obi
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Brinquedo de madeiraTRANSCRIPT
Brincar é a primeira actividade de uma criança, a sua primeira
e predilecta maneira de encarar o mundo, para além de si e
do outro. É transformar um objecto numa actividade, enrique-
cendo-o e usando assim a criatividade e a inteligência para
produzir diversão e realização. Dar vida a um produto é por
isso brincar.
O valor do brinquedo está para além de si mesmo. Projecta-se
no futuro de quem brinca, e no momento de brincar.
Desenhar um brinquedo é conceber um instrumento que pro-
mova a descoberta de quem brinca e do seu meio.
Neste processo é possível rechear o produto de códigos, de
símbolos e de elementos abstractos que estimulem o raciocí-
nio lógico e a criatividade.
Brincar é aprender com liberdade, é poder decidir, experimen-
tar e criar sem qualquer respon-
sabilidade maior do que a própria
aprendizagem.
Citando Jeanne Bandet,
“O brinquedo, tal como todo o mate-
rial didático [...], quando bem escolhi-
do, contribui para o desenvolvimento
harmonioso das actividades mentais
da criança, ao mesmo tempo que lhe
proporciona a alegria indispensável
à expansão da sua afectividade. [...]
Das descobertas do mais profundo
interesse foi a do papel terapêutico do
brinquedo como meio de libertação
de perturbações inquietantes.”
IntroduçãoObi
Uma ala pediátrica não pode limitar-se ser um hospital para
crianças.
Deve ser um espaço onde a criança se possa sentir confortá-
vel, saudável e feliz. Uma segunda casa para aqueles que por
motivos de doença não podem estar junto das suas famílias e
dos seus amigos.
“O projecto Joãozinho” propõe-se a oferecer uma experiência
de pediatria diferente, que combina bem-estar com pedago-
gia e assistência médica permanente. Aos espaços de cuidado
médico juntam-se 520m2 de espaços dedicados à aprendi-
zagem e ao divertimento ambos
equipados com jogos, passatempos,
conteúdos didácticos e conteúdos
interactivos.
Envolver, Acreditar, Sonhar, Viver
- são as palavras de ordem deste
projecto.
Por isso é um prazer e um privilégio
poder desenhar um brinquedo para
a melhor ala de pediatria do mundo.
Projecto “Joãozinho”
Nesta Formação em Contexto de Trabalho tive a
oportunidade de desenvolver uma proposta de
produto para a Carvalho, Batista & Cª, SA, uma em-
presa sediada na Rua do Almada nº 79 , no Porto.
A empresa, fundada em 9 de Setembro de 1953,
comercializa maioritariamente artigos como ferra-
gens, ferramentas e peças de cutelaria.
A CBC é ainda detentora de várias representações
de marcas e de algumas marcas próprias fruto de
colaborações com designers/arquitectos.
O Show Room que tivémos a oportunidade de
visitar é mais do que uma montra para possíveis
compradores um verdadeiro espólio de equipa-
mentos clássicos e contemporâneos do design.
Na proposta apresentada foi-nos dada a opção
de desenvolver um objecto didático e lúdico, em
colaboração com o Projecto “Um lugar para o
Joãozinho”, utilizando para tal a madeiras como o
material predominante.
Neste dossier apresento a minha resposta a este
desafio.
CBC
O Obi é uma coisa séria. Primeiro porque é um brinquedo,
eegundo, porque foi desenvolvido em parceria com a Carvalho,
Batista & Cª.
Mais do que um brinquedo, é um sistema/conceito que permi-
te uma infinidade de jogos, puzzles e exercícios lúdicos.
Dedicado a um projecto ( “O Joãozinho”), a uma postura no
mundo e a todos os que têm ou terão idades compreendidas
entre os 4 e os 9 anos.
Surge-nos como uma alternativa aos jogos de vídeo e um meio
saudável de aprender o mundo.
Da mesma forma que um livro pode ser um amigo, este brin-
quedo propõe-se a ser isso e mais do que isso:
Um jogo; uma diversão; uma outra forma de conhecer e en-
tender o que nos rodeia. Os 5 aros que o compõe podem ser
trocados por outros com conteúdos diferentes, tornando assim
o Obi um brinquedo vivo, actualizável e mutável. Cada série
de aros permite dois tipos de jogo
diferentes uma vez que existem duas
superfícies disponíveis para a apli-
cação de conteúdos. A utilização é
definida pela rotação dos aros e pela
forma em que se combinam as caras,
os números, as letras, as imagens
ou qualquer outro conteúdo que
contenham.
Pensado para o colo de pais e filhos,
para a mesa, para o carro ou para o
chão, cabe na mochila, é resistente
a choques, tem bateria vitalícia e
pode ir ao banho.
Obi -Um brinquedo que são muitos.
Conceito
A utilização do Obi é definida pela rotação dos seus aros (e por
consequência dos seus conteúdos) e pela forma como pega-
mos nele.
Cada um dos 5 aros conta com uma reentrância que permi-
te deslocá-lo com apenas um dedo. O cilindro central (fixo)
funciona como eixo de rotação uma vez que tdos os aros são
concêntricos.
As calhas entre os aros permitem que estes deslizem sem se
tocarem. O acabamento em verniz contribui para um desliza-
mento flúido de cada um dos aros e previne o seu desgaste.
As reentrâncias existentes em cada um deles foram pensadas e
dimensionadas para adultos e crianças.
Cada aro conta com duas, uma vez que pode ser utlilizado dos
dois lados.
Para além disso, as reentrâncias con-
tribuem para uma utilização intuitiva
e simples. Uma vez que estão visíveis
tornam explícito o modo de fun-
cionamento do jogo, até para uma
criança de 4 anos.
Por ser uma peça de colo conta com
uma textura na base que funciona
como superfície aderente evitando
quedas acidentais.
Enquanto peça de mesa este sistema
funciona no sentido de evitar que a
peça se desloque sem querer, travan-
do assim a dinâmica de jogo.
Utilização
A brincadeira é uma actividade
série, do mesmo modo que o
trabalho do adulto, tem um lugar
preponderante na formação da
criança do ponto de vista psíqui-
co.
Brincar é uma forma de expres-
são, uma vez que é também uma
linguagem que os mais pequenos
podem dominar e compreender.
Por ser um meio de expressão,
pode tornar-se numa via de co-
municação rica entre a criança e o
adulto e, consequentemente, uma
fonte inata de interacção.
Mélanie Klein, psicanalista, de-
fende que um brinquedo é tanto
mais útil quanto mais reduzido
for o seu tamanho e mais amplo o
leque de brincadeiras/utilizações que permite.
Diz ainda: os “brinquedinhos de madeira, muito simples” e o
papel, o lápis e a tesoura são objectos úteis pela versatilidade e
criatividade que suscitam na criança. Caracteriza-os como irre-
sistíveis à curiosidade, às “olhadelas furtivas”, e como verdadeiros
indicadores da vida complexual de um menor.
O brinquedo é muitas vezes um objecto que, distraindo a
criança, a alheia de angústias e a ajuda a encontrar equilíbrio e
segurança.
Davy Levy, psicoterapeuta, defende que “pelas possibilidades de
compensação e evasão que oferece [o brinquedo], é já de si liberta-
dor”.
Frederick Allen, também psicoterapeuta, acrescenta que “alguns
brinquedos (mosaicos, composições decorativas) pela regularidade
de gestos que impõem, pela reprodução de determinados ritmos
visuais e motores, criam um clima de estabilidade e segurança
no qual a criança nervosa e instável consegue encontrar ordem e
equilíbrio”.
Terapia de Brincar
Ambas as figuras acreditam na
pedagogia do êxito como o
caminho a seguir para a criança
se afirmar no meio pela realiza-
ção e sucesso, apontando ainda o
papel da repetição.
Concluindo, brincar é a activida-
de predilecta da criança, é tudo o
que pode fazer voluntariamente,
sem responsabilidades ou deve-
res maiores.
Se o brinquedo é ignição dessa
mesma actividade é por isso
essencial para o bem-estar físico
e psíquico de uma criança, que
encontra na brincadeira a felici-
dade, a realização, o controlo de
si e de parte do seu meio.
mundo
criança
O prazer de montar e desmontar um brinque-
do é um prazer natural da criança, saudável e
uma postura que deve ser incentivada.
Depois de desenvolver o sentimento de posse
e da noção de propriedade, a criança ganha
vontade de conhecer melhor o brinquedo.
Conhecê-lo passa por utilizá-lo das mais varia-
das formas, por descobrir os elementos que o
constituem, a sua resistência, o seu peso, a sua
flexibilidade, etc.
Para tal, a criança submete o brinquedo a
testes que só ela compreende e que por vezes
podem ser destrutivos ou até mesmo altera-
rem a ordem dos elementos que o constituem.
Por isso mesmo é vantajoso que um brin-
quedo seja resistente mas ao mesmo tempo
montável e desmontável, numa tentativa de
saciar o desejo de compreender de uma crian-
ça mas ao mesmo tempo de conservar o que é sua
propriedade.
De facto, reconstruir um brinquedo é só por si uma
forma de brincar e aprender.
Dar à criança a oportunidade de compreender um
objecto é cultivar nela o espírito crítico e a curiosi-
dade.
Ao mesmo tempo que constrói passa a compreen-
der a forma e a função dos elementos que compõe
um objecto, passa a ser capaz de o transformar, de
criar com os elementos algo de novo.
Citando W. J. Bladergroen
“Todos os brinquedos deveriam ser susceptíveis de
modificações e de alterações na estrutura... Pouco a
pouco a destruição passa a construção e assim nasce
o elemento utilitário.”
Montar / Desmontar
A base do Obi foi desenhada para poder ser
transportada e pousada facilmente, tanto por
adultos como por crianças uma vez que se pre-
vê que ambos possam ter um papel activo na
dinâmica de jogo e no trajecto de transporte.
Um dos problemas dos jogos de mesa que
requerem duas mãos para serem pegados é o
de serem levantados das superfícies.
Depois de analisar alguns jogos (como por
exemplo o jogo de xadrez de tabuleiro de Ma-
deira) conclui que seria necessário desenhar a
peça de modo a pudesse ser retirada facilmen-
te de uma mesa.
Os contornos da base foram por isso desenhados
para que fosse possível levantá-la da mesa com
apenas um dedo.
Ao mesmo tempo o perfil boleado, adoçado aos
contornos na mão, garante uma pega confortável
tanto para uma criança como para um adulto.
A dimensão da base define a dimensão total da
peça, pensada para caber numa mochila de crian-
ças ou num armário escolar.
A sua forma permite o empilhamento em cilindro
e, por conseguinte, uma fácil arrumação.
Forma - Base
Os cinco aros que definem a dinâmica do jogo
são tanto mais espessos quanto menor é o seu
diâmetro.
Isto para garantir um deslizamento fluido dos
aros e para que o esforço exercido para mover
cafa um dos aros seja semelhante.
As suas dimensões compreendidas entre os
30cm e os 15cm de diâmetro permitem que se
possam transportar nos braços (como pulsei-
ras), ou todos numa só mão, e impossibilitam
acidentes como a asfixia ou a ingestão.
A relação diâmetro/espessura garante ainda
que os pesos não difiram muito de aro para
aro e que o impacto da queda de qualquer um
deles não represente um perigo para quem brinca.
A resistência de cada um dos aros (influenciada
pela relação diâmetro/espessura) foi pensada para
impactos violentos e forças de torção.
Todas as arestas dos aros são boleadas para por-
porcionar conforto e segurança a quem os utiliza.
As reentrâncias para os dedos foram desenhadas
em função das dimensões da ponta de um dedo
adulto uma vez que o jogo poder ser usado pon-
tualmente por um educador que assiste e ensina a
criança.
Forma - Aros
9 anos
Espessura e Diâmetro dos Aros
15cm Diâmetro2,5 cm Espessura
2,2 cm Espessura
2 cm Espessura
1,8 cm Espessura
1,5 cm Espessura
19,4 cm Diâmetro
23,4 cm Diâmetro
27 cm Diâmetro
30 cm Diâmetro
7 anos 6 anos 5 anos
Os jogos infantis tendem a ter
um carácter mais espontâneo e
menos regras do que os jogos
para adultos.
Isto porque quanto maiores
forem as possibilidades criadas
pelos sistemas e jogos maior é o
desenvolvimento da criatividade,
e o raciocínio lógico-associativo.
Por isso, permitir criar, mudar,
alterar é cultivar na criança algo
que não se ensina.
É , no fundo, ensiná-la a interagir
com o seu meio, a mudá-lo e a
ver-se ela mesmo como criadora.
Jogar / Interagir / Criar
Qualquer conteúdo de jogo do Obi é necessáriamente um con-
vite ao raciocínio lógico e à criatividade sem deixar de parte o
carácter lúdico e apelativo.
Conjugar partes de bonecos, cores, números, letras, formas é mais
do que isso, é aprendê-las e exprimentá-las em outros contextos.
Num jogo com 11 figuras diferentes é possível criar, a partir delas
mais de 600 novas figuras.
Se contarmos com os dois lados dos aros podemos concluir que
um conjunto de aros permite criar mais de 2400 combinações
diferentes e motivar um igual ou maior número de emoções e
expressões.
Tudo isto num simples brinquedo de madeira.
A grande vantagem do obi é a versa-
tilidade de aplicação de jogos que o
sistema de rotação de aros permite.
Numa perspectiva de comercialização,
diferentes séries de aros poderiam
ser compradas para permitir à criança
brincar com conteúdos diferentes, e
para garantir que o jogo acompanha o
nível de desenvolvimento de crianças de
várias idades.
Nas próximas páginas apresento três
propostas de conteúdos para Jogos do
Obi diferentes, sendo que podem existir
outros conteúdos para jogos de associa-
ção pictórica/gráfica.
Jogos Obi
O jogo Obi Histórias consiste num conjunto de
22 figuras diferentes que podem ser articuladas
e modificadas para criar mais de 2400 novas
personagens.
A criança é incentivada a procurar as persona-
gens através de uma história, que acompanha
o jogo, que descreve cada uma das figuras e as
relaciona.
O desafio é, através dos adjectivos e das descri-
ções feitas, criar as personagens de forma lógica
e coerente.
Este sistema permite ainda que a criança altere a
história misturando personagens e personalizan-
do a acção narrativa.
Histórias
O jogo Obi Abc tem como principal objectivo
ensinar o alfabeto de forma divertida e activa.
A criança deve associar as figuras e as palavras às
letras do Abecedário correspondentes.
As letras do abecedário encontam-se organiza-
das por ordem alfabética. Já as palavras e letras
encontram-se desordenadas para criar alguma
dificuldade no jogo.
Deste modo organizará uma sequência gráfica,
fácil de memorizar e de compreender, composta
por duas figuras, duas palavras e a letra que as
inicia.
Abcírculo
O jogo Obi números propõem-se a ensinar os
números de 0 até 10.
Para tal convida a criança a associar aos algaris-
mos as palavras e os símbolos que os traduzem,
por exemplo: 3, três, ••• , three, III.
Ao debruçar-se sobre as várias dimensões dos al-
garismos a criança apreende que a cada número
correspondem diferentes representações.
Para além disso pode fazer ainda sequências de
5 números com representações diferentes, por
exemplo: 1, dois, •••, four, V.
Números
O desenho do Obi foi em parte definido pela
Directiva Europeia 2009/48/CE uma vez que as
orientações que a constituem são fundamen-
tais para que um brinquedo cumpra as regras
de segurança impostas pela União Europeia.
As suas propriedades físicas e mecânicas
garantem-lhe a resistência mecânica e a esta-
bilidade necessárias para resistir às pressões a
que possa ser submetido durante a utilização
sem quebrar ou deformar.
O que reduz os riscos físicos associados à uti-
lização do brinquedo (EN 71-1:2005+A8:2009
cláusulas 4.15.1.3, 4.15.1.4, 4.15.3, 4.15.4,
4.15.5.3, 4.15.5.4, 4.15 e 4.16).
Outro requisito imposto por esta directiva é
o de todas as arestas e saliências acessíveis não
apresentarem riscos de danos físicos por con-
tacto, como arestas e saliências afiadas (EN 71-
1:2005+A8:2009 cláusulas 4.5, 4.7, 4.8, 4.9, 4.10.2,
4.14.2, 4.15.1.3, 4.15.5.7, 4.17.1, 4.17.2, 4.17.3, 4.17.4,
5.1, 5.2, 5.4, 5.7).
Para responder a este requisito e para garantir uma
utilização segura e confortável todas as arestas do
Obi são boleadas.
Apesar de ser constituído por varias peças o Obi
não apresenta qualquer risco de lesão por entala-
mento de dedos ou outros.
Uma vez que o movimento dos aros é controlado
Normalização
pela criança este não se apresenta como um
risco à sua integridade (EN 71-1:2005+A8:2009,
cláusulas 4.10, 4.15.1.6 e 4.15.5.4).
Quanto aos requisitos de inflamabilidade o
Obi não se constitui como um risco para o
ambiente ou para a criança, uma vez que o
acabamento da Madeira é um verniz retardan-
te de combustão (EN 71-2).
As propriedades químicas do contraplacado
de bétula, das tintas da serigrafia, e do verniz
não atentam contra a integridade física de
crianças ou adultos.
A raspagem das tintas é impedida pela cama-
da de verniz que por sua vez não é tóxica ou
venenosa.
Por isso não é possível a ingestão de mais de 8mg
de substâncias químicas seja qual for a utilização
feita do objecto e o tipo de contacto entre a crian-
ça e o produto (EN 71-1).
O Obi foi ainda projectado para satisfazer os requi-
sitos de higiene e limpeza necessários para evitar
quaisquer riscos de infecção, doença ou
contaminação, o que é essencial para uma utiliza-
ção segura num contexto hospitalar.
Dado o revestimento de verniz pode ser lavado e
desinfectado sem danificar a madeira ou os conte-
údos (EN 71-1:2005+A8:2009, cláusula 4.14.1)