orientaÇÃo educacional: perspectivas atuais · própria educação assim for considerada,...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PÓS-GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL:
PERSPECTIVAS ATUAIS
Por: Eliani Moraes Tresinari
Orientadora Prof.a: Fabiane Muniz da Silva
NITERÓI
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PÓS-GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL:
PERSPECTIVAS ATUAIS
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Orientação Educacional.
Por: Eliani Moraes Tresinari
Orientadora Prof.a: Fabiane Muniz da Silva
NITERÓI
2009
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DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia ao meu filho e minha
tia Maria que me apoiaram e incentivaram na
escolha por esta nova desafiadora
caminhada.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por tudo que me tem permitido
realizar.
À professora Fabiane Muniz da Silva, minha
orientadora, que aceitou o desafio de
desenvolver este trabalho juntamente
comigo.
A todos os professores e educadores
educacionais que conheci que contribuíram
de certa forma com a minha formação
profissional e me inspiraram.
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RESUMO
A sociedade hoje, exige homens pensantes, exercendo sua verdadeira
cidadania, homens criativos, reflexivos, capazes de resolverem qualquer
situação, com isso o papel do Orientador Educacional é de grande importância
não só na escola, mas num todo para a formação de um indivíduo crítico e que
possa responder ao meio, por isso a educação na escola vem se modificando.
A educação tem por fins gerais conduzir à construção de uma sociedade
educativa, cujo propósito essencial é o desenvolvimento integral do homem,
portanto o papel do Educador, em especial do Orientador Educacional na
escola é de extrema importância. Percebe-se hoje que os objetivos da
Orientação Educacional são bem claros e coerentes, uma vez que o processo
evolutivo e as experiências vivenciadas foram responsáveis pela eliminação da
idéia romântica salvadora do papel da Orientação na escola. Como todo este
processo evolutivo da Orientação Educacional exerce e exerceu muita
importância na Educação Brasileira este estudo monográfico tomará este
processo como objeto de estudo.
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METODOLOGIA
Para a realização deste estudo monográfico uma pesquisa exploratória
baseada em pesquisa bibliográfica foi realizada utilizando-se as principais
bases de dados e bancos de dissertações e teses disponíveis, bem como o
auxílio de diversas fontes, como livros, internet, etc. Sendo a abordagem
teórica que fundamentam este trabalho de pesquisa bibliográfica inspirado
pelas obras do autor Paulo Freire, bem como de seus seguidores.
Segundo Gil (2002), uma pesquisa, tendo em vista seus objetivos, pode
ser classificada em pesquisa exploratória se esta pesquisa tem como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito. Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas
experientes no problema pesquisado. Geralmente, assume a forma de
pesquisa bibliográfica e estudo de caso.
Também segundo Gil (2002), uma pesquisa pode ser classificada quanto
aos seus procedimentos técnicos em pesquisa bibliográfica se ela for
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos. Não sendo aconselhável que textos retirados da
Internet constituam o arcabouço teórico do trabalho monográfico.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................8
CAPÍTULO I. ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL EM NOVO PARADIGMA...........9
1.1. ORIENTADOR EDUCACIONAL COMO CONSULTOR, ASSESSOR
E COORDENADOR................................................................................12
CAPÍTULO II. OS PERÍODOS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL.................15
2.1 - PERÍODO IMPLEMENTAR - DE 1920 A 1941...............................15
2.2 - PERÍODO INSTITUCIONAL DE 1941 A 1960................................15
2.3 - PERÍODO TRANSFORMADOR DE 1961 A 1970..........................15
2.4 - PERÍODO DISCIPLINAR_DE 1971 A 1980....................................16
2.5 - PERÍODO QUESTIONADOR _ DÉCADA DE 1980.......................17
2.6 - PERÍODO ORIENTADOR _ A PARTIR DE 1990...........................18
CAPÍTULO III. A PRÁTICA DE UMA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL.............21
3.1. PROJETANDO PERSPECTIVAS....................................................22
3.2. UMA PERSPECTIVA TEÓRICO-PRÁTICO NA ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL......................................................................................24
CAPÍTULO IV. A FUNÇÃO DA ESCOLA..........................................................27
4.1. O ORIENTADOR EDUCACIONAL ATUANDO NA ESCOLA..........28
CONCLUSÃO....................................................................................................33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................35
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INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é analisar quais são os objetivos e as
perspectivas da orientação educacional na escola.
Em virtude das mudanças sócio-econômicas e culturais ocorridas na
sociedade brasileira, a escola teve de reformular suas funções tradicionais,
redefinir o seu papel, seus objetivos e criar novos serviços aumentando, assim,
o número de pessoas envolvidas no processo educativo. Os grupos
multiprofissionais no atendimento escolar são de fundamental importância. Este
grupo de pessoas deve trabalhar em conjunto, formando uma equipe e não de
maneira isolada, para juntos conseguirem solucionar os problemas existentes
dentro das instituições educacionais. Pois, a escola acabou por assumir,
gradativamente, a responsabilidade pelo desenvolvimento integral do
educando, em seus múltiplos aspectos: físico, intelectual, escolar, social,
emocional, moral, vocacional, profissional, enfim, os aspectos em relação aos
quais a criança e o adolescente se desenvolvem enquanto nela permanecem.
Dentro deste grupo de profissionais especial destaque merece o Orientador
Educacional. Para se compreender as atividades desenvolvidas pelos
Orientadores Educacionais na atualidade, uma forma seria através de uma
análise crítica dos diferentes períodos em que a Orientação foi desenvolvida,
bem como dos objetivos desta durante tais períodos.
Diante deste contexto a questão central norteadora deste estudo
monográfico é: Os objetivos da orientação educacional na escola são os
mesmos dos das décadas passadas?
Portanto o objeto de estudo será o processo evolutivo da Orientação
Educacional Brasileira, sendo que uma análise contextualizada será realizada.
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Capítulo I. Orientação educacional em novo paradigma
“Estamos enfrentando uma combinação de mudanças
paradigmáticas que podem ser mais poderosas do que
qualquer coisa que o mundo tenha visto antes”.
(CARL ROGERS)
A orientação Educacional no país percorreu um longo caminho
comprometido com a educação e com as "políticas" vigentes. Todo o processo
da Orientação se manteve sempre estreita com as tendências pedagógicas,
sendo o seu trabalho desenvolvido a partir do que dela se esperava nas
diversas concepções. A análise desta relação engloba diferentes aspectos e
significados da prática da Orientação e de suas dimensões no cenário
educacional, configurando pelos princípios e propósitos daquelas concepções.
Este estudo abordará uma análise crítica da orientação Educacional,
com sua história, suas representações junto ao contexto educacional e as
perspectivas que são vislumbradas, face ao desenvolvimento da mesma nas
instituições de ensino de 1º e 2° graus.
Os objetivos da Orientação Educacional eram muito claros e precisos
quando a mesma tinha as suas abordagens na área psicológica, na medida em
que houve enfoque da orientação, com ênfase nos aspectos sociológicos, os
objetivos deixaram de ser claros e precisos. Isto é confirmado pela
documentação legal que proclama determinados objetivos e a prática efetivada
de orientação que apresenta uma diversidade de objetivos nas suas
atribuições.
A obrigatoriedade da Orientação Educacional nas escolas de 1º e de 2º
graus, conforme determina o art. 10 da lei n.º 5692/71, sem legitimidade de
seus objetivos e propósitos por parte dos educadores, não garantiu a eficiência
de seus resultados. Foi “arrastado” por longas décadas, uma história de
Orientação Educacional tecida de vários "bordados pedagógicos", assimilando
desde o risco de um bordado terapêutico, até o molde de um bordado
apresentado legalmente. Em outras palavras, no entendimento do que é
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Orientação Educacional, encontramos alguns diferenciados, como sejam: a
diversidade de atribuições, funções de acordo com as concepções e áreas do
conhecimento e a identidade do profissional, que algumas vezes chegou a ser
visto como fora da esfera pedagógica.
Os orientadores educacionais estão sempre evidenciando qual é o seu
papel, para que serve a Orientação e de que maneira a educação poderá
usufruir dos seus resultados. Tomando a Orientação Educacional como uma
colaboradora do processo pedagógico, observamos sua atuação, hoje de forma
clara e transparente nos novos paradigmas das ciências humanas voltados
para as exigências e novas necessidades do mundo moderno, através da
história da Orientação Educacional que pertence ao seu passado o conceito de
uma Orientação terapêutica ou psicologizante. O Cerne da questão não é mais
o ajustamento do aluno à escola, família ou sociedade, e sim a formação do
cidadão para uma participação mais consciente no mundo em que vive. A
Orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não apenas é
unicamente cuidar e ajudar os "alunos com problemas". Há, portanto,
necessidade de se inserir em uma nova abordagem de Orientação, voltada
para a "construção" de um cidadão que esteja mais comprometido com seu
tempo e sua “gente”. Atualmente, pretende-se trabalhar com o aluno o
desenvolvimento do seu processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e
a intersubjetividade, obtidas através do diálogo nas relações estabelecidas.
Como afirma Ferreira (1993):
É pelo diálogo que os homens, nas condições de
indivíduos cidadãos, constroem a inteligibilidade das
relações sociais. Trata-se, pois, de eliminar tudo aquilo
que possa prejudicar a comunicação entre as pessoas,
pois só através dela se pode chegar a um mínimo de
consenso. ( ... ) A cidadania aparece como o resultado da
comunicação intersubjetiva, através da qual indivíduos
livres concordam em construir e viver numa sociedade
melhor (p.17-18).
11
Partiu-se de uma orientação voltada para a individualização e chegamos
a uma Orientação coletiva e participativa. Todos têm que estar comprometidos
com a formação do cidadão. Este também é o papel do Orientador
Educacional.
Em síntese, pretende-se neste texto evidenciar o percurso da
Orientação, com suas características principais, em uma dimensão nitidamente
pedagógica: uma Orientação contextualizada e, portanto, envolvida com o
cotidiano da escola, dos seus alunos e de suas representações.
Sob a influência de novas abordagens educacionais pode-se traçar um
novo paradigma para a Orientação Educacional, não mais alicerçada no perfil
da ajuda ao aluno em uma dimensão psicológica, mas sim no perfil de
colaborar com esse mesmo aluno na formação de cidadania. Nesta linha, o
trabalho do orientador tem uma conotação de pluralidade de objetivos, que
envolve além dos aspectos pessoais do aluno, os aspectos políticos e sociais
do cidadão. A Orientação Educacional, por certo, procurará compreender e
ajudar o aluno inserido no seu próprio contexto com sua cultura e seus próprios
valores.
Havia uma predominância nas exigências ao cumprimento das tarefas
da Orientação; em vez de percebê-la como parceria do projeto político-
pedagógico desenvolvido na escola. No momento em que ninguém queria
assumir a responsabilidade dos problemas, confrontos e conflitos dentro da
escola, a Orientação era argüida para um desfecho satisfatório para todos.
Quando se fala em orientação Educacional, inúmeros conceitos vêm à
tona, dependendo da fundamentação ou do posicionamento que se tem a
respeito da área. Paralelamente a este quadro há a postura dos próprios
orientadores que através de suas práticas, foram revertendo o significado da
Orientação de acordo com o desenvolvimento da sociedade.
Brandão (1977) já apontava que a Orientação Educacional no Brasil teve
uma trajetória. Relacionada com os esforços feitos pelos Orientadores, no
sentido de:
a. definir e redefinir a Orientação segundo variações ocorridas na teoria
da educação e das ciências humanas diretamente ligadas a ela;
12
b. adequar a prática da Orientação Educacional às variações
processadas na sociedade e na cultura brasileira com repercussões
sobre os sistemas educacionais, sobretudo no ensino de primeiro e
segundo graus (p.19 ).
De 1977 até 1993 muitas outras situações contextualizadas levaram os
orientadores a exigir uma Orientação que atendesse às reais necessidades
sócio- educacionais.
A Orientação era caracterizada, sempre, como um processo, um
método, um trabalho cujos objetivos diretos eram apresentados como: o aluno
e sua personalidade, o aluno e seus problemas, o aluno e suas opções
conscientes, e cujos objetivos indiretos diziam respeito ao desenvolvimento das
potencialidades dos alunos.
A Orientação atualmente assume uma posição mais crítica que coteja os
seus objetivos com aqueles da educação crítica e consciente que se deseja
alcançar.
A Orientação Educacional continuará sendo uma caixa preta, enquanto a
própria educação assim for considerada, discute-se, a educação, sabe-se dos
seus índices, sabe-se da importância do seu processo, mas não se configura
uma vontade política para resolvê-la e enriquecê-la. No caso da Orientação, na
medida em que ela acompanha a educação, vai sofrer o mesmo tipo de análise
que esta. Precisa-se tratar a Orientação Educacional não como uma caixa
preta, mas como uma ação a serviço do aluno e do processo pedagógico.
1.1. O orientador educacional como consultor, assessor e coordenador
“Orientador Educacional é uma ação em bases científicas
que visa a assistir ao aluno no desenvolvimento integral
de sua personalidade, e em seu ajustamento pessoal e
social”.
(ENZO AZZI)
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Enquanto profissionais, discute-se também as funções dos orientadores
nos campos de consultoria, assessoria e coordenação. Os Orientadores
procuram evidenciar a contribuição da Orientação em uma escola pública que
se quer democrática e de qualidade. Cada vez mais próxima dos laços
pedagógicos, a Orientação procura se encaminhar na direção dos problemas
macroeducacionais. Libâneo (1984) apresenta uma proposta de trabalho para o
Orientador Educacional dentro da pedagogia crítico-social dos conteúdos, que
posteriormente será retomada por outros educadores, como Pimenta (1985),
que analisa essa questão específica.
Neste período os Orientadores enquanto trabalhadores se organizaram
de maneira mais objetiva nos sindicatos, ampliando e fortalecendo sua relação
com os demais profissionais da educação.
Apesar de ainda prevalecer uma discussão muito grande do papel do
Orientador Educacional, como trabalhador, desvelando seu compromisso
político e pedagógico a sua prática ia sendo diferenciada de acordo com as
possibilidades do Orientador e com os espaços conquistados. O fazer dos
orientadores tem a ver com este novo momento vivido.
Toda a prática da Orientação estava debruçada nesta concepção de
educação como um ato político, como uma instituição que está intrinsecamente
relacionada com as mudanças ocorridas no próprio núcleo da sociedade.
Enfaticamente pode-se dizer que a prática da Orientação tem que ser mais
aberta e dinâmica hoje e sempre: O que seria, hoje da prática anterior quando
se pedia ao orientador educacional que trabalhasse o ajustamento do aluno à
família, à escola e à sociedade? A que tipo de sociedade o aluno, hoje deveria
se ajustar? A da classe política? A da elite dominante? A da sua própria
comunidade? A alguma sociedade utópica? E a família? Qual o "modelo" de
família a que o jovem deveria ser ajustado hoje? E a que escola? A que se
volta para os conteúdos, ou a que motiva preferencialmente os valores?
Discuti-se, mais do que nunca, a questão do trabalho, não pelo caminho
da sondagem de aptidões individuais, mas pelas questões sociais, de suas
desigualdades, do significado do próprio trabalho.
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Capítulo II. Os períodos da orientação educacional
“... As escolas se destinavam a proporcionar um conjunto
especifico de conhecimentos de uma época em que os
conhecimentos pareciam estáveis e limitados (...) O
sistema educacional tem sido assustadoramente lento
em responder às nossas necessidades de mudanças,
mais lento do que qualquer outra instituição”.
(FERGUSON)
Para se compreender as atividades desenvolvidas pelos Orientadores,
tem-se que deter aos diferentes períodos em que a Orientação foi desenvolvida
e o que dela se esperava. Em geral interpreta-se que inicialmente houve uma
fase romântica que achava que a Orientação por si resolveria todos os
problemas dos alunos e também os que envolvem direta ou indiretamente os
alunos. Nesta fase o ajustamento era a palavra-chave, e havia um "modelo" de
aluno, de filho, de irmão, de colega, etc. que deveria ser atingido e
conquistado. Uma outra fase, que poderia ser chamada de objetiva, foi aquela
voltada para a Orientação como sendo prestadora de serviços - de várias
ordens - que não permitiria que os alunos incorressem em problemas.
A Orientação estaria sempre atenta, vigilante, esclarecendo
objetivamente as situações de emergências para que não ocorressem mais. Na
realidade, a objetividade procurava esclarecer, mostrar de forma bem
transparente a necessidade de dominar determinados conceitos, normas,
padrões, para que não houvesse "problemas" ou desacertos, posteriormente. O
conceito-chave é a prevenção. A Orientação Educacional era preventiva, isto é,
ela se adiantava em todas as circunstâncias para que não se instalassem os
conflitos.
Hoje se vive a fase crítica, em que se procura ajudar o aluno como um
todo, com seus problemas e o significado dos mesmos junto ao seu momento
histórico. A Orientação está do lado do aluno fazendo-o compreender que
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naquele momento assinalado ele também está vivendo a sua própria história
de vida.
Esta trajetória será apresentada em períodos que assumem
determinadas características que são aqui identificadas mais dentro de um
critério didático para sua interpretação.
Ao identificar esses períodos vê-se como fio condutor dos mesmos a
história da educação brasileira, em especial a legislação que a configura e
onde, explicita ou implicitamente, aparece a Orientação Educacional.
2.1. Período implementar - de 1920 a 1941
A Orientação começa a aparecer no cenário educacional brasileira
timidamente associada à Orientação Profissional, com ênfase nos trabalhos de
seleção e escolha profissional. Com os projetos do deputado Fidelis Reis, que
desejava tornar o ensino profissional obrigatório em todos os estabelecimentos
de ensino, a questão do trabalho na escola nestas décadas foi tema bem
discutido.
2.2. Período institucional - de 1942 a 1960
Nesse período, subdividido em funcional e instrumental, ocorreu toda a
exigência legal da Orientação nas escolas, esforço este do Ministério da
Educação e Cultura que visava dinamizá-la, bem como também os cursos que
cuidavam da formação dos Orientadores Educacionais.
2.3. Período transformador - de 1961 a 1970
Este período traz uma Orientação Educacional caracterizada como
educativa na lei n.º 4024/61. Começava-se a ganhar maior dimensão os
eventos da classe, apresentados em seminários, encontros e congressos. Nos
congressos brasileiros de Orientação Educacional ganham espaço, nesse
período, as questões psicológicas.
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Na década de 60, em que floresceu o aspecto preventivo da Orientação
Educacional, a escola vivia o seu momento de grande importância, uma vez
que a educação seria responsável pelo desenvolvimento do país.
Abafado entre os muros da escola, o aluno ia sendo "objeto" significativo
na mudança de currículo, programas, métodos de ensino, materiais didáticos.
O fazer da Orientação era de fora para dentro, isto é, no saber da dinâmica de
grupo e de atividades que sustassem o conflito dentro da escola.
A escola, como um discurso democrático, começava a exigir de seus
protagonistas uma atitude que estivesse de acordo com o sistema político
vigente. O "novo e o diferente", mesmo dentro de uma abordagem pedagógica
, não era permitido na escola.
Não havia grêmios nas escolas. A participação dos alunos em grandes
movimentos, como teatros, festivais, campanhas, festas, elaboração de jornais
etc.; sempre era tida como uma ameaça dentro das escolas.
2.4. Período disciplinar- de 1971 a 1980
A Orientação está sujeita à obrigatoriedade da lei vocacional. n.º
5692/71 que determina, inclusive, o aconselhamento vocacional. Ao mesmo
tempo, a Orientação quer trabalhar com o currículo da escola, encontrando,
porém, seus Orientadores a questionar a sua prática pedagógica apesar da
diretriz da Orientação assinalar para uma visão mais sociológica e coletiva. A
legislação dos profissionais da área compromete-o com atribuições e funções
voltada para a psicologia. O decreto n.º 72846/3, que regulamenta a lei que
trata do exercício da profissão do Orientador Educacional, vai disciplinar os
passos que deverão ser seguidos. A impressão que se tinha é de que a
Orientação estava buscando seu real papel, mas a lei acenava com a disciplina
que deveria ser seguida.
Na década de 70, sob luzes das teorias pedagógicas da Althusser,
Boudier e Passeron estudava-se a escola como uma reprodutora do sistema
social. Uma nova leitura começava a ser feita. A análise das escolas se
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deslocou, das relações internas desta instituição e da dinâmica do processo de
ensino-aprendizagem para compreender o que se passava no "eixo social"
para, então, posteriormente, trazê-lo para o interior da escola.
Começava-se a se questionar o que faz esta escola e para que servem
os serviços que estão sob sua responsabilidade.
Diante deste contexto, surge uma lei que obriga a profissionalização do
ensino, mas existe uma enorme dificuldade em lidar com esse fato novo, desde
a falta de recursos materiais para sua efetivação até a formação de
profissionais para sua realização. O garimpo pedagógico dos cursos
profissionalizantes que atendessem ao mercado de trabalho foi extremamente
difícil. Houve muitos atropelos, modificações (inicialmente o ensino era técnico,
depois foi auxiliar-técnico e no final o ensino terminou com habilitação básica),
projetos sempre envolvendo a Orientação Educacional no seu compromisso
com a escolha da profissão. É interessante observar que em todo o momento a
Orientação que deveria realizar o aconselhamento vocacional em cooperação
com a família, escola e sociedade, na realidade o que realizou foi uma
informação profissional.
No final da década de 70 crescem as denúncias, grita-se contra a falta
de compromisso da escola e de seus reais protagonistas. A Orientação estava
dentro da escola e não se deu conta do seu papel. Aliás, assumiu, em alguns
momentos, uma ingenuidade pedagógica, ouvindo, muitas vezes calada, as
críticas às atividades, como sendo responsável pela fragmentação do trabalho
escolar, como não resolvendo todos os conflitos que a própria escola não dava
conta de resolver.
2.5. Período questionador - década de 1980
Como o próprio nome já indica, é nesse período que mais se questiona a
Orientação Educacional, tanto em termos da formação de seus profissionais,
quanto da prática realizada.
Por outro lado, os Orientadores, através de seus órgãos de classe,
procuravam respostas para seus questionamentos, nas próprias questões
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sociais e políticas, a década de 80 trouxe grandes modificações que iriam se
refletir na educação, na escola e na Orientação.
Os postulados teóricos desta área foram se modificando para uma
dimensão mais crítica e consciente do momento político social que se vivia.
Esse período foi marcado pela realização de muitos cursos de
reciclagem, de atividades que deveriam ser integradas com os supervisores, de
trabalhos voltados para o currículo, onde a própria questão do trabalho era o
eixo condutor da proposta curricular. O Orientador Educacional queria
participar do planejamento não como benesse da orientação, mas sim como
um protagonista do processo educacional, procurando discutir objetivos,
procedimento, estratégias, critérios de avaliação, sempre voltados para os
alunos. O orientador desejava trazer a realidade do aluno para dentro da
escola, portanto, começou-se a discutir suas práticas, seus valores, a questão
do aluno trabalhador, enfim, seu "mundo lá fora".
2.6. Período orientador - a partir de 1990
Este período por acreditar que, principalmente a partir de 1990, teve-se
a "orientação" da Orientação Educacional pretendida. Inúmeros são os fatores
que mostram um novo momento vivido por esta área; um dos mais importantes
foi a extinção da Federação Nacional de Trabalhadores da Educação (FNTE).
A prática que esta advindo desde a década de 90 até hoje ainda está
sendo construída, uma vez que os Orientadores têm que buscar, sem o apoio
específico da sua categoria em termos de órgãos de c1asse, a especificidade
requerida no trabalho com os demais educadores.
Há muitas perguntas neste momento: Qual será o futuro do Orientador?
Ele existirá no futuro? Associado a escola ou independente? Qual será a nova
prática que se terá?
São freqüentes as pergunta sobre a continuidade da prática da
Orientação, com bastante clareza, pela análise lógica de sua trajetória e o
próprio significado epistemológico da Orientação sugere-se que ela nunca
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deixará de existir, embora sua prática deva relacionar-se como o novo contexto
educacional, social, político experimentado.
Sobre a sua permanência na escola, no processo educacional, sugere-
se que: primeiro, o próprio conceito etimológico de educação se compromete,
enquanto educação, com a Orientação, isto é refere-se a orientar, guiar,
conduzir o indivíduo, segundo, porque o centro do processo educacional é o
aluno e sempre ele foi o campo de trabalho da Orientação; portanto, como o
aluno é oriundo da escola ele é o sujeito da educação, é o sujeito e o objeto da
Orientação.
Sobre o futuro do Orientador percebe-se que ele está seguro, por o
Orientador caminhar em todas as ciências, e também na área das ciências
humanas. Quando criado este cargo o objetivo não era substituir o professor
por outro profissional, mas sim ajudar esse professor no seu campo de ação. A
especificidade da Orientação se torna necessária no processo educacional,
quando o desenvolvimento cientifico-tecnológico precisa da "humanização"
deste homem. Além do mais, por cada vez mais se estar mergulhado em um
novo tempo, com uma nova linguagem, com um novo canal de educação, o
orientador seguramente poderá ajudar nessa realidade existente, fazendo uma
nova leitura a partir do que se entende por comunicação e interação social.
Adicionalmente, por a educação estar construindo novas formas de entender e
trabalhar a prática pedagógica, respeitando-se as práticas particulares,
compreendidas no seu contexto histórico, o Orientador seria a parte mediadora,
trazendo à prática do aluno a sua realidade para o cotidiano da escola
articulando as diferentes vozes, dentro da escola, na construção de diálogos
necessários ao Homem que se quer mais humano e mais justo.
Sobre a nova prática que se terá na Orientação percebe-se que como
sempre, por ela trabalhar junto à realidade dos alunos, procurando identificá-la
e interpretá-la, ela será um reflexo do momento histórico vivido. Havia e
continua existindo uma busca da leitura ideológica sobre os fatos existentes. A
Orientação Educacional tem que estar preparada para ajudar nessas relações
em que contradições e conflitos fazem parte do contexto do aluno. Como a vida
é repleta dessas contradições e conflitos, mas o homem vive e sobrevive com o
20
pensamento, a linguagem, os valores e sentimentos a Orientação Educacional
quer caminhar junto nesta direção, refletindo o que o mesmo homem que
pensa e age é o que sente e se emociona.
21
Capítulo III. A prática de uma orientação educacional
“Orientação Educacional é um processo educativo
através do qual se assiste ao educando, a fim de que ele
possa obter pleno rendimento das atividades escolares,
formular e realizar planos conforme suas capacidades e
seus interesses e assim atingir mais harmoniosamente os
fins últimos de uma educação integral”.
(MELLO)
A prática do Orientador Educacional se dá através das realizações de
atividades, as quais visam à melhoria da qualidade do ensino nas escolas
sendo o seu alvo o aluno conforme já mencionado. Dentre as atividades a
serem realizadas por este profissional, dentre outras, podemos mencionar
algumas:
* Analisar, questões referentes aos índices de evasão e repetência,
questões curriculares, trabalho com a comunidade, trabalho em si, etc. A
prática tem na teoria, o estudo, como um aliado inseparável.
* Elaborar os chamados Cadernos de Orientação Educacional.
Publicações que tenham como objetivo relatar a prática dos Orientadores,
pouco acostumados a expressarem "no papel" o que vivencia nos seus
cotidianos. Há a necessidade de se registrar este cotidiano como forma de se
resgatar o processo da Orientação e de se estabelecer os novos caminhos
para prática transformadora. Os assuntos tratados nos Cadernos de Orientação
Educacional proporcionam a reflexão critica e o debate sobre o profissional e a
Orientação.
* Elaborar os chamados Cadernos de Conselho de Classe. Esta
elaboração tem o objetivo de clarificar as atuações do Orientador Educacional
22
frente ao momento pedagógico do Conselho de Classe. Hoje, o Conselho de
Classe constitui-se em uma ação em que todos os educadores participam
desse processo de forma conjunta e integral.
3.1. Projetando perspectivas
“A Orientação Educacional está preparada para a
atualização e preparada a cada dia para a evolução e
formação do educando”.
(CARLTON BECK)
A Orientação Educacional não integrará mais os planejamentos
pedagógicos das escolas, de forma desvinculada ou reducionista, nem
corroborará dos ditames legais, como forma de se abster de suas reais
intenções e possibilidades. Os Orientadores não são alienistas nem "donos do
mundo" são educadores que procuram caminhar na estrada solidária do
conhecimento, da afeição. Como bandeirante eles buscam encontrar não nas
grandes vias, mas nos pequenos atalhos, as grandes pedras preciosas da
construção de um novo tempo marcado pelo avanço da ciência e da tecnologia,
dos novos interesses do homem, com seus desejos, emoções e paixões.
Como começar, então a andar por esses atalhos? De que chão se pode
valer para percorrer, com segurança, na cumplicidade da Orientação
Educacional? Por certo a vitória da chegada advirá não só do caminho que se
irá percorrer, mas do objetivo que se queira atingir.
Pensando-se no hoje, algumas perspectivas podem ser projetadas:
Perspectiva 1. A Orientação trabalharia na mobilização para o conhecimento:
* articulando realidade e objetivo;
* levantando as representações individuais e do grupo;
* discutindo a questão da intencionalidade, dos confrontos e da diversidade;
* colaborando nas novas linguagens do conhecimento;
* refletindo sobre o imaginário social.
23
Perspectiva 2. A Orientação trabalharia em busca de uma cultura escolar.
Perspectiva 3. A Orientação Educacional trabalharia na construção de um
homem que se quer ser mais critico, mais participativo e mais consciente de
seus direitos e deveres.
Perspectiva 4. A Orientação promoveria o desenvolvimento da linguagem dos
alunos, através do estabelecimento do diálogo.
Perspectiva 5. A orientação trabalharia a questão da afetividade e da cognição
como características interligadas ao indivíduo.
Perspectiva 6. A Orientação trabalharia a questão da totalidade como uma
tecelã que se compromete com todos os fios que ajudam a formar o homem
para o tempo de amanhã.
O papel do Orientador Educacional na dimensão contextualizada diz
respeito, basicamente, ao estudo da realidade do aluno, trazendo-a para dentro
da escola, visando uma melhor promoção do seu desenvolvimento. A
Orientação Educacional, como abordado, não existe para padronizar os alunos
nos paradigmas escolhidos como ajustados, disciplinados ou responsáveis. O
importante é a singularidade dentro da pluralidade, do coletivo.
A prática não vem desvinculada de uma teoria. Na concepção
contextualizada precisa-se dos fundamentos teóricos que alicerçam esta
construção do conhecimento, do pensamento e da linguagem do aluno.
Precisa-se juntar o Orientador aos demais profissionais da educação, e dentro
de suas especificidades, favorecer as relações entre o desenvolvimento e seu
ambiente sócio-cultural.
A compreensão pretendida da realidade do aluno, por certo, atualmente,
envolverá as questões do imaginário social, das representações sociais, da
24
linguagem como centro das questões humanas e sociais, como é possível ver
nos trabalhos de Betin, Vigotsky e Benjamin.
A prática do Orientador Educacional permeia esses conhecimentos
necessários a uma atuação mais próxima e integrada ao processo pedagógico.
As questões de auto-estima, auto-imagem, e auto-realização, dentre
outras, continuam como questões básicas da prática do Orientador, só que
serão desenvolvidas e trabalhadas junto aos alunos, em realidade mais
concreta e objetiva. Essa realidade será tratada a partir dos valores que
envolvem o Orientador, da ética que constitui, do significado histórico que o
determina. Essa realidade não só a do aluno, mas a do próprio contexto
histórico precisa ser compreendida em uma visão maior , com todos os
componentes do tecido social. Precisa-se lembrar que se esta formando o
aluno para novo tempo, onde a ciência e a tecnologia, apesar dos avanços,
trazem para este aluno, para o homem, as novas necessidades, os novos
"desconfortos" do progresso. As novas conquistas trazem novos valores, novas
leituras daquela realidade.
A prática do Orientador também deverá valorizar a criatividade, respeitar
o simbólico, permitir o sonho, recuperar a poesia. O conhecimento não exclui o
sentimento, o desejo e a paixão. Precisa-se encontrar em cada um ser esse
espaço e simplesmente, deixá-lo existir.
O aluno, centro de atenção, responsável maior pelo trabalho dos
Orientadores, merece que se tenha uma prática realmente comprometida com
sua formação de cidadão. Para isso é importante dar voz aos alunos, para que
eles participem ativamente, como sujeitos e não como coisas como dizia
Baktin, no seu processo de formação.
3.2. Uma perspectiva teórico-prático na orientação educacional
''A atual estrutura pedagógica e social não tem levado em
consideração a questão da liberdade e integração do
indivíduo. O que vemos é uma espécie de padronização
ou de modelo fabricado do ser humano cujo principal
25
interesse é procurar segurança e o sucesso com o
mínimo possível de reflexão. Essa padronização tem
conduzido os indivíduos a uma postura de conformidade
aos padrões e ao conformismo, que aprisiona o medo à
vida, às experiências novas, "matando" dentro delas o
espírito de descoberta, de aventuras, de luta.... Por
causa da criação e da educação recebida, as pessoas
passam a Ter medo de ser diferentes das outras, de
pensar em desacordo com o padrão social vigente, num
falso respeito à tradição Cultural".
(MELLO)
A formação do Pedagogo que já era incipiente deixou de ser tomada de
consciência dos problemas educacionais para ser treinamento, domesticação.
O pedagogo tornou-se mais um policial da educação do que homem formado
para criar educação (LIBÂNEO, 1998).
De todos os profissionais da escola, talvez o Orientador tenha sido o
mais profundamente atingido pelas críticas. Diante disso, alguns assumiram
culpas e abandonaram o que faziam até então e abraçaram o conhecimento
novo sem uma análise profunda que lhes permitissem uma compreensão maior
das implicações desses conhecimentos para o seu trabalho.
Outros, perplexos, perderam suas referências, afinal tudo aquilo que se
fazia com Orientação Educacional era considerado parte de um plano perverso
de reprodução do status quo e era agora denunciado.
Houve quem, por razões diversas, não levasse muito a sério as
denúncias e continuasse a sua prática nas escolas, como se a sociedade não
tivesse mudado, a escola fosse a mesma da década de 70 e o aluno tivesse as
mesmas necessidades.
O que os novos textos revelaram era o sentido político-social da
educação e a necessidade de uma ação orientada em função de objetivos. Foi
possível, então, compreender que essa ação pode se dar no sentido da
libertação do homem ou da dominação, pois, afinal, essas duas tendências
26
estão fora e dentro da escola. Seguia em uma direção ou na outra requer uma
reflexão profunda do educador sobre homem, mundo, sociedade e valores que
fundamentam as suas decisões, o que se quer e como viabilizar o que se
deseja. Essa reflexão deve ser profunda e ter como ponto de partida e ponto de
chegada a própria ação dos profissionais. Trata-se de uma reflexão sobre os
problemas do cotidiano, buscando as suas relações com o contexto, bem como
as soluções possíveis. Como se percebe, ontem, como hoje, é a Filosofia que
está fundamentando a prática da Orientação.
Revendo um passado não muito distante, verifica-se que a Psicologia
teve um lugar de destaque na prática do Orientador Educacional, embora a
Filosofia, a Sociologia e a História da Educação também fizessem parte da
formação desse profissional.
As mudanças na sociedade e seus reflexos no interior da escola, assim
como a compreensão cada vez maior por parte dos educadores de que a
educação é uma prática político-social, necessária, apontaram para a
importância de se rever a função da escola. Além disso, era necessário
Redefinir a prática dos diferentes profissionais que nela atuam e
consequentemente, rever os conteúdos que fundamentam a prática.
27
Capítulo IV. A função da escola
"Se agora falamos em colocar as pessoas como o mundo
precisa, devemos compreender que este processos
necessariamente, não serão através de uma educação
para o conformismo, mas voltado à liberdade e
autonomia pois somente baseado em indivíduos
verdadeiros poderá existir um verdadeiro "mundo".
(CLÁUDIO NAVARRO)
A escola é sem dúvida, uma das instâncias mais importante da
sociedade. Sua função básica é ensinar, mas a educação tem uma função
muito mais ampla, o que significa que não podemos limitá-la à simples
aquisição de conteúdo, uma vez que o conteúdo, por si só, não desenvolve as
habilidades mentais necessárias à formação de um raciocínio flexível e criativo,
tão necessário ao homem do nosso tempo.
Assim sendo, o papel da escola é promover o desenvolvimento do
indivíduo, tornando-o capaz de enfrentar múltiplas situações porque conta com
uma bagagem valiosa de experiências e apresenta um raciocínio sempre
aberto ao estabelecimento de novas relações com o mundo que o cerca.
Há de se esperar que a escola ensine bem todos os alunos os
conteúdos socialmente valorizados e culturalmente acumulados, garantindo-
lhes a apropriação de conhecimentos necessários à tomadas de consciência
da história do seu país e dos problemas existentes. Essa questão nos conduz à
discussão a respeito da relevância dos conteúdos adotados na escola, de sua
seleção e sua organização.
Sobre este assunto, tão polêmico, as palavras de Ferreira (1993)
expressam muito bem qual seria a real função da escola:
“A escola é vista como espaço político onde se deve ministrar um conjunto de disciplinas de maneira que o jovem adquira o saber necessário para não se deixar enganar. O conhecimento intelectual aparece como o suporte para a formação da cidadania”.
28
Portanto, trata-se de uma escola onde se ensine bem aquilo que os
alunos precisam aprender, pois, sem o domínio do saber eles não alcançarão a
liberdade e muito menos a possibilidade de agir e de transformar a sua
realidade.
Para atender a essas funções há que se ter objetivos bem definidos,
contar com a participação e comprometimento de todos. Há que se contar com
profissionais competentes, isto é, que tenham uma visão ampla e profunda dos
processos pedagógicos, das necessidades e interesses dos alunos, das
condições reais do trabalho docente, das relações que se dão no processo
ensino-aprendizagem e na sociedade.
Tal concepção tem conseqüências sobre a ação dos profissionais que
compõem a equipe escolar: Professores, Supervisores e Orientadores
Educacionais e, por que não dizer diretores.
4.1. O orientador educacional atuando na escola
“Se pode dizer que a Orientação Educacional é o
trabalho conjugado de todos os membros de uma
escola, coordenados por um Orientador junto ao
educando, a fim de levá-Io a integrar da melhor
forma possível e sob todos os aspectos, com base
na sua realidade biopsicossocial, tendo em vista
integrá-Io na sociedade, com base em uma atividade
profissional, para torná-Io um cidadão consciente,
eficiente e responsável”.
(NÉRICI)
Tomando como ponto de partida de que o Orientador Educacional deve
ser um Educador seu trabalho deve estar voltado para o que é fundamental na
escola: o currículo, o ensinar e o aprender e todas as relações decorrentes.
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Resumindo a Orientação Educacional tem que fazer parte da proposta
pedagógica da escola, se essa proposta existir, ou contribuir para que equipe
escolar explicite os eixos orientadores da ação dos profissionais.
É fundamental que todos trabalhem juntos e que os objetivos, ao serem
definidos coletivamente, sejam compreendidos por todos e por eles definidos.
Sendo a educação uma prática social é preciso, portanto definir em que sentido
se pretende transformar o sujeito e interferir em sua aprendizagem, e quais os
conteúdos e meios que devem ser utilizados para isso.
Para Cardarello (1999):
“(....) o objetivo da educação é promover a transformação das circunstâncias através da transformação dos sujeitos interferindo no seu processo de aprendizagem”.
O segmento acima não propõe a manutenção da atitude autoritária ou
paternalista de que alguém define e transmite os conhecimentos considerados
conveniente para os alunos. Mas não quer dizer tampouco que se parta da
crença de que os alunos já detêm um saber tão elaborado que prescinda da
aquisição mais formal de conhecimentos dos quais eles não têm nem mesmo
informação.
A leitura de Freire (1986) deixa muito evidente o caráter diretivo da
educação e a responsabilidade do professor na direção desse processo. Essa
idéia está bem explicita no trecho que se segue:
“(...) professor libertador nem manipula, nem lava as mãos da responsabilidade que tem com os alunos. Assume um papel diretivo necessário para educar”. (p.203)
A essa posição o autor chama radical-democrática, porque nela estão
contidas, ao mesmo tempo, duas idéias fundamentais: a diretividade e a
liberdade, o que não significa autoritarismo do professor, nem licenciosidade
dos alunos.
Para atender a um objetivo tão amplo da educação é necessário que o
eixo do trabalho dos profissionais da escola se desloque, especialmente o do
Orientador Educacional.
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É importante que seu trabalho, até então voltado para o ajustamento do
aluno à instituição, passe a se voltar para a escola enquanto exige a
participação do Orientador Educacional no processo educativo.
É atuando na escola como um todo que se pode detectar os pontos de
estrangulamento do processo educativo, suas contradições, e ainda identificar
os aspectos da escola que necessitam ser modificados.
É importante também se ter noção das responsabilidades reais de atuar,
no sentido de mudar as condições desfavoráveis ao desenvolvimento dos
alunos e à formação de indivíduos dotados de uma consciência critica.
Trata-se ainda de saber, entre outras coisas, quais são as expectativas
da equipe escolar em relação à Orientação Educacional e sua disposição em
apoiá-la naquilo que for relevante para a escola.
Durante muito tempo a atuação do Orientador Educacional ficou restrita
às situações de crise, isto é, esse profissional era solicitado para atuar sempre
que havia um problema, ou ainda momento de escolha vocacional. De certa
forma, seu trabalho se apresentava, na maioria das vezes, totalmente
dissociado de todo o processo educativo.
É grande, portanto, a responsabilidade daqueles a quem compete
selecionar as experiências de aprendizagem de modo a promover um ambiente
que facilite aos alunos internalização e integração de experiências
significativas, ou seja, aquelas que produzem crescimento.
Embora a escola não seja a única instância responsável pela formação
do cidadão, é no interior dela que o indivíduo começa a vivenciar as primeiras
experiências de luta no sentido da conquista de espaços de participação.
Assim sendo, o papel do educador é o de atuar na escola, trazendo à
tona fatos que evidenciem as contradições presentes no trabalho pedagógico:
participar da seleção das experiências de aprendizagem e delas tirar o melhor
proveito, estimular a participação consciente de todos na vida da escola,
ajudando-os a perceber que as instituições mudam a partir da luta dos homens
organizados .
31
É importante ainda que o Orientador Educacional utilize os conflitos
como fontes de aprendizagem, na medida em que possibilitem o diálogo e a
divergência como formas de se chegar a uma ação compromissada de todos.
Para Penin, é preciso se estabelecer parâmetros de análise do cotidiano
para melhor identificar sua fraqueza e sua força. Ainda segundo ele conhecer a
escola é conhecer suas manifestações. É examinar. Penin foi buscar em
Lefebvre um quadro de fatores que intervêm no cotidiano, muitos deles
presentes nas escolas atuais, e que denunciam a existência de forças
propulsoras que devem ser bem utilizadas pelo que representam e forças
inibidoras.
O fato de o Orientador Educacional atuar com essa abrangência não
exclui o entendimento individual, que, entretanto assume outra dimensão. É
preciso saber interpretar os conteúdos expressos através das entrevistas e das
reuniões de grupos de alunos, pais e professores, procurando perceber qual a
relação que esses conteúdos têm com o todo da escola, qual a relação
existente entre discurso e as práticas desenvolvidas no cotidiano.
Como a prática esta vinculada ao processo pedagógico, é necessário
conhecer mais profundamente a escola enquanto instituição e tudo o que
acontece dentro e fora dela: a avaliação, o currículo, os métodos de ensino e
também o como se aprende, o trabalho com grupos e com a comunidade, a
alfabetização, as questões relativas à aquisição da linguagem e à produção de
conhecimento e à pesquisa social.
Além disso, é preciso se preparar para usar a tecnologia existente, na
medida do possível e do necessário. Mas há algo que se parece fundamental
no trabalho do Orientador Educacional hoje, além do comprometimento com os
problemas de ensino e aprendizagem, é preciso lutar para que a escola não
perca a dimensão humana.
Em uma sociedade em crise, onde os valores humanos e os chamados
"antivalores" se confundem, tal a permissividade reinante, precisa-se cada vez
mais, criar oportunidades de os professores, alunos e pais discutirem sobre
questões presentes no dia-a-dia do homem, para as quais ele não tem clareza,
32
sobre a sua verdadeira dimensão e as conseqüências de caminhar nessa ou
naquela direção.
A dificuldade que se tem na atualidade, sobretudo é pautar a conduta
dos jovens dentro de padrões morais e éticos compatíveis como os verdadeiros
valores humanos. Daí as questões que envolvem o uso de drogas e a
delinqüências nas classes ditas não carentes, aborto, Aids, a responsabilidade
individual e coletiva do cidadão e tantas outras questões presentes à vida do
homem moderno se apresentar tão frequentemente. Embora a escola não
tenha solução para esses problemas, ela deve se constituir em espaço
excelente de discussão, que muito poderá contribuir para a formação da
consciência crítica de seus alunos.
É preciso assumir a responsabilidade na direção da educação,
procurando desnudar a manipulação real e mitos da sociedade. Assim age o
professor libertador, nas palavras de Freire. E, nesse sentido, o Orientador
Educacional pode criar oportunidades de debates e trocas de experiências na
escola.
Afinal, a boa educação é aquela que produz homens críticos,
conscientes da realidade onde vivem e atuam, enfim, homens verdadeiramente
autônomos, conscientes das suas possibilidades e limitações, mas
suficientemente fortes para conquistar aquelas e reduzir a ação das suas
limitações.
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CONCLUSÃO
Será necessário que o profissional da Orientação Educacional seja
capaz de:
* discutir com a equipe o currículo e o processo de ensino dos alunos;
* analisar com a equipe as contradições da escola e as diferentes relações que
exerçam influências na aprendizagem;
* contribuir efetivamente para a melhoria do ensino e das condições de
aprendizagem na escola;
* estruturar o seu trabalho a partir da análise e da crítica da realidade social,
política e econômica do país;
* fundamentar cientificamente sua ação, buscando novas teorias;
É preciso ainda que a escola assuma a sua função de formar homens
críticos, politicamente competentes, conhecedores dos problemas que os
cercam e das limitações que os sujeitam e que acima de tudo, sejam capazes
de organizar-se para defenderem para si e para os demais homens o direito de
cidadania.
Muitos conteúdos são necessários para fundamentar a prática dos
Orientadores como já discutido em todo este trabalho monográfico, mas é
igualmente importante se operar mudanças em estes, através do
desenvolvimento de habilidades que possibilitem encontrar respostas originais,
jamais suplantadas pela máquina.
A capacidade de observação constante do cotidiano da escola, o olhar
curioso daquele que deseja compreender o sentido mais profundo de cada
experiência deve ser desenvolvida.
É preciso criticar a realidade, levantar dúvidas, ouvir, falar, inquietar-se
e, afinal, compreender que em ciência toda verdade é relativa, é provisória.
Conclui-se, portanto, que as perspectivas atuais da Orientação
Educacional, diferentemente das perspectivas das décadas passadas, são que
esta deverá ser vista como uma atividade, disciplina (no sentido de ação)
dentro da escola, que ajudará, facilitará os meios e as condições necessárias
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para o aluno buscar, discutir, pensar, refletir, problematizar, agir sobre dados e
fatos necessários à construção de seu conhecimento. Porém, para que estas
perspectivas fossem determinadas todo o processo histórico-evolutivo da
Orientação Educacional desde a década de 20 foi o responsável por isto.
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