o sítio neolítico das atafonas (torre de coelheiros,...
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R E S U M O NocumprimentodasmedidasdeminimizaçãoarqueológicaspropostasemEstudode
Impacte Ambiental, a EDIA, Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva,
S.A.promoveuarealizaçãodetrabalhosarqueológicosnosítiodasAtafonas(TorredeCoe-
lheiros,Évora).Aintervençãoarqueológicafeitanestesítio,nosanos2004e2005,contribuiu
paraaidentificaçãodeumpovoadoneolíticoeparaoconhecimentodeumanecrópolecom
três fases de construção, que podem ser enquadradas cronologicamente entre a segunda
metadedoVmilénioa.C.eaprimeirametadedoIVmilénioa.C.Apósaconclusãodostraba-
lhosdecampo,olocalfoiintegralmentedestruído,nãotendosidoidentificadosmaiscontex-
tosarqueológicos.
A B S T R A C T InthescopeofmitigationmeasuressuggestedbyanEnvironmentalImpact
Assessment,EDIASA–EmpresadeDesenvolvimentoeInfra-EstruturasdoAlqueva,spon-
soredarchaeologicalresearchatthesiteofAtafonas(TorredeCoelheiros,Évora).Fieldwork
wasundertaken in2004and2005,and revealedbothaNeolithic settlementandaburial
ground,withatleastthreeconstructionphases,betweenthesecondhalfofthe5thmillen-
niumBCandthefirsthalfofthe4thmillenniumBC.Subsequentlytothearchaeological
fieldseasons,thesitewastotallydestroyed,aprocessmadepossiblebytheabsenceofother
archaeologicalcontexts.
1. Introdução
“Plus qu’à des théoriciens – bien qu’ils le soient aussi –, j’ai d’abord souhaité donner la parole à des
habitués du terrain. A une époque où l’archéologie a parfois tendance à s’enfermer dans le seul discours
spéculatif, certes toujours nécessaire pour aiguillonner la recherche, je demeure persuade que les thèses
doivent d’abord se construire à partir de données tangibles et clairement observées.”
Guilaine,1998,p.6
AempresadearqueologiaOcrimira,InvestigaçãoArqueológicaePatrimonial,Ldarealizou,no âmbito da minimização de impactes arqueológicos decorrentes da construção do Troço deLigaçãoLoureiro-MonteNovo,queintegraoSubsistemadeRegadoAlqueva–BlocodoAltoAlen-tejo,umaintervençãoarqueológica,nosítiodasAtafonas(TorredeCoelheiros,Évora).
O sítio neolítico das Atafonas(Torre de Coelheiros, Évora)
JOãOALBERGARIA1
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 5-35
João Albergaria O sítio neolítico das Atafonas (Torre de Coelheiros, Évora)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 5-35�
Aescavaçãointegraljustificou-sepelofactodeestesítioterumimpactepatrimonialnegativodirectoetotal,porviadaconstruçãodaqueletroçodocanalderega.
Ostrabalhosarqueológicosdesenvolveram-seemváriasfases,totalizandonofinalumaáreaintervencionadade614m2,dosquais549m2foramescavadosmanualmente.Alargamaioriadoscontextosarqueológicosidentificadosfoiremovida,nãotendosidodetectadosoutrosvestígiosdeocupação,nodecorrerdasuadesmontagemfinal.
A minimização patrimonial realizada, a cargo da empresa EDIA, Empresa de Desenvolvi-mentoeInfra-EstruturasdoAlqueva,S.A.revelou-seessencialparaadescobertadeumsingularsítioarqueológico,demonstrandoqueocumprimentoescrupulosodasmedidasmitigadorasresul-tantesdeEstudosdeImpacteAmbiental,quandofeitoscomocuidadonecessário,podeajudaracolmataraslacunasexistentesnainvestigaçãoarqueológica.
Ao invés de uma anta praticamente destruída e sem qualquer “visibilidade” científica, aintervençãoarqueológicapôsàvistaumpovoadoneolítico,comsetefossasescavadasnosolo,evestígiosdeumaintensaocupaçãonolocal.Embora,nãosejapossívelatribuir-lheumacronolo-giarigorosa,devidoàfaltadedataçõesabsolutaseaosproblemassuscitadospelatipologiadosmateriaisarqueológicosrecolhidos,deverátratar-sedeumavivênciaqueteráocorridoaolongodoVmilénioa.C.,provavelmentenasegundametade.
Olocalseleccionadoparaainstalaçãodopovoado,foiigualmenteescolhidoparafazerumasepul-tura.ASepultura1consistianumagrandefossaescavadanochão,quefoiusadaparapôrosrestososteo-lógicosdeváriosindivíduos,tendosidoposteriormentetapadacomgrandeslajes.Aquestãoquesepõedeimediatoconsistenapossibilidadedeexistirumaeventualrelaçãoentrepovoadoenecrópole.Osmortosestarãorelacionadosdirectamentecomaanteriorocupaçãodaquelelocal?Serãoestesosantepassadosdosconstrutoresdoossário?Qualomotivoqueterálevadoaconstruirasepulturanaquelesítio?
Emrelaçãoaosrituaisfuneráriospraticados,podemserapresentadasoutrasquestões,queseprendemcomaorigemdosossosecomosmateriaisdoespólio.NaSepultura1,observaram-sesegundasinumações“(…)partesdoesqueleto,recuperadodeumprimeiroenterramentonoutrolocal”(Gonçalves,1992,p.58),mascomoseráolocaldaprimeirainumaçãoequetipoderituaisforampraticados?Qualarazãodestasegundahomenagem,decaráctercolectivo?Qualéoespó-liotransportadodeumlugarparaooutro?Osmateriaisrecolhidosnasepulturafazempartedoconjuntooriginaldeoferendasouforamreintroduzidospelosconstrutoresdoossário?
AconstruçãodaSepultura1foiseguidapelaedificaçãodeoutrasepultura.Mas,destavez,osseusarquitectosprojectaramumacâmarafechada,delimitadaporumaestruturaanelareseladapor grandes lajes de cobertura. No seu interior, os construtores escavaram uma fossa para serdepositadoumindivíduo.
Acâmaraestavaenvolvidaporumaestruturatumular,deplantacircularecomumaconstru-çãorelativamentecomplexa.Afinalidadedestaunidadearquitectónicapodetersidomeramentefuncional(darsolidezemaiordurabilidadeàcâmara),masconstituiaprimeirademarcaçãofísicadanecrópoleeumademonstraçãodevisibilidadesocialnapaisagem.Asuaconstruçãoseráumaformadeoferendaeummeiodehomenagearomorto?
Nãoépossíveldeterminar se existiuuma inumaçãoprimáriaouuma inumaçãosecundá-ria,naSepultura2,masosvestígiosobtidosrevelaramadeposiçãodeumacriança/jovemcom10e12anos±30meses.Qualosignificadosocialdestefacto?
Asequênciaconstrutivafoicompletadacomaedificaçãodaterceirasepultura.Assim,sobreotopodaSepultura1eencostadaàCâmara1,fizeramoutracâmara,circunscritaporumaneldepedrasedeterra.Noseuinterior,foiescavadaoutrafossadeinumação,masnãoforamencontra-dosvestígiosdeenterramentosnoseuinterior.
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AconstruçãodaCâmara2foiacompanhadapelaobradeumgrandetumulus,queacabouporconferirumagrandemonumentalidadeatodooconjuntoarquitectónico.
Sobreumpovoadofoierguidaumanecrópole,comtrêssepulturasconstruídasemmomen-tosdiferentesecomtécnicasdistintas,emboraexistaumamaiorproximidadeentreaSepultura3eSepultura2,doqueentreaSepultura2eaSepultura1.
A necrópole das Atafonas reúne características arquitectónicas e rituais funerários queentroncamnagénesedomegalitismoalentejano,massimultaneamenteapresentaelementosquesedistinguem.Seráumprocessoparaleloàconstruçãodascistas“proto-megalíticas”eàsprimei-rasantasdecorredorincipiente?Estaquestãoaplica-seatodasassepulturasdasAtafonas?
Oactualtextotemcomoprincipalobjectivoapresentarumasíntesedosprincipaiscontextosarqueológicosintervencionadoseumconjuntodequestõessuscitadaspelosresultadosobtidos.Trata-sedoprimeiroacto,deumprocessodeestudocomváriasetapas,cujafinalidadeédivulgardadosparaumperíodoqueaindaseconhecepouco(Jorge,1990,p.120;Diniz,2000,p.105).
2. Localização e paisagem
OsítioarqueológicodasAtafonasestálocali-zadonafreguesiadaTorredosCoelheiros2,conce-lho de Évora, a cerca de 600 m de distância doantigomontedasAtafonas,nosentidoSE.
A paisagem envolvente faz parte da grandepeneplanície da zona de Évora, com altitudesbastanteuniformesecomlinhasdeáguadepoucocaudal. Os terrenos são usados para o cultivo decereaisouencontram-seempousio,estandopolvi-lhadosporazinheirase sobreiros,emboraacurtadistância deste sítio exista uma reduzida manchadeeucaliptos.
A necrópole das Atafonas foi construídanuma zona relativamente aplanada e na base deumaligeiraelevaçãosituadaaNorte,estandoprati-camente implantado sobre uma zona de fractura
Fig. 1 LocalizaçãodasAtafonasedoCanaldeRega(CMP471).
Fig. 2 PaisagemgeraldasAtafonas.
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geológica.Emtermosdevisibilidade,omonumentoencontra-secondicionadoanorteporaquelapequenacolina,enquantoparasultemocontrolovisualdeumaamplazonabaixa.
Como se trata de uma construção essencialmente subterrânea, o seu nível de observaçãoé praticamente nulo a partir do lado norte, contrastando com a monumentalidade da vista apartirdoladosul,devidoaoreaproveitamentodazonadefracturaparaestabelecerolimitedotumulus.
2.1. Geologia
OsítiodasAtafonasencontra-senumavastamanchadequartzodioritosedegranodioritodegrãomédio,não-porfiróide(CartaGeológicadePortugal,folha40-A).
Oafloramentorochosolocalizadoasuldascâmarasapresentaumageometriaestratificadasendoconstituídoporrochasdefáciesgranitóidesoucomposiçãointermédia,leucoamesocrá-ticas e textura fanerítica não-porfiróide, de grão fino a médio, tectonizadas, revelando intensocizalhamentonoseioderochasquerevelamavançadoestadodemeteorizaçãoquímica,in situ,defáciesmaisbásica.
Asobservações,obtidasemamostrademão,nãopermitemaidentificaçãoexactadetodasas variações texturais e mineralógicas das amostras. Entre granitos, quartzomonzonitos grano-dioritos,tonalitosedioritosháporvezessituaçõesdedifícilseparaçãoquecarecemdeanáliseemlâminaafimdesedeterminaranaturezadosfelspatoseoqueéacessório.
Apenetratividadedafracturaçãopermiteidentificarduasfamíliaspredominantes,umaapro-ximadamenteE-O,paralelaaoeixomaiordoafloramento,eoutraaproximadamenteN-S.
3. Faseamento dos trabalhos e metodologia
OpontodepartidaconsistianasondagemarqueológicarealizadaporPedroLópezAldana,emFevereirode2004(LópezAldana,2005).Tratava-sedeumaáreadeescavação,com8m2,naqualerapossívelobservarumgrandeblocopétreo(UE3),dispostodeformaoblíqua,associadoaumaneldepedrascommédiasdimensões.Paraalémdestescontextos,existiamalgumaspedrassemqualquertipodeestruturação,restosdeumagrandelaje(UE7),tombadanofundodasonda-gemeemelevadoestadodedesagregação,eumdepósitodeterrasdenaturezaindistinta.
Foramestesoselementosobtidos, juntamentecomosmateriaisarqueológicos recolhidos(dosquaissedestacaumaenxóempedrapolida),quedemonstraramanecessidadedeprosseguirosesforçosdeminimizaçãodoimpactepatrimonialdaobra.Assim,aimageminicialdomonu-mento consistia numa anta de pequenas dimensões e praticamente destruída. Esta construçãoteria um ortostato deslocado da sua posição original e os restos de uma estrutura pétrea, quefuncionariacomoapoioàbasedosesteiosqueconstituiriamacâmara,entretantodesaparecidos.
A continuidade dos trabalhos arqueológicos contribuiu para algumas surpresas; assim, sena,zonacentral,foiidentificadaoutracâmarafunerária,encostadaàestruturadescobertaante-riormente, na restante área verificou-se que o tumulus se prolongava por todos os lados, sendonecessárioproceder,denovo,aoalargamentodaáreadeescavação,paracumprironossoobjectivoprincipal.
Nestaaltura,jásetinhacompreendidoqueaideiainicialda“antaestarpraticamentearrui-nada” era completamente errada. Na realidade, o Sector Sul do tumulus encontrava-se relativa-
geológica.Emtermosdevisibilidade,omonumentoencontra-secondicionadoanorteporaquelapequenacolina,enquantoparasultemocontrolovisualdeumaamplazonabaixa.
Como se trata de uma construção essencialmente subterrânea, o seu nível de observaçãoé praticamente nulo a partir do lado norte, contrastando com a monumentalidade da vista apartirdoladosul,devidoaoreaproveitamentodazonadefracturaparaestabelecerolimitedotumulus.
2.1. Geologia
OsítiodasAtafonasencontra-senumavastamanchadequartzodioritosedegranodioritodegrãomédio,não-porfiróide(CartaGeológicadePortugal,folha40-A).
Oafloramentorochosolocalizadoasuldascâmarasapresentaumageometriaestratificadasendoconstituídoporrochasdefáciesgranitóidesoucomposiçãointermédia,leucoamesocrá-ticas e textura fanerítica não-porfiróide, de grão fino a médio, tectonizadas, revelando intensocizalhamentonoseioderochasquerevelamavançadoestadodemeteorizaçãoquímica,in situ,defáciesmaisbásica.
Asobservações,obtidasemamostrademão,nãopermitemaidentificaçãoexactadetodasas variações texturais e mineralógicas das amostras. Entre granitos, quartzomonzonitos grano-dioritos,tonalitosedioritosháporvezessituaçõesdedifícilseparaçãoquecarecemdeanáliseemlâminaafimdesedeterminaranaturezadosfelspatoseoqueéacessório.
Apenetratividadedafracturaçãopermiteidentificarduasfamíliaspredominantes,umaapro-ximadamenteE-O,paralelaaoeixomaiordoafloramento,eoutraaproximadamenteN-S.
3. Faseamento dos trabalhos e metodologia
OpontodepartidaconsistianasondagemarqueológicarealizadaporPedroLópezAldana,emFevereirode2004(LópezAldana,2005).Tratava-sedeumaáreadeescavação,com8m2,naqualerapossívelobservarumgrandeblocopétreo(UE3),dispostodeformaoblíqua,associadoaumaneldepedrascommédiasdimensões.Paraalémdestescontextos,existiamalgumaspedrassemqualquertipodeestruturação,restosdeumagrandelaje(UE7),tombadanofundodasonda-gemeemelevadoestadodedesagregação,eumdepósitodeterrasdenaturezaindistinta.
Foramestesoselementosobtidos, juntamentecomosmateriaisarqueológicos recolhidos(dosquaissedestacaumaenxóempedrapolida),quedemonstraramanecessidadedeprosseguirosesforçosdeminimizaçãodoimpactepatrimonialdaobra.Assim,aimageminicialdomonu-mento consistia numa anta de pequenas dimensões e praticamente destruída. Esta construçãoteria um ortostato deslocado da sua posição original e os restos de uma estrutura pétrea, quefuncionariacomoapoioàbasedosesteiosqueconstituiriamacâmara,entretantodesaparecidos.
A continuidade dos trabalhos arqueológicos contribuiu para algumas surpresas; assim, sena,zonacentral,foiidentificadaoutracâmarafunerária,encostadaàestruturadescobertaante-riormente, na restante área verificou-se que o tumulus se prolongava por todos os lados, sendonecessárioproceder,denovo,aoalargamentodaáreadeescavação,paracumprironossoobjectivoprincipal.
Nestaaltura,jásetinhacompreendidoqueaideiainicialda“antaestarpraticamentearrui-nada” era completamente errada. Na realidade, o Sector Sul do tumulus encontrava-se relativa-
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mentebempreservado,aocontráriodoSectorNorte,queaparentavaconservarapenasosdepósi-tossubjacentesàcarapaçapétrea.Nocentrodomonumento,asituaçãoeraaindamaiscomplexa,porqueexistiamduascâmarasmegalíticasencostadasecomgrandesblocospétreosacobrirosambientesfunerários.
Partindo do princípio que o método é também um instrumento de trabalho, que se usaconsoanteasnecessidadesdoarqueólogo,naintervençãorealizadanaHerdadedasAtafonas,utili-zaram-seelementosdeváriosmodelosemúltiplasferramentasdetrabalho,comcarácterbemdife-renciado,comofoiocasodaretro-escavadoraoudaagulhadecozer.
Aescavaçãoarqueológicafoiessencialmentebaseadanosprincípiosmetodológicosestabele-cidosporP.Barker(1989)eE.Harris(1991),procedendo-seàremoçãodasunidadesestratigráficasporníveisnaturais,namaioriadoscasosnumasequênciaopostaàdasuaformação,optando-seporumaescavaçãoemáreaaberta.
Asunidadesestratigráficasrelacionadascomonívelarqueológicodesuperfícieecomotumu-lusforamtodasretiradasdeformalinearesistemática,masosdepósitosexistentesnointeriordascâmarase a maioriados depósitos relacionadoscomo povoado neolítico foram escavados porcamadasartificiais,comcercade5cmdeespessura.
Porvezes,foinecessárioescavarasunidadesestratigráficasmaisantigasdurante,oumesmoantes,deretirarosdepósitosdeformaçãorecente.Estasituaçãopodeserexplicadapelossucessi-vosalargamentosquetiveramdeserrealizadoscomopropósitodeidentificartodaaextensãodaestruturatumular.Ouseja,comoeranecessáriominimizarotempoeoscustosdespendidosnestaintervenção,edadoqueerapraticamenteimpossívelcolocartodoo tumulusàvistanumsómomento,decidiu-secomeçaradesmontaraquelaestruturanazonacentral,paracompreendermelhorofasea-mentodomonumento.Paraalémdestaexplicação,convémsalientar,umavezmais,asingularidadedasuaarquitecturaeofactodenuncaseterconsideradoahipótesedeestesítiosertãogrande.
Asconsequênciasimediatasdestadecisãoforamaausênciadefotografiasdetodootumulus,oaumentonocuidadodoregistoarqueológico,porqueseestavaainterviremváriasfasesculturais
Fig. 3 Quadrículageralefaseamentodostrabalhosarqueológicos(desenhodeMafaldaNobre).
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simultaneamente,emaiorcomplexidadenadescriçãoenainterpretaçãodoscontextosarqueoló-gicos,porquenãoexistiaumacontinuidadelineardoprocessodeescavação,masváriasrealidadesintercaladasnotempoenoespaço(porexemplo,existiramdepósitosidentificadosemNovembrode2004,quesóforamescavadosemJulhode2005;ouentão,ofactodeoslimitesdotumulusteremsido identificadosemJunho,quandoasduascâmaras funerárias já tinhamsido integralmenteescavadas).
4. Povoado neolítico
Nodecursodaescavaçãodanecrópoleforamaparecendoocasionalmentealgunsmateriaisarqueológicos,queforaminterpretadoscomoelementostransportados,juntamentecomasterras,dasproximidades.Todavia,comaremoçãodealgunsdepósitosdotumulus1,comoaUE256ouaUE248,começouasurgir,subitamente,umagrandequantidadedepedralascada,algunsfrag-mentosdecerâmicamanualenódulosdebarroderevestimento.
Oprimeiroconjuntodedados fazia recordara situação registadanaSepulturadoMarcoBranco (Melides, Grândola), onde foram recolhidos núcleos, lamelas de sílex, lascas em sílex e
Fig. 4 Plantadetopodopovoado(desenhodeMafaldaNobre).
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fragmentos de cerâmica, cuja proveniênciapoderia estar relacionada com a utilização deterrasdopovoadoneolíticodasSalemas,situa-doa200mdedistância (SilvaeSoares,1983;Silva,1987,p.89).Mas,oprogressivoaumentodonúmerodeachadosindiciavaafortepossi-bilidade de existir um povoado neolítico porbaixodanecrópole,emboranãoserejeitasseahipótese destes materiais corresponderem aosrestosdosobjectosusadospelosconstrutoresdanecrópole,nemacircunstânciadepoderexistirum carácter ritual e simbólico no surgimentodeespólionostumuli(SilvaeSoares,1983,p.85;SoareseSilva,2000,p.119).
A hipótese de existir um povoado come-çouaserdemonstradacomaremoçãodeváriosdepósitos (como a UE 101 ou a UE 275), quepodem corresponder ao solo de ocupação dohabitat,masfoiprovadacomaidentificaçãodesetefossasabertasnosolo,comevidentessinaisdeutilização.
Apesar de o nosso conhecimento estarmuito condicionado pelas alterações do solo
provocadas durante a edificação da necrópole (como é caso evidente da cova feita para a Sepul-tura1edafossadeinumaçãodaSepultura2,Fig.4)e,sobretudo,pelasdestruiçõesrecentescausadaspelostrabalhosagrícolas,quecortaramesubtraíramoprovávelprolongamentodestesítio,aOeste,aNorteeaEste,foipossívelidentificar,numaárea“preservada”comaproximadamente130m2,umaelevadadensidadedeestruturasededepósitos,cujasequênciaestratigráficaexplicaapossibilidadedeexistiremváriosmomentosnaocupaçãodestelocaleumaevoluçãonaformadeutilizaroseuespaço.
Acomplexidadedoscontextosarqueológicosidentificadoseagrandequantidadedemateriaisrecolhidosnestenível,remete-nosparaumfuturoestudoexaustivo,nãosendoesteomomentoparacaracterizarminuciosamenteaestratigrafiadopovoado,nemolocalparaanalisarascadeiasoperativasdosmateriaisdepedralascada.
Nasuperfíciesuperiordopovoado,destacam-seosseguintesaspectos:otopodaFossa1(UE286),daFossa2(UE372),daFossa3(UE140eUE366)edaFossa5(UE147);odepósitoqueestarianofundodaFossa4(UE311);umdepósitodegrandesdimensõesedecomposiçãohomo-génea(UE314),queocupavaosectorNorteequefoicortadopelasFossas2,3,4e5;odepósitoqueserviucomopisodecirculaçãointeriordaCâmara1(Sepultura2)ecomobasedeassentamentodotumulus1(UE101);doisaglomeradosdepedras(UE375eUE2753),aparentementeorganiza-dos,massemumaformadefinida,quepodemseroresultadodadesmoronamentodeestruturaserguidassobreosolo.
SeaUE314assentavapraticamentesobrearocha-base,aUE101constituíaoprimeiroelodeumasucessãodedepósitosacumuladosessencialmentenoSectorSul,daqualsedestacaofactodaUE101estarporbaixodaUE281(queéencostadapelaUE286–topodafossa1)ecobrirparcial-menteotopodaUE406,quecorrespondeaotopodoenchimentodaFossa6.
fragmentos de cerâmica, cuja proveniênciapoderia estar relacionada com a utilização deterrasdopovoadoneolíticodasSalemas,situa-doa200mdedistância (SilvaeSoares,1983;Silva,1987,p.89).Mas,oprogressivoaumentodonúmerodeachadosindiciavaafortepossi-bilidade de existir um povoado neolítico porbaixodanecrópole,emboranãoserejeitasseahipótese destes materiais corresponderem aosrestosdosobjectosusadospelosconstrutoresdanecrópole,nemacircunstânciadepoderexistirum carácter ritual e simbólico no surgimentodeespólionostumuli(SilvaeSoares,1983,p.85;SoareseSilva,2000,p.119).
A hipótese de existir um povoado come-çouaserdemonstradacomaremoçãodeváriosdepósitos (como a UE 101 ou a UE 275), quepodem corresponder ao solo de ocupação dohabitat,masfoiprovadacomaidentificaçãodesetefossasabertasnosolo,comevidentessinaisdeutilização.
Apesar de o nosso conhecimento estarmuito condicionado pelas alterações do solo
provocadas durante a edificação da necrópole (como é caso evidente da cova feita para a Sepul-tura1edafossadeinumaçãodaSepultura2,Fig.4)e,sobretudo,pelasdestruiçõesrecentescausadaspelostrabalhosagrícolas,quecortaramesubtraíramoprovávelprolongamentodestesítio,aOeste,aNorteeaEste,foipossívelidentificar,numaárea“preservada”comaproximadamente130m2,umaelevadadensidadedeestruturasededepósitos,cujasequênciaestratigráficaexplicaapossibilidadedeexistiremváriosmomentosnaocupaçãodestelocaleumaevoluçãonaformadeutilizaroseuespaço.
Acomplexidadedoscontextosarqueológicosidentificadoseagrandequantidadedemateriaisrecolhidosnestenível,remete-nosparaumfuturoestudoexaustivo,nãosendoesteomomentoparacaracterizarminuciosamenteaestratigrafiadopovoado,nemolocalparaanalisarascadeiasoperativasdosmateriaisdepedralascada.
Nasuperfíciesuperiordopovoado,destacam-seosseguintesaspectos:otopodaFossa1(UE286),daFossa2(UE372),daFossa3(UE140eUE366)edaFossa5(UE147);odepósitoqueestarianofundodaFossa4(UE311);umdepósitodegrandesdimensõesedecomposiçãohomo-génea(UE314),queocupavaosectorNorteequefoicortadopelasFossas2,3,4e5;odepósitoqueserviucomopisodecirculaçãointeriordaCâmara1(Sepultura2)ecomobasedeassentamentodotumulus1(UE101);doisaglomeradosdepedras(UE375eUE2753),aparentementeorganiza-dos,massemumaformadefinida,quepodemseroresultadodadesmoronamentodeestruturaserguidassobreosolo.
SeaUE314assentavapraticamentesobrearocha-base,aUE101constituíaoprimeiroelodeumasucessãodedepósitosacumuladosessencialmentenoSectorSul,daqualsedestacaofactodaUE101estarporbaixodaUE281(queéencostadapelaUE286–topodafossa1)ecobrirparcial-menteotopodaUE406,quecorrespondeaotopodoenchimentodaFossa6.
Fig. 5 Fossas1,2,3e4.
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Estepequeno“detalhe”parecedemonstraraexistênciademomentosdistintosnaocupaçãodestelocal,dadoqueaFossa6jáestariaintegralmentecoberta,aquandodoabandonodaFossa1.
Assetefossasconcentravam-senumaestreitafaixade60m²,comasFossas1,2e5distri-buídaspelomesmonívelestratigráfico,comaFossa3situadajuntoaofundodaFossa4e,porfim,comaFossa6acortareasobrepor-seàFossa7.
4.1. Fossa 1
OtopodaFossa1começouaserdetectadocomaremoçãodeumamanchadeterrasdetona-lidadeamarelada(UE172)ecomaidentificaçãodeumdepósitodeterrasavermelhadas(UE286),que envolvia um pequeno aglomerado de pedras (UE 287), com pequenas dimensões e dispos-tassemqualquertipodeestruturação,apesardeestaremgrosseiramenteagrupadasnumazonasubcircular.
AescavaçãodasUEs286eUE287pôsàvistaointerfacedecortedafossa(UE389),maisumdepósitodeterraspraticamentenegras4(UE380)eumapelículadebarrovermelho(UE390),querevestiaasparedesdaquelacova,comaexcepçãodofundo.
Contraasnossasexpectativasiniciais,aUE390nãoencostavainteiramentenaUE389,massobrepunha-seaumdepósitodeterraspretas(UE411),quepreenchiaoseufundo.
ApresençadaUE411comprovaqueaFossa1tevedoismomentosdeutilização:oprimeirorelaciona-secomoprocessodeformaçãodaUE411;osegundocorrespondeàcolocaçãodaUE390eàpossívelutilizaçãodointeriordaconcavidadecomoumaáreadecombustão,dotipoforno.
4.2. Fossa 2
AFossa2consistianumapequenacova,comparedespraticamenterectasesuperfícieslisas,semmarcasdevestígiosdefogo,queseencontravapreenchidaporterraeporalgumaspedras.
Fig. 6 CorteestratigráficodaFossa1(desenhodeMafaldaNobre).
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Nestaestruturadestaca-seoregistodeumapequenabolsadeterras(UE392),quepreenchiaumaconcavidade(UE450),feitanodepósitoexistentenofundodaFossa2(UE394).AUE450tinhaumaplantaovalada,erapoucoprofundaepodiacorresponderaonegativodeumburacodeposte.
Tabela 1. Materiais arqueológicos recolhidos no interior das fossas
Fossa1 Fossa2 Fossa3
Núcleo 0 0 0
Esquírola 3 2 1
Lasca 0 0 1
Lamela 2 2 0
Fragmento de cerâmica 0 1 0
Barro de revestimento 0 0 1
4.3. Fossa 3
Quando se procedia à definição do corte causado pela passagem das máquinas agrícolas(UE114),detectou-seumamanchadeterrasmuitopretas(UE140),quesugeriaaexistênciademomentosdeocupaçãoanterioresàconstruçãodanecrópole.
Comaremoçãodosdepósitosdotumulus1ficouàvistaotopodaFossa3,formadoportrêsunidades. Esta cova, ao contrário das restantes fossas, tinha as paredes muito irregulares, comalgunsblocosdeafloramentorochosoàvistaecomumainclinaçãoelevada.
Noseuinterior,foramescavadosváriosdepósitosdeterraspretasoudecoralaranjada,queenvolviamalgumcascalhoepedrascommédiasdimensões.
4.4. Fossa 4
Tal comoa Fossa 3, a Fossa 4 pode ter sido muitoafectadapela lavoura (UE114), tendosubsistido apenas um pequeno segmento da concavidade escavada no subsolo (UE 395) e umdepósitodeenchimento(UE311).
O principal problema desta cova é definir-lhe a sua funcionalidade, dado que tanto podecorresponderaumafossacomoaumburacodepostedegrandesdimensões.Secompararmoscomasoutrasestruturasnegativasdopovoado,verifica-sequetemmuitoselementoscomuns,comoasdimensõesdofundoeapresençadeumdepósitodeterrasnegras.Noentanto,seaUE395fosseumafossaeconsiderandoaprofundidademédiadasrestantesconcavidades,apotênciaestratigráficaoriginaldestesectordeveriatercertamentemais10-15cm.Oqueteráacontecidoaessacamadadeterra?
AhipótesedeaUE395serabasedeumgrandeburacodeposteéplausível,emboraasúnicasestruturasidentificadasnestesítioeinterpretadascomoburacosdeposte(UE450eUE432)apresen-temdimensõessubstancialmentemenores.Assim,podem-sesugeriraspossibilidadesteóricasdeserabasedeassentamentodeumtotemoudeummarcodesinalizaçãodopovoadooudanecrópole.
Tendoemcontaoconjuntoda informaçãodisponível,optou-seporprivilegiaraprimeirahipótese(adeUE395serofundodeumafossa),emdetrimentodasegunda,masnãoseexcluiuaterceiranemaquarta.
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Tabela 2. Dimensões (cm) e formas das fossas
Comprimentomáximo Larguramáxima Profundidade Forma
Fossa 1 76 66 24 Subcircular
Fossa 2 50 52 16 Oval
Fossa 3 62 64 30 Subquadrangular
Fossa 5 62 58 20 Subcircular
Fossa 7 100 90 40 Subcircular
4.5. Fossa 5
O topo era constituído por uma grande quantidade de pedras de pequenas dimensões,dispostasnumplanopraticamentehorizontal,eporumdepósitodeterrasacinzentadas(UE147).Estenívelcobriaoutracamadadecascalhoedeterra(UE414),queseencontravamaiscompactaemaisbemestruturada,provavelmentepornãotersofridoomesmograudeerosãoqueosegmentosuperiordoempedrado.
AFossa5tinhaumaplantasubcircular,comparedesrelativamenteinclinadas,desuperfícieregular,emborativessealgunstroçoscomvestígiosdaacçãodofogo(paredescommanchasnegrasouamareladas).
Esta estrutura negativa poderia estar relacionada com um pequeno buraco (UE 432), deformacircularedepoucaprofundidade,queseencontravapreenchidointegralmenteporpedrasdepequenasdimensões,envolvidasporterrascastanhas,detexturabarrenta.
Fig. 7 TopodaUE414.
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A funcionalidade deste buraco é uma incógnita, embora se possa sugerir a hipótese de setratardeumburacodeposte,preenchidoporpedrase terraprovenientesdoderrubedeoutraestrutura.
4.6. Fossa 6
AFossa6destaca-sedasrestantesestruturasnegativas,devidoaofactodasuaconstruçãotercausadoorompimentoparcialdaFossa7eportersidocortadaaomeiopelaaberturadafossadeinumaçãodaSepultura2(UE117).
Os vestígios identificados no Sector central (da área conhecida) demonstram inequivoca-mentequeaocupaçãoneolíticadopovoadodecorreuaolongodeváriosmomentos,masqualseráadimensãotemporaldecadaum?Serãodias,meses,anosoudécadas?
4.7. Fossa 7
OsurgimentodaFossa7constituiuaúltimagrandesurpresa,tendosidoobtidaapósaremo-çãodealgunsdepósitosdabasedopovoado(UE294eUE398).Oseutopoeraformadoporumagrandequantidadedepedras(UE436),compequenasemédiasdimensões,dispostaspraticamentenumacamadahorizontal,preenchendoointeriordacova.Estaspedraseramenvolvidasporumdepósitoqueaparentavaclarossinaisdaacçãodefogo,devidoàsuacoloraçãonegra.
Aremoçãodestenívelexpôsoutrodepósitodeterrascastanhasescuras,queenvolviaalgumaspedrasdetamanhomédiooureduzido(UE437).Nabasedestedepósitoforamdescobertosquatroblocospétreosdegrandesdimensões,secomparadascomasrestantespedrasrecolhidasnestasestruturas,aparentementeestruturadasentresi,cujafuncionalidadeéindeterminada.
5. Sepultura funerária 1
Aprimeiramanifestaçãodapráticaderituaisfunerárioscaracteriza-sepelapresençadeumagrandecovaescavadanosdepósitosdopovoadoenarocha-base,nofundodaqualfoiabertaumaligeiradepressão,ondeserevestiuabasecomumafinacamadadebarrovermelho.
Fig. 8 LimitedaFossa6eenchimentodaFossa7(UE437).
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O nível funerário terá sido coberto por terra e selado por grandes lajes, das quais apenasuma se manteve in situ, não havendo vestígios evidentes da existência de uma estrutura tumu-lar associada à sepultura. Esta situação pode ser explicada de várias formas: a ausência deve-seàsdestruiçõescausadaspelosconstrutoresdas sepulturasmais recentes;osprimeirosarquitec-tosnãoconheciamastécnicasnecessáriasparaasuaconstrução,ouconsideraramdesnecessárioerguerumamassacompactadeterraedepedra;aideiadetumulusnãofaziapartedaconcepçãosimbólicaedaspráticasrituaisdaquelasgentes.
Ointerfacedecorte(UE299)queestabeleciaoespaçoútildasepulturaencontrava-sebastanteafectadopelaconstruçãodacâmaramaisrecentedanecrópole,todaviafoipossívelregistarabasedacavidade.
Noseuinterior,ocontextofunerárioeraconstituídoporumossário(UE448),queseencon-travapraticamenteconfinadoaumapequenafossa(UE168).Juntoàsuabasedescobriu-seumafinapelículadebarrovermelho(UE169),quedeverácorresponderaoníveldedeposiçãodosrestoshumanos,queseencontravamalconservada,nãocobrindototalmenteoseufundo.
O ossário continha os remanescentes de, pelo menos, quatro indivíduos, dado que foramcontabilizadasquatrorepetiçõesdequatrodentesdistintos.Considerandoocálculodaidadeàsuamorte,amaiorianãodeveriaultrapassaros15anos±36m,devendoosrestantesterumaidadesuperioraos15anos.
Osrestosósseosestavamacompanhadosportrêsfragmentosdecerâmicamanual,duaslame-laseumalâmina(enchimentodasepultura);doisfragmentosdecerâmicamanual,trêsgeométri-cosepossivelmenteumalâmina(nívelfunerário).
Fig. 9 Vistageraldoossário.
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Fig. 10 SequênciaestratigráficadaSepultura1(desenhosdeMafaldaNobre).
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Acerâmicanãotemqualquertipodedecoraçãoenãofoipossíveldefiniraformadosreci-pientescerâmicos,devidoaoseutamanhoreduzidoeàfaltadefragmentosdebordo.Osgeomé-tricoscorrespondematrêstrapéziossoblamela,emsílex;asduaslamelassãotambémemsílex,bemcomo,asduaslâminas.
AocontráriodasCâmaras1e2dasAtafonas,nasquaisfoiidentificadaumaestruturaanelaradelimitarespaço,naSepultura1nãosedetectaramvestígiosdequalquerconstruçãocomaque-lascaracterísticas.Assim,noladoOestedasepultura,identificou-seapenasumalajedecobertura(UE300),queencostavapraticamentenointerfacequedelimitavaosepulcro,existindoapenasumaligeira diferença que era preenchida por uma fina camada de terras e por algumas pedras queserviamdecalços(UE282).
Sevalorizarmosapossibilidadedaprimeirasepulturatertidoduasoutrês lajesdecober-tura,aexistênciadeapenasumblocopodesignificarqueo/soutro/spode/mtersidoremovido/sduranteaconstruçãodotumulusdoMonumento1ounodecorrerdaedificaçãodaCâmara2.
6. Monumento funerário 1
O primeiro monumento funerário das Atafonas é composto por uma câmara de plantaovalada,delimitadaporumaneldepedrasedeterras,eporumaestruturatumular,comcercade12mdediâmetromáximoconhecido.EstasepulturafoiconstruídacomaintençãodeencostaràprimeiramanifestaçãofuneráriadasAtafonase,dessaforma,conservaroselementosessenciaisparaperpetuaçãodovalorsimbólicodestelocal.
Amaiordiferençaarquitectónicaentreasduassepulturasconsistenaausênciadequalquerestruturatumularnoprimeirosepulcroenaescavaçãodeumacavidadeparadepositarosrestosósseos de vários indivíduos. Enquanto, na Sepultura 2, se regista a construção de uma câmarafuneráriaedeumtumulus,comafinalidadedehomenagearumindivíduoespecíficoedecontri-buirparaavisibilidadesocialdacomunidadequefezaobra.
A outra grande diferença registada entre os dois sepulcros reside nas práticas funeráriasusadas,dadoqueaSepultura1écaracterizadapelapresençadeumossário,dispostonumaligeiradepressãoesobreumacamadadebarrovermelho,enquanto,naSepultura2,seidentificaramos
Fig. 11 GeométricoselâminasrecolhidasnaSepultura1,esc.1:2(desenhosdeMafaldaNobre).
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vestígiosdeapenasumapessoa,comosseusrestosdispostosnointeriordeumafossaescavadanosubsolo,sobreoutrapelículadebarrovermelho.
6.1. Tumulus
O nosso conhecimento do tumulus 1 das Atafonas encontra-se limitado pelas destruiçõescausadasnodecorrerdaedificaçãodasegundaestruturatumular,comoseverificounoSubsectorEste,ondeumtroçodamamoafoicortadoeextraído,deformaaexistirespaçolivreparasecons-truirasegundacâmara.Talcomo,estálimitadopelostrabalhosdalavoura,quecontribuíramparaorevolvimentodedepósitos,paraaremoçãodepedrasedeterrasdossegmentosaindapreserva-doseparaadiluiçãodosvestígiosarqueológicos.
Aestruturatumulareraconstituídaporumamassadeterraedepedra,dispostadeformaconcêntricaàvoltadoaneldepedras,quedelimitavaacâmarafunerária.Onívelinferiordamamoaera formado um elevado número de depósitos, com terras muito compactadas, que funciona-vamcomocamadadenivelamentodosoloecomobasedeapoiodeumacomplexasequênciade
Fig. 12 TopodoMonumento1(desenhodeMafaldaNobre).
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camadasdeterraedepedra,quecaracterizavaosegundoníveldaestruturatumular.Sobreestenívelintermédio,acobrirparcialmenteaslajesdecobertura,distinguiu-seaindaoutroníveldeterrasmuitocompactadas(UE32).
NoSectorNortedotumulus1,apósaremo-çãodascamadasdesuperfície,dotumulus2edonívelsuperiordotumulus 1(UE32),identifica-ram-se dois pequenos aglomerados de pedras,com pequenas e médias dimensões, aparen-temente estruturados (UE 268), que podemcorresponderasegmentosdecamadasdepedraspertencentesàmamoadomonumento5.
Otroçomaisbemconservadodotumulus1estavalocalizadonoSectorSul,tendosidopossí-velregistarumapartesignificativadasuaarqui-tectura.Onívelintermédioestavarepresentadopela UE 1766, que era uma compacta camadade pedras com médias e pequenas dimensões,bastante estruturadas entre si, e dispostas aolongodeumalinhaconcêntricaàCâmara1.
Quer a UE 176, quer a UE 177 estavamcortadasaNoroeste,devidoaos trabalhosagrí-colas,eaSudestedacâmara1,porcausadacons-truçãodaCâmara2edorespectivotumulus.
As UEs 176 e 177 encontravam-se sobrepostas por uma camada de terras de tonalidadeamarelada(UE41),queserviadelimiteàUE66eàestruturaanelardaCâmara1,masnãodeixadeserproblemáticoofactodacolocaçãodestedepósitoserposterioràconstituiçãodaestruturapétreaedenãoexistiremvestígiosdoprolongamentodestaunidadesobreaUE41.
Aexplicaçãopoderáresidirnatécnicausadanaconstruçãodotumulus,comaintercalaçãodecamadasdeterraedepedra,nãoexistindograndescamadashomogéneasdepedra,idênticasàUE15(tumulus2),mastroçosmuitocompactosdepedrasimbricadas,queeramparcialmentesobrepostosporbolsasdeterras,dematrizbarrentaemuitocompactadas,que,porsuavez,eramcobertaspormaistroçosdepedra.
Alémdestatécnicaconstrutiva,quepoderevelarumritmodetrabalhopausadoeintervalado(grandeheterogeneidadenacomposiçãodepósitos,reduzidadimensãodoscontextos,intercala-çãosegmentadadas terras/pedras), identificaram-semaisdoisaspectos técnicos singularesquemerecemserdestacados.
Quandose identificouaUE66,considerou-sequesetratavadeum interfacedecorte,quecortava o tumulus (previamente erguido) com o intuito de criar uma concavidade de grandesdimensões, na qual seria erguida posteriormente a câmara funerária, com a estrutura anelar aencostarnaquelaparede.
Posteriormente,apósaconclusãodostrabalhosdecampo,considerou-seahipótesedaUE66constituironegativodeumaestruturadecontençãodeterrasedepedras,dotipo“cofragem”,feitacommateriaisperecíveis,queentretantoterádesaparecido.Assim,ohipotéticotaipalteriaaduplafunçãodesusterosdepósitosdotumulusededelimitar,logoàpartida,oscontornosexter-
Fig. 13 Vistageraldotumulus1(SectorSul).
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nosdoespaçofunerário.Comestatécnica,seriapossívelconstruiraomesmotempoaestruturatumularecolocaraspedraseterrasdoanel.
Asegundatécnicaobservadaconsistiunasinalizaçãoprévia,comumalinhamentodepedrasdispostasverticalmenteeligeiramenteinclinadas(UE290),dolimiteentreotumuluseaCâmara1,ouseja,osconstrutoresmarcaramlogononíveldebase(sobreaUE101)adivisóriaentreaquiloqueseriaaestruturatumulareoespaçofechadodacâmara.
Astécnicasdeconstruçãodescritascomprovamaexistênciadeumprojectoarquitectónico,quefoiexecutadometiculosamenteaolongodeváriasetapas,eosurgimentodeduasnovasunida-desarquitectónicas,nomeadamenteacâmarafuneráriaeo tumulus,querepresentamumaclaraevoluçãonaarquitecturaenosrituaisfunerários,emrelaçãoàSepultura1.
6.2. Câmara 1
AinformaçãodisponívelparaacâmaradoMonumento1émaior,dadoquefoimenosafec-tadapelapassagemdasmáquinasagrícolas,aocontráriodaCâmara2,quesofreuumprofundocorte,nosentidoNoroeste/Sudeste,alterandosubstancialmenteoscontextosarqueológicos.
Acoberturadeveriaserformadaoriginalmenteportrêsgrandeslajes,tendosidoencontradasin situ apenasduas(UE36e74).Aterceiralajedeverátersidoremovidanodecorrerdaconstru-çãodaCâmara2,comafinalidadedecriarespaçodemanobraparaerguereconsolidarumdos“esteios”dasegundacâmara.
O espaço funerário era delimitado por uma estrutura anelar, erguida com pedras de váriasdimensõesecomterramuitocompactada(UE70eUE240),quecriavaumespaçointeriorfechado.
Nocentrodacâmara,verificou-sequeosolo(UE101),ondeassentavaoaneldepedraedeterra, era cortado por uma fossa (UE 117), com paredes de superfície regular, contínua e uma
Fig. 14 CoberturadaSepultura2.
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Fig. 15 SequênciaestratigráficadaSepultura2(desenhosdeMafaldaNobre).
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inclinaçãosemi-abrupta,embora,naextremidadeSudeste,existisseumaligeiradescontinuidade,provocadapelapresençadeumapequenaplataforma.
Praticamentenabase,identificou-seumacamadadeargilasvermelhas(UE130),comcercade5mmdeespessura,medianamentecompactada,quecobriaatotalidadedoespaçodisponíveleencos-tavaàssuasparedes.Estaplataformadeargiladeveriafuncionarcomosuperfícieparacolocarosrestoshumanos(UE448),queconsistiamsomenteemdoismaxilaressobrepostos(nototalde22dentes),deumindivíduo,quedeveriaterumaidadeentreos10e12anos±30meses,quandomorreu.
Faceaosvestígiosobservados,nãoépossíveldeterminarseexistiuumadeposiçãoprimáriaouumainumaçãosecundária,comosucedeunaSepultura1.Dequalquerdasformas,nãodeixadesersignificativoaidadecalculadaparaoindivíduo,dadoqueéaceitecomummenteaimportânciasocialdoancião«Omonumentoproto-megalíticorepresenta,porhipótese,asepulturadoancião,doantepassado,“fontedeconhecimentoereguladordocicloagrícola”»(Silva,1997,p.582).
O revestimento de argila cobria umafina camada de terras castanhas e de texturaarenosa (UE 200), que preenchia a base dafossadeinumaçãoecobriaarochadebase.
O espólio funerário era composto porapenasduascontasdecolar,em“pedraverde”,queseencontravamcompletas.Nosdepósitosquepreenchiamacova7,recolheu-seapenas,naUE 116, um fragmento de cerâmica manual,sem decoração e uma pequena esquírola, naUE68.
Fig. 16 Câmara2.
Fig. 17 ContasdecolardaSepultura2,esc.1:2(desenhosdeMafaldaNobre).
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Tabela 3. Dimensão e forma geral das sepulturas
UE Comp.máximo(m) Larg.máxima(m) Altura(m) Forma
SEPuLturA 1
Abertura superior 299 2,94 1,64 0,3 Oval alongada
Corte intermédio 250 1,92 1,54 0,1 Subcircular
Fossa de inumação 168 1,2 0,8 0,05 Sub-rectangular
SEPuLturA 2
Câmara 1 (exterior) 66 3,1 2,8 0,26 Subcircular
Câmara 1 (interior) 70; 240 3 2,7 0,4 Oval
Fossa de inumação 117 1,5 0,9 0,3 Oval alongada
SEPuLturA 3
Câmara 2 (exterior) 215 2,6 2,6 0,15 Subcircular
Câmara 2 (interior) 72 2,65 2,85 0,4 Oval
Fossa de inumação 150 1,64 1,1 0,1 Sub-rectangular
7. Monumento funerário 2
OMonumento2éoresultadodeumaprofundatransformaçãoarquitectónicaeconstituimaisuma etapa evolutiva na necrópole. Os seus construtores “desmontaram” um troço do tumulus 1,noladoEste,eergueramoutracâmarafuneráriaencostadaàCâmara1,criandoumaperfeitasime-triaentreosdoiscompartimentos.
AconstruçãodaCâmara2foiacompanhadapelaedificaçãodeumaestruturatumulardegrandesdimensões,queredimensionousubstancialmenteaanteriorcomposiçãodosítioequelheacrescentoumaiormonumentalidade.
7.1. Tumulus 2
Oregistoarqueológicorevelaumagrandediferençaqualitativanainformação,entreoSectorNorte,ondeoselementospétreosestavampraticamenteausenteseoconjuntodedepósitosasso-ciado apresentava uma espessura ínfima, e o Sector Sul, onde a estratigrafia estava mais bemconservada,tendosidopossívelconheceramorfologiadaconstrução,bemcomo,astécnicaseosmateriaisusados.
Estasituaçãopodeserexplicadapelasdestruiçõesrecentes,causadaspelostrabalhosagrí-colasedasquaishámúltiplossinais,masnãodedeveexcluirapossibilidadedaestruturatumu-lartertidoumavolumetriamaisreduzidanestesector,proporcionandooseurápidodesapare-cimento.
A remodelação desenvolveu-se a partir da planificação de dois eixos estruturantes: o eixocentralcompostopelasCâmaras1e2,circundadasprovavelmentepordoisanéispétreos,separa-dosporumafaixadeterra;oeixolongitudinal,formadoporumimportantetroçodotumulus2,erigidosobreumacristadeafloramentorochoso,orientadanosentidoOeste-Este.
Para além desta faixa de rocha poder ter sido usada como fonte de matéria-prima para oabastecimentodematerialpétreo,serviucomobasesólidaparaaconstruçãodamamoaecomotermodosepulcro.Defacto,oseulimite,coincidecomafracturaprincipaldestacristaderochasde fácies granitóides, que define uma face praticamente vertical e de superfícies regulares, nostroçosderochamaisconsolidada,edesuperfíciesmaisirregulares,nossegmentosdemaiorciza-lhamento.
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Emboraestafacecorrespondaaumafracturanatural,conjuntamentecomaestruturatumu-lar(UE61eUE64),configuravisualmenteumaparede(UE100),comcercade40mdeextensãoemaisde1,5mdealtura,emalgunsdossectoresmaisbemconservados.
NoSectorSul,otumulus2tinhaumacomposiçãomista,comelementosdenaturezageoló-gicaintegradosnasuaestruturaesegmentosconstruídoscompedraimbricada,oupedraenvol-vidaemterramuitocompactada.
Esta unidade arquitectónica apresentava diversas morfologias ao longo da sua extensão,variandoconsoanteograudealteraçãoquímicaedecizalhamentodarocha-base,econformeosseusdiferentesestadosdeconservação.Verificou-sequeaestruturatumularconstruídaésubstan-cialmentemenornasextremidadesSudesteeSudoeste,nasquaisseregistaramgrandescamadasdederrube,enquantonoSectorCentral(azonamaisbempreservada),seobservouumamenordensidadedemateriaisdeconstruçãotombados.
Aescassezdevestígiosnasextremidadesdaestruturalongitudinalpodetertrêscausas:1)desli-zamento da massa tumular e desmoronamento do edifício, como indiciam os grandes derrubes;2)utilizaçãodetécnicasedemateriaisdeconstruçãodiferentesdaquelesqueforamusadosnazonacentral;3)volumedeconstruçãomaisreduzidonestasáreas(tendoaestruturadeempedradosidosubs-tituídapelaelevadadensidadedefracturaçãodarocha-base,combolsasde“empedrados”naturais).
As extremidades Sudoeste e Sudeste do tumulus 2 estavam efectivamente arruinadas e sóforamidentificadasalgumasunidadesdasuabase8,queestariamanivelarasirregularidadesdarochabaseequeforammaisdifíceisdedistinguir,devidoàsuagrandefracturação.
Numa dessas bolsas, que preenchia um interstício da rocha, detectou-se uma mancha deterrascastanhasepoucocompactadas(UE452),quecontinhaumagrandequantidadedefrag-mentosderecipientescerâmicos,comváriosfabricosedediversostipos.
O“ninho”decerâmicaestavalocalizadonumazonamuitorestrita,entreumadepressãoexis-tentenoafloramentorochoso,podendoserdefundaçãoanterioràedificaçãodoMonumento2.
Fig. 19 Derrubedo tumulus2(extremidadeSudoesteeextremidadeSudeste).
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Noentanto,convémsublinharqueomauestadodeconservaçãodosegmentodaUE61,quecobriaaUE452,nãoimpedequeodepósitodemateriaistenhasidocolocadonummomentoposterioràconstruçãodacarapaçapétrea,podendotersidocobertocomosmesmosmateriais.
OsegundoeixoestruturantedoMonumento2desenvolve-sedeformaconcêntrica,apartirdeumnúcleo,quenestecasocorrespondeàCâmara2.SeaceitarmosahipótesedeaUE103serolimiteexternoconhecidodotumulus29,estaestruturacircularpoderiater,nazonaNorte,umdiâmetro aproximado de 70 m de comprimento, com cerca de 35 m de raio, entre o centro dacâmaraeointerfaceexternodaUE103.
A Câmara 2 deveria ser circundada por dois anéis de pedra, divididos aparentemente porumacamadadeterra (UE77),dispostadeformacircular (acompanhandoacurvaturageraldasduas câmaras) e com uma superfície relativamente aplanada. O anel central está relativamentemalconservado(UE12510),masoanelexternoobservadonoSectorSuleraconstituídoporumaenormemassadepedras(UE15),comcercade30-40cmdeespessura,comblocosdemédiasegran-desdimensões,queestavamestruturadosdeformaimbricada,configurandoumafiguracircular.
Estegrandeaglomeradopétreo formavaumsocalcoartificial,quereduziaodesnívelexis-tenteentreotopoda“fachada”Suleaplataformaondeforamconstruídasassepulturas,sobre-pondo-seàfracturageológicaeprolongando-senosentidoNoroeste,ondedeverátersidocortadopelasmáquinasagrícolas.
NoSubsectorSudoeste,enquantosedelimitavaaUE15,identificou-seumaestruturalinearformadaporblocosdemédias/grandesdimensões,quefuncionavacomoaneldecontençãodocorpoprincipal(UE86).Apesardenãosedemarcarclaramente,nemconstituirqualquerlimiteexteriordamamoa,estasequênciadeblocosfuncionariacomolinhadeapoiointernoedesuportedomaiorvolumedeterrasedepedras,nosítiodemaiorinstabilidadeestrutural(ondeacurvaturadaUE15coincidecomopontodemaiordesnívelnoafloramentorochoso).
Fig. 20 Vistageraldotumulus 2(SectorCentral).
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NoSectorSul,aUE15eraparcialmentecobertaporumaextensacamadadepedras,compeque-nasdimensões,dispersasdeformacaótica,queeramenvolvidasporterrascastanhas(UE61).Apesardasuareduzidaestruturação,aUE6111formavaumamassacompacta,queregularizavaoscortesfeitosnaUE100easdepressõesexistentesnasuperfíciemaisacidentadadarochabase.
No Subsector Oeste, a UE 15 assentava sobre uma camada uniforme de terras de texturagranulosa(UE85),enquantoquenazonacentralencostavanaUE12612,juntoàlinhadetopodacarapaça,enaUE64,naáreadacristadefalha.NoSubsectorEste,acarapaçaestavamaismalconservada,tendo-seregistadoapenasalgunssegmentos(UE111eUE120).
7.2. Câmara 2
Acâmaradaterceirasepulturadeveriasercobertaporduasgrandeslajesdecobertura(UE3eUE7),quetinhamumblocodemédiasdimensõesaservircomocunha(UE92).
AUE7consistianumblocodegrandesdimensões,queseencontravatombadonointeriordaCâmara2equeapresentavaumelevadograudealteração,nãotendosidopossível recolherqualquersegmentoconservado,devidoàsuareduzidacompactação.
AocontráriodaUE7,queestava in situ, aUE3poderá ter sidodeslocadada suaposiçãooriginal,pelasmáquinasagrícolas,ecolocadaaoalto,tendoficadoperfeitamenteencaixadanoanelpétreo(UE72).TerásidoestaposiçãodestacadadaUE3,quechamouatençãodaequipadearqueologia,nafasedeEstudodeImpacteAmbientaldoCanaldeRega,emotivouoregistodestelocalcomosítiodeinteressearqueológico(Profico,2003).
Fig. 21 TopodaCâmara2.
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Fig. 22 SequênciaestratigráficadaSepultura3(desenhosdeMafaldaNobre).
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Tabela 4. Dimensão e forma das lajes de cobertura
UE Comp.máximo(m) Larg.máxima(m) Altura(m) Forma
SEPuLturA 1
Laje 1 300 1,5 0,7 0,4 Sub-rectangular
SEPuLturA 2
Laje 1 66 1,6 0,7 0,3 Sub-rectangular alongada
Laje 2 74 1 0,7 0,35 Sub-rectangular
SEPuLturA 3
Laje 1 3 1,4 0,8 0,22 Sub-rectangular
Laje 2 7 1,5 1 0,26 Sub-rectangular
TalcomoaCâmara1,onovoambientefunerárioestavademarcadoporumaestruturaanelar,quetinhaumacomposiçãobastantemaiscomplexaqueaUE70.Oanelpétreo(UE72)eracons-tituídoporblocosdemédiasdimensões,intervaladosporpedrasdetamanhomaisreduzido,quepreenchem os espaços vazios existentes entre os blocos maiores, juntamente com depósitos deterramuitocompactada.
Estaconstruçãoconstituíaosegmentosuperiordeumaestruturaformadatambémporumaneldeterra,quepoderiafuncionarcomoo“alicerce”ouo“embasamento”dotroçomais“visível”.Mas,aocontráriodoqueseverificounaCâmara1,ocorrespondenteníveldeterraeraconstituídoporumagrandevariedadededepósitos,comcomposiçõesrelativamentedistintas13.
Aescavaçãodetodososdepósitosdaestruturaanelarpossibilitouadelimitaçãointegraldacovaabertanosolo(UE215),cujarealizaçãoprovocouadestruiçãoparcialdotumulus1,orompi-mentodoSectorEstedaCâmara2eocortedealgunsdepósitosdopovoadopré-existente.
Fig. 23 FossadeinumaçãodaCâmara2.
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Onívelfunerárioeraformadoporumdepósitodeterrascastanhas(UE143)quepreenchiaumaconcavidade(UE150),deformasub-rectangular,orientadasegundooeixoSO-NE.
No seu interior, não foram identificados vestígios de ossos humanos, nem se registoua camada vermelha no fundo da fossa, como nas Sepulturas 1 e 2, todavia, recolheram-se doismachados(secçãooval)eumaenxó(secçãosub-rectangular),queseencontravamconcentradosnamesmaárea,paraalémdeduaslamelaseumfragmentodecerâmicamanual.
8. Leituras prévias para futuras respostas
Onossoconhecimentosobreaocupaçãopré-históricadestamicrorregiãodoconcelhodeÉvora(S.Manços,TorredeCoelheiroseMontedoTrigo)baseia-se,ainda,nostrabalhosdivulga-dospelocasalLeisner,sobretudonoseulevantamentoarqueológicodasantasdeÉvora(Leisner,1949),sendonecessárioaguardarpelasistematizaçãorigorosadosdadosobtidosnaminimizaçãodeimpactesdoAlqueva,queirácertamenteenriqueceroquadrodereferênciaspatrimoniais.
OsítioarqueológicodasAtafonasestálocalizadopróximodeumnúcleodeantasconhecido,dasquaissedestacamaAntadasAtafonaseaAntadaHerdadedaDefesaGrande(Leisner,1949,p.56),porseremexemplarestípicosda“fasedeapogeudomegalitismo”(Silva,1987,p.86),bemcomo,asduasAntasdoFreixodeBaixo,porpoderemcorresponderà“FaseMédia”domegali-tismo(Silva,1993,p.172).
Segundo o modelo tradicional estabelecido para o megalitismo do Sudoeste peninsular(Savory, 1969; Leisner, 1983; Silva e Soares, 1983), as Sepulturas 2 e 3 das Atafonas, poderiamenquadrar-se consensualmente no denominado período “proto-megalítico”, mas como situarculturalmenteaSepultura1?PoderásercomorefereVeraLeisner,em1966,“(…)éapréeproto-fasedosmegálitosdecorrentedoMesolítico”(Leisner,1983,p.9).PoderáseraSepultura1o“eloperdido”?QualpoderáserarelaçãodaSepultura1comopovoado?ASepultura1representaumacompletarupturacomaocupaçãoanterior?
O povoado das Atafonas não tem características verdadeiramente inéditas, quer do pontodevistadasestruturasnegativasexpostas,quernosmateriaisarqueológicosrecolhidos,emboraaausênciadecerâmicadecoradapossaserinterpretadacomoumelementocronológicodiferenciador(Diniz,2000,p.105).Ainexistênciadefragmentoscerâmicossemdecoraçãoimpressa(cardialounão-cardial),incisa,ousemelementosplásticos,podesignificarumaetapaposteriornomodeloclás-sicodaneolitização(NeolíticoMédio),correspondenteaospovoadosdaFábricadaCelulose,Pipas,QuintadaFidalga(SoareseSilva,1992,p.47),ao“horizonte”daComportaII(Silvaetal.,1986)eaosprimeirosmonumentosmegalíticos,comoaantadoPoçodaGateira1(Silva,1997,p.582).
Considerandoquenoscontextosdopovoadoserecolheramapenas9fragmentosdecerâmicaequeemtodaaintervençãoarqueológicanãoseremoverammaisde60fragmentosdeproduçãomanual,nãocontabilizandoosmateriaisrecolhidosnaUE452,éforçosoteralgumaprudêncianainterpretaçãosobreosignificadodaausênciadedecoração,dadoqueaamostragemnãoéestatisti-camenterepresentativa,secompararmoscomosfragmentosdeoutrospovoadodoneolíticoantigo.Todososrecipientesserãodecorados?Qualéapercentagemderecipientessemdecoração?
Optandoporumaleituratradicional;poderásercorrectoatribuiropovoadodasAtafonasaoNeolíticoMédio;mascomoexplicarentãoascaracterísticas“arcaizantes”dasSepulturas2e3,quesegundoosmodelosexplicativosconvencionaisdeveriamser“proto-megalíticas”?Comoresolverestacontradiçãoestratigráfica?Estanecrópolecorresponderiaaumprocessoparalelonomega-litismoalentejano,conformeomodelo2apresentadoporVítorOliveiraJorge“(…)admitiriaa
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contemporaneidadedosurgimentodesoluçõesdiferentes,nomeadamentedepequenosdólmens,comousemcorredor”(Jorge,1983-1984,p.44)?
Emboraoestudodapedralascadaaindaestejanumafasepreliminar,aobservaçãoeaclas-sificaçãodosmateriaisretiradosdopovoadodemonstramqueexistemsemelhançastipológicasevidentescomutensíliosprovenientesde sítioscomo,porexemplo,aValadadoMato (DinizeCalado,1998),ValePincelI(SilvaeSoares,1981)ouCabranosa(Cardosoetal.,1998).
Como refere Mariana Diniz (2000, p. 109), os recentes trabalhos no Alentejo Central têmdemonstradoque“(…)nãoterásidoapaisagemdesertaondeposteriormenteeclodeummegali-tismofuneráriosemantecedentespopulacionaisqueojustificassem,aoinvésestaríamosperanteumabasedemográfica,responsávelporumaarquitecturasocialquepermitiusituaçõesposterio-res”.Estaconstatação,queagorapareceevidente,suscitaumaoutraquestão,queserelacionacomaescassezdevestígiosdaspráticas funeráriasduranteoNeolíticoAntigo.Ondeestãoos locaisdedicadosaosmortosecomoseriamaspráticasfunerárias?
Adificuldadedemonstradanadetecçãodoscontextoshabitacionaiséidênticaànossainca-pacidadedelocalizarosrespectivosambientesfunerários,querpelaaparente“invisibilidade”dosvestígios,querpelasuaeventualinexistência.
Comojáfoiexplicado,aSepultura1éclaramentediferentedasoutrassepulturas,dadoquesetratadeumaconstruçãoemfossa,nointeriordaqualfoicriadoumossário,cominumaçõessecundárias;ouseja,nãoapresentaascaracterísticasdafase“proto-megalítica”,quepodemsereventualmenteencontradasnasSepulturas2e3.
ASepultura1poderáexpressaramaterializaçãodeumapráticafuneráriatardia,comténuesinfluênciasdos“rituaismesolíticos”,nomeadamente,deposiçãoemfossaepróximodolocaldehabitat, como se verificou no sítio mesolítico da Moita do Sebastião, em Muge (Roche, 1960),e, aparentemente, na Samouqueira 1 (Sines), onde foram exumados restos de duas inumações(SoareseSilva,2000,p.129).
PeranteasucessãodeeventosnasAtafonas,aSepultura1poderáserrepresentativadaspráticasfuneráriasdegruposneolíticoslocais(quersejamdoNeolítico“Antigo”,do“AntigoEvolucionado”oudo“Médio”),numaetapaanterioràconstruçãodascâmarasdesignadas“proto-megalíticas”.
A sua arquitectura “subterrânea” comprova a dificuldade na detecção deste tipo de cons-truções,quenãosãovisíveisà superfíciedosolo,enquantoapresençadoossário,cominuma-çõessecundárias,demonstraqueexistiamnecessariamenteoutroslocais,ondeoscorposseriaminicialmentecolocados,comorespectivoespólio.Numsegundomomento,osrestosósseosseriam
Fig. 24 IndústrialíticadoPovoadodasAtafonas,esc.1:2(desenhosdeMafaldaNobre).
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recolhidosedepositados,numsepulcrodenaturezacolectiva,comalgumespólioartefactual,quepoderáserdiferentedooriginal.
OutraquestãoquesepodeapresentarconsistenautilizaçãodotermoSepulturanestesepul-croedeMonumentonosrestantestúmulos.Astrêsestruturassãosepulturas,masseráquesãotodosMonumentos?
Anossaopçãovalorizaasdisparidadesexistentesnacronologia,namorfologia,noesforço,naplanificaçãoenafinalidadedestastrêsunidades.Seoprojectoinicialprimapelasimplicidadeda sua arquitectura, com poucos ou nenhuns elementos construídos, pela sua natureza exclu-sivamentesubterrâneaepelaconstituiçãodeumossário,nosegundoe, sobretudo,no terceiroempreendimento,acomplexidadedassuasarquitecturas,dastécnicasedosmateriaisdeconstru-çãousadoseoregistodeumainumaçãoindividualnaSepultura2,deveráobrigar-nosareflectirerepensaronossoconhecimentosobreosignificadosocialesimbólicodosrituaisfuneráriosprati-cadosentreasegundametadedoVmilénioeaprimeirametadedoIVmilénio.
Ao contrário das outras necrópoles já referenciadas para este período, nomeadamente oconjuntopolinucleardoPessegueiro(SoareseSilva,2000,p.121)eoagrupamentodaPalmeira(Formosinhoetal.,1953;SoareseSilva,2000,p.121),anecrópoledasAtafonasémononuclear,dadoqueastrêssepulturasestãointegradasnomesmoedifício.Qualosignificadodestapermanên-ciaeestruturaçãodoespaço?Qualarazãoparaasdiferençasencontradasnosrituaisfunerários?
Oconjuntodeconstruçõesobservadonestesítioenquadra-senoscomplexosprocessosdetransiçãodascomunidadesdoSudoestepeninsular,relacionadoscomoincrementodosistemaagro-pastorilecomoaparecimentodomegalitismo,nassuasmaisvariadasformaseritmosdedesenvolvimento.
AnecrópoledasAtafonaspodecorresponderaumadasprimeirasmanifestaçõessociaisrela-cionadascomoenraizamentodeumacomunidadenumterritórioespecífico.
Fig. 25 VistageraldasCâmaras1e2.
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1 ArqueólogodaempresaTerralevis,Arqueologia,PatrimónioeSistemasdeInformação,[email protected]
2 AscoordenadasabsolutasdasAtafonassão:M–229832,360;P–162104,053;Z–216,2(sistemadeprojecçãoHayfordGauss,Datum73).
3 AspedrasdaUE375configuramumaformavagamentecircular,enquantoqueaspedrasdaUE275sugeremumaformalinear.
4 AUE380cobriaoutrodepósitodeterraspretas(UE387),queenvolviaoutroaglomeradodepedrasdedimensõesreduzidas(UE449),queaparentavaestarestruturadonumplanohorizontal.
5 Emboraestainterpretaçãofuncionalpossasuscitaralgumasdúvidas,abasedaspedrasestavaenvolvidaporumdepósitodeterrasmuitocompactadas(UE265),quefazpartedotumulus1,eosblocosestavamsobrepostosdeformacompacta,aocontráriodaspedrassoltasoudosamontoadosdepedrasolta.
6 AUE176assentavasobreumdepósitodeterrascastanhas(UE177).
7 UE68,UE116eUE136.ConvémreferirqueaUE136envolviaaUE448.
8 ComoasUEs334,335e336eaUE61(SectorSudoeste)9 AUE103encostavanaUE85.10 Aglomeradodepedrascompequenasemédiasdimensões,
dispostasuniformementenumacamadapétrea,queapresentavaumaligeirainclinação.Otopodestaunidadeestavaparcialmentealteradopelapassagemdasmáquinasagrícolas,quedevemterdeslocadoalgumaspedrasdasuaposiçãooriginal.
11 AUE61cobriaumapelículadeterrascastanhasamareladas(UE64),apartirdaqualseconstruiuotumulus2,noSectorSul.
12 AUE126eraumdepósitodeterrascastanhas,muitocompactadas,queestavamdispostas,emformadelomba,sobalinhainternadoanelexterior(UE15),aacompanharacurvaturageraldosanéispétreos.
13 UE94,UE96,UE98,UE134,UE175,UE199,UE205,UE216,UE219,UE220,UE221,UE225,UE226eUE237.
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