o uso do lÚdico no ensino da histÓria afro … · docente da disciplina de história no colégio...
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O USO DO LÚDICO NO ENSINO DA HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA
Autora: Ana Maria V. M. Zanotto1
Orientador: Danilo Ferreira da Fonseca2
Resumo
Este trabalho visa relatar uma experiência docente de intervenção em sala de aula
que foi desenvolvida para o PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) que
tem a intenção de superar o espaço limitado que os livros didáticos proporcionam
para a questão do Quilombo de Palmares, bem como o de tirar vantagem do uso do
lúdico, já que essa atividade é considerada prazerosa, pois envolve os alunos de
forma intensa e total. A metodologia utilizada na implementação foi aplicação de
jogo de cartas e jogo de tabuleiro, contendo informações relevantes sobre Palmares,
pois trabalhar com o lúdico, se constitui em um rico instrumento nas aulas de
história, o envolvimento dos alunos é visível e seu uso resulta em uma mediação no
processo de assimilação dos conteúdos.
Palavras-chave: Quilombo; Lúdico; Conhecimento.
Abstract
This parer describes a teaching experience of intervention in the classroom that was
developed for the EDP (Educational Development Program) that aims to overcome
the limited space that texbooks provide for the issue of Quilombo de Palmares, as
well as the to take advantage of the use of play, since this activity is considered
pleasureble, because it involves the students in way intense and complete. The
motodology was applied in the implementation of card game and board game,
1 Especialista em Geografia Econômica. Graduada em Ciências Sociais. Docente da disciplina de História no
Colégio Estadual Germano Stedile – Dois Vizinhos – PR. email: [email protected]
2 Mestrado e bacharelado em História , Graduando em Ciências Sociais e História Contemporânea. Docente do
colegiado de História da UNIOESTE, Campus Marechal Cândido Rondon. email: [email protected]
containing relevant information about Palmares, because working with the palyful,
constitutes a rich instrument in history classes, student engagement is visible and
use results in a mediation in the process of assimilation of the content.
Keywords: Quilombo; Playful; Knowledge.
Introdução
Os professores da Rede Pública do Estado do Paraná foram privilegiados
com o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE que estabelece uma nova
política na formação continuada, contribuindo assim para a sua valorização
profissional e proporcionando uma grande integração em todas as áreas do
conhecimento. Fazendo parte desse programa tive a oportunidade de dentro da
minha área de formação (história) retornar às atividades acadêmicas, tendo assim a
possibilidade de uma atualização e também de um aprofundamento de
conhecimentos teórico-práticos, contribuindo para que acontecesse uma reflexão
sobre as minhas práticas e possibilidades de mudanças. O PDE 2010 foi realizado
através de várias etapas como, atividades de integração teórico-práticas, atividades
de aprofundamento teórico e atividades didático-pedagógicas com utilização de
suporte tecnológico. As atividades em sua maior parte foram presenciais, realizadas
nas Instituições de Ensino Superior Públicas do Estado do Paraná – IES, sendo que
participei na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE – Campus
Marechal Cândido Rondon. Houve também o Grupo de Trabalho em Rede - GTR,
sendo uma atividade à distância, que envolveu vários professores da Rede Pública
Estadual de Ensino do Paraná.
O Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola desenvolveu-se sob
orientação do professor orientador da IES Moisés Antiqueira, assim como a
Produção Didático-Pedagógica, como o professor Moisés desligou-se da IES, a
produção desse Artigo tem a orientação do professor Danilo Ferreira da Fonseca e a
escolha do tema para invenção na escola, está de acordo com o objetivo do
Programa de Desenvolvimento da Educação da SEED/PR.
Assim este artigo tem por pressuposto apresentar os resultados alcançados
nesses dois (2) anos 2010/2011 de estudos teórico-práticos realizados em espaços
como a UNIOESTE – Campus Marechal Cândido Rondon, o Colégio Estadual
Germano Stédile E.F.M, localizado no município de Dois Vizinhos/PR, o ambiente
MOODLE e os alunos que como público alvo específico na implementação deste
trabalho participaram avidamente das atividades propostas.
O Projeto de Intervenção Pedagógica na escola e a Produção Didático-
Pedagógica tem como título “O Quilombo dos Palmares e o livro didático: limitações
do ensino da história afro-brasileira”, tendo em vista a pouca informação contida
sobre o Palmares nos livros didáticos.
O público alvo foram os alunos da 6ª série do ensino fundamental, do
período matutino, os quais apresentavam grandes dificuldades de aprendizagem,
desde leitura, interpretação e concentração.
Sabe-se que a história exerce papel muito importante na formação da
identidade de um povo. As informações a que se tem acesso hoje são fundamentais,
se analisadas com critério, para nos fornecer a base para um bom entendimento dos
acontecimentos relevantes do ponto de vista histórico.
O projeto teve como objetivo trabalhar a história do Quilombo dos Palmares
contida a partir de livros didáticos e a consequente apropriação pelo aluno desse
conhecimento. Junto a isso, sentiu-se a necessidade de buscar mais informações na
literatura específica, sem com isso desconsiderar outras dificuldades como o curto
espaço de tempo no dia-a-dia escolar, a quantidade excessiva de alunos em sala de
aula e a alta carga horária do professor com implicações que vão desde o preparo
da aula à leitura e reflexão do referencial teórico por parte do educador.
A Produção Didático-Pedagógica constituiu-se em trabalhar o conteúdo
proposto optando-se por fazer um estudo de alguns livros didáticos utilizados na
rede pública estadual. Assim foram objetos deste estudo as seguintes obras:
História Hoje (Oldimar Pontes Cardoso, 2009); História e Vida Integrada (Nelson e
Claudino Piletti, Thiago Tremonte, 2010); História Temática; Projeto Araribá (obra
coletiva Editora Moderna, 2007). Foi utilizado também o livro Palmares (Luiz
Galdino, 2008) que é composto por duas partes, a primeira em forma de literatura
infanto-juvenil, seguida de um texto específico de Liliam Lisboa Miranda, livro esse
adquirido pela professora em parceria com a escola de implementação, um total de
12 exemplares foram comprados, pois evidencia-se a necessidade de disponibilizar
ao educando material que contenha não só os fatos históricos, mas dê conta de
mostrar o homem agregado de seus valores e seus ideais.
Atente-se que os livros didáticos, objetos dessa pesquisa, encontram-se
entre as obras indicadas pelo MEC. E devem, portanto, atender ao que diz a lei
(BRASIL/ MEC, LEI 10.639/03, artigo 26-A § 1º).
Sendo assim, é possível justificar este trabalho a partir de duas abordagens:
a primeira ancora-se na necessidade de entender Palmares, como se deu sua
organização de mundo, a construção do cotidiano e de que forma foram
estruturados os movimentos de resistência; a segunda abordagem prende-se ao
aspecto legal, pois de acordo com a obrigatoriedade da Lei 10.639/2003, artigo 26-A
§ 1º: O estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
História do Brasil. (BRASIL/ MEC Lei 10.639/2003, artigo 26-A § 1º).
O estudo da história da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. 9BRASIL/MEC LEI 10.639/2003, ARTIGO 26-A § 1º)
Considerando que a Lei citada instituiu o dia do negro e a valorização desta
cultura, há que se buscar saber como se realiza na prática pedagógica o trabalho
sobre este tema. Pois, se cabe à escola assegurar a manutenção de uma das
funções básicas da língua escrita: servir de memória para preservar a sobrevivência
de fatos que se integraram e garantiram a construção do Brasil enquanto nação, é
justamente na consciência histórica que se ancora a garantia de uma transformação
histórica e um futuro mais libertador, se desprendendo da barbárie de processos
anteriores, como o racismo na nossa sociedade
Assim, este trabalho tem como elemento gerador o negro, o negro inserido
em Palmares, mas visto sob a ótica dos livros didáticos utilizados nas escolas
estaduais do município de Dois Vizinhos, até porque é a escola que tem por função
repassar ao aluno um patrimônio cultural que permita ler e reler a realidade
circundante, sempre ancorado no ontem, no hoje e no amanhã. É em seu bojo que
se pode avaliar como se dá esta ação e qual a matriz ideológica que perpassa por
este conhecimento.
Daí a opção por analisar diferentes livros adotados para verificar o que se
encontra em seus conteúdos e de que maneira as propostas de estudo do tema
estão colocadas. Isto sem perder de vista que para entender os movimentos de
resistência que se deram no Brasil escravagista, faz-se necessário conhecer
Palmares, pois foi ali que se concretizou o maior foco de resistência e consciência
negra neste país.
Além disso, ainda focado no tema, há que se compreender o que motivou a
criação do quilombo e as lutas para mantê-lo. Que ideais estavam envolvidos na
construção e concretização de Palmares e que razões movimentaram as pessoas a
lutar e morrer na defesa deste espaço. É importante tentar inferir que tipo de
patrimônio a consciência e prática que ali se concretizou, deixou para as gerações
posteriores.
1 A SALA DE AULA: trabalhando a história de Palmares
O trabalho de Implementação teve início com a apresentação do Projeto de
Intervenção Pedagógica e da Produção Didático-Pedagógica para a comunidade
escolar, momento em que foi explicando a importância do tema escolhido bem como
a forma através da qual o mesmo seria trabalhado.
Iniciou-se o trabalho com os alunos no mês de agosto de 2011 com um total
de doze encontros trabalhados em horas aulas, atividades extraclasse, no período
da tarde, concluindo no mês de novembro de 2011.
Assim os estudos com os alunos tiveram início com a apresentação do
assunto escolhido pela professora, explicação da ordem das atividades a serem
realizadas bem como a confecção dos jogos pelos alunos.
Todo o material necessário para a confecção do mural informativo e dos
jogos foi fornecido pelo Colégio.
A metodologia utilizada para dar início ao desenvolvimento dos trabalhos
constituiu-se de momentos de leitura, análise de textos, observações e reflexões
sobre Palmares, como ele é apresentado pelos livros didáticos citados. Após essa
etapa iniciou-se com os alunos a elaboração de um quadro comparativo referente as
leituras realizadas.
Durante a elaboração do quadro comparativo os alunos tiveram a
oportunidade de discutir, colocando suas opiniões a respeito dos textos lidos para
construir assim o material final, cada um em seu próprio caderno.
No decorrer dos encontros foi realizado pelos alunos a construção de um
Mural Informativo, sendo abordadas as informações mais relevantes sobre o
Quilombo, após concluído, foi exposto no saguão do Colégio para socializar seus
conhecimentos com as outras turmas.
Segue abaixo, imagem do Mural elaborado pelos alunos.
Imagem 1: Mural Informativo
Fonte: ZANOTTO, 2011
Assim essas primeiras etapas da Implementação tornaram possível aos
alunos da turma envolvida, bem como para as demais turmas entenderem a
importância do Quilombo de Palmares na luta contra a escravidão e discriminação
racial no Brasil, mostrando através da leitura de diversos materiais, elementos que
possibilitam esclarecer, conscientizar e valorizar o ser negro em nosso país, pois
omitindo-se, colaboramos para que exista um mundo desigual, seguido da
ignorância em relação ao grupo discriminado, temos então a educação como forma
de lutar contra uma sociedade preconceituosa.
Em outro momento da Implementação foi usado um recorte do filme
Quilombo (Direção Cacá Diegues, 1984), juntamente com um roteiro de análise a
ser feita pelos alunos em duplas. A turma pode através das cenas vistas perceber
claramente como o negro escravo era usado como uma ferramenta de trabalho pelo
seu senhor, não era visto como um ser humano. Conheceram o modo de falar,
vestir-se, alimentar-se, o tratamento dado aos escravos, os castigos físicos a que
estavam sujeitos os escravos que ousavam enfrentar os seus algozes. A cena da
fuga de um grupo para Palmares, visualizado como único caminho para a liberdade,
deixa isso bem claro, e assim nos aponta Reis e Gomes.
Onde houve escravidão houve resistência. E de vários tipos. Mesmo sob a ameaça do chicote, o escravo negociava espaços de autonomia com os senhores ou fazia corpo mole no trabalho, quebrava ferramentas, incendiava plantações, agredia senhores e feitores, rebelava-se individual ou coletivamente. (REIS e GOMES, 2008, P. 9)
Através de um olhar bem atento os alunos notaram que apesar do controle
exercido pelos seus senhores, os escravos encontram um modo de resistir a
escravidão. Conheceram também a complexidade da sociedade escravocrata da
época, onde não se dava conta de que os negros tinham suas próprias
características, amavam, odiavam, sonhavam, sofriam, tinham seus conflitos,
saberes e estavam muito presentes na construção de nossa história.
Na sequência do desenvolvimento da Implementação os alunos realizaram a
leitura do texto de Liliam Lisboa que faz parte do livro de Luiz Galdino “Palmares”,
tendo assim mais subsídios para a próxima etapa que foi a elaboração de uma
história em quadrinhos sobre o Quilombo de Palmares, contendo os fatos mais
importantes da sua história
Inicialmente Palmares (local de muitas palmeiras), era habitado por poucos
cativos fugitivos da condição de escravo. A construção da comunidade não se deu
de maneira fácil, no começo havia falta de mulheres e houve sequestros de
escravos de ambos os sexos, devido à necessidade de mão-de-obra para o
trabalho, porém esses escravos mais tarde foram incorporados à comunidade
palmarense, isto não representava de início motivo de preocupação e nem se
caracterizava como um grupo demasiadamente organizado.
Tendo como seu principal e último líder Zumbi, que era visto como um líder
guerreiro e destemido, que jamais aceitaria um acordo que os remetessem a
escravidão, ele representava para os palmarinos a força para resistir ás armas
coloniais, como nos mostra Décio Freitas;
Palmares foi a manifestação mais eloquente do discurso anti-escravista dos negros brasileiros nos quase três séculos da escravidão. A resolução tomada na serra da Barriga de morrer antes de aceitar a escravidão, exprime a essência da mensagem que os negros palmarinos enviam do fundo da sua noite. (FREITAS, 1990, p. 210)
A palavra escravo por si só já é pesada, quando aplicada com toda a sua
força a seres humanos, mas não reconhecidos como tal, exprime um horror sem
precedentes, apesar de estar contida na história da humanidade há milhares de
anos. Visto como uma opção de ferramenta de trabalho, ou simplesmente como um
objeto o escravo serviu muito bem aos propósitos de seus senhores. Sem alternativa
passa a entender a opção de fuga, como única forma de sair de sua condição de
escravo. E apesar dos riscos e consequências, se capturado, arrisca-se, pois se
fortalece no sonho de alcançar Palmares.
Posteriormente, em 1630, surge um novo complicador: a invasão holandesa
em Pernambuco e a consequente tomada de Olinda pelas tropas holandesas. Este
fato provoca uma fracassada rebelião de escravos contra seus proprietários,
inclusive com a tentativa de queimar a cidade, foram, porém, contidos pelos
holandeses que, em seguida, saquearam a cidade.
Com o tempo a população no quilombo cresce, pois muitos escravos fugiram
do domínio de seus donos, portanto das senzalas, uma vez que não se submetiam
ao sistema de vida e à forma como se achavam inseridos na sociedade escravista
de então. Além disso, se aproveitaram da pouca vigilância, visto que seus senhores
estavam ocupados em fazer frente aos holandeses e preocupados em salvar suas
próprias vidas.
Ao chegar a Palmares, os fugitivos se organizavam com armas e voltavam
em busca de vingança. Para aliviar a tensão, tanto portugueses quando holandeses
prometiam a liberdade (alforria) para os fugitivos que pegassem em armas,
engrossando as frentes de batalhas de ambos os, na tentativa de evitar que os
negros retornassem para Palmares.
Assim, o quilombo vai se firmando. É combatido, mais tarde, tanto por
holandeses como por portugueses. Formava uma comunidade e com vários
mocambos, cada um com um chefe, onde reinava o sistema de trabalho coletivo, ali
eram produzidas as próprias ferramentas de trabalho e também as armas.
Ivan Alves Filho coloca: “Há indícios de que o regime político nada tinha de
liberal: punia-se com pena de morte e deserção o roubo, o estupro, o homicídio, o
adultério e a traição, o que reflete as contingências de uma comunidade em guerra
contínua”. (FILHO, 2008, p. 41). Existia assim a necessidade de se manter a ordem
em uma comunidade extensa em um território igualmente amplo.
A produção agrícola era variada, produziam milho, mandioca, banana, feijão,
cana-de-açúcar, legumes, eram caçadores, pescadores e também criavam animais
domésticos.
Funari e Carvalho descrevem: “Os líderes do quilombo foram chamados
Ganga-Zumba e Zumbi, nomes que, mais do que próprios, referem-se à posição
hierárquica, religiosa, que esses chefes ocupavam”. (2005, p.24). É importante ainda
ressaltar que em Palmares não viviam apenas cativos fugitivos, habitavam lá
também uns poucos índios, mamelucos, mulatos e brancos que escapavam da
miséria que os afligia, pois lá se vislumbrava a possibilidade de concretizar o sonho
de uma vida digna. Ainda que se enfrentasse com muita frequência as expedições
portuguesas.
De acordo com Silva Bento;
Durante noventa anos, ou seja, quase um século, a coroa portuguesa organizou cerca de 65 expedições para acabar com o Quilombo de Palmares. A primeira expedição foi em 1602; a última em 1692. Por ordem do rei de Portugal, 8 200 militares do nordeste se juntaram aos 2 000 militares que já estavam nas proximidades do Quilombo de Palmares. Sob a liderança do conhecido assassino de índios e negros – Domingos Jorge Velho -, empreenderam um ataque decisivo. Essa foi considerada a maior expedição bélica do período colonial e contou inclusive com canhões (BENTO, 2005, p.73).
Este enfrentamento constante obrigou a população do quilombo a se
organizar para a defesa não só de seu espaço, mas de sua vida. Assim, para
garantir a segurança do grande número de habitantes do quilombo fez-se necessário
desenvolver técnicas militares e organizar um sistema de defesa capaz de assegurar
a vida e a continuidade do sonho que ali se constituía. Para tanto, além das medidas
tomadas em relação aos defensores, também foram construídas fortificações, que
resistiram a várias expedições punitivas.
Segundo Ivan Alves Filho, “os quilombos palmarinos foram concebidos como
fortalezas. Cercados por paliçadas espessas, com fossos e armadilhas, o acesso a
seu interior se fazia através de portas colocadas segundo os pontos cardeais”.
(2008, p.85)
Fica evidente, portanto, que Palmares não foi apenas um aglomerado de
pessoas, ao contrário, ele ultrapassou o tempo e o espaço e se constituiu num
modelo de organização, resistência e busca de identidade, a ser legado para toda
nação. Atentar para o universo do quilombo, enquanto professor é conduzir o aluno
à apropriação do registro histórico e, principalmente, à percepção de um legado
muito maior: a condição de que a construção e o exercício da plena cidadania é um
direito de todos, embora seja uma conquista do grupo. E isso se reflete no
entendimento de três pontos: a vida das pessoas no quilombo, a resistência e a luta
pela liberdade.
Estando os negros fugidos em Palmares suas vidas tinham um significado
Estando os negros fugidos em Palmares suas vidas tinham um significado diferente,
não estando mais ligadas a seus opressores e ao trabalho escravo. Pode-se dizer
que Palmares cresceu a partir de uma organização militar, mas que, por fim, acabou
por governar todos os aspectos da vida palmarina, que não se resumia apenas em
sobreviver, mas viver em liberdade, garantida através da resistência aos que
tentavam extirpar Palmares da sociedade colonial da época.
Assim como nos aponta Reis e Gomes;
Entre Palmares e os quilombos dos últimos anos da escravidão, os escravos brasileiros, construíram uma empolgante história de liberdade. Mas uma história cheia de ciladas e surpresas, de avanços e recuos, de conflito e compromisso, sem um sentido linear, uma história que amplia e torna mais complexa a perspectiva que temos de nosso passado. (REIS e GOMES, 2008, p. 23)
Assim, uma escola que ofereça ao aluno subsídios para conhecer a
realidade de Palmares em toda sua extensão, não estará apenas oferecendo a
apropriação de um saber registrado, mas estará propiciando a possibilidade de ir
mais longe, ou seja, de fazer a reflexão deste saber aliado à leitura da realidade e,
consequentemente, à construção e ao entendimento de uma nova realidade, agora a
do aluno, enquanto cidadão.
Os alunos já agora de posse de vários dados importantes sobre o Quilombo
partem para a confecção dos jogos a serem elaborados a partir do seu aprendizado
sobre o conteúdo proposto.
1.1 O uso do Lúdico
O lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer dizer “jogo”.
Podemos ver a sala de aula também como um lugar de brincar, nossos alunos do
fundamental, mais especificamente da 6ª série ainda são crianças e através dos
jogos podemos vê-los competindo, seguindo suas regras, respeitando o
conhecimento do seu oponente e reconhecendo as suas dificuldades, mas sabendo
que pode superá-las. “A educação lúdica esteve presente, em todas as épocas,
povos, com textos de inúmeros pesquisadores, formando hoje, uma vasta rede de
conhecimentos não só no campo da educação, como nas demais áreas do
conhecimento.” (Almeida, Paulo Nunes de, 2003, p.31). A ludicidade é uma atividade
que tem valor educacional intrínseco, mas além desse valor que lhe é inerente, a
ludicidade tem sido utilizada como recurso pedagógico. Dessa forma várias são as
razões que levam os educadores a empregarem às atividades lúdicas no processo
de ensino/aprendizagem. Como vemos a seguir com Teixeira:
O lúdico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço espontâneo. Ele é considerado prazeroso, devido a sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. É este aspecto de envolvimento emocional que o torna uma atividade com forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola, a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para consecução de seu
objetivo. Portanto, as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário. [...] As situações lúdicas mobilizam esquemas mentais. Sendo uma atividade física e mental, a ludicidade aciona e ativa as funções psico-neurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento. [...] As atividades lúdicas integram as várias dimensões da personalidade: afetiva, motora e cognitiva. Como atividade física e mental que mobiliza as funções e operações, a ludicidade aciona as esferas motora e cognitiva, e à medida que gera envolvimento emocional, apela para a esfera afetiva. Assim sendo, vê-se que a atividade lúdica se assemelha à atividade artística, como um elemento integrador dos vários aspectos da personalidade. O ser que brinca e joga é, também, o ser que age, sente, pensa, aprende e se desenvolve. (TEIXEIRA, 1995, p.23).
O ensino de História necessita de vários métodos didáticos para que não se
torne cansativa e abstrata, por isso, os professores devem procurar conhecer e
dominar diferentes recursos didáticos e técnicas de sala de aula para despertar em
seus alunos a curiosidade histórica através um programa de acordo com as
condições disponíveis em sua escola.
Assim temos que ter em mente os objetivos que queremos utilizando um
recurso didático, que segundo Piletti quando usados de maneira adequada devem
colaborar para:
- motivar e despertar o interesse dos alunos; - favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação; - aproximar o aluno da realidade; - visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem; - oferecer informações e dados; - permitir a fixação da aprendizagem; - ilustrar noções mais abstratas; - desenvolver a experimentação concreta. (PILETTI, 2003, p.154).
É visível que a educação como um todo vem passando por uma crise
histórica, causada por vários problemas, a metodologia adotada, a formação do
docente, os livros didáticos inapropriados, na falta ou má utilização dos recursos
didáticos. Por isso muitos esforços e discussões vêm sendo feitos por vários
pesquisadores e profissionais da área de educação com o objetivo de mudar toda
essa realidade presente em nossas escolas.
Sabe-se que os jogos estiveram presentes no dia-a-dia de várias das antigas
civilizações. Nas civilizações egípcias, romanas e maias, os jogos também tinham a
finalidade de transmitir normas dos padrões sociais, valores e conhecimentos dos
mais velhos para a geração mais jovem. Com o crescimento do cristianismo, os
jogos foram perdendo seu valor, pois passaram a ser considerados como
vergonhosos e sem nenhum significado. Só a partir do século XVI, com os
humanistas, que os jogos passaram a receber o valor educativo, sendo os colégios
Jesuítas os primeiros a recolocá-los em prática.
O objetivo do uso de jogos neste trabalho é o de auxiliar o processo de
aprendizagem e construção do pensamento, buscando-se melhorias no
enfrentamento no desafio que é despertar e manter em nossos alunos o interesse
não apenas pelo conhecimento específico mas o que “podem” fazer com ele.
Entender que a realidade na qual estamos inseridos não foi construída de
uma hora para outra, que existem pessoas que buscam incansavelmente e desde
muito tempo mudar as condições de vida que lhes é imposta por um grupo
economicamente dominante como no caso dos afro-descendentes e a sua história
tão pouco valorizada não é simples para nossos alunos.
Assim as atividades abaixo relacionadas foram elaboradas a partir das
leituras de textos referentes ao Quilombo dos Palmares, realizadas pelos alunos
durante a aplicação do projeto.
O primeiro jogo trabalhado chama-se Tabuleiro da História e foi
confeccionado tendo como modelo um tabuleiro já pronto produzido pela professora.
As cartas com as perguntas, disponibilizadas pela professora, foram
confeccionadas pelos alunos, divididos em quatro grupos com cores distintas para
cada um deles.
O Tabuleiro de História é composto por um tabuleiro feito em uma folha de
papel cartão, contendo um caminho com casas que vão do número 1 ao número
100. Contém cartas com perguntas também confeccionadas em papel cartão, um
dado e quatro tampinhas plásticas de cores diferentes.
Figura 2: Jogo Tabuleiro da História.
Fonte: ZANOTTO, 2011.
A utilização desse tabuleiro pelos alunos demonstrou o quanto é importante
que eles participem literalmente de forma concreta da metodologia a ser usada pelo
professor para trabalhar determinados conteúdos, que não desmerecendo outros,
são de extrema importância para a formação de um cidadão consciente de seus
direitos e deveres. Contribuindo assim para a superação de práticas discriminatórias
e mostrando um outro olhar sobre a História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
O uso do tabuleiro deixou os alunos eufóricos, ansiosos por mais e mais
questões sobre Palmares, ficando bem claro que eles perceberam que o Quilombo
foi um grupo pioneiro de organização e resistência, sendo formador e símbolo para a
constituição da consciência negra no Brasil.
Observando essa reação dos alunos e ela é importante, nos leva a pensar
que se espera do ensino da História, que contribua para que os alunos entendam
sua posição no conjunto das relações da sociedade e as diferentes relações
estabelecidas na construção da história humana. Isso implica aquisição de
conhecimento, domínio de conceitos e procedimentos básicos para compreender as
relações sócio-culturais.
As imagens a seguir mostram a construção do jogo Tabuleiro de História
pelos grupos de alunos da série envolvida no projeto:
Imagem 3: Confecção do jogo Tabuleiro da História
Fonte: ZANOTTO, 2011
Imagem 4: Confecção do jogo Tabuleiro da História.
Fonte: ZANOTTO, 2011
As imagens a seguir mostram os alunos durante a aplicação do jogo
Tabuleiro de História:
Imagem 5: Utilização do jogo Tabuleiro da História
Fonte: ZANOTTO, 2011.
Imagem 6: utilização do jogo Tabuleiro da História
Fonte: ZANOTTO, 2011
A educação deve permitir à alunos e professores, não só questionar a
discriminação, mas propor políticas capazes de projetar um “novo indivíduo negro,
cuja presença e preocupação presente busquem ressignificar a história brasileira e,
dentro dela, o negro que traça um outro rumo: eis o negro na história, nossa
história”. (FONSECA, 2006, p.146).
Assim nos remete às Diretrizes Curriculares da disciplina de História da
Secretaria de Educação do Paraná:
Ao optar pelas contribuições das correntes da Nova História Cultural e Nova Esquerda Inglesa como referências teóricos destas Diretrizes Curriculares, objetiva-se propiciar aos alunos a formação da consciência histórica. Para que esse objetivo seja alcançado, recomenda-se que o professor faça uma abordagem dos conteúdos sob exploração de novos métodos de produção do conhecimento histórico e inclua em sua metodologia de trabalho: – vários recortes temporais; – diferentes conceitos de documento; – sujeitos e suas experiências, numa perspectiva de diversidade; – formas de problematização em relação ao passado; – condições de elaborar conceitos que permitam pensar historicamente; e – a superação da ideia de História como verdade absoluta (SEED, 2006, p.29).
Novas informações são importantes, mas não só. Outras visões também o
são. Outras perspectivas, outras análises. Isso é importante, pois possibilitará que
os alunos possam analisar, questionar e selecionar, dentre tantas possibilidades
aquelas que os ajudarão a entender melhor sua história e a de seu país.
Diante disto, para possibilitar uma alternativa na compreensão do processo
histórico, o ensino de História precisa deixar de ser tradicional e incorporar outras
fontes de informações e outras metodologias no seu dia a dia escolar.
Os diferentes jogos foram elaborados, visando atender as necessidades do
nível de ensino (6ª série) e uma maior exploração da possibilidade de se empregar o
lúdico no ensino de história.
Após a aplicação do primeiro jogo, partiu-se para a construção do segundo
jogo chamado “Quilombo”, um jogo de cartas com perguntas e respostas, contendo
também cartas estratégicas, confeccionado em papel cartão fornecido pelo Colégio.
As perguntas desse jogo foram elaboradas pela professora tendo por base os textos
estudados e discutidos pelos alunos durante os encontros semanais.
O jogo “Quilombo” foi utilizado com muito interesse pelos alunos, eles
sentiram-se valorizados por estar usando um material feito por eles, que contemplou
perfeitamente o assunto em estudo, contribuindo assim para a sua aprendizagem,
percebendo que através do uso do lúdico tornou-se atraente e de fácil compreensão.
Na imagem a seguir podemos observar uma das alunas trabalhando e
envolvida na confecção do jogo Quilombo.
Imagem 7: Confecção do jogo Quilombo
Fonte: ZANOTTO, 2011
Após a confecção do jogo, o mesmo foi utilizado pelos alunos participantes
da implementação como forma de compreender e rever a história do quilombo
através do uso do lúdico, contribuindo assim para que eles valorizassem a história e
cultura afro-brasileira brincando, conforme observa-se a seguir:
Imagem 8: Utilização do jogo Quilombo
Fonte: ZANOTTO, 2011
Figura 9: Professora e alguns alunos na Implementação
Fonte: ZANOTTO, 2011
Dando continuidade aos trabalhos iniciou-se a produção de textos pelos
alunos, onde através da escrita pessoal os mesmos demonstraram uma grande
assimilação do conteúdo trabalhado, produzindo textos coerentes e interessantes,
contemplando o Quilombo de Palmares de forma muito clara, dando ênfase ao que
motivou a sua criação, construção e concretização, bem como sua existência por um
longo período e o legado deixado para as gerações posteriores.
Tendo como base a produção de texto dos alunos elaborou-se de forma
coletiva uma cruzadinha a ser preenchida sem consulta e individualmente, sendo
resolvida por eles sem a menor dificuldade.
Para encerrar a Implementação foi realizado com a turma um Fórum de
discussão, onde foram expostos os vários elementos que fizeram parte da história
de Palmares. Suas formas de resistência aos seus algozes, a formação do
Quilombo, visto como pioneiro em organização e resistência a escravidão e
atualmente como símbolo para a formação da consciência negra no Brasil.
Durante o período de realização do Programa houve um momento de troca
de experiências e formação continuada através de um trabalho de tutoria com os
professores da rede estadual, no ambiente de aprendizagem virtual e-
escola/MOODLE, no qual foram contempladas três temáticas. Estas, fizeram parte
das atividades do Programa, com acompanhamento e desenvolvimento de um curso
à distância.
Na primeira temática ocorreram dois Fóruns e um Diário, sendo o primeiro
de apresentação dos professores participantes contendo informações tais como,
identificação, formação acadêmica, experiência profissional, assim dispostas as
informações ao grupo de trabalho, conheceu-se um pouco o perfil dos participantes.
O segundo Fórum tinha por objetivo promover uma discussão sobre o projeto de
Intervenção Pedagógica, para que houvesse interação entre os participantes e tutor,
o que contribuiu para a ampliação das ideias relacionadas à temática proposta. No
Diário os participantes individualmente colocaram suas impressões sobre o projeto,
sendo essa atividade visualizada somente pelo tutor. As considerações feitas foram
muito boas, mostraram-se favoráveis e ressaltando a pertinência e a viabilidade da
proposta no âmbito escolar, o que podemos observar a seguir em partes de algumas
falas de colegas professores de área que participaram do curso on-line:
O tema do seu trabalho é de grande importância para a educação e para o povo brasileiro, em especial, aos negros do nosso país. O que me levou a escolher este tema é a possibilidade de, na interação entre o grupo, eu possa assimilar novos conhecimentos, que me permitam, aprimorar meu conhecimento sobre o tema. Uma vez que os nossos livros didáticos abordam de maneira bastante superficial a temática e cabe aos professores, buscar mais informações em pesquisas e leituras sobre o assunto. Considero essa temática bem atual, tanto que aparecem nos cursos de formação oferecidos pela SEED e há uma cobrança bem acentuada, pois vejamos o exemplo da equipe multidisciplinar nas escolas, é praticamente um substituto dos antigos grupos de estudos por disciplina. (A.N.)
Acho importante a discussão sobre o livro didático, é claro que os encaminhamentos são muitos mas, cabe a nós professores esclarecer e evidenciar os estudos sobre os quilombos. Através de análises, podemos observar que os povos oprimidos, principalmente o caso do tema proposto, o Quilombo de Palmares, não foram passivos e sim, lutaram pela sua liberdade e o direito de cidadania. Sabemos que muitos não usufruíram porque sofreram torturas e perderam suas vidas, mas contribuíram para a construção na formação e no direito de ser cidadão. Dessa maneira podemos fazer com que muitos alunos eliminem o preconceito que ainda é muito saliente em nossa sociedade. (L.S.R.F.)
Professora interessante a proposta. Os livros didáticos tratam o tema de forma superficial. Analisar o processo de resistência em Palmares vai muito além da resistência à escravidão, mas trata-se também de uma resistência ao próprio sistema colonial português, a valorização da cultura, da etnia, da diversidade da autodeterminação dos povos. (S.N.R.)
Na segunda temática também composta de um Fórum onde os professores
deveriam postar suas observações referentes à Produção Didático-Pedagógica e
ainda interagir com os demais colegas. As discussões foram excelentes, todos foram
favoráveis ao uso do lúdico em sala de aula e salientaram a sua importância, pois as
atividades lúdicas permitem a integração e interação do conhecimento com ações
práticas, estimulando o processo de aprendizagem. Ainda dentro da segunda
temática havia novamente um Diário, esse relacionado as considerações sobre a
Produção Didático-Pedagógica, sendo que as análises dos participantes foram
positivas, pois perceberam que o material produzido pode ser utilizado em qualquer
conteúdo de todas as disciplinas tanto do ensino Fundamental como no Médio.
Seguem abaixo, algumas falas de professores participantes do curso on-line:
Ao analisar sua Produção Didática Pedagógica, conclui que ela é muito boa mesmo, pois as atividades lúdicas permitem a integração e interação do conhecimento com ações práticas, estimulando o processo de aprendizagem. A brincadeira, no panorama sócio-histórico é um tipo de atividade social humana com características que tem condições de trabalhar nesse contexto da Cultura Afro-Brasileira e outros conteúdos permitindo aos alunos respeitar limites, socializar explorando sua criatividade, interagindo e aprendendo a pensar, isso é fundamental. (E.A.S.S.)
É importante ressaltar que a atividade lúdica representa outras formas de apresentarmos conhecimento sistematizado aos nossos alunos, ou seja, de uma forma prazerosa. Sendo assim, é de grande importância sua produção didática Pedagógica, com a intenção de superar o espaço limitado que os livros didáticos proporcionam para a questão de Palmares. É muito importante pensarmos em atividades que possibilitem aos nossos alunos uma aproximação maior do conhecimento histórico, principalmente do tema em questão. Esse tipo de atividade visa transformar a sala de aula em um espaço de interações e trocas de conhecimento. (C.S.V.)
Na terceira temática, dois Fóruns foram apresentados, sendo o primeiro para
socializar com os participantes os avanços e desafios enfrentados durante a fase de
Implementação Pedagógica, onde foi discutido as experiências e os resultados
observados no desenvolvimento do projeto na escola. O segundo Fórum chamado
Vivenciando a prática foi utilizado para que os participantes apresentassem um
relato de experiência pedagógica trabalhado por eles em suas escolas ou a
aplicação de um dos jogos apresentados pelo tutor.
Mesmo com o curto tempo disponível para esse trabalho, o GTR foi um
momento rico de troca de experiências, ideias e discussões e o mais importante, a
interação com outros professores de várias cidades do estado do Paraná.
A partir de uma revisão do conhecimento histórico contido nos livros
didáticos analisados, a leitura e análise do livro de Luiz Galdino, foi possível uma
aproximação muito grande com a história de Palmares, sendo assim viável criar
condições que possibilitem o aprofundamento da cultura africana e afro-brasileira e a
construção de uma cultura harmônica entre brancos e negros.
Todo povo negro representa sua luta histórica e marcante pelo fim da
escravidão não só no passado, mas também no presente, uma escravidão sentida
em palavras, gestos e olhares sobre o negro.
Considerações Finais
Através de todo esse estudo sobre Palmares os alunos minimizaram as suas
dificuldades, as leituras, as reflexões e debates, assim como a confecção e o uso
dos jogos contribuíram em muito para despertar uma consciência crítica, que
certamente contribuirá para a valorização do nosso povo afrodescendente.
É importante, porém observar que a Implementação de um projeto é um dos
passos a serem dados para que as dificuldades da turma escolhida sejam resolvidas
a contento, nada é definitivo.
Podemos ver através de pesquisas atualizadas que crianças e adolescentes
apresentam maneiras diferenciadas de aprender história, conforme nos mostra
Barca:
Por isso, é pertinente desde cedo, na educação histórica, a exploração de ideias mais elaboradas que o simples repasse de conteúdos substantivos. Os professores de História devem preparar-se para esse desafio. Se considerarmos que a aprendizagem é contextualizada socialmente, as experiências, o enfoque e os métodos de ensinar afetam necessariamente o nível de pensamento histórico. (BARCA, 2006, p. 108)
Evidencia-se então que isso foi comprovado através dos resultados obtidos
nesta Implementação, pois as aulas ficaram mais atrativas e envolventes e por
consequência os alunos mais curiosos, desenvolvendo um censo crítico e tornando-
se mais motivados para trabalhar na construção do conhecimento.
Vale lembrar também que não existe livro que substitua o professor em sala
de aula e que o sucesso dessa metodologia depende basicamente de nós.
A aplicação das atividades durante a Implementação exigida como tarefa
integrante do processo de formação em rede pela SEED aos alunos da série
escolhida, possibilitou-nos novas ferramentas pedagógicas que contribuíram para a
valorização da História e Cultura Afro-brasileira e Africana, uma vez que esse povo
tem grande participação na formação da nossa história.
No decorrer das atividades, contatou-se um despertar nos alunos, pois estes
perceberam a relação importante de Palmares em sintonia com as lutas e anseios
dos afrodescendentes em nosso país hoje.
A partir de um estudo do conhecimento histórico produzido nos livros
didáticos, juntamente com a literatura específica, está sendo possível criar
condições que possibilite um aprofundamento da história Afro-Brasileira e a
construção de uma cultura sem discriminação que possibilite um convívio
harmonioso e um maior respeito e valorização desse povo.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica. 11ed. São Paulo. Edições Loyola, 2003, p.31.
BARCA, Izabel. Literacia e Consciência histórica. In. Educar em Revista, Curitiba Ed. UFRR, 2006 (nº especial)
BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em Preto e Branco. 3ed. São Paulo: Editora Ática, 2005, p.73.
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Lei n.10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p.1, 10 jan.2003.
CARDOSO, Oldimar Fontes. História Hoje. São Paulo. Editora Ática, 2006, p.123. FILHO, Ivan Alves. Memorial dos Palmares. 2ed. Brasília: Fundação Astrogildo Perreira, Editorial Abaré, 2008, p. 41, 85
FONSECA, Maria Nazareth Soares (Org.). Brasil afro-brasileiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
FREITAS, Décio. Palmares a Guerra dos escravos. 5ed. Rio de Janeiro. Edições Graal, 1990, p.210.
FUNARI, Pedro Paulo; CARVALHO, Aline Vieira de. Palmares, ontem e hoje. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p.24.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: História. Paraná: SEED, 2008.
PILETTI, Claudino. Didática Geral. 23ed. São Paulo: Ática, 2003, p.154.
PILETTI, Nelson, PILETTI, Claudino, TREMONTE, Thiago. História e Vida Integrada. 4ed. São Paulo: Àtica, 2009, p. 190-192.
PROJETO ARARIBÁ: História, Obra coletiva. (Org.) Maria Raquel Apolinário. 2ed. São Paulo: Moderna, 2007. REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos. Liberdade por um fio. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.9, 23.
TEIXEIRA, Carlos A Ludicidade na Escola. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p.23. ZANOTTO, Ana Maria Varela Martins. Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola. Dois Vizinhos (PR), 2011.