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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO CURSO DE TURISMO DEPARTAMENTO DE TURISMO MARIANA AMPARO MEDEIROS DE CASTRO O TURISMO RURAL COMO FERRAMENTA NA PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA E DA CULTURA NO VALE DO CAFÉ Niterói 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO

CURSO DE TURISMO

DEPARTAMENTO DE TURISMO

MARIANA AMPARO MEDEIROS DE CASTRO

O TURISMO RURAL COMO FERRAMENTA NA PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA E

DA CULTURA NO VALE DO CAFÉ

Niterói

2013

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MARIANA AMPARO MEDEIROS DE CASTRO

O TURISMO RURAL COMO FERRAMENTA NA PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA E

DA CULTURA NO VALE DO CAFÉ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito final de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo

Orientadora: Prof. Drª. Helena Catão Henriques Ferreira

Niterói

2013

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MARIANA AMPARO MEDEIROS DE CASTRO

O TURISMO RURAL COMO FERRAMENTA NA PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA E

DA CULTURA NO VALE DO CAFÉ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito final de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profª. Drª. Helena Catão Henriques Ferreira – Orientadora

_____________________________________________

Prof M.Sc Frederico Cascardo Alexandre e Silva

_____________________________________________

Profª. Drª. Valéria Lima Guimarães

Niterói

2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores do curso de Turismo, em especial à minha orientadora

Helena Catão, por toda a paciência e atenção durante a elaboração deste trabalho.

À minha família e aos amigos que me acompanharam durante esta etapa da minha

vida, me apoiando e torcendo por mim.

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RESUMO

O Turismo Rural vem se destacando nas últimas décadas como forma de turismo

em expansão, sendo visto como uma atividade com capacidade para atender às

necessidades de um novo grupo de turistas que buscam conforto e simplicidade em

espaços em meio à natureza, bem como gerar benefícios para a comunidade

receptora. O presente estudo procura analisar o desenvolvimento da atividade no

Brasil, com foco no turismo rural voltado para a história e cultura, destacando seus

benefícios e dificuldades, e apresentando a atividade como uma ferramenta para

valorização do patrimônio histórico de uma localidade. Para isto, realizou-se uma

pesquisa bibliográfica em fontes primárias e secundárias e uma pesquisa de campo,

aplicada em fazendas históricas do Vale do Café, escolhidas devido a sua

importância histórica e cultural e para o turismo rural do estado do Rio de Janeiro,

como também, pelos atrativos naturais presentes na área, com a mata atlântica e a

produção rural de diversos tipos. Através da pesquisa, foi possível perceber que há

um grande potencial para o desenvolvimento da atividade de forma a gerar

benefícios para a comunidade receptora e valorizar o patrimônio, mas para isso,

alguns desafios deverão ser superados, como a falta de profissionalização do setor.

Palavras-chave: Turismo. Turismo Rural. Patrimônio Histórico. Vale do Café.

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ABSTRACT

Rural tourism has been increasing in the last decades as a kind of tourism in

expansion, being seen as an activity with capacity to satisfy the needs of a new

group of tourists looking for comfort and simplicity in spaces in contact with the

nature, and also generate benefits to the host community. This study seeks for

analyze the development of the activity in Brazil, with a focus on rural tourism

focused on history and culture, highlighting its benefits and difficulties, and

presenting the activity as a tool to valorize the historical patrimony of a place. The

study was made through a literature review and a field research at historical farms

from ‗Vale do Café‘, considering the historical and cultural importance of the region

and for the rural tourism of Rio de Janeiro, as well as the natural attractions present

in this area, with the atlantic forest and the many kinds of rural production. Through

the research, it was possible to notice that there is great potential for the

development of this activity in order to generate benefits for the hosting community

and valorize the patrimony, but for this, some challenges need to be overcome, such

as the lack of professionalism in the industry.

Key-words: Tourism, Rural Tourism, Historical Heritage, Vale do Café

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Comidas típicas em propriedade de Venda Nova do Imigrante............ 19 Figura 2- Cavalgada no Mato Grosso do Sul ........................................................ 30 Figura 3 - Principais produtos ofertados pelas empresas de turismo rural ........... 32 Figura 4 - Mapa da região do Vale do Café ......................................................... 37 Figura 5 - Escravos trabalhando em plantação de café ........................................ 39 Figura 6 - Escravos negros pilando o café ........................................................... 40 Figura 7 - Fazenda de café em Vassouras ........................................................... 42 Figura 8 - Fazenda Ponte Alta em Barra do Pirai, RJ ........................................... 44 Figura 9 - Mapa das principais fazendas históricas na região do Vale do Café.... 45 Figura 10 - Apresentação musical no Festival Vale do Café ................................ 47 Figura 11 - Localização de Barra do Piraí no estado do Rio de Janeiro................ 49 Figura 12 - Fachada do Hotel Fazenda do Arvoredo............................................. 54 Figura 13 - Cavalo passando em frente à janela do quarto no Hotel Fazenda do Arvoredo.................................................................................................................

56

Figura 14 - Lago no hotel fazenda Arvoredo ......................................................... 57 Figura 15 - Casa grande da fazenda Arvoredo .................................................... 58 Figura 16 - Fachada da Fazenda da Taquara....................................................... 59 Figura 17 - Quarto com móveis e roupas de cama conservados na Fazenda da Taquara.................................................................................................................

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Figura 11 - Armário com chapéus originais da época do ciclo do Café................. 61 Figura 19 - Produção de café na Fazenda Taquara.............................................. 62

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .........................................................................................

2. AS TRANSFORMAÇÕES NO TURISMO E O TURISMO RURAL .........

2.1 TURISMO RURAL COMO FERRAMENTA NA PRESERVAÇÃO DO

PATRIMÔNIO CULTURAL .................................................................

2.2 TURISMO EM ESPAÇO RURAL, TURISMO RURAL E

AGROTURISMO .................................................................................

2.3 CARACTERÍSTICAS DO TURISMO RURAL .....................................

2.4 IMPACTOS RESULTANTES DA ATIVIDADE ....................................

3. TURISMO RURAL NO MUNDO E NO BRASIL ......................................

3.1 O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE ATÉ OS DIAS ATUAIS .....

3.2 DIFERENTES OFERTAS DE TURISMO RURAL NO BRASIL ..........

3.3 PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

RURAL ................................................................................................

4. TURISMO RURAL NO VALE DO CAFÉ .................................................

4.1 O VALE DO CAFÉ ..............................................................................

4.2 O CICLO DO CAFÉ NO VALE DO PARAIBA FLUMINENSE ............

4.3 AS GRANDES FAZENDAS DE CAFÉ ...............................................

4.4 DO CAFÉ AO TURISMO ....................................................................

5. PESQUISA DE CAMPO ..........................................................................

5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ..........................

5.2 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ..............................................

5.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA ................................

5.3.1. Hotel Fazenda do Arvoredo ..................................................

5.3.2. Fazenda da Taquara ............................................................

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................

7. REFERÊNCIAS ......................................................................................

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1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, temos acompanhado uma modificação no

comportamento do turista. Este tem se tornado cada vez mais exigente, com novas

motivações, buscando por novos destinos, que ofereçam a possibilidade de

vivenciar experiências diferentes do que está acostumado no cotidiano. Este

comportamento apresenta uma oportunidade de desenvolvimento de novas formas

de turismo, que valorizem a diversidade e as particularidades de cada região.

Nessa busca por novas experiências no turismo, muitos moradores urbanos

estão se voltando para os ambientes rurais, procurando não só por momentos de

tranqüilidade em contato com a natureza, como também conhecer a gastronomia do

lugar, as tradições do campo, interagir com as comunidades locais, participar de

suas manifestações culturais, entre outros.

O Turismo rural se apresenta como uma forma de turismo em expansão, que

é capaz de satisfazer a essa demanda, além de significar uma alternativa para

geração de renda extra ao produtor rural. A comunidade tem oportunidade de

envolvimento direto no turismo, proporcionando uma nova fonte de recursos, e

contribuindo para a preservação da cultura local e do meio ambiente. Se organizado

de forma planejada e consciente sobre seus impactos, este tipo de turismo poderá

causar menos efeitos negativos do que outros segmentos mais convencionais do

turismo.

Este crescimento do turismo rural nas últimas décadas aumenta a

necessidade de estudos sobre o assunto, pois a rápida expansão do setor, aliada à

falta de estrutura pode gerar diversos problemas, que precisam ser identificados e

analisados, para que possam ser evitados, melhorando a prática da atividade.

Portanto, é importante que essa atividade seja estudada, conhecendo o

contexto em que está inserida, seu processo de constituição e desenvolvimento e

suas peculiaridades, para que este possa se dar de forma a beneficiar turistas e

comunidade.

O presente trabalho tem como objeto de estudo as fazendas históricas na

região do Vale do Café, visto que a região destaca-se por ter concentrado nos

séculos XVIII, XIX e XX a maior parte da produção deste produto, marcando o

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primeiro ciclo do café brasileiro, e possui atualmente cerca de trinta fazendas

históricas abertas à visitação, nos moldes do Turismo Rural.

O trabalho se propõe a analisar o turismo rural no contexto dos dias atuais e

apresentar de que forma o turismo vem acontecendo nesta região, conhecer o perfil

dos turistas que procuram este segmento e suas expectativas, procurando observar

também os benefícios gerados pela atividade e fazer um levantamento das

dificuldades a serem superadas pelo setor. Outro aspecto de interesse deste

trabalho é verificar se o turismo vem sendo utilizado como uma ferramenta na

valorização do patrimônio, visto que é grande o valor histórico e cultural da região.

O estudo tem uma abordagem qualitativa, e foi realizado em duas etapas. A

primeira consistiu em uma pesquisa bibliográfica acerca do tema, em que foram

feitos uso de fontes bibliográficas e da internet.

Na segunda etapa, foi realizada uma pesquisa de campo, através de

entrevistas semi-estruturadas com turistas e com representantes de duas fazendas

da região do Vale do Café, com a finalidade de conhecer suas perspectivas acerca

do turismo no local, os benefícios gerados pelo turismo e os principais desafios do

setor.

Após a coleta dos dados obtidos na pesquisa de campo, estes foram

analisados de forma qualitativa, levando-se em consideração as respostas obtidas

nas entrevistas, e as observações que foram feitas pelo pesquisador no período de

pesquisa de campo.

O trabalho foi estruturado em seis capítulos, sendo o primeiro uma introdução

a respeito do tema escolhido.

No segundo capítulo, apresentamos diferentes conceitos sobre o turismo

rural, as características da atividade, e impactos que podem ser gerados pelo

mesmo, para obtermos uma base teórica acerca do tema e uma melhor

compreensão do assunto.

No terceiro capítulo, fizemos uma análise da evolução do turismo rural no

mundo e no Brasil, até os dias de hoje, e perspectivas futuras para a atividade no

Brasil.

No quarto capítulo, é apresentada a importância histórica do Vale do Café,

como se deu o ciclo econômico do café na região, e como esse legado histórico está

sendo aproveitado para o turismo nos dias atuais.

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O quinto capítulo foi dedicado à pesquisa de campo, começando pela

contextualização do objeto de estudo, uma descrição das fazendas históricas do

município de Barra do Pirai, o desenvolvimento da pesquisa e uma análise dos

resultados obtidos.

Durante o desenvolvimento do trabalho, foi percebido que o turismo rural tem

um grande potencial de valorizar as particularidades de um local, como a história e

as manifestações culturais, além de gerar renda para os proprietários locais. Como

atividade econômica em expansão, há a necessidade de profissionalização no setor,

o que, segundo empresários a ele associados, representa um dos principais

desafios para o crescimento da atividade, juntamente a melhoria de infraestrutura

nos empreendimentos e nas localidades.

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2. AS TRANSFORMAÇÕES NO TURISMO E O TURISMO RURAL

Atualmente, estamos vivenciando um crescimento acelerado do turismo,

devido às transformações sociais e econômicas que possibilitaram com que cada

vez mais pessoas viajem, movimentando um grande fluxo de turistas. Grande parte

se deve ao turismo de massa, que Ruschmann (1997 apud Nascimento e Silva,

2009) caracteriza pelo grande volume de pessoas que viajam em grupos ou

individualmente para os mesmos lugares, geralmente nas mesmas épocas do ano.

Este crescimento do turismo foi acompanhado por diversos tipos de

problemas sociais, como a degradação do meio ambiente e o desrespeito com as

populações locais, além da saturação de destinos turísticos convencionais.

Como conseqüência, novas formas de turismo vêm surgindo e ganhando

cada vez mais força. Surge também um novo grupo de turistas, que no geral são

bem informados, exigentes quanto à qualidade da viagem e dos serviços prestados,

não só no que se refere à hospedagem, como também ao artesanato, gastronomia e

entretenimento.

Muitos autores apontam como tendência para o turismo contemporâneo uma

reaproximação do homem com a natureza. Na tentativa de fugir do ambiente

tumultuado dos centros urbanos, a poluição e o stress, o turista tem procurado a

tranqüilidade do campo para desfrutar de seu tempo de lazer. Esta procura,

segundo Verbole (2002), está relacionada à idéia de um imaginário rural, que, de

acordo com o autor:

[...] É crença generalizada que a paisagem rural, a natureza com seu verdor e beleza ―intocados‖, a paz e o silêncio, a tranqüilidade, a vida bucólica e idílica longe do mundo artificial, a comida natural e saudável, o lazer e a socialização, compõem os ingredientes do imaginário rural (VERBOLE, 2002, p.119).

O autor ressalta ainda que a busca deste imaginário rural está relacionada à

procura pela autenticidade, pelo diferente, pelo excitamento e pela nostalgia

(VERBOLE, 2002).

Este novo grupo de turistas supostamente procura visitar destinos ainda

pouco explorados, em que possam vivenciar e participar ativamente de experiências

diferentes do que estão acostumados em seu cotidiano, consumir alimentos e

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artesanato produzidos localmente, que mantenham suas características originais,

além de conhecer a cultura da região, suas festas, manifestações folclóricas, fugindo

da agitação dos destinos de massa. Assim, a simplicidade e a singularidade do

ambiente rural podem se constituir em diferenciais para o turismo.

O turismo rural surge como uma alternativa para atender a esta demanda, por

proporcionar ao turista a oportunidade de vivenciar experiências de contato com a

natureza, e ser não só um expectador na sua viagem, mas participar ativamente das

atividades campestres, ao mesmo tempo em que representa uma fonte de renda

extra ao produtor local e uma forma alternativa de desenvolvimento local e

preservação da natureza, além de poder promover a manutenção das famílias no

campo e de suas atividades agrícolas tradicionais.

2.1. TURISMO RURAL COMO FERRAMENTA NA PRESERVAÇÃO DO

PATRIMONIO CULTURAL

O Turismo Rural também está relacionado à preservação do patrimônio

cultural de um lugar. Para compreendermos esta relação, faz-se necessário

entender primeiramente o que é patrimônio cultural.

A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, ciência e

cultura) considera como patrimônio cultural:

os monumentos: obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas monumentais, objetos ou estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência,

os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas, que, por sua arquitetura,unidade ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência,

os sítios: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza, bem como áreas, que incluem os sítios arqueológicos, de valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico (UNESCO, 1972, p.2).

Além dos bens apresentados, o patrimônio cultural abrange também bens

culturais de caráter imaterial, como definição do Ministério do Turismo (2010):

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Consideram-se patrimônio histórico e cultural os bens de natureza material

e imaterial que expressam ou revelam a memória e a identidade das populações e comunidades (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010, p.16).

A UNESCO (2003) considera patrimônio cultural imaterial:

[...] as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural (UNESCO, 2003, apud UNESCO, 2008, p.11).

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) complementa

ainda que, o patrimônio imaterial é transmitido de geração em geração e

constantemente recriado e apropriado por indivíduos e grupos sociais como

importantes elementos de sua identidade. (IPHAN, 2006)

O patrimônio cultural de uma localidade, tanto os bens materiais quanto

imateriais, pode se constituir em elemento de atratividade para o turismo. Como

ressalta o Ministério do Turismo (2010):

Os elementos do patrimônio cultural de um lugar se constituem em aspectos diferenciais para o desenvolvimento de produtos e para a promoção dos empreendimentos, isso pode ser feito através de restaurantes dedicados à gastronomia tradicional, artesanato local na decoração e ambientação dos equipamentos, nas programações de entretenimento com manifestações culturais autênticas (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010, p.16).

Sendo assim, o turismo pode ser uma ferramenta importante para o ―resgate‖

da história e valorização do patrimônio cultural de uma localidade, inclusive em

meios rurais, uma vez que valoriza as diferenças. Cada lugar possui seus próprios

elementos culturais e particularidades. São estas particularidades que são

geralmente procuradas pelo turista em suas viagens.

Apesar de as atividades consideradas culturais no turismo geralmente

estarem relacionadas a aspectos históricos, como visitas a centros históricos,

museus e igrejas, temos que ressaltar que há também manifestações de caráter

imaterial que constituem a identidade de uma comunidade, e que de alguma forma

estão presentes na atividade turística. Pois, independente da motivação da viagem

haverá sempre alguns destes elementos presentes na prática do turismo em maior

ou menor grau, como a gastronomia típica, uma festa tradicional, o artesanato, o

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folclore. Estes fatores podem, inclusive, ser determinantes na escolha do destino,

como aponta Cavaco (2000):

Em alguns casos, a existência duma oferta artesanal específica é determinante no desencadear de fluxos de visitantes ao local e à região, entre os quais também consideramos os retornos regulares, nos tempos de festas e férias [...] (CAVACO, 2000,p. 93).

Para se constituírem em fatores de atratividade, estes deverão ser

preservados. Especialmente no caso do turismo rural, que, por si só, pressupõe uma

interação com o ambiente, a comunidade local e suas peculiaridades.

Nesse sentido, Mazuel (2000) afirma que existe um turismo cultural rural

exclusivo, correspondendo a um segmento de mercado bastante motivado e definido

e que está em expansão. A primeira condição para unir de modo durável cultura e

turismo rural seria valorizar as características intrínsecas e não exógenas ao

território. Para isso:

Cuida-se em oferecer aos visitantes um produto que corresponda às realidades históricas, sociais e culturais da pequena região e de sua população: uma aldeia típica, uma tradição agrícola pecuária, um conhecimento local. (MAZUEL, 2000, p.100)

A atração dos turistas por elementos culturais e históricos de um local pode

estimular os moradores a buscarem o conhecimento do seu patrimônio para melhor

atender e informar o visitante. Muitas vezes o mesmo não tinha consciência do valor

de seu patrimônio e de seus hábitos culturais, até perceber que, estes que são

hábitos comuns do seu dia-a-dia, para os visitantes podem ser atrativos capazes de

motivar uma viagem. Ao entender o valor do seu patrimônio, o morador passa de

alguma forma a reconhecer-se nele, gerando um sentimento de orgulho e de

pertencimento à sua comunidade, e valorização de sua cultura e produção local, o

que pode propiciar uma preservação maior do patrimônio. Assim como o

desconhecimento pode vir a gerar atitudes de descaso e depreciação do mesmo.

Como aponta Meirelles Filho (2002), o turismo em áreas rurais começa a

despertar a visão dos produtores para o potencial de suas atividades:

E, aos poucos, os proprietários rurais de todo o Brasil se apercebem de que a cachoeira no fundo da mata, o brejo das marrecas, o morro onde está o cruzeiro e mesmo o arroz-de-carreteiro, o doce-de-leite, o puxa-puxa, ou a

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moda de viola do fim da tarde, que tudo o que a memória tocou pro eito mais recôndito, se for reinterpretado e apresentado para os novos povos urbanos como produto para o lazer e turismo, pode receber uma destinação nobre e gerar renda. (MEIRELLES FILHO, 2002, p.27)

1

O autor ressalta, porém, que a intenção não é transformar toda propriedade

rural em destino de lazer ou turismo, e sim despertar seu potencial, sendo

importante avaliar se cabe ou não atividades de lazer e turismo em cada

propriedade. Segundo o autor, ―O que se quer é mostrar que tudo que é mato agora

já tem o seu valor e deve ser observado com mais cuidado.‖ (MEIRELLES FILHO,

2002, p.28)

2.2. TURISMO EM ESPAÇO RURAL, TURISMO RURAL E

AGROTURISMO

O Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), ao elaborar o Manual de

Turismo Rural, adotou um conceito de Turismo Rural bem amplo, que abrange uma

variedade de modalidades, definindo a atividade como:

Um turismo diferente, turismo interior, turismo doméstico, turismo integrado, turismo endógeno, alternativo, agroturismo, turismo verde. O Turismo Rural inclui todas essas variedades. É o turismo do País, um turismo concebido por e com os habitantes desse País, um turismo que respeita a sua identidade, um turismo de zona rural em todas as suas formas (EMBRATUR, 1994, p.07).

Diferentes nomenclaturas e conceitos são utilizados para caracterizar a

atividade, sendo as mais utilizadas no Brasil: turismo rural, turismo em espaço rural,

e agroturismo. Muitas vezes, estes conceitos aparecem como sinônimos. Porém,

alguns autores pontuam diferenças entre estas modalidades.

Para compreendermos Turismo em espaço rural, apresentamos

primeiramente uma definição de meio rural, apresentada pelo Ministério do Turismo:

Um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, compreendendo cidades e campos, caracterizado por critérios

1 In: BARRETO, Margarita; TAMANINI, Elizabete. Redescobrindo a ecologia no turismo. Caxias do

Sul. EDUSC,2002. P.26 -30

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multidimensionais, como ambiente, economia, sociedade, cultura, política e instituições, e uma população com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2004, p.12).

Segundo o Ministério do Turismo (2004), Turismo em espaço rural seria um

recorte geográfico que engloba todas as atividades turísticas que acontecem em

meio não-urbano, como o Turismo Rural e outras formas de turismo não

necessariamente comprometidas com a produção agrícola, como turismo de

negócios e turismo de eventos.

Seguindo este mesmo pensamento, Bricalli (2005) afirma que:

[...] todos os empreendimentos que proporcionem lazer, recreação, descanso ou qualquer outra atividade ligada ao turismo, desde que estejam localizados em áreas rurais, podem ser classificados como turismo no espaço rural (BRICALLI; 2005, p.41).

De acordo com as definições apresentadas, podemos entender o turismo em

espaço rural como abrangendo diversas modalidades turísticas que acontecem em

meio não-urbano, independente das atividades praticadas, que podem ou não estar

comprometidas com o meio rural.

Já a expressão ―turismo rural‖ seria uma classificação mais restrita, em que

estão presentes as atividades rurais tradicionais, como agricultura e pesca. Segundo

definição do Ministério do Turismo:

Turismo Rural é o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010, p.18).

Zimmermann (1996) também ressalta a prática de atividades agropecuárias

ao definir Turismo Rural:

É um segmento do turismo desenvolvido em áreas rurais produtivas, relacionado com o alojamento na sede da propriedade (adaptada) ou em edificações apropriadas (pousada) nas quais o turista participa das diferentes atividades agropecuárias desenvolvidas neste espaço, quer como lazer ou aprendizado‖. (ZIMMERMANN, 1996, p.02)

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Analisando estes conceitos, podemos entender o Turismo Rural como uma

forma de turismo que ocorre em meio rural, podendo ser tanto uma alternativa de

obtenção de renda para o produtor local ao adaptar uma propriedade já existente,

como uma propriedade construída já com finalidade turística, que proporciona ao

visitante a possibilidade de estar em contato com a natureza e com a cultura local e

praticar atividades tradicionais campestres, como atividades eqüestres, de pesca,

caminhadas, esportes de aventura, além de consumir os produtos de origem local,

como a gastronomia e o artesanato, que devem valorizar as particularidades típicas

da região.

Já o agroturismo, segundo Portuguez (2002, apud Ministério do Turismo,

2010) pode ser entendido como:

Turismo praticado dentro das propriedades rurais, de modo que o turista entra em contato com a atmosfera da vida na propriedade, integrando-se aos hábitos locais [...] acompanhando a produção de produtos agrários - doces, geléias, pães, café, queijo, vinhos, aguardentes - ou vivenciar o dia-a-dia da vida rural, por meio do plantio, colheita, manejo de animais, consumindo os saberes e fazeres do campo. (PORTUGUEZ, 2002 apud MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010, p.20)

Beni (2002) apresenta o seguinte conceito de agroturismo:

Deslocamento de pessoas para espaços rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite, para fruição dos cenários e observação, vivência e participação em atividades agropastoris. (BENI, 2002, p.32)

Nesse caso, o principal diferencial seria que, no agroturismo, as próprias

atividades agropastoris podem constituir o principal diferencial turístico, além de

serem atividades de lazer para o turista ao participar da produção agrária ou

vivenciar o cotidiano da propriedade. Outro ponto diferencial é que a produção

agrícola se mantém como a principal fonte de renda dos agricultores e de suas

famílias, garantindo sua sobrevivência, principalmente nos períodos de pouca

visitação.

A cidade de Venda Nova do Imigrante, ES, é conhecida como berço do

agroturismo no Brasil e foi eleita pela ABRATUR (Associação Brasileira de Turismo

Rural) como Capital Nacional do Agroturismo. O município, localizado a 103 km de

Vitória, começou a desenvolver a atividade em 1987, quando alguns agricultores

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começaram a receber visitas espontâneas dos turistas que queriam conhecer suas

propriedades. Aos poucos foram percebendo que havia oportunidades de ampliar o

seu negócio e começaram a se organizar para isso. Com a organização começou a

haver maior interação com a hotelaria local, que passou a programar as visitas às

propriedades agrícolas para seus hóspedes.2

Atualmente, o circuito é formado por mais de vinte empreendimentos

associados, que recebem os visitantes em suas casas e propriedades, oferecendo a

oportunidade de conhecer as práticas agrícolas e adquirir os produtos em sua

origem, além de vivenciar a cultura local, as paisagens naturais e a tranqüilidade do

campo. Um dos atrativos deste tipo de turismo diz respeito à gastronomia típica da

região, apresentada na Figura 1.

Figura 2 - Comidas típicas em propriedade de Venda Nova do Imigrante. As iguarias foram aprimoradas ao longo das gerações, ao mesmo tempo em que mantém as tradições locais. Fonte: Agroturismo Venda Nova do Imigrante, 2013.

3

Algumas das iguarias encontradas nas propriedades são o Socol, tipo de

presunto cru desenvolvido pelos imigrantes italianos; o Limoncello, licor amarelo de

limão siciliano; o queijo tipo Resteia, de textura macia e sabor adocicado; a Puína

2 Anais do Congresso Brasileiro de Turismo Rural: turismo no espaço rural brasileiro [ed] Cássio

Garkalns de Souza Oliveira. Piracicaba: FEALQ, 1999, 239 p.

3 AGROTURISMO Venda Nova do Imigrante. Disponível em:

<http://agroturismovendanova.com.br/site/Paginas.aspx?pagina=A%20Agrotur>. Acesso em: 06 jan. 2013.

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(ricota cremosa); a Grappa (destilado do bagaço de cana), e a Caponata, antepasto

preparado à base de berinjela. Além de cachaça, doces, geléias, vinho, artesanato e

flores.4

A forma de trabalhar o agroturismo no Espírito Santo tem características

próprias, sendo familiar e voltada para a agricultura, fazendo da própria roça um

atrativo e que, além de produzir e comercializar os produtos, agrega valor aos

mesmos, gerando renda e criando oportunidades de emprego no campo.5

Nesse sentido, Candiotto (2010) afirma que toda oferta de agroturismo

poderia ser classificada como turismo rural, porém nem toda oferta de turismo rural

pressupõe a existência do agroturismo. Pois, como aponta o autor, o agroturismo

apresenta todos os atributos do turismo rural, e ainda a participação direta e/ou

indireta do turista em atividades comuns dos agricultores, como plantio, colheita,

ordenha, entre outras. O autor afirma ainda que ―a complementaridade com

atividades agropecuárias deve fazer parte de qualquer oferta de turismo rural, mas

tais atividades podem ser ou não os principais atrativos do turismo rural‖

(CANDIOTTO, 2010, p.14).

2.3. CARACTERÍSTICAS DO TURISMO RURAL

Adonis Zimmermann, um dos idealizadores da iniciativa de Turismo Rural em

Lages (SC), apresenta alguns princípios fundamentais que caracterizam a atividade:

a) identidade própria, que significa respeitar as características do ambiente

que constituem a identidade do local, como a paisagem, as atividades produzidas, e

a arquitetura, entre outros;

b) autenticidade, ligada à identidade, que o autor ressalta que deve ser

espontânea, assumindo o ―clima‖ local;

4 AGROTURISMO Venda Nova do Imigrante. Disponível em: <http://agroturismovendanova.com.br/site/Paginas.aspx?pagina=A%20Agrotur>. Acesso em: 06 jan. 2013. 5 CARNIELLI: Das montanhas para sua casa. Disponível em: <http://www.carnielli.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=4&lang=pt>. Acesso em: 06 jan. 2013.

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c) harmonia ambiental, que significa que qualquer ampliação ou alteração que

for feita, deve estar em harmonia com o perfil arquitetônico existente;

d) preservação das raízes, pois a cultura deve ser resgatada e deve ser

viabilizado ao turista vivenciar todas as formas culturais locais;

e) divulgação dos costumes, para mostrar aos turistas as raízes e a cultura

local, servindo também como lazer a apresentação de grupos folclóricos locais;

f) atendimento familiar, o que, segundo o autor, é o grande diferencial dos

sistemas tradicionais de hospedagem, pois promove um forte relacionamento

humano de amizade.

O autor ressalta, ainda, que o Turismo Rural tem a característica de satisfazer

a necessidade de todos os envolvidos, tanto de quem oferece como de quem recebe

(ZIMMERMANN, 1996).

Almeida e Riedl (2000) também pontuam algumas das características que

definem esta atividade:

O turismo em espaço rural precisa resguardar sua especificidade, isto é, ele não pode imitar o turismo oferecido nos centros urbanos;

A clientela do turismo rural, em sua maioria, provém dos grandes centros urbanos e busca no campo uma interação mais intensa e direta com a natureza, a qual precisa ser preservada;

A originalidade e a simplicidade da vida rural constituem um diferencial. Quanto menor a artificialização da propriedade rural que se abre ao turismo, melhor;

As iniciativas de turismo rural com maior probabilidade de sucesso são aquelas que envolvem a comunidade regional em todas as fases do empreendimento, desde o seu planejamento até a sua implantação e posterior exploração. Iniciativas isoladas ou individuais dependem demasiadamente de características locais específicas;

Os responsáveis pela condução do empreendimento turístico precisam ser conhecedores da história, da cultura, das tradições, da culinária e das atrações naturais da região em que estão inseridos. O turista normalmente é extremamente curioso e questionador;

A exploração do turismo rural deve ter o caráter de complementariedade, isto é, a atividade não deve ser abandonada. O turista aprecia participar ativa ou passivamente do trabalho na agricultura e adora saber que a maioria dos produtos consumidos nas refeições provém do estabelecimento visitado;

A vida rural ainda preserva algumas características típicas de uma subcultura, cada vez mais interpenetrada pela cultura urbana dominante. O turista muitas vezes procura o meio rural para resgatar traços dessa subcultura, os quais, portanto, precisam ser resguardados e valorizados. (ALMEIDA;RIEDL,2000, p.10)

A partir das definições apresentadas, podemos entender como algumas das

características fundamentais no que se tem compreendido como turismo rural é que

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este aconteça de modo a contribuir para a conservação dos elementos naturais e da

simplicidade do ambiente rural, a paisagem, a arquitetura e costumes locais, com o

mínimo possível de artificialização e imitação ao turismo que ocorre no ambiente

urbano, promovendo a paisagem e as características próprias da localidade.

Os produtos comercializados devem valorizar a cultura local, oferecendo a

oportunidade de os turistas conhecerem e desfrutarem da gastronomia local,

artesanato, atividades culturais, folclore, festas, danças.

Um exemplo de valorização da cultura local pelo turismo rural é o que ocorre

em Lages (SC), como cita Zimmermmann (1996), que criou a Festa Nacional do

Pinhão, incentivando e ―resgatando‖ as raízes e a cultura regional, além de valorizar

o pinhão, fruto comum na região e que antes era subutilizado. Também foi elaborado

um livro de receitas, para que o turista, depois de voltar para a casa, possa

reproduzir as receitas e hábitos locais que aprendeu em sua viagem. Também em

Lages, grupos folclóricos tradicionais gaúchos costumam ser contratados para

apresentações aos turistas que, além de terem horas agradáveis e alegres de

música e dança, têm a oportunidade de conhecer melhor as raízes daquele povo

que os hospeda.

Uma característica importante da atividade é o comprometimento com a

produção agropecuária. Esta deverá estar presente, representando um vínculo com

a ruralidade, mesmo que esta não seja a principal fonte de renda do proprietário.

Como aponta o Ministério do Turismo (2010):

(...) mesmo que as práticas eminentemente agrícolas não estejam presentes em escala comercial, o comprometimento com a produção agropecuária pode ser representado pelas práticas sociais e de trabalho, pelo ambiente, pelos costumes e tradições, pelos aspectos arquitetônicos, pelo artesanato, pelo modo de vida considerados típicos de cada população rural. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010, p. 18 -19)

Outro importante aspecto envolvido nesta argumentação diz respeito à

participação da comunidade local em todas as fases da organização do turismo rural

em uma localidade, desde o planejamento até a implantação e realização da

atividade. Pois, essa atividade visa não somente o entretenimento do turista, como

também, representa uma fonte de renda à comunidade local, uma oportunidade de

intercâmbio cultural entre comunidade e turistas, e um incentivo à preservação da

sua cultura. Neste sentido, a população deveria ter conhecimento do ambiente em

que vive, para se comprometer em oferecer produtos que correspondam à sua

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realidade social, cultural e histórica, valorizando suas manifestações regionais, como

as tradições, comidas típicas, folclore.

Outras características dizem respeito à hospedagem. Zimmermann (1996)

acredita que este seja o ponto forte do Turismo Rural, sendo o atendimento

personalizado e familiar fator imprescindível, em um ambiente aconchegante e

confortável, misturado com a simplicidade do campo, que faz com que o turista se

sinta à vontade. Quanto ao tempo de permanência, existem propriedades que

recebem visitantes para passar o dia, geralmente nos finais de semana e feriados, e

outras que hospedam os turistas em regime de pernoite com pensão completa,

adaptando os quartos que já existem na propriedade, ou ampliando e construindo

novos apartamentos. Zimmermann (1996) recomenda que haja no máximo vinte

apartamentos, sob o risco de se descaracterizar e entrar no processo de

industrialização (hotelaria).

2.4. IMPACTOS RESULTANTES DA ATIVIDADE

Apesar de se considerar que, sob vários aspectos, o impacto sobre o

ambiente e a população receptora possa ser positivo, não podemos esquecer de

que, como qualquer atividade turística, especialmente quando o desenvolvimento

ocorre em ambientes frágeis, como é o caso do ambiente rural, esta também pode

resultar em impactos negativos, que podem ser minimizados quando desenvolvido

de forma bem planejada. Os impactos são principalmente de caráter ambiental e

cultural.

Os danos ambientais são causados principalmente quando o

desenvolvimento da atividade acontece de forma rápida e descontrolada, resultando

no excesso de visitas, de lixo produzido, e os visitantes sem preocupação com a

preservação do ambiente, causando degradação do ambiente natural. Como

ressalta Magro (2002):

Temos presenciado o crescimento da demanda e também da oferta de destinos onde o apelo é o ambiente natural. Esse aumento vertiginoso é desejável sob o ponto de vista econômico, mas representa também uma pressão alarmante sobre o ambiente. [...] Aqueles locais que estão começando agora a se abrir para o turismo são os mais vulneráveis,

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principalmente por não terem a estrutura necessária para receber este grande fluxo (MAGRO, 2002, p.145).

Há também os danos culturais e sociais, por receber turistas de diversos

lugares, que trazem com eles costumes diferentes da comunidade receptora, por

vezes impondo certos valores e costumes, e que podem acabar contribuindo para

uma grande alteração da cultura local, perdas de tradições e costumes; além de

conflitos que podem ocorrer entre moradores e turistas; o aumento do custo de vida;

construções irregulares, problemas de saneamento básico, entre outros.

Para tanto, pressupõe-se que o turismo deve acontecer de forma consciente

sobre seus impactos, tanto por parte de seus receptores quanto dos visitantes, para

que a atividade possa ser feita de forma organizada, causando o menor dano

possível às comunidades e ao meio ambiente, favorecendo a população visitada, e

permitindo para as futuras gerações a continuidade das atividades.

A atividade deve acontecer de forma a satisfazer os desejos dos turistas, que

devem respeitar o patrimônio local e compartilhar experiências sem impor seus

costumes e práticas que possam causar danos à comunidade. É importante

também, a preocupação com a conservação dos ambientes naturais e com a vida

selvagem presente neles. Como ressalta Zimmermann (1996): ―A atividade do

turismo rural deve estar obrigatoriamente em harmonia com interesses da

comunidade local, do turismo e do meio ambiente‖ (ZIMMERMANN, 1996, p. 130)

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3. O TURISMO RURAL NO MUNDO E NO BRASIL

O Turismo Rural, apesar de ser uma prática relativamente nova no Brasil, já

vem sendo praticado com sucesso há algumas décadas em vários países da Europa

e Estados Unidos. O presente capítulo se propõe a analisar como se deu o

desenvolvimento desta atividade no mundo e no Brasil até os dias atuais,

apresentando as diferentes ofertas de turismo rural presentes no Brasil atualmente,

e perspectivas futuras para o desenvolvimento da atividade.

3.1. O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE ATÉ OS DIAS ATUAIS

O segmento da atividade turística denominado por Turismo Rural, embora

com suas formas e modelos próprios, é praticado há muitas décadas na Europa,

tendo seu início por volta dos anos 1950, quando era desenvolvido em países do

norte e centro europeu como estratégia para melhorar a qualidade de vida das

populações do campo e, conseqüentemente, diminuir o êxodo rural.

Por volta da década de 1960, os campos europeus entraram em processo de

perda demográfica, devido aos movimentos migratórios em direção às áreas mais

industrializadas da Europa e América do Norte.

Este processo de desruralização foi acompanhado pela formulação de

políticas e medidas de desenvolvimento local em meio rural, destinadas a promover

o crescimento das áreas mais desfavorecidas do ponto de vista social e econômico.

Silva (2009) aponta que, tais medidas procuravam:

Combater os problemas dos espaços rurais e melhorar a qualidade de vida das populações que neles habitam de um modo sustentável [...] Para além de ter uma forte sensibilidade ambiental e ecológica ,este modelo de desenvolvimento rural confere especial atenção aos recursos endógenos e às populações locais, que passaram a constituir os principais intervenientes deste processo (SILVA, 2009, p. 38 - 39).

O autor lembra ainda que o investimento foi dirigido para três frentes:

agricultura, patrimônio e turismo, já existindo uma tentativa de exploração turística

do patrimônio e das zonas e comunidades rurais.

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A partir da década de 1970, começaram a ser percebidos os efeitos negativos

decorrentes do desenvolvimento do turismo de massa, impulsionando as práticas de

formas de turismo alternativas, entre eles, o turismo rural. (SILVA, 2009)

Seguindo o modelo europeu, diversos países começaram a adotar o turismo

como forma de revitalização econômica das áreas rurais mais desfavorecidas. A

partir da década de 1970, a atividade começou a se espalhar pelos países do sul da

Europa e Estados Unidos, chegando à America Latina na década de 1980, e a partir

dos anos 1990, muitas localidades mundiais se envolveram com o turismo rural, com

destaque aos países do Continente Africano, Oceania e Japão. (INSTITUTO DE

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO RURAL, 2007)

Porém, como ressalta Zimmermann (1996), as atividades de turismo rural em

outros países, notadamente na Espanha, Portugal e França, não podem ser

comparadas ao que o Brasil tem para oferecer. Quer pela geomorfologia, cultura ou

conceito de rural. ―Os múltiplos insumos e fatores que compõem os diferentes

cenários rurais do país o tornam ímpar e versátil.‖ (ZIMMERMMANN, 1996)6.

No Brasil, apesar de ser antiga a prática de visitação a propriedades no

campo, o Turismo Rural como a atividade econômica que conhecemos hoje, ainda é

uma atividade recente. Acredita-se que tenha começado a ser praticada na década

de 1980, sendo a primeira iniciativa oficial em 1986 em Lages (SC), como uma

tentativa de desenvolver o turismo no município.

Situado no Planalto Serrano Catarinense, no caminho para as serras

gaúchas, Lages recebe diariamente um grande fluxo rodoviário, e era ponto de

parada para viajantes com destino às outras cidades catarinenses e às serras

gauchas, que, eventualmente, pernoitavam na cidade. Com o objetivo de identificar

e aproveitar o potencial turístico da cidade e, conseqüentemente, desenvolver a

economia local, foi realizada uma pesquisa com estes turistas, e foi constatado que

as principais motivações estavam presentes na própria cidade, como a

hospitalidade, o clima frio, a gastronomia, sossego, ar puro. O proprietário da

fazenda Pedras Brancas decidiu então abrir suas portas para receber visitantes

interessados em usufruir ―um dia no campo‖, oferecendo acomodação, gastronomia

típica e participação nas atividades da fazenda (ZIMMERMANN, 1996).

6 Disponível em: <http://www.zimmermann.com.br/turismorural.htm> Acesso em: 20 nov. 2012

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A iniciativa foi bem sucedida e nasceu assim o Turismo Rural no Brasil.

Devido a este movimento pioneiro, o município foi batizado de capital nacional de

Turismo Rural, sendo também sede da Associação Brasileira de Turismo Rural

(ABRATURR). São consideradas pioneiras também a fazenda do Barreiro e a

fazenda Boqueirão, também em Lages, que passaram a oferecer pernoite e

participação nas atividades da fazenda (RODRIGUES, 2000).

A partir da então, o turismo rural começou a se expandir por todo o país. No

final dos anos 1980, surge no estado de São Paulo, na região de Mococa, um

movimento pioneiro que criou a primeira rota rural nacional, reunindo antigas

fazendas da região, que ofertavam cavalgadas, hospedagem, gastronomia típica e

atividades campestres.

Na década de 1990, as atividades turísticas rurais passaram a ser praticadas

em todo o país, em estados como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e

Rio de Janeiro, apresentando características diferentes ao longo do país.

Candiotto (2010) aponta como alguns fatores que contribuíram para o

crescimento da atividade: as dificuldades econômicas dos agricultores e da

agricultura em todo o mundo, e o apelo ambiental de usos menos degradadores dos

recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, popularizado no início da

década de 1990, além do interesse da sociedade urbana pelo ambiente e pela

cultura rural.

Beni (2002) identifica as origens do turismo rural em duas vertentes:

a primeira está nas experiências já consolidadas em vários países e, também no Brasil, consubstanciadas no desenvolvimento de uma oferta de serviços de lazer e hospedagem em propriedades rurais no campo em pequenas, médias e grandes propriedades. [...] A segunda vertente reside nos casos de propriedades não produtivas que possuem amplas instalações receptivas, algumas de valor histórico-patrimonial e arquitetônico de época que, adaptadas, permitem absorver parte de uma demanda diferenciada. Ainda nesta vertente incluem-se os modernos hotéis-fazenda e acampamentos de férias para jovens e idosos, especialmente edificados nas áreas rurais de destacado valor cênico-paisagístico (BENI, 2002).

As melhorias advindas da atividade passaram a ser difundidas por todas as

regiões, e a atrair a atenção de empreendedores, que passaram a investir no

segmento. Silva, Vilarinho e Dale (2000) ressaltam que

o turismo em áreas rurais tem sido pensado mais recentemente no Brasil como uma fonte adicional de geração de emprego e renda para famílias

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residentes no campo, à medida que vem decaindo a ocupação e as rendas provenientes das atividades agropecuárias tradicionais (SILVA et al,2000, p. 133).

Beni (2002) observa também que o turismo rural vem sendo considerado

como alternativa de substituição viável às áreas turísticas em processo de

saturação, principalmente em países europeus de longa tradição receptiva.

Como nos lembra o Ministério do Turismo (2003), este crescimento da

atividade veio acompanhado também de alguns aspectos negativos, pois muitas

vezes o investimento na atividade tem ocorrido de forma pouco profissional, sem o

embasamento técnico necessário, gerando conseqüências negativas, relacionadas

principalmente à sobrecarga da estrutura rural por um número elevado de visitantes

e veículos, problemas legais, degradação ambiental e descaracterização do meio e

da própria atividade.

3.2. DIFERENTES OFERTAS DE TURISMO RURAL NO BRASIL

Apesar de possuir características próprias bem definidas, o Turismo Rural

pode se apresentar de diferentes formas, de acordo com o contexto em que está

inserido, e o produto ofertado.

Beni (2002) ressalta algumas destas diferenças, em termos de instalações de

hospedagem:

[...] pode apresentar instalações de hospedagem tanto em casas de antigas colônias de trabalhadores e imigrantes dos distintos períodos agrários do Brasil, bem como com sedes de fazendas e casas de engenho dos ciclos do café e da cana de açúcar, que tipificam o patrimônio histórico-arquitetônico e étnico-cultural de muitos Estados brasileiros, quanto também em propriedades modernas, complexos turísticos e hotéis-fazenda, particularmente voltados aos turistas que buscam lazer e recreação em atividades agropastoris. (BENI, 2002, p.32).

Podemos diferenciar as várias formas de praticar o turismo rural também de

acordo com o produto ofertado. No Brasil, há uma oferta turística rural riquíssima em

variedade, se diferenciando de acordo com as particularidades de cada região.

Como ressalta Zimmermann (1991): ―O turismo rural no Brasil é como um mosaico

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cuja expressão cênica, está diretamente ligada aos recursos disponíveis e a

sensibilidade de seu mentor‖ (ZIMMERMANN, 1999, p. 1)

Atualmente, segundo dados do Instituto de Desenvolvimento do Turismo

Rural (IDESTUR), o Turismo Rural está presente em 18 estados do Brasil, em

diferentes fases de desenvolvimento.

O Ministério do Turismo, em parceria com o Ministério de Desenvolvimento

Agrário, lançou em 2006 a revista Panorama do Turismo Rural e Agricultura Familiar,

em que destaca as principais ofertas de Turismo Rural em cada estado do Brasil.7

Segundo esta publicação (2006), podemos perceber que há diferentes

possibilidades de se praticar o turismo rural, podendo variar de acordo com o

ambiente, as motivações dos turistas e os produtos a serem ofertados. Seguindo

este pensamento, podemos enumerar diferentes ofertas de turismo rural no Brasil,

de acordo com os principais atrativos para qual o turismo está voltado.

Há uma oferta de turismo rural voltada para a história, que geralmente está

relacionada aos diferentes ciclos econômicos do Brasil, como o ciclo do Cacau na

Bahia, o açúcar no Nordeste, o café em São Paulo e Rio de Janeiro, e o ouro em

Minas Gerais e Goiás. Nestes lugares, é possível visitar antigos engenhos e

fazendas de grande valor histórico, muitos dos quais adaptados para virarem

pousadas e hotéis-fazenda, além de museus, igrejas e outros atrativos de valor

histórico. Há ainda os sítios arqueológicos e paleontológicos de importância

internacional no Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte, que preservam vestígios de

povos indígenas e animais que habitaram a região há milênios (MINISTÉRIO DO

TURISMO, 2006).

A natureza e as paisagens são elementos essenciais para o desenvolvimento

do turismo rural e estão sempre presentes na atividade. Porém, há roteiros que

enfatizam estes aspectos, oferecendo ao visitante a oportunidade de realizar

atividades em contato com a natureza, como trilhas ecológicas, cavalgadas,

observação de pássaros e animais silvestres, entre outros. No Brasil, existe uma

grande variedade no que diz respeito às paisagens. Por exemplo, Alagoas oferta

7 Ministério do Turismo. 2006. Panorama Turismo Rural e Agricultura Familiar. Disponível em:

<http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicaco

es/Panorama_do_Turismo_Rural_na_Agricultura_Familiar.pdf> Acesso em: 30 dez. 2012

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tanto banhos no Rio São Francisco quanto as paisagens da caatinga, enquanto o

Mato Grosso do Sul permite cavalgadas na maior área inundada do planeta, e o

Pará oferece passeios de canoa, pesca, e cavalgadas de vários dias de duração em

meio à floresta amazônica (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006).

Figura 3- Cavalgada no Mato Grosso do Sul, com até uma semana de duração, na qual o turista percorre circuito entre fazendas na região do Rio Negro. Passeio inclui acampamento, safári fotográfico e focagem de animais. Fonte: Fazenda Barra Mansa

8

Outro aspecto bastante explorado pelo turismo rural diz respeito à

gastronomia, que é constantemente ressaltada nos roteiros rurais, como por

exemplo, o café regional que é oferecido aos turistas no Amazonas, com

ingredientes típicos da Amazônia, como a tapioca recheada com castanha, tucumã e

sucos de frutas como o cupuaçu e o taperebá; a culinária a base de peixes do Rio

São Francisco no Sergipe e do Pantanal em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em

muitos casos, a particularidade vem das influências dos povos que habitaram a

região, como a gastronomia típica tropeira no Paraná, com o arroz de carreteiro

como carro-chefe, a gastronomia típica da Bahia com influência africana e

8 G1. No Pantanal de MS, cavalgada entre fazendas pode durar até uma semana. Disponível em:

<http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2012/01/no-pantanal-de-ms-cavalgada-entre-fazendas-pode-durar-ate-uma-semana.html>. Acesso em: 12 jan. 2013.

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portuguesa, e a gastronomia européia presente no Rio Grande do Sul (MINISTÉRIO

DO TURISMO, 2006).

A própria produção agropecuária pode se constituir no principal atrativo

turístico, em propriedades voltadas para o agroturismo, que permitem aos turistas

conhecer suas atividades agrícolas, acompanhar a produção, degustar o produto

final e até adquiri-lo direto nas propriedades onde são produzidos. Como exemplos,

temos o circuito das frutas em São Paulo, em que quarenta propriedades, a maioria

de pequenos sítios de agricultura familiar, oferecem visita aos pomares,

degustações das mais diversas frutas in natura e em compotas, geléias, licores, e

também mel, pães, massas caseiras, vinhos artesanais e cachaças. Assim como o

cultivo de flores e caju no Ceará, a produção artesanal de cachaça no Nordeste, e

de queijos em Minas Gerais (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006).

Outro importante aspecto a ser valorizado são as tradições, costumes e festas

típicas, em que as maiores atrações turísticas se constituem em conhecer, vivenciar

e até participar de manifestações culturais de um local. Pode ser desde o artesanato

típico, até as manifestações folclóricas, a música, as festas, tradições e costumes,

algumas vezes trazidos por outros povos, como os costumes europeus no Sul do

país. Até o modo de vida das comunidades locais, muitas vezes, podem se

transformar nos próprios atrativos turísticos, como é o caso de comunidades

tradicionais indígenas na Amazônia, e comunidades de pescadores no Pantanal.

Estes aspectos se misturam e interagem nas diversas rotas turísticas rurais

presentes no país, que geralmente oferecem ao turista a oportunidade de desfrutar

de vários aspectos ao mesmo tempo. Algumas propriedades recebem, ainda, grupos

de turistas com fins pedagógicos, enfatizando a educação ambiental e o

aprendizado histórico.

Mesmo que, em alguns casos o contato com a natureza não seja a motivação

principal da viagem, todas as modalidades apresentadas aqui pressupõem alguma

interação com a ruralidade e podem ser consideradas formas diferentes de se

praticar o turismo rural. Como aponta Candiotto (2010): ―[...] mesmo em

empreendimentos turísticos rurais altamente tecnicizados, como um haras, uma

fazenda experimental ou um pesque-pague, algum tipo de atividade agropecuária é

mantido‖. (CANDIOTTO, 2010, p. 14).

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32

3.3. PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

RURAL

A atividade está em expansão no Brasil. De acordo com o Panorama

Empresarial de Turismo Rural (PETR- 2011), uma pesquisa realizada pelo Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em parceria com a

PRB Consultores Associados e o Instituto de Desenvolvimento do Turismo Rural

(IDESTUR), com o objetivo de conhecer o empreendedor e o universo desta

atividade no ano de 2011, o turismo rural é uma das atividades econômicas que

mais se desenvolve no país, com crescimento de aproximadamente 30% ao ano.

Em 2012 o segmento bateu recorde de negócios, com um crescimento de

cerca de 90% em relação a 2011, segundo o Conselho de Turismo da Confederação

Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). 9

Segundo o PETR-2011, há uma grande concentração da oferta na região

Sudeste, sendo São Paulo o maior destino de turismo rural no Brasil. Porém, a

pesquisa ressalta o crescente número de produtos criados na região Nordeste nos

últimos anos. Alguns dos destinos nordestinos que exploravam somente o turismo

de sol e praia, já passam a explorar as suas riquezas naturais e culturais, como as

fazendas históricas, as paisagens e a gastronomia típica regional.

A mesma pesquisa verificou, conforme apresentado a seguir na Figura 3, que

o agroturismo se apresenta como um dos principais produtos ofertados pelo turismo

rural, seguindo a tendência dos anos anteriores. Porém, verificou-se um crescimento

de atividades voltadas para o turismo rural pedagógico, e para a melhor idade, este

último representando uma oportunidade para diminuir a sazonalidade, já que, para

este público, as atividades podem ser desenvolvidas durante a semana e períodos

de baixa temporada.

É grande a oferta de meios de hospedagem e restaurantes rurais,

considerando que, além dos atrativos, o turista necessita de hospedagem e

alimentação durante a sua estada.

9 Fonte: CNC Noticias. Disponível em: <http://www.cnc.org.br/noticias/conselho-de-turismo-da-cnc-

debate-turismo-rural> Acesso em: 15 dez. 2012

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A pesquisa ressalta que ainda há poucas ofertas de Turismo Rural adaptado,

pois, apesar de existir uma demanda crescente por parte destes turistas, o turismo

rural nacional ainda não está preparado para receber estes turistas, seja por falta de

infraestrutura adequada ou por falta de mão-de-obra qualificada e especializada.

Figura 4 - Principais produtos ofertados pelas empresas de turismo rural Fonte: Panorama Empresarial de Turismo Rural 2011

Segundo os empresários do setor entrevistados na pesquisa, 30% dos

clientes têm origem regional, 26% estadual, e 19% vem de outros estados, o que

demonstra a tendência de o turista procurar destinos próximos a sua origem.

Normalmente são moradores dos centros urbanos, que viajam para o interior por

curtos períodos. O que chama a atenção é que 25% dos clientes vêm do exterior,

sendo um mercado com grande potencial e ainda pouco explorado pelo turismo

rural. Uma pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo em 2011 confirma esta

tendência, identificando que aproximadamente 24% dos turistas internacionais vêm

ao país interessados em natureza, ecoturismo e aventura.

Segundo Andreia Roque, presidente do IDESTUR, um dos fatores para o

crescimento do turismo rural nos últimos anos é que as propriedades estão se

profissionalizando, mas sem perder as características rurais. De acordo com

Andreia, isso acontece porque os filhos dos produtores do campo foram para as

cidades estudar e voltaram com conhecimento para aplicar nas fazendas e no

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negócio do turismo rural10. O PETR-2011 classifica esse novo ator de ―Novo Rural‖,

e ressalta que as pessoas deste novo grupo não são ―menos rurais‖, pois, ao

escolherem o campo para morar, se comprometem com a localidade, procurando

agregar valor aos produtos e serviços, e resgatar e promover o patrimônio cultural

local. Ressalta ainda que ―muitos, além da pousada, tomam gosto pela experiência,

plantam café, hortaliças, tiram leite, e se transformam em produtores rurais.‖ (PETR-

2011, p.10).

No ranking mundial, o Brasil ocupa a quarta posição no segmento, perdendo

apenas para Espanha, Portugal e Argentina. De acordo com a previsão de Andreia

Roque, a forte tradição agrícola e o histórico como colônia rural poderão levar o país

ao primeiro lugar da lista dentro de dez anos. 11

Porém, como ressalta o Mtur (2010), desenvolver o Turismo Rural requer a

superação de alguns obstáculos, como a precariedade de infraestrutura no meio

rural, a baixa qualificação profissional, e a falta de preparo de agências e operadoras

para lidar com o segmento.

Os empresários do setor, entrevistados no PETR-2011, também

apresentaram a falta de profissionalização do setor e a falta de infraestrutura

adequada como algumas das principais dificuldades para o desenvolvimento da

atividade, além da falta de comunicação e promoção eficientes, a baixa qualificação

da mão-de-obra existente, os impactos sociais, culturais e ambientais causados

pelos turistas, a falta de infraestrutura adequada, e o desconhecimento sobre as

linhas de incentivos existentes.

Visando à Copa do Mundo de 2014, quando o país estará em evidência no

cenário internacional, o SEBRAE, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA) e Ministério do Turismo (Mtur) lançou o Projeto Talentos do Brasil

Rural, que tem como objetivo inserir produtos e serviços da agricultura familiar no

10

Fonte: Entrevista Andreia Roque para o programa ‗Bom Dia Campo‘. Disponível em:

<http://agricultura.ruralbr.com.br/noticia/2011/12/profissionalizacao-do-turismo-rural-no-brasil-e-

destaque-em-2011-3610620.html> Acesso em: 15 nov. 2012

11 Fonte: Globo Rural Online, com informações da Agência Sebrae. Disponível em:

<http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,EMI168736-18280,00-

BRASIL+PODE+SER+PRINCIPAL+DESTINO+DE+TURISMO+RURAL+DO+MUNDO+EM+ANOS.ht

ml> Acesso em: 14 nov. 2012

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mercado turístico, agregando valor à oferta turística brasileira, melhorar a

qualificação profissional e gerar renda a agricultores familiares.12

De acordo com o Ministério do Turismo, o foco é o turista que virá ao Brasil

antes, durante e depois da Copa do Mundo de 2014, para que este possa consumir

e conhecer os produtos da agricultura familiar que o Brasil dispõe. Ao todo foram

selecionados 24 roteiros turísticos, localizados no entorno das cidades-sede da

Copa do Mundo de 2014. Os circuitos, selecionados por meio de chamada pública

realizada em 2011, envolvem 54 municípios brasileiros, que receberão apoio para

divulgação e comercialização, além de capacitação profissional, consultoria e

orientações dos técnicos do Ministério do Turismo para aprimorar os produtos e

serviços.13

12

SEBRAE. Talentos do Brasil rural. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/customizado/sebrae/institucional/patrocinio/chamada-

publica/Chamada%20Publica%20Talentos%20do%20Brasil%20Rural.pdf> Acesso em: 15 nov. 2012

13 Ministério do Turismo, 2012.

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4. TURISMO RURAL NO VALE DO CAFÉ

Conforme apresentado no capítulo anterior, há uma grande variedade de

produtos ofertados pelo Turismo Rural. Para a realização deste trabalho, o foco será

no turismo rural voltado para os aspectos históricos e culturais, relacionados ao ciclo

econômico do café.

Rodrigues (2000) define esta forma de turismo como:

Propriedades que historicamente se constituíram como unidades de exploração agrária durante o ciclo do café, o mais significativo. O patrimônio arquitetônico relativamente suntuoso, representado pelas sedes da fazenda que, com algumas reformulações, funcionam como meios de hospedagem, constituindo pousadas ou hotéis com apartamentos privativos. [...] Comportam serviços especializados implantados para o entretenimento do visitante: aluguéis de cavalos, de charretes, de pedalinhos, atividades de pesque-pague, algumas atividades lúdicas como ordenha de vacas, colheita de frutas em pomares, sem fins lucrativos. (RODRIGUES, 2000, p. 61-62).

Seguindo este modelo de turismo rural, que o autor classifica como ‗turismo

rural do ciclo cafeeiro‘, foram escolhidas como objeto de estudo as antigas fazendas

cafeeiras da região do Vale do Café, devido à sua importância histórica da época do

ciclo econômico do café, quando eram responsáveis por grande parte do café

produzido no Brasil e no mundo. Nas últimas décadas, o turismo vem se

desenvolvendo na região como alternativa para valorização dos seus aspectos

históricos e naturais e geração de renda, principalmente nas antigas fazendas

produtoras de café.

4.1. O VALE DO CAFÉ

Vale do Café é a denominação turística para o conjunto de quinze municípios

do Vale do Paraíba do Sul Fluminense, localizado a cerca de 120 km da cidade do

Rio de Janeiro, que concentraram nos séculos XVIII, XIX e XX as grandes fazendas

de produção do café, marcando o primeiro ciclo do café brasileiro.

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Figura 5 - Mapa da região do Vale do Café Fonte: Festival Vale do Café

14

Esta região, que faz fronteira com os estados de São Paulo e Minas Gerais, é

cortada de Oeste a Leste pelo rio Paraíba do Sul, conforme apresentado na figura

acima, e engloba os seguintes municípios: Barra do Piraí, Barra Mansa, Paulo de

Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paracambi, Paraíba do Sul, Paty dos Alferes,

Pinheiral, Pirai, Rio das Flores, Valença, Vassouras e Volta Redonda.15

4.2. O CICLO DO CAFÉ NO VALE DO PARAIBA FLUMINENSE

Registros indicam que o café chegou ao Brasil em 1727 no Pará, trazido por

Francisco de Melo Palheta, que teria contrabandeado sementes da Guiana

Francesa. Do Pará, a cultura que no início era utilizada apenas no consumo

doméstico, passou para o Maranhão e, durante boa parte do século XVIII limitou-se

ao Norte e Nordeste do país.

14 FESTIVAL VALE DO CAFÉ. Disponível em: <www.festivalvaledocafe.com> Acesso em: 03 jan

2013. 15

Conservatória, que também aparece no mapa, é um distrito do município de Valença.

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Em 1760, algumas mudas foram trazidas para a cidade do Rio de Janeiro por

João Alberto Castelo Branco, desembargador do Maranhão e, na virada para o

século XIX, o café já cobria morros importantes da cidade do Rio de Janeiro, que se

transformaram em imensos cafezais, como as montanhas da Gávea, Corcovado,

Tijuca e da região de Jacarepaguá. Da cidade do Rio de Janeiro, a cultura do café

se espalhou pela Baixada Fluminense, e posteriormente, pelo Vale do Paraíba.16

Desde que aportou no Rio de Janeiro, a passagem do consumo doméstico ao

cultivo em escala comercial foi bastante rápida e, em um espaço de tempo

relativamente curto, o café passou de uma posição secundária para a de produto-

base da economia brasileira, dando início ao ciclo econômico do café, um dos mais

importantes economicamente, trazendo para o Brasil um grande desenvolvimento

econômico.

O surto e crescimento da produção do café foram favorecidos pelo crescente

consumo de café no mundo, além de uma série de fatores existentes à época, como

a crise das economias do açúcar e do algodão, fazendo com que os fazendeiros

procurassem por um novo produto de fácil colocação no mercado internacional;

mão-de-obra ociosa na região Centro-Sul resultante da decadência da mineração;

condições favoráveis de clima e de solo; expansão da navegação marítima,

facilitando o transporte do produto; e incentivos por parte do príncipe regente

(MARTINS, 2008).

Do início do século XIX até a década de 1930, o café representou a principal

riqueza brasileira. O Vale do Paraíba foi o principal produtor de café do Brasil

Império e a província fluminense foi o seu maior destaque ao longo de todo o ciclo.

No seu auge, chegou a ser responsável por mais de 70% das exportações

brasileiras, garantindo ao Brasil a condição de líder mundial na produção e

exportação de café.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o ciclo pode ser

dividido em três períodos distintos: O primeiro — nascimento / crescimento — que

iria de 1800 a 1840. O segundo, o apogeu, de 1840 a 1875 e, o terceiro, a partir daí

até 1900, o de declínio / derrocada. Porém, mesmo nos anos do declínio, o Vale

ainda continuou produzindo um expressivo volume de café.

16

Fonte: PLANETA ORGÂNICO. Disponível em:< http://planetaorganico.com.br/site/index.php/as-

origens-do-cafe/> Acesso em: 02 jan. 2013

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Figura 6 - Escravos trabalhando em plantação de café Fonte: Turismo Vale do Café, 2013

17

Uma das causas para a decadência do café fluminense foi a utilização de

técnicas de plantio inadequadas, por lavradores tecnicamente despreparados. O

plantio do café era feito em linha reta, de cima para baixo. Essa prática facilitava a

colheita, mas provocava erosão. A queimada das matas para dar lugar às

plantações resultava no enfraquecimento do solo. A terra ia perdendo seus

nutrientes, até tornar-se um solo fraco, determinando a curta duração do pé de café

(de no máximo vinte anos). Após o esgotamento do solo, era necessário partir para

novas áreas de cultivo. (MARTINS, 2008)

Não podemos esquecer também, que o sucesso da economia cafeeira no

Brasil apoiou-se primeiramente na força de trabalho escrava, que garantiu a

produção de café e a colocação do Brasil nos mercados internacionais. Os escravos

eram responsáveis por todas as etapas da produção, como o plantio, colheita,

beneficiamento, ensacamento, despacho do grão, além da produção de subsistência

que mantinha a fazenda e de servirem domesticamente aos senhores (MARTINS,

17

TURISMO Vale do Café. Disponível em: <http://www.turismovaledocafe.com> Acesso em: 03 jan.

2013

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2008). A economia estava toda baseada na mão-de-obra escrava e era ameaçada

na medida em que a campanha abolicionista avançava. A abolição da escravidão

em 1888 contribuiu para a decadência das fazendas cafeeiras, que se viram agora

sem poder contar mais com a mão-de-obra escrava.

Figura 7 - Escravos negros pilando o café. A socagem manual do pilão era uma das tarefas mais pesadas, realizada geralmente pelas escravas. Fonte: Martins, 2008

Progressivamente, o estado de São Paulo foi superando o Rio de Janeiro na

produção cafeeira, com terras virgens e mais produtivas, contando com mão-de-obra

livre e imigrante. Entre 1890 e 1910, o número de pés de café no estado de São

Paulo mais que triplicou, transformando o estado no maior produtor de café do país.

(MARTINS, 2008)

O café perdurou no Vale do Paraíba, tanto paulista quanto fluminense, até

1930, quando perde sua importância após a queda da bolsa de Nova York em 1929,

resultando na falência de grande parte da classe cafeicultora.

Ao longo dos mais de cem anos, a economia cafeeira acelerou o

desenvolvimento do Brasil e o inseriu nas relações internacionais de comércio. A

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cultura do café ocupou vales e montanhas, possibilitou o surgimento de cidades,

povoados, vilas e ferrovias, e financiou a industrialização no sudeste do país.

Rodrigues (2000) ressalta ainda que, além dos bens de valor histórico, os ciclos

econômicos deixaram na paisagem seus aspectos marcantes, um rico folclore e uma

apreciada gastronomia.

4.3. AS GRANDES FAZENDAS DE CAFÉ

O ciclo de ouro do café passou, mas deixou um rico legado arquitetônico e

cultural, que permanece vivo até hoje nas fazendas de café.

Estas fazendas ficaram famosas por sua arquitetura típica, projetadas em

quadriláteros funcionais com terreiros de café situados bem em frente à casa

grande, de maneira que pudessem ser visualizados pelo fazendeiro da varanda da

casa grande. Ao redor do quadrilátero, se alinhavam as senzalas, que abrigavam a

mão-de-obra envolvida em todo o processo produtivo.

Além da casa-sede e da senzala, suas principais edificações eram: O lavador

de café; O(s) terreiro(s) para a sua secagem, de terra ou calçado; O engenho para

beneficiamento dos grãos (engenho de café); As tulhas para armazenagem do café

seco a ser beneficiado. 18

Na época em que o Brasil dominava a produção mundial de café, os

fazendeiros de café se tornaram a elite social e política do país, se refletindo na

riqueza das construções e do imobiliário dos grandes casarões da fazenda.

Apesar de, como aponta Benincasa (2006), a técnica construtiva ter

permanecido a mesma de tempos atrás, a taipa de pilão ou de mão, internamente as

fazendas incorporaram traços da arquitetura em voga na capital, que apresentavam

um certo refinamento incomum até então:

Assoalhos bem encerados; pinturas murais decorativas, ora representando paisagens; papéis de parede importados, forros bem elaborados; janelas e

18 PORTAL SÃO FRANCISCO. Ciclo do café. Disponível em:

<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ciclo-do-cafe/ciclo-do-cafe-6.php>. Acesso em: 30 dez. 2012.

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portas almofadadas; e toda a sorte de objetos de decoração e mobiliário que eram os mesmos das melhores casas da Corte.[...] A planta da casa também se alterou com o aparecimento de inúmeras salas e saletas destinadas ao convívio social, que, com o aprimoramento da iluminação, proporcionou que essas novas casas fossem abertas para inúmeras recepções (BENINCASA, 2006, p.07).

Figura 8 - Fazenda de café em Vassouras Fonte: Martins, 2008

Algumas fazendas eram originárias das instalações de antigos engenhos de

açúcar, que apenas reorganizaram seus espaços e se adaptaram para receber o

café, com estrutura mais elaborada do que a da cana. Outras foram construídas com

a finalidade de produção de café, abertas em territórios de matas virgens. Estas

fazendas já foram construídas com maior complexidade, capazes de atender às

necessidades específicas da produção cafeeira.

Uma característica presente nas fazendas era a sua autossuficiência, que

fazia delas um pequeno mundo, quase isolado. Essas propriedades traziam de fora

apenas o sal, a pólvora e o ferro. Os demais produtos e utensílios de consumo diário

eram produzidos em seu interior. As fazendas maiores atingiam dimensões de um

verdadeiro povoado, algumas chegando a contar com mais de mil habitantes.

(MARTINS, 2008)

Com declínio econômico do café, os proprietários foram à falência e as

fazendas foram leiloadas. As fazendas decadentes do Vale viveram uma segunda

invasão pelos mineiros, que desceram com suas boiadas e ocuparam as terras

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baratas para produzir leite, derivados e carne. O que era cafezal foi cedendo espaço

para a pecuária, e os morros transformaram-se em vastos pastos. 19

4.4. DO CAFÉ AO TURISMO

Nas últimas décadas, a partir da necessidade de se buscar novos negócios

capazes de superar o cenário de crise deixado após o declínio do café e movimentar

a economia local, o turismo rural começou a ser pensado como uma atividade para

complementar a renda do trabalhador e resgatar o valor histórico nas fazendas.

Em 1960, a Fazenda Ponte Alta, em Barra do Piraí, foi vendida para Nellie

Pascoli e, pela primeira vez, foi vista como herança patrimonial a ser preservada.

Sua arquitetura foi restaurada pela proprietária e a casa do engenho mobiliada,

resgatando a atmosfera original. Dando continuidade ao projeto de valorização

iniciado por Nellie, sua sobrinha e herdeira, Evelyn Pascoli, foi responsável pela

criação da Pousada Fazenda Ponte Alta, ilustrada a seguir na Figura 8, que

desenvolveu turismo histórico e pedagógico, sendo pioneira na região.20

19 PORTAL SÃO FRANCISCO. Ciclo do café. Disponível em:

<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ciclo-do-cafe/ciclo-do-cafe-6.php>. Acesso em: 30 dez. 2012. 20

Fonte: Fazenda Ponte Alta

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Figura 8 - Fazenda Ponte Alta em Barra do Pirai, RJ, que hoje funciona como pousada. Fonte: Fazenda Ponte Alta

21

Hoje em dia, na região do Vale do Paraíba fluminense, existem cerca de trinta

fazendas remanescentes do período do café abertas à visitação, indicadas na figura

abaixo, tendo algumas delas se tornado hotéis fazendas ou pousadas.

21 POUSADA FAZENDA PONTE ALTA. Disponível em: <http://www.pontealta.com.br/> Acesso em:

31 dez. 2012.

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Figura 9 - Mapa das principais fazendas históricas na região do Vale do Café Fonte: Instituto Preservale

As fazendas históricas que resistem ao tempo hoje se destacam como

grandes atrativos para o turismo. Os atuais proprietários investem no turismo

histórico, rural e cultural para atrair visitantes. Este turismo acontece com a

preocupação em manter as características da vida simples das cidades do interior e

preservar a história através de suas peças decorativas, mobiliários, costumes e

tradições, testemunhas dos tempos áureos da prosperidade econômica do café.

Muitas destas fazendas estão em perfeito estado de conservação. Algumas,

inclusive, serviram de cenário para filmes e novelas de época, como ―A Escrava

Isaura‖. 22

22 GUIAS E MAPAS MICHELIN. As fazendas de café do Vale do Paraíba. Disponível em:

<http://www.michelin.com.br/guias-e-mapas/As-Fazendas-do-Cafe-do-Vale-do-Paraiba.html> Acesso em: 30 dez 2012.

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Como ressalta Martins (2008):

O imaginário popular guardou a lembrança da fazenda de café nos moldes daquela do Império, onde a casa de morada, senzala, terreiro, trulha e pomar, emoldurados pelo cafezal, definiam o complexo cafeicultor, perpetuando uma memória nostálgica, associada à vida bucólica do campo, ritmada pelo tempo mais lento, próprio do universo rural. (MARTINS, 2008, p.137)

Martins (2008) nos lembra ainda, que as fazendas ainda hoje nos permitem

imaginar e sentir toda a atmosfera da vida na época do ciclo do café:

A sala de jantar, com o assoalho de tábuas largas e as janelas escancaradas para a paisagem lá fora; móveis de palhinha e redes acolhedoras, penduradas em rústicos ganchos; retratos pelas paredes; cadeiras de balanço; fruteiras e lampiões sobre consoles. Nos dormitórios, penteadeiras com tampo de mármore sustentando a bacia, o jarro, a saboneteira. E a cozinha imensa, com fogão de lenha e seu trempe de panelas, ou com o jirau para guardar embutidos, tendo por trás a parede negra de fuligem. (MARTINS, 2008, p. 138)

Além do legado histórico, o Vale do Café também é rural, na medida em que

estas propriedades mantém vivas as tradições locais, a cultura da roça, a

gastronomia típica, os costumes e a produção rural de diversos tipos nas fazendas,

além de se destacar também pela mata atlântica presente em várias áreas.

Hoje, o legado histórico e as paisagens naturais movimentam o turismo na

região, incentivando a preservação das propriedades e do patrimônio. Como ressalta

o Ministério do Turismo no programa Vivências Brasil (2006):

―O turismo agrega valor às propriedades e, na maior parte dos casos, mantém a estrutura das mesmas; os recursos gerados pela atividade têm motivado os proprietários a manterem as propriedades abertas à visitação e a preservarem este pedaço importantíssimo de nossa história, proposta que vem ao encontro do conceito de turismo rural, que se baseia em agregar valor a propriedade e funcionar como uma alternativa de renda, capaz de motivar o proprietário rural a manter a propriedade como tal.‖ (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006, p.15)

O Ministério do Turismo (2006) ressalta ainda que esta região vem sendo

considerada como um dos principais destinos de turismo rural do país, por

desenvolver produtos que agregam a valorização da cultura local, história e também

a valorização das tradições e costumes do campo.

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Além das visitas às fazendas de café, os atrativos turísticos relacionados à

importância histórica da região podem também incentivar o turismo nas cidades do

Vale.

Criado em 2003 com o objetivo de constituir um pólo turístico cultural e

acelerar o desenvolvimento econômico na região, o Festival Vale do Café acontece

todos os anos nos quinze municípios do Vale do Café. O evento, que chegou à sua

10ª edição em 2012, além de movimentar o turismo na região, remunera cerca de

1.000 profissionais, beneficia mais de 1.500 alunos de música e acumula um público

de mais de 600.000 pessoas desde a sua primeira edição em 2003, gerando desta

maneira um grande crescimento econômico para a região.

Figura 10 - Apresentação musical no Festival Vale do Café Fonte: Festival Vale do Café

A programação, na maior parte é gratuita (somente os concertos nas

fazendas são pagos), e celebra música, história e natureza, aliada à valorização das

raízes e do patrimônio histórico da região, contando com:

Concertos nas fazendas: além da oportunidade de conhecer as 14 fazendas

históricas da região que participam do Festival, o público poderá assistir a

concertos de música instrumental brasileira;

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Shows em praças públicas: apresentações gratuitas percorrem praças

públicas dos 14 municípios da região do Vale do Café;

Cortejos de tradições populares locais: Em apresentações populares, o

Cortejo de Tradições se destaca entre as manifestações de cultura popular do

Vale do Paraíba;

Café Cultural O Globo : localizado no centro histórico de Vassouras, é

direcionado à debates e aulas que abordam temas ligados à cultura histórica

da região, ao cultivo do café e à música instrumental brasileira;

Cursos de música: destinadas a alunos bolsistas de todo o país, que têm a

chance de se aprimorar artisticamente com professores dos mais variados

instrumentos musicais, de piano a canto, passando por clarineta, saxofone,

violoncello entre muitos outros.23

23

FESTIVAL VALE DO CAFÉ. Disponível em: <www.festivalvaledocafe.com/> Acesso em: 03 jan 2013.

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5. PESQUISA DE CAMPO

Além da pesquisa bibliográfica, o presente estudo contou também com uma

pesquisa de campo, realizada em fazendas históricas no Vale do Café, que tiveram

sua importância durante o período do ciclo econômico do café, e hoje mantém

algumas de suas características originais, voltadas principalmente para o turismo.

5.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Para a realização da pesquisa de campo, foi escolhido o município de Barra

do Piraí, localizado no Vale do Paraíba fluminense, a 114 km da cidade do Rio de

Janeiro. Esta escolha deveu-se à importância histórica do município, que, durante o

ciclo do café, se tornou centro de embarque e redistribuição dos produtos vindos de

fora da região e também ao fato de ser um dos mais representativos destinos de

turismo rural no estado do Rio de Janeiro

Figura 11 - Localização de Barra do Piraí no estado do Rio de Janeiro Fonte: http://www.pmbp.rj.gov.br/

Área:582,1 km².

Localização Geográfica: localizada no centro da região Sul Fluminense, fica a

aproximadamente 114 km da cidade do Rio de Janeiro. Faz fronteira com os

municípios de Valença, Vassouras, Mendes, Piraí, Pinheiral, Volta Redonda e Barra

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Mansa.

Distritos: Barra do Piraí é composto de 6 distritos: Barra do Piraí (sede), Ipiabas,

Vargem Alegre, Dorândia, São José do Turvo, Califórnia da Barra.

Fundação: 1890

Altitude: 363 m

Numero de habitantes: 94.855 habitantes24

Clima: quente e úmido, com chuvas freqüentes no verão.

A cidade ainda conserva em suas igrejas e casarões a opulência dos anos de

prosperidade no Vale do Café. Algumas de suas antigas fazendas estão mantidas

em bom estado de conservação e abertas à visitação e hospedagem. Segundo

informações do Instituto Preservale, são elas:

Hotel Fazenda do Arvoredo (antiga Fazenda Santa Maria):

A Fazenda Santa Maria, construída no início do século XIX, se transformou

em Hotel Fazenda do Arvoredo em 1992, mantendo as características de uma

autêntica fazenda do ciclo do café. O andar superior da casa grande, moradia dos

barões, divide-se em três áreas distintas: comercial, social e íntima, tendo ao centro

o atrium onde circulava o ar para manter uma boa aclimatação da casa. Na cozinha,

encontra-se o antigo fogão à lenha, datado do século XIX, ainda em pleno e total

funcionamento, responsável por um dos atrativos do hotel, que é a sua culinária.

O hotel fazenda oferece diversas opções de lazer, como caminhadas

ecológicas, trilhas na mata, cavalgadas, piscinas, passeios de jipe de jangada, além

de festas, com capoeira, jongo, cachambu e outras danças que exaltam a cultura

negra.

Os visitantes também podem desfrutar da vista da floresta e, aos sábados, é

oferecido aos hóspedes o chá imperial, com bolos, biscoitos, pães, geléias e quitutes

24

Fonte: IBGE / CENSO 2010

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feitos com as receitas originais da baronesa. Após o chá, a baronesa e outros

personagens caracterizados com roupas de época fazem uma visita guiada pelo

casarão contando sua história e curiosidades.25

Pousada Fazenda Ponte Alta:

A Fazenda Ponte Alta teve sua construção por volta de 1830, quando

começaram a surgir as primeiras fortunas geradas pelo café no Vale do Paraíba.

O que se vê hoje, desta antiga ―Empresa Agrícola do Café‖, é a parte do

conjunto de serviço das antigas instalações do café, incluindo o engenho do café, o

engenho de serra, a senzala, as tulhas e as oficinas, que formavam um quadrado

fechado. Por tudo isso, é, na região, o mais representativo conjunto de serviço da

época do café.

Hoje a Fazenda Ponte Alta oferece além de hospedagem, várias opções de

lazer, como caminhadas, passeios a cavalo, banho de açude e piscina, e tem como

atividades a pecuária, a criação de cavalos e o Turismo Cultural e Pedagógico.26

Fazenda São João da Prosperidade:

A Fazenda São João da Prosperidade foi fundada no inicio do século XIX,

entre 1820 e 1830, quando o café começou a ser cultivado na região.

Atualmente a propriedade está aberta a visitação, oferecendo visitas

orientadas a grupos de turismo, em que são contadas informações detalhadas sobre

a arquitetura e o modo de vida do século XIX no Vale, além de lanche caseiro e

artesanato regional. 27

25

Fonte: Instituto Preservale / HOTEL FAZENDA ARVOREDO. Disponível em: <http://

www.hotelarvoredo.com.br> Acesso em: 10 jan. 2013

26 POUSADA FAZENDA PONTE ALTA. Disponível em: <http:// www.pontealta.com.br> Acesso em:

10 jan. 2013

27 FAZENDA SÃO JOÃO DA PROSPERIDADE. Disponível em:

<http://www.fazendaprosperidade.com.br> Acesso em: 10 jan. 2013

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Fazenda da Taquara

A sede da Fazenda da Taquara foi construída na década de 1830, em forma

de quadrilátero, com jardim interno, sob a influência da arquitetura colonial das

Minas Gerais, oriunda do século XVIII. Seu proprietário, o Comendador João Pereira

da Silva, tinha chegado de Portugal no início do século XIX, em companhia de

Joaquim José Pereira de Faro – futuro barão do Rio Bonito. Ela permanece, ainda

hoje, sob o domínio da família do Comendador.

Com quase dois séculos de existência, a sede, ainda em perfeito estado de

conservação, preserva sua história, com seus móveis, documentos e retratos

originais. Outra peculiaridade desta propriedade é ser hoje ainda um centro de

produção de café, além de desenvolver atividades de granja de frangos e

suinocultura.

A fazenda oferece visitas guiadas individuais e em grupos, com agendamento

prévio, que incluem um almoço ou café com culinária típica da região. É oferecida

também visita ao cafezal, mostrando todo o processo de tratamento do café até o

seu beneficiamento, incluso nos pacotes das visitações com café colonial ou

almoço. 28

Fazenda da Aliança

Supostamente, a Fazenda da Aliança foi adquirida pelo 3º Barão do Rio

Bonito, José Pereira de Faro, já com sua unidade de produção de café construída,

composta de casa de vivenda, terreiros de pedra, engenhos de beneficiamento de

café, tulhas, senzalas, paióis e etc. A partir de então, José inicia obras de

modernização do complexo cafeeiro da fazenda, com o final datado em 1863, em

que foram ampliados cafezais, terreiros e melhorias nas edificações e maquinarias.

Ainda hoje, os mesmos terreiros de secar café, construídos com lajes de

pedra na fazenda Aliança, impressionam pela vastidão. O estilo colonial português

da fachada da fazenda é peculiar e revela um gosto simples, porém, original, o que a

distingue de todas as sedes erguidas no Vale do Café. Suas várias edificações

anexas, como o engenho de beneficiamento, tulhas e as ruínas da antiga

28

Fonte: Fazenda Taquara / Instituto Preservale

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enfermaria, nos dão a noção da vida movimentada de seus proprietários e de seus

mais de 800 escravos e empregados. A fazenda está aberta para visitas técnicas

agendadas sob consulta. 29

5.2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Durante um final de semana no mês de dezembro, foi realizada uma viagem

de campo a duas fazendas de café em Barra do Piraí: Hotel Fazenda do Arvoredo e

Fazenda Taquara.

Estas propriedades foram escolhidas devido à disponibilidade de

hospedagem e visita e à viabilidade de deslocamento. Houve a tentativa de contato

com as outras fazendas históricas apresentadas anteriormente, porém os contatos

não foram bem sucedidos, ou por falta de disponibilidade, ou por falta de retorno às

tentativas de contato por e-mail e/ou telefone.

Através de uma pesquisa qualitativa, utilizando de entrevistas semi-

estruturadas com funcionários do hotel fazenda Arvoredo e com o proprietário da

Fazenda Taquara, além de conversas informais com alguns hóspedes do hotel

fazenda Arvoredo, procuramos identificar, na prática, alguns pontos importantes

presentes na teoria sobre o que se tem compreendido por turismo rural. Buscamos

também avaliar se as atividades oferecidas mantém algum comprometimento com a

valorização dos aspectos históricos e culturais da região. Buscamos, ainda,

conhecer o perfil dos hóspedes, suas expectativas e motivações, verificar se a mão-

de-obra utilizada é local, e qual o nível de qualificação dos funcionários. Sendo

assim, mostrou-se importante saber se o turismo tem gerado emprego e melhorias

para a comunidade local, procurando, porém, conhecer as principais dificuldades e

desafios da atividade. Preocupamo-nos em descobrir se as atividades agrícolas

ainda estão presentes nas fazendas, e se a renda principal é representada pelo

turismo ou por elas.

29

Fonte: Instituto Preservale

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5.3. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Mesmo as duas fazendas mantendo suas características rurais e as

instalações da época, foi possível perceber que cada propriedade trabalha o turismo

de forma diferente. Em uma, o foco maior é o lazer e a natureza. Na outra, o foco é

principalmente histórico.

Podemos perceber que, como apresentado anteriormente, o turismo rural

pode ser trabalhado de diferentes formas, mesmo em duas propriedades localizadas

próximas uma da outra, que tiveram sua origem na mesma época. Portanto, para

melhor apresentar os resultados da pesquisa, estes foram divididos em duas partes,

uma para cada propriedade.

5.3.1. – Hotel Fazenda do Arvoredo

Figura 12 - Fachada do Hotel Fazenda do Arvoredo Fonte: Foto do autor

No Hotel Fazenda do Arvoredo, onde estive hospedada durante o final de

semana, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com três funcionários: o

recepcionista Welington, a historiadora Rachel Braga e a gerente financeira Daniella

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Avelar. Nas entrevistas foram abordados os seguintes aspectos, que também foram

observados durante a estada:

Perfil dos hóspedes e ocupação:

Segundo informações dos funcionários, o perfil dos hóspedes é de famílias,

geralmente com crianças, que estão à procura de contato com a natureza, e de

desfrutar momentos de lazer e da tranqüilidade do campo. Também é freqüente

receber grupos escolares com fins de aprendizado. Há muitos hóspedes habituais, e

a grande maioria vêm das proximidades, principalmente da cidade do Rio de janeiro,

ou municípios próximos. Há pouca procura por parte de hóspedes de outros

estados, que os próprios funcionários não souberam informar.

Segundo os funcionários, a ocupação é alta durante os períodos de férias

escolares (julho, dezembro e janeiro), e finais de semana.

Recursos humanos:

Conforme apresentado anteriormente, o turismo rural pressupõe a

utilização de mão-de-obra local, de forma que esta atividade beneficie a

comunidade receptora, gerando empregos e renda.

Segundo informado pela gerente, o hotel conta com 28 funcionários fixos,

sendo a maioria nativa de Barra do Piraí e antiga na propriedade. Alguns

trabalham na fazenda desde antes de se transformar em hotel, e depois foram

aproveitados para exercer as funções de hospedagem. Há funcionários que

moram dentro da própria fazenda, e em alguns casos o hotel emprega toda a

família. Porém, percebe-se que falta profissionalização. A gerente, que cursa

administração, e nunca havia trabalhado com turismo anteriormente, informou

que os funcionários, em sua maioria, não têm nível superior ou qualquer curso

relacionado a turismo, não falam um segundo idioma, e relatou que a maior

dificuldade em trabalhar neste ramo é encontrar mão-de-obra qualificada nas

proximidades, e gente que queira trabalhar aos finais de semana.

A historiadora, Raquel, tem curso superior e mestrado, mas não é local, é

do Rio de Janeiro e foi contratada para cuidar da parte histórica. Com o tempo,

devido à dificuldade em contratar mão-de-obra, foi acumulando funções, fazendo

trabalho de guia no chá imperial, além de recepção e reservas.

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Aparentemente há, por parte do proprietário, um incentivo em qualificar os

funcionários. Recentemente, foram oferecidas bolsas de estudo para que os

funcionários prestassem vestibular. Porém, a gerente admite que não são

oferecidos treinamentos regularmente, somente quando o funcionário é admitido.

Contato com a natureza

O hotel fazenda oferece a oportunidade de o hóspede desfrutar de momentos

de tranqüilidade em contato com a natureza, em uma área de 1.200 hectares, com

grande parte de Mata Atlântica preservada, habitada por espécies raras de nossa

fauna e flora. São oferecidas diversas opções de lazer ligadas à natureza, como

trilhas para trekking, cavalgadas, mountain bike, corridas de orientação, rapel,

cursos de sobrevivência, off-road, safári fotográfico, observatório de aves, etc. 30

Figura 13 - Cavalo passando em frente à janela do quarto no Hotel Fazenda do Arvoredo. Fonte: Foto do autor

30

Fonte: Hotel Fazenda Arvoredo

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Figura 14 - Lago no hotel fazenda arvoredo, onde são praticadas caminhadas e passeios a cavalo. Fonte: Foto do autor

Produção agrícola:

Conforme informado pelos funcionários, a fazenda mantém muito pouca

atividade agrícola, quase nada se comparado ao que era antes de se tornar um

hotel. Esta atividade se resume basicamente no gado leiteiro e na fabricação de

queijos e doces. A renda principal vem do turismo.

Valorização do patrimônio:

Conforme apresentado anteriormente, um dos princípios básicos para a

realização do turismo rural é que este deve acontecer de forma a valorizar os

aspectos históricos e culturais da comunidade receptora.

No hotel fazenda do Arvoredo, há uma preocupação com a manutenção das

instalações históricas. Segundo informações da historiadora Rachel, a fazenda

mantém sua estrutura original, da época da construção. Os quartos são adaptados

das estruturas originais, e estão localizados no que era a antiga senzala e na casa

grande, onde ainda há móveis mantidos da época do ciclo do café.

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Figura 15 - Casa grande, que hoje abriga quartos, bar, restaurante, cozinha e lojinha Fonte: Foto do autor.

Segundo informações da mesma, as instalações passam por constantes

restaurações. Durante os períodos de baixa estação, o hotel funciona somente aos

finais de semana, ficando fechado para restauração e manutenção durante o resto

da semana. Apesar de o atrativo principal se constituir na natureza, há a valorização

dos aspectos históricos, através do chá imperial e das apresentações de capoeira e

outras danças que exaltam a cultura herdada pelos africanos que ali habitaram.

Expectativas dos hóspedes, críticas e elogios:

Através de conversas informais com outros hóspedes do hotel e a partir da

minha própria experiência hospedada no hotel fazenda, pude perceber que as

críticas dizem respeito principalmente à falta de infraestrutura da propriedade e da

cidade para receber os turistas. É um local de difícil acesso, e, sem carro, se torna

mais difícil ainda, por ser longe da cidade. O transporte público para a cidade é

escasso, e há dificuldade em se conseguir táxi. Algumas pessoas, assim como eu,

demonstraram interesse em conhecer a cidade, mas desistiram devido às

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dificuldades. As reclamações também dizem respeito aos equipamentos dos

quartos, que não têm telefone, frigobar vazio, ventiladores que não funcionam, etc.

Os elogios são para a tranqüilidade, as paisagens, as atividades de contato

com a natureza e a recreação para crianças, o chá imperial e a hospitalidade do

povo, todos muito receptivos, sempre dispostos a ajudar.

5.3.2. – Fazenda da Taquara

Figura 16 - Fachada da Fazenda da Taquara Fonte: Fazenda Taquara / Facebook

Na Fazenda Taquara, após a visita histórica guiada, foi realizada uma

entrevista semi-estruturada com o proprietário, Marcelo Streva, em que foram

abordados os seguinte aspectos:

Recursos humanos

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O responsável pelo turismo na fazenda e por realizar as visitas históricas

guiadas é o próprio proprietário, Marcelo Streva, de Barra do Piraí e nascido na

fazenda, com formação superior em turismo.

Preservação do patrimônio

Na Fazenda Taquara, tudo é muito bem conservado. Há a preocupação em

oferecer um produto que corresponda ao máximo à realidade histórica da

propriedade. Antes de começar a se trabalhar com turismo, foi contratada uma

museóloga para avaliar com maior precisão a data de cada peça. Há móveis, louças,

fotografias e até roupas conservadas dos proprietários que viveram na época da

fundação da fazenda e dos que vieram a seguir.

Figura 17 - Quarto com móveis e roupas de cama conservados na Fazenda da Taquara Fonte: Foto do autor

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Figura 19 - Armário com chapéus originais da época do ciclo do Café Fonte: Foto do autor

Atividades agrícolas

A fazenda ainda mantém a produção de café como nos séculos anteriores, e

oferece aos visitantes a oportunidade de conhecer o cafezal e aprender sobre o

processo de produção do café, podendo adquirir o produto ao final da visita, assim

como garrafas de licor de café e doces, todos produzidos localmente. A fazenda

possui ainda criação frangos. Porém, a renda maior vem do turismo.

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Figura 19 - Produção de café na Fazenda Taquara Fonte: Fazenda Taquara/ Facebook

Perfil dos visitantes

O proprietário informou que as visitas são realizadas principalmente em

grupos, de tipos diversificados. Em uma pesquisa realizada com visitantes da

fazenda, ele constatou que 80% destes vêm da cidade do Rio de Janeiro. O restante

procede de Niterói e cidades próximas, o que corrobora a tendência desse tipo de

turista em procurar destinos próximos a sua origem, conforme apontado no terceiro

capítulo.

Beneficios do turismo

Ele acredita que o fluxo de turistas criado pelo interesse nas fazendas da

região não se estende à cidade e os empregos gerados são muito poucos, ao

contrário do que se propõe em relação ao turismo rural, que, segundo as

conceituações apresentadas anteriormente, deve acontecer de forma a gerar

benefícios para a comunidade local.

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Segundo Marcelo, falta interesse por parte da prefeitura em captar estes

turistas, que geralmente saem do Rio de Janeiro ou de sua cidade de origem direto

para conhecer a fazenda, almoçam, fazem a visita guiada, adquirem o café, e voltam

para o Rio, sem nem visitar a cidade de Barra do Pirai. Ele ressalta que a cidade,

além das fazendas, possui um rico patrimônio histórico, o que poderia ser atraente

para o turismo. Os visitantes que se encontram nas proximidades poderiam visitar a

cidade e permanecer mais tempo, consumindo, e adquirindo produtos locais.

Seguindo este pensamento, Silva (2009) ressalta que, para o Turismo Rural

ser eficaz, este deve ser parte integrante de um conjunto maior de produtos e

serviços turísticos. Acontecendo dessa forma, segundo o autor:

[...] o turismo promove não só a diversificação das actividades econômicas,

a defesa e valorização dos produtos tradicionais de qualidade e a

preservação e valorização do patrimônio edificado, como também a

valorização do artesanato e o melhoramento das condições de vida da

população (SILVA, 2009,p. 169).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do trabalho desenvolvido e de acordo com os dados apresentados,

podemos perceber que o Turismo Rural é uma atividade em expansão. Alguns

fatores que podem ter contribuído para esta procura por destinos rurais são a

saturação de destinos convencionais, geralmente de sol e praia, e a uma tendência

presente no turismo de que, quando viajam, os turistas procuram fugir do ambiente

que lhes é comum para conhecer novos lugares, viver novas experiências das quais

não têm a oportunidade de participar no cotidiano. E no caso dos moradores

urbanos, o diferente é o rural, a tranqüilidade de estar em contato com a natureza

que o ambiente urbano não proporciona, fugir do stress do cotidiano e da poluição

das grandes cidades, consumir produtos locais, que em alguns casos, é possível

acompanhar ou participar da produção. Segundo o IDESTUR (2011), essa procura

também foi facilitada pelo aumento da malha aérea, que disponibilizou novos vôos

regionais, permitindo ao turista doméstico chegar a lugares que antes não eram

visitados.

Segundo dados do IDESTUR (2011) apresentados no PETR- 2011, o Brasil

tem hoje um novo cenário de turismo rural. As ofertas que antes estavam

concentradas nas regiões Sul e Sudeste do país, hoje se espalham por outras

regiões, contribuindo para a oferta de produtos e o desenvolvimento da atividade.

De acordo com os estudos apresentados, podemos perceber que há uma

oferta enorme de turismo rural no Brasil, para todos os gostos. Mesmo quem não

costuma viajar para destinos ligados à natureza, pode se sentir atraído pela história

ou gastronomia típica de uma localidade rural. Em um país como o nosso que é

formado por uma grande diversidade natural e cultural, pela mistura de hábitos de

diferentes povos, recebendo influências de europeus, indígenas, africanos, além dos

imigrantes italianos, alemãs, entre outros, em aspectos como danças, artesanato,

religião, culinária, entre outros, a oferta de turismo rural é muito rica e diversificada.

O Vale do Café, região que teve grande importância econômica no período

do ciclo econômico do café, hoje mantém um enorme legado histórico, além de

aspectos culturais deixados pela cultura cafeeira, como a gastronomia e as tradições

rurais, que estão sendo aproveitados pelo turismo.

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Com a pesquisa de campo foi possível perceber que, no caso de Barra do

Pirai e das fazendas pesquisadas, o turismo acaba estimulando a preservação e a

valorização dos bens de valor histórico e cultural na região, que se constituem em

uns dos principais atrativos, juntamente com as paisagens e atividades de lazer

ligadas à natureza. Dessa forma, a atividade turística nas fazendas representa uma

grande fonte de geração de renda, superando as atividades agrícolas.

Porém, aparentemente os benefícios gerados pelo turismo ficam restritos às

propriedades, sendo que grande parte dos hóspedes acaba não conhecendo a

cidade. A localização é distante, o transporte é difícil e, segundo o proprietário da

Fazenda Taquara, não há interesse por parte da prefeitura em promover o turismo

na cidade.

Nesse caso, o turismo rural pouco beneficia a comunidade local. O fluxo de

turistas que visitam as fazendas, que, pelo que pude perceber, é grande, poderia ser

aproveitado para movimentar o turismo na cidade, e conseqüentemente levar

benefícios para a comunidade e gerar emprego e renda, que é um dos objetivos a

que se propõe o turismo rural, segundo os conceitos apresentados no segundo

capítulo.

Além das belezas naturais, como por exemplo, a Cachoeira de Ipiabas,

podem ser utilizados na organização do turismo, os atrativos históricos da cidade,

como o Chafariz da Carioca e a Catedral de Santana, ambos construídos no século

XIX. Há um público potencial para isso. Um exemplo disso é que a fazenda Taquara,

mesmo não oferecendo hospedagem e mantendo algumas atividades agrícolas, tem

como principal renda o turismo. Os turistas que saem do Rio de Janeiro e cidades

próximas para visitar as fazendas poderiam prolongar o seu passeio com visitas ao

município, aos museus, às igrejas, ou aos restaurantes e lojas, etc., de forma que o

turismo pudesse beneficiar os habitantes locais e gerar mais empregos. As fazendas

e pousadas poderiam oferecer passeios à cidade e divulgar os pontos turísticos.

Dessa forma também iriam se beneficiar, podendo reter o hóspede por mais tempo

ao trabalhar de forma integrada com o comércio, restaurantes, e atrativos turísticos

da cidade.

Através do estudo apresentado, foi possível perceber que a atividade ainda

precisa ser melhorada no sentido de qualificação profissional e infraestrutura

turística. Seu crescimento nas últimas décadas chama atenção para a importância

da profissionalização do setor.

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A iniciativa do SEBRAE em parceria com o Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA) e Ministério do Turismo (Mtur) visando à Copa do Mundo 2014 é um

passo importante para melhorar estas questões, pois dá a oportunidade ao produtor

local, muitas vezes de propriedade familiar e que já recebe turistas, de melhorar seu

estabelecimento ao obter conhecimento profissional sobre a atividade, e renda para

adequar seu estabelecimento e transformá-lo em um hotel ou pousada de qualidade

no que se refere à hospedagem. Aliado aos conhecimentos que estes possuem

sobre a localidade, sobre a flora, a agricultura, os costumes, além da hospitalidade

atribuída ao povo do campo, acredito que esta atividade poderá movimentar um

grande fluxo de turistas, inclusive de mercado internacional, ainda pouco explorado.

Como constatado na pesquisa do PETR-2011, 25% dos turistas rurais no Brasil vêm

do exterior, o que representa um mercado em potencial, principalmente nos

próximos anos, em que o Brasil estará em evidência devido à Copa do Mundo 2014,

quando são esperados 600 mil turistas estrangeiros, e um milhão de turistas

nacionais viajando pelo país, segundo o Departamento de Estudos e Pesquisas do

Ministério do Turismo (2011).

Porém, como ressalta Silva (2009), o turismo não é a tábua de salvação para

o mundo rural, pois nem todas as áreas rurais apresentam condições para a

implementação e o desenvolvimento da atividade turística. O turismo, como toda

atividade econômica, gera impactos ao meio ambiente e à comunidade receptora.

Especialmente quando ocorre em áreas frágeis, como é o caso do ambiente rural, o

crescimento descontrolado do turismo poderá gerar sérios impactos ambientais,

culturais e sociais.

Portanto, é importante ressaltar que a atividade deve ser feita com

planejamento, participação da comunidade local e respeito ao meio ambiente e suas

características e capacidade, de forma que sejam minimizados os danos ambientais,

sociais e culturais provenientes do turismo.

O PETR-2011 indica que alguns desafios do setor são a profissionalização da

atividade, a qualificação da mão-de-obra específica, o acesso a novos mercados e a

preocupação com os impactos sociais e ambientais que pode causar, e ressalta que

o grande desafio a ser superado pelo setor é a consolidação desta forma

empresarial de turismo rural sem perder a ruralidade, de forma que o país possa

assumir destaque no imaginário coletivo de ser o Brasil Rural, espaço esse que

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ainda não foi preenchido por nenhum outro destino rural mundial, por isso

representaria uma grande oportunidade.

Assim, superando estes desafios, acreditamos que a atividade tem grande

potencial para obter sucesso, podendo atender às necessidades de um novo grupo

de turistas, exigentes, que buscam conforto e qualidade em contato com as

características do campo, e ao mesmo tempo gerar renda para a comunidade local,

valorizar a cultura local e a história, causando menos impactos negativos ao

ambiente e às comunidades locais.

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REFERÊNCIAS

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