o uso de elementos culturais iranianos no design de … · 2020. 6. 30. · brincos de ouro,...
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE ARTES/ DEPARTAMENTO DE DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN
O USO DE ELEMENTOS CULTURAIS
IRANIANOS NO DESIGN DE PRODUTOS
MAHSHID GHASEMI BOROON
-Brasilia, 2019-
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
DEPARTAMENTO DE DESIGN
O USO DE ELEMENTOS CULTURAIS IRANIANOS NO
DESIGN DE PRODUTOS
MAHSHID GHASEMI BOROON
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE DESIGN DA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A
OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE..
APROVADA POR:
_________________________________________
DIANNE MAGALHÃES VIANA, D.Sc. (ENM/UnB)
(ORIENTADORA)
_________________________________________
SÉRGIO ARAÚJO DE SÁ, D.Sc. (FAC/UnB)
(EXAMINADOR EXTERNO)
_________________________________________
ANA CLÁUDIA MAYNARDES, D.Sc. (DIN/UnB)
(EXAMINADORA INTERNA)
_________________________________________
NAYARA MORENO DE SIQUEIRA, D.Sc. (DIN/UnB))
(EXAMINADORA INTERNA SUPLENTE)
DATA: BRASÍLIA/DF, 29 DE NOVEMBRO DE 2019.
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Ficha catalográfica elaborada automaticamente, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
GuGhasemi Boroon, Mahshid O Uso de Elementos Culturais Iranianos no Design deProdutos / Mahshid Ghasemi Boroon; orientador Dianne magalhães viana. -- Brasília, 2019. 110 p.
Dissertação (Mestrado - Mestrado em Design) --Universidade de Brasília, 2019.
1. Design baseado na Cultura . 2. CulturaIraniana. 3. Camadas Culturais. 4. Qui-quadrada. I.magalhães viana, Dianne , orient. II. Título.
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iii
DEDICATÓRIA
Para meu amor, Nima, sou eternamente grata por me ajudar e tornar possível o meu mestrado.
Para meu amiguinho e amor, Ariu, nosso menino, que está chegando e tornará nossa vida
mais significativa e bonita.
Por último, mas não menos importante, aos meus pais, Ebrahim e Shamsi, que sempre são
meus apoiadores.
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iv
AGRADECIMENTOS
Foi uma grande honra fazer parte do Departamento de Design da Universidade de Brasília.
Assim, gostaria de expressar minha gratidão especial pela ajuda que recebi dos professores.
À professora Dianne Magalhães Viana, minha orientadora, pela amizade, assistência e outras
qualidades que contribuíram muito para o desenvolvimento desta dissertação.
Aos nossos amigos, Ronaldo e Dzhamilya, que são nossas famílias no Brasil.
À coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Design, professora Daniela Fávaro
Garrossini e ao secretário Rodrigo A. de Souza, que sempre foram muito atenciosos e
pacientes comigo.
Às minhas grandes amigas, Viviane, Yanet, Bianca, Jéssica e Laísa, por estarem ao meu lado.
À minha irmã, Shahrzad e à minha cunhada, Banafsheh, por me ajudarem e me
acompanharem.
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v
RESUMO
A cultura pode ser definida como um conjunto de elementos geográficos, tradicionais,
espirituais e religiosos que as pessoas compartilham em uma comunidade. Assim, está
conectado com a própria identidade deles e desempenha um papel significativo em suas vidas
diárias. Quando se trata do design de produtos, esses elementos podem ser ferramentas
poderosas nas mãos dos designers para tornar um produto mais comunicativo e conectado à
sociedade-alvo.
Existem vários estudos focados no design com base na cultura e como elementos
culturais e tradicionais podem ser usados para obter um design bem-sucedido. Norman
(2004) propusera procedimento através do qual um designer pode considerar a cultura no
design dos produtos. Neste estudo, um experimento foi realizado para avaliar seu
procedimento.
Os produtos projetados com base nas diferentes camadas da cultura foram capazes de
descrever como as pessoas se comunicam com um produto e o escolhem. No experimento, a
população estatística escolheu os produtos com base nos aspectos estéticos (design visceral),
pois os produtos foram projetados usando os elementos de uma comunidade estrangeira (Irã).
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vi
ABSTRACT
The culture can be defined as a set of geographical, traditional, spiritual, and religious
elements that people share in a community. Thus, it is connected with the very identity of
them and plays a significant role in their daily lives. When it comes to the design of products,
these elements could be powerful tools in the hand of designers to make a product more
communicative and connected to the target society.
There are various studies focused on the cultural-based design and how cultural and
traditional elements could be used to achieve a successful design. Norman (2004) proposed a
procedure through which a designer can consider the culture in designing the products. In this
study, an experiment was carried out to evaluate his procedure.
The products designed based on the different layers of culture were able to describe
how people communicate with a product and choose it. In the first experiment, the statistical
population chose the products based on the aesthetical aspects (Visceral design) since the
products were designed using the elements of a foreigner community (Iran).
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vii
Sumário
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1
OBJETIVOS .......................................................................................................................... 6
ESTRUTURA DE PESQUISA.............................................................................................. 6
1. DESIGN E CULTURA...................................................................................................... 7
1.1. RELAÇÃO ENTRE DESIGN E CULTURA ................................................................. 8
1.2. A INFLUÊNCIA DA CULTURA NO DESIGN DE PRODUTOS ............................. 10
1.3. CONEXÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDOR .................................................. 12
2. IRÃ , HISTÓRIA E CULTURA ...................................................................................... 17
2.1. IRÃ OU PÉRSIA ...................................................................................................... 17
2.2. A HISTÓRIA E A CULTURA DO IRÃ ..................................................................... 21
2.2.1. A história ................................................................................................................ 21
2.2.2. A cultura................................................................................................................. 23
2.2.3. Elementos da cultura iraniana ................................................................................ 24
2.3. SÍMBOLOS DA CULTURA DO IRÃ ......................................................................... 36
2.3.1. Flor de lótus ........................................................................................................... 37
2.3.2. Árvore da vida........................................................................................................ 38
2.3.3. Cipreste .................................................................................................................. 39
2.3.4. Boteh Jegheh (caxemira, paisley) .......................................................................... 40
2.3.5. Arabesco e khataei ................................................................................................. 41
2.3.6. Caligrafia, miniaturas e dança ................................................................................ 46
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viii
3. MÉTODO ....................................................................................................................... 47
4. RESULTADOS ............................................................................................................... 51
3.1. LEVANTAMENTO ..................................................................................................... 51
3.1.1. Flor de lótus ........................................................................................................... 51
3.1.2. Árvore da vida........................................................................................................ 54
3.1.3. Cipreste .................................................................................................................. 56
3.1.4. Paisley (boteh jeghe).............................................................................................. 58
3.1.5. Arabesco e khataei ................................................................................................. 63
3.1.6. Caligrafia, miniaturas e dança ................................................................................ 68
3.2. EXPERIMENTO .......................................................................................................... 71
5. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 88
5.1. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ....................................................... 90
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 91
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ix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. DIAGRAMA DO MODELO DO CIRCUITO DA CULTURA (DU GAY,
1997). ............................................................................................................................... 12
FIGURA 2. TRÊS CAMADAS E NÍVEIS DE OBJETOS CULTURAIS E
CARACTERÍSTICAS DE DESIGN (LIN, 2007). .......................................................... 15
FIGURA 3. O MAPA DO IRÃ. ............................................................................................. 19
FIGURA 4. QANAT: (A) ESQUEMA DO QANAT, (B) VISTA PLANA DO QANAT, (C)
CANAL DO QUANAT. .................................................................................................. 20
FIGURA 5. O MUNDO IRANIANO. .................................................................................... 21
FIGURA 6. IMPÉRIO PERSA DE CIRO, O GRANDE. ...................................................... 23
FIGURA 7. CANOS DE CERÂMICA USADOS PARA O ABASTECIMENTO DE ÁGUA.
.......................................................................................................................................... 27
FIGURA 8. CHOGHA ZANBIL ZIGGURAT: (A) VISTA ATUAL E (B) VISTA
RECONSTRUÍDA. .......................................................................................................... 28
FIGURE 9. APADANA: (A) VISTA ATUAL E (B) VISTA RECONSTRUÍDA. ............... 29
FIGURA 10. PALÁCIO DE CTESIFONTE: (A) VISTA ATUAL E (B) VISTA
RECONSTRUÍDA. .......................................................................................................... 29
FIGURA 11. USO DO PÓRTICO E DA CÚPULA: (A) GRANDE MESQUITA DE
ISFAHAN, (B) PRAÇA DE NAQSH-E JAHAN E (C) MESQUITA DO SHAH. ........ 32
FIGURA 12. ARQUITETURA ISLÂMICA: (A) TAJ MAHAL NA ÍNDIA, (B) GRANDE
MESQUITA DE CAIRUÃO NA TUNÍSIA E (C) TRIBUNAL DE LEÕES NA
ESPANHA. ...................................................................................................................... 33
FIGURA 13. PINTURA MURAL: (A) PALÁCIO DE CHEHEL SOTOUN, (B) PALÁCIO
DE HASHT BEHESHT E (C) PALÁCIO DE ĀLĪ QĀPŪ. ............................................ 35
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FIGURA 14. MINIATURA PERSA: (A) UMA FOLHA DO BAYSONGHOR
SHAHNAMEH (1430), (B) CONSELHOS DO ASCETA POR KAMĀL UD-DĪN
BEHZĀD (1500) E (C) UMA CENA DE BATALHA DO BAYSONGHORI
SHAHNAMEH (1430). ..................................................................................................... 1
FIGURA 15. UM REVELO QUE MOSTRA O FUSO NA MÃO DE UM HOMEM
(TASLIMI ET AL., 2015). .............................................................................................. 24
FIGURA 16. TAPETE PAZYRYK. ....................................................................................... 25
FIGURA 17. TAPETES PERSAS: (A) TAPETE ARDABIL E (B) ARABESCO1 E
KHATAEI2 EM DESIGN DE TAPETE PERSA (TASLIMI ET AL., 2015). ................ 25
FIGURA 18. TAÇA DE CERÂMICA ENCONTRADA EM SUSA, QUE REMONTA A
CERCA DE 4000 AC (TASLIMI ET AL., 2015 ). ......................................................... 26
FIGURA 19. UTENSÍLIOS DE CERÂMICA QUE REMONTAM A 1000 A.C. (TASLIMI
ET AL., 2015 ). ................................................................................................................ 27
FIGURA 20. PRATO ZARRIN FAAM COM DESENHO DE PLANTAS. ......................... 27
FIGURA 21. AZULEJOS DE SETE CORES NA MESQUITA SHEIKH LOTFOLLAH.... 28
FIGURA 22. INSTRUMENTOS DE CORDAS: (A) BARBAT, (B) ROBAB, (C) HARPA
E (D) MOSAICO DO PERÍODO DE SASSÂNIDA (260 DC) ENCONTRADO EM
BISHAPUR QUE MOSTRA A HARPA. ....................................................................... 29
FIGURA 23. DANÇAS TRADICIONAIS: (A) SAMA, (B) QASEM ABADI, (C) CURDA,
(D) BAKHTIARI E (E) BALUCHI. ................................................................................ 31
FIGURA 24. UM PEDAÇO DE EPIGRAFIA EM PERSÉPOLIS EM ESCRITA
CUNEIFORME................................................................................................................ 32
FIGURA 25. ESCRITA: (A) CÚFICO, (B) NASKH, (C) TAʿLĪQ E (D) NASTA'LIQ. ...... 33
FIGURA 26. ARTE FEIRA EM METAL: (A) CINTURÃO DE OURO, ZIWIYE HOARD,
CURDISTÃO, PRIMEIRO MILÉNIO A.C., (B) CARRUAGEM DE OURO,
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TESOURO OXUS, ARTE MEDIEVAL, 1º MILÊNIO A.C., (C) TAÇA DE OURO,
KELARDASHT, 1º MILÊNIO A.C., (D) CONJUNTO DE PULSEIRAS, COLARES,
BRINCOS DE OURO, SÉCULO VI A.C., (E) UMA TIGELA DE OURO E PRATA
COM UMA CABRA NO MEIO (247 A.C.) E (F) JARRO DE PRATA, SÉCULO VI. 35
FIGURA 27. REPRESENTAÇÃO DE FLORES DE LÓTUS NOS MONUMENTOS DE
PERSÉPOLIS. ................................................................................................................. 38
FIGURA 28. REPRESENTAÇÃO DA ÁRVORE DA VIDA EM PRATO DE PRATA DO
PERÍODO SASSÂNIDA. ................................................................................................ 39
FIGURA 29. CIPRESTE DE ABARKUH. ............................................................................ 40
FIGURA 30. SÍMBOLO DE CIPRESTE NOS MONUMENTOS DE PERSÉPOLIS. ......... 40
FIGURA 31. ARTE DO PERÍODO SASSÂNIDA: (A) ÁRVORE DA VIDA EM TAQ-E
BOSTAN, (B) FLOR DE LÓTUS, ARABESCO E KHATAEI EM CURVAS
REGULARES NA BANDEJA DE PRATA NO MUSEU HERMITAGE, (C)
ARABESCO E KHATAEI EM UM PETRÓGLIFO EM TAQ-E BOSTAN. ................ 44
FIGURA 32. (A) ARABESCO E (B) KHATAEI (FLOR DO SHAH ABBASI). ................. 44
FIGURA 33. ARABESCO E KHATAEI EM CONJUNTO NOS DESIGNS
TRADICIONAIS DO IRÃ. ............................................................................................. 45
FIGURA 34. ABÓBADA DA MESQUITA DE SHEIKH LOTFOLLAH EM ISFAHAN
COM DESIGN DO ARABESCO E DO KHATAEI. ...................................................... 45
FIGURA 35. EXEMPLOS ENCONTRADOS EM ENDEREÇOS ELETRÔNICOS EM
PERSA: PULSEIRA E COLAR E DE COBRE. ............................................................. 52
FIGURA 36. EXEMPLO DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA FLOR DE LÓTUS EM
TAPETE ENCONTRADO EM ENDEREÇO ELETRÔNICO EM PERSA. ................. 53
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xii
FIGURA 37. EXEMPLOS ENCONTRADOS EM ENDEREÇOS ELETRÔNICOS EM
PORTUGUÊS: (A) PINGENTE DE PRATA, (B) BRINCOS DE OURO, (C) COLAR
DE PRATA E (D) ANEL DE PRATA. ........................................................................... 53
FIGURA 38. EXEMPLOS DE ÁRVORE DA VIDA ENCONTRADOS EM ENDEREÇOS
ELETRÔNICOS EM PERSA: (A) PULSEIRA, (B) PATEH DE LÃ, (C) COLAR E (D)
PINGENTE E (E) QUADRO COM RELEVO. .............................................................. 55
FIGURA 39. EXEMPLOS DE ÁRVORE DA VIDA ENCONTRADOS EM ENDEREÇOS
ELETRÔNICOS EM PORTUGUÊS: (A) PULSEIRA, (B) BRINCOS, (C) SUPORTE,
(E) COLAR DE OURO (F) QUADRO COM PINTURA LAQUEADA. ...................... 56
FIGURA 40. USO DO CIPRESTE COMO ELEMENTO DE DESIGN: (A) ALMOFADA,
(B) BOLSA, (C) A MINIATURA PERSA (OS AMANTES AO LADO DO CIPRESTE)
NO MUSEU DE BELAS ARTES DE BOSTON, (D) PINTURA MODERNA, (E)
TAPETE, (F) QASHANI NA PAREDE DO JARDIM DE SHAZDEH. ........................ 58
FIGURA 41. EXEMPLOS DO USO DE PAISLEY ENCONTRADOS EM ENDEREÇOS
ELETRÔNICOS PESQUISADOS EM PERSA: (A) PRATOS DE CERÂMICA, (B)
SAPATO, (C) CAIXA PARA JÓIAS COM KHĀTAM, (D) RELÓGIO DE PAREDE
COM ESMALTE VIDRADO, (E) PINGENTE DE JOIAS COM KHĀTAM, (F)
BOLSA COM TERMEH, (G) GRAVATA E GRAVATA BORBOLETA DE
TERMEH. ........................................................................................................................ 60
FIGURA 42. EXEMPLOS DO USO DE PAISLEY EM ENDEREÇOS ELETRÔNICOS
PESQUISADOS EM PORTUGUÊS : (A) SAPATO, (B) COPO DE VELA, (C)
VESTIDO DE SEDA, (D) JAQUETA DE TERMEH, (E) CADEIRA DE TECIDO, (F)
CAIXA DE PRESENTE. ................................................................................................. 62
FIGURA 43. IMAGENS DE PRODUTOS COM APLICAÇÃO DO ARABESCO E DO
KHATAEI PESQUISADAS NOS ENDEREÇOS ELETRÔNICOS EM PERSA: (A)
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xiii
BOLSA, (B) LENÇO, (C) ABAJUR, (D)TAÇA, (E) PRATO DECORATIVO, (F)
TAPETE E (G) PINGENTE. ........................................................................................... 66
FIGURA 44. IMAGENS DO USO DE ARABESCO E KHATAEI PESQUISADAS NOS
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS EM PORTUGUÊS: (A) PRATOS, (B) CUBA DE
APOIO, (C) POLTRONA, (D) CÔMODA, (E) VESTIDO E (F) ANEL. ...................... 67
FIGURA 45. IMAGENS DO USO DE SHEKASTEH NASTAʿLĪQ APLICADO NOS
PRODUTOS: (A) MESA DE CAFÉ, (B) RELÓGIO DE PAREDE, (C) LÂMPADA DE
MESA E (D) ESPELHO DE PAREDE; USO DE MINIATURA: (E) BOLSA E (F)
GARRAFA DE CHAMPANHE; USO DE DANÇA: (G) COLAR E BRINCOS E (H)
ESCULTURA ROTATIVA EM CERÂMICA. .............................................................. 71
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xiv
LISTA DE TABELAS
QUADRO 1. PERÍODOS DA HISTÓRIA ANTIGA DO IRÃ E INFLUÊNCIAS NAS
RELIGIÕES E ARTES. ................................................................................................... 25
QUADRO 2. PADRÕES GRÁFICOS SELECIONADOS PARA O PRIMEIRO
EXPERIMENTO: (A) MINIATURA E CALIGRAFIA, (B) CALIGRAFIA E (3)
PAISLEY. .......................................................................................................................... 1
TABELA 3. RESULTADOS ESTATÍSTICOS DOS QUESTIONÁRIOS DE GRUPO DE
DESIGN. .......................................................................................................................... 80
TABELA 4. RESULTADOS ESTATÍSTICOS DOS QUESTIONÁRIOS DE GRUPO DE
TECNOLOGIA. ............................................................................................................... 80
TABLE 5. RESULTADOS ESTATÍSTICOS DOS QUESTIONÁRIOS DOS DOIS
GRUPOS JUNTOS. ......................................................................................................... 81
TABELA 6. RESULTADOS ESTATÍSTICOS DOS QUESTIONÁRIOS DE GRUPO DE
HOMENS. ........................................................................................................................ 81
TABELA 7. RESULTADOS ESTATÍSTICOS DOS QUESTIONÁRIOS DE GRUPO DE
MULHERES. ................................................................................................................... 81
TABELA 8. RESULTADOS ESTATÍSTICOS RELACIONADOS À INFLUÊNCIA DE
EMOÇÕES PROFUNDAS NA ESCOLHA DE ITENS DO GROUPO DE DESIGN. . 85
TABELA 9. RESULTADOS ESTATÍSTICOS RELACIONADOS À INFLUÊNCIA DE
EMOÇÕES PROFUNDAS NA ESCOLHA DE ITENS DO GROUPO DE
TECNOLOGIA. ............................................................................................................... 86
TABELA 10. RESULTADOS ESTATÍSTICOS RELACIONADOS À INFLUÊNCIA DE
EMOÇÕES PROFUNDAS NA ESCOLHA DE ITENS DOS DOIS GRUPOS JUNTOS.
.......................................................................................................................................... 87
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1
INTRODUÇÃO
Toda nação possui seu arcabouço cultural único e rico, que é um valioso recurso de
inspiração. O design baseado nos elementos culturais e tradicionais pode resultar em um
processo que leva à inovação, dando uma nova visão aos elementos culturais e tornando-os
capazes de produzir novos projetos que possam ser abraçados culturalmente e esteticamente
pelas pessoas.
Devido à sua longa história de civilização e cultura, o Irã tem uma alta capacidade de
influenciar as tendências globais. Entre os aspectos culturais, a civilização iraniana sempre
esteve presente no mundo constituindo-se um efeito notável essa capacidade da cultura
iraniana de se preservar, seja por meio da língua persa, dos costumes e dos rituais que
influenciaram outras nações (SAUNDERS, 2001; AZARNOUSH, 1975).
O uso de elementos culturais para agregar valor extra a um produto pode, além de
beneficiar o crescimento econômico, promover uma cultura local e única no mercado global
(LEONG & CLARK, 2003; LEE, 2004). No entanto, em se tratando de diferentes culturas,
deve-se encontrar conexões entre esses valores.
Cultura tem um significado abrangente que pode ser entendido como um conjunto de
valores, hábitos, tradições e elementos geográficos e religiosos que estão moldando o
cotidiano das pessoas em uma sociedade. Quando se trata da influência da cultura nos
designers e, consequentemente, nos produtos que eles projetam, fica muito complicado
avaliar essa influência, pois a cultura é algo embutido em sua identidade muito pessoal.
Tanto para designers quanto para consumidores, a cultura pode desempenhar um
papel essencial em suas decisões diárias. Assim, uma melhor compreensão da cultura e sua
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2
influência no design pode ser significativamente benéfica para produzir produtos capazes de
fazer sentido e estabelecer conexões com a sociedade.
Segundo da Cunha (2009, pp. 354 e 355),
... o termo "cultura", em seu uso antropológico, surgiu na Alemanha
setecentista e de início estava relacionado à noção de alguma qualidade
original, um espírito ou essência que aglutinaria as pessoas em nações e
separaria as nações uma das outras. (...) essa originalidade nasceria das
distintas visões de mundo de diferentes povos.
A autora destaca nessa noção de cultura, o sentido de autoria intrínseca desses povos,
a qual ainda permanece nos dias de hoje.
Sendo assim, Sato e Chen (2008) afirmam que a cultura é um fenômeno multifacetado
que é feito de pensamentos, sentimentos e estilos de vida em uma comunidade. Pode-se dizer
que cada sociedade encontra sua própria cultura única e se apresenta a outras sociedades.
"Culturas diferentes podem ser distinguidas pelas suas características
individuais e de grupo, ou seja, os modelos mentais, padrões
comportamentais, respostas emocionais, estética, regras, normas e valores
que os membros do grupo compartilham. Culturas diferentes, portanto,
produzem diferentes artefatos e ambientes baseados em suas características
culturais. Por outro lado, os artefatos, através das interações das pessoas
com eles, influenciam as culturas e podem até mesmo produzir uma nova
cultura." (SATO E CHEN, 2008, p.1 tradução).
Para entender o significado versátil e multifacetado da cultura, os pesquisadores
devem concordar em duas premissas; primeira, a cultura cria diversidade e variedade e,
segunda, a cultura aparece naturalmente em todos os comportamentos humanos (DAHL,
1999).
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3
Papanek (1985) afirma que todos os homens são de alguma forma designers o que
pode significar que cultura e design estão estreitamente ligados; assim, o estudo da interação
entre cultura e design é inevitável.
Para Moalosi, Popovic e Hickling-Hudson (2008, p. 176) a cultura "é naturalmente
revelada em toda ação humana, incluindo os produtos que as pessoas projetam". Nesse
sentido, eles apontam uma relação entre cultura e design, lembrando também que a
civilização foi estudada com base na evolução dos objetos tendo em vista os atributos
culturais incorporados nesses objetos.
Cavalcanti (2001) define o conceito de cultura em duas partes. Uma parte é chamada
de cultura material, que inclui todas as objetivações materiais (artefatos), e a outra é chamada
de cultura não material, que inclui todas as maneiras emocionais, intelectuais e práticas que
são aprovadas pela próprias sociedade. Nesse sentido, um produto pode ser entendido como
uma coleção de características estéticas e simbólicas. Sendo assim, no seu design, pode-se
envolver os valores estéticos dos usuários e o valor histórico nos produtos para se obter o
apreço cultural.
Se os produtos são projetados com base nas aspectos culturais de cada sociedade,
podem constituir uma experiência sensorial entre o consumidor e o produto (MOALOSI,
2008; GUTIERREZ, 2011). Embora, quando se trata do uso de elementos culturais no design,
não se trata apenas de cultura, mas também do uso da cultura como inspiração para a
criatividade no design e envolve a pesquisa de raízes culturais, materiais e métodos de
produção diferenciados e identificação de atributos que possam ser incorporados a este
produto.
Montaña (2004) acredita que a existência de valores culturais em produtos leva a
estimular o sentimento do consumidor e consequentemente leva a aumentar o grau de
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4
reconhecimento e consciência do consumidor sobre o produto. Para criar uma concorrência
entre produtos, a formação desse tipo de relação emocional entre o consumidor e o produto
pode ser necessária.
O problema deste estudo seria definido da seguinte forma:
Os produtos sempre carregam algumas características que foram inseridas por seus
designers para torná-los capazes de fazer conexões com os consumidores. No que diz respeito
ao design do produto e à variedade e diversidade de elementos que poderiam ser usados
neles, o mercado não representa adequadamente os diferentes elementos tradicionais e
culturais.
Em outras palavras, os produtos sofrem com design uniforme; por exemplo, no Irã e
no Brasil, podem ser encontrados produtos com designs semelhantes, o que poderia significar
que nesses produtos os elementos culturais não são evidentes.
Os produtos podem ser "embaixadores" de sua comunidade de origem se eles
carregam elementos geográficos, tradicionais e culturais e, consequentemente, fazem com
que pessoas de todo o mundo possam se comunicar por meio deles.
O design sempre busca uma melhor comunicação com os consumidores, o que
implica que a interação entre produtos e consumidores é importante. Esses consumidores
podem pertencer a diferentes comunidades, mas vivem com suas próprias tradições e
culturas; assim, os elementos culturais e tradicionais podem ser ferramentas essenciais para
que os designers interajam melhor com seus usuários. Assim, uma melhor compreensão das
interações entre cultura e design e como elas desempenham seus papeis no cotidiano das
pessoas seria benéfica para produzir um produto de sucesso.
Mas será que o uso de elementos de uma cultura, no design de produtos, a qual seja
pouco conhecida dos consumidores, ocasionará a aceitação desses produtos por eles? A
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5
cultura iraniana de fato é pouco conhecida pelos brasileiros. Pode-se dizer que à exceção dos
famosos tapetes persas, conhecidos no mundo inteiro, e do uso do véu islâmico, pouco se
sabe sobre a cultura iraniana e é incerto que os brasileiros saibam diferenciá-la da cultura dos
demais países de origem islâmica.
De acordo com a questão mencionada acima, a hipótese deste projeto é definida da
seguinte forma: se os designers prestarem mais atenção a cultura e usá-la em seus modelos
para projetar cada produto, o produto final terá mais sucesso devido às interações emocionais
com consumidores.
Com base nessa hipótese, este estudo visa investigar as influências de aspectos
relacionados aos elementos de tradições e culturas iranianas no design de produtos e o reflexo
dessas influências nos indivíduos. Questões relacionadas a experiências sensoriais entre o
consumidor e o produto e o uso de atributos culturais no design de produtos para obter
sucesso em atrair consumidores serão avaliadas.
Para tanto, é necessário primeiramente descrever a cultura iraniana e os aspectos
dessa cultura no design de produtos. Dessa forma, é mais fácil identificar os produtos
comercializados no Brasil que possuam elementos culturais iranianos. Um levantamento dos
produtos comercializados no Irã e também de produtos que tenham claramente elementos
culturais iranianos no Brasil fornecerá o ponto de partida para o estudo acerca de sua
aceitação pelos consumidores.
Este trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória cuja estrutura geral é baseada em
uma abordagem qualitativa e quantitativa. Para avaliar sua hipótese, serão utilizados estudos-
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6
piloto com base em questionários. A informação qualitativa recebida por meio de
questionários é analisada quantitativamente por um software estatístico SPSS1.
OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho consiste em analisar o uso de elementos relacionados
a aspectos culturais iranianos no design de produtos.
Os objetivos específicos incluem:
▪ Descrever a cultura iraniana e os seus principais símbolos;
▪ Realizar um levantamento de produtos que possuam elementos da cultura
iraniana;
▪ Verificar de que forma elementos gráficos com base em símbolos da cultura
iraniana podem afetar o interesse por um produto;
ESTRUTURA DE PESQUISA
Esta pesquisa está dividida em cinco capítulos: o primeiro capítulo discute os
conceitos de design e cultura, a influência da cultura no design de produtos e a conexão entre
produto e consumidor. O segundo capítulo mostra uma revisão da literatura do estudo, que
consiste em a história e cultura do Irã e elementos da cultura iraniana. O terceiro capítulo
apresenta a metodologia. O quarto os resultados da pesquisa, coleta e analise os dados. O
quinto capítulo descreve os resultados do trabalho realizado.
1 SPSS é um software aplicativo (programa de computador) do tipo científico. Originalmente o nome era
acrónimo de Statistical Package for the Social Sciences - pacote estatístico para as ciências sociais, mas na
atualidade a parte SPSS do nome completo do software (IBM SPSS) não tem significado (Wikipédia, a
enciclopédia livre).
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7
Capítulo 1
1. DESIGN E CULTURA
Ao considerar o design como um conceito ou como uma prática a partir de uma
perspectiva histórica, é possível concordar com a opinião de Gerhard Heufler (2004), que
afirmou que o design começou quando tudo começou. No princípio, Deus criou ou “projetou”
o céu e a terra, e então, em seguida, tudo o que Ele pôde encaixar nesse contexto (Heufler,
2004, p. 5). O design é tão antigo quanto a civilização humana (ABDELRAZIK, 2015),
podendo-se inferir, apoiando-se na literatura, que o design começou quando o homem
começou a fazer ferramentas, nesse sentido, Papanek (1985) considera que todos os homens
são designers.
Tudo o que fazemos, quase todo o tempo, é design, pois o design é básico para toda a
atividade humana. O planejamento e padronização de qualquer ato em relação a um fim
desejado e previsível constitui o processo de design. Qualquer tentativa de separar o design,
para torná-lo uma coisa por si, contraria o valor inerente do design como a principal matriz
subjacente da vida. Encontra-se o design na composição de um poema épico, na execução de
uma pintura mural, na pintura de uma obra-prima, na composição de um concerto. Mas o
design também está na limpeza e reorganização de uma gaveta da escrivaninha, ao se reparar
um dente impactado, ao se assar uma torta de maçã, ao se escolher os lados para um jogo de
beisebol e ao se educar uma criança. Design é o esforço consciente para impor uma ordem
significativa (PAPANEK, 1985).
Não há dúvida de que o design envolve pessoas em todos os lugares em casa e no
trabalho, no lazer e na oração, nas ruas e em espaços públicos. Por causa disso, há um fluxo
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interminável de publicações dedicadas ao significado, à prática e à importância do design
(BÜRDEK, 2005, p. 11).
O termo "design" é amplamente utilizado em uma variedade de fontes e múltiplos
significados, seja como produto final ou como um processo. Esse processo pode ser criativo
ou cognitivo-perceptual. O termo “design do produto” refere-se especificamente ao design de
um produto físico. Revistas, edifícios, sites podem ser produtos de design. O design é um
processo interdisciplinar, que visa melhorar a forma e o estilo feitos pelo homem,
identificando o melhor valor e desempenho para eles. Design como um processo, refere-se a
um conjunto de decisões conscientes tomadas pelos designers.
Desta forma, designers são aqueles que moldam valores e ideias na formação física
dos produtos. Esse conjunto de valores e ideias, que geralmente são determinados por fatores
que estão fora do escopo do projeto, podem influenciar os designers. Esses fatores podem ser
nomeados como fatores sociais, culturais, econômicos, tecnológicos, políticos e legais
(EFSTATHIOU, 1994).
A maioria das definições que envolvem o termo "design" compartilha três recursos:
primeiro, refere-se a um processo, em segundo lugar, é um processo proposital e em terceiro
lugar, centra-se em resolver problemas, atender às necessidades, melhorar as condições e
criar algo novo ou útil. Heskett (2002) afirma que o design é a capacidade humana para
atender às nossas necessidades, dando sentido a nossas vidas e moldando e construindo nosso
ambiente.
1.1. RELAÇÃO ENTRE DESIGN E CULTURA
Os primeiros vínculos entre design e cultura tornaram-se aparentes no domínio da
antropologia social, onde a civilização foi avaliada através da evolução dos objetos e foi
traçada através das características culturais deixadas nesses objetos.
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"Os conceitos de cultura e design estão entrelaçados, portanto as modificações
decorrentes da evolução cultural refletem e determinam os desenvolvimentos no design"
(MOALOSI, POPOVIC & HICKLING-HUDSON, 2010). A cultura gera diversidade e é
naturalmente revelada em toda ação humana, como os produtos que as pessoas projetam
(MOALOSI et al., 2005).
Porém, não há um arcabouço teórico sólido que vincule o design e a cultura (SAHA,
1998; KERSTEN et al., 2000). Tal arcabouço é necessário e precisa ir além da consideração
das manifestações superficiais da cultura que foram amplamente aceitas nas metodologias de
projeto e deve abordar como os componentes centrais da cultura podem ser incorporados ao
projeto de produtos. Isso desafia os projetistas a obterem uma compreensão mais profunda da
cultura dos usuários, mas a incorporação de fatores culturais no desenvolvimento de novos
produtos não é um assunto direto e ainda se constitui em uma área pouco pesquisada
(TAYLOR et al., 1999).
Uma questão importante a ser considerada é a de que é quase impossível para o
designer de produto ignorar a sua própria cultura. Entenda-se cultura, neste contexto, no seu
sentido antropológico, como o conjunto da cultura material e imaterial que identifica uma
determinada comunidade. É impossível para os designers despojarem-se de sua própria
cultura, pois a cultura é o meio pelo qual eles interagem. O conjunto de normas, valores,
opiniões e comportamentos constituem a vida cotidiana e a cultura dos usuários. Pode-se
argumentar que, se os valores e as normas diferirem, os projetistas devem certificar-se de que
as características e benefícios do produto estão adaptados a esses valores (MOALOSI, 2008).
Pode ser mencionado que os designers precisam reconhecer que as pessoas são seres
culturais e que o processo de integração de fatores culturais em sua prática deve ser
enfatizado. O design está firmemente inserido na cultura do usuário: ele não ocorre em um
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vácuo cultural (MARGOLIN, 2002). Os usuários não são apenas seres físicos e biológicos,
mas seres socioculturais (BAXTER, 1999; DE SOUZA e DEJEAN, 1999).
Os conceitos de design e cultura se complementam e um é inconcebível sem o outro.
Portanto, o design não ocorre isoladamente, mas está embutido na cultura dos usuários. Os
designers precisam estar atentos à interdependência entre design e cultura, pois isso pode
capacitá-los a melhorar seus conceitos ao responder adequadamente às necessidades,
vontades e desejos dos usuários. No entanto, observou-se que há pouca pesquisa aprofundada
sobre esse tópico (MOALOSI et al., 2005).
1.2. A INFLUÊNCIA DA CULTURA NO DESIGN DE PRODUTOS
Cada nação possui seu arcabouço cultural único e rico, que é um valioso recurso de
inspiração. O design baseado nos elementos culturais e tradicionais pode resultar em um
processo que leva à inovação, dando uma nova visão aos elementos culturais e tornando-os
capazes de produzir novos projetos que possam ser abraçados culturalmente e esteticamente
pelas pessoas. O uso de recursos culturais como tradições para agregar valor extra a um
produto pode não apenas beneficiar o crescimento econômico, mas também promover uma
cultura local única no mercado global (LEONG & CLARK, 2003; LEE, 2004).
Quando se trata do produto cultural, ele abrange um conceito amplo de estudos
culturais, assim como o escopo de design para esses produtos é muito amplo e aberto. Os
produtos culturais podem ser concebidos de forma a transmitir com eficácia conceitos,
significados, símbolos e até estilos de vida.
Kazemi e Shakiba (2014) afirmam que, do ponto de vista psicológico, a criatividade é
a criação de uma coisa a partir de algo mais de uma maneira única ou o uso de habilidades
mentais para criar um novo pensamento ou conceito. Portanto, projetar um produto como
uma atividade inovadora pode produzir um produto cultural, pode-se dizer que qualquer
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produto cultural é considerado o resultado da criatividade do seu designer. Eles podem fazer
parte da cultura ou até criar uma nova cultura. Os comentários de Vihma (1995) sobre objetos
que são usados como lembranças e presentes reforçam essa questão:
Lembranças e presentes são exemplos de produtos cujo valor funcional é de
importância secundária (pelo menos ao dar e ao lembrar). Por exemplo, lembranças
geralmente têm um significado simbólico muito significativo que também é descrito
nos estudos de Paulsson. O valor funcional (ou o que quer que esteja relacionado a
funções técnicas) pode ser completamente escondido, pois um objeto semelhante à
Torre Eiffel aponta para as memórias de viagem de Paris, enquanto ao mesmo
tempo pode ter um mecanismo dentro dele como um apontador de lápis. O valor
funcional secundário pode ocasionalmente ser uma explicação das razões para a
escolha do material e mecanismo envolvidos nos produtos que servem como
lembranças (VIHMA, 1995, p. 60).
Em contraste, há uma série de produtos de engenharia e objetos do cotidiano que têm
um valor muito mais proeminente do que sua contribuição cultural.
No entanto, esses objetos projetados podem às vezes mudar sua natureza e se
tornarem símbolos de uma época e de uma geografia social. Um exemplo disso foram as
caixas de correio vermelhas da Rainha Vitória no Reino Unido, concomitantes com o 150º
aniversário do Royal Post Service (WARREN, 1978, p. 54). Depois de todos esses anos, o
UK Post conquistou uma posição muito significativa, tanto como produto de arte (cultural)
quanto de design.
Outro exemplo parte do estudo de Du Gay et al. (1997), que revisaram os indicadores
de produtos culturais para delinear o conceito de produtos culturais. Para tanto, examinaram
o uso do tocador de música Sony (Walkman). para mostrar que os produtos culturais estão
relacionados a um conjunto de comportamentos sociais (ouvir walkman em particular ou em
lugares públicos), que é uma característica da cultura, da forma da vida, de um grupo
particular de pessoas e lugares, de um certo tempo.
Os estudos de Hall (1997) e Du Gay (1997) contribuíram para uma melhor
compreensão do significado e importância da produção de artefatos no contexto dos
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fenômenos culturais. Para avaliar como um artefato poderia produzir um significado que
pudesse afetar seus usuários, eles propuseram um modelo analítico baseado no Circuito de
Cultura (Figura 1). O Circuito da Cultura possibilita organizar questões socioculturais
(WOODWARD et al., 1997) por meio de um gráfico de cinco vértices: representação,
identidade, produção, consumo, regulamento. Por meio deste modelo, Hall e Du Gay
(...) aprofundam a análise dos principais elementos que estão presentes nos processos culturais, desde a produção dos artefatos culturais até as representações
que lhes são associadas, as identidades produzidas a partir de tais representações, o
modo como os artefatos culturais são consumidos e, por fim, os mecanismos de
poder que regulam a sua produção, distribuição e consumo (ZUBARAN,
WORTMANN & KIRCHOF, 2016, p.15).
Fonte: Du Gay, 1997.
Figura 1. Diagrama do modelo do Circuito da Cultura (DU GAY, 1997).
1.3. CONEXÃO ENTRE PRODUTO E CONSUMIDOR
Os objetos podem provocar reações emocionais e, deste modo, os sentimentos
desempenham um papel importante na criação de produtos. Ao se considerar o design
emocional, há um grande potencial para a combinação de ciência e arte. Experimentos que
envolvem varreduras do cérebro podem mostrar as reações de um design privilegiado e
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criativo causam. Ao levar em conta as emoções como um critério para influenciar o design de
artefatos, a "beleza" de um objeto e o prazer que este proporciona ao usuário podem ser
fatores que, associados, proporcionam algum tipo de satisfação nas pessoas e se constui em
modo de projetar (JABBARI E MOHAMMAD ZADEH, 2017).
Os artefatos em torno das pessoas, queiram ou não os seus criadores, podem despertar
nelas algum tipo de emoção (DESMIT et al., 2009). Nesse sentido, as emoções podem
desempenhar um papel importante no design de produtos. Norman (2004) declarou três níveis
de processo de reconhecimento do consumidor em relação aos produtos: visceral,
comportamental e reflexivo, e também a profundidade da conexão emocional de cada um
desses níveis que pode ser formada entre o consumidor e o produto. Esses três níveis estão
ligados entre si, de modo que em um produto não se pode considerar faltando um deles. Em
outras palavras, todos esses três níveis são de particular importância, influenciando no
reconhecimento e nas emoções de consumidores, ou seja, um engajamento, ao proporcionar
neles uma interação efetiva, profunda e agradável.
No nível visceral, o reconhecimento mais simples e mais básico é criado pelos cinco
sentidos e pode ser moldado: os sentimentos são desencadeados por olhar, cheirar, tocar,
ouvir ou provar e, sendo assim, podem definir a aparência, a forma e o material que são
percebidos pelos cinco sentidos. O nível comportamental diz respeito aos efeitos emocionais
positivos ou negativos que os artefatos podem causar nos consumidores devido aos seus
desempenho, eficiência e compreensão.
O nível reflexivo se refere às memórias afetivas e associações mais relacionada com
experiência, aprendizado e educação, em comparação com a camada anterior, causando uma
maior variedade de efeitos emocionais. Embora nos âmbitos visceral e comportamental,
existam efeitos emocionais, apenas no terceiro nível (nível reflexivo), esses efeitos são
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acompanhados por conhecimento, interpretação e compreensão e, consequentemente, tornam-
se mais profundos. Somente neste nível, as emoções mais profundas podem ser estimuladas e
evidenciadas. O nível de reconhecimento reflexivo, em geral, é o mais vulnerável e
diversificado porque está diretamente ligado à experiência, diferenças pessoais, memórias,
cultura e educação. É neste nível de reconhecimento que as diferenças e crenças culturais das
pessoas se evidenciam e também podem despertar emoções profundas e positivas nos
consumidores (NORMAN, 2004).
É perceptível a falta de visão quanto à importância de se considerar os aspectos
culturais no design de produtos, enquanto estes podem desencadear emoções e causar
interações agradáveis entre produto e consumidor. Resolver este problema, requer uma
compreensão profunda das experiências, memórias, cultura, crenças dos consumidores e,
consequentemente, a consideração adequada destes aspectos no design. Na falta dessa
profundidade de compreensão a interação entre consumidor e produto permanece no nível
visceral e comportamental considerando conexões emocionais (LIN, 2007). A Figura 2
apresenta um framework proposto por Lin (2007) para estudo de características de design de
objetos culturais por meio da relação entre os níveis de processo de reconhecimento do
consumidor definidos por Norman (NORMAN, 2004) e os níveis de cultura definidos por
Leong e Clark (2003) como "tangíveis", "comportamentais" e "intangíveis" em que a cultura
é classificada em três camadas. Nesta figura, observa-se que as interações reflexivas
retratadas por "design reflexivo" estão diretamente relacionadas ao nível intangível que, por
sua vez, está relacionado às camadas mais profundas da cultura.
Com isso, Lin exemplifica, em seu trabalho, a aplicação do framework no
desenvolvimento de objetos culturais com base em elementos de uma cultura específica e, a
partir disso, define um modelo de desenvolvimento de produtos culturais por meio de um
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processo de repensar as características culturais para criar um novo produto capaz de
satisfazer os consumidores por meio de aspectos culturais e estéticos.
Figura 2. Três camadas e níveis de objetos culturais e características de design (LIN, 2007).
Existem duas interpretações da globalização da cultura e seu impacto: A primeira
concepção é que uma cultura supera outras culturas. Portanto, a globalização da cultura
significa a criação de uma cultura inclusiva para todas as nações. A segunda concepção é que,
em face da globalização, muitas culturas locais podem florescer porque a globalização
fornece um espaço onde características da cultura nacional ou local se tornam mais
proeminentes e se estendem para além dos limites de seu território original. Portanto,
globalização não significa perda de culturas locais, mas desaparecimento de fronteiras
artificiais (ARDALAN, 2000; NADERPOUR, 2003).
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Deste modo, em se tratando de um mercado global, um dos benefícios do uso de
produtos baseados em elementos culturais é que os consumidores têm a oportunidade de usar
os produtos que representam tradições de sua comunidade, favorecendo uma sensação de
satisfação e orgulho. Além disso, esses produtos podem ser fundamentais para melhorar as
condições econômicas desta comunidade. Através do uso de matérias-primas e os
especialistas de uma região pode-se chegar ao surgimento de uma nova indústria e à
prosperidade das condições de trabalho e economia dessa sociedade, o que pode ser
considerado um sucesso comercial (GUTIERREZ, 2011).
Devido à sua longa história de civilização e cultura, o Irã possui um potencial para
gerar ideias e influenciar as tendências globais. Entre os aspectos culturais, a civilização
iraniana sempre esteve presente no mundo, demonstrando a capacidade de preservar a língua
persa, os costumes e os rituais que influenciaram outros povos no passado. Em particular
pode-se citar, por exemplo, o caso de mongóis e gregos influenciados pela língua, cultura e
arte iranianas após a invasão do Irã (SAUNDERS, 2001; AZARNOUSH, 1975).
Considerando a principal questão deste estudo, que é aprofundar o contexto cultural e
as crenças e tradições de um país no design de produtos, no capítulo de metodologia
(Capítulo 3), serão explicitados os experimentos que buscam comprovar a hipótese do estudo
e atingir os objetivos. No Capítulo 5, são apresentados os resultados de uma pesquisa de
imagens de produtos relacionados a elementos culturais iranianos para se compreender como
estes elemetos estão incorporados no design de produtos. A hipótese do Norman será usada
para avaliar as respostas dos consumidores aos produtos baseados nas crenças e tradições
culturais.
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Capítulo 2
2. IRÃ , HISTÓRIA E CULTURA
2.1. IRÃ OU PÉRSIA
O Irã é um país de longa história, terra antiga de enorme variedade na natureza, história, arte
e arquitetura, idiomas, literatura e cultura. A literatura persa é um dos elementos essenciais da
história e cultura iranianas. A contribuição mais considerável do Irã para a civilização é o
produto coletivo de numerosos poetas e escritores persas. A poesia persa, em particular,
famosa em todo o mundo através das obras de Rumi, Hafiz, Khayyam, Ferdowsi e Sa'di, é
um dos mais importantes legados poéticos da humanidade. A arquitetura iraniana, antiga e
medieval, representada por monumentos históricos como Persépolis e a Mesquita
Congregacional de Isfahan, é um dos legados culturais mais significativos do mundo. A
identidade persa distinta pode ser observada em seus desenhos em mosaico, miniatura e
pintura para mais de mil artes visuais. Os tapetes persas em sua grande variedade são as obras
de arte mais avançadas e mais requintadas de sua espécie. Isso não esgota a lista de
conquistas iranianas, mas é suficiente para demonstrar a variedade, originalidade e
antiguidade do Irã como uma grande civilização.
Os britânicos chamam o Irã de 'Persia', os franceses, de 'Perse', os alemães, de 'Persien'.
Quando os gregos (dos quais descendem civilizações européias) se depararam com os
iranianos, os persas governavam aquele país como o império persa. Em recente uso ocidental,
a palavra "farsi" tem sido usada alternativamente para o idioma persa. No Irã, as pessoas
usam a palavra "farsi" para nomear o idioma "persa".. O farsi, ao contrário do persa, não
provoca nenhum significado histórico ou cultural para as pessoas em todo o mundo, de modo
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que a "literatura farsi" passe a ser tão estranha que torna-se difícil para as pessoas identificá-
la (KATOUZIAN, 2009).
A Pérsia é uma vasta região no Irã e os persas são as pessoas que vivem nesta região. Por
outro lado, tal designação pode assumir um significado mais considerável do que Irã, porque
está associado à lembrança do império persa, que incluía um território muito mais extenso do
que o atual Irã. A "Pérsia" permaneceu como o termo europeu para o Irã até 1935, quando o
governo iraniano insistiu que todos os países deveriam oficialmente chamar o país de Irã.
Mas a "Pérsia" sobreviveu em uso não oficial até que a revolução de 1979 estabeleceu o "Irã"
em aplicação universal. Ainda assim, para muitos ocidentais, a "Pérsia" tem uma conotação
histórica e cultural muito mais ampla do que a transmitida pelo "Irã", que às vezes
costumavam confundir com o Iraque. Muitos não sabem que Irã e Pérsia se referem ao
mesmo país, acreditando que o Irã também seja um país árabe (KATOUZIAN, 2009).
O Irã é parte do muito maior planalto iraniano, o qual faz parte do império persa. O país é
vasto, maior que a Grã-Bretanha, a França, a Espanha e a Alemanha juntas. É acidentado e
árido e, com exceção de duas regiões de planície, é formado por montanhas e desertos.
Existem duas grandes cadeias montanhosas, o Alborz (Elburz) no norte, que se estende do
Cáucaso no noroeste a Khorasan no leste, e os Zagros, que se estendem do oeste ao sudeste.
Os dois grandes desertos, Dasht-e Kavir e Dasht-e Lut, ambos no leste, são praticamente
inabitáveis. As duas áreas de várzea são o litoral do Cáspio, que está abaixo do nível do mar,
tem um clima subtropical e é denso com florestas tropicais, e a planície do Khuzistão no
sudoeste, que é uma continuação das terras férteis da Mesopotâmia e é regada pelo único
grande rio do Irã, o Karun (Figura 3).
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Fonte: https://www.worldatlas.com/webimage/countrys/asia/iran/irland.htm
Figura 3. O mapa do Irã.
Assim, a terra é abundante, mas a água é escassa, ao contrário de um país como a Holanda,
onde a terra é escassa e a água é abundante. A escassez de água tem desempenhado um papel
importante não só em influenciar a natureza e o sistema da agricultura iraniana, mas também
vários fatores sociológicos fundamentais, incluindo as causas e a natureza dos estados
iranianos e a relação entre o Estado e a sociedade. A extensão da montanha e do deserto
dividiu naturalmente a população iraniana em grupos relativamente isolados. Mas a aridez
desempenhou um papel ainda maior nisso, e no nível das menores unidades sociais. Na maior
parte do país, o cultivo arável e a manutenção do gado só eram possíveis quando a água da
chuva natural, um pequeno riacho, um canal de água subterrânea, conhecido como qanat, ou
uma combinação desses fornecesse o suprimento mínimo necessário de água. Qanat ou kariz
(Figura 4) é um engenhoso desenvolvimento tecnológico dos tempos antigos, que remonta a
muito antes da fundação do império persa. De um lençol freático subterrâneo existente no
planalto, um túnel é cavado sob o solo, descendo até a planície (perto das fazendas vizinhas),
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onde ele chega à superfície. A água que flui da fonte pela força da gravidade é então
distribuída por canais estreitos até onde é necessária para irrigação e outros fins
(GIRSHMAN, 1961; KATOUZIAN, 2009).
Fonte: https://fa.wikipedia.org
(a)
Fonte:https://www.parsine.com
Fonte:https://www.isna.ir
(b) (c)
Figura 4. Qanat: (a) Esquema do qanat, (b) vista plana do qanat, (c) canal do quanat.
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2.2. A HISTÓRIA E A CULTURA DO IRÃ
2.2.1. A história
Originalmente, os iranianos eram mais uma etnia do que uma nação, sendo os persas
apenas um povo entre muitos iranianos. Além do país que hoje é chamado Irã, Afeganistão e
Tadjiquistão também pertencem à entidade iraniana mais ampla em termos históricos e
culturais, e a região de influência cultural iraniana é ainda mais ampla do que a soma desses
três países, estendendo-se a partes do norte da Índia, Uzbequistão, Turcomenistão, Cáucaso e
Anatólia: isso é agora descrito como o mundo iraniano (Figura 5).
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Greater_Iran#/media/File:Greatesiranmap.gif
Figura 5. O mundo iraniano.
Além do persa, existem outros idiomas como pashto, ossétio e curdo, bem como
alguns idiomas não-iranianos, como o árabe e o turco, que são usados em algumas partes do
Persia
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Irã. Por outro lado, no Tajiquistão e no Afeganistão, as pessoas falam persa e seu sotaque é
diferente, mas as pessoas nesses países se entendem. Além disso, no Irã, existem muitos
outros dialetos persas como Bakhtiari, Bandari (AHMADI, 2004; KATOUZIAN, 2009).
O Irã é muito mais antigo que seus três milênios de história escrita. Estudos
arqueológicos apontaram que a civilização no Irã possui milhares de anos. Mitos e lendas
ricos, complexos e elaborados se desenvolveram naqueles períodos anteriores, antes que os
medos fundassem o primeiro império iraniano, que por sua vez foi derrubado e substituído
pelo primeiro grande império mundial, fundado pelo persa iraniano Ciro, o Grande (Figura
6).
Em termos de localização geográfica, o Irã é chamado de Encruzilhada da História
(conector leste-oeste) que está localizada na confluência dos três continentes, no caminho das
rotas comerciais (a Rota da Seda) e entre as grandes civilizações (da China e Roma), de tal
forma que isso levou o povo iraniano a sempre se deparar com o grego e o árabe, o turco e o
tártaro. As guerras contemporâneas com seus vizinhos ilustram a importância do papel
geopolítico e sensível do Irã ao longo da história. Por essa razão, a identidade iraniana
sempre esteve em oposição ao estrangeiro, portanto, é natural que os confrontos militares
tenham proporcionado trocas culturais. Por outro lado, a diversidade das condições climáticas
do planalto iraniano levou a uma cultura diversificada e até a falta de uniformidade da face
iraniana (ZARRINKUB, 1985; SAFA, 1971; KATOUZIAN, 2009).
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23
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9rsia
Figura 6. Império persa de Ciro, o Grande.
2.2.2. A cultura
A cultura iraniana difundiu conhecimento, sabedoria, tradição e literatura durante
séculos. O povo iraniano tem sido construtor e protetor de sua cultura ao longo da história e a
cultura iraniana protegeu a etnia e a estabilidade do Irã e dos iranianos porque o modo de
diferenciação de cada nação em relação a outros grupos étnicos depende de sua cultura.
De acordo com Vesajoki (2002, p. 9-10) a palavra cultura vem do latim, cultura ou
cultus. Cultus significa cultivar. Antes da Revolução Industrial, o significado original de
cultus estava intimamente ligado ao cultivo de solo, o que significava a tendência de
crescimento natural, como plantas ou animais "agri-cultura" (por isso o nosso termo
"agricultura"). Quando aplicado o significado aos homens, passou a compreender o processo
de desenvolvimento humano, como treinamento e crescimento (para mais detalhes, ver
VESAJOKI, 2002).
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24
Geert Hofstede (2010, p. 6) afirma que “a cultura é sempre um fenômeno coletivo,
porque é pelo menos parcialmente compartilhada com pessoas que vivem ou vivem dentro do
mesmo ambiente social”. Cultura se aplica muito sobre grupos, e uma necessidade básica de
grupos é ser capaz de se comunicar, tanto no âmbito superficial (para o qual a linguagem
comum é suficiente) quanto no sentido mais profundo de significado. Nesse contexto mais
profundo, palavras, ações e coisas podem ficar imbuídas de um significado especial e
específico para o grupo, por exemplo:
• Obra de arte e artefatos que simbolizam e lembram o grupo de sua história;
• Rituais para saudações, reuniões, punições e outros processos de grupo;
• Um jargão e linguagem específicos do grupo, por exemplo, descritores depreciativos
de pessoas de fora;
• Pessoas e funções que ajudam a compartilhar.
2.2.3. Elementos da cultura iraniana
O Irã tem sido em sua história como uma terra de múltiplas culturas, um território
diversificado de nações, etnias, idiomas e rituais. Mesmo com a segregação étnica, o
intercâmbio cultural contínuo com os países vizinhos tornou a cultura iraniana diversificada e
colorida, o que pode ser visto em todas as manifestações culturais, incluindo arquitetura,
poesia, arte e música no Irã.
A cultura iraniana atual é resultado da influência de três elementos principais, a
cultura persa (antiga cultura iraniana), a cultura islâmica e a modernidade (MOFTAKHARI,
2013), de modo que o impacto desses elementos nos vários aspectos da vida iraniana pode ser
sentido.
A seguir, serão descritos elementos da cultura classificados de acordo com os
seguintes tópicos: literatura, arte, arquitetura, pintura, malharia, olaria e qashmi, música,
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25
dança, caligrafia, arte com metal, crenças e religião. Antes, porém, é apresentado o Quadro 1,
de modo a esclarecer os períodos da história antiga iraniana e suas influências nas religiões e
nas artes mencionados nestes tópicos.
Quadro 1. Períodos da história antiga do Irã e influências nas religiões e artes.
Períodos Religiões Artes
Império Aquemênida
(550–330 a.C.) Zoroastrianismo
Arquitetura (palácio e túmulo), talha
(coluna, gravura, epigrafia e escultura),
moldagem, trabalho do metal,
cunhagem, tijolo vitrificado, tricô,
música
Império Parta
(247 a.C.-224 d.C.)
Politeísta, mitraísmo
zoroastrianismo,
judaísmo e cristianismo
Arquitetura e planejamento urbano,
construção de cúpulas, decorações
arquitetônicas (escultura, gesso,
pintura), trabalho do metal, cunhagem,
jóias, cerâmica, caixão, roupas, artes
cênicas, música, literatura épica, escrita
pahlavi
Império Sassânida
(Persa)
(224–651)
Zoroastrianismo,
judaísmo, cristianismo,
Budismo e Hinduísmo
Arquitetura e desenvolvimento urbano,
construção de cúpulas, decorações
arquitetônicas (escultura, reboco,
pintura, trabalho em mosaico), pintura e
encadernação, trabalho do metal,
cunhagem, jóias, cerâmica, vidraria,
roupas, tecelagem e tricô
Fonte: A autora.
Literatura: A língua e a literatura iraniana não são apenas em persa, e o que é conhecido
como língua e literatura persa faz parte da língua e literatura iraniana. Ao considerar obras
escritas , são contabilizados cerca 3.000 anos de história da literatura iraniana (SAFA, 1971).
Uma das obras literárias mais valiosas da cultura e da literatura persa pode ser encontrada em
um livro chamado Shahnameh (em português: "Épica dos Reis"), pelo escritor iraniano Abu
al-Qasim Ferdowsi (ca. 940 - ca. 1020). A obra dele é um dos maiores poemas épicos do
mundo, com cerca de 60.000 dísticos, que levou pelo menos 30 anos de trabalho contínuo
para ser finalizada. O conteúdo deste livro inclui mitos, lendas e heróis do Irã, bem como sua
história desde o início até a conquista muçulmana da Pérsia. O livro é dividido em três partes:
mítica, marcial e histórica. O Shahnameh foi escrito quando a língua do conhecimento e da
literatura no Irã foi mudada para árabe.
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26
O objetivo de Ferdowsi era manter viva a língua e a cultura persa, e é por isso que o
Shahnameh é uma das obras mais importantes da poesia persa. Nos últimos séculos, algumas
das histórias de Shahnameh foram traduzidas para o alemão, o inglês e o francês, sendo a
tradução deste último idioma era a mais fiel ao texto original. Louis-Mathieu Langlès,
Jacques Wallenbourg e Julius von Mohl traduziram o Shahnameh para o francês. Mas Julius
von Mohl foi o único que conseguiu traduzir o livro inteiro em prosa francesa em 40 anos
(ZANDI, 2014). Sem dúvida, a literatura é um dos maiores recursos da cultura persa que
tomou forma também a partir dos trabalhos de Caiam (1048 – 1131), Nezami (1141 – 1209),
Attar (1145 - 1221), Rumi (1207-1273), Sa'adi (1210 - 1291) e Hafez (1310 - 1390) e vários
outros poetas.
Arte: A arte iraniana pode ser dividida em diferentes partes, como arquitetura, pintura
(miniatura), tricô, olaria, música, dança, caligrafia e indústria metalmecânica.
Arquitetura: Dieulafoy (1884 e 1913 apud KADOI e SZÁNTÓ, 2013) afirmou que a
maioria das artes da Península Ibérica medieval foi inspirada e derivada de Sassânida
(império persa). Vale a pena citar o primeiro parágrafo na sua totalidade (DIEULAFOY,
1913, p.4, tradução da autora):
Pode parecer estranho que a história da arte de Espanha e Portugal deva começar em
território iraniano, na época dos sassânidas, e que o estudo das mesquitas primitivas
sirva como um prefácio ao das igrejas ocidentais. Espero, no entanto, mostrar no
decurso dos três primeiros capítulos que a Pérsia não foi apenas a fonte de inspiração
da arquitetura de Muçulmanos e da chamada arquitetura mudéjar da Espanha, mas
que desempenhou um papel importante e bem definido na elaboração dos temas
religiosos que chegaram às Astúrias, Castela e Catalunha após a expulsão dos
invasores e foram aclimatados na França em um período posterior pelos beneditinos.
Se quisermos falar sobre a mais antiga arquitetura iraniana, podemos citar as
descobertas da Shahr-e Sūkhté (A Cidade Queimada) em Sistão como uma das civilizações
mais prósperas do sudeste do Irã. A história desta cidade remonta a 3200 a.C. Nesta área, as
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27
casas eram feitas em forma de escadas, cobertas com lama e materiais calcários, assim como
grandes canos de cerâmica usados para o abastecimento de água (Figura 7).
Fonte: Taslimi et al., 2015.
Figura 7. Canos de cerâmica usados para o abastecimento de água.
As obras da arquitetura elamita2 representam a evolução da arquitetura do Oriente
Médio, com seus materiais importantes sendo o tijolo e o adobe. O templo Chogha Zanbil
Ziggurat3 (Figura 8) pode ser considerado como a maior obra de arquitetura desta civilização,
bem como a maior alvenaria do mundo e o mais antigo edifício iraniano. Pela primeira vez na
arquitetura do Irã, baseando-se em técnicas avançadas de envidraçamento, foi usado o azulejo
para decoração. Além disso, na entrada do templo, existem estreitas barras de vidro fosco que
poderiam ser consideradas a primeira aplicação de vidro na história da arquitetura mundial.
As portas de madeira do edifício estavam cobertas com decorações de vidro, ouro, marfim e
prata na forma de mosaico4.
2 Elam é o nome de uma civilização que abrangeu uma grande parte do sudoeste do planalto iraniano e remonta
ao terceiro milênio aC. 3 Um templo em forma de torre com vários andares é conhecido como Zigurate. 4 Um mosaico é uma obra de arte ou imagem feita a partir da montagem de pequenos pedaços de vidro colorido,
pedra ou outros materiais. É frequentemente usado em arte decorativa ou como decoração de interiores.
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28
Um dos indicadores da arquitetura tradicional iraniana é o edifício do tipo coluna que
pode ser considerado como representativo de práticas modernas na arquitetura da região. As
características gerais observadas pelos historiadores da arte aquemênida5 são: a atenção à
arquitetura simétrica e sua grandeza e às imagens dos animais, a atenção e o respeito pela
suprema personalidade humana (considerando o homem como o ser mais respeitoso da terra),
bem como o uso simultâneo do naturalismo (em desenho de flores, plantas e animais) e
abstracionismo6 (pássaros fictícios e manifestações sagradas). Compreendendo um conjunto
de elementos claros, simples, elegantes, precisos e equilibrados em sua expressão artística. A
Figura 9 mostra o Palácio Apadana no Período Aquemênida (KADOI, 2016; TASLIMI et al.,
2015).
Fonte: https://www.otaghkhabar24.com
Fonte: https://www.iranbomgardi.com
(a) (b)
Figura 8. Chogha Zanbil Ziggurat: (a) vista atual e (b) vista reconstruída.
5 O Império Aquemênida foi o Primeiro Império Persa fundado no século VI a.C. por Ciro, o Grande. 6 Uma espécie de obra artística sem imitação do mundo real e da natureza.
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Fonte: https://www.eghamat24.com
Fonte: Taslimi et al., 2015
(a) (b)
Figure 9. Apadana: (a) vista atual e (b) vista reconstruída.
Nos períodos seguintes, enormes salões e colunas gradualmente perderam sua importância. A
arquitetura se transformou com as invenções de varanda (iwan), domo e arco. A construção
de edifícios em forma de cúpula sem colunas foi mais considerada em comparação com
períodos anteriores. Foram usados cascalhos, pedras, lama e adobe em seus materiais. Taq
Kasra, que é uma parte do palácio de Ctesifonte7 (Figura 10) perto de Bagdá (atual capital
iraquiana) é um dos edifícios construídos no período Sassânida8.
Fonte: http://www.irannaz.com
Fonte: Taslimi et al., 2015
(a) (b)
Figura 10. Palácio de Ctesifonte: (a) vista atual e (b) vista reconstruída.
7 A cidade de Ctesifonte, localizada perto da atual cidade de Bagdá, foi construída pelo Parta e era a capital dos
impérios Parta e Sassânida. 8 O Império Sassânida foi o último Império Persa pré-islâmico.
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O conjunto de arquitetura islâmica está diretamente enraizado nas tradições
sassânimes, de modo que, depois de Sassânida, alguns dos palácios e templos passaram a ser
mesquitas sem nenhuma mudança. Um dos exemplos mais proeminentes disso é o Taq Kasra
em Ctesifonte, bem como a construção de um túmulo em forma de cúpula que tem raízes em
templos de fogo9 sassânimes (KADOI, 2016; TASLIMI et al., 2015).
A maior mudança que ocorreu na era islâmica em relação à decoração consistiu na
remoção dos elementos figurativos humanos e animais no início deste período. É claro que
isso começou primeiramente na era de Sassânida. Após esse período, o uso de desenhos de
humanos e animais passou a ser cada vez menor.
Decorações islâmicas do Irã feitas por artistas, como estuque, alvenaria e qashani, às
vezes com aplicação separada, e às vezes em combinação entre si, criaram uma aparência
harmoniosa. Os artistas introduziram uma variedade de designs, envolvendo plantas simples,
desenhos geométricos e caligrafia em elementos de construção. Os desenhos geométricos são
usados principalmente nas margens desses elementos, sendo que, os desenhos de plantas
(como Arabesco e Khataei serão mostrados no Capítulo 3) são os mais amplamente utilizados
(BAGHSORKHI, 2010).
A presença de dois elementos, o pórtico e a cúpula na forma principal do espaço do
edifício, proporciona uma imponência aos edifícios religiosos do Irã (KADOI, 2016;
TASLIMI et al., 2015). O pórtico é um estilo de arquitetura que se encaixa no clima do leste
e a cúpula é a culminação do design da abóbada (Figura 11). Esses elementos foram usados
em outros países, como mostrado na Figura 12.
9 O templo do fogo é o local de culto do zoroastrismo, onde o fogo tem um lugar especial e as orações religiosas
mais importantes são feitas em frente ao fogo.
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Fonte: https://fa.wikipedia.org/wiki/مسجد_جامع_اصفهان
(a)
Fonte: http://www.otaghnews.com/news/302959/ یصفو-دوران-یمعمار-مهم-یشاخصه-اصفهان، -امام-مسجد
(b)
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(c)
Figura 11. Uso do pórtico e da cúpula: (a) grande mesquita de Isfahan, (b) praça de Naqsh-e
Jahan e (c) mesquita do Shah.
Fonte: https://en.wikipedia.org
(a)
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(b) (c)
Figura 12. Arquitetura islâmica: (a) Taj Mahal na Índia, (b) grande mesquita de Cairuão na
Tunísia e (c) tribunal de leões na Espanha.
Pintura (Miniatura): Pinturas em palácios iranianos existem há muito tempo e são sempre
decoradas com imagens de flores de lótus, folhas de acanto, palmeiras e outros. Esse estilo de
pintura é chamado de pintura mural.
Nos tempos islâmicos, a maioria dos trabalhos inclui pintura de gesso com uma
variedade de temas, como árvores, pássaros, arabesco, bergamota, flores, arbustos e folhas,
com a ajuda de várias cores, como cinábrio, azul, verde, marrom, cinzentas, vermelhas, pretas
e decorações douradas. Há belos exemplos (Figura 13) desses temas, como o palácio de
Chehel Sotoun (literalmente significa: "Quarenta Colunas"), o palácio de Hasht Behesht
(literalmente significa: "os Oito Paraísos") e o palácio de Ālī Qāpū (literalmente significa: "o
Grande Portão") na cidade de Isfahan (KADOI, 2016; TASLIMI et al., 2015).
Os artistas persas, inspirando-se na arte do Extremo Oriente (como os detalhes
cuidadosos do desenho e o desenho de montanhas em camadas) e combinando-a com a arte
bizantina (desenho de expressões faciais), criaram a miniatura persa10. Essas características
10 Uma Miniatura persa (em Persa:نگارگری ایرانی), ou iluminura persa, é uma pequena pintura em papel, seja uma ilustração de livro ou uma obra de arte separada destinada a ser mantida em um álbum de obras chamadas
muraqqa. As técnicas são amplamente comparáveis às tradições ocidentais e bizantinas das miniaturas em
manuscritos iluminados. Embora exista uma tradição persa igualmente bem estabelecida de pintura de parede, a
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pareciam apropriadas para livros que expressam o espírito persa (KADOI, 2016; TASLIMI et
al., 2015). O mais proeminente desses trabalhos é o Shahnameh de Ferdowsi (Épica dos Reis)
e os livros históricos que foram usados extensivamente para fazer essas miniaturas (Figura
14).
Fonte: https://fa.wikipedia.org/wiki// ونستچهل #/media/File:Chehel_Sotoun_isfahan.jpg
(a)
Fonte: https://cyrustravel.com/photo-gallery/attachment/beautiful-decorated-dome-of-hasht-behesht-palace-
esfahan
(b)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ali_Qapu_isfahan_ 03_قاپو_در_اصفهان_یعمارت_عال .jpg
taxa de sobrevivência e o estado de preservação das miniaturas são melhores, e as miniaturas são também a
forma mais conhecida da pintura persa no Ocidente e muitos dos exemplos mais importantes estão em museus
ocidentais ou turcos (Wikipédia, a enciclopédia livre).
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(c)
Figura 13. Pintura mural: (a) palácio de Chehel Sotoun, (b) palácio de Hasht Behesht e (c)
palácio de Ālī Qāpū.
Malharia: O tricô no Irã data de 2000 a.C., cujo documento poderia ser o relevo que foi
descoberto em Susa (Figura 15).
Como mencionado anteriormente, o Irã era a principal rota entre o Oriente e o
Ocidente, portanto, muitos objetos foram enviados do Irã para o Ocidente. Um dos produtos
mais importantes foi a seda proveniente da China, transportada por meio da rota que passava
pelo Irã, para o Império Bizantino e depois para outras partes do mundo. O segredo da
obtenção da seda estava na posse dos chineses, mas os iranianos o conheceram e
gradualmente se familiarizaram com o cultivo do bicho-da-seda nas regiões do norte do Irã.
O Irã passou a usar a seda para criar uma variedade de tecidos, que se popularizaram nos
países governados pelo Império Bizantino. Um dos desenhos mais famosos criados para estes
tecidos de seda foi o padrão de pavão (SAFA, 1971; KADOI, 2016).
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Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Persian_miniature#/
Fonte:https://en.wikipedia.org/wiki/Persian_minia
Fonte:https://en.wikipedia.org/wiki/Shahnameh#/media/
(a) (b) (c)
Figura 14. Miniatura persa: (a) uma folha do Baysonghor Shahnameh (1430), (b) conselhos do Asceta por Kamāl ud-Dīn Behzād (1500) e (c)
uma cena de batalha do Baysonghori Shahnameh (1430).
https://en.wikipedia.org/wiki/Persian_miniature#/https://en.wikipedia.org/wiki/Persian_miniahttps://en.wikipedia.org/wiki/Shahnameh#/media/
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Figura 15. Um revelo que mostra o fuso na mão de um homem (TASLIMI et al., 2015).
Ainda, dentre os produtos mais importantes relacionados à arte estão os tapetes
persas. O tapete mais antigo do mundo é o tapete Pazyryk, data de cerca de 400 a.C. (Figura
16), no qual a arte aquemênida é representada (KADOI, 2016; TASLIMI et al., 2015). O
tapete Pazyryk foi encontrado em 1949 no túmulo de um nobre situado no vale seco Uluru de
Bolshoy Ulagan, nas montanhas de Altai, no Cazaquistão. Já o precioso tapete "Baharestan"
no Palácio de Taq Kasra remonta ao período sassânida. No tecido deste tapete foram usados
seda, ouro, prata e jóias, como pérolas e esmeraldas, e seu design foi denominado de um dos
jardins do paraíso. Com a invasão árabe no Irã, o tapete foi transferido para a cidade de
Medina e fragmentado para ser dividido entre os invasores.
Os desenhos de arabesco11 e khataei12 também eram populares nesses tapetes
(TASLIMI et al., 2015) dos quais, um dos mais famosos é chamado de tapete Ardabil (Figura
17).
11 O arabesco é uma forma de decoração artística baseada padrões lineares rítmicos de folhagens, gavinhas ou
linhas simples e entrelaçadas, 12 O khataei é um caule florido e um diagrama de um ramo de uma árvore que deve incluir flores, brotos e
folhas, e criar uma unidade entre eles.
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Fonte: https://www.karnaval.ir/blog/pazirik-carpet-iran
Figura 16. Tapete Pazyryk.
(a) (b)
Figura 17. Tapetes persas: (a) tapete Ardabil e (b) arabesco1 e khataei2 em design de tapete
persa (Taslimi et al., 2015).
Olaria e Qashani: A história da olaria no Irã e o uso da roda de oleiro datam de cerca de
4000 a 5000 a.C. Esses objetos de argila incluíam tigelas, xícaras e páteras, muitas vezes
coloridas em creme ou amarelo, decoradas com formas geométricas e animalescas pretas ou
marrons (Figura 18). A forma e a cor da olaria foram mudando pouco a pouco. As cores eram
1
2
https://www.karnaval.ir/blog/pazirik-carpet-iran
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muitas vezes cinzentas, embora vermelho e creme ainda foram encontradas nelas, também
uma combinação de olaria e escultura (Figura 19). A olaria na era islâmica progrediu muito.
Neste período, técnicas decorativas e elegantes foram criadas e apresentadas com cores azul-
escuras, bem como azul e verde, mas uma das mais belas decorações foi denominada de
"Zarrin Faam13", a qual se tratava de uma mudança estética (Figura 20) na arte iraniana
(KADOI, 2016; TASLIMI et al., 2015 ).
Qashani é uma arte decorativa persa que era popular no Irã entre os séculos XVI e
XVIII. Nesta época para a decoração mural, foram utilizados azulejos de "sete cores14", cujo
design era muitas vezes arabesco e khataei com cores variadas de azul ultramarino, azul,
branco, amarelo, preto, marrom e verde (Figura 21).
Figura 18. Taça de cerâmica encontrada em Susa, que remonta a cerca de 4000 aC
(TASLIMI et al., 2015 ).
13 Zarrin Faam é um esmalte brilhante associado a um brilho dourado. 14 Pintura com esmaltes nos azulejos ao lado do outro é chamado de sete cores.
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(a) (b)
(c)
Figura 19. Utensílios de cerâmica que remontam a 1000 a.C. (TASLIMI et al., 2015 ).
Fonte: http://www.bankosanat.ir
Figura 20. Prato Zarrin Faam com desenho de plantas.
Fonte: https://fa.wikipedia.org
http://www.bankosanat.ir/News/%D9%85%D8%AD%D8%B1%D8%A7%D8%A8%E2%80%8C%D9%87%D8%A7%DB%8C-%D8%B2%D8%B1%DB%8C%D9%86%E2%80%8C%D9%81%D8%A7%D9%85-%D8%A7%DB%8C%D8%B1%D8%A7%D9%86%DB%8C-%D8%B2%DB%8C%D9%86%D8%AA%E2%80%8C%D8%A8%D8%AE%D8%B4-%D9%85%D9%88%D8%B2%D9%87%E2%80%8C%D9%87%D8%A7%DB%8C-%D8%AC%D9%87%D8%A7%D9%86.bos
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Figura 21. Azulejos de sete cores na Mesquita Sheikh Lotfollah.
Musica: Durante o período de Aquemênida (550–330 a.C.), canções especiais eram ouvidas
entre as tropas durante as celebrações militares e os ataques militares. A música era tocada
com cornetins e tambores. No momento da oração, havia também um tipo de música e
canções para orações.
O que hoje é conhecido como música nacional iraniana está enraizado na arte do
período de Sassânida. Essa tradição da música de geração em geração foi transmitida para
períodos posteriores. Instrumentos conhecidos neste período incluem o barbat (oud), robab,
harpa (Figura 22) e outros instrumentos de cordas (TASLIMI et al., 2015).
Fonte: https://shahrvand.com/archives/65130
(a)
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29
Fonte: http://avadismusic.com/ -نیبرتر-رباب-ساز-دربارهرب-آموزش-دیاسات /
Fonte: http://mgfedayi.info/harp.com-09b368/
(b) (c)
Fonte: https://fa.wikipedia.org/wiki
(d)
Figura 22. Instrumentos de cordas: (a) barbat, (b) robab, (c) harpa e (d) mosaico do período
de Sassânida (260 dC) encontrado em Bishapur que mostra a harpa.
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Dança: Nas antigas sociedades primitivas, muitos aspectos da vida eram expressados pela
dança como, por exemplo, rezar para os deuses, celebrações, casamentos, luto, desejos,
medos e esperanças (ZAKA, 1978). Em geral, nessas sociedades, apresentavam um padrão de
ações ritualísticas que representavam os significados e símbolos e eventos fundamentais de
suas culturas. (KHADDAMI et al., 2013)..
No campo da dança ritual, a dança de Sama pode ser apontada como um dos
exemplos mais proeminentes. Esta dança tem uma raiz religiosa e é uma maneira de ganhar
conhecimento, amor e comunicação com Deus. Outros tipos de dança incluem danças
folclóricas tradicionais baseadas em tradições e celebrações rituais (AKHTEH, 2006). Há um
número de pessoas participando dessas celebrações e dançando com música, canções e
vestindo roupas tradicionais, e usando acessórios tradicionais como dança Qasem Abadi,
dança Curda, dança Bakhtiari, dança Baluchi (Figura 23).
Fonte: https://fa.wikipedia.org/wiki.
(a)
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Fonte: https://www.visitiran.ir
Fonte:https://www.tarafdari.com
(b) (c)
Fonte: https://www.cloob.com/c/farhangebakhtiari
Fonte: http://dahouse.ir/workshop-
dayere-farogh/dahouse-workshop-
farogh/
(d) (e)
Figura 23. Danças tradicionais: (a) Sama, (b) Qasem Abadi, (c) Curda, (d) Bakhtiari e (e)
Baluchi.
Caligrafia: O pictograma era o símbolo visual usado nas primeiras civilizações, como Irã e
Egito, como sistema de escrita. Este tipo de escrita ficou um pouco mais simples na antiga
civilização do Irã e mudou para a escrita cuneiforme (Figura 24). No período de Aquemênida,
utilizou-se a escrita cuneiforme, muito simples e composta por 42 letras (TASLIMI et al.,
2015). Quando o Islã entra no Irã, o sistema de escrita persa é influenciado pelo alfabeto
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árabe e a caligrafia iraniana também é afetada pelo Cúfico (Figura 25a), que naquela época
era a escrita do Alcorão (SAFA, 1971). Este tipo de caligrafia foi modificado ao longo do
tempo por artistas iranianos e passou a ser utilizado como a ferramenta decorativa mais
comum em tecidos, em cerâmica e epigrafia.
Em períodos subsequentes, artistas iranianos criaram uma transformação caligráfica
que resultou na Taʿlīq (Figura 25c), usada para escrever os livros de poesia. Mais tarde a
combinação de duas escritas, Taʿlīq e Naskh (padronizado por um persa chamado Ibn Muqla-
Figura 25b) originou a escrita Nasta'liq (Figura 25d), a qual devido a sua beleza é chamada a
noiva da caligrafia islâmica (FAROUGHI et al., 2015). Esta escrita representa o espírito e a
cultura iraniana, e é usada na escrita de textos literários e não-religiosos (FAZAELI, 1971).
Fonte: https://fa.wikipedia.org/wiki
Figura 24. Um pedaço de epigrafia em Persépolis15 em escrita cuneiforme.
15 Persépolis foi uma das capitais do Império Aquemênida.
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Fonte:https://en.wikipedia.org/wiki/Kufic
Fonte: https://fa.