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O PLANO DE AÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO

ENSINO MÉDIO.

Mirian Aparecida Moreira Camargo

MARINGÁ 2010/2012

O PLANO DE AÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO

ENSINO MÉDIO.

Artigo final apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação (SEED) orientado pela Ms Leila Pessôa Da Costa e pela Ms Janira Siqueira Camargo

MARINGÁ 2010/2012

O PLANO DE AÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO

ENSINO MÉDIO.

Mirian Aparecida Moreira Camargo1

Leila Pessôa Da Costa2

Janira Siqueira Camargo3

RESUMO

Este artigo apresenta a implementação do projeto “Organização do Plano de Ação

Docente de Química, Física e Biologia a partir da Avaliação Diagnóstica dos alunos

de Ensino Médio de EJA” cujo objetivo foi o de adequar a metodologia e materiais

didáticos – pedagógicos aos alunos do Ensino Médio do CEEBJA de um município

situado na região noroeste do Estado do Paraná a partir da elaboração do Plano de

Ação Docente. Buscou vincular à formação do professor uma abordagem

sociointeracionista, visando o aprofundamento de seus conhecimentos acerca da

Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. Percebeu-se ao final do projeto que o

grupo nas suas interações demonstrou conhecimento sobre o assunto abordado e

correspondeu aos objetivos propostos que culminaram na elaboração de um Plano

de Ação Docente com vistas a atender as necessidades e adequar metodologias e

materiais didáticos pedagógicos a essa clientela.

PALAVRAS-CHAVES- Educação de Jovens e Adultos, Avaliação Diagnóstica,

Currículo, Aprendizagem.

1 Professora PDE 2010 – Graduada em Pedagogia Plena – UNOESTE – Presidente Prudente – SP. 2 Professora Mestra do Departamento de Teoria e Prática da UEM, Maringá, Paraná. 3 Professora Mestra do Departamento de Teoria e Prática da UEM, Maringá, Paraná.

INTRODUÇÃO

As políticas educacionais brasileiras vem há tempos propondo alternativas

para reparar “uma dívida” para com jovens e adultos que tiveram de amadurecer

durante seu caminhar pela vida, optando pelo trabalho para poderem sobreviver e

consequentemente estiveram distantes de uma sala e aula. Embora se destine

investimentos para esta modalidade de ensino tais iniciativas, na história da

Educação de Jovens e Adultos - EJA sempre foram incompletas ou equivocadas e

muitas vezes deixaram de mostrar um caminho que contemplasse o

desenvolvimento de todas as pessoas que dela necessitam como um direito social e

subjetivo, tal como apontado no Parecer CEB Nº 11/2000 “[...] adolescentes, jovens,

adultos e idosos poderão atualizar conhecimentos, mostrar habilidades, trocar

experiências e ter acesso a novas regiões do trabalho e da cultura” (BRASIL, 2000,

p.9). Diante desta fala, educadores têm se preocupado em apresentar teorias,

propostas pedagógicas, metodologias e didáticas especiais para suprir a

necessidade e dar resposta a uma questão social.

Entretanto, as mesmas não têm contribuído para amenizarem problemas que

dizem respeito aos envolvidos no processo educacional de jovens e adultos, que são

os alunos e os professores, pois a falha se encontra parte no próprio sistema, uma

vez que a escola que deveria ser um espaço privilegiado para atender este

educando, muitas vezes não possuem uma estrutura adequada a esse tipo de aluno,

e por vezes não identificam o seu perfil educacional.

Esse aluno - jovem ou adulto - embora esperançoso frente à continuidade de

seus estudos encontra grandes dificuldades, pois sente que muitas vezes essas

condições não são propícias à sua realidade de vida. Assim, ele inicia, abandona e

recomeça várias vezes seu processo de aprendizagem e provavelmente é tomado

pelo desânimo, seja por questões de exigências de trabalho e também pelo

cansaço, seja por sentimento de incapacidade frente a esse processo.

Visando consolidar este direito do jovem e adulto de receber uma formação

acadêmica e poder ingressar no mundo letrado, temos que considerar as

especificidades da EJA e o perfil de seu educando, pois as diversidades e

necessidades do aluno de EJA muitas vezes não são respeitadas e a escola

continua oferecendo o mesmo espaço, a mesma estrutura de funcionamento e a

mesma metodologia usada no ensino regular, tal como nos aponta Arroyo:

Um reconhecimento mais rigoroso da realidade de nossa escola é condição necessária para combater esta escola e reinventar, dia a dia, a escola necessária que esteja atenta e preparada para receber e atender o aluno jovem, adulto e idoso respeitando suas especificidades afins de que esse permaneça na escola até completar a sua escolarização e tenha condição de prosseguir nos estudos se assim o quiser (ARROYO, 2001, p. 21).

Para poder reinventar esta escola citada por Arroyo (2001), o educador deve

estar sempre atento aos recursos pedagógicos que deve utilizar e motivações

necessárias que devem ser acionadas para que o educando se desenvolva,

respeitando os conhecimentos já vivenciados e resgatando suas experiências de

vida e nessa relação é importante criar um clima de amizade e valorização deste

aluno, mantendo, portanto, por parte do professor atitudes que revelem autoridade,

conhecimento e respeito não só a pessoa do educando, mas aquilo que ele pensa e

o que é significativo em sua vida, ou seja, buscar uma relação dialógica no espaço

educativo.

Para Freire (1996 p. 70 - 71)

Como professor, se minha opção é progressista e venho sendo coerente com ela, se não me posso permitir a ingenuidade de pensar-me igual ao educando, de desconhecer a especificidade da tarefa do professor, não posso, por outro lado, negar que o meu papel fundamental é contribuir para que o educando vá sendo o artífice da sua formação com a ajuda necessária do educador. [...] se trabalho com jovens ou adultos, não menos atento devo estar com a relação que meu trabalho possa significar como estímulo ou não à ruptura necessária com algo defeituosamente assentado e à espera de superação. Primordialmente, minha posição tem de ser de respeito à pessoa que queira mudar ou se recuse mudar [...] O meu papel, ao contrário, é o de quem testemunha o direito de comparar, de escolher, de romper, de decidir e estimular a assunção deste direito por parte dos educandos.

A formação continuada do professor para atender este educando da EJA é

muito importante, para que possa dominar o processo pedagógico em que ambos

possam interagir, o primeiro como mediador do conhecimento e o segundo como

sujeito de aprendizagem, numa relação dialógica em que todos os envolvidos na

escola participem, cumprindo-se sua função social que é oportunizar aos alunos a

apropriação dos conhecimentos historicamente acumulados, no qual ambos dão

sentido ao processo de ensino e de aprendizagem.

Neste sentido afirma Gasparin (2009, p 13):

Uma das formas para motivar os alunos é conhecer sua prática social imediata a respeito do conteúdo curricular proposto. Como também ouvi-los sobre a prática social mediata, isto é, aquela prática que não depende diretamente do indivíduo, e sim das relações sociais como um todo. Conhecer essas duas dimensões do conteúdo constitui uma forma básica de criar interesse por uma aprendizagem significativa do aluno e uma prática docente também significativa.

Por estas razões acredita-se que ao assumir uma Proposta Pedagógica na

Perspectiva Histórico-Crítica o professor pode mudar os rumos da educação

brasileira em todos os níveis e modalidades de ensino e oportunizar a escolarização

do aluno jovem e adulto que vem em busca de um direito que lhe foi negado

anteriormente e que independente de sua classe social, receba e assimile o

conhecimento historicamente construído e reconquiste não só sua autonomia, mas

também o sentimento que está sendo respeitado em sua identidade e dignidade.

Esta é uma proposta nova, veiculada pela Secretaria de Educação do Estado

do Paraná, e que na sua síntese define as necessidades e solicitações dos docentes

comprometidos com a EJA, pois atualmente o professor encontra muitas

dificuldades no enfrentamento do seu cotidiano escolar, na execução do seu Plano

de Trabalho Docente em relação ao encaminhamento metodológico para atender às

dificuldades que tem enfrentado no seu dia-a-dia, tais como a falta de interesse dos

alunos, a indisciplina em sala de aula e também as mudanças sociais e culturais que

requerem sempre mais da educação.

Diante desses fatos, faz-se necessário que o professor, além do

conhecimento específico de sua disciplina, se aproprie de diferentes abordagens

pedagógicas, sempre analisando o momento histórico em que vivemos e saiba

aplicá-las no processo de ensino e aprendizagem para atender às expectativas dos

alunos e realizar a contento a sua proposta educacional. Inteirar-se e desenvolver os

passos articulados na Didática da Pedagogia Histórico-Crítica é muito importante

para definir as ações pedagógicas que visam conduzir a educação como uma

transformação social por meio da apropriação da cultura produzida pelos homens.

De acordo com Gasparin:

Nessa perspectiva, o novo indicador da aprendizagem escolar consistirá na demonstração teórica do conteúdo e no seu uso pelo aluno, em função das necessidades sociais a que deve responder. Esse procedimento implica um novo posicionamento, uma nova atitude do professor e dos alunos em relação ao conteúdo e à sociedade: o conhecimento escolar passa a ser teórico-prático. Implica que seja apropriado teoricamente como um elemento fundamental na compreensão e na transformação da sociedade (2009, p.2).

Tudo o que aprendemos durante nossas vidas dá-se por meio do

conhecimento de saberes que são construídos pelos homens e a cada momento

estamos aprendendo com os outros e com nós mesmos. A escola é um espaço

privilegiado de formação do educando, pois é lá que ele se apropria da riqueza

cultural da humanidade. Essa apropriação é necessária para que ele passe a fazer

parte da sociedade em que vive e das relações de trabalho, sendo que, por meio do

conhecimento adquirido vai agir como um cidadão que tenha uma presença crítica e

inovadora no seu tempo e lugar.

ASPECTOS TEÓRICOS SUBJACENTES À PRÀTICA PEDAGÓGICA

Consideramos então que os alunos da EJA precisam de um currículo que não

seja somente um documento impresso ou uma listagem de conhecimentos a serem

desenvolvidos na escola com métodos e orientações pedagógicas desvinculadas de

um projeto político–pedagógico. A mudança é simples e ao mesmo tempo complexa,

não depende somente ou exclusivamente da vontade do professor, é preciso que o

mesmo receba uma formação continuada, sendo também necessário haver um

contexto que envolva o processo educacional superando práticas pré-estabelecidas.

Será oportuna, uma proposta de trabalho pedagógico que considere as

possíveis dificuldades que os alunos possam apresentar em relação aos conteúdos

de algumas disciplinas, tais como Biologia, Química e Física.

Precisamos provocar momentos de reflexões na EJA para ver como está e

saber onde queremos chegar, delineando ações pedagógicas efetivas para atingir os

objetivos propostos nas diretrizes curriculares.

Existem muitos desvios na interpretação da EJA que devem ser

redirecionados para que o aluno possa sentir-se valorizado, pertencente a uma

escola com uma proposta pedagógica que lhe dá condições necessárias para

futuramente exercer seu direito pleno de cidadão, recebendo uma educação de

qualidade.

Uma questão que merece uma reflexão mais aprofundada segundo Barcelos

(2010), quando se trata da EJA, é, por exemplo, a dicotomia historicamente

estabelecida no que se refere à formação para o mercado de trabalho e à formação

de caráter mais geral que é inerente ao processo educativo escolar. Ao comentar

este debate, Soares (apud BARCELOS, 2005), alerta para o fato de que pensarmos

a EJA tomando como referência e objetivo apenas à inserção destes educandos ao

mercado de trabalho e nesse sentido é ter uma visão muito reducionista e mesmo

pragmática da educação.

Klein (2003) aponta, porém, outros desvios na interpretação da EJA. O

primeiro deles se refere a promover a subordinação do processo pedagógico às

limitações dos alunos, reduzindo o tempo de estudo e conteúdos com o pretexto de

adaptá-los às condições reais dos educandos. Outro desvio citado pela autora diz

respeito a uma pedagogia voltada aos reais interesses e necessidades do aluno,

levando à discussão de temáticas pautadas apenas no senso comum, deixando de

lado o conhecimento científico, gerando um barateamento de conteúdos. Afirma

ainda que é necessário buscar uma articulação entre ambos os interesses: o

particular (cotidiano imediato) e o universal.

Ainda para Klein (2003), o desenvolvimento científico é que deve ser o norte

para o desenvolvimento de conteúdos, e nesse sentido, aponta que:

[...] é necessário sim promover adequações no que diz respeito à organização do processo pedagógico ao calendário, ao horário das aulas, às possibilidades de frequência dos alunos, criando condições concretas para sua inserção no processo ensino-aprendizado, entretanto, essas adequações devem ter como meta a possibilidade de apropriação do conhecimento científico que se inscreve num quadro transformador, e não a pretexto de “poupar” um aluno já atingido por inúmeros sofrimentos, desembocar em

encaminhamentos que resultam da redução de oportunidades de aprendizagem. Da mesma forma, há de se contemplar o interesse dos alunos, inclusive os imediatos, introduzindo os temas cotidianos estrategicamente no desenvolvimento das aulas. Porém, essa abordagem não poderá ter como custo o sacrifício das suas necessidades e interesses mais amplos, os quais no que diz respeito ao ensino, se traduzem enquanto domínio do conhecimento mais avançado, ou seja, enquanto superação do senso comum. (KLEIN, 2003, p. 14)

Assim, a escola tem que repensar se não está sendo apenas repassadora de

conteúdos ou se está valorizando a aprendizagem e a formação de seu aluno como

ser social, capacitando-o a fazer uso do conhecimento adquirido, para que colabore

na compreensão e transformação da sociedade. Sobre essa questão, Gasparin

(2009) aponta que:

Desta maneira, os conteúdos não seriam mais apropriados como um produto fragmentado neutro, anistórico, mas como uma expressão complexa da vida material, intelectual, espiritual dos homens de um determinado período da história. Os conhecimentos científicos necessitam, hoje, de ser reconstruídos em suas plurideterminações, dentro das novas condições de produção da vida humana, respondendo, quer de forma teórica, quer de forma práticas, aos novos desafios propostos (p. 3).

Faz-se então necessária a reformulação e consolidação de uma prática

pedagógica que realmente transforme o processo de ensino e aprendizagem,

reforçando ações avaliativas para diagnosticar o perfil deste aluno, sua bagagem de

conhecimento e quais conteúdos devem ser selecionados e aplicados no dia a dia

deste educando.

Nas Diretrizes Curriculares Estaduais para a Educação Básica – DCE

(PARANÁ, 2008 p. 24) destaca-se a importância dos conteúdos disciplinares e do

professor como autor do seu plano de ensino, contrapondo-se, assim, aos de

organização curricular que vigoraram na década de 1990, os quais esvaziaram os

conteúdos disciplinares para dar destaque aos chamados temas transversais, que

priorizaram as habilidades e competências dos alunos, esta afirmação é reforçada

por Sacristán (2000):

Sem conteúdo não há ensino, qualquer projeto educativo acaba se concretizando na aspiração de conseguir alguns efeitos no sujeito

que se educa. Referindo-se a estas afirmações ao tratamento científico do ensino, pode-se dizer que se formalizar os problemas relativos ao conteúdo não existe discurso rigoroso nem científico sobre o ensino, porque estaríamos falando de uma atividade vazia ou com significado à margem do para que serve (p.120).

O trabalho desenvolvido pelo professor deve ser direcionado para a

abordagem que será conveniente para coordenar essas intenções, visando atender

as necessidades imediatas do aluno, valorizando os conhecimentos adquiridos por

meio de práticas sociais e montando um plano de ação docente com conteúdos que

propiciem a descoberta do novo, estimulem e lance bases na construção desses

novos saberes. É muito importante a efetivação desse processo de transição dos

conceitos espontâneos para os conhecimentos científicos. É por essa razão que a

proposta sociointeracionista atribui ao papel do professor uma grande relevância.

Segundo Freitas (apud NEVES; DAMIANI, 2006, p.9).

Quanto ao “professor vygotskyano”, explica que aquele que detendo mais experiência, funciona intervindo e mediando a relação do aluno com o conhecimento. Ele está sempre em seu esforço pedagógico, procurando criar Zonas de Desenvolvimento Proximal (ZDP’s), isto é, atuando como elemento de intervenção e ajuda. Na ZDP, o professor atua de forma explícita, interferindo no desenvolvimento dos alunos provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. Vygotsky, (apud Freitas, 2000), desta forma, resgata a importância da escola e do papel do professor como agente indispensável do processo de ensino e aprendizagem. O professor pode interferir no processo de aprendizagem do aluno e contribuir para a transmissão do conhecimento acumulado historicamente pela humanidade.

Vinculando estas idéias ao processo de ensino e de aprendizagem podemos

afirmar que a mediação do professor é de suma importância na transição dos

conceitos espontâneos para os conhecimentos científicos, por essa razão a proposta

sociointeracionista atribui grande relevância ao papel do professor.

É preciso então compreender como os educandos gradativamente

apreendem e elaboram os conceitos científicos a partir do cotidiano, tendo como

suporte teórico a concepção epistemológica da teoria histórico-cultural, tal como

aponta Gasparin:

A tarefa docente consiste em trabalhar o conteúdo científico e contrastá-lo com o cotidiano, afim de que os alunos, ao executarem

inicialmente a mesma ação do professor através das operações mentais de analisar, comparar, explicar, generalizar, etc., apropriem-se dos conteúdos científicos e neles incorporem os anteriores, transformando-os também em científicos, constituindo uma nova síntese mais elaborada. A construção dos conceitos científicos vai, aos poucos, formando-se a partir da identificação mais precisa das características específicas e da explicitação mais consistente das dimensões sociais deste conceito, levantadas na fase da problematização, bem como por meio de comparações com outros conceitos que estejam sendo estudados (2009, p. 56).

O professor deve ter o domínio dos conhecimentos científicos para poder

fazer a ligação destes com o conhecimento informal do educando e é a interação

aluno-professor e aluno-aluno que vai provocar a apropriação dos conceitos

científicos que depois retornarão ao cotidiano dos alunos.

Consideramos, também que a função da escola se cumpre quando possibilita

ao aluno o acesso ao conhecimento científico, e isto se torna real quando há

participação de todos os envolvidos na escola. Porém, a atuação do professor como

mediador do conhecimento é que dará sentido ao processo de ensino e

aprendizagem, pela elaboração do seu plano docente que deve nortear sua ação,

com a seleção dos conteúdos, dos materiais didáticos que vai usar e da metodologia

que vai aplicar.

UMA DIDÁTICA PARA A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: UMA NOVA

DIDÁTICA

De acordo com os passos propostos por Saviani (1992), Gasparin (2005)

elaborou cinco passos didáticos para a Pedagogia Histórico-Crítica na Prática

Escolar, a saber:

1º Passo - PRÁTICA INICIAL SOCIAL DO CONTEÚDO

Nível de desenvolvimento atual do educando: se expressa pela prática social

dos conteúdos. Tem seu ponto de partida no conhecimento prévio do professor e

dos educandos. É o que o professor e os alunos já sabem sobre o conteúdo no

ponto de partida, em níveis diferenciados. Este passo desenvolve-se, basicamente

em dois momentos:

a) O professor anuncia aos alunos os conteúdos que serão estudados e seus

respectivos objetivos;

b) O professor busca conhecer os educandos por meio do diálogo, percebendo

qual a vivência próxima e remota cotidiana desse conteúdo antes que lhe seja

ensinado em sala de aula, desafiando-os para que manifestem suas

curiosidades, dizendo o que gostariam de saber a mais sobre este conteúdo.

2º Passo – PROBLEMATIZAÇÃO

Consiste na explicação dos principais problemas postos pela prática social,

relacionados aos conteúdos que será tratado. Este passo desenvolve-se na

realização de:

a) Uma breve discussão sobre estes problemas em sua relação com o conteúdo

científico do programa, buscando razões pelas quais o conteúdo escolar deve

ou precisa ser aprendido;

b) Em seguida transforma-se esse conhecimento em questões, em perguntas

problematizadoras levando em conta as dimensões científica, conceitual,

cultural, histórica, política, ética, econômica, religiosa etc., conforme os

aspectos sobre os quais se deseja abordar o tema, considerando-o sob

múltiplos olhares. Essas dimensões do conteúdo são trabalhadas no próximo

passo, o da instrumentalização.

3º Passo – INSTRUMENTALIZAÇÃO

Essa se expressa no trabalho do professor e dos educandos para a

aprendizagem. Para isso o professor:

a) Apresenta aos alunos com ações docentes adequadas o conhecimento

científico, formal, abstrato, conforme as dimensões escolhidas na fase

anterior; os educandos, por sua vez, por meio de ações estabelecerão uma

comparação mental com a vivência cotidiana que possuem desse mesmo

conhecimento, a fim de se apropriar do novo conteúdo;

b) Neste processo usam-se todos os recursos necessários e disponíveis para o

exercício da mediação pedagógica.

4º Passo – CATARSE

É a expressão elaborada de uma nova forma para entender a teoria e a

prática social. Ela se realiza:

a) Por meio de uma nova síntese mental a que o educando chegou; manifesta-

se por meio da nova postura mental unindo o cotidiano ao científico em uma

nova totalidade concreta no pensamento. Neste momento o educando faz um

resumo de tudo o que aprendeu, segundo as dimensões do conteúdo

estudadas. É a elaboração mental do novo conceito do conteúdo;

b) Esta síntese se expressa com uma avaliação oral ou escrita, formal ou

informal, na qual o educando traduz tudo o que aprendeu até aquele

momento, levando em consideração as dimensões sob as quais o conteúdo

foi tratado.

5º Passo – PRÁTICA SOCIAL FINAL

No nível de desenvolvimento atual do educando, consiste em assumir uma

nova proposta de ação a partir do que foi aprendido. Este passo se manifesta:

a) Pela nova postura prática, pelas novas atitudes, novas disposições que se

expressam nas intenções de como o aluno levará à prática, fora da sala de

aula, os conhecimentos científicos;

b) Pelo compromisso e pelas ações que o educando se dispõe a executar em

seu cotidiano pondo em efetivo exercício social o novo conteúdo científico

adquirido.

Ao assumir os desafios desta nova didática o professor lançará um olhar

diferenciado sobre a educação e deve estar preparado para idealizar novas

propostas, enfrentar novos caminhos que exigirá dele muito esforço, dedicação,

estudo e principalmente coragem para inovar e dar maior significação ao processo

de ensino e de aprendizagem.

Seguindo estes procedimentos de trabalho o professor atuará como mediador

do conhecimento, dando ao aluno a possibilidade de constatar que aquilo que ele

aprendeu durante sua vida, é valorizado e transformado em um conhecimento maior,

que lhe ofertará uma educação de qualidade e ao mesmo tempo adequada para o

ingresso ou permanência no mercado de trabalho e capacitando-o a prosseguir seus

estudos se assim desejar.

DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

O projeto de implementação teve início em agosto de 2010, com as atividades

de formação do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, ofertando o

curso de Educação Digital para o professor ter contato e aprender usar as

ferramentas por ele proporcionadas. Após o I Seminário Integrador Descentralizado,

que subsidiou e esclareceu sobre as especificidades as ações que se

desenvolveriam no decorrer do programa, iniciaram-se as atividades de

aprofundamento teórico.

A formação pedagógica revelou-se uma das partes mais importantes no

contexto de formação do PDE, pois é um momento histórico onde se recebe todo o

embasamento teórico para o desenvolvimento da proposta, oportunizando um

diálogo dos professores da Educação Básica com os professores do Ensino

Superior e concretizando por meio de cursos, seminários, encontros de área,

inserções acadêmicas a formação para preparar o material didático com o objetivo

atender aos problemas que ocorrem no dia a dia da escola. Nestes primeiros

momentos propôs-se o Pré-Projeto de Intervenção Pedagógica.

As Atividades de Integração Teórico-Práticas foram elaboradas com a

supervisão da orientadora da IES, e iniciaram com uma investigação, usando como

instrumento um questionário que foi respondido por alunos e professores e sinalizou

qual a prioridade da escola.

Após a coleta de dados e a delimitação clara da situação problema foi

elaborado o Projeto de Pesquisa “Plano de Ação Docente na Perspectiva Histórico-

Crítica”, que embasou a realização da Produção Didático-Pedagógica: “Organização

do Plano de Ação Docente de Química, Física e Biologia a partir da avaliação

diagnóstica dos alunos do Ensino Médio de EJA”.

A continuidade do programa deu-se com a realização do II Seminário

Integrador Descentralizado, e o Curso de Formação de Tutores (EAD) para o Grupo

do Trabalho em Rede, iniciando as Atividades Didático-Pedagógicas com Utilização

de Suporte Tecnológico.

O GTR (Grupo de Trabalho em Rede) foi desenvolvido com atividades a

distância, utilizando a mídia para oportunizar ao professor da Rede Estadual

conhecer os estudos, reflexões, produções, discussões e elaborações realizadas

pelo Professor PDE, é um canal de inclusão virtual dos Professores da Rede. O

GTR apontou a necessidade de discutir várias questões da EJA, visto que os

professores que dele participaram apontaram que:

“Não tenho experiência profissional com o trabalho específico nesta

modalidade de ensino (EJA), mas tenho muita experiência em trabalhar no Ensino

Médio Noturno. São jovens e adultos que optam pelo ensino noturno por conta de

trabalho e outros motivos. Também existe, como na EJA, uma diversidade muito

grande e necessidade de um olhar diferenciado. Então concordo plenamente com

sua afirmativa! Por conta disso, escolhi este grupo de estudo para poder estudar e

“pensar” um pouco mais sobre esta problemática, objetivando uma prática

pedagógica que responda a esta especificidade.”( Suely)

“Ao focar o educador/ mediador e a sua formação continuada como fator

essencial no processo ensino e aprendizagem, aprendemos que ai pode estar o

caminho para superação do fracasso da escola. Ressalta-se ainda, aspectos de um

educador bem sucedido, que através de sua prática pode trazer contribuições

significativas aos educadores que trazem consigo sede de conhecimento e desejo

de melhorar enquanto profissionais”.( Maria de Lourdes)

“Creio que um estudo inovador como este, pode revelar características de

uma EJA que possui qualidades, pois além de ser inclusiva, aberta a todos, ainda

traz consigo profissionais que se preocupam com a classe trabalhadora e que vêm

na escola a única forma de ascensão social.” (Luís Antônio)

“Acredito muito na formação continuada dos professores para que possamos

enfrentar desafios. Vejamos a importância do grupo de estudo “GTR”, que propicia a

interações de conhecimentos e trocas de experiências vividas no cotidiano social e

escolar.” (Marcos).

“Devemos considerar que a aprendizagem não acontece somente no

ambiente escolar [...], Então nos perguntamos: Qual é o papel da escola? Muito

bem, para responder vamos nos ater na abordagem pedagógica Histórico-Critica,

que ensina que é somente a escola que propicia ao aluno o conhecimento

científico.” (Débora).

“Sabemos que a escola tem como função social transmitir os conhecimentos

produzidos pelo coletivo dos homens, Mas este conhecimento tem que ser

intencionalmente organizado e sistematizado pelos professores para que possa

possibilitar o desenvolvimento global dos educandos.” (Vilma).

“Para isso os profissionais envolvidos devem participar de momentos de

estudo, como estes, para encontrarem caminhos possíveis e melhorarem a

qualidade de ensino e aprendizagem de nossos alunos.” (Nestor)

As interações dos professores participantes do GTR demonstraram

conhecimento sobre o assunto abordado no Projeto de Intervenção Pedagógica e

corresponderam ao esperado.

As considerações e as reflexões que foram assinaladas revelaram um olhar

diferente para a EJA, observando as especificidades da mesma e o perfil de seu

alunado. Os cursistas fizeram boas interações e pelas contribuições apresentadas

em “Vivenciando a Prática”, com Planos de Ação Docente embasados na Didática

da Pedagogia Histórico-Crítica, sinalizaram que se apropriaram dos conhecimentos

propostos pelo Projeto de Implementação.

Os trabalhos foram desenvolvidos no período de 10 de setembro a 22 de

outubro de 2011, durante o Projeto de Implementação, realizado no CEEBJA, uma

escola situada em um município da região noroeste do Estado do Paraná. Contou

com a participação de professores das áreas de Química, Física, Biologia, Educação

Especial e pedagogos e foi organizado por meio de um curso de extensão com

duração de 32 horas.

Destacou-se a importância desses encontros por oportunizarem a todos os

envolvidos na EJA a possibilidade de sentirem claramente a necessidade de um

trabalho coletivo, que permitirá um avanço em relação a muitas iniciativas que têm

sido consideradas, as quais envolvem propostas já prontas, sem respeitar tanto o

professor quanto o aluno desta modalidade de ensino.

O curso teve como objetivo diagnosticar o perfil e os conhecimentos dos

alunos do Ensino Médio de EJA nas disciplinas de Química Física e Biologia,

selecionando conteúdos a serem trabalhados a fim de valorizar e ampliar os saberes

vivenciais dos alunos, oportunizando a aquisição de conhecimentos científicos. Foi

desenvolvido em 08 encontros com os seguintes conteúdos: Reflexão acerca dos

pressupostos de uma proposta pedagógica na perspectiva histórico-crítica;

Levantamento do perfil do aluno de EJA; Discussão do currículo como conteúdo de

ensino e a seleção dos conteúdos em consonância com o perfil dos alunos;

Elaboração do plano de ação docente e materiais didáticos; Socialização dos

trabalhos.

No primeiro momento do curso estudamos o tema “O Perfil do Aluno de EJA”

com textos de diversos autores, a apresentação foi feita por meio de palestras,

leitura de depoimentos, reflexões dialogadas e slides para que fosse elaborado um

questionário e aplicado junto aos alunos para identificar seu perfil nas áreas

selecionadas: Química, Física e Biologia e visualizaram-se os seguintes resultados:

Do universo pesquisado a maioria pertence ao sexo masculino (65%), embora

se registre um percentual significativo do sexo feminino (35%), em relação ao

estado civil a maior parte é solteira (70%), a média de idade é de 21 a 30

anos, pertencem a uma família média de 04 pessoas, moram em casa própria

com renda familiar de três salários mínimos, há um percentual maior (60%) de

alunos que atualmente se encontram trabalhando, mas percebemos também

um importante registro da quantidade dos que não trabalham (40%);

Os alunos sentem-se felizes por estarem estudando (90%), porém há os que

às vezes sentem-se felizes que representam (10%) dos entrevistados; um

número significativo (95%) declara-se capacitado a vencer as dificuldades e

aprender, mas (10%) acha que tem dificuldades para aprender, os alunos

sentem felizes porque na escola seus conhecimentos são valorizados (95%),

e são capazes de acompanhar o ritmo de estudo; não pensam em desistir de

frequentar a escola (70%), mas há uma porcentagem correspondente a (25%)

que às vezes pensa em desistir de estudar e (5%) que realmente pensa em

desistir de estudar;

Os professores, são importantes para a aprendizagem, entendem suas

dificuldades e ajudam a superá-las, opinião que obteve registro bastante

expressivo (95%), pois revelou quase totalidade de opinião, o fato de que eles

os incentivam a continuarem estudando, que raramente demonstram

impaciência quando não entendem a matéria e que dão atenção aos alunos;

Assinalaram que a escola é muito valiosa para eles, pois, os ajudam na

concretização de seus sonhos, sentem-se realizados estudando e consideram

o estudo necessário para melhorarem de vida, alguns declararam que não

sentem vergonha por não terem estudado (45%), porém o número dos que

sentem (35%) e às vezes sentem (20%) superou os primeiros. Dos

entrevistados, 40% não estavam sem estudar, (35%) estavam há cinco anos

afastados, (15%) de 6 a 10 anos e (10%) há mais de 20 anos;

Sobre a qualidade do ensino no CEEBJA, a maioria (65%) opinou que é igual

às outras escolas e alguns consideraram melhor (30%), e uma minoria (5%)

considerou pior que nas outras escolas;

Declararam que procuraram a EJA, pois desejam concluir o Ensino Médio

(40%) e fazer outros cursos ou curso superior (45%), estas foram as

respostas que mais se destacaram, mas também para conseguir um emprego

melhor ou exigências do trabalho e por vontade de vencer na vida e dar um

futuro melhor aos filhos (15%);

Apontam que com relação à dificuldade de continuar estudando tem como

causa o cansaço (45%), seguido de distância da escola (15%), inadequação

dos horários de trabalho e estudo (10%), problemas familiares (5%)

dificuldades de aprendizagem (10%), mas houve declarações (10%) que não

tem nenhum problema, que não tem dificuldades que os possam fazer desistir

de estudar, que os professores são excelentes, explicam bem os conteúdos e

sentem como alunos, orgulho de frequentar o CEEBJA.

Quando solicitados a descrever a sua escola e se gostariam que algo

mudasse, formularam as seguintes respostas, abaixo transcritas na sua forma

original, sem correções:

“Não a escola é ótima precisa de alunos que tenha mais força de vontade de

estudar.”

“É uma ótima escola, gosto muito de estudar nela, aqui a aprendizagem é

ótima.”

“É uma boa escola. os professores ajuda os alunos nas dificuldade.”

“A escola está bem. Eu queria que tivesse algum programa para estudar e

preparar o aluno que quer fazer o vestibular para ter mais confiança e noção.”

“Esta escola dá oportunidade das pessoas a procurar o estudo com jovens

idosos e ter mais oportunidade na vida na vida de cada um. Eu não gostaria que

nada mudasse”

“No meu ponto de vista está tudo bem. Não vejo nada a mudar.”

“Gostei muito desse colégio, os professores são excelentes, atenciosos, eu

não gostaria que mudasse nada.”

“Esta escola para mim é melhor que as outras porque eu consigo

acompanhar o ritmo das matérias e aprendo mais o conteúdo do que nos outros

colégios, para mim não precisa mudar nada ta tudo perfeito.”

“Descrevo esta escola como uma porta para o futuro.”

“É uma escola muito boa de estudar. Sim eu gostaria que tivesse mais

estudos coletivos.”

“Não, eu gosto dessa escola, eles ensinam bem o horário ajuda pois eu

trabalho, ela proporciona um bom estudo.”

“Melhor infraestrutura, mais aulas, mais autoridade dos professores sob os

alunos, uma escola melhor digo o prédio mal repartido”.

“Ótima para mim está conforme eu gostaria.”

“É uma ótima escola, gosto muito de estuda nela, aqui a aprendizagem é

ótima”.

“Uma boa infraestrutura, mas que ainda pode ser melhorada; alguns

professores devem impor mais sua posição perante os alunos principalmente no

período da tarde onde os ‘alunos’ tem menor faixa etária; existe uma carência de um

local adequado para as aulas de Ed. Física.”

“O aprendizado é ótimo os professores estão de parabéns eles entendem

nossas dificuldades a escola em si respeita nossos problemas eu agradeço a Deus

por ter me dado mais uma oportunidade de concluir meus estudos.”

“Ninguém ama aquilo que não conhece. Foi justamente o que aconteceu

comigo antes de reiniciar o meu estudo. O que parecia negativo em relação ao

‘CEEBJA’, de uma escola de certificados, hoje, tenho que dizer totalmente ao

contrário em relação ao que eu pensava antes. Foi então, depois que aqui cheguei

que pude ver o quanto estava errado. A começar pela direção, numa acolhida de

atenção e muito carinho pelas pessoas sem distinção. O que me resta agora é dar

parabéns por esta iniciativa do Estado, em oferecer mais uma oportunidade, para

aqueles que não puderam ou não tiveram antes.”

“Ótima, gosto muito de estudar aqui. Para mim está bom demais.”

Percebe-se pelas respostas dadas pelos alunos que o grupo, apresenta um

novo perfil, talvez por serem alunos do Ensino Médio que procuram a EJA por

necessidade e visualizam sua importância junto ao mercado de trabalho,

diferentemente de algumas pesquisas apontadas anteriormente. Esse perfil nos deu

dimensão da importância do trabalho realizado pelo CEEBJA no município.

Após a fundamentação teórica sobre o “Perfil do Aluno de EJA” as

professoras refletiram sobre seu trabalho junto a esse alunado, e quando foram

questionadas, responderam que:

“Conseguem entender as necessidades e especificidades dos alunos, mas

que ainda encontram certa dificuldade no atendimento, pois o ensino é bastante

diferenciado e são significativas as intercorrências que aparecem no cotidiano

escolar como: horário e tempo disponível para o aluno estudar, a dificuldade de

realizar um trabalho mais coletivo, o imediatismo de muitos alunos que só querem o

certificado de conclusão de curso e o mais preocupante está sendo a

irresponsabilidade e falta de maturidade de adolescentes egressos do ensino

regular, que não querem estudar e perturbam demais as aulas, mas conseguem

desenvolver um bom trabalho nesta modalidade de ensino”.

“Porém algumas relatam que apesar de terem uma formação para ensinarem

em uma escola única e igual para todos, já atuam na EJA há vários anos e sentem-

se realizados, outras conseguem através de um trabalho individual conhecer o aluno

e daí organizar o seu modo de atuar, esclarecendo dúvidas, e compartilhando com

eles o conhecimento, pois são pessoas diferentes, porém todos com o objetivo de

“levar” com eles este conhecimento”.

Na segunda etapa do curso foram realizadas reflexões sobre o tema “O

Currículo como Conteúdo de Ensino”, que resultou na listagem dos conteúdos

selecionados das disciplinas em questão, sendo feitas as seguintes considerações

pelas professoras:

“Procuramos realizar um roteiro de trabalho, embasadas na Pedagogia

Histórico – Crítica, e nos dados obtidos através do questionário aplicado para definir

o perfil dos alunos do Ensino Médio de Química, Física e Biologia, do CEEBJA e

concluímos que:

No CEEBJA atende-se alunos com níveis diferentes de aprendizagem e de

apropriação de conteúdos, mas muitos têm intenção de concluir o Ensino Médio e

dar sequência aos estudos cursando uma faculdade. Um número significativo dos

que somente querem concluir o Ensino Médio para ter uma melhor formação

profissional são funcionários de Usinas de Produção de Álcool e Açúcar da região e

neste caso os educandos necessitam dos conhecimentos dessas ciências, para o

exercício de suas profissões. Considerando estes alunos e os que querem prestar

um vestibular procuramos manter os conteúdos registrados pelas DCE’s, e em

casos especiais se necessário for, serão efetuadas adaptações curriculares”.

As adaptações curriculares estão previstas na LDB, Art. 4º VIl , bem como

foram incorporados ao Regimento Escolar, Seção II, Art 51, V.

Quando questionados em relação aos conteúdos propostos pelas DCE´s, o

que pensa sobre eles, se são conteúdos válidos para seus alunos e se a proposta

curricular da escola os contempla em seu planejamento concluíram que:

“Os professores utilizam os mesmos para elaborarem a Proposta Pedagógica

Curricular - PPC e Plano de Trabalho Docente - PTD, pois são conteúdos

selecionados e organizados por docentes das diversas áreas de ensino”.

“Que a seleção é feita por eles com intencionalidade, não sendo aleatória e é

produzida identificando-se sempre com o Projeto Político Pedagógico da escola”.

“Que o professor deve dominar o conteúdo escolhido em sua essência, de

forma a ter conhecimento do mesmo em sua totalidade e em seu contexto, e isto

exige uma relação com as demais áreas do conhecimento”.

“A contextualização visa a atualização e aprofundamento dos conteúdos pelo

docente, possibilitando aos alunos estabelecerem relações e análises críticas sobre

o mesmo”.

“É preciso na escolha dos conteúdos, priorizar aqueles que vão favorecer a

formação do aluno como cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico

e criativo”.

“Os conteúdos propostos pelas DCE’s são coerentes com o objetivo de

transmitir aos alunos conhecimentos científicos ao mesmo tempo que possibilitam a

interrelação dos mesmos com o cotidiano”

“A carga horária das disciplinas de Química, Física e Biologia é bastante

reduzida em relação aos conteúdos propostos pelas DCE’s, é preciso selecionar

aqueles de maior interesse, tanto no individual como no coletivo, aqueles que

possam acrescentar conhecimentos mais concretos e práticos à vida dos alunos”.

Assim, na terceira fase do curso baseando-se nos estudos que foram

realizados sobre a Pedagogia Hístórico-Crítica e sua proposta voltada para os

alunos do Ensino Médio de EJA, nas áreas de Química, Física e Biologia, foram

elaborados instrumentos para se efetivar uma avaliação diagnóstica sobre o nível de

conhecimentos dos alunos, para que pudessem subsidiar a elaboração dos Planos

de Trabalho Docente, que atendessem aos referenciais trabalhados anteriormente.

Na elaboração dos Planos, foram selecionadas as unidades de conteúdo que

fossem significativas ao perfil dos alunos e as DCE, elencando também os tópicos

desses conteúdos e os objetivos específicos que devem subsidiar a avaliação a ser

feita.

Outro aspecto observado na elaboração dos Planos foi a utilização dos

passos sugeridos na Didática Histórico Cultural, exemplificando o seu

desenvolvimento.

Os conteúdos curriculares de Química, Física e Biologia e o Plano de Ação

Docente foram definidos alicerçados na proposta pedagógica das DCE´s, mas

fizeram questão de ressalvar que dependendo das necessidades apresentadas

pelos alunos serão efetuadas adaptações, dando especial atenção aos indicadores

coletados no processo de avaliação diagnóstica e a sistematização dessas

informações para guiar o planejamento e escolhas didáticas para esta modalidade

de ensino.

Para que haja um bom desenvolvimento dos saberes articulados em sala de

aula é preciso promover situações em que os estudantes se defrontem com

diferentes possibilidades de aprendizagem, por esta razão, os professores

selecionaram os materiais didáticos que deverão ser usados para a aplicação da

proposta, entre eles:

• Utilização de textos informativos que apresentem o conteúdo formal

enfocando sempre uma situação do cotidiano do aluno, estimulando assim o

debate sobre o conhecimento prévio e mediando a aquisição do

conhecimento científico;

• Livro Didático Público;

• Livros Didáticos para o Ensino Médio, enviados pelo MEC;

• Recursos áudios-visuais;

• Slides;

• TV Pendrive;

• Trechos de filmes;

• TV Paulo Freire;

• Sites com conteúdos específicos para as áreas;

• Palestras;

• Desenhos.

Durante o processo, percebemos que os professores se envolveram nas

atividades e tarefas propostas e o resultado superou as expectativas: os Planos de

Trabalho foram minuciosamente elaborados, mas o mais importante foi registrarmos

que eles reconheceram a importância da relação dialógica nesse processo.

CONCLUSÃO

Percebemos que a apropriação dos saberes da Proposta na Pedagogia

Hístórico-Crítica é relevante para que o professor disponha de instrumentos teóricos

práticos para o desenvolvimento de sua ação pedagógica.

Na EJA, quando o professor vai elaborar o seu Plano de Trabalho Docente

deve usar de toda intencionalidade para trazer para sala de aula a prática social

vivenciada pelo educando e viabilizar, por meio de uma transposição didática, a

incorporação dos conhecimentos científicos à mesma, incorporando assim novas

referências à pratica social inicial.

Pelos trabalhos produzidos, percebemos que os professores compreenderam

que são mediadores do conhecimento e que a educação revestida desta perspectiva

pedagógica coloca a prática social como ponto de partida e ponto de chegada da

prática educativa e embora alunos e professores possam apresentar diferentes

níveis de conhecimentos e experiências, nada impede que ambos socializem os

mesmos.

Da prática social inicial surgem questões que devem ser resolvidas, tendo a

problematização como referência e, neste momento, o professor já sabe quais

conhecimentos que o aluno precisa ter para resolver estes problemas e depois por

meio da instrumentalização transmite a bagagem cultural produzida socialmente e

preservada historicamente, que é transmitida aos alunos para resolverem seus

questionamentos.

O passo seguinte é a catarse que é a efetiva incorporação dos instrumentos

culturais e a forma de entender a transformação social e daí resulta o último

momento que definimos como ponto de chegada em que os alunos atingem a

compreensão do que foi proposto no ponto de partida.

As interações, socializações e sistematizações dos conteúdos estudados

durante a implementação demonstraram um resultado bastante satisfatório e

corresponderam ao esperado. As considerações e reflexões assinaladas pelos

professores e pedagogas participantes do curso registraram um olhar diferente para

a EJA, demonstrando conhecer melhor as especificidades e principalmente o perfil

de seu alunado.

Observamos que no transcorrer das discussões dialogadas, os professores

refletiram sobre priorizar condições do educando jovem e adulto ter acesso ao

conhecimento científico e uma garantia de permanência na escola, onde todos terão

os mesmos direitos e oportunidades recebendo uma educação de qualidade.

As professoras e pedagogas – participantes da implementação consideraram

também que há necessidade do envolvimento de todos os responsáveis pela EJA,

dando apoio para concretizar novas práticas e dotar essa modalidade de ensino de

condições adequadas ao desenvolvimento de suas atividades como condições

materiais próprias ao atendimento de jovens e adultos, relação quantitativa entre

número de alunos e professores de acordo com a organização de atendimento,

espaço físico suficiente e adequado e material didático cuja produção exige apoio

específico.

Finalizamos reafirmando que por meio dessas considerações pretendemos

contribuir para que a EJA não seja um mecanismo de exclusão, mas que sirva para

resgatar as identidades daqueles que a procuram, que seja sempre um ponto de

referência para aqueles que dela necessitam e que, com ela, seja possível ampliar

os muitos saberes que são construídos fora dela. Que esta formação ofertada possa

assumir o compromisso para a construção de uma nova proposta pedagógica para

dar à EJA o apoio efetivo para uma educação de qualidade, respaldada por

docentes, efetivamente valorizados e qualificados, para atuarem com as

especificidades dessa modalidade de ensino.

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