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O Centro de Aprendizado Indígena Oguatá Porã é um espaço para troca intercultural de vivências e conhecimentos essenciais à manutenção étnico-cultural dos povos nativo- americanos perante o contexto socioespacial contemporâneo. Ao mesmo tempo que estabelece diálogos entre a comunidade indígena em questão, a população local não-índia, a comunidade acadêmica e as demais etnias originárias, o edifício existe como campo prático para aprendizado e aplicação destas novas e velhas práticas indispensáveis à sustentabilidade não apenas dos povos indígenas, mas da civilização humana. A chegada dos portugueses em Pindorama - “terra das palmeiras” em Tupi- Guarani - marcou o início das relações conflituosas entre os povos nativos e colonizadores que perduram até hoje. Apesar de contribuir fundamentalmente ao que viria a ser conhecido como “cultura brasileira”, de forma geral, os indígenas sempre foram relegados aos recônditos da história, seu lugar na sociedade incompreendido e suas múltiplas manifestações culturais subvalorizadas ou repreendidas. Caso bastante expressivo é o da Tekoa (aldeia) Itaty, comunidade guarani do Morro dos Cavalos, Grande Florianópolis. Apesar da tradicionalidade inequívoca atestada pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em processo técnico demarcatório iniciado em 1993, a Terra Indígena (T.I.) Morro dos Cavalos aguarda homologação desde 2013, permeando um estado de dubiedade e conflito com a população não-indígena amplificados por interesses imobiliários que atuam através de uma campanha de desinformação que mistifica a presença do índio, impossibilitando diálogo. Todas estas adversidades somam-se a delicada situação econômica da comunidade, a descaracterização de seu território pelo não índio, a inviabilização de suas formas tradicionais de subsistência e a inerentemente difícil condição de indígena no Brasil, muitas vezes mal visto tanto quando busca a integração (“índio não usa celular nem computador”) ou quando busca o isolamento (“índio não soma nada à sociedade”). Partindo de uma aproximação livre de pré concepções quanto à como ou porquê intervir em comunidades indígenas, o Centro de Aprendizado Indígena surge como produto de um longo processo de elucidação própria quanto à questão indígena e a condição do ser guarani, guiado por proveitosas conversas com membros da liderança da Comunidade Itaty. OGUATÁ PORÃ Centro de Aprendizado Indígena 1/8

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O Centro de Aprendizado Indígena Oguatá Porã é um espaço para troca intercultural de vivências e conhecimentos essenciais à manutenção étnico-cultural dos povos nativo-americanos perante o contexto socioespacial contemporâneo.

Ao mesmo tempo que estabelece diálogos entre a comunidade indígena em questão, a população local não-índia, a comunidade acadêmica e as demais etnias originárias, o edifício existe como campo prático para aprendizado e aplicação destas novas e velhas práticas indispensáveis à sustentabilidade não apenas dos povos indígenas, mas da civilização humana.

A chegada dos portugueses em Pindorama - “terra das palmeiras” em Tupi- Guarani - marcou o início das relações conflituosas entre os povos nativos e colonizadores que perduram até hoje. Apesar de contribuir fundamentalmente ao que viria a ser conhecido como “cultura brasileira”, de forma geral, os indígenas sempre foram relegados aos recônditos da história, seu lugar na sociedade incompreendido e suas múltiplas manifestações culturais subvalorizadas ou repreendidas.

Caso bastante expressivo é o da Tekoa (aldeia) Itaty, comunidade guarani do Morro dos Cavalos, Grande Florianópolis. Apesar da tradicionalidade inequívoca atestada pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em processo técnico demarcatório iniciado em 1993, a Terra Indígena (T.I.) Morro dos Cavalos aguarda homologação desde 2013, permeando um estado de dubiedade e conflito com a população não-indígena amplificados por interesses imobiliários que atuam através de uma campanha de desinformação que mistifica a presença do índio, impossibilitando diálogo.

Todas estas adversidades somam-se a delicada situação econômica da comunidade, a descaracterização de seu território pelo não índio, a inviabilização de suas formas tradicionais de subsistência e a inerentemente difícil condição de indígena no Brasil, muitas vezes mal visto tanto quando busca a integração (“índio não usa celular nem computador”) ou quando busca o isolamento (“índio não soma nada à sociedade”).

Partindo de uma aproximação livre de pré concepções quanto à como ou porquê intervir em comunidades indígenas, o Centro de Aprendizado Indígena surge como produto de um longo processo de elucidação própria quanto à questão indígena e a condição do ser guarani, guiado por proveitosas conversas com membros da liderança da Comunidade Itaty.

OGUATÁ PORÃC entro de Aprendizado Indígena

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Uma das sociedades indígenas mais numerosas no território brasileiro, composta por cerca de 50.000 indivíduos (IBGE, 2010), Guarani é a marca identitária dada a grupos de língua comum cuja expansão milenar desde a bacia amazônica ao sul desenvolveu-se de forma lenta com ocupações contínuas por até mais de 100 anos antes da próxima migração, revelando uma relação de sedentarismo com as áreas conquistadas possível através de conhecimentos de agricultura e manejo florestal.

Seu padrão de ocupação envolvia amplos espaços territoriais de forma descontínua e descentralizada, onde diversas aldeias se estabeleciam por meio de laços de parentesco e reciprocidade, com vida material e simbólica comum . Nesse contexto espacial, desenvolveriam-se ao longo dos séculos as tradições e atividades que, em perfeito equilíbrio com seu ambiente, possibilitariam o pleno desenvolvimento da cultura guarani.

O PassadoE o mo do de s er Guarani

Importa reconhecer que o traço marcante que distingue os Guarani de outros povos indígenas é a busca pelo aperfeiçoamento humano, um estado de pureza da alma, da bem-aventurança espiritual que se concretiza na comunhão mística com suas divindades e significação das atividades cotidianas.

A busca eterna por elevação espiritual talvez seja melhor ilustrada pela tradicional mobilidade pelo território embasada no mito de Oguatá Porã, a Boa Caminhada - constantes deslocamentos empreendidos a partir do interior do continente ao litoral atlântico em busca de Yvy Marã’ey, paraíso mítico guarani.

Impossibilitados de se locomover livremente sobre o território, os Guaranis procuram novas interpretações para o Yvy Marã’ey, uma ressignificação que mais se aproxima da busca por um espaço físico que abrigue as condições necessárias à manutenção do modo de ser guarani.

subsistência plena

amplo território

equilíbrio ecológico+

agricultura

caça

pesca

coleta

vernáculo

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Compreender o espaço construído guarani passa, obrigatoriamente, pelo estudo de suas narrativas míticas, uma vez que seu conceito de espacialidade envolve inseparavelmente tanto plano físico quanto cósmico, em uma visão “holística” do mundo.

Esses mitos atribuem significado às ações cotidianas, despertando a energia vital

do indivíduo e conferindo significado e objetivo à sua existência. A arquitetura é um dos meios de expressão material destes ritos, que fornecem a base e o ‘desenho’ que a estrutura obedece.

O formato tradicional, o círculo [1], é expressão física do mito da criação sob a ótica cosmológica guarani:

Ao centro, a morada de Nhanderu, “nosso pai último e primeiro”, princípio e fim da cosmologia Guarani, origem e causa de todo ser. [2]

Origem, pois sua expansão interna, desdobrando-se sobre si mesmo infinitamente em todas as direções daria origem ao universo. [3]

Fim, pois o reencontro com Nhanderu no plano divino é razão última de sua existência, expressa através de Oguatá Porã, a Boa Caminhada. [4]

As palmeiras, quanto elementos de verticalidade, representam a conexão entre estes planos divínos e terrestres, remetendo ao arquétipo do eixo cósmico, evidenciado no uso de pilares e totens na arquitetura dos povos autóctones. [5]

2

1

5

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mobilidade

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O Presente

restrição territorial

falta

de recu

rsos

construção convencionalco

mpra de a

limen

tos

venda de artesanato

degradação ecológica

continuidade ameaçada

O PresenteC ontexto S o cio esp acia l

A região Sul do Brasil abriga hoje uma rede de aldeias guaranis que interagem constantemente através de dinâmicas sociopolíticas e de filiação. Elo importante deste sistema, a Aldeia Itaty é uma comunidade Guarani de cerca de 120 habitantes situada dentro dos 1988 hectares da T.I. Morro dos Cavalos, sendo que 83% deste território é sobreposto pelo Parque Nacional Serra do Tabuleiro.

Este território caracteriza-se pelo relevo acidentado, fruto do encontro entre serra e mar, e pela extensa cobertura de floresta ombrófila densa, bioma da Mata Atlântica. Porém, devido à intensa urbanização e aos diversos ciclos produtivos e exploratórios ao longo dos séculos, a região não se caracteriza por ambientes naturais originais.

A comunidade se espacializa em função de sua organização social em núcleos familiares extensos, concentrados às margens da BR-101 Sul. Nos últimos anos, a comunidade tem buscado expandir sua presença pela terra indígena em direção à Baixada do Rio Maciambú, onde se encontra o Centro de Formação Tataendy Rupa, operando desde a casa do falecido líder indígena local.

É importante perceber que a delimitação da Terra Indígena supõe fixação de limites para que dentro deles os índios desenvolvam seus costumes, culturas e seus modos de autogoverno e jurisdição mas que, na verdade, essas dimensões são extremamente diminutas se considerada a real amplitude territorial necessária para a sustentabilidade de atividades tradicionais de subsistência, como a caça, pesca, coleta e agricultura.

Incapazes de desenvolver suas atividades de subsistência tradicionais, os indígenas se veem obrigados à aceder ao sistema econômico do não-índio através da venda do artesanato para comprar alimentos, roupas e materiais de construção em um processo de crescente erosão de sua tradicionalidade.

No que tange a arquitetura, a escassez de matéria prima tradicional associada à dificuldade na extração do barro no terreno de encosta, geraram uma necessidade de adaptação às técnicas construtivas dos juruas (os não índios) e a consequente submissão de suas tradições às necessidades práticas dos materiais [1].

Para Marcos Moreira, vice-cacique da Aldeia, a adaptação ao saberes juruas é inevitável, mas a tradição [2] pode e deve ser mantida viva através das relações simbólicas atribuídas ao espaço edificado, observado no posto de saúde que une conhecimentos guaranis com técnicas do não índio [3].

3/8

+

321

Tekoa Itaty

Área de Intervenção

T.I. Morro dos Cavalos

100m50m0

ResidencialComércioInstitucionalReligiosoOcupação não indígenaNúcleos familiares

BR-101

Área de Intervenção

Baixada do Rio Maciambú

A. B. C. D.E.

A

B

D

C

E

Centro de Formação Escola ItatyPosto de saúde desativadosVenda de artesanatoCasa de Rezo

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O FuturoTradiç ão e Inovaç ão

Segundo Luciano (2006), o acesso ao sistema tecnológico atual é imprescindível para a recuperação da autonomia indígena. Diante da sociedade em que estão hoje confinados, o domínio de novas técnicas tem grande potencial de melhora nas condições de vida da população indígena que cada vez mais busca suas próprias interpretações para estas novas ferramentas.

Justamente essa capacidade de reelaborar sua tradicionalidade perante novas condições, sejam elas territoriais, tecnológicas ou sociais, que possibilita a sobrevivência da cultura guarani (MATTEVI, 2011). Embora adquiram novas práticas culturais ou tecnológicas, os guaranis não abandonam por total seus costumes e mantém intacta sua visão de mundo. Nas palavras de Marcos Moreira, vice-cacique da Aldeia Itaty:

“Os indígenas vivem essas duas realidades, estamos numa aldeia indígena mas a outra cultura também está na aldeia. Eu tenho que saber usar esse conhecimento que é importante pra mim, mas valorizando a minha essência, a minha cultura, que tem uma língua, uma crença [...]”

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, os governos devem assegurar programas de formação profissional em cooperação com as próprias comunidades que, quando possível, deverão assumir progressivamente a responsabilidade pelo seu funcionamento.

As atividades desenvolvidas deverão ser escolhidas em conjunto com a comunidade, baseadas ainda no entorno econômico, nas condições sociais e culturais e nas necessidades concretas dos povos interessados, incluindo criação de animais, manejo e fiscalização ambiental, sistemas de agricultura ou agroflorestas, estudos antropológicos, produção de artesanato, mel, erva-mate, etc.

Em suma, as possibilidades são tão diversas quanto as etnias que aqui habitam. Em um país tão rico em bio e sociodiversidade como o Brasil, o que está em jogo é o modelo de crescimento que o país quer para si mesmo e o papel que a população indígena desempenhará nele.

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capacitação coletiva

bioconstrução

estudos antropológicos

cultivo sustentável

trocas

intercultu

rais

gestão ambiental

sustentabi l idade indígena

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A HipóteseArquitetura e Sustentabilidade Indígena

Através deste trabalho, busca-se encontrar um papel possível da arquitetura nesta busca pela sustentabilidade indígena, tomando em conta as especificidades da Aldeia Itaty em questão, estabelecendo uma nova forma de caminhar Oguatá Porã.

Unindo-se ao desejo da comunidade local em expandir seu Centro de Formação, o Centro de Aprendizado Indígena aparece como palco para aprendizado, diálogo e integração entre indígenas e não-índigenas, ao mesmo tempo em que valoriza o patrimônio cultural Guarani e viabiliza atividades essenciais à recuperação da autonomia plena da comunidade perante o contexto socioespacial contemporâneo

O programa desenvolvido em conjunto com o Vice-Cacique Marcos Moreira é composto por espaços de apoio ao aprendizado prático

em áreas do conhecimento essenciais ao modo de vida guarani, como construção sustentável, manejo florestal, sistemas agroflorestais, práticas artísticas, entre outros.

A materialização da proposta se dá através da reinterpretação do vernáculo guarani perante o contexto contemporâneo, em uma fusão entre a cosmovisão guarani e as tecnologias do não-índio em construção em terra compactada.

Devido à demanda por novas habitações e a dificuldade em extração do barro nas áreas de encosta onde se encontra a aldeia, propõe-se uma inversão do vernacular - em vez de aditiva, a construção do Centro de Aprendizado é pensada de forma subtrativa, onde o barro escavado é destinado à construção de novas casas na aldeia.

tradição adit iva adaptação subtrativa

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A intervenção situa-se na porção sudoeste da aldeia, em direção à baixada do Maciambú, área da Terra Indígena com maior descaracterização pela ação do não índio.

Considera-se este local como ponto inicial mais adequado a um processo de regeneração não apenas no aspecto simbólico, mas também físico, no que tange a recuperação do habitat Guarani através da limpeza e manejo de plantas exóticas, recuperação da Mata Atlântica em áreas degradadas e sistemas agroflorestais, resgatando a produtividade do solo através da policultura biodiversa.

A passagem pela rampa sinaliza a transição ao mundo guarani através dos contrastes entre escala, luz e sombra. Somente após esta transição, compreende-se completamente a espacialização do edifício. Adiante, este opera como uma série de espaços articulados por uma extensa galeria circular, distribuídos conforme necessidades ambientais e programáticas.

Ao organizar as atividades em torno deste percurso, objetiva-se reduzir o passo dos visitantes e emergir-los na contemplação da paisagem. Como na eterna caminhada Guarani, o percurso assume a mesma importância que o destino final.

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20m10m0

010203040506

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estacionamentorampa de acessoacesso reservatóriooficina ao ar livrepainéis solaresbanco em terra compactada

halladministraçãogaleriabanheirosfoyerauditóriooficinacasa de bombasbibliotecaantesalacasa de reza / opydepósito de lixoestar praçalago

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Piso Térreo

Piso Habitado

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O sistema construtivo é composto por paredes autoportantes e piso em solo compactado estabilizado, cobertos por lajes maciças de concreto tingido com pigmentos de óxido de ferro.

Solo compactado estabilizado consiste na compactação mecânica consecutiva de camadas de terra beneficiada com cal, configurando um produto monolítico de alto desempenho à compressão (I à V).

A estabilização química da terra à partir da adição da cal visa superar as propriedades indesejadas da terra crua, aumentando a durabilidade, a resistência às solicitações mecânicas e à ação da água, permitindo a exposição dos elementos construídos ao ambiente externo sem a necessidade de beirais ou coberturas protetoras.

Essa mistura torna o material impermeável à água líquida mas permeável ao vapor. Esta

reação, portante, não impede a capacidade de respiração natural da terra e, portanto, sua capacidade de transporte de vapor e regulação de umidade, mantendo a umidade entre 40 e 60%, taxa considerada ideal para a saúde dos ocupantes e conservação de itens com livros e obras de arte.

Em conjunto com a grande massa térmica das paredes monolíticas de 50cm de espessura e a ampla utilização de ventilação cruzada, possibilita-se a auto regulação higrotérmica dos ambientes internos, com temperaturas amenas que dispensam o consumo de energia para aquecimento e refrigeração dos ambientes ao longo da vida útil da edificação.

A demolição destes elementos não requer meios excessivamente complexos e de grande consumo energético para sua reutilização, formando um ciclo infindável de uso e reuso.

I II III IV V

i = 1%

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Parede em solo compactado estabilizado (10:1 cal)

Sistema de drenagem

Banco em terra compactada

Impermeabilização em manta asfáltica

Laje maciça de concreto pigmentado com óxido de ferro

Solo compactado estabilizado impermeabilizado com pintura

de caseína

Tubo dreno com manta bidim ø100mm

Brita

Fundação em solo compactado estabilizado (10:1 cal)

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Além de auxiliar no conforto ambiental, a composição das aberturas molda a luz que adentra e dá vida ao espaço, estabelecendo relações sensoriais e simbólicas que evocam as qualidades fenomenológicas do vernáculo guarani.

Seja pela visão espiritual guarani ou pela ótica puramente científica, a beleza transitória da luz relembra o observador da passagem do tempo, daquilo que está além de nós. Assim como para o povo guarani, para a luz, a estaticidade é impossível.

Ao esculpir cuidadosamente a terra, aproxima-se das qualidades sensoriais do vernáculo guarani onde plano físico e metafísico interagem através de luz e sombra.

Se exteriormente edifício e paisagem se confundem, no interior estes limites são mais bem delimitados, criando ambientes contemplativos e introspectivos que buscam aproximar o homem àquilo que não compreendemos em sua totalidade. Nas palavras de Mark Foster Gage (2016):

“A arquitetura deve lembrar-nos das coisas que são maiores que nós e, assim, fazer nossas diferenças parecem menos aparentes”.

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