o que é ideologia
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CHIAUÍ, Marilena.TRANSCRIPT
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense, 2008.______________________________________________________
Daiana Paula de Ávila
Universidade do Contestado – UnC-Concórdia
Sistemas de Informação – 8ª Fase - 2013
Esta síntese visa entender e explicar a gênese e a transformação
da Ideologia como, dentre outros, uma maneira encontrada pelas
classes dominantes (nos níveis intelectual e material) de perpetuar
seu poder, através de explorações que abrangem várias camadas
da sociedade. E, ao mesmo tempo em que se perpetua essa
dominação, as classes poderosas fazem com que ela não seja
percebida por aqueles que são dominados, gerando, assim, a
alienação dos menos favorecidos.
Estudar o processo da formação ideológica nos vários períodos
contidos no texto de Marilena é entender o quão longe o ser
humano pode chegar naquilo que diz respeito à busca pelo poder.
Sobre a obra analisada
Descritivamente, o texto “O que é Ideologia”, além de ser de fácil
compreensão, se utiliza duma linguagem pouco rebuscada, o que
facilita o discernimento do mesmo após uma primeira leitura.
Estruturalmente, ele está divido em cinco grandes tópicos:
Começando nossa conversa: onde a autora aponta os erros mais
corriqueiros que nos deparamos ao diferenciar Ideologia de um
ideário qualquer;
Partindo de alguns exemplos: parte essencial do texto em que são
apontados exemplos e citações onde a Ideologia figurou ao longo
dos tempos;
Histórico do termo: aponta os processos que a Ideologia e suas
várias concepções passaram, desde as primeiras citações e
compreensões até períodos mais recentes;
A concepção marxista de ideologia: analisa o que Marx (e, muitas
vezes, Engels), através de seus livros, entendiam por Ideologia,
tendo como base a luta de classes; e
A ideologia da competência: demonstra que a Ideologia da
competência (como ficou conhecido o processo em que a
competência é o catalisador da divisão social do trabalho – logo,
uma grande Ideologia) ganhou força a partir do momento em que
os sindicatos passaram a se organizar melhor, dentre outros.
Sobre a autora
Marilena de Sousa Chauí é filósofa, professora de Filosofia Política
e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
Análise da obra
Começando nossa conversa
A autora, de pronto, alerta sobre as expressões “Partido Político
ideológico”, “é preciso ter uma Ideologia”, “falsidade ideológica” e
outras expressões desse tipo que dão, erroneamente, à palavra
Ideologia o significado de conjunto sistemático e interligado de
ideias, ou seja, uma concepção vaga à sua realidade. O que,
consequentemente, faz com que seja confundido com ideário, ou
seja, um ideário qualquer. A proposta do texto é justamente
mostrar que a Ideologia é um ideário histórico, social e político que
oculta a realidade, e que esse ocultamente é uma forma de
assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social
e a dominação política.
Partindo de alguns exemplos
Movimento para entender a realidade
Uma das principais preocupações do pensamento ocidental nasce
com a Filosofia, na Grécia antiga, em seu questionamento: por que
as coisas se “movem”?
Por movimento, os gregos entendiam:
Toda mudança qualitativa de um corpo qualquer;
Toda mudança quantitativa de um corpo qualquer;
Toda mudança de lugar ou locomoção de um corpo qualquer;
Toda geração e corrupção dos corpos.
Logo, movimento, para um grego da antiguidade, é toda e qualquer
alteração de uma realidade, seja ela qual for.
A teoria da causalidade
Aristóteles, discípulo de Platão (e, este por sua vez, discípulo de
Sócrates) afirmou que só há conhecimento da realidade quando há
conhecimento da causa.
Para tornar possível o conhecimento, elaborou a teoria da
causalidade ou teoria das quatro causas:
Causa material: aquilo de que algo é feito;
Causa formal: aquilo que algo é, sua essência;
Causa motriz (ou eficiente): agente que dá forma à matéria; e
Causa final: aquilo que dá sentido à sua existência.
Para entender melhor a teoria aristotélica, vamos ao exemplo da
mesa de madeira:
Objeto: mesa de madeira; causa material: madeira; causa formal:
propriedades e aspectos que fazem desse pedaço de madeira ser
uma mesa e não outra coisa; causa motriz: carpinteiro; e causa
final: servir de base/apoio para objetos (ou pessoas) etc.
Aspecto fundamental da teoria: as quatro causas não possuem o
mesmo valor; são hierarquizadas, indo da mais inferior à mais
superior. Logo, para entender a realidade é preciso conhecer, por
ordem, as causas motriz, material, formal e final.
Agora, tendo como referência não um objeto, mas as ações
humanas, a teoria da causalidade se distingue entre dois tipos de
atividades:
Atividade mecânica (poiésis): atividade caracterizada por uma
rotina mecânica (o que, para Marx, engendraria a alienação), onde
o agente, a finalidade e a ação são diferentes e independentes; e
Atividade ética e política (práxis): atividade inerente aos homens
livres, racionalistas e reflexivos de suas ações. Onde o agente, a
finalidade e ação são idênticos, dependentes apenas da força
interior do agente. Logo, a práxis é superior à poiésis.
A teoria da causalidade consolida-se no Ocidente graças às
filosofia e teologia medievais. À primeira vista, a teoria da
causalidade é uma concepção metafísica que explica os
fenômenos naturais e humanos.
Relação entre teoria da causalidade e os mundos antigo (grego) e
medieval
Tendo em vista que a sociedade é escravista e a medieval é
feudalista, a causa da teoria aristotélica que corresponde o cidadão
ou o senhor é a causa final, ou seja, o motivo pelo qual alguma
coisa é feita é justamente aquele a quem essa coisa se destina.
Por isso, na teologia cristã, Deus é considerado a causa final do
universo.
Já a causa correspondente ao escravo ou servo é a causa motriz,
ou seja, o trabalho pelo qual certa matéria receberá certa forma
para servir ao uso ou desejo do senhor.
Teoria
Logo, temos uma teoria geral para explicar a realidade e suas
transformações: transposição involuntária de relações sociais muito
determinadas para o plano das ideias. Isso quer dizer que ao
elaborar uma teoria, o teórico não pensa estar realizando essa
transposição, e sim estar produzindo ideias verdadeiras,
independentes de suas vivências histórica e social.
Nisso, pode-se conceituar teoria como aquilo que revela – por meio
de ideias – uma determinada realidade social e histórica, e o
teórico – pensador – pode ou não estar consciente disso.
Produzindo uma ideologia
Quando o pensador sabe que suas ideias estão enraizadas na
história, espera que elas ajudem a compreender a realidade de
onde foram engendradas. Todavia, quando não percebe a raiz
histórica de suas ideias e imagina que elas serão verdadeiras para
todos os tempos e lugares, corre o risco de estar apenas
produzindo uma Ideologia.
Uma das características fundamentais da Ideologia é tomar as
ideias como independentes da realidade histórica e social, quando
na verdade é essa realidade que torna compreensíveis as ideias e
a capacidade ou não para explicar a realidade.
Teoria da causalidade e o pensamento moderno
Com os trabalhos sobre Física, elaborados por Galileu Galilei,
Francis Bacon, Descartes e outros, nos séculos XVI e XVII, o
pensamento moderno reduziu as quatro causas para apenas duas:
a motriz e afinal. Dando, assim, à palavra “causa” o sentido que
hoje lhe é empregado, ou seja, ação que produz um efeito
determinado. Logo, a causa produz o efeito e não simplesmente
responde a ele.
A Física moderna considera que a Natureza age de forma
mecânica, ou seja, como um sistema de relação de causa e efeito.
Logo, não há causas finais na Natureza, e sim causa motriz.
Por outro lado, a metafísica, além da causa motriz, preserva-se
também a causa final, pois se refere a toda ação voluntária e livre,
ou seja, refere-se à ação de Deus e à dos homens. Logo, a
Natureza distingue-se de Deus e dos homens, enquanto espíritos,
porque a primeira se baseia em leis necessárias e impessoais, e a
segunda constitui o reino da finalidade e da liberdade.
Nisso, a física da Natureza consiste naquilo que é “necessário”, ou
seja, naquilo que é como é, e não pode ser diferente disso; e a
metafísica consiste naquilo que é “livre”, ou seja, é como é por
escolha, pois poderia ser diferente se a escolha fosse outra.
O pensamento moderno foi um grande progresso teórico, pois
ajudou no desenvolvimento da Física como ciência, uma vez que
eliminou as causas finais e as explicações antropomórficas (atribui
a Deus uma forma humana) do plano da Natureza.
Outro grande impacto da Física moderna foi explicar o corpo
humano como um corpo natural, ou seja, movido apenas pela ação
da causalidade, como uma máquina que opera sem a intervenção
da vontade e da liberdade.
O homem, o trabalho e a modernidade
Nesse limiar entre a física e a metafísica, e tendo a teoria como
grande catalisador, surge o homem como um ser mais peculiar.
Peculiar tanto por seu corpo (que é uma máquina natural) que
obedece à causa motriz, quanto por sua vontade (ou espírito, onde
a vontade habita) que é uma liberdade que age visando fins
escolhidos livremente.
Se do lado da natureza não há mais hierarquia de seres e de
causas, do lado humano a hierarquia reaparece porque a causa
final é superior ou mais valiosa que a motriz: o espírito vale mais
que o corpo (uma vez que seu corpo serve a fins escolhidos por
sua vontade).
O homem livre é, portanto, um ser universal que se caracteriza
pela união de um corpo mecânico e de uma vontade finalista.
Mas, então, qual seria a manifestação por excelência desse
homem livre? Qual seria a atividade na qual sua vontade subordina
seu corpo para obter um certo fim? A resposta está naquela
atividade em que os antigos e medievos desprezavam: o trabalho.
No mundo moderno, o trabalho aparece como uma das expressões
privilegiadas do homem como ser natural e espiritual.
Tal passagem de status do trabalho se deve ao surgimento de uma
nova sociedade, em que desponta a imagem do homem que
valoriza a si mesmo por ter adquirido poder econômico e que
começa a adquirir poder político e prestígio social graças à sua
capacidade de trabalhar e poupar. Surge também o homem
burguês. Ou do homem que valorizado pela ética protestante: ele
vale por seu esforço perante Deus. Nessa concepção, surge o
homem moderno, que trabalha, poupa e investe sua poupança em
mais trabalho.
No entanto, a nova sociedade é constituída por outro homem livre;
outro moderno trabalhador livre: o proletário. Ele é um trabalhador
livre que não é nem meio de produção (como era na Antiguidade) e
também não possui seus próprios meios de produção (como na
Idade Média).
Logo, o homem livre moderno é dividido em dois tipos de homem:
o burguês e o trabalhador.
Tendo em vista que o capital só se acumula e se reproduz se
houver exploração do trabalho, e que também é preciso distinguir
duas fases do trabalho:
Trabalho visto pelo burguês: como expressão de sua vontade livre
e dotada de fins próprios; e
Trabalho realizado pelo trabalhador: como relação da máquina com
as máquinas sem vida.
Todos os exemplos dados são exemplos de ideários quaisquer e
não ideologia
Vê-se nesses exemplos como ideias que parecem resultar do puro
esforço intelectual e sem qualquer enraizamento das condições
histórica e social, são expressões dessas condições reais, ou seja,
tais ideias tentam explicar a realidade sem perceber que são elas
que precisam ser explicadas pela realidade social e histórica.
O real, o empirismo e o idealismo e a história
O real não é constituído por coisas. O que nossa experiência direta
da realidade nos leva a imaginar do real é que ele é feito de coisas
ou entes reais (formas de nossas relações com a natureza,
mediadas por nossas relações sociais; são seres culturais
dependentes de nossa sociedade). Porém, ao contrário disso,
afirmar que o real é constituído por ideias também é errado porque
se fizermos isso, estaríamos na Ideologia em estado puro.
Têm-se também duas formas de analisar a realidade: através do
empirismo e do idealismo.
O empirismo considera a realidade um dado coletado dos sentidos.
Enquanto o idealismo a considera um dado da consciência.
O real não é um dado sensível e nem intelectual, e sim um
processo que depende do modo como os homens se relacionam
entre si e com a natureza, ou seja, das relações sociais.
Pois é justamente das relações sociais que precisamos partir para
compreender porque os homens agem e pensam de maneiras
determinadas. Trata-se também de compreender a própria origem
das relações sociais e de suas diferenças temporais, de encará-las
como processos históricos.
É tratar a história como o modo em que homens determinados em
condições determinadas criam os meios e as formas de sua
existência social, reproduzem ou transformam essa existência que
é econômica, política e cultural. Logo, a história é a práxis; o real.
Um exemplo de Ideologia é dado pela autora: numa sociedade
dividida em classes, na qual uma das classes explora e domina a
outra, as explicações ou ideias (pelas quais precisam explicar e
compreender sua própria vida individual, social, suas relações
sociais) serão produzidas e difundidas pela classe dominante para
legitimar e assegurar seu poder econômico, social e político. Por
esse motivo, essas ideias tenderão a esconder dos homens o
modo real como suas relações sócias foram produzidas e a origem
das formas sociais de exploração econômica e de dominação
política. Esse ocultamente da realidade social se chama Ideologia.
No entanto, uma Ideologia não possui um poder absoluto que não
possa ser quebrado e destruído. Quando uma classe social
compreende sua própria realidade, pode organizar-se para quebrar
uma Ideologia (através de uma revolução, reforma etc.) e
transformar a sociedade.
Histórico do termo
Origem do termo ideologia
O termo Ideologia surge na França em 1801 no livro “Elementos de
Ideologia”, de Destutt De Tracy. Ele, juntamente com outros
pensadores, pretendia elaborar uma ciência da origem das ideias,
tratando-as como fenômenos naturais que exprimem a relação do
corpo humano com o meio ambiente.
Esse grupo era antiteológico, antimetafísico e antimonárquico.
Eram críticos à toda explicação sobre uma origem invisível e
espiritual das ideias humanas. Eram materialistas, ou seja,
admitiam apenas causas naturais físicas para as ideias e as ações
humanas.
Contra a educação religiosa e metafísica, De Tracy propõe o
ensino das ciências físicas e químicas para “formar um bom
espírito”, ou seja, uma inteligência capaz de observar, decompor e
recompor os fatos sem se perder em várias especulações
abstratas ou teológicas. Ele via a monarquia como maquinação
entre poder político e religioso, uma vez que o rei recebia o poder
diretamente de Deus, e por isso, podia exigir obediência total dos
súditos.
No livro “Influências do moral sobre o físico”, o médico Cabanis
procura determinar fisiologicamente a influência do cérebro sobre o
resto do organismo.
O sentido pejorativo dos termos Ideologia e ideólogos veio de uma
declaração de Napoleão Bonaparte que, num discurso ao
Conselho de Estado em 1812, declarou: (…) devem ser atribuídos
à Ideologia, essa tenebrosa metafísica (…). Com isso, Bonaparte
invertia a imagem dos ideólogos.
O curioso é que a acusação de Bonaparte é infundada com relação
aos ideólogos franceses, mas não o seria se se dirigisse aos
ideólogos alemães, tão criticados por Marx (para ele, o ideólogo é
aquele que inverte as relações entre as ideias e o real).
Assim, a Ideologia passou de uma ciência natural da aquisição das
ideias calcadas sobre o próprio real para designar – daí em diante
– um sistema de ideias condenadas a desconhecer sua relação
concreta com a realidade.
A ideologia para o positivismo
O termo Ideologia voltou a ser empregado com seu sentido
próximo ao do grupo francês pelo filósofo Auguste Comte em seu
livro Curso de filosofia positiva.
A Ideologia possui, agora, dois significados: (i) tentava estudar a
formação das ideias pelas relações sociais; e (ii) passa a significar
também o conceito de ideias de uma época, tanto como “opinião
geral” quanto elaboração teórica dos pensadores dessa época.
Comte elabora uma explicação da transformação do espírito
humano, onde a humanidade passa por três fases sucessivas: fase
teológica (os homens explicam a realidade através de ações
divinas), fase metafísica (os homens explicam a realidade por meio
de princípios abstratos) e fase positivista ou científica (etapa final
do progresso humano na qual os homens explicam a realidade
através de leis gerais e necessárias).
Assim, cada fase do espírito humano leva-o a criar um conjunto de
ideias para explicar a totalidade dos fenômenos naturais e
humanos.
No pensamento positivista, o conhecimento teórico tem como
finalidade a previsão científica dos acontecimentos para oferecer à
prática um conjunto de regras e normas.
A concepção positivista da Ideologia (como conjunto de
conhecimentos teóricos) possui três consequências principais:
Define a teoria de tal modo que a reduz à mera organização
sistemática e hierárquica de ideias;
Estabelece uma relação autoritária entre teoria (que manda porque
possui as ideias) e a prática (que obedece porque é ignorante); e
Concebe a prática como um simples instrumento que aplica
automaticamente regras, normas e princípios vindos da teoria.
Essa concepção da prática leva à suposição de uma harmonia
entre teoria e ação.
A ideologia de Durkheim
Reencontramos o termo ideológico no livro As regras do método
sociológico, de Durkheim.
Como se sabe, o filósofo francês quer criar a sociologia como
ciência, na qual os fatos sociais estudados são desprovidos de
interpretações subjetivas. Separando-se, assim, os sujeito e objeto
do conhecimento.
Aqui, o ideológico é uma sobra de ideias antigas, pré-científicas.
Durkheim considera essas ideias preconceitos inteiramente
subjetivos.
Concepção marxista da ideologia
A ideologia alemã
Em A Ideologia alemã, Marx caracteriza a Ideologia e tem como
objetivo um pensamento alemão posterior a Hegel.
Marx não separa as condições sociais e históricas da produção das
ideias em que são produzidas. Ele distingue o tipo de Ideologia
produzido pelos pensadores franceses (Ideologia política e
jurídica), ingleses (econômica) e alemães (filosófica).
Se falarmos em Ideologia geral e Ideologia geral burguesa, as
formas dessa Ideologia encontram-se determinadas pelas
condições sociais em que se encontram os diferentes pensadores
burgueses.
Marx dirige duas críticas principais aos ideólogos alemães:
Eles tiveram a pretensão de acabar com o sistema hegeliano,
criticando apenas um aspecto da filosofia de Hegel em vez de fazê-
lo como um todo; e
Eles tomaram um aspecto da realidade humana e passaram a
deduzir todo o real a partir desse aspecto idealizado.
História dos homens
Para Marx, se quisermos compreender a Ideologia alemã, é
preciso sair da Alemanha e fazer umas considerações gerais sobre
o fenômeno da Ideologia. A Ideologia é uma concepção distorcida
da história dos homens.
Marx concebe a história como um conhecimento dialético e
materialista da realidade social.
Dentre as várias fontes dessa concepção, encontra-se a filosofia
hegeliana, que Marx criticava, mas conservava em aspectos
essenciais por ele. Eis alguns aspectos da obra hegeliana:
É um tratado filosófico para compreender a origem e o sentido da
realidade como Cultura (relações sociais);
Define a Cultura pelos movimentos de exteriorização (manifestado
nas obras que produz) e de interiorização (compreende as obras
como parte de si) do Espírito;
Revoluciona o conceito de história por três motivos:
Não pensa a história como sucessão contínua de fatos no tempo,
mas como um movimento dotado de força interna;
Não pensa a história como uma sucessão de causas e efeitos, mas
um processo dotado de uma força que produz os acontecimentos.
Essa força é a contradição; e
Pensa a história como processo contraditório unificado em si
mesmo e por si mesmo, plenamente racional e compreensivo.
Combate a história do Espírito, que começa manifestando-se na
produção de obras culturais;
Pensa a história como reflexão. Reflexão no sentido natural em
que o raio luminoso retorna na direção da sua fonte luminosa, ou
seja, volta à sua origem. Nesse sentido, o Espírito “sai para fora de
si”, criando a Cultura e “volta para dentro de si”, reconhecendo sua
obra;
Procura dar conta do fenômeno da alienação. Alienação no sentido
de que o Sujeito não se reconhecer como produtor das obras e
como sujeito da história;
Diferencia o modo como uma realidade aparece e o modo como é
produzida
Esses vários aspectos do pensamento hegeliano constituem a
dialética, ou seja, a história é o movimento de posição, negação e
conservação das ideias, e essas ideias são a unidade do Espírito
(Cultura).
Da dialética hegeliana à materialista
Da concepção hegeliana, Marx conserva o conceito de dialética
como movimento interno de produção da realidade cujo motor é a
contradição. Porém, demonstra que a contradição não é a do
espírito, mas a de homens em condições históricas e sociais reais
chamadas luta de classes.
A história é: a história do mundo real e como os homens reais
produzem suas condições reais de existência.
Marx também conserva a afirmação de que a realidade é história e
por isso é reflexiva. Mas aí surge um problema: como colocar
reflexão na matéria? É que a matéria que Marx fala não é aquela
física ou química e sim a matéria social (relações de produção),
cujo sujeito não é mais o Espírito e sim as classes sociais em luta,
e cuja dialética é o trabalho material propriamente dito.
Conserva também o conceito de alienação, porém modificado da
concepção hegeliana: a alienação é dos homens reais em
condições reais.
As relações sociais de trabalho aparecem como relação material
entre sujeito humano e como relação social entre coisas.
Divisão social do trabalho, nascimento das ideologias e o estado
Marx e Engels determinam o surgimento das Ideologias no instante
em que a divisão social do trabalho separa o trabalho material de
trabalho intelectual.
Os homens se distinguem dos animais porque produzem as
condições de sua própria existência material e espiritual. A divisão
social do trabalho não é uma simples divisão de tarefas, mas a
manifestação de algo fundamental na existência histórica.
A divisão social do trabalho origina e é originada pela desigualdade
social ou pela forma da propriedade. As ideias nascem da atividade
material.
A forma inicial da consciência é a alienação, e, por causa disso, a
Ideologia será possível: as ideias serão tomadas como anteriores à
práxis, como um poder espiritual autônomo que comanda a ação
material dos homens.
A divisão social do trabalho torna-se completa quando o trabalho
material e o espiritual separam-se. Nasce agora a Ideologia
propriamente dita, ou seja, o sistema ordenado de ideias e das
normas e regras como algo separado e independente das
condições materiais.
Logo, Marx e Engels consideram três aspectos que são condições
sine qua non para que haja história: força de produção, relações
sociais e consciência. Tais condições entram em contradição como
resultado da divisão social do trabalho material e intelectual.
Foi instalada para a própria consciência imediata dos homens a
percepção da desigualdade social: uns pensam, outros trabalham;
uns consomem e outros produzem e não podem consumir os
produtos de seu trabalho.
Outra contradição surge entre os interesses de um indivíduo e os
interesses coletivos. Pois onde houver propriedade privada, não
pode haver interesses sociais comuns.
O Estado toma forma autônoma a partir do interesse coletivo
contido na relação de contradição com o interesse particular. Mas
como quem rege os pensamentos de uma sociedade é a classe
dominante, o Estado é a forma pela qual os interesses da parte
mais forte e poderosa da sociedade ganham a aparência de
interesse de toda sociedade.
O Estado é uma comunidade ilusória; é a expressão política da
sociedade civil enquanto dividida em classes; é a vitória de uma
parte da sociedade sobre outras. O Estado realiza sua função
apaziguadora e reguladora da sociedade através de um
mecanismo impessoal que são as leis ou o Direito Civil.
Está aberto o caminho para a Ideologia política que explicará a
sociedade através das formas dos regimes políticos (aristocracia,
monarquia, democracia, tirania, anarquia) e que explicará a história
pelas transformações do Estado (passagem de um regime político
para outro).
A divisão social é uma situação que não será superada por meio
de teorias, mas pelas relações sociais de produção e suas
representações pensadas. Assim, a transformação histórica capaz
de ultrapassar essas divisões e as contradições depende de
pressupostos práticos e não teóricos. São eles:
Surgimento da massa da humanidade como massa inteiramente
destituída de propriedade; e
É preciso que o modo de produção capitalista tenha se tornado um
processo histórico mundial para que uma revolução plena possa
efetuar-se.
Sem as condições materiais da revolução, é inútil a ideia de
revolução. Mas sem a compreensão intelectual dessas condições
materiais, a revolução permanece como um horizonte desejado,
sem encontrar práticas que a efetive.
Sociedade civil, alienação, práxis social, teoria e prática
A história não é o desenvolvimento das ideias, mas o das focas
produtivas, a luta de classes.
A sociedade civil é o palco onde se desenvolve a história. É o
sistema de relações sociais que se organizam na produção
econômica, nas instituições sociais e políticas, e que são
representadas por um conjunto sistemático de ideias jurídicas,
religiosas, políticas etc. É o lugar onde a família, igrejas, escolas
etc. e o conjunto das relações sociais são pensadas por meio das
ideias. A sociedade civil não é A Sociedade, ou seja, uma espécie
de grande indivíduo coletivo feito de partes ou órgãos funcionais
que ora estão em harmonia ora em crise, e sim uma das grandes
ideias da Ideologia burguesa para ocultar o fato de que a
sociedade civil é a produção e reprodução da divisão em classes e
é também luta de classes.
Práxis social significa:
Que as classes sociais não estão feitas e acabadas pela
sociedade, mas estão se fazendo umas às outras por sua ação, e
esta ação produz o movimento da sociedade civil; e
Que o conjunto das práticas sociais faz dos indivíduos membros de
uma classe social. O sujeito da história são as classes sociais.
Marx e Engels mostram que as relações dos indivíduos com sua
classe são relações alienadas. Que a Ideologia não é processo
subjetivo consciente, mas um fenômeno objetivo e subjetivo
involuntário produzido pelas condições da existência social dos
indivíduos.
A Ideologia burguesa, através da sociologia, transforma em ideia
científica essa coisa chamada classe social, estudando-a como um
fato e não como resultado da ação do homem. É aí que se dá a
alienação do trabalhador: não se reconhece como ser
transformador e sim como um ser vinculado à uma classe. A
Ideologia burguesa produzirá ideias que confirmem essa alienação.
E mais: a alienação é o processo social como um todo que não é
produzido por um erro da consciência que se desvia da verdade,
mas é o resultado da própria ação do social dos homens. Não é a
crítica, mas a revolução a força motriz da história.
Diferentemente do que pensavam os positivistas, a relação entre
teoria e prática é uma relação simultânea e recíproca, por meio da
qual a teoria nega a prática como um fato dado, para revelá-la com
práxis social (atividade socialmente produzida e produtora da
existência social).
A prática, por sua vez, nega a teoria como um saber separado e
autônomo que comandaria de fora a ação dos homens. E negando
a teoria, a prática faz com que a teoria se descubra como
conhecimento das condições reais de prática existente, de sua
alienação e transformação.
A ciência da história e a ideologia
Marx e Engels afirmam que conhecem um único tipo de saber: a
ciência da história.
Toda concepção histórica, até o momento, ou tem emitido
completamente a base real da história ou a tem considerado algo
secundário, sem qualquer conexão com o curso da história, os
historiadores apontam apenas a finalidade dos fatos, nem os
analisam e nem os explicam.
Na medida em que as forças reais (que explicam o processo de
surgimento de um acontecimento) permanecem ocultas, o
historiador-ideólogo inventa causas e finalidades que acabam
convertendo a história numa entidade autônoma que usa os
homens como meros instrumentos. Estamos diante da ideia da
história.
Dessa forma, não só os acontecimentos históricos são explicados
de modo invertido (o fim explica o começo), mas tal explicação
ainda permite que a classe dominante justifique suas ações.
A história é também o processo de dominação de uma parte da
sociedade sobre todas as outras.
A Ideologia é um dos meios usados pelos dominantes para exercer
a dominação, fazendo com que esta não seja percebida como tal
pelos dominados.
Os seguintes aspectos tornam a Ideologia quase que incombatível:
A separação entre trabalhadores e pensadores;
O fenômeno da alienação. Enquanto não houver um conhecimento
da história real; enquanto a teoria não mostrar o significado da
prática imediata dos homens, a Ideologia se manterá; e
A dominação de uma classe sobre as outras.
Logo, a Ideologia é resultado da luta de classes e tem por função
esconder a existência dessa luta. E que o poder ou a eficácia da
Ideologia aumenta quanto maior for sua capacidade para ocultar a
origem da divisão social em classes e a luta de classes.
Ideologia como instrumento da dominação
A classe dominadora só poderá manter seus privilégios se dominar
politicamente e se dispuser de instrumentos para essa dominação.
Esses instrumentos são o Estado e a Ideologia.
Por sua vez, o grande instrumento do Estado é o Direito, auxiliado
pela Ideologia. Vejamos: o papel do Direito é fazer com que a
dominação não seja tida como uma violência, mas como legal e
ser, por isso, aceita. A lei é direito do dominante e o dever é dever
do dominado. Porém, se o Estado e o Direito fossem vistos como
realmente são, ou seja, como instrumentos para o exercício
consentido da violência, ambos não seriam respeitados, e os
dominados se revoltariam. A função da Ideologia consiste em
impedir essa revolta. Assim, a Ideologia substitui a realidade do
Estado pela ideia do Estado.
A maneira pela qual a classe dominante representa a si mesma se
tornará a maneira como todos os membros dessa sociedade
pensarão. Logo, a Ideologia é o processo pelo qual as ideias das
classes dominantes tornam-se ideias dominantes de todas as
classes sociais (de modo que a classe que domina no plano
material, domina também no plano espiritual).
Para que as ideias de classe dominante cheguem às outras
classes, ela as distribui através da educação, religião, costume,
meios de comunicação etc. As ideias de Ideologia são, portanto,
universais abstratas.
Os ideólogos são alguns membros das classes dominante e média
(aliada da primeira) que estão encarregados de transformar as
ideias da classe dominante em representações coletivas ou
universais.
O processo histórico real, para Marx e Engels, é o de que cada
nova classe em ascensão e desenvolvimento precisa formular seus
interesses de modo sistemático e precisa fazer com que tais
interesses apareçam como interesses de toda a sociedade.
Principais determinações que constituem o fenômeno da ideologia
As principais determinações que constituem o fenômeno da
Ideologia são:
A Ideologia é resultado da divisão social do trabalho e, em
particular, da separação entre trabalho material/manual e trabalho
espiritual/intelectual;
Essa separação estabelece a aparente autonomia do trabalho
intelectual face ao trabalho material;
Essa autonomia aparece como autonomia dos produtores desse
trabalho, isto é, dos pensadores;
Essa autonomia dos produtores aparece como autonomia dos
produtos desse trabalho, ou seja, das ideias;
Essas ideias são as ideias da classe dominante de uma época;
A Ideologia é um instrumento de dominação de classe;
A divisão da sociedade em classes realiza-se como luta de
classes, como o conjunto de procedimentos usados pela classe
dominante para manter a dominação, e com todos os
procedimentos dos dominadas para diminuir ou destruir essa
dominação;
A Ideologia esconde que nasceu da luta de classes para servir a
uma classe na dominação;
A Ideologia deve transformar as ideias particulares da classe
dominante em ideias universais, válidas igualmente para toda a
sociedade;
Por ser uma abstração, a Ideologia constrói uma rede imaginária
de ideias e de valores que possuem base real (a divisão social),
mas de tal modo que essa base seja reconstruída de modo
invertido e imaginário;
A Ideologia é uma ilusão, necessária à dominação de classe
(abstração e inversão);
A Ideologia permanece sempre no plano imediato do aparecer
social;
A Ideologia não é um reflexo do real na cabeça dos homens, mas o
modo ilusório pelo qual representam o aparecer social como se tal
aparecer fosse a realidade social;
A Ideologia é produzida em três momentos fundamentais:
Ela inicia-se, produzindo uma universalidade com base real para
legitimar a luta da nova classe pelo poder;
Ela prossegue, e populariza-se, torna-se um conjunto de ideias e
de valores concatenados e coerentes; e
Ela mantém-se mesmo após a vitória da classe emergente que se
torna classe dominante.
Hegemonia e crise de Hegemoniaa
Hegemonia, no sentido do texto, é o fenômeno de conservação da
validade das ideias e valores dos dominantes, mesmo quando se
percebe a dominação e mesmo quando se luta contra a classe
dominante, mantendo sua Ideologia.
Uma classe é hegemônica sobretudo porque suas ideias e valores
são dominantes, e mantidos pelos dominados até mesmo quando
lutam contra essa dominação (não há alienação);
A crise de hegemonia só ocorre quando, além da crise econômica
e política que afeta os dirigentes, há uma crise das ideias e dos
valores dominantes, fazendo com que toda a sociedade, na
qualidade de não-dirigente, recuse a totalidade da forma da
dominação existente.
Um exemplo disso são os movimentos feministas que reivindicam a
igualdade de direito frente ao mercado de trabalho: defender a
igualdade no mercado de trabalho não é criticar a exploração
capitalista do trabalho, mas é mantê-la, fazendo com que as
mulheres tenham igual direito de serem explorados e de realizarem
trabalhos alienados. Seria preciso que as mulheres pudessem
levar a cabo a crítica do próprio trabalho no modo de produção
capitalista, em vez de desejarem virar força de trabalho.
A ideologia da competência
Organização, ideologia da competência e competência privatizada
Em A gênese da Ideologia na sociedade moderna, o filósofo
francês Claude Lefort observa que houve mudança no modo de
operação da Ideologia, desde meados do século XX.
Sobretudo, a partir dos anos 1930 do século XX, houve uma
mudança no processo social do trabalho: o trabalho industrial
passou a ser organizado segundo um padrão conhecido como
fordismo que consistia em a empresa controlar desde a produção
da matéria-prima até a distribuição comercial dos produtos. Com o
fordismo, é introduzida uma nova prática das relações sociais,
conhecida como a Organização.
As principais características da Organização eram:
Afirmar que “organizar” é administrar, e que administrar é introduzir
racionalidade nas relações sociais;
Ela será tanto mais eficaz quanto mais todos os seus membros se
identificarem com ela e com os objetivos dela, fazendo de suas
vidas um serviço a ela que é retribuído com a subida na hierarquia
de poder; e
Afirmar que uma Organização é uma administração científica
racional que possui lógica própria e funciona por si mesma,
independentemente da vontade e da decisão de seus membros.
No caso do trabalho industrial, a Organização introduz duas
novidades: a primeira é a linha de montagem, é mais racional e
mais eficaz que cada trabalhador tenha uma função muito
especializada; a segunda, “gerência científica”, consiste em a
Organização dividir e separar os que possuem tal conhecimento –
os gerentes e administradores. Com isso, a divisão social do
trabalho faz-se pela separação entre os que têm competência para
dirigir e os incompetentes, que só sabem executar.
Examinando a maneira como o modelo da Organização se difunde
e se espalha por todas as instituições sociais e por todas as
relações sociais, Lefort fala na Ideologia contemporânea como
a Ideologia invisível. Ou seja, enquanto que na Ideologia burguesa
tradicional, as ideias eram produzidas e emitidas por determinados
agentes sociais, agora parece não haver agentes produzindo as
ideias, porque elas parecem emanar diretamente do funcionamento
da Organização e das chamadas “leis do mercado”.
Hoje em dia, porém, não se trata mais de usar técnicas vindas da
aplicação das ciências, e sim de usar e desenvolver tecnologias
(fabricação de instrumentos de precisão que interferem no próprio
conteúdo das ciências).
Se agora reunirmos a Organização, a “gerência científica”, a
presença da ciência e da tecnologia no processo produtivo e no
trabalho intelectual, perceberemos que a divisão social das classes
está entre os que possuem poder porque possuem saber e os que
não possuem poder porque não possuem saber.
Em vez de falarmos em Ideologia invisível, preferimos falar em
Ideologia da competência, que oculta a divisão social das classes
ao afirmar que a divisão social se realiza entre os competentes e
os incompetentes.
A Ideologia da competência realiza a dominação pelo prestígio e
poder conferidos ao conhecimento científico e tecnológico. A
Organização é competente; os indivíduos e as classes sociais,
incompetentes.
Competência privatizada é aquele discurso que ensina a cada um
de nós como nos relacionarmos com o mundo e com as pessoas.
Isso explica, talvez, a proliferação dos livros de auto-ajuda, os
programas de conselhos pelo rádio e pela televisão.
A Ideologia da competência nos ensina, no cotidiano, na
organização escolar, na organização empresarial, etc. que só a
competência no trabalho assegura felicidade e realização.
Conclusão
A história nos é contada de “grandes homens”, “grandes feitos”,
“grandes progressos”, mas a Ideologia nunca nos diz o que são
esses “grandes”. Em quê sentido? Por quê? Em relação a quê?
Talvez, a Ideologia nos tenha trazido mais questionamentos do que
respostas.
No entanto, o saber histórico nos dirá que esses “grandes” são os
“grandes e poderosos”, os dominantes, cuja “grandeza” depende
sempre da exploração e dominação dos “pequenos”.
Graças a esse tipo de história (que não analisa e não explica os
fatos), a Ideologia pode manter sua hegemonia mesmo sobre os
vencidos, pois estes interiorizam a suposição de que não são
sujeitos da história, mas apenas seus pacientes (alienados).
Somente uma prática política nascida dos explorados e dominados
e dirigida por eles próprios pode desmanchar a Ideologia.
É duma importância a crítica da Ideologia que consiste em
preencher as lacunas e os silêncios do pensamento e discurso
ideológicos, obrigando-os a dizer tudo que não está dito, pois
dessa maneira a lógica da Ideologia se desfaz e se desmancha,
ficando apenas os fatos “realmente reais”.