o relacionamento entre professor e coordenador: …...em primeiro lugar gostaria de agradecer os...

93
Vivien Figueiredo Pujol Yamamoto O RELACIONAMENTO ENTRE PROFESSOR E COORDENADOR: PARCERIA NECESSÁRIA PARA UM TRABALHO HARMONIOSO E PRODUTIVO Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2008

Upload: others

Post on 22-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Vivien Figueiredo Pujol Yamamoto

O RELACIONAMENTO ENTRE PROFESSOR E

COORDENADOR: PARCERIA NECESSÁRIA PARA UM

TRABALHO HARMONIOSO E PRODUTIVO

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

2008

Vivien Figueiredo Pujol Yamamoto

O RELACIONAMENTO ENTRE PROFESSOR E

COORDENADOR: PARCERIA NECESSÁRIA PARA UM

TRABALHO HARMONIOSO E PRODUTIVO

Trabalho apresentado como requisito

para a conclusão do curso de

Pedagogia – habilitação conjunta de

Orientação Educacional e Supervisão

Escolar – sob orientação da Profª Dra.

Marilia Marino.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

2008

"O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente."

Gandhi

Dedicado à minha família, amigos e professores.

Agradecimentos

Em primeiro lugar gostaria de agradecer os meus pais, Denise e Roberto,

por todo o amor, carinho, conselhos e segurança que me dão desde sempre. Se

não fossem os valores ensinados tenho certeza de que não teria chegado até

aqui. Muito obrigada por todo o apoio e por terem financiado a faculdade, que

afinal de contas, não é nada barata...

Obrigada também às minhas irmãs, Natalie e Caroline, pela paciência que

tiveram durante todo o processo deste trabalho. Ná, eu sei o quanto foi chato ter

que dividir o computador comigo, mas apesar de algumas briguinhas, agradeço

por ter me compreendido. Carol obrigada por ser essa menina tão alegre que

conseguia me fazer rir mesmo eu estando preocupada com tantas coisas para

fazer.

Obrigada também ao meu avô Carlos, por ser um avô tão dedicado e meu

professor de história particular. Se algum dia eu souber metade do que você

sabe, ficarei muito feliz.

À tia-avó Palmyra, obrigada por sempre ter me tratado com carinho e ter

feito a minha infância mais feliz com todas as brincadeiras que tornavam minha

tardes tão divertidas.

Um agradecimento especial a duas pessoas que já se foram, minha avó

Irene e minha tia-avó Ruth. Reafirmo o quanto foram importantes na minha vida e

na minha formação pessoal e profissional.

Vó, obrigada pelos mimos e dedicação, por sempre acreditar na minha

competência e conseguir me deixar alegre quando estava triste.

Tia Ruth, você foi a pessoa mais bondosa que já conheci, sempre disposta

a me ajudar em qualquer situação. Obrigada pelas conversas engraçadas e pelos

momentos tão bons que tivemos juntas.

Ao Bruno, meu namorado e amigo, obrigada por sempre me apoiar e me

encorajar a realizar os meus sonhos.

Às meninas que foram minhas colegas de classe na habilitação Orientação

Educacional e Supervisão Escolar/2008. Todas vocês fazem parte deste trabalho

e parte da minha história de vida.

Um agradecimento especial faço às meninas que conheço desde o

primeiro ano da faculdade e que acompanharam a minha trajetória na PUC-SP –

Andrea Marrey, Ana Claudia Teixeira, Maria Giovanetti, Mariana Alves Mas de

Camargo, Nataly Anne e Paloma Swain Migliano. Depois de quatro anos juntas, e

de muitos trabalhos, posso dizer feliz: CONSEGUIMOS!!!

Aos professores da habilitação – Alda Carlini, Artur Costa Neto, Marilia

Marino, Neide Saisi e Ronaldo Negrão – obrigada pelos conteúdos e

conhecimentos transmitidos. Vou sentir muita falta das aulas que me fizeram

refletir e questionar tantos assuntos relacionados a Educação em todos os seus

âmbitos.

E, agradeço minha orientadora, Profª Dra. Marilia Marino, pelas orientações

dadas e por sempre conseguir um horário em sua agenda tão atribulada para me

atender. Sem sua ajuda esse trabalho não teria se tornado real.

Sumário

I. Introdução ............................................................................................................9

II. Referencial teórico

A. Concepções gerais

1. Visão de homem, mundo e educação ....................................................12

2. Sociedade, trabalho e importância de O. V. ...........................................14

3. O papel do coordenador pedagógico-educacional .................................18

4. Avaliação ................................................................................................24

B. Subsídios teóricos para tratar o tema/problema

1. As contribuições de Paulo Freire ............................................................29

2. Formação continuada do professor ........................................................34

3. A Reunião Pedagógica ...........................................................................37

III. Metodologia ......................................................................................................42

IV. Dados de campo

1. Análise a avaliação institucional .................................................................44

2. Estudo exploratório .....................................................................................50

3. Análise do estudo exploratório

3.1. Visão geral dos sujeitos ...................................................................53

3.2. Visão de relação sujeitos x eixos .....................................................57

3.3. Considerações gerais ......................................................................63

V. Proposta de ação ..............................................................................................67

VI. Considerações finais .......................................................................................77

Referências bibliográficas .....................................................................................79

Anexos .................................................................................................................81

Resumo

Este trabalho tem como objetivo explorar possibilidades que possam

auxiliar o relacionamento profissional entre professor e coordenador.

A primeira parte do trabalho consiste num estudo sobre concepções de

ordem geral: visão de homem, mundo, educação, sociedade, trabalho,

coordenação e avaliação, que expressam os fundamentos do meu pensar como

educadora. Após, faço o aprofundamento do meu tema O relacionamento entre

professor e coordenador: parceria necessária para um trabalho harmonioso e

produtivo, onde falo sobre as diferentes funções do coordenador pedagógico-

educacional dentro da escola e sua importância para o desenvolvimento do

trabalho do professor.

Em seguida, faço uma análise da organização escolar onde realizei minhas

pesquisas e de depoimentos feitos por quatro professoras, caracterizando-se

como estudo exploratório.

Finalizo o estudo construindo uma proposta de ação que visa ajudar o

coordenador a estimular a autonomia e a autoconfiança do professor, criando

condições para que formem uma boa parceria profissional. Esta parceria

favorecerá o professor no desenvolvimento pleno do aluno – meta de toda a

organização educativa.

Palavras-chave: autonomia, relação coordenador-professor, funções do

coordenador.

Abstract

This work has the objective of exploring possibilities to help the professional

relations between professor and coordinator.

The first part of the work consists of a study on conceptions of general:

vision of man, world, education, society, work, coordination and evaluation, which

express the basics of my thinking how teacher. After, I do the deepening of my

topic: The relationship between professor and coordinator: partnership necessary

for a harmonious and productive work, where I speak about the different functions

of pedagogical coordinator- educational within the school and its importance for

the development of the work of professor.

Then, I analyses a school organization where I have consulted my research

and statements made by four teachers, characterizing it as an exploratory study.

The study concludes building a proposal of action that aims to help the

coordinator to stimulate the autonomy and the confidence of the teacher, creating

conditions to form a good professional partnership. This partnership will favor the

teacher in full development of student – goal of the whole educational

organization.

9

I. Introdução

Minha opção pelo curso de Pedagogia não se deu de forma simples. Desde

pequena dizia que iria ser dentista e isso persistiu por tantos anos que a primeira

vez que prestei o vestibular, no 3º ano do Ensino Médio, odontologia era minha

única opção. Prestei apenas a Fuvest e não passei.

Em 2004 fiz um cursinho preparatório para o vestibular, me matriculando

na turma de Biológicas, onde a maioria dos alunos sonhava fazer medicina. Sem

certeza da minha vocação para esta área, fiz orientação vocacional no CIEE.

Eram três encontros com outros adolescentes, que também tinham dúvidas sobre

sua escolha profissional, e uma psicóloga. No terceiro e último encontro, todos

tiveram uma conversa individual com a psicóloga, em que ela nos falou sobre a

impressão que teve sobre nosso modo de agir nas dinâmicas realizadas (muitas

delas encontradas no texto de Isabel Tremarin) nos dois primeiros encontros e as

profissões que mais se encaixavam em nosso perfil. No meu caso estavam

Jornalismo, Psicologia e Pedagogia.

Depois de muito pensar sobre estas três profissões, fiquei dividida entre

Pedagogia e Psicologia. Com o vestibular se aproximando e a necessidade de me

decidir, acabei optando por Pedagogia. O principal motivo para descartar

Psicologia foi o fato de a Fuvest exigir, para este curso, prova específica de

Matemática na segunda fase do vestibular.

Foi assim que cheguei à Pedagogia da PUC-SP. Estava animada com a

escolha, mas ainda com dúvidas. Depois das primeiras aulas comecei a gostar do

curso e das discussões que haviam em sala de aula e senti que estava no lugar

certo. Era uma profissão que admirava, mas ao mesmo tempo tinha certo

preconceito devido à baixa remuneração.

Ao longo desses três anos de faculdade houve muitos momentos em que

achei que esta não era a profissão certa para mim, principalmente nas discussões

que falavam sobre a qualidade da educação pública e o descaso de pessoas, em

diversos cargos, que deveriam cuidar da área. Todos esses debates, até hoje,

fazem com que eu me sinta mal e em dúvida sobre o que estou estudando, pois

me sinto incapaz de mudar, de alguma forma, essa dura realidade. Porém,

10

existiram momentos em que me sentia feliz com a escolha, e grande parte desse

sentimento está relacionado com a minha primeira experiência prática na área de

educação.

Em 2006 comecei a trabalhar, como auxiliar de classe, em uma escola de

Educação Infantil sócio-construtivista. Lá, tive alegrias e realizações, mas também

surgiram questionamentos sobre minha prática docente. Acredito que a opção

pela habilitação OE/SE se deve, principalmente, ao meu relacionamento com a

ex-coordenadora da escola, pois não concordava com algumas de suas atitudes

em relação aos professores. Cheguei aqui com vontade de saber e compreender

o papel do coordenador e suas funções na escola, destacando-se sua intervenção

no trabalho com os professores e o modo como se relaciona com os pais e trata

de assuntos do âmbito familiar dos alunos.

Neste TCC, pretendo focar o tema da relação professor - coordenador,

principalmente no que diz respeito às intervenções que o coordenador faz no

trabalho do professor e de que forma o estimula a ter autonomia em seu trabalho

na sala de aula.

A indagação que me mobiliza é Como o coordenador pode estimular a

autonomia do professor, como educador, considerando os valores do Projeto

Educativo?

A importância desta problemática se justifica quando se tem em vista que

uma das funções do coordenador pedagógico é intervir no trabalho dos

professores, dando-lhes sugestões e orientações que podem ou não ser

colocadas em prática na sala de aula. Essa “interferência” por parte do

coordenador no trabalho docente deve ter sempre como foco a aprendizagem dos

alunos.

Foi a partir da minha experiência com a ex-coordenadora da escola onde

trabalho que resolvi pesquisar a relação professor-coordenador. Comparar a

prática dos professores, corrigir o professor na frente dos alunos e falar de que

modo o professor deveria conduzir uma atividade são alguns exemplos do que a

coordenadora a qual me referi fazia e eu não concordava.

A partir desse primeiro contato com uma coordenadora, já no meu papel de

professora/auxiliar de uma escola, algumas perguntas vieram à minha cabeça: até

11

que ponto o coordenador pedagógico pode guiar o trabalho do professor? Ao dar

sugestões sobre o trabalho do professor, o coordenador tira sua autonomia? Que

atitudes o coordenador deve ter para incentivá-la?

Quando falamos de relações humanas as soluções para problemas nesse

âmbito nunca são fáceis. É impossível duas pessoas concordarem sempre sobre

todas as coisas. Porém, é muito difícil haver uma convivência saudável se duas

pessoas discordam o tempo inteiro uma da outra e, pior ainda, se elas não se

respeitam. E esse contexto se torna ainda mais complicado quando pensamos

em relações de trabalho. Muitas vezes somos obrigados a ficar calados não

podendo manifestar nossas opiniões, seja por questões hierárquicas ou por medo

das conseqüências que o nosso parecer poderá acarretar.

Não pretendo, em meu trabalho, dar receitas de como deve ser a relação

professor-coordenador. Tais receitas não existem, pois cada pessoa é de um

jeito, com qualidades que são defeitos para uns e defeitos que são qualidades

para outros. Acredito que quando confiamos nas pessoas com as quais

trabalhamos e damos abertura para que elas consigam expressar suas opiniões,

a probabilidade de haver um desgaste emocional é muito menor. Além disso, o

trabalho se torna muito mais prazeroso, criativo e dinâmico.

Portanto, o objetivo deste trabalho é explorar possibilidades que possam

auxiliar o relacionamento profissional entre professor e coordenador, de modo que

ambos se sintam confiantes em dizer o que pensam, sem receio de serem mal

interpretados. Finalizo o estudo construindo uma proposta de ação que visa

ajudar o coordenador a estimular a autonomia e a autoconfiança do professor,

criando condições para que formem uma boa parceria profissional. Esta parceria

favorecerá o professor no desenvolvimento pleno do aluno – meta de toda

organização educativa.

12

II. Referencial Teórico

Neste capítulo apresento as concepções teóricas que sustentam este

trabalho, tanto no que se refere às visões gerais quanto ao meu tema específico,

que tem em vista aprofundar e valorizar a formação e a autonomia do professor.

A. Concepções Gerais 1. Visão de homem, mundo e educação

Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser

condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir

mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado

e o ser determinado. A diferença entre o inacabado que não se sabe

como tal e o inacabado que histórica e socialmente alcançou a

possibilidade de saber-se inacabado. (FREIRE, 1997, p. 53).

O homem é a única criatura que precisa ser educada, pois, diferentemente

do animal, que ao nascer é dotado de instintos, o homem precisa de outras

pessoas, outros homens que possam ajudar em seu desenvolvimento

ontogenético.

Todo o animal é o que é; somente o homem não é, na origem, nada.

Deve tornar-se o que deve ser (...) Se o homem não é um animal,

trata-se então de um animal extremamente imperfeito e por essa

mesma razão não é um animal. (FICHTE, apud. CHARLOT, 2000, p.

51).

Para o homem “tornar-se o que deve ser”, ele deve ser educado por outros

homens que suprem seu inacabamento. E estes, por sua vez, só podem fazê-lo

por estarem em um mundo humano pré-existente, já estruturado. Um mundo

humano produzido pela espécie ao longo de sua história (...), sob a forma de

estruturas, ferramentas, relações, palavras e conceitos, obras (CHARLOT, 2000,

p. 53).

13

Pelo fato de precisar de outros homens para tornar-se um, desde seu

nascimento e durante toda sua vida, o homem vai carregar em si o desejo pelo

outro. Um desejo que sempre é, no fundo, desejo de si, desse ser que lhe falta,

um desejo impossível de se saciar, pois saciá-lo aniquilaria o homem enquanto

homem (CHARLOT, 2000, p. 53). Ou seja, o homem deseja elementos que estão

fora dele e dos quais ele irá apropriar-se, de forma simbólica, por meio das

relações sociais. Quanto mais cultural é o ser maior a sua infância, sua

dependência de cuidados especiais. (FREIRE, 1997, p.50).

Por ser inacabado, o homem define-se ao longo de uma história, uma

história singular inscrita na história maior da espécie humana. Ela vai ser

determinada pela relação homem-homem e homem-natureza, em um tempo e

espaço específicos. Assim, ao nascer, o sujeito já está submetido à obrigação de

aprender. Aprender para tornar-se um homem, único, membro de uma

comunidade, a qual ele constrói e o constrói. Esse movimento é infinito e a ele

damos o nome de educação. É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que

se funda a educação como processo permanente. Mulheres e homens se

tornaram educáveis na medida em que se reconheceram inacabados. (FREIRE,

1997, p.58)

Com a mediação do outro, ele irá apropriar-se da humanidade que lhe é

exterior, da cultura. Esta é transmitida aos sujeitos por meio de signos. Cada um

irá apropriar-se de maneira diferente dos signos que lhe são apresentados,

podendo adaptar-se a eles ou não. Essa apropriação vai ser determinada pelo

contexto social no qual ele está inserido.

O fato de me perceber no mundo, com o mundo, e com os outros me

põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a

ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele

se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta

para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História.

(FREIRE, 1997, p. 54)

14

(...) a inconclusão que se reconhece a si mesma implica

necessariamente a inserção do sujeito inacabado num permanente

processo social de busca. Histórico-sócio-culturais, mulheres e

homens nos tornarmos seres em que a curiosidade, ultrapassando

os limites que lhe são peculiares no domínio vital, se torna fundante

da produção do conhecimento. Mais ainda, a curiosidade é já

conhecimento. Como a linguagem que anima a curiosidade e com

ela se anima, é também conhecimento e não só expressão dele.

(FREIRE, 1997, p. 55).

A partir do momento em que preciso do outro para poder me educar, para

poder aprender e atuar no mundo de forma ativa, é necessário refletir sobre a

atual sociedade dividida em classes na qual vivemos. As transformações sociais e

econômicas do sistema capitalista trouxeram incertezas sobre o futuro da

cidadania como, por exemplo, os avanços tecnológicos e o poder da mídia. Nele o

indivíduo está sendo cada vez mais enaltecido, o que não seria problema, se não

fosse a valorização do individualismo.

Sendo assim, a escola deve, mais do que nunca, nos ajudar a ter outro

olhar sobre o coletivo, para que este não fique prejudicado. Ao tratar de assuntos

como meio-ambiente e ética, a instituição educacional faz com que os sujeitos se

percebam como parte de uma sociedade mais ampla, refletindo,

conseqüentemente sobre sua atuação como cidadão do mundo. Só os seres que

se tornaram éticos podem romper com a ética. (FREIRE, 1997, p. 52)

2. Sociedade, trabalho e importância de O.V.

Segundo Baremblitt, sociedade é um tecido de instituições que se

interpenetram e se articulam entre si para regular a produção e a reprodução da

vida humana sobre a terra e a relação entre os homens (1992: 27). As

instituições, por sua vez, são

árvores de composições lógicas que, segundo a forma e o grau de

formalização que adotem, podem ser leis, podem ser normas e, quando

15

não estão enunciadas de maneira manifesta, podem ser pautas,

regularidades de comportamentos. (1992: 27).

Para que uma Instituição seja reconhecida como tal, ela não precisa ter,

necessariamente, suas leis, normas e códigos formalmente escritos. Estes podem

ser transmitidos verbal ou praticamente, como ocorre nas sociedades ágrafas.

Disso podemos concluir que A Instituição nada mais é que uma decorrência da

tipificação recíproca entre pessoas em interação, (...) (DUARTE, 1984: 39). Ou

seja, é uma formação da sociedade e da cultura, estabelecendo padrões de

comportamento na execução de determinadas tarefas. Padrões que são

transmitidos a sucessivas gerações.

Cada Instituição é dotada de uma finalidade que a identifica e a distingue:

instituição da linguagem, instituição da educação, instituição da religião, etc. Elas

são entidades abstratas, por mais que possam ser registradas por escrito ou

tradições. Então, para que possam cumprir sua função de regulação da vida

humana, elas precisam “materializar-se” em organizações, que são grandes ou

pequenos conjuntos de formas materiais que põem em efetividade, que

concretizam, as opções que as instituições distribuem, que as instituições

enunciam (BAREMBLITT, 1992: 30). As instituições não teriam realidade social se

não fosse por meio das organizações e as organizações não teriam sentido se

não estivessem informadas pelas instituições.

Assim sendo, as instituições corporificam-se na vida cotidiana dos

indivíduos por meio dos papéis que estes devem desempenhar para fazer parte

delas. O estabelecimento de papéis é um dos instrumentos que ajudam a

preservar e a manter em ordem as instituições, pois retira das pessoas a

possibilidade de condutas baseadas apenas em seus desejos individuais.

Uma das instituições que, em nossa sociedade capitalista, possui maior

repercussão é a do trabalho. É por meio dele que, concretamente, o homem se

situa, se descobre, como pessoa e como sujeito, capaz de transforma-se e

transformar o mundo onde vive. (PIMENTEL, 1985: 1). No trabalho, e pelo

trabalho, o homem conquista sua liberdade transformando a natureza,

16

construindo a cultura, criando novas realidades, situando-o no momento histórico

em que vive.

Atualmente, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia operacionaliza

mudanças cada vez mais acentuadas no mercado de trabalho, fazendo com que

este esteja sempre em uma contínua mudança. O conhecimento científico e a

tecnologia revolucionaram as bases da existência humana, modificando as

aspirações do homem (VASCONSCELOS, 2002, p. 46 apud. FERNANDES). Há

uma demanda pela automação dos serviços e até das relações humana com a

finalidade de se obter resultados mais rápidos. Além disso, a necessidade de

dominar as técnicas é associado à possibilidade de se apresentar soluções com a

eficiência exigida pela modernidade. Neste contexto, o que não estiver

apropriado, precisa adequar-se para não ser excluído.

As transformações sociais e econômicas no sistema capitalista trazem

incertezas sobre o futuro da cidadania dentro e fora dos espaços de trabalho. A

procura por técnicos, bens e serviços tem-se alterado com o progresso,

aumentando, ainda, a demanda de trabalhadores em algumas

profissões e reduzindo em outras. A automação e a computação

eletrônica revolucionaram determinados campos de atividades,

oferecendo maiores oportunidades para novas especialidades e

também causando desemprego para mão de obra não qualificada

(VASCONSCELOS, 2002, p.47 apud. SUPER & JUNIOR).

Todas essas modificações já oferecem sinais de modificações na vida das

pessoas, das empresas e do mercado de trabalho.

É na adolescência que os jovens precisam assumir uma postura diante da

sociedade optando por uma carreira a ser seguida. Assim, ele se encontra diante

de uma multiplicidade de profissões, áreas de estudo e cursos, o que o acaba

deixando confuso e em dúvida de que caminho seguir. E, embora haja um

considerável debate sobre o tema “escolha profissional”, ainda persiste uma

grande desinformação sobre as carreiras profissionais por parte dos jovens.

17

Dessa forma, o processo de Orientação Vocacional Ocupacional – O.V.O.

surge como um meio facilitador, que ajuda o jovem a se conhecer melhor como

indivíduo inserido em um contexto social, econômico e cultural, dando-lhe,

conseqüentemente, subsídios para que ele faça a escolha mais adequada.

Levando em consideração a importância e necessidade dos jovens terem

acesso à maior quantidade possível de informações a respeito das profissões

(características, aplicações, requisitos, etc.), é indispensável que o profissional de

O.V. esteja em um processo contínuo de renovação, estando sempre a par das

mudanças efetivadas no mercado de trabalho. Tendo em vista também, sua tarefa

em promover o auto-conhecimento de quem procura seus serviços, é

imprescindível que o profissional de O.V. esteja seguro de sua própria identidade

pois só assim poderá ajudar os adolescentes a fazerem reflexões sobre suas

incertezas.

Assim, longe de ter as respostas para tudo, o orientador tem como objetivo

principal proporcionar um relacionamento humano natural e de livre

movimentação enquanto seu orientando produz idéias e sentimentos que

anteriormente não estiveram integrados em sua personalidade. O orientador, ao

propiciar um ambiente favorável por meio de propostas, encontros individuais e/ou

grupais, produz condições para a integração da identidade profissional à

identidade total do orientando.

(...) a O.V. ajuda o indivíduo a formar-se cidadão em seu sentido mais

pleno, uma vez que ao ajudá-lo a encontrar uma identidade profissional,

auxilia-o a estruturar uma identidade pessoal, favorecendo na

elaboração de um projeto de vida de forma mais responsável e

consciente. Mais do que escolher uma profissão, a O.V. auxilia o jovem

a adaptar-se à vida. (VASCONSCELOS, 2002, p. 49).

Outra dimensão fundamental de O.V. é considerá-la no trabalho do

coordenador frente aos professores. Todo projeto de educação continuada

precisa considerar como ponto de partida o projeto pessoal profissional do

professor em sua perspectiva de ser educador.

18

É importante considerar que o trabalho de O.V. não se faz apenas em

momentos especiais, mas seus objetivos estão tramados às proposta de todo o

projeto político pedagógico.

3. O papel do Coordenador Pedagógico-Educacional

O coordenador pedagógico é o profissional que possui em sua formação a

superação da dicotomia que existia entre orientação educacional e supervisão

escolar. Ele se comunica com a maior parte dos membros participativos da

organização escolar na qual trabalha: pais, alunos, professores, diretores e

demais funcionários. É

o educador que atua nas escolas de educação básica, apoiando e

orientando professores, alunos e pais no planejamento,

desenvolvimento e avaliação do processo de ensino e de

aprendizagem e assessorando a direção quanto a estrutura e o

funcionamento pedagógico da escola (GONÇALVES, 1998, p. 31).

Sendo assim, o coordenador é muito importante para acelerar e aperfeiçoar

a implementação das reformas nas escolas, tarefa que não é fácil, pois os

processos de implantação de mudanças nos diferentes níveis do sistema

acarretam muitas ambigüidades e contradições. Além disso, introduzir mudanças

significa provocar desestabilização naquilo tudo que já é conhecido, causando

transtornos, medos, inseguranças. Mas, é tendo tal atitude que o coordenador irá

contribuir para o aprimoramento da cultura organizacional da escola. Apoiar a

implementação da gestão participativa é um exemplo de aprimoramento da

cultura organizacional, pois modifica profundamente o exercício do poder na

instituição, dando vez e voz a todos que nela atuam. Um outro exemplo é o modo

como o Projeto Político Pedagógico da escola é elaborado.

O Projeto Político Pedagógico é um documento que, em síntese, consta:

A sistematização e o registro das diretrizes que orientam a atuação da

escola (pública), mostrando as convergências e os pontos em comum a

19

que chegaram os vários atores sociais, sobre questões que são

fundamentais para escola: concepção de sociedade, de ser humano, de

educação; a função social da escola (pública), em geral, da unidade

escolar, em particular; a concepção de conhecimento, processo de ensino,

processo de aprendizagem; estrutura e funcionamento da unidade escolar;

etc.

A indicação dos projetos que a equipe escolar considera adequados para

efetivar as diretrizes negociadas.

A previsão dos mecanismos de avaliação de desempenho da instituição e

de seus participantes e de aprendizagem de seus alunos.

Partindo da idéia de que a educação é um processo social no qual

múltiplas forças políticas estão em constante movimento, gerando convergência e

divergências, avanços e recuos, devemos concluir que compreendemos e

analisamos a realidade de diferentes formas, dependendo do lugar social que

cada um de nós ocupa no sistema educacional e na sociedade mais ampla. Pelo

fato da realidade possuir múltiplos lugares sociais e distintos pontos de vista, seria

mais adequado pensarmos em realidades. Assim, quando não conseguimos

fazer com que outra pessoa concorde com nossas idéias, devemos lembrar que o

outro pode estar em um lugar social muito distinto do que nos ocupamos. Ocupar

um lugar social implica em ter interesses, expectativas e modos de provocar

mudanças. A defesa desses interesses depende da integração de todos que

estão inseridos em um mesmo lugar social.

Em razão disso, o Projeto Político Pedagógico está imbuído desse

permanente movimento de embate entre diferentes posições relativas à sua

função social, pois a escola faz parte da realidade social mais ampla e nela se

manifestam as diferentes visões das múltiplas forças políticas que ocupam os

diversos lugares sociais. Pensando nessa realidade, devemos partir do

pressuposto de que o Projeto Político Pedagógico é, ao mesmo tempo, um

movimento e um documento.

É movimento porque reflete a situação da escola (pública) em determinado

momento de sua história, constituindo-se em um espaço de acordos, resultantes

de complexas negociações, entre educadores docentes e não docentes, alunos,

20

comunidade próxima da escola e os órgãos de supervisão e de gestão do sistema

público de educação, todos inseridos em uma realidade muito mais ampla. Esses

acordos não podem ser considerados imutáveis, pois fazem parte de um processo

contínuo e permanente de tomada de decisões diante de uma realidade em

constante mudança.

É documento porque registra as decisões dos educadores da escola em

uma determinada fase do movimento apresentado acima. Sua elaboração é uma

obrigação legal prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a

elaboração do Projeto Político Pedagógico é uma incumbência das escolas. Ela

deve ser coletiva e o documento deve ser reconhecido pela comunidade, assim

como sua execução deve ser acompanhada por ela. Por isso o Projeto Político

Pedagógico deve ser escrito numa linguagem acessível a todos que não tenham

formação pedagógica sistemática, para que possa comunicar com clareza as

decisões da equipe escolar.

Quando pensamos em elaborar o Projeto Político Pedagógico de uma

escola, temos o ideal de que esta seja uma escola cidadã, descrita por Paulo

Freire como

uma escola que viabiliza a cidadania de quem está nela e de quem

vem a ela. É uma escola que, brigando para ser ela mesma, viabiliza

ou luta para que os educandos e educadores também sejam eles

mesmos e, como ninguém pode ser só, a escola cidadã é uma

escola de comunidade, de companheirismo. (em entrevista

concedida à TVE-Rio, em 17 de abril de 1997)

Trata-se de uma cidadania ativo-crítica, ou seja, o cidadão, além de ser

alguém que exerce direitos, cumpre deveres ou goza de liberdade em relação ao

Estado, é também titular, ainda que parcialmente, de uma função ou poder

público. Por isso, quando se fala em planejamento em uma escola cidadã, essa

questão está associada à questão da Gestão Democrática (do Ensino Público).

21

Depois de uma pesquisa sobre a Gestão Democrática do Ensino Público, a

pedido do Conselho Nacional de Educação, em 1987, o Instituto Paulo Freire

levantou alguns parâmetros da gestão democrática do ensino público:

Capacitar todos os segmentos;

Consultar a comunidade escolar;

Institucionalizar a gestão democrática;

Lisura nos processos de definição de gestão;

Agilização das informações e transparência nas negociações.

Além dos parâmetros citados acima, outros aspectos estão diretamente

ligados à organização do trabalho na escola na perspectiva da escola cidadã,

como a questão da autonomia.

A autonomia, na escola cidadã, pressupõe a alteridade, a

participação, a liberdade de expressão, o trabalho coletivo na sala de

aula, na sala de professores, na escola e fora dela. A educação

enquanto processo de conscientização (desalienação) tem tudo a ver

com a própria autonomia e, como esta se fundamenta no pluralismo

político-pedagógico, garante a mudança possível no próprio sistema

educacional e nos próprios elementos que o integram. (PADILHA,

2001, p. 65)

A partir dessa perspectiva, na escola cidadã é realizado o planejamento

dialógico.

O planejamento dialógico é uma nova metodologia de planejamento para a

construção do projeto Político Pedagógico da escola. É uma nova maneira de se

planejar a própria educação, estabelecendo alguns princípios para o

planejamento em nível escolar que podem servir aos diferentes níveis de

planificação educacional. Sua metodologia de trabalho prevê a participação de

todos os segmentos escolares no planejamento e permite, por seu caráter

ascendente, que as decisões coletivas tenham reflexos no nível imediatamente

“superior” de planejamento educacional.

22

Esse planejamento parte da escola, pois é ali que ocorre a formação da

cidadania ativa e se iniciam as transformações na educação. O planejamento é

socializado, pois o processo de decisão é possibilitado a todos, com um caráter

ascendente, num movimento dialético-interativo e comunicativo, sem hierarquias

burocráticas.

As condições para que as consolidações possam ocorrer nos diversos

níveis de planificação educacional fazem parte de um processo que deve ser

construído a partir da constituição de conselhos intermediários em cada nível.

Cada Conselho de um determinado nível “superior” será formado por

representantes dos níveis imediatamente “inferiores”.

No planejamento dialógico, atribui-se a cada segmento escolar

responsabilidades específicas, mas integradas entre si, que possibilitam o efetivo

exercício da cidadania ativa. Além disso, esse planejamento não dicotomiza a

dimensão pedagógica da dimensão administrativa, nem subordina uma à outra.

O coordenador, dessa forma, é liderança dentro da escola e, considerando

o fato de esta estar inserida em um contexto muito mais amplo, é necessário que

o coordenador vá além dos conteúdos específicos do currículo, precisando tratar

de questões que requerem um trabalho inter e transdisciplinar de formação e

ação educativa, como por exemplo, a ética.

Partindo do pressuposto que a escola é uma organização social

formalmente criada para educar o homem, os projetos elaborados e

desenvolvidos pelo coordenador, para todos os integrantes da escola, devem

aprofundar a relação entre conhecimentos e valores. A ética insere-se, assim, no

processo educacional de desenvolvimento do ser humano, como tema atual e

urgente, por ser substância da condição humana e política. Ela vem como uma

resposta dos estudos pedagógicos aos apelos da sociedade atual, onde

violências urbanas e ideológicas estão cada vez mais acentuadas.

Reflexões dessa natureza estimulam a pedagogia e a educação no sentido

de aprofundarem estudos e práticas, na perspectiva das possíveis contribuições à

redução da violência. Ou seja, apesar da educação não poder “consertar” os

problemas sociais, ela pode ampliar os debates sobre o que a formação educativa

pode fazer “por um mundo melhor”. Quando se discute essa expressão, tão

23

presente no senso comum, chega-se ao tema da consciência de limites éticos,

que definem valores e parâmetros de condutas. Os limites sobre os quais se

propõe a educação constituem referências sociais necessárias aos indivíduos da

sociedade. Assim, os limites podem ser associados à liberdade, que se exerce de

modo responsável e consciente, permitindo e promovendo relações sadias entre

interesses pessoais e coletivos, os articulando e aproximando. Nessa mesma

perspectiva do agir responsável, compreende-se que os limites também se

definem em oposição às arbitrariedades e ao autoritarismo. Eles auxiliam o

reconhecimento da autoridade legítima, que se exerce pelo pessoal, e contrapõe-

se ao autoritarismo, que o oprime e destrói.

A importância dos limites corresponde à importância de critérios de justiça,

ética, equidade, dignidade humana; é a importância do “viver com”, de criar laços

que fortaleçam os valores da cidadania e estabelecer critérios e princípios de

construção, preservação e realização desses valores. Tudo isso sugere observar

os limites no contexto das relações na escola, seus setores e serviços. Relações

entre coordenadores, professores, alunos, funcionários, envolvendo, também, as

relações entre a escola e as famílias, a escola e a comunidade. E, os limites que

conduzem relações na escola devem pautar-se, essencialmente, pela

qualificação, consideração, respeito, parceria, colaboração, com o intuito de

evitar, no ambiente escolar, os mesmos processos de exclusão existentes na

sociedade.

O coordenador pedagógico pode, então, incentivar a execução de estudos

e projetos para a educação de limites, em especial os limites éticos. Refletir e

orientar sobre o que são, sua importância, sua presença na escola, na família, na

sociedade e suas expressões em forma de código de ética, o qual é construído

pelo e para o coletivo, pois a própria formulação do código é momento de

envolver as pessoas em reflexões e definições do que se faz e do que se pode

fazer para o aprimoramento da convivência.

Muito relacionado ao estudo sobre limites éticos é o estudo sobre a família

e a sexualidade.

Segundo Szymanski (2007), o ponto de partida para a realização de um

trabalho com famílias deve ser o de considerar essa instituição como construção

24

social e histórica, cuja missão socializadora lhes foi imposta pelas sociedades nas

quais estão inseridas. (p. 18). Szymanski nos diz isso com o objetivo de

transcender o mito de que a família possui uma capacidade “natural” de educar os

filhos.

Levando em consideração o que foi dito acima e o fato de o coordenador

trabalhar diretamente com os pais ou responsáveis dos alunos, ele deve ter em

mente dois conceitos fundamentais que permearão seu trabalho: o conceito de

família pensada e de família vivida.

Família pensada é aquela considerada ideal. Em nossa sociedade ela seria

formada pelo pai, a mãe e os filhos. E, a família vivida, refere-se aos modos de

agir habituais dos membros de uma família. É a que aparece no agir concreto do

cotidiano e que poderá ou não estar de acordo com a família pensada.

(SZYMANSKI, 2007, p. 62). Esses dois conceitos são de extrema importância

para que o coordenador não tenha preconceitos ao se deparar com situações

delicadas ao atender famílias de alunos.

A sexualidade precisa ser tema de estudo na formação do professor. Todos

devem compreender e considerá-lo um fenômeno da condição humana, para

evitar intervenções inadequadas do professor e demais educadores.

O coordenador deve ter em mente que a sexualidade é um fenômeno que

tem origens biológica, social e cultural. Sua concepção muda com o tempo e se

manifesta desde a infância. Dessa forma, o coordenador deve estudar sobre o

tema, estimulando um debate coletivo que vise a construção de uma

compreensão comum, para que cada professor possa responder aos problemas

de sua sala, tendo o suporte do coordenador sempre que necessário.

Concluindo, o coordenador pedagógico é liderança dentro da escola, o

profissional que se comunica com a maior parte dos membros participativos da

organização escolar na qual trabalha. Dessa forma, sua função vai muito além de

articular o currículo escolar, precisando tratar de questões de formação e ação

educativa, junto com professores, alunos e famílias.

4. Avaliação

25

Pretendo, nas próximas linhas, relatar um pouco da minha experiência

como aluna do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC-SP), principalmente no que se refere às aprendizagens sobre a

prática da avaliação.

Scriven (apud SOUZA, 1998, p. 162) apresentou em 1963/7 o conceito de

avaliação somativa e formativa.

(...) que teve um grande impacto, principalmente entre avaliadores

brasileiros, por volta da década de 70. Passou-se a compreender

então que a avaliação deveria ser não somente somativa, isto é,

voltada para a análise de resultados terminais que subsidiasse

decisões do tipo sim/não, passa/não passa, mas também formativa,

com o objetivo de permitir subsidiar ações de intervenção quando um

curso estivesse ainda em desenvolvimento. (SOUZA, 1998, p. 163)

Ou seja, ao mesmo tempo em que os resultados de provas eram

analisados para decidir o “futuro” de um aluno (passar ou não de ano), por

exemplo, também possibilitavam intervenções que pudessem ajudá-lo durante o

processo de aprendizagem. Foi com esta concepção de avaliação que entrei na

faculdade: apesar de o professor estar sempre disponível em sala de aula para

nos ajudar, todo o nosso processo educativo seria resumido às notas do boletim.

No segundo ano de faculdade comecei a compreender o objetivo da prática

avaliativa e sua necessidade no contexto escolar, não só para auxiliar o professor

no seu modo de agir com os alunos, mas também para ajudá-lo a conduzir sua

prática e seus métodos de ensino. Estudar a avaliação é entrar na análise de toda

a pedagogia que se pratica (SACRISTÁN, 1998, p. 295).

A avaliação é uma prática cultural socialmente determinada, e seus

processos se constituem por meio dos valores da cultura onde estão inseridos.

Dessa forma, a escola, ao definir o que, por que e como avaliar já nos transmite a

idéia de Homem que quer formar e as funções sociais atribuídas a ele.

26

As formas de conceber e praticar a avaliação têm a ver com: a

evolução das funções que a instituição educativa cumpre na

sociedade e no mercado de trabalho; as posições que se adotem

sobre a validade do conhecimento que se transmite; as concepções

que se tenham da natureza dos alunos/as e da aprendizagem; a

estruturação do sistema escolar, já que serve à sua organização; a

despersonalização da relação pedagógica provocada pela

massificação, que leva a uma perda de conhecimento direto entre

professores/as e alunos/as; a forma de entender a autoridade e a

manutenção da disciplina e a emulação dos alunos/as nas escolas e

nas ruas. (SACRISTÁN, 1998, p. 298)

Partindo do pressuposto de que avaliar envolve o processo de

autoconhecimento do aluno e do professor e de conhecimento da realidade e da

relação dos sujeitos com essa realidade, é necessário que haja uma re-

elaboração dos espaços em que se desenvolvem formalmente os processos de

avaliação, transformando-os em espaços educativos para todos os que dele

participam.

Fullan (apud. SAMIA, 2006), defende o movimento de transformação que

tem ocorrido nas escolas, denominado de “pensamento de grupo”. Essa nova

atitude pressupõe conversas freqüentes entre os professores sobre a prática de

ensino e a criação de uma linguagem comum. Segundo Samia,

esta é uma questão complexa, pois envolve uma mudança pessoal

por parte dos professores, uma vez que é preciso sair do isolamento

e aventurar-se para a experiência coletiva, e uma mudança também

para as instituições, visto que é preciso rever padrões e reorganizar

rotinas previamente estabelecidas a fim de se conquistar esse

ambiente coletivo. (2006)

Toda essa mudança, muitas vezes, parte dos próprios professores, pois

buscam uma qualidade melhor nas suas relações profissionais. Para que essa

27

mudança seja colocada em prática, é necessário que se faça uma avaliação da

organização educativa, principalmente no que se refere ao clima institucional

desta, pois ele interfere na produtividade do trabalho da escola.

São os atores no interior de um sistema que fazem da organização

aquilo que ela é. Por isso, é importante compreender a percepção

que este têm da sua atmosfera de trabalho, a fim de se conhecerem

os aspectos que influenciam o seu rendimento. (BRUNET, apud.

Nóvoa, 1992, p. 19)

Rosenholtz (apud. Samia, 2006) diz que escolas em movimento ou

enriquecidas em termos de aprendizagem, são escolas em que predominam a

cultura da cooperação.

Nessas escolas, as relações de poder são mais horizontais, ao

menos no que se refere à tomada de decisões, que deixam de ter

uma conotação de imposição e passam a ser consideradas como

ajustes necessários ao desenvolvimento do trabalho coletivo. Dessa

forma, o professor passa a ter uma visão mais ampla da escola e das

questões que extrapolam os limites da sala de aula. Isso envolve a

ampliação e a valorização do processo de liderança compartilhada,

em que as questões da instituição são discutidas e analisadas

coletivamente, em que os professores passam a participar das

decisões e das reflexões que orientam os "caminhos" da instituição.

Essa atitude não significa uma ameaça aos diferentes papéis

desempenhados pelas pessoas, mas uma redefinição do modo como

as decisões são tomadas e os problemas são resolvidos. (SAMIA,

2006)

Acredito que a partir do momento em que uma escola instaura uma cultura

mais democrática que propicia o aprendizado dos professores, ela se movimenta

para enfrentar mudanças também em suas práticas pedagógicas, principalmente

28

no que diz respeito à sua concepção de avaliação. Uma escola que possui uma

cultura cooperativa tem uma concepção de avaliação que

(...) traz à tona o valor dos aspectos globais do processo de ensino e

aprendizagem, o valor da forma de intervenção do professor na sala

de aula, do projeto curricular da escola, da organização do trabalho

escolar e da formação das identidades pessoais. (DALBEN, 2002,

p.24)

Essa concepção de avaliação é contrária à de avaliação somativa tão

presente em nossa realidade educacional. Essa mudança é possível, mas não

se tornará real se antes não houver modificações no campo da ética e dos

valores socialmente construídos e exigindo, na verdade, mudanças de padrões

culturais.

29

B. Subsídios teóricos para tratar o tema/problema 1. As contribuições da obra Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire (1997)

Segundo Paulo Freire:

uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o

mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no

mundo, conhecer o mundo. Mas, histórico como nós, o nosso

conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o

conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e

se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão

fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que

estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não

existente. (p.28).

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Enquanto ensina, o

professor busca respostas para suas perguntas e curiosidades. Curiosidades

estas que devem ser, para Paulo Freire, epistemológicas: superação da

curiosidade ingênua, a partir do momento em que há uma aproximação metódica

rigorosa e critica em relação ao objeto cognoscível. Não haveria criatividade sem

a curiosidade que nos move que nos põe pacientemente impacientes diante do

mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. (p. 32). Essa

promoção da ingenuidade à criticidade não pode e nem deve ser feita sem uma

rigorosa formação ética ao lado da estética. Decência e boniteza de mãos dadas

(p. 32).

Partindo destes conceitos, é necessário que o coordenador esteja sempre

apoiando as curiosidades dos educadores para que estes possam fazer o mesmo

com seus alunos. Se o coordenador inibe a curiosidade do educador, acaba

inibindo a sua própria curiosidade. Nenhuma curiosidade se sustenta eticamente

no exercício da negação da outra curiosidade. (...) A curiosidade que silencia a

outra se nega a si mesma. (p. 85). O coordenador deve ter claro que sem a

30

curiosidade que move, que inquieta, que insere o professor na busca, ele não

aprende e não ensina.

O exercício da curiosidade a faz mais criticamente curiosa, mais

metodicamente ‘perseguidora’ do seu objeto. Quanto mais a

curiosidade espontânea se intensifica, mas, sobretudo, se “rigoriza”,

tanto mais epistemológica ela vai se tornando. (p. 87).

Para transformar curiosidades ingênuas, associadas ao saber do senso

comum, em curiosidades epistemológicas os educadores devem ser incentivados,

pelo coordenador, a pesquisar, estudar teorias que possam ajudar, dar suporte a

sua prática docente. Prática esta que deve envolver o movimento dialético entre o

fazer e o pensar sobre o fazer, teoria e prática. Por isso é tão necessário à

formação de professores a reflexão crítica sobre a prática. É pensando

criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima

prática. (p. 39).

O coordenador precisa ter em mente que ao citar e refletir junto com os

professores as diferentes teorias que devem ser levadas em consideração por

estes ao atuarem em sala de aula, também devem ser levadas em consideração

pelo coordenador ao lidar com os professores no dia-a-dia. O discurso do

coordenador sobre a teoria, deve ser o exemplo concreto, prático, da teoria (p.

48), ou seja, é contraditório defender um clima democrático dentro da escola por

caminhos autoritários. O meu discurso tem de estar relacionado com minha

prática e vice-versa. A vigilância do meu bom senso tem uma importância enorme

na avaliação que, a todo instante, devo fazer de minha prática (p. 61). É o meu

bom senso que me ajuda a guiar minha prática profissional, a minha autoridade.

Seja como coordenador seja como professor.

O exercício do bom senso, com o qual só temos o que ganhar, se faz

no ‘corpo’ da curiosidade. Neste sentido, quanto mais pomos em

prática de forma metódica a nossa capacidade de indagar, de

comparar, de duvidar , de aferir, tanto mais eficazmente curiosos nos

31

podemos tornar e mais críticos se pode fazer nosso bom senso. (p.

62).

O coordenador que sabe que deve respeito à autonomia, à dignidade e à

identidade do professor e, na prática, procura a coerência com este saber, cria

algumas virtudes ou qualidades sem as quais aquele saber vira inautêntico,

palavreado vazio e inoperante. Essas qualidades ou virtudes são construídas pelo

coordenador no esforço de diminuir a distância entre o que diz e o que faz. Este

esforço já é uma dessas virtudes indispensáveis: a da coerência.

Para que a autoridade do coordenador seja colocada em prática de forma

correta e coerente, ele deve saber lidar com a relação autoridade-liberdade,

sempre tensa e que pode gerar disciplina ou indisciplina. Assim como deve saber

a diferença entre autoridade e autoritarismo e licença e liberdade.

Resultando da harmonia ou do equilíbrio entre autoridade e

liberdade, a disciplina implica necessariamente o respeito de uma

pela outra, expresso na assunção que ambas fazem de limites que

não podem ser transgredidos.

O autoritarismo e a licenciosidade são rupturas do equilíbrio tenso

entre autoridade e liberdade. O autoritarismo é a ruptura em favor da

autoridade contra a liberdade e a licenciosidade, a ruptura em favor

da liberdade contra a autoridade. Autoritarismo e licenciosidade são

formas indisciplinadas de comportamento (...)

Assim como inexiste disciplina no autoritarismo ou na licenciosidade,

desaparece em ambos, a rigor, autoridade ou liberdade. Somente

nas práticas em que autoridade e liberdade se afirmam e se

preservam enquanto elas mesmas, portanto no respeito mútuo, é que

se pode falar de práticas disciplinadas como também em práticas

favoráveis à vocação para o ser mais. (p. 88 e 89).

O coordenador precisa mover-se com clareza na sua prática. Precisa

conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essência da prática, o que

o torna mais seguro no seu desempenho. Sua segurança irá expressar-se na

32

firmeza com que atua, com que decide, com que respeita as liberdades, com que

discute suas próprias posições, com que aceita rever-se. Seguro de si e de sua

autoridade, o coordenador não precisa, a todo instante, fazer o discurso sobre sua

existência. Essa segurança se funda em uma outra: sua competência profissional.

Nenhuma autoridade se exerce ausente desta competência. O coordenador que

não leva a sério sua formação, que não estuda, que não se esforça para estar à

altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades dos

professores. Ou seja, a incompetência profissional desqualifica a autoridade do

coordenador.

Outra qualidade necessária à prática do coordenador como autoridade em

suas relações com as liberdades é a generosidade.

Não há nada que mais inferiorize a tarefa formadora da autoridade

do que a mesquinhez com que se comporte. (...) O clima de respeito

que nasce de relações justas, sérias e humildes em que a autoridade

do coordenador e as liberdades dos professores se assumem

eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico. (p.

92).

A autoridade coerentemente democrática, fundando-se na importância quer

de si mesma, quer da liberdade dos professores para a construção de um clima

de real disciplina, não pode minimizar a liberdade, mas sim apostar nela. Um

esforço sempre presente à prática da autoridade coerentemente democrática é o

de persuadir ou de convencer a liberdade de que vá construindo consigo mesma,

em si mesma, a sua autonomia. No fundo, o essencial nas relações entre

educador e educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, mães, filhos e

filhas é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia. (p. 94).

A autoridade coerentemente democrática que reconhece a eticidade do

homem no mundo reconhece que não se vive a eticidade sem liberdade e não se

tem liberdade sem risco. O professor que exercita sua liberdade ficará tão mais

livre quanto mais eticamente vá assumindo a responsabilidade de suas ações.

Decidir é romper e para isso é preciso correr o risco. (p. 93). Ninguém é autônomo

33

primeiro para depois decidir. A autonomia vai se constituindo na experiência de

várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas.

Faz parte do aprendizado da decisão a assunção das conseqüências

do ato de decidir. Não há decisão a que não se sigam efeitos

esperados, pouco esperados ou inesperados. Por isso é que a

decisão é um processo responsável. (p. 106).

(...) A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo,

é vir a ser. (...) É nesse sentido que uma pedagogia da autonomia

tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e

da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da

liberdade. (p. 107).

O coordenador não pode exercer seu papel sem se pôr diante dos

professores, sem revelar sua maneira de ser e de pensar. E a maneira como os

professores percebem o coordenador aumenta nele os cuidados com o seu

desempenho. Dessa forma que uma de suas preocupações centrais deva ser a

de procurar uma aproximação cada vez maior entre o que ele diz e o que faz,

entre o que parece ser e realmente está sendo.

A percepção que os professores tem do coordenador não resulta

exclusivamente em como o coordenador atua, mas também de como os

professores entendem que ele atua. Por isso é preciso estar atento à leitura que

fazem da atividade do coordenador como, por exemplo, compreender a

significação de um silêncio ou de um sorriso na reunião pedagógica.

Além disso, o coordenador deve saber escutar o que os professores têm a

dizer e vice-versa. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala

com ele, mesmo que, em certas condições, precise de falar a ele. O que jamais

faz quem aprende a escutar para falar com é falar impositivamente. (p. 113).

Escutar (...) significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito

que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às

diferenças do outro. Isto não quer dizer, evidentemente, que escutar

34

exija de quem realmente escuta sua redução ao outro que fala. Isto

não seria escuta, mas auto-anulação. A verdadeira escuta não diminui

em mim, em nada a capacidade de exercer o direito de discordar, de

me opor, de me posicionar. Pelo contrário, é escutando bem que me

preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista

das idéias. (p. 120).

2. Formação continuada do professor

No que diz respeito à formação dos professores, uma das preocupações do

coordenador é a construção da equipe docente. Para que esse objetivo seja

atingido se faz necessário o enriquecimento das capacidades profissionais dos

professores.

Trata-se de uma função particularmente delicada que deve

primeiramente partir de uma análise atenta do contexto em que

deverá exercer-se, prestando, em cada caso, muita atenção para

saber distinguir entre as exigências individuais dos professores e as

exigências gerais da organização escolar. (GHILARDI e

SPALLAROSSA, 1991, p. 129)

O coordenador deve ter consciência das dinâmicas que caracterizam, na

própria escola, o setor de atualização profissional dos professores. Segundo

Ghilardi e Spallarossa, uma primeira iniciativa a tomar poderia ser

um sistemático reconhecimento de vasta ação sobre as

oportunidades formativas propostas pelos diversos organismos

distritais (delegações escolares, entidades locais, associações de

categorias, etc.) (GHILARDI e SPALLAROSSA, 1991, p. 131)

O resultado desse levantamento poderá servir para distinguir as propostas

de atualização consideradas mais próximas das exigências específicas da escola

e sobre quais orientar, tanto quanto possível, a participação dos professores.

35

A atualização em serviço, entendida como resposta às exigências que são

de natureza individual, não esgota as intervenções possíveis, que tendem a

desenvolver as capacidades profissionais dos professores.

A estratégia melhor neste sentido, nem sempre facilmente realizável,

mas a ter, em todo o caso, presente, é aquela tendente a “integrar”

as motivações individuais nas exigências específicas da escola.

Trata-se, por outros termos, de procurar conjugar os estímulos dos

professores com as exigências de uma estratégia precisa que

preveja contextualmente tanto a inovação educativa a nível de cada

escola (...), como o desenvolvimento das capacidades profissionais

do seu grupo docente. (GHILARDI e SPALLAROSSA, 1991, p. 132).

Não existem processos que garantam o sucesso desse tipo de abordagem,

devido às inevitáveis situações de conflito potencial entre as necessidades do

indivíduo e as da organização. Mas possuir uma comunicação clara entre os

membros da equipe, a definição clara dos objetivos e a avaliação das

intervenções, já é meio caminho andado para que mudanças aconteçam.

Entre os instrumentos que permitem ao coordenador estimular o

enriquecimento da bagagem profissional dos professores, e oferecer boas

oportunidades com este fim, destaca-se a delegação de funções. Para evitar mal-

entendidos, é necessário conhecer a natureza e extensão da delegação.

Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que, qualquer que seja o tipo de

delegação atribuída a um membro do grupo docente, a responsabilidade das

ações é sempre do dirigente. Ou seja, pode-se delegar a autoridade, mas não a

responsabilidade. Em segundo lugar, observa-se que a delegação de funções

deve ser sempre definida em todos os seus aspectos.

A pessoa chamada a exercer uma certa função deve conhecer-lhe

exatamente as características e o nível de autonomia das prestações

exigidas, a amplitude da autoridade que lhe é atribuída, as eventuais

delimitações de ordem temporal e se existem, ao menos, indicações

36

ou diretrizes de ordem geral dentro das quais irá exercer a função

pedida. (GHILARDI e SPALLAROSSA, 1991, p. 136)

Por fim, deve-se prestar particular atenção aos conteúdos que serão

delegados. O coordenador não pode delegar uma ou mais funções que são de

sua restrita competência, como por exemplo, as relações com as autoridades

internas ou externas à escola, os graves problemas de disciplina, as intervenções

para melhoria do clima escolar, etc.

Outra questão que deve ser colocada em pauta quando discutimos a

formação continuada dos professores diz respeito ao mundo atual e suas

mudanças científicas e tecnológicas.

De acordo com Naura Ferreira (2003):

A “formação continuada” é uma realidade no panorama educacional

brasileiro e mundial, não só como uma exigência que se faz devido

aos avanços da ciência e da tecnologia que se processaram nas

últimas décadas, mas como uma nova categoria que passou a existir

no “mercado” da formação contínua e que, por isso, necessita ser

repensada cotidianamente no sentido de melhor atender à legítima e

digna formação humana. (p. 19 e 20)

(...)

A “formação continuada” hoje precisa ser entendida como um

mecanismo de permanente capacitação reflexiva de todos os seres

humanos às múltiplas exigências/desafios que a ciência, a tecnologia

e o mundo do (não) trabalho colocam. (p. 20)

Ou seja, a nova realidade exige qualificações cada vez mais elevadas para

qualquer área profissional, tornando as necessidades educacionais das

populações cada vez maiores e, por esse motivo, a formação continuada uma

exigência. Quem não acompanha as mudanças científicas e tecnológicas não

está habilitado para o trabalho e para a vida em sociedade (para a vida do “não-

trabalho”).

37

Uma das grandes conseqüências dessas transformações foi o impacto que

a Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC) proporcionou a toda a

humanidade. Atualmente todos vivem, sentem e pensam de modo acelerado, o

que torna difícil sabermos quais informações, dentre as inúmeras que recebemos

todos os dias, são relevantes ou não. As TIC avançaram mais rapidamente do

que a própria informação.

Nesse contexto de tantas transformações econômicas, sociais, políticas e

culturais, uma formação continuada de qualidade para um novo cidadão do

mundo faz-se necessária. E esta

deverá se constituir de todos os elementos e recursos que permitam

ao novo cidadão ter possibilidade de trânsito entre as culturas dos

diferentes povos, com a compreensão democrática de respeito a

todas as diferenças e com a permanente possibilidade de acesso aos

recursos necessários a essa formação. Acresça-se que faz-se

necessário que este estatuto teórico assente-se em uma nova “ética

mundial”, alicerçada na solidariedade e na justiça social, no respeito

às diferenças e direitos de todos; portanto uma formação continuada

que possua outras finalidades. (FERREIRA, 2003, p. 28).

O futuro cidadão do mundo se define por novas exigências do mundo do

(não) trabalho, marcado pela força de trabalho, profissão e remuneração,

emprego e desemprego que ocorrem em escala mundial, a nova sociedade civil

mundial com toda sua complexidade, histórica e lógica, à qual se submetem,

praticamente, todas as outras realidades. (FERREIRA, 2003, p. 30).

3. A Reunião Pedagógica

Para que a formação continuada dos professores possa ser ainda mais

produtiva dentro da escola, é necessário que esta dê espaço e tempo para

encontros entre a equipe docente por meio das reuniões pedagógicas. As

reuniões constituem um instrumento da organização que favorece o processo de

38

decisão com a apresentação de contributos e capacidades diversas. (GHILARDI e

SPALLAROSSA, 1991, p. 121).

Esse espaço dentro da escola é importante a partir do momento em que dá

oportunidade de os professores trocarem experiências com os colegas,

aprofundarem conhecimentos relativos ao processo de ensino e avaliarem sua

prática.

O primeiro objetivo do coordenador será o de fazer com que as reuniões

exprimam o máximo de produtividade e eficácia. Para conseguir isto é necessário

que ele leve em consideração os seguintes aspectos, de acordo com Ghilardi e

Spallarossa (1991):

As características do local e a disposição do mobiliário influem nos

processos de interação entre as pessoas (p. 121). Deve-se evitar, ao

máximo que em uma reunião prevaleça o aspecto da comunicação

unidirecional entre o líder e o grupo. É oportuno que ela tenha lugar num

ambiente confortável e que assegure, também, com a disposição dos

lugares, o máximo da participação. Ou seja, é bem melhor dispor as

cadeiras em círculo, por exemplo, do que gerar situações do tipo auditório

ou aula, em que numa parte está o público e na outra o palestrante ou

professor.

A ordem do dia deverá ser atentamente elaborada com base no tempo

disponível (p. 122). Ao planejar uma reunião, devem-se levar em

consideração as questões que serão colocadas na pauta e o tempo

disponível para a discussão de cada uma delas. Ou seja, para os

problemas mais importantes é necessário um tempo maior, para que

possam ser analisados a fundo e para consentir a cada membro do grupo a

participação responsável e produtiva no processo decisório.

As modalidades de condução da reunião exercem uma influência

considerável nas dinâmicas de grupo e nos resultados obtidos (p. 122). É

preciso selecionar com cuidado as estratégias de condução da reunião,

39

pensando-se nas características e nos próprios fins da reunião. Se o

objetivo do encontro for de natureza informativa, por exemplo, a adoção de

um modelo unidirecional poderá ser mais eficaz.

A produtividade e o sucesso de uma reunião estão estreitamente ligados

ao tempo empregue na sua preparação (p. 122). Cada ponto que será

discutido na reunião deve ser focado adequadamente, especificando os

objetivos e preparando, para cada um, uma organização de apresentação

e condução do debate.

A produtividade e o sucesso de uma reunião dependem, em larga medida,

também do fato de os participantes serem conhecedores de sua utilidade e

da sua importância (p. 122). O coordenador deve saber evidenciar quais

são os objetivos de cada reunião, caso contrário, as reuniões tornam-se

pura rotina, tornando-as, conseqüentemente, improdutivas.

As conclusões de uma reunião devem oportunamente ser entregues a

todos os participantes (p. 123). Uma opção é a escrita de atas pelos

membros do grupo. A leitura da ata da reunião anterior deixa todos a par

das decisões tomadas.

A qualidade das reuniões tende a melhorar se quem nelas tomar parte as

considerar realmente produtivas (p. 123). A este propósito, proceder a

inquéritos pode ser uma boa opção. A distribuição de questionários de

questionários para recolher dos participantes suas críticas, sugestões e

observações sobre as reuniões. Isso pode ajudar na organização da pauta

e do tempo das futuras reuniões.

Entre os principais fatores que evidenciam a importância das reuniões

pedagógicas estão: a oportunidade para formação pessoal e profissional; espaço

e autoria e compreensão da própria experiência; oportunidade para a construção

40

do projeto da escola; e espaço de comunicação efetiva entre professores, o que

requer tempo e metodologia para reflexão.

A organização do tempo e da rotina de reflexão demanda por parte dos

professores e coordenadores o desenvolvimento de habilidades e metodologias

que garantam uma crescente comunicação, manifestando dúvidas, dificuldades,

problemas, bem como acertos e descobertas.

A conquista de um clima de confiança para discussão de acertos e erros

deve ser enriquecida com a possibilidade de registro dos saberes elaborados por

diferentes grupos de educadores, em diferentes espaços educacionais.

Duas metodologias interessantes para estas conquistas foram

implementadas por instituições formadoras. Bruno e Christov (2008) destacam

duas referências.

A primeira diz respeito à metodologia identificada por “homologia dos

processos”, segundo a qual recomenda-se que o formador ou o

coordenador pedagógico utilize, nos encontros de reflexão com os

professores, as mesmas dinâmicas e os mesmos objetivos que

deveriam ser trabalhados com os alunos. Por exemplo, se o projeto

pedagógico de certa escola postula avaliação constante por meio de

diferentes instrumentos para os alunos, o coordenador poderia

utilizar esse princípio de avaliação para os professores nas reuniões

pedagógicas. (p. 60).

Na instituição Espaço Pedagógico, coordenada por Madalena Freire e

equipe, a metodologia utilizada para análise e sistematização dos saberes

elaborados sobre a prática docente fundamenta-se em uma reflexão

problematizadora sobre a prática a partir de observações do real e de registros

sistematizados dessas observações.

Observar a prática, registrando percepções, problemas, avanços,

dúvidas e dificuldades pode ampliar a habilidade de leitura reflexiva

sobre o real e favorecer a autonomia compreensiva e de intervenção

41

do sujeito que observa e escreve sobre seu fazer pedagógico. (p.

61).

Associada à primeira metodologia, “homologia dos processos”, a reflexão

por meio de observação e registro constitui-se em oportunidade de construção de

saber sobre a docência e pode nortear a prática do coordenador junto aos

professores, ajudando estes a desenvolver habilidades de leitura reflexiva acerca

da própria experiência e do projeto pedagógico da escola.

Ao coordenador seria vantajosa a pesquisa sobre dinâmicas para

observações, registros e objetivos: tais como desenvolvimento de expressão

corporal e oral, desenvolvimento de criatividade e de percepção de si e do outro.

A transformação das reuniões que acontecem na escola em espaços

de reflexão e produção de saberes sobre a docência exige uma

metodologia proposta e dirigida pelo coordenador pedagógico, cuja

liderança é essencial para que tais reuniões não assumam a

condição de Horário de Trabalho Perdido. Liderança é algo que

abarca, inclusive, características pessoais, já presentes na

identidade/subjetividade do coordenador, antes mesmo de ele

assumir essa função. Mas, se entendemos que identidade e

subjetividade apresentam a possibilidade de movimento,

transformando-se e recriando-se, podemos afirmar que a liderança

do coordenador é, também, algo que se constrói com a experiência,

aliando-se desejo de liderar e reflexão sobre o modo de ser

coordenador. (BRUNO e CHRISTOV, 2008, p. 61).

42

III. Metodologia

A natureza deste trabalho possui um caráter teórico-prático. Teoricamente

até aqui realizei um estudo centrado no levantamento bibliográfico, fundamental

para explicitar concepções de ordem geral e os subsídios para tratar o tema em

questão. Do ponto de vista prático, caminha-se em relação à construção de uma

proposta de ação. Para tanto, dois âmbitos de dados serão trazidos e analisados

no próximo capítulo:

1. Observações e tentativas de análise de documentos para realizar a

análise/avaliação do contexto institucional da organização educativa que

deu origem ao tema/problema.

2. Depoimentos solicitados a quatro professoras (vide anexo I), que tem o

sentido de um estudo exploratório.

Para que os depoimentos contemplassem aspectos que ajudariam no

desenvolvimento do meu trabalho, junto à minha carta de apresentação, pedi às

professoras que considerassem alguns eixos relacionados ao meu tema/problema

– autonomia em sala de aula e contribuições do coordenador no trabalho do

professor – e ao meu objetivo de explorar possibilidades que possam auxiliar o

relacionamento profissional entre coordenador e professor, tendo em vista as

diferentes funções do coordenador dentro da escola – organização/elaboração

das Reuniões Pedagógicas e atendimento individual de professores.

As professoras estavam livres para escrever do modo como quisessem.

Podiam trazer aspectos que não haviam sido pedidos e até mesmo não escrever

sobre todos os eixos.

Queria que as professoras se sentissem seguras na escrita dos

depoimentos, utilizando-os como um meio de reflexão sobre o trabalho da

coordenadora e o seu próprio, sem se preocuparem de causar eventuais

constrangimentos. Dessa forma, ficou garantido o anonimato das mesmas.

43

As quatro professoras que contribuíram com meu trabalho, foram

escolhidas de acordo com o tempo de docência na escola pesquisada. Duas são

mais experientes e estão na escola há mais tempo. Já tiveram práticas com

outras coordenadoras, tanto dessa quanto de outras organizações educativas. As

outras duas professoras são novas na escola, mas já tiveram experiências em

outras organizações.

Procurei também escolher as educadoras de acordo com as características

do grupo de crianças com o qual lidam na escola. Duas – uma com anos de

experiência na escola e outra nova - possuem grupos difíceis de lidar, enquanto

as outras duas – novamente uma com anos de experiência na escola e outra

nova - possuem grupos “mais fáceis”, que não têm questões como inclusão,

dificuldade de aprendizagem ou falta de limites. Dei importância a esses aspectos

para observar qual a postura da coordenadora com professoras que possuem

grupos tão diferentes entre si. A prática se mantém? As professoras possuem

uma opinião parecida sobre o trabalho da coordenadora? A coordenadora se

mostra parceira para resolver questões trazidas pelas professoras? Estas são

perguntas que subsidiaram a minha análise dos depoimentos encontrada no

próximo capítulo.

44

IV. Dados de campo

Neste capítulo apresento em dois tópicos os dados de campo colhidos e

analisados.

1. Análise e avaliação institucional

1.1. Identificação

Escola X

Particular

Laica

Educação Infantil (1 a 6 anos)

Público: classe média/alta

1.2. Prédio escolar

A escola possui 1 hall de entrada, 5 salas de aula, 2 salas de artes, 1

parque, 1 quadra, 5 banheiros (3 para as crianças e 2 para os funcionários), 1

biblioteca/sala de vídeo, 1 brinquedoteca, 1 secretaria, 1 sala de

coordenação/direção, 1 cozinha, 1 sala dos professores.

Esta organização educativa, apesar de pequena, possui um ótimo espaço

para o desenvolvimento das diversas atividades com as crianças. As salas, assim

como as demais dependências, são amplas, deixando adultos e crianças bem

acomodados. Todas as salas fechadas possuem ventilador.

Todos os espaços são muito bem cuidados. A limpeza das salas e dos

banheiros é feita, no mínimo, quatro vezes por dia. A da cozinha, brinquedoteca,

sala de artes e biblioteca/sala de vídeo é diária. O parque e a quadra são varridos

ao final de cada período.

Os brinquedos, de modo geral, estão bem conservados. Raramente os

encontramos quebrados. O mesmo não pode ser dito dos livros. Os mais antigos

estão deteriorados e poderiam ser substituídos.

A secretaria possui duas salas, com um computador em cada uma delas. O

que é utilizado pela secretária não está funcionando muito bem, o que impede

45

que seu trabalho seja mais produtivo. O outro, em melhor estado, é utilizado mais

pela coordenadora e dona da escola.

A sala dos professores é bem acolhedora: oferece café, conforto e

tranqüilidade.

1.3. Estrutura administrativa e social, organização e funcionamento

A escola não possui organograma, então construí um diagrama que tem

como base um sistema administrativo consultivo.

Corpo discente

Pais

Corpo docente

Funcionários

Mantenedora

“diretora/dona da escola”

Coordenadora

46

A escola pesquisada está voltada para a Educação Infantil. Seu trabalho é

voltado para a primeira infância, de 1 a 6 anos. Atende crianças nos períodos da

manhã e da tarde.

As classes são divididas por faixas etárias. Por exemplo, as crianças que

têm um ano ficam no Grupo 1, as que têm dois anos ficam no Grupo 2 e assim

por diante. Eventualmente, pode ocorrer um agrupamento de crianças com idades

diferentes na mesma sala, devido ao pouco número de alunos matriculados em

determinado período ou grupo.

Esta organização escolar possui ao todo vinte e um funcionários. São 6

professoras de classe, 3 auxiliares, 1 coordenadora, 5 professores especialistas

(artes, expressão corporal, educação física, capoeira e música), 1 secretária, 2

porteiros e 3 auxiliares de limpeza.

De acordo com a visão de administração, pude perceber que a organização

estudada possui, segundo Chiavenato (1983), um sistema de administração que é

consultivo, no que diz respeito às relações interpessoais - certa confiança nas

pessoas e nas suas relações. A empresa procura facilitar o desenvolvimento de

uma organização informal sadia (CHIAVENATO, 1983, p. 380) – e aos sistemas

de recompensa – Recompensas sociais ocasionais. Raras punições ou castigos

(CHIAVENATO, 1983, p. 380).

Na escola, cada grupo/classe estuda projetos diferentes. Eles são

escolhidos e elaborados pelas professoras, mas antes de serem colocados em

prática tem que passar pela autorização da diretora/dona da escola. Se a diretora

não gostar do tema, o projeto deve ser readaptado ou mudado. Muitas vezes é a

diretora quem sugere um tema a ser estudado.

Em datas comemorativas como Dia das Mães e Dia dos Pais, por exemplo,

o trabalho que será desenvolvido é trazido pela diretora. Esta pede sugestões e

idéias nas reuniões pedagógicas, mas geralmente são suas idéias que

prevalecem.

Os professores são livres para desenvolver trabalhos dentro da sala de

aula, mas tudo o que é feito é “trocado” com a coordenadora pedagógica em

reuniões individuais, nas quais são discutidas as atividades que pretendem

realizar, o comportamento dos alunos, etc.

47

Se por um lado há muitas recompensas sociais - os trabalhos realizados

pelos professores são elogiados pela dona em reuniões pedagógicas, festas com

os pais, fechamentos de semestres, etc. -, por outro há poucas recompensas

materiais. Nunca soube de aumento de salário, mas todas as horas extras são

pagas. As punições são raras e, quando ocorrem, elas são tomadas pela direção.

A escola possui um clima de tipo participativo de caráter consultivo

(BRUNET, 1992, p. 22):

Nesse tipo de clima a direção tem confiança nos professores; a

elaboração das políticas e das decisões gerais é feita no topo,

mas é permitida uma participação a diversos níveis

organizacionais. A comunicação é de tipo descendente. As

recompensas, os castigos ocasionais e a participação são

utilizados para motivar os professores. Há uma quantidade

moderada de interações, muitas vezes com um nível de

confiança bastante elevado. Os aspectos importantes do

processo de controle são delegados de cima para baixo com

um sentido de responsabilidade nos escalões superiores e

inferiores. Por vezes desenvolve-se uma organização informal,

mas esta pode parcialmente aderir ou resistir as objetivos da

organização.

Os professores não possuem plano de carreira na escola. Todas as vezes

em que ocorreram mudanças na coordenadoria da escola, foi chamada uma

pessoa de fora para a substituição.

1.4. Planejamento escolar

A escola não possui o Projeto Político Pedagógico como documento,

apenas um plano escolar ao qual, até agora, não tive acesso.

Em seu site a escola se apresenta como sócio-construtivista,

demonstrando preocupação com o desenvolvimento integral da criança,

contemplando os aspectos cognitivos, emocionais, afetivos, sociais e corporais. O

48

brincar, o aprender e o cuidar fazem parte do seu trabalho pedagógico-

educacional.

O trabalho com projetos visa à construção do simbólico, desenvolvendo e

ampliando o conhecimento da criança sobre si, o outro e o mundo. Também

possui como objetivos, desenvolver o escutar, o olhar, o sentir e o pensar, por

meio de um diálogo contínuo que explora diferentes linguagens: a verbal,

utilizando a literatura infantil, e outras não verbais, como a música, as artes

visuais, o movimento.

No grupo 5 e 6, com o objetivo de integrar e enriquecer as diferentes

linguagens, as crianças têm, duas vezes por semana, oficinas de capoeira/artes,

música/teatro, orientadas por professores especialistas.

Todo ano há estudos do meio que têm como objetivo tornar mais concreto

o que está sendo estudado na escola, servindo também como fonte de pesquisa

para enriquecer o projeto.

A avaliação dos alunos é feita por meio de relatórios semestrais, um

individual e outro de grupo, escritos pela professora de classe. O relatório de

grupo fala sobre a relação entre as crianças, o desenvolvimento do projeto e o

envolvimento do grupo com este. Nos relatórios individuais são apresentados os

avanços e dificuldades de cada criança, relacionamento com os colegas,

interesses, desenvolvimento na linguagem oral e escrita, etc.

A escola dá muita importância à estética e criatividade, desenvolvendo

belíssimas produções plásticas, nas quais as crianças exploram e utilizam

diversos materiais nas confecções de trabalhos coletivos e individuais. Dessa

forma, todas as produções das crianças são compartilhadas com a comunidade

escolar por meio de exposições (Dia das Mães, Dia dos Pais, Festa Junina e

Festa da Primavera). Essas exposições ajudam na relação escola-família,

reforçando a integração necessária entre pais e professores.

1.5. Coordenação

A coordenadora da escola possui como funções:

Atender pais de alunos e professores (de classe, especialistas e auxiliares)

49

Elaborar e conduzir, junto com a diretora/dona da escola, as reuniões

pedagógicas.

Atender as professoras em reuniões individuais para que possam trocar

idéias sobre o que está sendo trabalhado em sala de aula; conversar sobre

os alunos, ajudando-as a pensar em diferentes estratégias para agir com

eles; discutir outros assuntos que sejam do interesse das professoras,

fazendo leituras que ajudem em sua formação continuada.

Dar suporte às professoras em reuniões de pais no caso de ficarem

nervosas ou esquecerem de dizer algo relevante.

Estas seriam as principais funções atribuídas à coordenação. Porém,

muitas delas são realizadas pela diretora/dona da escola.

De acordo com os depoimentos das professoras, pude notar que o trabalho

da coordenadora “embaralha-se” com o da dona. Na maior parte das vezes é ela

quem toma as decisões, mudando muitas vezes as que já haviam sido tomadas

pela coordenadora, juntamente com as professoras. Partindo do princípio de que

uma das funções da coordenadora é fazer a mediação entre professores e

direção, nessa escola isso não ocorre. A coordenação, ao invés de manter uma

boa parceria com ambos os lados, fica apenas ao lado da direção, o que dificulta

seu relacionamento com as professoras.

Nos relatos também pude perceber que o corpo docente sente falta de

maior apoio da coordenação. As reuniões individuais não estão sendo

aproveitadas do modo como as professoras gostariam. Apesar de a coordenadora

possuir boas idéias sobre atividades plásticas a serem desenvolvidas com as

crianças, não se mostra preocupada com o processo das mesmas. Além disso,

não consegue resolver problemas que exigem maior “sensibilidade”: alunos que

se revelam agressivos, alunos de inclusão, etc. As professoras também sentem

falta de uma discussão ampla sobre educação. Mais do que apenas fazer relatos

sobre o dia-a-dia, querem discutir assuntos que as ajudem a crescer

profissionalmente.

50

Mesmo planejando junto com a diretora/dona da escola o que será

discutido nas reuniões pedagógicas, a coordenadora não as conduz. Sua

participação muitas vezes é menor do que a de algumas professoras.

Nas reuniões de pais também não existe uma efetiva participação de sua

parte, agindo mais como observadora. Desse modo, falta às professoras um

suporte durante esse encontro tão importante. Afinal, é o momento em que

podem falar mais detalhadamente com os pais sobre o trabalho que está sendo

realizado com as crianças e o que estão aprendendo. Nessa hora, comentários

pertinentes por parte da coordenadora são fundamentais para deixar a professora

mais calma e ajudá-la a lembrar de aspectos que podem ser esquecidos. Isso

enriqueceria essa relação tão importante, fundamental para um cotidiano escolar

harmonioso.

Não tive acesso ao plano de trabalho da coordenadora.

2. Estudo exploratório

Na seção de anexo constam os depoimentos obtidos junto às quatro

professoras. Para favorecer a compreensão e a análise dos depoimentos, nas

tabelas que se seguem estão as sínteses dos mesmos, a partir dos tópicos

sugeridos para sua realização, que têm para nós a função de eixos categoriais.

Como explicitado no capítulo anterior, um dos motivos para a escolha das

professoras eram as características do grupo de crianças com o qual lidam na

escola. A Professora 1 e a Professora 2 são aquelas que possuem grupos “mais

fáceis”, enquanto a Professoras 3 lida com um grupo de crianças com idades bem

diferentes (1 ano e meio a quatro anos) das quais duas são de inclusão e a

Professora 4 lida com crianças com falta de limites e dificuldade de

aprendizagem.

51

Síntese dos dados – Estudo exploratório

Professoras

Eixos

Professora 1

Professora 2

Professora 3

Professora 4

Participação da

coordenação (funções)

Procura estar

presente no

cotidiano dos

grupos,

questionando as

professoras sobre

os acontecimentos.

Participação mais

efetiva se desse

suporte maior às

professoras.

______________

Participa das

reuniões

pedagógicas,

individuais e de

pais, mas sua

colaboração é

mínima. Pouca

participação na

continuidade do

trabalho do período

da manhã.

Trabalho da

coordenadora

“embaralhado” com

o da dona da

escola. Não há

tomada de decisões

por parte da

coordenadora.

Contribuição da coordenadora

Auxílio no

desenvolvimento do

trabalho em sala de

aula.

Expressa com

“jeito” suas idéias e

críticas quando

necessário.

Não gosta de

resolver problemas.

Repara na estética

dos trabalhos,

porém não se

preocupa com o

processo de

produção.

Dá boas idéias de

atividades artísticas

ou de pesquisas

que poderiam ser

realizadas com as

crianças.

Orientações da coordenadora

São de grande

proveito para refletir

e melhorar a

postura como

professora.

Indicações de livros

e materiais para

melhor formação

docente.

______________

Não há. Sente-se

sozinha para

resolver questões

com as crianças e

com os pais.

Não pôde contar

com sua parceria

para ajudá-la com

dificuldades

encontradas ao

longo do ano em

relação aos alunos.

Autonomia

Sente que seu

trabalho é

respeitado pois há

constante diálogo

com a

coordenação.

Sente que a

coordenadora

confia em seu

trabalho.

Sente-se autônoma

para planejar e

realizar atividades

na sala de aula.

Sente-se autônoma

dentro da sala de

aula, ao escolher

atividades e o modo

como realizá-las.

52

Cont.

Professora

Eixos

Professora 1

Professora 2

Professora 3

Professora 4

Reuniões

Pedagógicas

Bem aproveitadas.

Possibilitam diálogo

entre as professoras

e destas com a

coordenação e

direção. São

momentos de troca

de informações e

idéias que incitam a

uma reflexão

constante.

São formativas e

procuram possibilitar

troca de idéias entre

as educadoras e

equipe escolar. Há

pedidos, por parte

das professoras, de

que especialistas de

diversas áreas do

conhecimento

participem.

Acredita que a

escrita de sínteses

(relato sobre a

reunião anterior)

dá às professoras

um espaço para se

colocar e fazer

comentários que

gostariam de

abordar com o

grupo.

A coordenadora é

bastante omissa,

não conduzindo as

reuniões.

Reuniões

Individuais

Aproveita as reuniões

individuais para sanar

suas dúvidas e para

trocar idéias sobre

atividades e atitudes

a serem tomadas

com as crianças.

São boas e têm

melhorado

gradativamente, pois

estão encontrando

consenso em suas

questões.

Têm sido pouco

proveitosas. Se

pudesse não

participaria.

Tornou-se um

momento para

relato do trabalho

realizado em

classe. Questões

específicas a

respeito de alunos

não conseguem ser

resolvidas.

Sugestões para o

trabalho da

coordenação

Diálogo prévio entre

coordenação e

direção sobre

direcionamentos que

devem ser dados aos

professores. Maior

suporte aos

professores.

Para melhorar de

fato, é necessária

uma escuta maior e a

efetivação daquilo

que foi combinado e

planejado.

Incentivar o

professor a

melhorar,

construindo

parcerias com ele.

Deve proporcionar

um elo harmonioso

dentro da

organização

escolar. Instigar e

cuidar do que é

Educação.

Faria das reuniões

individuais

momentos para

discussão de

questões

específicas além de

poder ser um

espaço para

pesquisar e discutir

temas que sejam

interessantes para a

formação

profissional.

53

3. Análise do estudo exploratório 3.1. Visão geral dos sujeitos

Professora 1

Esta professora entrou na escola no começo de do ano de 2008 como

auxiliar de classe do período da manhã. Foi promovida ao cargo de professora no

segundo semestre de 2008, devido a saída antecipada de uma professora do

período da tarde.

Em relação à participação da coordenação, sente que a coordenadora

procura estar presente no cotidiano dos grupos, questionando sobre as atividades

que foram desenvolvidas. Mas acredita que sua participação seria mais efetiva se

desse um suporte maior às professoras, no que diz respeito em levar adiante

decisões que foram tomadas entre professoras e coordenação sem a intervenção

da direção. A coordenadora não consegue “bancar” uma decisão se a

diretora/dona da escola não concorda ou questiona tal decisão.

Acredita que a coordenadora tem contribuído para o desenvolvimento de

seu trabalho em sala de aula, pois há troca de idéias entre elas a respeito de

atividades a serem realizadas, atitudes adequadas a serem tomadas com as

crianças, etc.

As orientações da coordenadora a ajudam a refletir sobre seu trabalho e

sua postura como professora. Diz que já recebeu indicações de materiais e de

livros que ajudam em sua formação docente.

Sente que seu trabalho é respeitado, mas não cita em seu depoimento se

sente-se autônoma no planejamento das atividades.

Segundo ela as reuniões pedagógicas são muito bem aproveitadas, pois

possibilitam o diálogo entre professoras de diferentes grupos e destas com a

coordenação e direção. São momentos de troca de informações e idéias que

incitam a uma reflexão constante sobre a importância do papel do professor

dentro da sala de aula e na vida dos alunos.

Diz aproveitar as reuniões individuais para tirar suas dúvidas sobre o

grupo, trocar idéias sobre atividades e sobre como se relacionar com os alunos.

54

Porém, elas seriam mais proveitosas, com melhores orientações, se houvesse um

diálogo prévio entre a coordenação e a direção sobre os direcionamentos que

devem ser dados às professoras, pois muitas vezes as informações recebidas de

ambas são divergentes, o que dificulta o encaminhamento do trabalho.

Professora 2

Não consta em seu depoimento o que pensa sobre a participação da atual

coordenadora da escola.

Diz estar em um período de adaptação à nova coordenadora. Citou

rapidamente a contribuição das antigas coordenadoras em seu trabalho e elogiou

o relacionamento que tinha com a penúltima coordenadora, o qual gerou

trabalhos muito interessantes e significativos.

Não citou de que forma a coordenadora está colaborando com seu trabalho

em sala de aula, apenas disse que esta expressa com “jeito” suas idéias e

críticas.

Também não consta em seu depoimento o que pensa sobre as orientações

dadas pela atual coordenadora da escola. Acredita que ela confia em seu

trabalho, pois possui autonomia em seu planejamento.

Sobre as reuniões pedagógicas, diz que a escola já possui uma linha de

trabalho nessa área. Elas são formativas e possibilitam troca de idéias entre as

professoras e a equipe escolar. As professoras sugerem anualmente que sejam

chamados especialistas das diversas áreas do conhecimento para as auxiliarem

em diferentes aspectos: música, artes, expressão corporal, etc.

Para ela, as reuniões individuais são boas e têm melhorado

gradativamente, pois está encontrando consenso com a coordenadora em muitas

questões. Mas para que possam ser realmente boas e produtivas, deveria ter uma

escuta maior e a efetivação daquilo que havia sido planejado.

Professora 3

Segundo esta professora, a coordenadora participa das reuniões de pais,

pedagógicas e individuais. Nas reuniões de pais ela fica apenas como

observadora, não dando o auxílio necessário à professora caso esta esqueça algo

55

importante. As reuniões pedagógicas, em sua maioria, são conduzidas pela

diretora/dona da escola, deixando a coordenadora em segundo plano e

diminuindo sua função.

Percebe que a coordenadora não gosta de resolver conflitos entre as

crianças ou qualquer outro tipo de problema. Apesar de reparar na estética dos

trabalhos, não se preocupa com o processo de produção. Não disse em seu

depoimento se a coordenadora dá idéias sobre atividades ou se a orienta de

alguma outra forma.

Como possui um grupo com crianças de um ano e meio até quatro anos de

idade, o qual ainda conta com duas crianças de inclusão, diz que a coordenação

não a tem ajudado a lidar com as dificuldades encontradas ao longo do ano,

sentindo-se sozinha para solucionar problemas que tem com as crianças ou com

os pais. Diz já ter pedido à coordenadora que fosse à sua sala observar uma roda

de conversa, ou outros momentos em que encontra mais dificuldade, mas a

coordenadora nunca apareceu, alegando ter esquecido o compromisso.

Acredita que, por estar a tantos anos na escola, seu trabalho é respeitado

na maior parte do tempo. Sente que possui muita autonomia para planejar as

atividades e executá-las da melhor forma possível com seus alunos. Faz uma

ressalva dizendo que quando é o planejamento de uma data comemorativa como

Dia dos Pais ou Dia das Mães, quem decide o que vai ser trabalhado com as

crianças é a diretora/dona da escola, a qual ignora a vontade ou idéias das

professoras, e a coordenadora não se manifesta perante o que está sendo

imposto.

Como trabalha a muitos anos na escola, diz que as professoras

questionaram muito, nos últimos anos, a função das reuniões pedagógicas. Uma

das conquistas foi a escrita de sínteses, um relato feito pelas professoras sobre a

reunião anterior, no qual podem se expressar, fazendo comentários que

gostariam de abordar com o grupo. Em cada reunião é uma professora diferente

que escreve a síntese. Diz que é bom quando há assuntos novos para serem

tratados nas reuniões.

Sobre as reuniões individuais, diz não as ter aproveitado e que, se

pudesse, não participaria. Para que as reuniões fossem boas, a coordenadora

56

deveria dar um estímulo maior às professoras, levando temas para serem

discutidos. Além disso, deveria estar disposta e preparada para auxiliá-las nas

questões mais difíceis que são trazidas pelas próprias professoras. Uma boa

reunião, para esta professora, é quando ambas as partes estão envolvidas e

abertas para discutir o que é educação.

Para que o trabalho da coordenação possa melhorar, ela deve ter respeito

pelo trabalho das professoras, assim como incentivá-las a melhorar

profissionalmente. Demonstrar disponibilidade para formar uma boa parceria só

irá enriquecer o trabalho de ambas. Além disso, a coordenadora deve ser uma

mediadora que proporcione o elo harmonioso dentro da instituição escolar,

cuidando do que é educação.

Professora 4

Acredita que o trabalho da coordenadora confunde-se com o da

diretora/dona da escola, ficando muitas vezes submisso a este. Esse troca-troca

de funções impossibilita a tomada de decisões definitivas por parte da

coordenadora, ficando à mercê da avaliação da direção.

Segundo ela, a coordenadora é capaz de dar boas idéias sobre atividades

de artes ou sobre pesquisas a serem feitas com as crianças, mas não consegue

tratar de assunto mais específicos, como tirar dúvidas sobre como lidar com um

aluno com dificuldade ou sobre os obstáculos encontrados para se relacionar com

um determinado aluno.

Sente falta de ser comunicada de reuniões que a coordenadora tem com

psicólogos de alunos, sendo que isto poderia ajudar seu relacionamento com o

aluno em questão.

Sente-se autônoma na sala de aula ao escolher atividades e o modo como

irá realizá-las. Porém, diz ser ilusório o fato de ser a professora quem escolhe o

projeto que será trabalhado com os alunos, pois é a diretora/dona da escola quem

dá a decisão final (como foi falado no item 1.3 deste capítulo).

Não fala muito em seu depoimento sobre as reuniões pedagógicas. Diz

apenas que neste âmbito a coordenadora é omissa, não conduzindo as reuniões.

57

Para esta professora, as reuniões individuais passaram a ser dedicadas ao

relato de atividades que estão sendo realizadas, não se mostrando aberta para

discutir questões mais específicas sobre alunos, como foi dito acima. Incomoda-

se com a postura da coordenadora nesses momentos, pois é comum que atenda

o celular para tratar de assuntos pessoais.

Se fosse possível, usaria essas reuniões para tratar de questões

relacionadas às dificuldades que encontra com as crianças, assim como sobre

questões práticas e temas que fossem de seu interesse, para que pudesse

pesquisá-los e discuti-los junto com a coordenadora.

Para ela, o trabalho da coordenação seria melhor se houvesse um

incentivo a contínua formação das professoras, auxiliando-as a resolver

problemas relacionados aos alunos e à prática pedagógica.

3.2. Visão de relação sujeitos x eixos

Participação da coordenação (funções) Professora 1

Sente que a coordenadora procura estar presente no cotidiano dos grupos,

questionando sobre as atividades que foram desenvolvidas. Mas acredita que sua

participação seria mais efetiva se desse um suporte maior às professoras, no que

diz respeito em levar adiante decisões que foram tomadas entre professoras e

coordenação sem a intervenção da direção. A coordenadora não consegue

“bancar” uma decisão se a diretora/dona da escola não concorda ou questiona tal

decisão.

Professora 2

Não consta em seu depoimento o que pensa sobre a participação da atual

coordenadora da escola.

Professora 3

Diz que a coordenadora participa das reuniões de pais, pedagógicas e

individuais. Nas reuniões de pais ela fica apenas como observadora, não dando o

58

auxílio necessário à professora caso esta esqueça algo importante. As reuniões

pedagógicas, em sua maioria, são conduzidas pela diretora/dona da escola,

deixando a coordenadora em segundo plano e diminuindo sua função.

Professora 4

Acredita que o trabalho da coordenadora confunde-se com o da

diretora/dona da escola, ficando muitas vezes submisso a este. Assim como

Sujeito 1, diz que esse troca-troca de funções impossibilita a tomada de decisões

definitivas por parte da coordenadora, ficando à mercê da avaliação da direção.

Contribuição da coordenação Professora 1

Acredita que a coordenadora tem contribuído para o desenvolvimento de

seu trabalho em sala de aula, pois troca idéias com a coordenadora a respeito de

atividades a serem realizadas, atitudes adequadas para serem tomadas com as

crianças, etc.

Professora 2

Diz estar em um período de adaptação à nova coordenadora. Citou

rapidamente a contribuição das antigas coordenadoras em seu trabalho e elogiou

a penúltima coordenadora, dizendo possuir um ótimo relacionamento com ela, o

que gerou trabalhos muito interessantes e significativos.

Não citou de que forma a coordenadora está colaborando com seu trabalho

em sala de aula, apenas disse que expressa com “jeito” suas idéias e críticas.

Professora 3

Percebe que a coordenadora não gosta de resolver conflitos entre as

crianças ou qualquer outro tipo de problema. Apesar de reparar na estética dos

trabalhos, não se preocupa com o processo de produção.

Não disse em seu depoimento se a coordenadora dá idéias sobre

atividades ou se a orienta de alguma outra forma.

59

Professora 4

Diz que coordenadora consegue dar boas idéias sobre atividades de artes

ou sobre pesquisas a serem feitas com as crianças, mas não consegue tratar de

assunto mais específicos, relacionados à disciplina dos alunos.

Orientações da coordenadora Professora 1

As orientações da coordenadora a ajudam a refletir sobre seu trabalho e

sua postura como professora. Diz que já recebeu indicações de materiais e de

livros que ajudam em sua formação docente.

Professora 2

Não consta em seu depoimento o que pensa sobre as orientações dadas

pela atual coordenadora da escola.

Professora 3

Como possui um grupo com crianças de um ano e meio até quatro anos de

idade, o qual ainda conta com duas crianças de inclusão, diz que a coordenação

não a tem ajudado a lidar com as dificuldades encontradas ao longo do ano,

sentindo-se sozinha para solucionar problemas que tem com as crianças ou com

seus pais.

Diz já ter pedido à coordenadora que fosse à sua sala observar uma roda

de conversa, ou outros momentos em que encontra mais dificuldade, mas a

coordenadora nunca apareceu, alegando ter esquecido o compromisso.

Professora 4

Sente falta da orientação da coordenadora para resolver assuntos

relacionados aos alunos. Se à procura para tirar dúvidas sobre como lidar com um

aluno com dificuldade ou sobre os obstáculos encontrados para se relacionar com

um determinado aluno, não consegue uma ajuda significativa.

60

As reuniões que a coordenadora tinha com psicólogos de alunos não eram

comunicadas à professora, e quando esta tentava falar sobre algum problema,

aquela encontrava uma maneira de mudar de assunto.

Autonomia

Professora 1

Sente que seu trabalho é respeitado, pois existe um diálogo constante com

a coordenação. Não diz em seu depoimento se se sente autônoma no

planejamento das atividades.

Professora 2

Acredita que a coordenadora confia em seu trabalho, pois sabe que ela

possui autonomia em seu planejamento.

Professora 3

Acredita que, por estar a tantos anos na escola, seu trabalho é respeitado

na maior parte do tempo. Sente que possui muita autonomia para planejar as

atividades e executá-las da melhor forma possível com seus alunos.

Faz uma ressalva dizendo que quando é o planejamento de uma data

comemorativa como Dia dos Pais ou Dia das Mães, quem decide o que vai ser

trabalhado com as crianças é a diretora/dona da escola, a qual ignora a vontade

ou idéias das professoras, e a coordenadora não se manifesta perante o que está

sendo imposto.

Professora 4

Sente-se autônoma na sala de aula ao escolher atividades e o modo como

irá realizá-las. Porém, diz ser ilusório o fato de ser a professora quem escolhe o

projeto que será trabalhado com os alunos, pois é a diretora/dona da escola quem

dá a decisão final (como foi falado no item 1.3 deste capítulo).

Reuniões Pedagógicas Professora 1

61

Acredita que as reuniões pedagógicas são muito bem aproveitadas, pois

possibilitam o diálogo entre professoras de diferentes grupos e entre estas e a

coordenação e direção. Para ela são momentos de troca de informações e idéias

que incitam a uma reflexão constante sobre a importância do papel do professor

dentro da sala de aula e na vida dos alunos.

Professora 2

Diz que a escola já possui uma linha de trabalho nas reuniões

pedagógicas. Elas são formativas e possibilitam troca de idéias entre as

professoras e a equipe escolar. As professoras sugerem anualmente que sejam

chamados especialistas das diversas áreas do conhecimento para as auxiliarem

em diferentes âmbitos: música, artes, expressão corporal, etc.

Professora 3

Como trabalha a muitos anos na escola, diz que as professoras

questionaram muito, nos últimos anos, a função das reuniões pedagógicas. Uma

das conquistas foi a escrita de sínteses, um relato feito pelas professoras sobre a

reunião anterior, no qual podem se expressar, fazendo comentários que

gostariam de abordar com o grupo. Em cada reunião é uma professora diferente

que escreve a síntese.

Diz que é bom quando há assuntos novos para serem tratados nas

reuniões.

Professora 4

Não fala muito em seu depoimento sobre as reuniões pedagógicas. Diz

apenas que neste âmbito a coordenadora é omissa, não conduzindo as reuniões.

Reuniões Individuais Professora 1

Diz aproveitar as reuniões individuais para tirar suas dúvidas sobre o

grupo, trocar idéias sobre atividades e sobre como se relacionar com os alunos.

62

Acredita que para reuniões mais proveitosas, com melhores orientações,

deveria haver um diálogo prévio entre a coordenação e a direção sobre os

direcionamentos que devem ser dados, pois muitas vezes as informações

recebidas de ambas se distorcem e o andamento do trabalho torna-se confuso.

Professora 2

Para esta professora as reuniões individuais são boas e têm melhorado

com o tempo, pois está encontrando consenso com a coordenadora em muitas

questões. Mas que possam realmente boas, deveria ter uma escuta maior e a

efetivação daquilo que foi planejado e combinado.

Professora 3

Diz não ter aproveitado muito as reuniões individuais e que, se pudesse,

não participaria.

Para que as reuniões fossem boas, a coordenadora deveria dar um

estímulo maior às professoras, levando temas para serem discutidos. Além disso,

deveria estar disposta e preparada para auxiliá-las nas questões mais difíceis e

que são trazidas pelas próprias professoras.

Uma boa reunião, para esta professora, é quando ambas as partes estão

envolvidas e abertas para discutir o que é educação.

Professora 4

Para esta professora, as reuniões individuais passaram a ser dedicadas ao

relato de atividades que estão realizadas, não se mostrando aberta para discutir

questões mais específicas sobre alunos.

Diz sentir-se incomodada com a postura da coordenadora nesses

momentos quando esta atende o celular para tratar de assuntos pessoais.

Se fosse possível, gostaria de usar essas reuniões para tratar de questões

relacionadas às dificuldades que encontra com as crianças, assim como sobre

questões práticas e temas que fossem de seu interesse, para que pudesse

pesquisá-los e discuti-los junto com a coordenadora.

63

Sugestões para o trabalho da coordenação Professora 1

Diálogo prévio entre coordenação e direção para um melhor

direcionamento de trabalho para as professoras.

Professora 2

Maior escuta e efetivação daquilo que foi planejado.

Professora 3

Além de mostrar respeito pelo trabalho das professoras, incentivá-las a

melhorar, mostrando disponibilidade para formar uma boa parceria. Ser uma

mediadora que proporcione um elo harmonioso dentro da instituição escolar. E,

principalmente, cuidar do que é Educação.

Professora 4

Incentivar a contínua formação das professoras, auxiliando-as a resolver

problemas relacionados à alunos e à prática. E resolver conflitos entre as

crianças, quando estes ocorrem na sua presença.

3.3. Considerações gerais

Participação da coordenação

Neste aspecto as professoras parecem ter opiniões divergentes. Enquanto

a Professora 1 vê a participação da coordenadora como ativa, preocupando-se

com o cotidiano dos grupos, as Professoras 3 e 4 não compartilham da mesma

opinião, dizendo que sua colaboração é mínima. Para a Professora 3 há pouca

participação da coordenadora no cotidiano do seu grupo pois esta não vê a

continuidade do trabalho das crianças.

A Professora 2 não contemplou este eixo em seu depoimento.

Contribuição da coordenadora

64

Nesse eixo as professoras 1, 2 e 4 concordam que a coordenadora

consegue dar boas idéias de atividades a serem realizadas com as crianças,

enquanto a Professora 3 diz não ter tido, até agora, contribuição da coordenadora

em atividades a serem desenvolvidas em sala de aula. Como possui alunos de

inclusão, sente que a coordenadora fica tentando arranjar estratégias que estão

fora de seu alcance.

Orientações da coordenadora Enquanto a Professora 1 diz receber boas orientações da coordenadora,

fazendo-a refletir sobre sua postura profissional, as professoras 3 e 4 dizem não

poder contar com sua parceria para resolver problemas com alunos ou com os

pais destes.

A Professora 2 não contemplou este eixo em seu depoimento.

Autonomia

Todas as professoras dizem sentirem-se autônomas dentro da sala de

aula, seja para planejar as atividades ou para colocá-las em prática.

Reuniões Pedagógicas As professoras 1 e 2 concordam ao afirmarem que as reuniões são

momentos que possibilitam a troca de idéias entre as educadoras. A professora 3

acredita que nos últimos anos as reuniões ganharam um aspecto mais

pedagógico e gosta da escrita de sínteses para poder se colocar ou trazer algum

assunto para ser discutido em grupo.

A Professora 4 não fez comentários sobre a maneira como são dirigidas as

reuniões pedagógicas, mas fez uma observação feita também pela Professora 3:

geralmente, quem conduz as reuniões é a diretora/dona da escola e não a

coordenadora.

Reuniões Individuais

As professoras 1 e 2 acham as reuniões individuais boas e bem

aproveitadas. A Professora 4 assim como a Professora 3, gostaria de aproveitar

65

as reuniões para discutir questões sobre os alunos e não para relatar os trabalhos

que estão sendo realizados em sala.

Sugestões para o trabalho da coordenação

Está presente em todos os depoimentos a falta que faz a coordenadora

não conseguir dar um suporte maior aos professores, não conseguindo levar

adiante decisões que foram tomadas sem a presença da diretora/dona da escola.

A Professora 2 acredita que se houvesse uma escuta maior e a efetivação do que

havia sido combinado, o trabalho poderia ser mais produtivo.

Tanto a professora 3 como a 4, procuram uma maior parceria com a

coordenação e a discussão de assuntos que as ajudem a crescer

profissionalmente.

Outras considerações

Por meio dos depoimentos, notei que apenas duas (Professoras 1 e 2), das

quatro professoras que contribuíram com meu trabalho, mantém um bom

relacionamento com a coordenadora. Acredito que isso se deve ao fato de estas

professoras (1 e 2) estarem assumindo classes com grupos “mais fáceis” de lidar.

O que não acontece com as professoras 3 e 4, que estão com grupos que têm

crianças com questões difíceis de lidar.

As professoras 3 e 4 concordam em muitas coisas, principalmente no que

diz respeito a omissão da coordenadora em resolver problemas, sejam estes

relacionados às crianças ou aos pais. E, como não podem contar com o apoio da

coordenação, se sentem cada vez mais sozinhas no cotidiano escolar.

O que falta a elas é um espaço onde possam exprimir o que estão

passando com seus alunos, possibilitando a troca de idéias com outros

professores sobre estratégias a serem tomadas em sala de aula. Isso será rico

tanto para as professoras que estão passando por dificuldades com seus alunos

quanto para as professoras que irão ajudá-las, pois fará todas refletirem sobre a

prática pedagógica.

A presença de outros especialistas em reuniões pedagógicas é uma boa

opção nestes casos, pois poderá atrair a atenção das professoras para

66

alternativas que não haviam sido pensadas, além de dar um suporte também à

coordenadora.

67

V. Proposta de ação

Em minha introdução, contei rapidamente sobre minha pouca experiência

profissional e como foi meu primeiro contato com a, até então, coordenadora da

escola onde trabalho.

Comparar a prática dos professores, corrigir o professor na frente dos

alunos e falar de que modo o professor deveria conduzir uma atividade foram

alguns dos exemplos dados sobre o modo de trabalhar dessa coordenadora.

A atual coordenadora possui outra prática, mas que não acredito ser

melhor do que a da antiga. Se por um lado a atual tem ética para falar com as

professoras, não as corrigindo na frente dos alunos e conseguindo dizer o que

pensa sem deixá-las desconfortáveis, sua antecessora conseguia fazer a tão

necessária mediação entre professoras e direção, tomando decisões (junto com

as professoras) que não mudavam ao chegar aos ouvidos da diretora/dona da

escola. Enquanto a coordenadora atual fica omissa em reuniões pedagógicas e

de pais, sua antecessora conduzia as reuniões pedagógicas e formava uma boa

parceria com as professoras nas reuniões de pais, dando a elas mais segurança.

O que estou querendo dizer é que, ao mesmo tempo em que a antiga

coordenadora possuía uma postura mais autoritária de falar com as professoras,

também conseguia ajudá-las na resolução de problemas com as crianças,

auxiliando-as a refletir sobre a prática pedagógica, estabelecendo uma

cumplicidade. Em contrapartida, enquanto a atual coordenadora consegue

expressar suas idéias de um jeito mais sensível e dar boas sugestões de

atividades plásticas, não consegue estabelecer um vínculo de confiança com as

professoras, ficando mais ao lado da direção.

Partindo da minha pergunta inicial - Como o coordenador pode estimular a

autonomia do professor, como educador, considerando os valores do Projeto

Educativo? - e levando em conta meu objetivo - explorar possibilidades que

possam auxiliar o relacionamento profissional entre professor e coordenador, de

modo que ambos se sintam confiantes em dizer o que pensam, sem receio de

serem mal interpretados -, descrevo a seguir minha proposta de ação.

68

Sei que é impossível alguém ser perfeito em tudo o que faz e que todas as

coordenadoras pedagógico-educacionais do mundo possuem qualidades e

aspectos que ainda precisam ser aprimorados. Entretanto, acredito que, do

mesmo modo como são feitas avaliações de alunos por parte dos professores e

de professores por parte dos coordenadores, todas as escolas deveriam ter o

inverso: avaliação dos professores por parte dos alunos e avaliação dos

coordenadores por parte dos professores.

Desse modo, a partir do que foi falado nos depoimentos e do que observei

ao longo desse ano, os coordenadores, assim como os professores, precisam

estar em contínua formação.

Em minha proposta de ação pretendo dimensionar um projeto de trabalho

do coordenador junto aos professores, levando em consideração as três áreas de

atuação mais citadas e discutidas até agora.

Farei um breve levantamento dos objetivos gerais e encaminhamentos que

poderiam ser feitos nas reuniões individuais e na preparação para reunião de

pais. Porém, o meu foco será nas Reuniões Pedagógicas, um momento no qual o

coordenador se encontra com todos os professores da escola, contribuindo com a

formação contínua destes.

Todos os objetivos e encaminhamento foram elaborados levando em

consideração as necessidades das professoras, explicitadas nos depoimentos.

Reuniões Individuais

Objetivos gerais:

- refletir sobre a prática pedagógica;

- trocar idéias sobre atividades;

- discutir temas trazidos pelas professoras;

- relatar e encontrar soluções/estratégias para casos específicos de alunos;

Encaminhamentos:

A coordenadora pede para as professoras levarem questões que foram

observadas durante a semana para serem discutidas. Elas podem ser a respeito

do encaminhamento de alguma atividade, do modo como tem se relacionado com

69

alguma criança ou das dificuldades encontradas. Devem partir do interesse das

professoras. A coordenadora não é obrigada a ter respostas para todas as

dúvidas, mas seria bom se se mostrasse aberta para discutir os temas e as

questões trazidas.

A coordenadora pode e deve levantar temas e questões que acredite

serem pertinentes para formação da professora. Tudo deve ter como principal

objetivo o desenvolvimento e aprendizagem do aluno.

Avaliação

A avaliação das reuniões deve ser constante e ocorrer depois de cada

encontro. Dessa forma, as discussões e troca de idéias feitas devem ser

colocadas em prática pelas professoras, a fim de fazerem uma avaliação sobre o

que foi discutido e a prática em sala de aula.

Encontro para Reunião de Pais Objetivos gerais:

- ajudar a professora na elaboração da pauta;

- dar mais segurança à professora para o dia da reunião;

Encaminhamentos

A professora prepara a pauta e, em uma reunião individual, a mostra para a

coordenadora, falando sobre o que pensou em abordar com os pais. A

coordenadora então deve falar o que achou, decidindo junto com a professora

mudanças devem ser feitas ou não e que tais correções sejam feitas para a

próxima reunião individual, na qual irão fechar a pauta da reunião de pais.

Como a coordenadora participa da reunião de pais junto com a professora,

essa troca de idéias deixa as duas mais seguras, pois a coordenadora pode

ajudar a professora a lembrar de algo que tenha esquecido.

Avaliação

A avaliação da reunião de pais pode ser feita logo depois ou num próximo

encontro individual. Serão analisados o modo como a professora falou, se foi

70

compreensível ou não, se a coordenadora a ajudou ou a interrompeu em algum

momento, enfim, como ambas se comportaram durante o encontro.

Reuniões Pedagógicas

Ver quadros a seguir.

71

1ª Reunião Duração: 2 horas

Objetivo Unidade Temática

Estratégia Subsídios Teóricos

Avaliação

- Resgatar o

sentido de ser

educador;

- Sensibilizar

sobre o ato de

educar e refletir

sobre as

dificuldades

encontradas

pelos

educadores no

dia-a-dia da

escola.

Desafios do

trabalho do

professor

Passar o filme

“Quando Tudo

Começa...” 1

Filme: “Quando

Tudo

Começa...”

- Observar como

as professoras

reagem ao ver o

filme: ficam

sensibilizadas?

Parecem

concordar com as

atitudes

tomadas?

- Solicitar

palavras-chave.

1 “ Quando Tudo Começa...” é um filme francês dirigido por Bertrand Tavernier. Conta a história de Daniel Lefebere, um professor/diretor de uma escola pública em Hernaing (interior da França), uma pequena cidade que sofre com o alto índice de desemprego. Daniel e os outros professores são aconselhados a não se envolver com os problemas crônicos da comunidade, mas é impossível para Daniel permanecer imune à miséria, à falta de assistentes sociais, à indiferença do governo e aos sérios problemas domésticos que suas crianças enfrentam.

72

2ª Reunião Duração: 2 horas

Objetivo Unidade Temática

Estratégia Subsídios Teóricos

Avaliação

Resgatar o

sentido de ser

educador

(cont.)

Desafios do

trabalho do

professor.

- Discussão

sobre o filme

“Quando Tudo

Começa...”. O

que sentiram?

Concordam com

as atitudes

tomadas pelo

protagonista? Do

que mais

gostaram?

- Utilizar as

palavras-chaves

da reunião

passada.

Observar o que

atraiu mais a

atenção de cada

professora no

filme.

Conhecer um

pouco da

história de

vida dos

colegas de

trabalho.

Por que

escolhi ser

educador?

Breve momento

para reflexão por

meio de um

desenho

individual em

uma folha

coletiva (papel

craft ou

cartolina).

- Observar o que

mobilizou cada

educadora na

escolha da

profissão.

- Compartilhar

com o grupo.

73

3ª Reunião Duração: 2 horas

Objetivo Unidade Temática

Estratégia Subsídios Teóricos

Avaliação

Levantar

situações que os

professores têm

dificuldade de

lidar na sala de

aula.

Relação de

temas de

estudo

Troca em duplas

segundo o

critério da faixa

etária de seus

alunos.

- Identificar

quais são os

interesses que

as professoras

gostariam de

estudar mais a

fundo;

- Ordenar os

temas

considerando a

prioridade.

Listar em uma

folha de papel

temas de

interesse para

serem

aprofundados

em outras

reuniões.

Analisar quais

são os temas,

se há interesse

de mais de

uma professora

por um mesmo

tema. Tentar

elaborar futuras

reuniões de

acordo com o

que foi pedido.

74

Considerando que um dos temas possíveis seja formação de atitudes, direitos e deveres, esta

seria uma possível reunião.

4ª Reunião Duração: 2 horas

Objetivo Unidade Temática

Estratégia Subsídios Teóricos

Avaliação

Possibilitar troca

de experiências e

idéias com

colegas de

trabalho.

Formação de

atitudes,

direitos e

deveres.

- Formar duplas

seguindo o

critério da faixa

etária de seus

alunos;

- Cada dupla

descreverá uma

cena de

dificuldades de

alunos;

- Rodízio de

cenas entre as

duplas para

sugestões de

atitudes a serem

tomadas

(professoras do

Grupo 1 dão

sugestões para

as do Grupo 5,

etc.)

Ver quais as

estratégias que

cada professora

utilizaria para lidar

com os problemas

apresentados.

Refletir sobre o

tema formação

de atitudes,

direitos e

deveres.

Entregar um

trecho do livro de

Yves de La Taille

para aprimorar a

discussão a

respeito do tema.

Leitura coletiva

em voz alta.

Livro de Yves de

La Taille - Limites:

Três Dimensões

Educacionais

75

1ª Reunião

Tive como objetivo resgatar o sentido de ser educador na primeira reunião

pelo fato de as professoras enfrentarem, freqüentemente, situações difíceis de

lidar, sejam elas relacionadas a alunos, seus pais ou até mesmo pelas condições

salariais.

Para poder sensibilizar as professoras e fazê-las refletir melhor sobre o

assunto, pensei em passar um filme que mostrasse os obstáculos enfrentados por

um educador e quais foram as atitudes que tomou.

Ao final do filme, pedir às professoras, individualmente, que escrevam uma

palavra que resuma o filme.

2ª Reunião

Abrir a reunião debatendo sobre o filme, a fim de tomar conhecimento das

idéias que as professoras tiveram, se teriam as mesmas atitudes que o

protagonista do filme ou se agiriam de outra maneira e por quê. Trazer as

palavras-chave escritas ao término do filme na reunião passada e perguntar

porque escolheram as escolheram.

Ao final, aproveitando a sensibilização gerada pelo filme, seria interessante

que elas recuperassem e compartilhassem com o grupo o motivo de sua escolha

profissional. Individualmente, cada professora fará um desenho que represente o

motivo de sua escolha. Os desenhos serão compartilhados e colados em um

papel craft ou cartolina. Depois, será deixado na sala dos professores, para que

possam apreciar com mais calma o que cada professora fez e pensarem um

pouco mais sobre o assunto.

3ª Reunião

A reunião terá como proposta a troca de idéias entre as professoras. Seria

interessante separá-las segundo o critério da faixa etária de seus alunos, pois

muitas vezes as dificuldades encontradas com eles podem ser características da

idade na qual se encontram.

Para que as futuras reuniões possam ser mais aproveitadas, pensei em

pedir às professoras que escrevessem em uma folha de papel quais assuntos

76

gostariam de ser discutidos e estudados em futuras reuniões, levando em

consideração aqueles que julguem mais importantes para sua formação

profissional naquele momento.

4ª Reunião

Levando em consideração os depoimentos e as conversas que tive com as

professoras durante minha pesquisa, achei que seria interessante se, na quarta

reunião houvesse troca de experiências entre elas.

Dessa forma, levando em consideração que um dos temas propostos pelas

professoras foi a formação de atitudes, direitos e deveres, pensei em manter as

duplas da reunião passada, segundo o critério da faixa etária de seus alunos, e

pedir que cada dupla descrevesse em uma folha de papel uma cena que já

vivenciou ou está tendo com seus alunos. Um cena que tenha achado difícil de

lidar.

Em um segundo momento, as professoras irão trocar essas cenas. As

professoras do Grupo 1, por exemplo, terão que arranjar soluções/estratégias

para as professoras do Grupo 3, as professoras do Grupo 2 para as professoras

do Grupo 4, e assim por diante. Acredito que essa estratégia possibilita outro

olhar sobre as dificuldades das outras professoras e outro olhar sobre o modo

como resolvê-las.

Ao final da reunião, haverá uma leitura em voz alta de um trecho do livro de

Yves de La Taille para fazer as professoras refletirem melhor sobre o tema. A

ajuda de especialistas sobre o desenvolvimento moral da criança também seria

muito vantajosa em uma reunião futura, pois poderia trazer idéias que não haviam

sido pensadas.

77

VI. Considerações finais

Cheguei ao último ano do curso de Pedagogia muito ansiosa, pois sabia

que no final do ano teria que apresentar um Trabalho de Conclusão de Curso –

TCC, uma tarefa que me “assombrava” desde o primeiro semestre. “Nunca vou

conseguir fazer este trabalho!” era o que eu pensava. Neste exato momento, nem

acredito que estou escrevendo as considerações finais!

O processo de desenvolvimento do TCC foi muito interessante e, por

incrível que pareça, não foi difícil, ao contrário do que eu sempre imaginei que

seria. Os professores da habilitação foram ótimos companheiros desde o início do

ano, tentando tranqüilizar todas as alunas da sala, que estavam tão ansiosas

quanto eu, em relação ao último trabalho do curso.

O primeiro passo para começar a escrever o TCC era decidir por um tema

que me instigasse a estudar e pesquisar, o que não foi uma tarefa tranqüila.

Depois de muito pensar e com a ajuda da Profª. Dra. Marília Marino, consegui

identificar, por meio de minha trajetória como estudante do curso de Pedagogia

da PUC-SP, um tema/problema que me mobilizava: Como o coordenador pode

estimular a autonomia do professor, como educador, considerando os valores do

Projeto Educativo?. A partir daí as coisas começaram a fluir.

Com a ajuda dos outros professores da habilitação – Alda Carlini, Artur

Costa Neto, Neide Saisi e Ronaldo Negrão – escrevi as minhas concepções

gerais: visão de ser humano, educação, sociedade, mundo, trabalho, avaliação e

coordenação. Ao escrevê-las no TCC pude expressar minhas idéias a respeito

desses aspectos que são de base fundamental para minha formação profissional.

O processo de escrita do meu tema foi muito rico, pois li livros cujos

conteúdos serão sempre utilizados no exercício da minha profissão. Muito

importantes também foram as pesquisas de campo, que aguçaram meu olhar

sobre a prática do coordenador pedagógico-educacional e sua importância dentro

da escola.

Termino meu trabalho satisfeita com seu resultado e, principalmente, com o

aprendizado que tive durante todo o processo. Foi ótimo estudar as funções do

coordenador pedagógico-educacional e sua importância para o bom

funcionamento da organização escolar. Percebi o quanto sua presença se faz

78

necessária no contexto educacional, pois é ele quem articula o currículo escolar,

além de tratar de questões de formação e ação educativa, junto com professores,

alunos e famílias. Dessa forma, os professores precisam de seu apoio para

resolver diversas questões, sejam estas referentes aos alunos, aos pais ou à

própria prática pedagógica.

Tenho certeza de que o estudo realizado irá me fazer refletir sobre minha

forma de agir como futura coordenadora pedagógica-educacional.

79

Referências bibliográficas

BAREMBLITT, Gregorio. Compêndio de análise institucional e outras

correntes. 4ª ed., Rio de Janeiro, Record: Roca dos Tempos, 1998.

BOCK, Silvio Duarte. Orientação profissional: a abordagem sócio-histórica.

3ª ed, São Paulo, Cortez, 2006.

BRUNET, L. Clima de trabalho e eficácia da escola. In: As organizações

escolares em análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995.

BRUNO, Eliane B. G. e CHRISTOV, Luiza Helena da Silva. O coordenador

pedagógico e a formação docente. Loyola, 2008.

CASTRO, Maria Helena Guimarães de. “Um painel da avaliação

educacional no Brasil”. Pátio, ano 3, nº 12, fevereiro/abril 2000, p. 27-29.

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria.

Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 2000.

CHIAVENATO, Idalberto. McGraw-Hill do Brasil, 3ª ed., São Paulo, 1983.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto (org.). Formação continuada e gestão

da educação. São Paulo, Cortez, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro, Paz e Terra,

1996.

GHILARDI, Franco & SPALLAROSSA, Carlo. Guia para a Organização da

Escola. 2ª ed. Portugal: Edições ASA, 1991.

GONÇALVES, Carlos Luiz. “O coordenador pedagógico em tempos de

mudança.” In: Revista ABCEducatio. São Paulo.

GONÇALVES, Carlos Luiz. “Projeto Pedagógico: movimento-documento”.

Revista Educação Continuada: a experiência do Pólo 3. Mogi das Cruzes,

SP: UMC/FAEP/Litteris, 1998, p.24-30);

GRINSPUN, Mirian Paura Zippin. Supervisão e Orientação Educacional:

perspectivas de integração na escola. 2ª ed., São Paulo, Cortez, 2005.

LEVENFUS, Rosane Schotgues e colaboradores. Psicodinâmica da

escolha profissional. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.

80

MARINO, Marília J. “O grupo no processo educativo”. Linhas Críticas,

Universidade de Brasília, volume 4 / nº 7-8, julho/1998, p. 87-97.

MENDEZ, Juan Manuel Alvarez. “A avaliação em uma prática crítica”.

Pátio, ano VII, nº 27, agosto/outubro 2003, p. 21.

NÓVOA, Antônio. Para uma análise das instituições escolares. In: As

organizações escolares em análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote,

1995.

PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o Projeto Político Pedagógico da escola. São Paulo: Cortez/Instituto Paulo Freire, 2001.

PERRENOUD, Phillipe. “O que fazer da ambigüidade”. Pátio, ano VI, nº 23,

setembro/outubro 2002, p. 8-11.

SACRISTÁN, Gimeno. Compreender e transformar o ensino. 4ª ed. Porto

Alegre, Artmed, 1998.

SOUZA, Clarilza Prado de. Idéias 30: Sistemas de Avaliação Educacional.

São Paulo, 1998.

SZYMANSKI, Heloisa. A relação família/escola: desafios e perspectivas. 2ª

ed., Brasília, Liber Livro, 2007.

TREMARIN DA SILVA, Isabel Cristina. A Orientação Vocacional

Ocupacional na Escola. In: Levenfus, Rosane Schotgues S. e

colaboradores. Psicodinâmica da escolha profissional. Porto Alegre, Artes

Médicas, 1997.

http://www.revistapatio.com.br/conteudo_exclusivo_conteudo.aspx?id=45

81

Seção de anexo I

Instrumento do estudo exploratório

82

Carta de Apresentação

Meu nome é Vivien F. P. Yamamoto, sou estudante do curso de Pedagogia

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e estou no meu

último ano da graduação, cursando as habilitações de Orientação Educacional e

Supervisão Escolar.

Ao final deste ano irei apresentar meu Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC), no qual irei focar o tema da relação professor-coordenador.

Para ajudar a enriquecer minha pesquisa, conto com sua colaboração na

escrita de um depoimento.

Fica garantido seu anonimato.

Obrigada,

Vivien F. P. Yamamoto

São Paulo, 15 de setembro de 2008.

83

Nome fictício: ____________________________________________________

Data de nascimento: ______________________________________________

Formação: ______________________________________________________

Tempo de docência: ______________________________________________

Ingresso nesta escola: _____________________________________________

Em seu depoimento, busque contemplar os seguintes aspectos:

A participação da coordenação na escola onde trabalha;

A contribuição da coordenação no desenvolvimento de seu trabalho em

sala de aula;

Como percebe/sente as orientações dadas pela coordenação;

Sente que seu trabalho é respeitado, sente-se autônomo em sua

realização?

Como são aproveitadas/utilizadas as Reuniões Pedagógicas? Se pudesse,

faria alguma modificação?

Como são aproveitadas/utilizadas as reuniões individuais? Se pudesse,

faria alguma modificação?

Que sugestões você daria para o trabalho da coordenação considerando

suas necessidades?

84

Seção de anexo II

Depoimentos

85

Nome fictício: Professora 1

Data de nascimento: 10/04/1984

Formação: Pedagogia

Tempo de docência: 5 anos

Ingresso nesta escola: Março/2008

Percebo que a coordenadora da escola procura estar presente no cotidiano

dos grupos, questionando as professoras sobre o acontecimento e intervindo

quando necessário. No entanto, acho que a participação da coordenação poderia

ser mais intensa e efetiva dando um suporte maior às professoras.

Particularmente, tenho recebido o auxílio necessário no desenvolvimento

do meu trabalho em sala de aula. Aproveito minhas reuniões individuais com a

coordenadora para sanar as minhas dúvidas acerca do grupo e também aproveito

este momento para trocar idéias sobre atividades que gostaria de fazer, atitudes

adequadas para serem tomadas com as crianças, etc.

As orientações que me são dadas pela coordenação, em sua maioria, são

de grande proveito para que eu reflita e melhore minha postura como professora,

além disso, já recebi diversos materiais e indicações de livros para uma melhor

formação enquanto docente.

Acredito apenas que para uma reunião mais proveitosa com orientações

mais acertadas, houvesse um diálogo prévio entre coordenação e direção sobre

os direcionamentos que devem ser dados, pois muitas vezes as informações

recebidas separadamente de ambas se distorcem e a fluidez do trabalho torna-se

confusa.

Não posso dizer que meu trabalho não é respeitado, pois existe um diálogo

constante entre mim e a coordenação, de modo que tudo o que está sendo

realizado em sala tem como objetivo principal o desenvolvimento pleno da

criança.

As reuniões pedagógicas também são muito bem aproveitadas, pois

possibilitam o diálogo entre as professoras de diferentes grupos e entre estas e a

coordenação e direção. São momentos de troca de informações e de idéias que

incitam a uma reflexão constante sobre quão importante é o papel do professor

86

dentro de uma sala de aula e quão importante é o papel do professor na vida de

um aluno.

87

Nome fictício: Professora 2

Data de nascimento: 07/12/1968

Formação: Magistério e cursando pedagogia

Tempo de docência: 20 anos

Ingresso nesta escola: 03/08/1998

No meu trabalho eu valorizo muito a troca de idéias com a coordenação e o

quanto um outro olhar pode orientar e minha prática.

Nos anos de trabalho nesta escola já passei por quatro diferentes

coordenadoras.

Cada uma delas contribuiu para minha busca de aperfeiçoamento e

pontuaram aspectos importantes para minha formação e sobre as competências

que eu já conquistara.

Atualmente, sinto-me numa fase de adaptação à nova coordenadora. Sua

antecessora tinha uma excelente relação comigo e juntas realizamos trabalhos

muito interessantes. Depois de um semestre, acho que estamos começando a ter

uma sintonia maior.

Ela confia em meu trabalho e sabe que eu já tenho autonomia em meu

planejamento, mas com “jeito” expressa suas idéias e críticas quando necessário.

A escola já possui uma linha de trabalho nas reuniões pedagógicas que

são formativas e procuram possibilitar troca de idéias entre as educadoras e

equipe escolar. Sugerimos sempre a participação de especialistas nas diversas

áreas do conhecimento para nos auxiliar em diversas questões.

As reuniões individuais são boas e tem melhorado gradativamente já que

estamos encontrando consenso em nossas questões.

Acredito que para melhorar de fato, é necessário uma escuta maior e a

efetivação daquilo que combinamos e planejamos.

88

Nome fictício: Professora 3

Data de nascimento: 01/07/72

Formação: Pedagogia

Tempo de docência: 12anos

Ingresso nesta escola: Setembro de 1996

A participação da coordenação na escola onde trabalha.

A coordenadora participa das reuniões pedagógicas coletivas e das reuniões

individuais semanais com as professoras.

Porém sua participação efetiva é mínima, geralmente é a dona da escola quem

conduz as reuniões coletivas e nas individuais a coordenadora contribui muito

pouco com o meu trabalho.

Seu horário é dividido entre o período da manhã e da tarde por isso ela só

aparece na escola duas vezes por semana no período da manhã (terça-feira e

quinta-feira), o que limita sua participação na continuidade no trabalho feito no

período da manhã.

Participa das reuniões de pais, mas fica apenas como observadora, porém já tive

coordenadora que me auxiliou muito nestas reuniões, pois preparávamos juntas e

ela participava como minha parceira muitas vezes enriquecendo minha reunião

com comentários pertinentes ou mesmo lembrando algo importante que às vezes

eu poderia ter esquecido.

A contribuição da coordenação no desenvolvimento de seu trabalho em

sala de aula.

Este ano estou com um grupo de interidades e tenho duas crianças de inclusão.

Não é um grupo fácil e a coordenação não tem me auxiliado muito com relação às

questões que tenho.

Muitas vezes me sinto sozinha para resolver muitas questões inclusive com os

próprios pais e geralmente uso minha intuição para resolvê-los principalmente

com as crianças da inclusão.

Peço para que venha observar minhas rodas ou alguns momentos específicos

aonde encontro maior dificuldade, mas ela nunca veio observar geralmente diz

que esqueceu.

89

Quando comento algo diz que vai ligar para as psicólogas das crianças de

inclusão ou pede para que eu tire as crianças da sala ou da atividade para dar

continuidade com as outras crianças. Percebo que fica tentando arranjar

estratégias fora do meu alcance e não consegue me ajudar.

Como percebe/sente as orientações dadas pela coordenação

Percebo que ela não gosta de resolver problemas, repara na estética dos

trabalhos colados na parede, mas pouco se preocupa com o processo de

produção.

Sente que seu trabalho é respeitado, sente-se autônomo em sua

realização?

Não consigo dizer se meu trabalho é respeitado ou se tenho autonomia porque

existe pouca participação da coordenação.

Mas talvez pelo fato de estar a tantos anos na escola acredito que meu trabalho é

respeitado, não sempre, mas tenho muita autonomia para fazer as atividades que

quero e planejá-las da melhor forma possível.

Contudo quando é algo que diz respeito a escola como Dia dos Pais quem decide

o que faremos é a dona da escola, que muitas vezes desrespeita a vontade das

professoras, e a coordenadora não se posiciona defendendo as professoras

perante a impossição da dona da escola.

Como são aproveitadas/utilizadas as Reuniões Pedagógicas? Se pudesse,

faria algumas modificações?

Nos últimos anos as professoras questionaram muito a função das reuniões

pedagógicas e com o tempo conquistamos muitas coisas e as reuniões

ganharam um caráter mais “pedagógico”. Uma das conquistas foi a síntese,

que é um relato feito pelas próprias professoras sobre o que abordamos na

reunião passada e com isso a professora tem um espaço para se colocar e

fazer comentários que gostaria de abordar com o grupo.

É sempre bom trazer coisas novas para a reunião o que não pode é estagnar

e acomodar.

Como são aproveitadas/utilizadas as reuniões individuais? Se pudesse,

faria alguma modificação?

90

Tenho aproveitado pouco as reuniões individuais, na verdade se pudesse não

participaria.

Acredito que uma boa reunião é quando a coordenação nos instiga. Abre

questionamentos, se envolve, traz observações feitas e tenta te auxiliar nas

questões mais difíceis.

Uma boa reunião é quando ambas as partes estão envolvidas e abertas para

discutir EDUCAÇÃO.

Que sugestões você daria para o trabalho da coordenação considerando

suas necessidades?

Já tive boas coordenadoras, que me incentivavam a melhorar, que se

mostravam parceiras em todo o processo e que a cima de tudo, respeitavam o

meu trabalho.

Acredito que o papel da coordenadora é o de mediadora. É ela quem proporciona

o elo harmonioso dentro da instituição escolar.

A coordenadora tem o papel de instigar e cuidar do que é a Educação.

91

Nome fictício: Professora 4

Data de nascimento: 03/06/1985

Formação: Pedagogia USP (2007)

Tempo de docência: 2 anos como professora e outros 2 como auxiliar de sala.

Ingresso nesta escola: agosto de 2006

Neste período de 2 anos na escola, tivemos três coordenadoras. Quando

iniciei meu trabalho, a coordenadora já estava lá há alguns anos e, por encontrar

outra proposta de trabalho, desligou-se da escola. Tivemos então uma espécie de

“coordenadora provisória” durante um semestre e, este ano, chegou a nova

coordenadora.

De início, senti que sua aproximação foi bastante respeitosa, na qual

procurava escutar para conhecer as professoras e o trabalho da escola. Porém,

com o passar do tempo e com as necessidades do dia a dia, fui cada vez

sentindo-me mais sozinha e sem apoio.

De um modo geral, não sei se pelo fato de ser uma escola pequena, o

trabalho da coordenadora fica muito embaralhado com o da diretora/dona e,

muitas vezes, apenas submisso. Apesar de estar claro quais as suas funções na

escola, ainda é confuso, pois não toma decisões definitivas e tudo o que

conversamos, depende do aval da direção e então é preciso falar das mesmas

coisas novamente.

As reuniões individuais passaram a ser um momento para relato do

trabalho que estou realizando. Que atividades realizei, o que estou pensando para

fechamento do projeto, coisas que as crianças disseram e etc. Nestes, ela é

capaz de dar idéias bacanas de trabalhos de artes, ou de outras pesquisas que

poderíamos realizar.

Porém, sempre que trago uma questão mais específica a respeito de algum

aluno com dificuldade, ou da minha dificuldade de lidar com determinada criança,

a coordenação se abstém de fazer comentários construtivos, diz apenas “É difícil,

né?”, “O pior é que este nem adianta conversar com os pais”.

92

Durante todo este tempo, não pude contar com a parceria dela para as

dificuldades que encontrei, além de achar que, em muitos momentos me

atrapalhou. Esquecia de me comunicar reuniões com as psicólogas de um aluno e

perguntava informalmente informações sobre este aluno para que pudesse

conversar com as psicólogas. Não me dava retorno dessas conversas e, sempre

que eu tentava falar a respeito de algum problema, ela parecia encontrar uma

maneira de fugir do assunto e, inclusive, uma vez, saiu e me deixou falando

sozinha.

Também sinto que nas reuniões pedagógicas a coordenadora é bastante

omissa e, ao contrário das outras experiências que tive, não conduziu nenhuma

das reuniões.

Fico incomodada com sua postura tanto nas nossas reuniões individuais,

quando atende o celular para ficar falando de assuntos pessoais, quanto quando

fala como um bebê quando conversa com as crianças. Ao se deparar com um

conflito entre as crianças, ao invés de tentar resolver conversando e negociando,

ela sai sem dizer nada ignorando que tal conflito aconteceu diante de seus olhos.

Às vezes acho que ela cria uma relação com os alunos que não é de uma

coordenadora de escola, e sim de mãe.

Ao mesmo tempo que tenho muita autonomia na sala de aula,

principalmente com relação a escolha de atividades e modo de trabalhar, é

mascarada que a escolha de um projeto é da professora que observa seus alunos

e faz uma avaliação daquilo que acha mais importante que eles vivenciem. Não

acredito que isso seja uma questão diretamente relacionada à coordenadora, mas

como disse no início do depoimento, esta não decide e, sua opinião não faz muita

diferença nestes momentos.

Se fosse possível, faria das reuniões individuais momentos para discussão

de questões específicas, e não um relato do cotidiano. Mesmo porque, as portas

das minhas salas estão sempre abertas para quem quiser conhecer meu trabalho.

Estou sempre disponível para explicar algum trabalho que está no mural, ou

então, para falar sobre algo inusitado que tenha acontecido na semana. No ano

passado, como tinha um grupo muito tranqüilo, além de discutir questões práticas,

selecionei com a antiga coordenadora um tema para pesquisarmos. Então ambas

93

procuramos textos, lemos e discutimos, o que enriqueceu e fortaleceu muito

nossa relação e confiança.

Na outra escola em que trabalhei, mesmo sendo auxiliar, a coordenadora

buscava questionar o porquê de determinada atividade, quais os objetivos e com

que critérios eu avaliaria aquela criança e etc; isto contribuiu muito para

enriquecer meus planejamentos e para me tornar a professora que sou hoje. Acho

que as auxiliares da escola deveriam ter um momento também de reunião com a

coordenadora para que pudessem esclarecer suas dúvidas e transformar este

espaço, num espaço de formação. Aliás, acredito que ser auxiliar de classe é

mais do que cortar papéis e levar as crianças ao banheiro.

Termino meu depoimento um pouco aliviada por ter falado sobre o assunto,

porém, angustiada. É sempre complicada essa relação que se estabelece quando

há uma falta de confiança e admiração com a coordenação. Tudo parece se

tornar motivo de questionamento e, cada vez mais, as aparências indicam que

continuamos sozinhas. Sinto que, nessa escola, não parece que acontecerão

grandes mudanças se esta coordenadora permanecer lá da maneira que é hoje.

Acho que é isso... para que haja uma boa parceria de trabalho é preciso que

exista uma colaboração entre as duas partes e, necessariamente essa confiança

e admiração.