na
literatura brasileira, denominando-a de “brutalista”.
O que se defende aqui, portanto, é que a abordagem da temática da
violência e suas múltiplas representações no texto literário se tornam
importante instrumento para oportunizar, no espaço escolar, a educação
literária de modo a desenvolver no aluno leitor não apenas as competências de
leitura, adquiridas via letramento literário pela exploração das potencialidades
da linguagem, mas, ao mesmo tempo, levá-lo a desenvolver um modo próprio
de lidar com a violência, tão frequente no cotidiano de todos nós.
É por isso que a literatura, ao chamar atenção para temas relacionados
à violência e à morte, pode contribuir para a construção da subjetividade, o
desenvolvimento de uma identidade coletiva, o enriquecimento do imaginário, a
percepção da alteridade, conforme indicam Bordini e Aguiar na epígrafe deste
texto.
Diante destas breves considerações, apresentam-se aqui três unidades
didáticas que propõem a abordagem do texto literário a partir do gênero conto,
a fim de indicar possibilidades de trabalho em sala de aula com o tema da
violência. Observe-se que, ao abordarem este tema, as professoras não
objetivaram tratar, por exemplo, do Bullying, tão presente em nossas escolas.
Certamente, não se descarta a ideia de que, ao abordar o tema da violência,
desenvolvendo o senso crítico dos alunos em torno dele, a reflexão sobre esta
prática também possa ocorrer.
No percurso da produção deste caderno, destacamos que as autoras
fizeram abordagens teóricas sobre conceito de leitura, sobre literatura e suas
funções, vinculando-as ao espaço escolar, além de investigação sobre gêneros
textuais e metodologias de ensino. Do mesmo modo, foram respeitados os
princípios norteadores estabelecidos pelas Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa para a Educação Básica (SEED-PR, 2008), tendo em vista o
desejo de que este caderno possa servir de apoio aos docentes da rede básica
que possam se interessar por propostas reais de letramento literário.
É preciso destacar que as três autoras se valeram da produção literária
de Marcelino Freire para selecionar os textos básicos para suas unidades. O
autor tem revelado, na recente geração de novos escritores, uma vinculação de
suas produções a uma perspectiva social e política. De certo modo já
consolidado pela crítica, ele é exemplo dessa estreita relação entre ficção e
realidade, mercado e literatura. Freire é autor de eraOdito (1998-2002), Angu
de sangue (2000), BaléRalé (2003), Rasif – mar que arrebenta (2008), Amar
é crime (2011) e ganhador do prêmio Jabuti de Literatura Brasileira, no ano
seguinte do lançamento de Contos negreiros (2005). Marcelino foi, ainda,
idealizador e organizador da coleção 5 minutinhos (2002) e da antologia Os
Cem Menores Contos Brasileiros do Século (2004). Publicou recentemente,
seu primeiro romance, Nossos Ossos, lançado pela Editora Record. Organiza,
anualmente, em São Paulo, a Balada Literária, evento que mistura mesas de
debates e lançamentos de livros com festas em bares do bairro Vila Madalena.
Para cada unidade, as autoras escolheram uma das obras acima,
operando um recorte de três contos por obra, para elaborarem Sequências
Básicas de leitura, conforme propõe Cosson (2012)8. O resultado, portanto,
evidencia três unidades que se complementam. Na primeira delas, intitulada
“Letramento literário: estratégia metodológica para abordagem da violência e
do negro na literatura brasileira contemporânea”, Célia Maria Vilela toma como
objeto de análise o livro Contos Negreiros (2005), a fim de discutir as
temáticas História e Cultura Afro-Brasileira e violência, sobretudo sob a
perspectiva do negro e, assim, desenvolver a capacidade de pensamento
crítico e a sensibilidade estética, propiciando a expansão ainda das práticas da
oralidade, leitura e escrita.
Na sequência, Edilaine Delgado, sob o título “A representação da
violência na ficção brasileira contemporânea: uma proposta de letramento
literário no ensino médio”, parte da obra Amar é Crime, para discutir a
violência numa perspectiva dos socialmente marginalizados, bem como
representa um ‘retrato’ da vivência observável no cotidiano social,
oportunizando a reflexão, análise e posicionamento sobre essa vivência.
Por fim, Iliete Cassiano completa o caderno com o título “Letramento
literário: a representação estética da violência na narrativa ficcional”,
abordando a obra Rasif, mar que arrebenta. A partir dela, apresenta certo tipo
de violência que se figura socialmente por meio da imposição cultural e suas
variáveis.
No conjunto, as três unidades didáticas, embora cada uma com a sua
8 COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2012.
especificidade, tem por objetivo dar a conhecer ao aluno leitor um conjunto de
contos contemporâneos que toma a violência, sobretudo urbana, como objeto
de discussão, a fim de (re)apresentar e/ou (re)simbolizar o fenômeno da
violência na dinâmica cultural contemporânea, bem como analisar como se dá
a representação discursiva deste tema, isto é, como Marcelino Freire absorve a
temática e elabora seus escritos.
Vanderléia da Silva Oliveira Ana Paula Franco Nobile Brandileone
Professoras orientadoras
UNIDADE 3
LETRAMENTO LITERÁRIO E A REPRESENTAÇÃO ESTÉTICA DA
VIOLÊNCIA NA NARRATIVA FICCIONAL
ILIETE CASSIANO
1 – CONVERSA COM O PROFESSOR
O ensino de literatura em sala de aula se constitui em um desafio para
o professor.
Fomentar a leitura literária é tarefa árdua, sobretudo neste início de
século no qual a modernidade e disponibilidade da tecnologia, bem como a
mídia, absorvem o interesse de nossos jovens, envolvendo-os em outras
atividades prazerosas, que o distanciam do universo da leitura.
Acreditamos que o ensino de literatura amplia o horizonte do leitor e faz
com que ele seja um ser ativo, participante e crítico na construção da realidade.
Diante dessas breves considerações entendemos que cabe ao
professor criar um ambiente de leitura prazeroso, incentivando os alunos à
leitura de textos literários que os levem à reflexão, transformando seu mundo
individual e o do outro.
Ao professor cabe criar as condições para que o encontro do aluno com a Literatura seja uma busca plena de sentido para o texto literário, para o próprio aluno e para a sociedade em que todos estão inseridos. (COSSON 2009, p.29)
O trabalho com a literatura o faz repensar sobre possibilidades
metodológicas e fomenta a busca de respostas a questões como: Por que
ensinar literatura? Para quem ensinar e como ensinar? Estas questões e a
busca por respostas exigem do professor o encontro com novos caminhos, que
sejam envolventes, prazerosos e significativos em relação à leitura de textos
literários. Sob este aspecto, esta proposta elege o trabalho com o gênero
literário conto em sala de aula, baseando-se no letramento literário, levando em
consideração, ainda, alguns aspectos importantes da chamada Estética da
Recepção, com encaminhamento metodológico pautado nas sequências
didáticas propostas por Cosson (2009).
Nos contos a serem trabalhados, será abordada a representação
estética da violência na narrativa, no intuito de que o aluno perceba que a
ficção, muitas vezes, é o reflexo da realidade e que fatos narrados trazem
aspectos cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas, seja na linguagem
(oralidade), no comportamento (no agir de cada um), na condição social, no
ambiente em que vive, etc.
É nessa perspectiva que proponho ao professor o trabalho com
contos, fazendo uso da Estética da Recepção, como uma das diversas
propostas de trabalho sobre letramento literário.
Nesse encontro com contos, o aluno poderá ampliar seu universo
literário, trocar ideias, compartilhar experiências, vivenciar, enfim, o chamado
letramento literário.
2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1- A literatura no espaço escolar
É por meio da leitura de textos que o leitor depara-se com um mundo
significativo, estabelecendo semelhanças entre seu próprio mundo e o de
outrem, ao mesmo tempo em que amplia seu horizonte de expectativas em
relação à leitura.
O primeiro contato com a literatura, ainda que de forma lúdica, deveria
ter como base o alicerce na família, através das histórias infantis, ainda que
orais. Caberia à escola o papel de resgatar a experiência de leitura desse
“jovem leitor”, ainda em transição, direcionando-o à leitura de textos mais
complexos (literários) no decorrer das séries do Ensino Fundamental e Médio.
Para Cosson (2009, p.103-104):
É importante que o professor também tenha em mente que seu propósito é promover o letramento literário, mostrando ao seu aluno um caminho de leitura que poderá ser transposto para tantos outros textos que ele venha a ler mais tarde ou julgar necessário.
A escola deve oportunizar esse “encontro da literatura” com o aluno,
para que ele possa fazer parte desse universo literário, tendo acesso aos mais
variados gêneros textuais. Dessa forma, esse leitor em formação extrairá das
obras lidas, múltiplos significados, analisando, confrontando ideias, criando
conceitos, posicionando-se diante da obra lida de forma crítica e significativa.
Um leitor crítico é aquele que vai além de uma decifração de códigos
linguísticos. É aquele que interpreta, descobre nas entrelinhas novas leituras,
que ultrapassa a leitura de seu próprio mundo e vai além, que busca
conhecimentos não só para si, mas, através deles, transforma a realidade em
que vive e a do outro.
Como fazer-se ouvir, expor opiniões e ideias diante de uma sociedade
literária “esmagadora”? Como entender o passado literário e projetar-se num
futuro cada vez mais crítico-literário? Como dar “voz” a esse leitor, que muitas
vezes chega ao ambiente escolar, desanimado, com pouca ou nenhuma
experiência de leitura e indiferente a ela?
Vejo que, como educadores, ainda nos cabe a tarefa (ou, por que não
dizer missão?) de apresentar esse universo literário, ainda que de forma
gradativa, ao aluno, e inseri-lo nesse contexto social.
2.2- O texto literário e a representação da realidade
O texto literário envolve uma multiplicidade de conhecimentos que
abrange, de certa forma, outros textos, outras áreas de estudo e expressa a
realidade por meio da ficção. A imitação da realidade está retratada em muitas
obras literárias, no dia a dia das pessoas, em seus “falares”, em seus conflitos,
problemas pessoais e sociais etc.
Por meio dos textos, criamos um ambiente familiar e próximo de nossa
realidade, pois ao ler nos envolvemos com a história, tornamo-nos
personagens desse enredo, embora fictício, mas tão “cheio” de realidade.
A obra literária retrata, muitas vezes, a realidade de forma fiel, o que
nos remete a um “flashback”, por semelhança, de acontecimentos vivenciados
ou presenciados por nós mesmos. Ela retrata aspectos reais, ainda que de
forma ficcional, possibilitando ao aluno refletir sobre a obra lida e perceber que
a literatura proporciona riqueza expressiva.
2.3 – A representação da violência
Uma das temáticas mais próximas a nós e que se figura na obra
literária, é a da violência. Ela, muitas vezes, nos absorve, nos choca dentro
desse contexto social real que é a vida. Em outras, somos indiferentes a ela,
expressando um caráter banal, conformista, que nos é cômodo, pois nos tira o
peso da responsabilidade e nos torna descomprometidos com os problemas
sociais. Tal aspecto nos remete a várias reflexões: Como o professor poderá
trabalhar a representação da violência nos textos literários? O aluno está
preparado para trabalhar com essa temática e por meio da análise de contos
fazer as devidas inferências textuais?
Numa sociedade marcada pelas mais diversas formas de violência
(verbal, física, social, etc), ela ainda é vista, nos textos literários, sob o olhar de
um leitor passivo e distante dos problemas sociais de sua época.
Propõe-se, então, que o trabalho com textos literários, nos quais a
violência esteja figurada, possam levar o leitor a uma visão crítica, sob um
olhar reflexivo e ativo, capaz, através da leitura, de questioná-la, transformando
sua própria realidade e buscando alternativas positivas para a transformação
da realidade do outro.
É preciso, por meio da leitura das obras literárias, estimular o aluno ao
comprometimento com os problemas sociais que os rodeiam, que possam
discutir sobre os mesmos, fazendo-se ouvir, agindo ativamente, tornando-se
assim, leitores críticos e passíveis de mudanças.
Quando se pensa na temática da violência, percebemos que ela está
mais próxima de nós e do aluno, do que imaginamos. No próprio ambiente
escolar, muitas vezes, ela se faz presente, seja verbal ou fisicamente. Deste
modo ao abordá-la em sala de aula, teremos a oportunidade de inserir o aluno
nesse universo, fazendo-o capaz de refletir e debater sobre esta temática tão
presente no cotidiano das pessoas, mas, muitas vezes indiferente aos olhos de
muitos.
2.4 – Letramento literário
O letramento literário deve ser visto como uma prática social capaz de
envolver a todos, transformando o mundo do leitor, que nele está inserido,
como também a transformação do mundo do outro. Ele é essencial para a
formação do leitor, mas quem tem direito à literatura? Segundo Candido (1995,
p.263), “Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a
fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é
um direito inalienável”.
Inserir o aluno nesse contexto é de suma importância para promover o
letramento literário em sala de aula, na formação desse leitor ainda, muitas
vezes, distante do universo literário.
Sugere-se, pois nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa
para a Educação Básica (PARANÁ, 2008), que a literatura seja pensada e
trabalhada utilizando-se a Estética da Recepção e a Teoria do Efeito, já que as
mesmas buscam formar um leitor capaz de sentir, de expressar sentimentos
envolvidos pelas subjetividades da literatura, expressas na tríade
obra/autor/leitor que está presente na interação da prática de leitura. Sob esta
perspectiva de trabalho, o aluno terá um contato melhor com a obra, por meio
de leituras e atividades que o professor irá propor no decorrer das aulas.
A Estética da Recepção, é um dos pressupostos teóricos de que o
professor poderá fazer uso e que muito contribuirá na formação desse leitor,
pois os passos descritos para o trabalho em sala de aula, em um determinado
momento, rompem com a expectativa do aluno e ampliam seu horizonte de
expectativas, fator importante ao inseri-lo nesse universo literário.
Diante de tais considerações, convido você, professor, a “mergulhar”
nessa proposta literária que muito contribuirá com seu trabalho em sala de
aula. Sugiro, então, que seja trabalhado o gênero conto, para que seja
despertado no aluno o interesse pelo universo literário.
2.5 – O gênero conto
Durante muito tempo, o gênero conto foi debatido quanto à melhor
definição que lhe caberia. Visto como uma narrativa curta, uma forma breve de
narrar, composta de poucos elementos, procura prender a atenção do leitor,
sem que o mesmo seja interrompido por interesses alheios à leitura, como é o
caso dos romances.
Gotlib (2006) relata em Teoria do conto que para Julio Casares, há três
acepções da palavra conto que, Júlio Cortázar utiliza no seu estudo sobre Poe:
1. Relato de um acontecimento; 2. Narração oral ou escrita de um
acontecimento falso; 3. Fábula que se conta às crianças para diverti-las.
Segundo a autora o contar (do latim computare) uma estória, em princípio,
oralmente, evolui para o registro das estórias, por escrito. A história do conto,
nas suas linhas mais gerais, pode se esboçar a partir deste critério de
invenção, que foi se desenvolvendo. Antes, a criação do conto e sua
transformação oral. Depois, seu registro escrito. E, posteriormente, a criação
por escrito de contos, quando o narrador assumiu esta função: de contador-
criador-escritor de contos, afirmando, então, o seu caráter literário.
Para Moisés (1978), o conto constitui-se de unidades de ação, tempo e
lugar, embora reduzidas, com poucas personagens, com uma linguagem
objetiva e de imediata compreensão para o leitor. sendo o diálogo a base
expressiva do mesmo. Por constituir-se em uma narrativa curta, predispõe
pouco tempo para a leitura e melhor compreensão, aspecto essencial para a
interpretação do texto.
Aqui, a sugestão da atividade é a de trabalhar com contos, que
compõem parte da obra Rasif, mar que arrebenta (2008), de autoria de
Marcelino Freire, e, nos chamados “intervalos” da Sequência Básica,
apresentar aos alunos outros textos literários que abordem a mesma temática:
violência dentro de uma narrativa ficcional, fazendo ao mesmo tempo uma
intertextualidade e promovendo, assim, o letramento literário.
Acredito que esse seja um dos vários caminhos para amenizar a
distância, ainda existente, entre leitor e obra literária, pois, segundo Bordini e
Aguiar (1988, p.9), “Ao decifrar-lhe o texto o leitor estabelece elos com as
manifestações sócio-culturais que lhe são distantes no tempo e no espaço.”
Que essa unidade didática possa, portanto, contribuir para a formação desse
leitor, ressaltando a importância da leitura e visando, ao mesmo tempo, ao
letramento literário.
3 – ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO
3.1 – Metodologia
O trabalho com textos literários supõe um encaminhamento
metodológico que contribua para o letramento literário e, naturalmente, para a
formação de um leitor crítico. Para isso, sugere-se que o trabalho com textos
literários seja pautado nas sequências didáticas propostas por Cosson (2009).
As sequências propostas por Cosson se dividem em duas: a básica e a
expandida. Ambas se constituem pela proposta de sistematização de leitura do
texto literário, dividindo-se as etapas em: motivação, introdução, leitura,
interpretação, contextualização e expansão. A sequência básica do letramento
literário destina-se ao trabalho com alunos do Ensino Fundamental e a
sequência expandida, com os do Ensino Médio.
Quanto ao trabalho com a Sequência Básica, a motivação é o primeiro
passo; o qual consiste no encontro do leitor com a obra. Ao trabalhar a
introdução, o professor deverá fazer a apresentação do autor e da obra,
tomando alguns cuidados para que a aula, sobre a vida do escritor, não se
torne longa e expositiva. Já a leitura da obra poderá dialogar com outros
gêneros textuais e se constitui por intervalos.
Cabe ao professor estipular um tempo suficiente de leitura, que não
seja tão longo nem muito curto, mas suficiente para que todos leiam e possam
interagir com a obra. A interpretação é vista, primeiramente, como apreensão
global da obra logo após o término da leitura; e, posteriormente, como
concretização, como ato de construção de sentido.
O trabalho com a Sequência Expandida segue os mesmos passos,
acrescentando-se a parte da contextualização, que compreende o
aprofundamento da leitura por meio dos contextos que a obra traz consigo. O
professor poderá fazer várias contextualizações, dependendo dos objetivos que
se quer alcançar com a obra. E, finalizando, a expansão, vista como a
intertextualidade da obra, que ultrapassa o limite de um texto para outros
textos; ampliando assim, o horizonte de expectativas do leitor.
Esse trabalho com as sequências didáticas, poderá ser muito
produtivo, pois envolve todos os alunos nesse processo de leitura, contribui
para o letramento literário e, consequentemente, para a formação do leitor.
É importante que o professor também tenha em mente que seu propósito é promover o letramento literário, mostrando ao seu aluno um caminho de leitura que poderá ser transposto para tantos outros textos que ele venha a ler mais tarde ou julgar necessário. Mais importante que a simples oposição entre quantidade e qualidade é a competência de leitura que o aluno desenvolve dentro do campo literário, levando-o a aprimorar a capacidade de interpretar e a sensibilidade de ler em um texto a tecedura da cultura. É essa competência que se objetiva no letramento literário. (COSSON, 2009), p. 103-104).
Trabalhar com a representação estética da violência, tendo como
suporte a obra literária, é conduzir o aluno a imergir num universo fictício,
vivenciando experiências próprias e/ou alheias e emergindo a uma realidade
resultante da tríade obra/autor/leitor presente na interação da prática de leitura.
Por isso, leva-se em conta que as Diretrizes Curriculares da Educação
Básica (Paraná, 2008) enfatizam ser importante pensar em que sentido a
Estética da Recepção pode servir como suporte teórico para refletir sobre a
literatura, levando em conta o papel do leitor e sua formação.
Deseja-se que, com esta proposta de trabalho, a leitura de obras
literárias seja significativa na vivência do aluno, tornando-o um leitor literário
competente e crítico.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
As sugestões das atividades aqui propostas são indicadas para o
trabalho com alunos do 2ª Série do Ensino Médio, com uma estimativa de 32
aulas. Serão trabalhados três contos que constituem a obra Rasif, mar que
arrebenta, de Marcelino Freire, que trata sobre a temática da violência,
propondo, assim, trabalhar com uma obra contemporânea, relacionando-a com
outros gêneros textuais como a poesia, a música, as crônicas, etc.
Os contos We speak English, Tupi-guarani e O futuro que me espera,
trazem elementos que remetem à possíveis tipos de violência, à ideia de valor
cultural de idiomas e à proposta de um novo começo, aproximando, por meio
de semelhança, ficção e realidade. É a partir daí que o professor deverá ser o
mediador entre leitor e obra literária, instigando a vivência social do aluno
carregada de literatura, mas ainda adormecida. São as mediações e
intervenções do professor no decorrer do trabalho que levarão o aluno ao
letramento literário.
Coloco aqui uma observação pertinente ao trabalho proposto: para o
desenvolvimento das atividades será utilizada a Sequência Básica, mesmo em
se tratando de alunos do Ensino Médio, já que os contos sugeridos são curtos,
pois para o trabalho com a Sequência Expandida, o ideal seria contos mais
longos ou, sobretudo, romances. A seguir a descrição de algumas atividades
propostas utilizando-se a Sequência Básica:
1ª ETAPA: MOTIVAÇÃO
Duração: 02 aulas
Esse momento da motivação deve ser visto pelo professor como o
primeiro passo para o trabalho com os contos selecionados, não devendo se
estender por um longo tempo, para que não seja algo cansativo, desmotivando
o aluno e fugindo do tema proposto.
Como sugestão o professor poderá trabalhar com textos jornalísticos
e/ou revistas que tragam notícias sobre diferentes tipos de violência.
Pedir aos alunos que leiam as notícias, comentem suas primeiras
impressões e depois selecione-as, por escrito, em categorias como: violência
urbana, física, intrafamiliar, moral, psicológica, sexual, etc.
Logo após, poderão ser feitos, oralmente, alguns questionamentos
como:
a) O que significa violência para você?
b) Quais são os diferentes tipos de violência que você
conhece?
c) Já presenciou um ato de violência? Qual foi sua postura
diante dele?
d) Você acha que a ficção retrata a violência real ou é mera
coincidência?
e) Que medidas deveriam ser tomadas para pôr fim à
violência?
Outra sugestão para a motivação, seria o trabalho com vídeos que
abordassem o tema. Cito como exemplo, um documentário sobre violência,
intitulado como: Tipos de violência – Movimento Humanista, disponível em:
https://www,youtube.com/watch?v=nHNpz4lj2jV Acesso em 04/11/2013.
Esse vídeo mostra várias imagens que retratam diferentes tipos de
violência, acompanhado de frases reflexivas e trilha sonora. A música é um
forte elemento para as imagens que são apresentadas.
Abaixo, sugestões de outros vídeos selecionados por categorias:
(vídeo sobre violência doméstica) – disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=mAVQcG-US-8 Acesso em 04/11/2013.
Retrata cenas onde a mulher é agredida verbal e fisicamente,
menosprezada pela figura masculina.
(vídeo sobre negligência e maus tratos a crianças) - disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=8CcrSv-XgrU Acesso em 04/11/2013.
Mostra a criança abandonada, agredida, frágil e indefesa, num
ambiente que traduz a covardia do mais forte.
Mesmo se o professor optar pelo trabalho com vídeos, poderá fazer
uso dos mesmos questionamentos descritos anteriormente.
2ª ETAPA: INTRODUÇÃO
Duração: 02 aulas
Nessa 2ª etapa, o professor irá apresentar aos alunos a obra e o autor.
Por ser tratarem de três contos curtos, propor aos alunos que façam uma
leitura silenciosa, acompanhada em seguida da leitura feita pelo professor.
Os contos podem ser lidos da obra original, se possível, ou o professor
poderá disponibilizar cópias dos mesmos para os alunos. Mesmo assim o
professor deve levar o livro para conhecimento dos alunos e, logo após, iniciar
comentários sobre o autor. Para um aprofundamento, solicitar aos alunos uma
pesquisa biográfica e levantamento de algumas obras do autor.
No trabalho com a introdução, o professor ainda poderá fazer uso de
sites que falem sobre o autor Marcelino Freire e seu trabalho como escritor.
Cito aqui, http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/tag/marcelino-freire/page/2/.
Acesso em 11/11/13. Esse blog traz um encarte da peça teatral, Rasif e alguns
comentários, assim como imagens de atores representando alguns contos da
obra.
O site do blog abaixo traz fotos de Marcelino Freire com um grupo de
alunos de uma escola, onde os mesmos, caracterizados, remetem aos contos
do escritor.
http://efeito-colateral/blogspot.com.br/2009/06fotos-encontro-com-marcelino-
freire.htm/. Acessado em 11/11/13.
3ª ETAPA: LEITURA
Para a proposta de leitura, a sugestão é a de trabalhar os contos
separadamente, com o máximo de três intervalos para cada um. Por serem
contos curtos, a duração das aulas para o desenvolvimento das atividades
seria satisfatória e oportunizaria um trabalho diversificado de intertextualidade.
Abaixo, segue a proposta para cada conto e os intervalos a serem trabalhados.
CONTO: WE SPEAK ENGLISH
O conto We speak English relata o valor cultural dos idiomas:
português, inglês e árabe, enquanto códigos de comunicação. Questiona junto
ao leitor o presente da língua e da cultura e sobre o futuro das mesmas.
1º INTERVALO
03 AULAS
Como sugestão da 1ª atividade, indico um texto de Lima Barreto,
intitulado A questão dos Poveiros, da obra Marginália. A atividade poderá ser
realizada usando fragmentos do texto, de preferência o trecho início. É
interessante o aluno perceber essa intertextualidade com autores de épocas
diferentes que abordem temas tão atuais. O texto fala sobre pescadores de
uma cidade de Portugal, chamada Póvoa do Varzim, especializados em pesca,
mas que discriminam outros pescadores, por não pertencerem ao mesmo
lugar. É no relato do narrador que são percebidos elementos relacionados à
violência, discriminação e poder.
Curioso é que encontrem, unicamente nos japoneses, essa repugnância pela imitação com o geral da população brasileira, quando os tais “poveiros” a possuem ou possuíam também, a ponto de não permitirem que, entre eles, houvesse outra gente, empregada nas suas pescarias, senão os naturais de Póvoa do Varzim.[...] (BARRETO,1956, p.01) Seja qual for a emergência, pouco a pouco, não só nos Estados longínquos, até mesmo nos mais adiantados, e no próprio Rio de Janeiro, capital da República, a autoridade mais modesta e mais transitória que seja procura abandonar os meios estabelecidos em lei e recorre à violência, ao chanfalho, ao chicote, ao cano de borracha, à solitária a pão e água, e outros processos torquemadescos e otomanos.[...] (BARRETO, 1956, p.02)
Os alunos farão a leitura do fragmento e tentarão relacioná-lo no tempo
e espaço com o conto We speak English, observando o valor cultural, a
influência de outros lugares sobre a vida das pessoas, o domínio da oralidade
discursiva. O professor poderá pedir que os alunos registrem essas
informações através de comentários por escrito e que também listem as
palavras desconhecidas e procurem seus significados fazendo uso do
dicionário.
O texto de Lima Barreto encontra-se disponível em
http://wwwdominiopublico.gov.br/dowload/texto/bv000154.pdf acesso em
08/11/2013.
2º INTERVALO
03 AULAS
Outra sugestão é a do trabalho com letras de música. Cito aqui a
música Geração coca-cola, do grupo Legião Urbana, que trata da influência
de culturas diferentes no nosso dia a dia, nos códigos de comunicação, em
específico o “estrangeirismo”; evidenciando assim um “choque cultural”.
Quando nascemos fomos programados A receber o que vocês Nos empurraram com os enlatados Dos U.S.A., de nove às seis. Desde pequenos nós comemos lixo Comercial e industrial Mas agora chegou nossa vez Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês” [...]
A letra da música encontra-se no endereço eletrônico
http://musica.com.br/artistas/legião-urbana/m/geracao-coca-cola/letra.html
acesso em 09/11/2013. O professor também poderá acessar o vídeo disponível
em htpp://www.youtube.com/watch?v=K-qYu-zRiGM acesso em 09/11/2013.
O vídeo Geração coca-cola mostra imagens e frases em inglês em
contrapartida com o cenário brasileiro urbano.
Nessa atividade, o professor poderá instigar os alunos a pensarem na
diversidade cultural, nas influências recebidas também na oralidade, e,
posteriormente, trabalhar a questão da violência que, através da linguagem,
desconstrói a cultura de um país.
Pedir aos alunos que listem palavras, relacionadas ao estrangeirismo,
que fazem parte do nosso cotidiano. A partir das reflexões feitas, os alunos
deverão produzir um texto sobre: “Qual o valor da cultura de um país?”
3º INTERVALO
03 AULAS
Para o 3º intervalo, outra sugestão seria relacionar tanto o conto We
speak English como a música Geração coca-cola, com textos literários
modernistas, que abordam esse “choque cultural”, nacionalista; como é o caso
dos movimentos modernistas Pau-Brasil e Antropofagia ; que não negam a
cultura estrangeira, mas valorizam a própria identidade cultural.
Os textos literários podem ser encontrados no livro didático destinado
ao 3º ano do Ensino Médio: Português Linguagens 3, de William Roberto
Cereja e Thereza Cochar Magalhães, Editora Saraiva, São Paulo, 2010.
Esses textos falam sobre alguns movimentos modernistas que surgiram na 1ª
fase do Modernismo brasileiro, 1922 a 1930, onde defendiam a reconstrução
da cultura brasileira com bases nacionais e a eliminação definitiva do nosso
complexo de colonizados, apegados a valores estrangeiros. O professor
poderá trabalhar esses textos relacionando-os com o conto e a música, a fim
de instigar o aluno a pensar nessa forma de violência massificadora que nos é
imposta, ainda de maneira sutil, ao nosso cotidiano e a nossa cultura.
Como atividade escrita, poderá valer-se da produção textual citada
anteriormente no 2º intervalo ou elaborar juntamente com os alunos cartazes
com palavras estrangeiras que fazem parte de nosso dia a dia, acompanhadas
por frases reflexivas, feitas pelos alunos, que os levem a pensar sobre esse
“choque cultural” existente.
Para finalizar o 3º intervalo, veja o vídeo do grupo musical Engenheiros
do Hawai, “Muros e grades”, disponível em http://letras.mus.br/engenheiros-
do-hawaii/45733/ acesso em 23/11/2013.
O vídeo aborda a questão da violência urbana retratada no nosso dia a
dia. Fala de um país irreal, de uma vida superficial, vista através de muros e
grades que nós próprios construímos para nos anular da violência, do poder do
outro sobre o oprimido. A partir daí levar os alunos a refletirem sobre a
violência cotidiana, conduzindo-os a reflexões mais complexas que abordem a
temática sobre o próprio país e outros países.
CONTO: TUPI-GUARANI
O conto Tupi-guarani aborda fatos históricos de questões mal
resolvidas referente à formação de nossa nação; assim como mostra a figura
indígena reclamando o direito à sua terra e sua cultura, através de uma
linguagem “pesada”, carregada de ironia e palavras indígenas. O autor faz uso
de gírias e de um vocabulário “forte” para manifestar a revolta e indignação do
índio pelas atitudes do homem “branco”, que o discrimina por meio da
indiferença social e de seus interesses pessoais.
1º INTERVALO
03 AULAS
Para o trabalho do 1º intervalo, seria interessante o professor, após a
leitura do conto Tupi-guarani, relacionar falas do narrador-personagem com
acontecimentos históricos, antigos e atuais, ocorridos em nosso país, como por
exemplo: “Sabe aquela beleza na redondeza? [...] Mataram a cachoeira. A
árvore um osso só. [...] Um sequestro! Tomaram o Teatro Amazonas” (FREIRE,
2008. p.101), as quais abordam a questão da desapropriação de terras
indígenas que até hoje está mal resolvida, evidenciando, assim, a violência
moral e a discriminação política perante o índio.
Nas falas “Sabe o Grande Sol? [...] Foi preso anteontem. Acusado de
roubar um sabonete. [...] O que é um sabonete perto da natureza? País de
marginal!” (Freire, 2008, p. 102-103), percebe-se a impunidade como uma
forma de violência, que massacra a sociedade de menor poder aquisitivo, aqui
representada pela figura indígena, e fecha os olhos para a corrupção política.
Ainda, se faz presente a violência física contra o índio, vista de forma real, fatos
esses que são recordados nas falas do narrador: “Porém vou contar uma
história. [...] Sabe o mendigo Caitetu? Não era mendigo. [...] Veio à cidade de
vocês, vestido. [...] E sabe o que fizeram com Caitetu, o coitado? Queimaram
vivo” (FREIRE, 2008, p.103).
Após essas reflexões, ouvir a música Que país é esse? do grupo
musical Legião Urbana, que traz em sua letra a indignação diante de um país
envolto pelas mais diversas formas de violência e o descaso dos que estão no
poder pelos índios. Pedir aos alunos que produzam uma carta argumentativa
de reclamação e solicitação, reivindicando aos governantes de seu país
respostas a tantos problemas sociais que os afligem, incluindo a questão da
violência em suas mais diversas formas. Se desejar, o professor ainda poderá
pedir para que os alunos troquem as cartas entre si e, se colocando no lugar
das autoridades, que soluções dariam para os problemas mencionados pelos
colegas. Ao término, fazer a socialização da atividade.
Professor, o box abaixo o ajudará em seu trabalho com cartas
argumentativas de reclamação e solicitação:
A carta argumentativa de reclamação, como o nome sugere,
apresenta uma reclamação a respeito de algum problema, enquanto
a carta argumentativa de solicitação pede a resolução de um
problema. Quando apresenta simultaneamente uma reclamação e
uma solicitação, a carta argumentativa é chamada de carta
argumentativa de reclamação e de solicitação. A carta deve
apresentar: local e data, vocativo, corpo do texto (assunto),
despedida e assinatura; uma reclamação e/ou uma reivindicação;
argumentos que expliquem ou fundamentem os motivos da
reclamação ou reivindicação; linguagem e tratamento de acordo
com o gênero e o perfil do(s) interlocutor(es).
(William Roberto Cereja. Português linguagens: volume 3. São
Paulo: Saraiva. 2010. p. 182 – 183)
A música Que país é esse? encontra-se disponível em
http://letras.mus.br/legiao-urbana/46973/ acesso em 23/11/13.
2º INTERVALO
03 AULAS
No final do conto Tupi-guarani encontramos um índio revoltado com
sua condição e de sua tribo, disposto a enfrentar os problemas e lutar pelos
seu direitos, mesmo que para isso tenha que fazer uso da violência. Seu
desabafo é marcado pela sua oralidade discursiva: “Por isso, decreto: o fim. [...]
De agora não passa. Diz o Cacique. Enfrentaremos qualquer ameaça. Gás,
veneno. Bomba. Daqui só sairemos para uma nova vida. Uma outra terra”
(FREIRE, 2008, p. 105).
Com base no relato do personagem, trabalhar a oralidade discursiva,
abrindo um “leque” de discussões sobre a questão da violência a partir das
reflexões abaixo:
Sou violento(a) quando... Respondo mal humorado(a) o que me perguntam; Me considero superior ao outro humilhando-o para provar isso; Não respeito o jeito de ser de cada um, seus gostos, opiniões, crenças; Sou violento(a) quando...
Através de um olhar agressivo, meus olhos dizem: Por que você está me olhando?! Ignoro as pessoas necessitadas que me pedem ajuda; Me anulo diante da injustiça social e me torno cúmplice desse ato, no meu silêncio.
Questionar os alunos sobre as reflexões, fazendo com que eles
percebam a violência presente no dia a dia das pessoas: em suas palavras,
gestos, fisionomias, atitudes, etc, e que, infelizmente, ela pode ser encontrada
nos lares, nas ruas, no ambiente escolar, entre outros.
Como atividade escrita, solicitar aos alunos que escrevam suas
próprias frases e exprimam suas opiniões dando continuidade de sentido à
expressão: “Sou violento(a) quando...” A atividade poderá ser socializada com
a turma, organizando-se um mural com as frases dos alunos.
3º INTERVALO
03 AULAS
Para dar encerramento ao último intervalo desse conto, os alunos
deverão pesquisar a questão da violência no próprio ambiente indígena, com a
finalidade de explorar um pouco mais a cultura de outros povos. Sem perder o
foco do tema central que aborda o conto Tupi-guarani, a pesquisa proposta
aos alunos deverá ter como tema orientador o seguinte questionamento: “Há
violência dentro da cultura indígena? Como eles lidam com isso?”
Orientá-los quanto a sua escrita, o tema a ser trabalhado, as
referências usadas para a pesquisa. Faça, sempre que necessário, as
intervenções junto aos alunos, para que esclareçam suas dúvidas e que
organizem, assim, um bom trabalho.
CONTO: O FUTURO QUE ME ESPERA
O conto O futuro que me espera mostra um narrador cheio de
saudades de sua terra natal (Pernambuco), dos lugares, de seu povo; que vê
no retorno a solução de seus problemas sentimentais. A linguagem utilizada por
ele reflete a presença de um futuro próximo, como se pudesse prever seu
próprio futuro. Unindo passado e futuro, o narrador oferece ao leitor um novo
começo.
1º INTERVALO
03 AULAS
No 1º intervalo, o professor poderá trabalhar o conto O futuro que me
espera, pedindo aos alunos que façam uma prévia leitura do texto, mas sem
expor questionamentos. Em seguida, distribuir folhas de papel sulfite e pedir
aos alunos que registrem através de imagens qual é o sentido da palavra
Saudade para cada um deles. Socializar esse momento com a classe e só
depois questioná-los sobre a relação da atividade com o conto de Marcelino
Freire.
Levá-los a refletir que dos três contos trabalhados até agora, esse
parece ser o único que não ressalta a temática violência. Mas será que se
analisarmos a obra sob outro contexto, ou seja, quando muitas vezes as
pessoas são privadas de voltarem a sua terra de origem, por inúmeros fatores,
não seria uma forma de violência psicológica, ainda que de maneira sutil,
quase despercebida?! Ou, quando as pessoas são forçadas a deixarem sua
terra natal por problemas políticos, como o exílio ou sociais como o
desemprego, a fome, a miséria, a própria violência, não se faz ela presente,
misturada a dor da saudade, da indiferença, do preconceito, do descaso?!
Com base nessas reflexões, abrir um espaço para que os alunos
trabalhem a oralidade expondo o que pensam. Para dar continuidade a esse
intervalo, propomos uma intertextualidade com um texto poético de Castro
Alves, intitulado A canção do africano, que fala da saudade do africano em
relação a sua terra natal, do seu povo, de seus costumes, misturados à
nostalgia do retorno. Vemos aí, a violência retratada pela dor da distância de
seu lugar de origem, marcada pela sua condição de escravo. Abaixo
fragmentos da poesia:
A canção do africano Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão ... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez pra não o escutar! "Minha terra é lá bem longe, Das bandas de onde o sol vem; Esta terra é mais bonita, Mas à outra eu quero bem! "0 sol faz lá tudo em fogo, Faz em brasa toda a areia; Ninguém sabe como é belo Ver de tarde a papa-ceia! "Aquelas terras tão grandes, Tão compridas como o mar, Com suas poucas palmeiras Dão vontade de pensar ... [...]
O texto encontra-se disponível no endereço eletrônico:
http://www.dominiopublico.gov.br/dowload/texto/jp000009.pdf acesso em
25/11/13.
Os alunos poderão fazer uma intertextualidade do conto com o poema,
registrando por escrito, através de comentários, o que há em comum entre os
dois textos. Levar o aluno a refletir sobre esses fatos no cotidiano das pessoas,
que, muitas vezes, deixam sua terra natal à espera de um futuro melhor e são
marginalizadas, exploradas, discriminadas socialmente.
A tela abaixo poderá ser trabalhada como um texto visual, onde os
alunos relataram de forma oral ou escrita, as primeiras impressões que tiveram
ao visualizá-la. Em seguida o professor poderá pedir aos alunos que façam um
paralelo da tela com os versos de Castro Alves, A canção do africano.
CASA DOS NEGROS
(Esta imagem encontra-se em domínio público e está disponível em: http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/10/habita.jpg acesso em 03/12/2013.
2º INTERVALO
03 AULAS
Essa atividade com desenho animado, trabalhada no 2º intervalo,
proporcionará ao aluno uma participação maior, pois é sempre agradável o
trabalho envolvendo atividades com vídeos, desde que o professor escolha
bem o repertório e este esteja relacionado ao conteúdo da aula. Os alunos
gostam, pois interagem melhor na discussão do tema proposto
Sugiro o vídeo da TV Escola, que mostra, em desenho animado, o
auto de Natal pernambucano Morte e Vida Severina, que relata poeticamente,
através do personagem Severino, a vida de milhares de retirantes que sofrem
com a fome, a miséria e a morte é uma constante na vida deles. O vídeo é em
preto e branco. O professor poderá relacioná-lo com o conto O futuro que me
espera, instigando o aluno a pensar na situação dos retirantes como uma
forma de violência social, que discrimina e banaliza o indivíduo.
Poderá ser feito, junto aos alunos, alguns questionamentos como:
a) Que relação tem o vídeo Morte e Vida Severina com o conto O futuro que
me espera, levando em consideração que é um auto pernambucano, terra
natal do escritor Marcelino Freire?
b) Em que momentos do relato do personagem você notou traços
referentes à violência?
c) O ato da indiferença, do conformismo diante de certas situações,
caracteriza violência? Justifique.
d) No conto O futuro que me espera, há futuro segundo o autor? Qual?
Você tem medo do futuro que o espera? Por quê?
O vídeo está disponível em
http://www,youtube.com/watch?v=P8yeAHVP8MQ acesso em 26/11/2013.
Fica ainda a sugestão da letra da música de Luiz Gonzaga, intitulada
A triste Partida, que também retrata a vida de pessoas da região nordeste que
sofrem com a seca. Sem futuro garantido, a esperança é a única coisa que
resta.
A música encontra-se no endereço eletrônico http://letras.mus.br./luiz-
gonzaga/82378/ acesso em 26/11/2013.
3º INTERVALO
03 AULAS
Finalmente, no 3º intervalo, como sugestão, o professor poderá fazer
uso da imagem abaixo, que simboliza um dos movimentos literários
vanguardistas que inspirou a Semana de Arte Moderna, ocorrida em 1922, da
Escola literária Modernista. A imagem intitulada Futurismo, que retrata um
futuro ainda incerto, mas já inovador, rompendo com o passado e projetando-
se no tempo, poderá, através das intervenções do professor, instigar os alunos
a pensar no futuro que os espera. Assim como no conto de Marcelino Freire, O
futuro que me espera, o autor busca uma resposta ao futuro, baseando-se no
seu passado, nas suas vivências.
Apresentar a imagem à classe fazendo um breve relato sobre o
movimento futurista e relacioná-la ao conto de Marcelino Freire. Em seguida,
solicitar à classe que redija um texto dissertativo-argumentativo com o tema O
futuro que me espera ou Que futuro me espera? Fica a critério do professor
a escolha de um dos temas sugeridos ou outro tema pertinente ao assunto.
Socializar os textos com a turma.
Futurismo
(Esta imagem faz parte do domínio público e encontra-se disponível em
http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/10/6futurismo.jpg
acesso em 26/11/13).
INTERPRETAÇÃO
04 aulas
Para fazer a contextualização, apreensão global da obra, e a
concretização da atividade como construção de sentido, o professor poderá
fazer um “resgate”, oral, das atividades trabalhadas nos 3 intervalos de cada
conto e tecer comentários sobre a intertextualidade entre eles, visando o foco
do mesmo tema: violência.
Oportunizar um espaço para comentários dos alunos e discussão das
atividades realizadas.
As sugestões que se seguem abaixo, são um “aquecimento” para a
realização da atividade principal que fechará o trabalho, com contos, dessa
Unidade Didática:
Pedir aos alunos que registrem, por escrito, seus comentários e
impressões (pode ser em grupo ou individual). Se desejar pode
socializar a atividade com a classe.
Outra sugestão de atividade escrita, é a proposição aos alunos da
escrita de textos com gêneros textuais diferentes. Os alunos
escolheriam um gênero textual trabalhado nos intervalos dos contos e
abordariam a temática violência (o que pensam sobre o tema; o que
poderia ser feito para solucionar essa problemática; que fatores
desencadeiam a violência e por que isso acontece; somos alheios a ela
ou nos omitimos propositalmente; etc.).
E, finalmente, o professor irá elaborar uma coletânea de contos
produzida pelos alunos. Para isso, é necessária uma abordagem mais
específica sobre o conceito de conto e sua estrutura textual, assim como as
intervenções do professor junto ao aluno na escrita desse gênero, auxiliando-o
e sanando suas dúvidas. Ao final da atividade, faça a correção e, se julgar
necessário, peça para que os alunos reestruturem seus textos (mesmo que
seja em um outro momento), antes de reuni-los na coletânea.
O professor pode optar pelo trabalho individual ou em grupo para a
escrita dos contos. O tema abordado deve ser o da violência, deixando claro ao
aluno que a produção dos contos não visa criar textos que instiguem a
violência, mas sim, devem abordar fatos que amenizem esse problema, que
faça com que o leitor reflita sobre essa temática, buscando soluções, deixando
de ser um ser passivo e conformista diante dos problemas sociais e sim, ativo,
transformador de sua própria realidade e a do outro.
Se possível, compartilhe esse momento com outros professores,
disponibilize uma cópia da coletânea para a biblioteca de sua escola, pois,
assim, outros alunos terão a oportunidade de conhecer o trabalho desenvolvido
com sua turma e seus alunos ficarão mais motivados a realizar esse projeto.
Afinal, é sempre bom compartilhar conhecimentos!
Um bom trabalho!
REFERÊNCIAS
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leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
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