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Página 1 de 2 O que será exigido do CEO do futuro? * por Valter Faria O mundo, especialmente o corporativo, está em constante mutação. A cada dia, são apresentadas tendências, apostas são feitas, novos gurus são entronizados e diversos outros caem em desgraça. É a vida, dirá o mais pragmático. Pode ser, mas a verdade é que uma importante tendência começa a se desenhar no horizonte e, salvo engano, tende a se concretizar: a ascensão dos executivos ligados à gestão de pessoas (leia-se, Recursos Humanos ou afins) para a função de Presidente Executivo nas corporações, os conhecidos CEO’s. Atributos exigidos na gestão de qualidade, tais como resistência a pressão, conservadorismo, formalismo, lealdade e centralização das principais decisões serão atributos do passado. Fortemente motivadas pela pressão por melhores práticas de Governança Corporativa após uma seqüência de escândalos corporativos (Enron, WorldCOM, Tyco, Arthur Andersen, etc.), as corporações ensaiam uma profunda mudança na maneira de se relacionar com seus públicos estratégicos. Percebem a cada dia que passa que a conversa não se resume apenas aos acionistas e ao mercado financeiro. Vai muito além. O CEO dos próximos anos deverá ser, acima de tudo, um gestor de pessoas e um comunicador capaz de alinhar interesses. E não apenas os corporativos, mas de todos os integrantes da cadeia de valor (clientes, fornecedores, parceiros, mídia, governo etc.). E quem mais do que um especialista na gestão de pessoas o mais indicado para o cargo? Sem dúvida trata-se de uma revolução. Em pouco mais de trinta anos observamos a ascensão e a queda de CEO’s dos mais diversos perfis e especializações. Até a década de 60 o líder de uma empresa devia ter profundo expertise sobre métodos de produção e produtividade. Na década de 70 foi a vez dos executivos com competência em marketing e vendas. Nos anos 80 e 90 os executivos com sólidos conhecimentos de finanças é que ocuparam essa posição. Nesse período o CEO dos sonhos devia ter, obrigatoriamente, um foco na gestão financeira, uma vez que a criação de valor se deu através da administração adequada de recursos, reengenharia e

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O que será exigido do CEO do futuro? * por Valter Faria

O mundo, especialmente o corporativo, está em constante mutação. A cada dia, são apresentadas tendências, apostas são feitas, novos gurus são entronizados e diversos outros caem em desgraça. É a vida, dirá o mais pragmático.

Pode ser, mas a verdade é que uma importante tendência começa a se desenhar no horizonte e, salvo engano, tende a se concretizar: a ascensão dos executivos ligados à gestão de pessoas (leia-se, Recursos Humanos ou afins) para a função de Presidente Executivo nas corporações, os conhecidos CEO’s. Atributos exigidos na gestão de qualidade, tais como resistência a pressão, conservadorismo, formalismo, lealdade e centralização das principais decisões serão atributos do passado.

Fortemente motivadas pela pressão por melhores práticas de Governança Corporativa após uma seqüência de escândalos corporativos (Enron, WorldCOM, Tyco, Arthur Andersen, etc.), as corporações ensaiam uma profunda mudança na maneira de se relacionar com seus públicos estratégicos. Percebem a cada dia que passa que a conversa não se resume apenas aos acionistas e ao mercado financeiro. Vai muito além. O CEO dos próximos anos deverá ser, acima de tudo, um gestor de pessoas e um comunicador capaz de alinhar interesses. E não apenas os corporativos, mas de todos os integrantes da cadeia de valor (clientes, fornecedores, parceiros, mídia, governo etc.). E quem mais do que um especialista na gestão de pessoas o mais indicado para o cargo?

Sem dúvida trata-se de uma revolução. Em pouco mais de trinta anos observamos a ascensão e a queda de CEO’s dos mais diversos perfis e especializações. Até a década de 60 o líder de uma empresa devia ter profundo expertise sobre métodos de produção e produtividade. Na década de 70 foi a vez dos executivos com competência em marketing e vendas. Nos anos 80 e 90 os executivos com sólidos conhecimentos de finanças é que ocuparam essa posição. Nesse período o CEO dos sonhos devia ter, obrigatoriamente, um foco na gestão financeira, uma vez que a criação de valor se deu através da administração adequada de recursos, reengenharia e

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fusões, muitas fusões. O desafio foi maximizar os recursos e o crédito. Esse foi um importante diferencial.

Esse modelo ainda persiste na grande maioria das grandes empresas. Mas apresenta sinais claros de desgaste. O mundo mudou, os stakeholders mudaram e os interesses também. Atualmente o CEO que foca as ações somente com o olho nos resultados financeiros perde credibilidade e expõe a imagem e a reputação da corporação. Se o foco recai sobre a questão operacional, também está comprometido, pois como a maioria das coisas à disposição no mercado, é possível comprar máquinas e indústrias prontas para uso. A tecnologia agora é um meio de ampliação da capacidade produtiva e de diminuição dos impactos ambientais.

Assim, quais são os desafios do CEO do futuro? Como os antecessores, administrar o capital. Mas este inclui, e acima de tudo, o humano. O diferencial desse líder se encontra na gestão da excelência da empresa naquilo que esta pode produzir mais e melhor: as pessoas. Deve ser um executivo com um firme propósito da partilha da gestão e das idéias.

E é aí que entra as melhores práticas da Governança Corporativa, nada mais do que um sistema de interação e gestão dos interesses dos stakeholders e dos administradores das empresas. O novo CEO terá de posicionar aos conselheiros, acionistas e demais públicos estratégicos. Pesquisas internacionais mostram que os mais importantes atributos pessoais do CEO do futuro serão: elevado padrão ético, visão, criatividade, capacidade para o diálogo e a conciliação, comprometimento com os resultados, a melhoria contínua da qualidade, produtividade, lucratividade, boa articulação (de idéias e na política) e - o mais importante - habilidade em se comunicar.

Esse CEO sabe que sem as pessoas toda e qualquer empresa do futuro estará com os dias contados. O investimento contínuo nas pessoas e no relacionamento com elas será, por muitos anos futuros, o diferencial daquelas corporações que almejam a vanguarda nos mercados, nos produtos, em ideais e idéias. Se você apresenta esse perfil ou está trabalhando para isso prepare-se: o mundo será pequeno para as possibilidades que serão apresentadas.

Valter Faria é consultor de empresas, especialista em governança corporativa, comunicação financeira e relações com investidores, com atividades acadêmicas pela FGV, FIA, BBS, Saint Paul, IBMEC-RJ e Anhembi-Morumbi. Atua pela Abrasca, Apimec-SP, IBGC e IBRI. Algumas das empresas atendidas incluem: Vale, Petrobras, Braskem, Usiminas, CSN, Telebrás, Telefônica, Telemar, TIM, , Arcelor, CSN, VCP e Klabin, entre outras. E-mail: v a l t e r f a r i a @ c o r p b r a s i l . c o m . b r

Artigo Publicado na Revista Empresa Familiar em 2006 - ISSN: 1808-6349