o que é psicologia maria luiza s. teles

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Maria Luiza S. Teles O que é Psicologia? Quem sou eu? Quais as minhas necessidades? Por que tenho conflitos? Em que sou diferente dos outros animais? Como aprendo? Por que, tantas vezes, sinto-me inadequado em meu trabalho, entre amigos, na sociedade? Em que me assemelho às outras pessoas? O que posso fazer para ter uma vida mais rica, feliz e produtiva? Como me relaciono com o ambiente físico e social? Estas são, decerto, algumas perguntas que todo ser humano se faz, desde que tem consciência de si. Em escritos muito remotos, já encontramos esta sorte de preocupações e tentativas de resolvê-las. A investigação sobre a natureza humana antecede, talvez, a História escrita e a própria Filosofia. Esta, como ato reflexivo, é tão antiga quanto o Homem. Como ciência do conhecimento sobre o conhecimento, porem, remota aos gregos. É claro que tanto a formulação das perguntas como as suas respostas têm sido diferentes de acordo com a época e a sociedade. Entretanto, uma coisa é certa: a preocupação com o interior do homem e com a maneira pela qual ele se relaciona consigo próprio e com o ambiente está sempre presente. Atualmente, época de rápidas transformações, essas questões s tornam mais imperiosas. A crise de identidade, que era própria da adolescência, se generalizou pelas outras fases da vida e toma conta de todos nós que vivemos numa cultura

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Psicologia

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Maria Luiza S. Teles

O que Psicologia?

Quem sou eu? Quais as minhas necessidades? Por que tenho conflitos? Em que sou diferente dos outros animais? Como aprendo? Por que, tantas vezes, sinto-me inadequado em meu trabalho, entre amigos, na sociedade? Em que me assemelho s outras pessoas? O que posso fazer para ter uma vida mais rica, feliz e produtiva? Como me relaciono com o ambiente fsico e social? Estas so, decerto, algumas perguntas que todo ser humano se faz, desde que tem conscincia de si.Em escritos muito remotos, j encontramos esta sorte de preocupaes e tentativas de resolv-las. A investigao sobre a natureza humana antecede, talvez, a Histria escrita e a prpria Filosofia. Esta, como ato reflexivo, to antiga quanto o Homem. Como cincia do conhecimento sobre o conhecimento, porem, remota aos gregos. claro que tanto a formulao das perguntas como as suas respostas tm sido diferentes de acordo com a poca e a sociedade. Entretanto, uma coisa certa: a preocupao com o interior do homem e com a maneira pela qual ele se relaciona consigo prprio e com o ambiente est sempre presente.Atualmente, poca de rpidas transformaes, essas questes s tornam mais imperiosas. A crise de identidade, que era prpria da adolescncia, se generalizou pelas outras fases da vida e toma conta de todos ns que vivemos numa cultura confusa, sem valores definidos e em busca da prpria identidade.Preso, hoje, da angstia que caracteriza sua vida num mundo louco, catico e competitivo, que valoriza sobremodo o sucesso, a juventude, a beleza, o dinheiro o Homem, mais do que nunca, se encontra dividido, cheio de dvidas e questionamentos, necessitando, pois, de ajuda.Sem tempo para parar e pensar, sem poder aproximar-se da Natureza, tantas vezes sem amigos com quem desabafar, sentindo-se s, vazio e alienado, cada vez mais o ser humano se torna vtima de doenas psicossomticas, isto , distrbios emocionais que se refletem fisicamente no organismo, como o caso da maioria das lceras.Pea de uma engrenagem social, quase sempre desumana e cruel, ele se v pequeno, esmagado, sem compreender o sentido a prpria existncia.Como auxiliar o indivduo em todos estes impasses? Como fazer emergir a reflexo sobre seu corpo, vivncias, relaes, desenvolvimento intelectual, emocional? Onde encontrar a proposta para uma vida mais rica, mais plena, mais livre?A Psicologia uma cincia que tenta buscar recursos neste sentido. Procura compreender o homem, seu comportamento, para facilitar a convivncia consigo prprio e com o outro. Pretende fornecer-lhe subsdios para que ele saiba lidar consigo mesmo e com as experincias da vida. , pois, a cincia do comportamento, compreendida esta em seu sentido mais amplo. Vale ressaltar que entendo comportamento no apenas como reaes externas, mas tambm como atividades da conscincia e mesmo do inconsciente, num plano indiretamente observvel.No interessam ao nosso estudo as mltiplas discusses e toda a polmica existente em toro da palavra comportamento ou mesmo do objeto e definio da Psicologia. O importante que voc entenda do que ela trata.Seu objeto tem variado ao longo do tempo e sua pr-histria confunde-se com a prpria histria da Filosofia. No sentido etimolgico, seria a cincia da alma ou o estudo da alma.Foi a partir da que os gregos comearam suas especulaes. Achavam que todo ser humano possua uma contraparte imaterial do corpo, de onde provinham os processos psquicos, dos quais o crebro seria apenas mediador. Durante sculos, foi como estudo da alma que a Psicologia existiu.Rompimento brusco neste conceito e deu com o filsofo francs Ren Descartes (1596 1650), cuja teoria do dualismo psicofsico distino entre corpo e mente impregnou as idias da poca e influenciou toda a psicologia posterior.Descartes considerava que o comportamento animal era mecanicista, isto , obedecia a aes puramente reflexas. Da o conceito de animais sem mente.A realidade consistia, para ele, em duas reas distintas: o domnio fsico do material e o reio imaterial da mente.O material tem massa, localizao no espao e movimento. Neste reino esto os organismo sub humanos, que sofrem processos fisiolgicos como alimentao, digesto, circulao sangnea, funcionamento nervoso, movimentos musculares e crescimento.J a mente no tem as caractersticas daquilo que fsico e suas atividades so raciocinar, conhecer e querer.Descartes no afastava a possibilidade de que algumas atividades fossem decorrentes da interao da mente com o seu correspondente fsico. Inclua entre elas a sensao, a imaginao e o instinto (impulsos para a ao).Desta forma, durante algum tempo, mais precisamente por duzentos e cinqenta anos, a Psicologia continuou sendo o estudo da mente ou da conscincia.Nos sculos XVIII e XIX, a mente era objeto de grande ateno por parte dos filsofos. Duas grandes correntes dominavam, ento, o pensamento ocidental: o empirismo ingls e o racionalismo alemo.O empirismo acreditava que todo conhecimento se baseava nas sensaes: os rgos dos sentidos recebiam a estimulao do mundo exterior e os nervos a conduziriam ao crebro; o resultado seria a percepo dos objetos, base de todo conhecimento humano.A filosofia empirista enfatizou, pois, os papeis da percepo sensorial e da aprendizagem no desenvolvimento da mente. John Locke, empirista ingls, afirmava que a criana nascia com a mente como uma tabula rasa, pgina em branco onde experincia e a percepo sensorial iriam inscrever todo o contedo.Os empiristas ressaltavam o papel da memria e das associaes mentais, para justificar a base sensorial do conhecimento. Alm disso, reduziam o contedo mental a elementos que se conjugariam atravs das associaes, como num mosaico.Juntamente com os iluministas franceses, os empiristas formaram o movimento psicolgico chamado Associacionismo, considerado por muitos como a verdadeira ruptura entre a Psicologia e a Filosofia.Os racionalistas alemes, por outro lado, afirmavam que a mente teria o poder de gerar idias, independentemente da estimulao sensorial. Todo o conhecimento se basearia, desta forma, na razo, e a percepo seria um processo seletivo. O problema central para os racionalistas no era o que estava na mente, mas o que esta fazia. Suas atividades principais eram perceber, recordar, raciocinar e desejar. E acreditavam que, para realizar estas funes, a mente teria faculdades especiais.No concordavam, absolutamente, com os empiristas no reducionismo da mente a elementos. Acreditavam ser a atividade mental muito mais complexa e que os conceitos ou percepo dos objetos fossem reduzidos a elementos perderiam o seu contedo verdadeiro. Assim, por exemplo, uma melodia no pode ser reduzida a suas notas musicais, sem que perca seu aspecto caracterstico.Esta discusso se prolonga nas cincias psicolgicas e, ainda hoje, mostra-se como controvrsia no resolvida.As primeiras escolas psicolgicas do sculo XX vo se apresentar bastante imbudas dos princpios destas duas correntes.Ao iniciar-se o sculo XIX, a situao era a seguinte: enquanto os filsofos pretendiam ser possvel uma cincia do psiquismo ainda que com discursos abstratos e formais, sem conseqncias prticas nem possibilidade de descobertas autnticas os cientistas, valendo-se do mtodo experimental, consolidavam definitivamente a Fsica e a Biologia, cincias estas que iriam deter descobertas que interessariam intimamente Psicologia.Podemos afirmar, alis, que ao longo do sculo XIX, o que existe e praticado nos laboratrios uma psicofsica ou psicofisiologia, tamanha a confuso entre os princpios da Fsica e da Biologia e os estudos psicolgicos.O nascimento da Psicologia como disciplina autnoma s vai ocorrer, verdadeiramente, a partir de 1879, em Leipzig, com a criao por Wundt do primeiro laboratrio exclusivamente dedicado aos estudos psquicos.A Psicologia passa, ento, a ser considerada cincia, pelo simples fato de os cientistas a ela se dedicarem experimentalmente. Entretanto, no se fala ainda em comportamento, conduta ou ao.Preserva-se o vocabulrio cartesiano, distinguindo-se, de um lado, a conscincia sede das percepes, idias, sentimentos e motivos e, de outro, os movimentos.No incio do sculo XX, com o aparecimento das chamadas escolas psicolgicas: Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo, Gestaltismo e Psicanlise, ocorre um rompimento com o dualismo implcito na Psicologia, ento definida como a cincia do psiquismo ou dos fatos da conscincia. (No possvel aqui, num simples texto introdutrio, tratar do contedo de tais escolas. Pesquisa a respeito poder ser feita em alguns dos livros indicados ao final desta obra.)A Psicologia tem agora campo prprio de estudo. Muito se tem discutido, porm, sobre qual seria esse campo. Uma coisa certa: ela se preocupa com o Homem, diferentemente de qualquer outra cincia. Tem objeto determinado, objetos claros, usa mtodos especiais, embora seu campo de estudo ainda se confunda, em suas fronteiras, com a Filosofia por um lado, e as Cincias Sociais, por outro motivo pelo qual tambm considerada uma cincia biossocial.Lauro de oliveira Lima, uma das maiores expresses brasileiras o campo da Educao, di em Mecanismo da Liberdade (1980): H uma razo epistemolgicas para se considerar a Psicologia individual uma microssociologia. No possvel observar o ser humano seno atravs de momentos nos quais se encontra em interao. Os fenmenos psicolgicos, portanto, so sempre fenmenos estruturais e estruturantes, uma vez que toda relao circular as relaes humanas so circulares tende a criar uma estrutura. Da decorre que a Psicologia tem de invadir as fronteiras da Sociologia, quer dizer, do estudo das relaes na forma de agir modificada modifica, por sua vez, a relao. O estudo interdisciplinar o mnimo que se exige nesta abertura de fronteiras.Por outro lado, no se pode negar que o indivduo um organismo em ao. A entra o campo da Biologia.A Psicologia no estuda apenas o comportamento humano. Estuda ainda o comportamento animal, principalmente de ratos e chipanzs, pois este estudo oferece subsdios interessantes na compreenso das bases do comportamento humano. Generalizar, porm, como regra, as reaes animais para o Homem, seria, a meu ver, ignorar a peculiaridade deste ser capaz de criar cultura, emocionar-se, percebe o que se passa com seus iguais e sentir com eles.Acreditar que a Psicologia deva ser cincia nos moldes daquelas que se baseiam principalmente no mtodo experimental, seria empobrec-la por demais, j que o Homem um ser especial da natureza.Aceito, ento, a Psicologia como uma cincia que no tem condies de usar sempre os mtodos tradicionais das chamadas cincias exatas.O Behaviorismo, uma das modernas correntes psicolgicas, entende o Homem como sendo uma caixa preta, considerando, portanto, sua mente e psiquismo como inacessveis ao estudo pela Psicologia. Os behavioristas resumem tudo em Estmulos e Respostas. Para eles, cada estmulo determina uma resposta especfica. E s isto o que se pode conhecer.Quer me parecer, entretanto, que o fato de o observador ser tambm humano e conhecer, certamente, a histria pessoal e a cultura particular do observado lhe permite penetrar nessa caixa preta, por um processo de identificao.Concluindo: a Psicologia o estudo do comportamento. E como o Homem e seu bem-estar so os nossos interesses principais, do comportamento humano que trataremos aqui.Para que se tenha noo da extenso do campo da Psicologia, eis algumas questes que lhe so pertinentes:- Como aprendemos?- Como se d o desenvolvimento fsico, motor, emocional, social e intelectual da criana?- O que a crise da adolescncia?- Que fatores influem no desenvolvimento?- Que so emoes? Elas so inatas ou aprendidas?- Por que nos lembramos e esquecemos?- Como se desenvolve o pensamento?- Qual a ligao entre pensamento e linguagem?- Como s d resoluo de problemas?- Qual a influncia do grupo sobre o indivduo?- Como se desenvolve a personalidade?- Como se d a percepo?- Quais so os fatores responsveis pelos diversos tipos de retardamento mental?- O que motiva o comportamento?- Como explicar as diferenas individuais?- Quais as causas dos desvios de comportamento?- Como atuar sobre o desajustamento?- Qual a influncia dos valores e das atitudes na percepo dos indivduos?- Como estimular a criatividade das pessoas?Pode-se perceber que o campo da Psicologia bastante vasto e trata de questes fascinantes para todos aqueles que desejam compreenso mais profunda de si prprios e de seus semelhantes. conhecimento indispensvel para quem quer que v lidar mais diretamente com as pessoas. esse o caso no s dos psiclogos e psiquiatras, mas tambm dos mdicos, educadores, professores, assistentes sociais, eclesisticos, advogados etc.Como estudo cientfico do comportamento, a Psicologia deve procurar alcanar trs objetivos: a descrio, a predio e o controle do comportamento.A descrio a primeira etapa buscada pelo cientista do comportamento. Refere-se necessidade de se tornarem claramente explcitas as condies nas quais o fenmeno ocorre, sem qualquer referncia ao significado. Por exemplo: um experimentador que esteja observando o efeito do excesso de tenso sobre a aprendizagem dever, simplesmente, descrever todas as etapas do fenmeno, tais como efetivamente se apresentam, sem nenhuma colocao de interpretaes pessoais.Esta operao bastante difcil para o psiclogo, pois, ainda que involuntariamente, sua tendncia envolver-se e tentar comprovar, de todo modo, suas hipteses pessoais. Alm disso, a prpria disposio psicolgica do observador pode interferir na resposta do observado.A predio o segundo nvel a ser alcanado pelo cientista. A capacidade de predio em Psicologia j possvel em algumas reas onde hipteses foram comprovadas e relaes de causa-efeito estabelecidas atravs de estudos criteriosos. Se, por exemplo, um rato recebeu alimento cada vez que manipulou uma alavanca, poder-se- prever, com certeza, que, ao sentir fome, novamente haver de pression-la.Um terceiro objetivo o controle ou a capacidade de manipular o comportamento dos indivduos, por meio de certas tcnicas. Tal manipulao muito usada no campo das relaes humanas, principalmente em empresas, publicidade etc. Exemplificando: Consideremos o caso da propaganda, em que mensagens subliminares (estmulos poucos intensos que, com a repetio, produzem certos efeitos) induzem a determinado tipo de comportamento por parte do pblico.Deve-se, pois, ser capaz de descrever o comportamento de forma precisa e explic-lo adequadamente, antes de se poder pensar em prediz-lo ou mud-lo, com razovel margem de xito.

O HOMEM: UM SER ESPECIAL

O estudo do Homem extremamente difcil e enorme a ignorncia em relao a ele. O modo de ser biolgico do homem e seu desenvolvimento no podem ser ignorados, pois orientam no sentido de seu comportamento.O Homem um animal essencialmente diferente de todos os outros. No apenas porque raciocina, fala, ri, chora, ope o polegar, cria, faz cultura, tem autoconscincia e conscincia da morte. tambm diferente porque o meio social seu ambiente especfico. Ele dever conviver com outros homens, numa sociedade que j encontra, ao nascer, dotada de uma complexidade de valores, filosofias, religies, lnguas, tecnologia.Se tem um sistema nervoso mais elaborado que dos outros animais e possui capacidade que eles no possuem, encontra-se, no entanto, ao nascer, mais vulnervel e menos apto para a sobrevivncia.Um beb humano, por exemplo, no consegue prover sozinho sua alimentao, enquanto que a maioria dos animais j auto-suficiente a nascer.Longos anos havero de se passar at que o ser humano tenha condies fsicas, intelectivas e emocionais para sobreviver em seu ambiente prprio. O animal provido de instintos, o homem no. Por isso ele ter que aprender quase tudo.Mas, no se ouve dizer instinto de sobrevivncia, instinto sexual etc., quando se refere ao ser humano? Que histria essa? o leitor dever estar pensando. simples de explicar: o animal nasce com uma programao gentica, um equipamento inato que p prepara para todos os atos da sobrevivncia. Ningum lhe ensina que poca de procriar, que existe gua por perto ou que ele dever defender-se. Ele j est preparado pela prpria Natureza para tudo isto.J observaram como o Joo-de-barro constri sua casa ou como as abelhas constroem a colmia?J viram algum Joo-de-barro que construsse um modelo diferente de casa ou abelhas que construssem colmias diferentes? Desde que o mundo mundo, eles sempre repetiram o mesmo comportamento , pois, estereotipado. E a isto que chamamos instinto: uma srie de atos repetitivos que levam a determinado fim.J o homem ter de aprender as coisas mais simples, como mamar. O beb nasce com reflexo de suco, mas, at que consiga pegar bem o bico do seio e sugar sem engasgar, precisa de certo treino.O ser humano tem, portanto, reflexos, necessidades, impulsos, mas no instintos, pois, para atender s necessidades mais primrias, necessita de alguma aprendizagem. Ele tem o impulso de sobrevivncia, a necessidade de alimento etc., mas para atend-los precisa aprender. E vai aprender de acordo com os padres correntes em sua sociedade especfica e em sua famlia. Assim, h pessoas que comem usando talheres, enquanto outras usam pauzinhos ou, ainda, as prprias mos.No tem muita importncia, porm, se usamos a palavra impulso ou instinto. O que importa compreender que, nesta questo de sobrevivncia e adaptao ao ambiente, o Homem um ser muito especial, pois tem de aprender praticamente tudo e possui uma capacidade extraordinria para isso.A aprendizagem, que significa mudana de comportamento como resultado da experincia, ser bsica em todo o processo humano de ajustamento. Ajustar-se significa aprender formas de comportamento que permitam ao indivduo adaptar-se s exigncias internas e externas que lhe so impostas.A fim de evitar dvidas, bom lembrar que o animal tambm aprende. Apenas tem menos capacidade para tal, j que no capaz de raciocnio, e menos necessidade, j que seu ambiente simples e ele provido de instintos.

A Linguagem

preciso ressaltar que o Homem no seria capaz de fazer cultura e nem de pensar sem a linguagem.Os animais se comunicam, mas no conseguem falar, nem usar smbolos.A linguagem permite ao Homem ligar o presente ao passado e antecipar o futuro. atravs dela que o Homem pensa, lembra, elabora conceitos, organiza suas experincias, trabalha no nvel da abstrao, prev, julga, planeja, idealiza.Sem a linguagem, tanto oral quanto escrita, teramos de estar eternamente recomeando, pois no haveria como transmitir todo o acervo cultural que o Homem conquista em determinado momento histrico.Fundamental, portanto, no comportamento humano o fator da linguagem. Atravs dela so introjetados os valores prprios de uma sociedade, moldando a personalidade do indivduo; tambm atravs dela que as pessoas se comunicam, passando umas para as outras suas expectativas de comportamento.Sem a linguagem, pois, no haveria esse meio social, esse processo de trocas, colocado como caracterstica bsica no aprendizado humano. A linguagem , ento, instrumento e produto social e histrico.Nossa viso de mundo, a maneira como vamos compreender a realidade esto estreitamente ligadas linguagem. atravs das nossas relaes com os outros, em que a linguagem se coloca como fator primordial, que vamos elaborar nossas representaes do que o mundo. A palavra est, ento, intimamente ligada transmisso ou imposio da ideologia dominante.Voltando caracterstica prpria do ser humano o fato de que seu desenvolvimento se d em um meio social lembremos que as palavras dos outros se tornam nossas palavras, sua maneira de falar, nossa maneira de falar; as idias que eles veiculam atravs da palavra se tornam nossas idias e as respostas esperadas ao estmulo de cada palavra so sempre reforadas pelo meio social. Assim, por exemplo, se a criana usa uma palavra ligada a sexo, em nossa cultura, ela reprovada com uma cara fechada uma bofetada, palavras de repreenso ou mesmo um castigo. Ela aprende, ento, trs coisas: que a palavra no deve ser dita; que, se for dita, ser considerada como agresso; e, ainda, que o sentido implcito, sexo, no algo bem aceito em sua sociedade.Sendo a linguagem to importante, estreitamente ligada ao comportamento global e instrumento bsico na resoluo de problemas e na criatividade, seria o caso de se perguntar se a Psicologia no , tambm, a Cincia das Comunicaes e o psiclogo um verdadeiro comuniclogo. Parece ser por a que as coisas caminham hoje em dia. Atualmente um novo campo de estudo a psicolingstica est se desenvolvendo. Os psicolingstas estudam como a linguagem adquirida e usada e a maneira pela qual funciona como estmulo que induz a determinado comportamento. A linguagem pode estimular diretamente um padro de resposta especfico e isto crucial na aprendizagem e na elaborao mental.

O Mecanismo do comportamento

Como se comporta o Homem? Por que se comporta de determinada maneira? O que pode ser feito em relao ao seu comportamento? E o que, finalmente, leva o homem a comportar-se? Isto , por que, ao invs de ficar quieto em um canto, ele age e se movimenta no sentido de buscar alimento, praticar esportes, ganhar dinheiro etc.?Pelo simples motivo de que todos temos necessidades fsicas, psquicas e sociais que nos levam a agir em busca de satisfao ou reduo de tenso.Toda vez que estamos insatisfeitos, seja de que ordem for esta insatisfao, tornamo-nos tensos, isto , nossos msculos se enrijecem e certas glndulas liberam determinados hormnios em nosso sangue. A teno desagradvel. Assim, a tendncia natural ser procurar alguma forma de nos livrarmos dela.Toda necessidade, portanto, provoca tenso que leva ao, visando a um objetivo (processo de motivao). Quando este objetivo alcanado, h a reduo de tenso e, portanto, o relaxamento, acompanhado de sensao agradvel. Este estado de equilbrio que o organismo alcana com a satisfao da necessidade chamamos de homeostase.Nossas necessidades so inmeras. Algumas nascem conosco, mas a maioria delas aprendemos no convvio social. No temos necessidade apenas de alimento, gua, oxignio, evitar a dor, sexo, manter o equilbrio trmico do organismo etc. Temos tambm a necessidade de afeto, de contato, de aprender (curiosidade), de transcendncia (ir alm do que objetivo e palpvel), assim como de prestgio, aprovao etc. Assim, so mltiplas as razes pelas quais somos levados a agir e o fazemos at a morte.Neste nterim, entre concepo e morte, estamos no apenas agindo e interagindo, mas ampliando nossos conhecimentos e crescendo em todos os sentidos.No apenas procuramos atender s nossas necessidades, mas temos tambm quando nada desviou o nosso desenvolvimento da normalidade tendncia a querer ajudar o outro no atendimento das prprias necessidades, assim como a criar, inovar, renovar, fazer evolurem as instituies e a tecnologia.O Homem , pois, ao nascer, apenas um organismo biolgico que, em contato com os outros de sua espcie, dever tornar-se Pessoa, Gente, um verdadeiro ser humano. Ele vai desenvolver um self, que a conscincia de si, a capacidade de se ver e se analisar, de perceber o que o outro pensa e sente, colocando-se em seu lugar.O que o indivduo traz consigo ao nascer? Sua constituio fsica, fruto da unio entre os gametas dos pais: o espermatozide e o vulo. Estes gametas lhe forneceram caractersticas prprias do gnero humano e caractersticas individuais, que faro dele um ser nico na natureza.Muitas potencialidades que traz, por ocasio do nascimento, vai desenvolver, ao longo da vida, em contato com as outras pessoas e como fruto de experincias pessoais.Alm dos reflexos, o equipamento humano inato presume impulsos, necessidades, emoes bsicas, mecanismo de resposta, capacidade de percepo, potencial intelectual, processos sensrios, memria, temperamento.Com o desenvolvimento do sistema nervoso, o indivduo torna-se cada vez mais capaz de aprender. Assim, aprender tambm outras necessidades, outras emoes e desenvolver sentimentos, educar seu temperamento etc.Em nossa existncia no mundo iremos, pois, nos adaptando; com isso, desenvolveu e, at certo ponto, modificando o prprio equipamento inato. O que seremos depender fundamentalmente das nossas experincias na Famlia, na Escola, na Sociedade. De um lado, portanto, est o Eu e do outro o Mundo. da interao Eu-Mundo que h de se formar a personalidade. O mundo implica uma srie de regras, limitaes, conceitos: pode, no pode, certo, errado. A criana se v diante de um Mundo desconhecido, mas encontra j delimitados os mapas que dever seguir. E, durante toda a sua vida, uma luta ferrenha h de se impor: O Eu tentando preservar a individualidade e a Sociedade tentando impor seus conceitos e padres. A criana com raiva, por exemplo, deseja naturalmente extravasar esta emoo, no que , quase sempre, impedida pelos representantes da sociedade, os pais e professores. Digamos tambm, que Joozinho deteste cebolas (isto prprio dele, uma expresso de sua individualidade). No entanto, forado a com-las, pois os pais acreditam que isto importante para sua sade.O processo de ajustamento ser, ento, fundamental para a existncia e consistir em meios atravs dos quais o indivduo haver de adaptar-se s exigncias de seu organismo e do meio ambiente., basicamente, uma harmonizao entre o Eu e o Mundo. Liga-se, portanto, s necessidades do indivduo, assim como sociedade, papis e situaes especficas que vive.O ajustamento , em conseqncia, um processo de aprendizagem, em que as reaes teis so aprendidas e as que se mostram ineficientes abandonadas. Muitas vezes, entretanto, reaes que se apresentam como teis, em determinado momento, para a reduo de tenso excessiva, podem ser perigosas para o ajustamento geral do indivduo. Da pode surgir o desajustamento, pois estas reaes costumam tornar-se to firmes como hbitos, que o indivduo se torna incapaz de super-las. Por exemplo; uma doena pode ter sido, em determinado momento da vida, uma forma de obter carinho.Em conseqncia, o sujeito pode adoecer sempre que esteja necessitando de ateno. Esta uma forma anormal de ajustamento.Nascemos dentro de uma srie concntrica de grupos, alguns maiores, outros menores: famlia, grupo local, nacional etc. Neles nos integramos, formando, dentro de suas estruturas, a estrutura de nossa personalidade. Deles recebemos valores, que no so apenas uma preferncia e dos padres do deve e do precisa, que influenciam a nossa ao.Alm dos determinantes biolgicos e sociais, todos os indivduos vivem situaes que lhes so peculiares. H coisas que acontecem s pessoas: um encontro acidental, o fato de ter nascido em determinada famlia, uma falncia, a morte de um amigo... So acontecimentos particulares, que no se ligam, de modo geral, aos padres de todo um grupo e que, no entanto, sero fundamentais no desenvolvimento da personalidade.De modo bastante elementar, o comportamento humano poderia ser explicado da forma que acabei de apresentar. Entretanto, bom lembrar que, nem sempre, as explicaes para determinado comportamento podem ser muitos simples. Isto por que a causalidade mltipla costuma ser regra em Psicologia, significando que os fatores que influem no comportamento costumam ser numerosos, sendo difcil, ou mesmo impossvel, isolar uma causa nica para explicar dado comportamento.Outro elemento importante, vale ressaltar, que o sujeito vai reagir ao mundo (isto , multiplicidade de estmulos que o atingem) conforme ele os percebe.Resumindo, o processo de desenvolvimento humano um processo de ajustamento. Todos devemos atender uma srie de necessidades internas e, ao mesmo tempo, s imposies e limitaes do ambiente, tanto social quanto fsico. Em suma: o objetivo de todo comportamento a aquisio de um repertrio de respostas que nos permitam harmonizar as duas tendncias.

Conflito, frustrao e ansiedade

Muitas vezes, e por mltiplas causas, no podemos ser satisfeitos. A frustrao que exatamente o contrrio da satisfao, uma constante no somente em nossas vidas, mas tambm na vida dos animais.Toda vez que desejamos alcanar um objetivo e no conseguimos, sentimo-nos frustrados. Experimenta-se pois, a frustrao sempre que necessidades importantes so contradas.Como a frustrao decorre da contrariedade de algum motivo e como os motivos humanos variam de indivduo para indivduo, no se pode especificar todas as situaes que resultam em frustrao. Mas, de modo geral, esta pode ser classificada em: frustrao por demora, por contrariedade e por conflito.A frustrao por demora talvez a mais comum e aquela a que as pessoas se adaptam com maior facilidade. O beb faminto, que tem que esperar a mame preparar a mamadeira, j lida com este tipo de frustrao. E a criana quem mais sofre com ela, pois no tem idia real do tempo e desconhece que a satisfao poder vir em seguida.A frustrao por contrariedade ocorre quando alguma interferncia, alguma barreira nos separa de nosso objetivo. Exemplos: o beb que deseja pegar um objeto e impedido pela me; uma moa que deseja ir a uma festa e impedida pelos pais; namorados que esto tensos sexualmente e so impedidos de manter relaes por uma srie de circunstncias. Este tipo de frustrao bem mais doloroso e difcil de ser suportado. J a frustrao por conflito acontece quando nos vemos diante de duas exigncias e s podemos atender a uma. Mais adiante, me deterei um pouco mais nesta forma to comum de frustrao, com a qual temos que lidar a todo momento.Fonte corriqueira de boa parte de nossas frustraes de origem social. Como vimos, algumas linhas atrs, a criana encontra um mundo onde as regras do jogo j esto determinadas. E estas regras muitas vezes, esto em contradio com os seus desejos, impulsos, necessidades. A criana tentar, de toda forma, afirmar-se, mas encontrar sanes cada vez que contrariar as determinaes do grupo social. A princpio, ter grande dificuldade em lidar com as frustraes. Com o tempo, porm, aumentar sua capacidade e aprender formas conciliatrias.Os indivduos podem reagir frustrao de diversas maneiras, algumas positivas e outras negativas no no sentido tico mas no de ser melhor ou pior para o ajustamento global.Agresso, agresso deslocada, regresso, fantasia, fixao, apatia e outros mecanismos de defesa costumam ser conseqncia da frustrao, assim como o esforo intensificado, a mudana dos meios e a substituio do objetivo.Exemplificando:- agresso: o marido chega em casa com fome e, no encontra o almoo pronto, agride verbalmente a esposa.- agresso deslocada: o garoto impedido pelos pais de ver um filme, no podendo se volta contra eles, bate no irmo menor por questo de somenos importncia.- fantasia: a moa que, no conseguindo conquistar determinado rapaz, passa, com freqncia, a imaginar-se nos braos dele, em situaes amorosas.- regresso: a criana, j grandinha, que, por um fracasso na escola, volta a urinar na cama.- fixao: algum que com gritos conseguiu, em alguma ocasio, alcanar seu objetivo, repete sempre o mesmo comportamento toda vez que deseja obter algo, embora a estratgia possa no mais funcionar.- apatia: um garoto depois de repetir o ano vrias vezes na escola, no mais se esfora no estudo e no se importa com mais nada.-esforo intensificado: algum que, tendo perdido um concurso, passa a estudar com mais afinco para o prximo.- mudana dos meios: um macaco peleja para alcanar uma banana colocada a uma certa distncia da jaula e no consegue; pega, ento, uma vara e puxa com ela a banana.- substituio de objetivos: a moa abandonada pelo noivo, que arruma outro namorado.Existem outros mecanismo, chamados por Freud de mecanismo de defesa do ego. Eis os mais comuns, diante da frustrao:- racionalizao: maneira de justificar logicamente o que fazemos e aquilo em que acreditamos.Exemplos: no passei no concurso porque as provas foram mal elaboradas;no dancei com fulano porque ele no me interessa (sendo que ele nem tomou conhecimento da presena dela; este o mecanismo das uvas verdes); estou muito satisfeita por meu filho ter perdido o vestibular, acho que bem melhor que ele trabalhe (mecanismo do limo doce).- Compensao: a pessoa disfara as fraquezas mediante o realce de uma caracterstica desejvel ou encobre frustrao numa rea pela excessiva gratificao em outra. Exemplos: pessoa que, frustrada sexualmente, se compensa alimentando-se com exagero; o menino de constituio franzina que, no conseguindo sobressair-se nos esportes, dedica-se intensamente aos estudos e consegue ser o primeiro da classe.- projeo: significa culpar outros pelas nossas dificuldades ou atribuir-lhes os prprios desejos no-ticos. , portanto, uma forma de auto-engano, pela qual atribumos a algum nossas limitaes, desejos, pensamentos indesejveis, inclusive, motivos e comportamentos que expliquem nossas atitudes. Exemplos: uma mulher desejava fazer um curso superior, mas nunca se animava a prestar o vestibular. Por fim, vivia se lamentando e dizendo que no havia estudado porque o marido nunca a incentivara.- identificao: a assimilao das qualidades de uma personalidade qualquer que possui o desejado, aumento com isso o sentimento de valia prpria. Exemplo: uma pessoa que se ressente com a pobreza procura imitar o comportamento de indivduos de classe social mais abastada, sentindo-se com isso superior.- fuga: mecanismo atravs do qual o sujeito evita a situao que pode provocar-lhe frustrao. Exemplo: um aluno, despreparado para um exame, apresenta no dia marcado uma terrvel dor de cabea, que o impede de realizar a prova.- negao: a pessoa se nega, sistematicamente, a enxergar a realidade dolorosa. Por exemplo: a me que, avisada de que seu filho usa drogas, no procura investigar e afirma com veemncia que aquilo no verdade. impossvel viver sem frustraes. Entretanto, a frustrao crnica pode ter efeitos bastante deletrios, como o abalo da sade fsica. A frustrao prolongada pode provocar distrbios como lceras, presso alta, asma, erupes cutneas, dentre outros.Todo indivduo tem determinado nvel de tolerncia frustrao. Sempre que ela ultrapassa este nvel, desorganiza-se o comportamento. No entanto, enquanto algumas pessoas, mesmo diante de frustraes persistentes, continuam calmas e senhoras da situao, outras se tornam agitadas, emocionalmente perturbadas e sem nenhuma condio de enfrentar os problemas. claro que muitos fatores podem diminuir a tolerncia da pessoa frustrao, como o cansao, a doena e a fome.J vimos que o conflito se apresenta quando nos vemos diante de duas exigncias e s podemos atender a uma. Se um impulso , pois, travado por circunstncias ou razes igualmente poderosas, ocorre conflito ou indeciso.O conflito pode se dar entre exigncias internas e externas, entre duas exigncias externas ou entre duas exigncias internas. Dependendo da natureza do conflito, o sujeito pode apresentar desde ligeira indeciso at bloqueio completo ou enorme tenso.Exemplos de conflitos; vou ao teatro ou ao cinema? (duas opes agradveis); Amo Lcia demais, mas seu gnio terrvel. Caso-me ou no com ela? (o objetivo , ao mesmo tempo, agradvel e desagradvel); Ponho o relgio no prego ou no pago o aluguel? (as duas opes so desagradveis).Existem obstculos que, freqentemente, interferem na resoluo dos conflitos, como o fracasso em reconhecer-lhes as foras bsicas subjacentes que, quase sempre, so inconscientes, e a prpria tenso, irritabilidade, nervosismo, agressividade e protesto que costumam acompanh-los. Em situaes de conflito ou frustrao, o indivduo tende a apresentar ansiedade. medida que a criana se desenvolve, encontra frustraes e ameaas que tendem a produzir agresso, ansiedade e tenso. Os conflitos entre as valncias positivas (o que agradvel) e negativas (o que desagradvel) elevam o nvel de tenso e causam alteraes fisiolgicas difusas, assim como interferncia com os processos psicolgicos.A intensidade da tenso , em grande parte, funo das intensidades das valncias positivas e negativas. Pode-se descarregar temporariamente a tenso psicolgica mediante catarse, mas esta no resolve o conflito. Os conflitos podem ser aliviados mediante as defesas do ego. As solues a largo prazo, entretanto, dependem de se encontrar formas socialmente aceitveis, evitando as valncias negativas ou substituindo a valncia positiva por outra menos ativadora de ansiedade.A ansiedade bastante semelhante ao medo e desencadeia as mesmas sensaes fsicas, como tremores, taquicardia, transpirao, palidez etc. H, porm, uma diferena capital entre ambos. O medo reao diante de perigo real, objetivo, enquanto a ansiedade sensao difusa diante de perigo imaginrio ou oculto e subjetivo.A caracterstica principal da ansiedade a impresso de que algo terrvel e indefinido ameaa o indivduo, algo contra o qual ele se sente impotente.Suas causas residem, primordialmente, nos impulsos hostis reprimidos e em quaisquer outros impulsos, desde que imperiosos e veementes, cuja satisfao signifique uma violao de outros interesses ou necessidades vitais.A ansiedade danosa ao organismo, provocando reaes psicossomticas que podem ser bastante significativas.De modo geral, a ansiedade desencadeia no indivduo um nvel de tenso que pode resultar em duas reaes diferentes: depresso ou excitao, ou ambas alternadas. H sintomas particulares somatizados: o corpo apresenta rigidez muscular, manifestada por movimentos secos e gesticulao se fluidez; a respirao torna-se retida, tensa, superficial. Se predomina o sistema nervoso simptico, aparecem falta de apetite, digesto lenta, priso de ventre; se o parassimptico, surgem apetite voraz, rapidez digestiva, compulso alimentar. No primeiro caso, tendncia agitao, descontrole da imaginao, insnia; no segundo, apatia e sono exagerado.Em ambos os casos esto presentes as sensaes de fadiga ou esgotamento.A tenso excessiva pode, tambm, fazer com que o indivduo apresenta um mal-estar difuso, causando temor, instabilidade afetiva, susceptibilidade, incapacidade para suportar o desagradvel, incapacidade de concentrao, pouco rendimento intelectual. O indivduo se torna desanimado, indolente, ou se compensa no ativismo, apresentando instabilidade.Qualquer dessas manifestaes e somatizaes, portanto, indica que o indivduo est vivendo sob estado de tenso e, quando esta extremamente dolorosa, pode fazer com que a pessoa procure meios de reduzi-la ou elimin-la, sem atender a qualquer resultado de inadequao.O conflito, a frustrao e um certo grau de ansiedade fazem parte de dinmica da vida. Entretanto, quando passam a ser uma constante e o indivduo, emaranhado neles, se coloca num crculo vicioso, que no leva a caminho algum mas apenas aumenta seu sofrimento, instala-se nele a neurose.Nos conflitos neurticos, as tendncias contraditrias em ao no so reconhecidas, mas profundamente reprimidas; os fatores emocionais so racionalizados e as tendncias em ambos os sentidos so compulsivas, fortes, irresistveis. Sendo os conflitos inconscientes, as tendncias opostas reprimidas e as emoes sempre racionalizadas, torna-se ento extremamente difcil, quase impossvel, ao indivduo apresenta medos generalizados: de enlouquecer, de ser desmascarados, do ridculo, da desconsiderao, da humilhao, de qualquer situao de mudana. Desperdia muita energia, estagnando-se na ineficcia e na incapacidade de assumir uma atitude definida. Apresenta depresso crnica, passando a preocupar-se com o futuro, a morte, idias suicidas e mostra desencorajamento, desalento, conformismo. Algumas vezes, revela tendncias sdicas, com a escravizao moral e psquica de outrem, manejamento das emoes alheias, explorao e humilhao de outrem, tendncia para depreciar (gosto de focalizar os defeitos dos outros), inveja e sentimento de vingana, sadismo revertido (espcie de masoquismo ou gosto pelo sofrimento).Sentimentos de culpa so expresso de ansiedade ou de defesa contra ela. So, tambm, efeito do medo da reprovao. Mas por que o neurtico tem medo da reprovao? Em primeiro lugar, por causa da discrepncia entre a fachada, que apresenta para si e para os outros, e as tendncias recalcadas que jazem por detrs; em segundo lugar, porque quer esconder o quo fraco e inseguro se sente; e, finalmente, porque, mais do que os outros, tem necessidades da aprovao alheia que significa, para ele, a segurana do afeto.O medo de ser reprovado tambm decorre de uma conscincia moral rgida formada na infncia. o medo da censura, da autoridade dos pais introjetada, que tem razes perdidas no tempo, quando os genitores comearam a exigir da criana um comportamento em contradio com seus impulsos infantis, condicionado a instalao do sentimento de culpa, cada vez que a criana perceba em si tais impulsos Inaceitveis ou cometia qualquer ao contrria censura. Quanto mais rgido e autoritrio o comportamento dos pais, mais profundos os sentimentos de culpa que o indivduo passa a carregar consigo. Mesmo quando adulto, com um cdigo prprio de valores, o indivduo no consegue furtar-se ao jugo desta conscincia implacvel que continua, como um verdugo, a vigi-lo e conden-lo, impedindo-o de viver uma vida normal e sadia. Apenas uma terapia, uma reeducao, uma reestruturao de personalidade podem livrar o indivduo destes sentimentos de culpa.Os sentimentos de culpa costumam manifestar-se atravs de auto-recriminao, sutil ou declarada; do medo de ser censurado; da necessidade de expiao atravs do sofrimento; do perfeccionismo; da hipersensibilidade em relao a qualquer desaprovao; da cautela para no cometer enganos; do refgio na ignorncia, na doena, na incapacidade e na posio de vtima.Enquanto existir sentimentos de culpa, haver tambm tendncias irracionais de reparao do prejuzo causado, e essa reparao culposa s resulta em mais dano.Concluindo: o conflito ser, portanto, uma constante em vossas vidas. E sempre que encontrarmos a resposta que solucione um conflito, novo conflito aparecer. Embora constitua, junto com a ansiedade, um dos principais fatores em qualquer forma de desvio de personalidade, o conflito , entretanto, componente significativo do comportamento normal.

Panorama atual da psicologia: as quatro foras

A Psicologia j nasceu polmica. Polmica e radicalismo tm caracterizado sua histria. Cabe-nos discernir, dentro de nossa filosofia pessoal, o que mais lgico, mais claro e nos fornece melhores subsdios para a compreenso do homem.Atualmente, temos que escolher entre dois sistemas: o fechado e o aberto. O primeiro considera apenas o desempenho do homem, sua otimizao, seu funcionamento e exige o uso do mtodo experimental, em laboratrio. J o outro se preocupa com a essncia do Homem e sua auto-realizao pessoal. A pessoa vista dentro de uma totalidade, considerando-se a teia fsica, social, psicolgica, econmica, poltica, histria e mesmo csmica, que forma o prprio tecido da vida que vivemos neste mundo. uma viso holstica (global) do homem. Este sistema considerado pelos adeptos do anterior como no-cientfico, porque emprico (baseado apenas na observao).Dentro do primeiro sistema, est o Behaviorismo, ou Comportamentismo, ou doutrina E-R (Estmulo-Reao) ou S-R (Stimulos-Reaction).J a Psicanlise seria uma fronteira, um sistema colocado entre ambos. Com forte base na Biologia, mas abrindo perspectivas para um estudo mais amplo e centrando suas pesquisas no Homem. Seria, pois, uma segunda fora.Como terceira fora, dentro do sistema aberto, esto todas aquelas teorias de auto-realizao, que acreditam na existncia de um projeto-Homem, que se expandiria at o infinito. Esto aqui as teorias de Rogers, Abraham Maslow, Rollo May, Perls Reich e tantos outros.J a quarta fora, tambm dentro do sistema aberto, algo bastante novo em Psicologia. Com razes em Jung discpulo de Freud, que comeou sua vida profissional com uma tese medinica e que abre para a Psicologia um imenso campo de questionamento coloca o Homem como um ser csmico, em contato com todas as ondas e freqncias do Universo. Esta quarta fora chamada de Psicologia transpessoal e se liga, fortemente, Parapsicologia, Fsica e a Psicobiofsica.Nos limites desta obra, no h como estudar em profundidade estas quatros foras, de teorias extensas e complexas. Tentarei, no entanto, dar uma breve viso de cada uma.

Psicanlise

Desde sua descoberta por Sigmund Freud, a Psicanlise tem tido larga influncia sobre a Psicologia, a Educao, a Medicina e a Psiquiatria. uma corrente que se fundamenta sobre a teoria do recalcamento (represso de necessidades), significando, tambm, mtodo para certas neuroses.Encontramos suas origens talvez nos filsofos do sculo XIX, que j afirmavam a primazia da vida instintiva, assim como em certos fisiologistas, neurologistas, psiclogos e mdicos interessados nos fenmenos da histeria, hipnose e sugesto. Com as experincias feitas por estes estudiosos, ficou claro que a vida psquica ultrapassava singularmente o campo da conscincia.Freud teve seguidores famosos, muitos dos quais apenas parcialmente adotaram sua orientao, discordando de muitas de suas teorias. Podem ser considerados dentro da Psicanlise, Jung, Adler, Anna Freud, Melanie Klein, Otto Rank e os culturalistas (porque deixam de acentuar os fatores biolgicos e do maior nfase cultura) como Erich From e Karem Horney. Modernamente, destaca-se o nome de Lacan.Para Freud, o Homem visto dentro de um contexto que abrange o plano biopsicossocial (que compreenderia toda a realidade humana) e seria impulsionado, sobretudo, a satisfazer certos instintos elementares, to poderosos que obrigam a alcanar seus fins, diretamente ou por caminhos tortuosos. Note-se que, na terminologia psicanaltica, usa-se a palavra instinto. Entretanto, a palavra trieb, usada por Freud, talvez fosse melhor traduzida como impulso ou motivo.Com isso, Freud, absolutamente, no prega um retorno vida primitiva, como pensam tantos, mas nos leva a compreender e aceitar a nossa realidade, alargando-nos a compreenso de ns mesmos, do outro e da vida, permitindo-nos, assim, maior paz interior.Freud inaugurou um tempo de maior respeito pelo ser humano e sua liberdade. Com o caminho aberto por ele, comeou a derrubar de velhos mitos: a vida da criana no um paraso; a me nem sempre sabe lidar com o filho; nem todo adulto maduro emocionalmente; a relao amorosa nem sempre autntica; o homem no dono absoluto de seu destino, pois as foras inconscientes que nos movem fogem do nosso prprio controle. Mas Freud no s derrubou mitos, como ainda abriu perspectivas, pois suas concluses mostram que todos podemos ser muitos alegres, sadios e criativos.Seu conceito de personalidade , pois, dinmico: os motivos dos nossos comportamentos devem ser buscados em foras emocionais. Para ele, a personalidade composta por trs grandes sistemas: o id, o ego e o superego, que correspondem, respectivamente, aos componentes biolgico, psicolgico e social.O id, zona inconsciente, abrangeria todos os impulsos primrios, todo o conjunto de contedos herdados.O ego a zona da conscincia, o elemento conciliador, solucionador, planejador, intermedirio entre o id e o mundo externo, responsvel pela combinao entre a imagem mental e a realidade objetiva. O ego, pois, busca o relacionamento com o ambiente.O superego, por sua vez, a conscincia moral, o censor, a voz da sociedade interiorizada. Representa as normas, as exigncias e os valores que so transmitidos criana, principalmente pelos pais, e incorporados sua personalidade.A atividade psquica consciente e inconsciente, sendo que a parte consciente no seno a ponta do iceberg. O homem, portanto, conhece apenas algumas de suas motivaes, porque a maioria delas tem razes lanadas no inconsciente.O inconsciente seria, ento, uma zona profunda de nosso psiquismo, da qual pouco ou nada conhecemos, para a qual lanamos idias, contedos e experincias insuportveis vivncia consciente. Os motivos inconscientes, portanto, assim permanecem porque temos interesse em no nos darmos conta deles. Expulsar da conscincia certos impulsos no impede, entretanto, que eles existam e se tornem efetivos. Assim, para compreendermos qualquer estrutura de personalidade necessrio reconhecer a existncia de impulsos emotivos de natureza antagnica.Outra descoberta freudiana altamente construtiva refere-se importncia da infncia na vida futura do indivduo. As relaes infantis, na sua totalidade, moldam o carter de um modo que no se pode encarecer suficientemente. Para Freud, a infncia a poca decisiva na organizao da personalidade e nesta fase que tm origem as neuroses e psicoses.As frustraes intensas que ocorrem na infncia, e os efeitos educacionais como a superproteo, a instabilidade, o controle rgido, a carncia de afeto levam o indivduo angstia, agressividade, revolta, insegurana, timidez, dependncia, irritabilidade, nervosismo etc., comportamentos estes que por sua vez, motivaro outras formas inadequadas de contato com o ambiente.Tambm os conflitos havidos neste perodo, determinado a represso dos impulsos, podem produzir, mais tarde, a desintegrao da personalidade. Eles no morrem, mas ficam dinmicos no inconsciente. na infncia que se adquirem os complexos, tendo importncia bsica o de dipo (do menino) ou Eletra (da menina), que a atrao experimentada pelo genitor do sexo oposto, acompanhada de cime com relao ao outro. Este complexo pode ser resolvido com a identificao da criana com um dos pais (o do mesmo sexo). Este processo de identificao importantssimo para a futura vida amorosa do indivduo.Freud encarou qualquer tenso como recalque. O recalque ou represso a mola-mestra da personalidade. O conflito sempre um choque entre os desejos do id e a censura. A libido (foras da vida, busca do prazer) recalcada procura sempre vlvulas de escape: sonhos, arte, cultura, sintomas neurticos.O restante da doutrina freudiana: seus conceitos de transferncias e instinto de morte; psicologia feminina; teorias dos sonhos, dos atos falhos etc., embora bastante importantes, fogem aos objetivos deste texto. Por isso, aconselho sua leitura em outras obras.

Movimento humansticoOu teorias de auto-realizao

O movimento humanstico procura valorizar o Homem e se preocupa, basicamente, com o que ele pode vir a ser. Acredita nas potencialidades humanas, que s no desenvolveriam em condies adversas, como a represso ou a agresso, passveis de conduzir o homem neurose.Bsica no movimento humanstico em Psicologia a nfase que se d complexidade e singularidade do Homem. Os humanistas tambm salientam um aspecto desta singularidade humana o vivenciar ou experienciar dando nfase ao pensar, decidir e sentir, processos fundamentais, embora no passveis de observao direta.Parece que, alm da disposio biolgica para o crescimento e o desenvolvimento, cada indivduo possui tendncias ao desenvolvimento psicolgico.Este foi descrito por vrios psiclogos como tendncia auto-realizao, impulso para a autocompreenso, necessidade de aprimorar a conscincia e a competncia, tudo isto a fim de se obter mais alegria e satisfao na vida.O estudo dos humanistas baseado mais na observao de indivduos emocionalmente saudveis do que na de indivduos perturbados. E o que seria o indivduo saudvel emocionalmente? Para eles, aquele que criativo, amoroso, receptivo, perceptivo, decidido, capaz de verdadeira intimidade, verdadeiro, espontneo.Se pensarmos na vida como um processo de escolhas, ento a auto-realizao (ou auto-atualizao) significa fazer de cada escolha uma opo pelo crescimento. Muitas vezes temos de escolher entre o crescimento e a segurana, entre progredir e regredir. Toda escolha tem seus aspectos positivos e negativos. Preferir a segurana significa optar pelo conhecido e pelo familiar, mas tambm pode significar tornar-se intil e velho. Escolher o crescimento abrir-se para experincias novas e desafiadoras, mas arriscar o novo e o desconhecido.Atualizar tornar verdadeiro, existir de fato e no somente em potencial. Assim, auto-atualizar aprender a sintonizar com sua prpria natureza ntima. Isto significa decidir-se sozinho. A honestidade e o assumir responsabilidade de seus prprios atos so elementos essenciais na auto-atualizao. Ao invs de posar e dar respostas calculadas para agradar outra pessoa ou dar a impresso de sermos bons, devemos procurar as respostas em ns mesmos. Toda vez que fazemos isto entramos em contato com o nosso ntimo.Auto-atualizao tambm um processo contnuo de crescimento, de desenvolvimento das prprias potencialidades. Isto significa usar a inteligncia e habilidade e trabalhar para fazer bem aquilo que queremos fazer.Um passo alm na auto-realizao conhecer as prprias defesas e ento trabalhar para abandon-las. Precisamos nos tornar mais conscientes das maneiras pelas quais distorcemos nossa auto-imagem e a do mundo exterior atravs dos mecanismos de defesa.Os humanistas acreditam que o homem tem uma potencialidade infinita para expandir-se, crescer, realizar-se e que todo comportamento visa a este objetivo.A tendncia inata auto-realizao pode ser descrita como a tendncia do organismo para reduzir as impulses biognicas (ou fisiolgicas), tornar-se independente do ambiente, usar tanto quanto possvel suas habilidades, criar e chegar a nveis mais altos de eficincia.Tornar-se pessoa significa libertar-se das peias internas, tornar-se capaz de um contato verdadeiro (intimidade) com o outro, no fazer jogos, no usar mscaras, no se satisfazer com o simples ajustamento, mas tender a criar novas idias e coisas, ser cooperativo e amoroso.

Correntes behavioristas,E-R ou comportamento

Watson e Skinner so os dois grandes nomes do Behaviorismo. Todavia, outros tantos se destacam, como Clark Hull, Dollard, Miller, Tolman, Guthrie etc.No existe s uma teoria E-R, mas um grupo de teorias, mais ou menos semelhantes, embora tendo cada uma delas ao mesmo tempo algumas qualidades distintas.Esses sistemas comearam como tentativas para avaliao da aquisio e reteno de novas formas de comportamento que apareciam com a experincia. Da a grande nfase que se d ao processo de aprendizagem.Embora no ignore os fatores inatos, o terico E-R preocupa-se mais com o processo atravs do qual o indivduo se coloca entre sua ordem de respostas e a enorme variedade de estimulao (interna e externa) qual est exposto.De acordo com as teorias comportamentistas, os modelos da personalidade so o resultado de respostas aprendidas aos estmulos do ambiente. Dollard e Miller, por exemplo, vem os conflitos da primeira infncia como resultado do manejo inconsciente dos pais em termos de recompensa e castigo. Tais inconsistncias geralmente esto centradas no controle de alimentao, treino de limpeza, educao sexual bsica e atitudes com relao s exploses de raiva e agresso da criana.Skinner um behaviorista que acredita que a personalidade no necessita ser explicada em termos de hipotticas necessidades e motivos, mas em termos de estmulos que determinam a ocasio para certos tipos de respostas e os reforos que as mantm.As teorias E-R, pois, acentuam a aprendizagem como fator bsico no desenvolvimento da personalidade, no se limitando a conceitos exclusivamente de maturao (desenvolvimento do organismo como funo do tempo ou idade).Elas so chamadas teorias E-R porque, em suma, apresentam a aprendizagem em termos de mudanas na associao entre estmulos e respostas.As teorias E-R tm sua base no trabalho de Pavlov e Thorndike. A teoria de Pavlov a do condicionamento clssico, em que um estmulo neutro, como o som de uma campainha, sistematicamente emparelhado com algum outro estmulo, como um choque eltrico, que produz regularmente uma resposta forte e incontrolvel da parte do sujeito. O emparelhamento dos estmulos repetido at que a campainha sozinha venha provocar a mesma resposta que o choque. Este condicionamento tambm chamado respondente por causa da nfase sobre as propriedades das atividades reflexas (respondentes). O mais conhecido conceito de Thorndike a sua Lei do Efeito. Esta lei diz que a conexo entre um estmulo e uma resposta fortificada quando a associao entre eles satisfaz o organismo.Skinner fundador da maior escola de pensamento na psicologia E-R realmente fundou um sistema, que se baseia no behaviorismo de Watson e nos conceitos de estmulo, resposta e reforo.Segundo seu conceito, reforo qualquer estmulo que torne mais forte a resposta que leva de volta ao estmulo. Por exemplo, na chamada Caixa de Skinner, cada vez que o rato manipula, ao acaso, uma alavanca (resposta), ele recebe alimento dentro da caixa (cai, automaticamente, funcionando o alimento como estmulo). O estmulo (alimento), pois, reforar a resposta (manipular a alavanca), levando de novo ao alimento (busca do estmulo).Qualquer coisa que faa crescer a possibilidade de que a resposta ocorra vista como reforo positivo. Alimento, elogio, dinheiro, um balanar de cabea e um sorriso so exemplos de reforos positivos. Existe tambm o reforo negativo, aquele que provoca uma resposta de esquiva, isto , o indivduo evita determinado comportamento com medo da punio. Por exemplo: um garoto que tirou notas baixas na escola proibido pelos pais de ver televiso por um ms. O garoto, ento, estuda mais para evitar o castigo. O reforo negativo muito menos eficiente que o positivo.A punio e o reforo negativo envolvem o uso de estmulos aversivos. Entretanto, o reforo negativo fortalece a resposta que termina com o estmulo aversivo. Na punio, uma resposta suprimida pela apresentao de um estmulo aversivo. H grandes desvantagens na punio:a) A menos que seja extremamente severa, a resposta punida voltar;b) Introduz estmulos capazes de trabalhar o processo de aprendizagem como o medo e o ressentimento.Para que a punio seja efetiva melhor dar uma resposta alternativa que resultar num reforo positivo.Skinner distingue entre dois tipos de aprendizagem: a respondente e a operante. Para ele, o tipo operante mais importante, desde que envolve formas mais complexas de aprendizagem. Na aprendizagem operante, as situaes devem ser arranjadas de modo que a resposta desejvel seja relacionada ao reforo. Exemplo: em uma instituio, um cientista gostaria de levar um dos internos ao laboratrio para estudo. Toda vez que este interno passava pela porta do laboratrio, o cientista lhe sorria e lhe dava bombons, coisa que o indivduo muito apreciava. Com o tempo, o sujeito passou a esperar o sorriso e os bombons da parte do cientista. Posteriormente, este no mais apareceu porta do laboratrio e o interno, toda vez que por ali passava, olhava ansiosamente para dentro do laboratrio at que, um dia, acabou por entrar (busca do estmulo). Como se pode ver, a situao foi arranjada, usando-se um reforo para que o indivduo desse a resposta desejada, que era entrar no recinto da pesquisa.

Psicologia transpessoal

A Psicologia Transpessoal parece surgir a partir de vertentes como o trabalho de Jung, os trabalhos de Einstein, dos fsicos modernos, a Filosofia Oriental e as correntes de auto-realizao.Est ligada especificamente ao estudo emprico-cientfico das metas: necessidades individuais e coletivas; dos estados de conscincia pelos quais passamos: sono profundo, sonho, relax, viglia; estados que transcendem o ego, tais como: conscincia unitiva, conscincia csmica, experincias transcendentais, msticas, entre outras.Este um movimento inteiramente novo, trabalhando ainda com hipteses e apresentando poucas concluses.Nestas principais correntes apresentadas, resume-se o estgio atual da Psicologia. No se pode prever em que direo esta cincia-criana haver de caminhar. Espero, porm, como humanista, que ela escolha o caminho da compreenso da transcendncia humana. Que ela realmente possa abrir para o Homem as portas da liberdade, pois, somente livre, ele ser feliz e sua natureza amorosa e associativa poder, finalmente, realizar-se.

O Papel do Psiclogo

Quem o psiclogo? O que ele vai fazer? Em que vai poder ajudar o seu semelhante a conseguir uma vida mais feliz?O psiclogo aquele profissional que, depois de cinco anos em um curso superior, geralmente se especializa em uma rea do comportamento, porque, como se pde ver, a Psicologia tem um campo muito vasto.Nesta rea ele vai trabalhar procurando ajudar os indivduos a se compreenderem e a se relacionarem melhor com as outras pessoas e a lidarem com as prprias emoes e sentimentos. verdade que alguns se dedicam exclusivamente pesquisa. So os psiclogos experimentais. Estes apenas vo estudar, em laboratrios quase sempre, todos estes assuntos que j levantamos a respeito do comportamento do ser humano, usando para tanto o prprio homem e, quando isto impossvel, por questes ticas, animais como ratos e chimpanzs.O psiclogo clnico, muitas vezes confundido com o psiquiatra, vai se dedicar aos indivduos com problemas de ajustamento ou emocionais, usando tcnicas e abordagens puramente psicolgicas. Ele no lana mo de teraputica medicamentosa, pois, inclusive, no tem formao mdica.O psiclogo social estuda a influncia do grupo social no comportamento dos indivduos e se interessa por assuntos como mudana de atitudes, preconceitos, liderana, dinmica de grupo, delinqncia, opinio pblica. Visa a usar mtodos de mudana de comportamento e atitudes de grupos, assim como tcnicas para diminuir as tenses intergrupais.O psiclogo industrial trabalha nas empresas, principalmente no campo das relaes humanas. Seleciona e treina pessoal, usa tcnicas para aumento da produtividade, podendo, tambm, dedicar-se pesquisa de mercado e trabalhar em publicidade, estudando o comportamento dos consumidores e a melhor maneira de incentiv-los compra de determinados produtos.O psiclogo educacional vai atuar na escola, junto ao educando, trabalhando com problemas de aprendizagem, motivao e ajustamento. Avalia diferentes mtodos de ensino, programas e tcnicas novas e elabora teste e medidas de rendimento escolar. Trabalha, tambm, com tcnicas especiais junto a alunos com problemas de retardamento mental, dificuldades emocionais ou em reas especficas como leitura ou escrita.Em qualquer rea, o importante que o psiclogo vai buscar compreender (esta a palavra-chave) o ser humano em sua relao consigo prprio, com o grupo, com o patro, com os colegas etc. Compreender para ajud-lo a desenvolver suas infinitas potencialidades e ser mais alegre, criativo, inteligente, livre e confiante.De qualquer modo, o psiclogo ser um decodificador. Ele est colocado em uma situao de comunicao e seu trabalho consistir em receber mensagens que dever utilizar, at mesmo para decifrar, para explic-las, finalmente, numa metalinguagem (interpretao da linguagem ou uma linguagem a respeito de outra linguagem) destinada a si prprio ou ao interlocutor.

O psiclogo na sociedade moderna

A competitividade da sociedade moderna, o medo constante do insucesso e de algum cataclisma esto levando a grande massa de indivduos a distrbios psicolgicos de tal ordem, que o anormal est se tornando normal, no sentido de que o parmetro passa a ser a imensa maioria perturbada.O ser humano, assim como o animal, tem um limiar de tenso, isto , ele s pode suport-la at certo ponto, sem que seu sistema biopsquico se desorganize. Entretanto, a vida moderna est colocando os indivduos num estado permanente de tenso, cujas conseqncias so desastrosas, no s no sentido individual, mas tambm no sentido coletivo, pois as repercusses das aes das pessoas so de ordem social.A sociedade, assim, vai sendo minada aos poucos por uma neurose coletiva, sendo difcil prever a que isto poder levar-nos.Est havendo uma deteriorao da afetividade das pessoas e esse empobrecimento afetivo dificulta o contato do indivduo consigo mesmo e com os semelhantes, levando-o busca de emoes violentas, na tentativa de se sentir e sentir o outro, ou, ento, ao total isolamento.Alm disso, as pessoas perderam a unidade: suas vidas so regidas por uma dicotomia moral, pois os princpios cristos, que iluminaram o desenvolvimento de suas conscincias e que tentam aplicar em suas vidas particulares e pregar em suas vidas pblicas, no podem orientar suas vidas profissionais, pois a correriam o risco de perderem os seus lugares e serem massacradas pela avidez e falta de escrpulos de seus competidores. E uma pessoa que perde a sua unidade, a sua integridade, a sua coerncia, perde o eixo de si prpria e no tem mais condies de funcionar como um ser humano. Isto sem falar nas demais conseqncias de ordem psquica e somtica; o constante sentimento de culpa, do qual no se pode fugir, embora em nvel inconsciente, se manifestar, automaticamente, enchendo os consultrios mdicos de indivduos que no tm doenas, mas so doentes.Outra caracterstica patolgica que podemos encontrar nos indivduos a extrema alimentao. Incapazes de fazer frente dura realidade que os cerca, cada vez mais dela se divorciam, realizando-se imaginariamente atravs de seus sonhos e delrios, dos personagens das novelas e de seus dolos.Alis, o fanatismo religioso e poltico que, cada vez mais, vem tomando conta das pessoas, um sinal palpvel de que esto mortas por dentro e de que necessitam, desesperadamente, de algo que as faa sentirem-se vivas. o recurso dramtico de que lana mo o esquizofrnico, quando se queima ou se fere, numa tentativa de se perceber vivo.A competitividade desgasta profundamente as pessoas, porque ningum pode viver como se a vida fosse uma maratona, que tem de ser vencida a qualquer preo. S a cooperao pode construir e realizar. Entretanto, triste ver que os prprios pais e a Escola, ao invs de incentivarem o esprito associativo e cooperativo das crianas e dos jovens, preparam-nos, desde cedo, para uma acirrada competio.Tambm o ideal consumista incutido nas pessoas, desde a mais tenra infncia, s leva ao desajuste profundo e ao stress, pois as exigncias vo num crescendo, obrigando o indivduo a trabalhar mais, a fazer mais dvidas, para comprar sempre mais..., em suma, neste mundo catico, tumultuado, onde impera a neurose coletiva, que o psiclogo ter a sua importantssima atuao. E para que ele atue bem, ajudando o homem conseguir a to perseguida paz, necessrio que ele seja no apenas um bom profissional, com largueza de viso e formao slida mas tambm uma Pessoa plena, a servio no do Sistema, mas do Homem.

Questionando a Psicologia

At onde a Psicologia est resolvendo as questes a que se prope?Avanando bastante em suas pesquisas, confirma a cada dia o seu status de cincia. Mas, e na prtica, como se coloca?Alguns pontos tm de ser abordados aqui. Em primeiro lugar, h ainda confuso e pouco consenso entre os seus adeptos. O que se percebe um bocado de profissionais trabalhando a partir de premissas diferentes. Quase trs quartos dos psiclogos de hoje se dedicam cincia aplicada ou so tecnlogos, mas no h, absolutamente, consenso em suas abordagens e nas tcnicas usadas.No h, portanto, acordo na metodologia, no existe uma terminologia comum e poucas so as generalizaes devidamente comprovadas.Neste sentido, a Psicologia ainda est longe da estruturao de outras cincias como a Fsica, a Qumica ou a Biologia. No entanto, ela j tem um sculo de existncia...Outra questo a ser levantada : a quem ela serve? Quem anormal? Qual o aluno desajustado? Se ela usa como parmetros de normalidade e de ajustamento os valores da classe dominante, ento ela , tambm, um veculo ideolgico. Alm disso, quem pode pagar os seus servios nada baratos? Apenas a classe dominante.Ela absorve o diferente ou coloca-o como patolgico? Interessam ao Sistema as pessoas diferentes, rebeldes, questionadoras? Se a sua funo adequar as pessoas e vender produtos, ela no seno uma serva do sistema.Existir, no entanto, cincia realmente independente?O importante lembrar que aquele que estuda e aquele que faz a Psicologia no podem, de modo algum, ser meros autmatos. necessrio questionar-se a todo momento, para que no se torne alienado, ele tambm, da realidade.Infelizmente, grande maioria dos que se dedicam Psicologia, falta, quase sempre, viso histrica da realidade.At onde somos realmente indivduos, se o coletivo nos envolve de tal forma que j no podemos discernir o que individual do que social? E, ao sair do enfoque individual para o social, at onde vai o perigo da manifestao, de se propor padres uniformes para todos? A situao bastante delicada e tudo isto deve ser seriamente pensado por quem se dedica Psicologia.A quem ela deve realmente servir: ao Sistema ou ao Indivduo? Contribuir para que o Homem seja uma pea bem integrada na engrenagem social ou para que seja, acima de tudo, feliz? Fica a questo para voc pensar dentro de seu referencial terico...Acredito sinceramente que, diante de uma sociedade falida, diante da decomposio do sistema capitalista, preciso reinventar tudo, inclusive a prpria Psicologia.No podemos aceitar que o psiclogo seja apenas o profissional do bem-estar, tendo como ponto de referncia uma sociedade bem comportada. No h sociedade sem contradies e conflitos, assim como no h indivduos sem conflitos e contradies. Isto no patolgico, natural, isto , de acordo com a natureza, pois a dialtica a mola propulsora da evoluo.No podemos aceitar que um Sistema em que j no acreditamos continue a determinar nossos comportamentos e reivindicaes.