octave garnier

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Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória 1 Padeiros Famosos Octave Garnier uitos padeiros e confeiteiros ficaram famosos não por conta dos seus talentos na arte de fazer pães, tortas e bolos, mas sim por terem se destacado nos movimentos sociais e trabalhistas ou por sua atuação política. Dois padeiros até viraram santos, o escocês William de Perth e o russo Felipe II. Um desses padeiros famosos foi o francês Octave Garnier (1889 1912), um líder M

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Octave Garnier

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Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

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Padeiros Famosos

Octave Garnier

uitos padeiros e confeiteiros ficaram

famosos não por conta dos seus talentos na

arte de fazer pães, tortas e bolos, mas sim

por terem se destacado nos movimentos sociais e

trabalhistas ou por sua atuação política. Dois padeiros

até viraram santos, o escocês William de Perth e o

russo Felipe II. Um desses padeiros famosos foi o

francês Octave Garnier (1889 – 1912), um líder

M

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Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Cultura e Memória

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extremista que optou por um viés radical que incluía a

criminalidade como forma de se rebelar contra uma

sociedade injusta.

Garnier era anarquista e foi um dos fundadores da

Quadrilha Bonnot, um grupo que fez assaltos a bancos

e cometeu assassinatos como forma de atacar o

sistema que atuou na França e na Bélgica entre 1911 e

1912. Os membros da Gangue Bonnot abraçavam o

ilegalismo, uma forma de filosofia anarquista

desenvolvida na França, Bélgica e Suíça no início do

século XX fortemente influenciada pelo filósofo alemão

Max Stirner (1806 – 1844), amigo de Karl Marx e

proponente do egoísmo ético. Os ilegalistas colocavam

o indivíduo e sua vontade acima de determinantes

externos, como grupos, comunidades, tradições e

sistemas ideológicos. Adotavam abertamente o crime

como forma de se rebelar. Com suas ações,

expressavam rejeição a uma sociedade injusta e

intolerável. E a Gangue Bonnot, da qual o padeiro

Garnier era um dos líderes, foi o principal grupo

ilegalista. Para avançar suas ideias por meio da

violência, a Quadrilha Bonnot usava tecnologia

avançada, como automóveis e armas ainda não

disponíveis para a polícia.

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O filósofo Max Stirner por Friedrich Engels

Rebelde

Octave Garnier foi padeiro ainda jovem, mas rebelou-

se contra a exploração e as injustiças cometidas contra

os trabalhadores e resolveu apropriar-se da riqueza da

sociedade - mesmo que fosse preciso fazer isso de

forma ilegal. E começou a fazer isso cedo. Com 17 anos,

já tinha cumprido pena. A experiência na prisão o

tornou, segundo ele mesmo, “uma pessoa pior”. Em

liberdade, frequentou o movimento sindical, mas

desiludiu-se e adotou o anarquismo como ideologia.

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Em 1910, buscando evitar ser convocado para servir o

exército francês, Garnier fugiu para a Bélgica, onde

conheceu anarquistas influentes. De volta à França em

1911, o padeiro logo tendeu para o ilegalismo, a forma

mais radical do anarquismo individualista. Aliando-se a

Jules Bonnot, fundaram um grupo anarquista

criminoso, a Gangue Bonnot, segundo o nome de um

dos fundadores, Jules Bonnot, também apelidada de

Quadrilha do Automóvel, por ter sido a primeira a usar

carros roubados para fugirem da cena do crime.

A Quadrilha do Automóvel no jornal Le Figaro, 1912

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Entre o final de 1911 e o início de 1912, Garnier e seus

associados fizeram diversos assaltos, apoderando-se de

armas e de vultosas somas em dinheiro. Contudo, com

a polícia em seu encalço, foram obrigados a fugir para a

Bélgica. Por volta de março de 1912, a polícia já tinha o

nome dos membros do grupo e sabia que Octave

Garnier, Jules Bonnot e René Valet eram os líderes.

Ousados, ridicularizaram a polícia confirmando pelo

correio as informações, numa carta jocosa. No mesmo

mês, roubaram um carro em Paris e assaltaram uma

agência bancária. Numa cena que irritou a polícia, eles

fugiram rapidamente no carro roubado, enquanto

eram perseguidos por dois policiais, um a cavalo e

outro de bicicleta.

Criticada pela imprensa e pela opinião pública, a polícia

aumentou os esforços e ofereceu uma recompensa de

cem mil francos - uma pequena fortuna na época - pela

captura dos membros da quadrilha. No final de março,

quase todos os anarquistas já tinham sido presos,

exceto Jules Bonnot, Octave Garnier e René Valet. No

final de abril, Bonnot foi finalmente encontrado e

morto num tiroteio com a polícia e, em maio, foi a vez

de Garnier e de Valet, quais foram mortos enfrentando

1.100 policiais. Octave Garnier tinha 22 anos.

Uma carta encontrada no corpo de Garnier explicava

suas atividades criminais: “é por tudo isso que me

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rebelei: porque não queria viver a vida da sociedade

atual, porque não queria ter de esperar e talvez morrer

antes de ter vivido, foi por isso que me defendi dos

opressores com todos os meios de que dispunha...”

Octave Garnier numa foto da polícia francesa

As ações da Quadrilha Bonnot repercutiram

negativamente no movimento anarquista, fazendo com

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que a repressão aumentasse. Os anarquistas também

racharam, afastando-se dos ilegalistas e do anarquismo

individualista.

Embora os meios utilizados pelo padeiro Octave Garnier não fossem lícitos e apelassem para a violência, sua motivação era a busca pela igualdade social. Revoltado, acreditava que devia atacar os ricos e subtraí-los de seus recursos para proveito próprio. Apesar do radicalismo, Octave Garnier e a Gangue Bonnot acabaram conquistando a simpatia do operariado francês. Nos dias subsequentes ao tiroteio, cerca de cem mil pessoas visitaram o local onde Garnier e Valet foram mortos.

Sindicato dos Padeiros

de São Paulo

Direito reservados: Sindicato dos Padeiros de São Paulo, 2012 Este artigo pode ser reproduzido para fins educativos;

a fonte deve ser citada