o planeamento e a periodização do treino em futebol
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UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA
FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA
O Planeamento e a Periodizao do Treino em Futebol Um estudo realizado em clubes da Superliga
Dissertao elaborada com vista obteno do Grau de Mestre em Treino
de Alto Rendimento.
Orientador: Professor Doutor Jorge Fernando Ferreira Castelo
Jri: Presidente
Professor Doutor Vtor Manuel Santos Silva Ferreira Vogais
Professor Doutor Jlio Manuel Garganta da Silva Professor Doutor Antnio Natal Campos Rebelo Professor Doutor Jorge Fernando Ferreira Castelo
Pedro Manuel de Oliveira Santos
2006
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UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA
FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA
O Planeamento e a Periodizao do Treino em Futebol Um estudo realizado em clubes da Superliga
Dissertao elaborada com vista obteno do Grau de Mestre em Treino
de Alto Rendimento.
Orientador: Professor Doutor Jorge Fernando Ferreira Castelo
Jri: Presidente
Professor Doutor Vtor Manuel Santos Silva Ferreira Vogais
Professor Doutor Jlio Manuel Garganta da Silva Professor Doutor Antnio Natal Campos Rebelo Professor Doutor Jorge Fernando Ferreira Castelo
Pedro Manuel de Oliveira Santos
2006
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Santos, P. (2006). O Planeamento e a Periodizao do Treino em Futebol um
estudo realizado em clubes da Superliga. Dissertao de Mestrado. Lisboa:
FMH-UTL.
Palavras-chave: FUTEBOL, TREINO, PLANEAMENTO E PERIODIZAO,
ESPECIFICIDADE, PADRONIZAO SEMANAL, EQUIPAS TCNICAS
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AGRADECIMENTOS
Num trabalho deste tipo, conta-se, inevitavelmente, com o apoio e incentivo de muitas
pessoas e entidades. Gostaramos de expressar um sincero agradecimento a todos
aqueles cujo participao, directa ou indirecta, tornaram possvel a sua realizao:
Ao Professor Doutor Jorge Castelo, pela forma como orientou este estudo, pela
ateno, disponibilidade e pertinncia das suas crticas e sugestes.
Ao Professor Doutor Albertino Gonalves (UM) pelos esclarecimentos e
acompanhamento prestados ao longo da elaborao da dissertao.
Ao Mestre Jos Guilherme Oliveira (FCDEF), pela atitude solcita demonstrada e
participao em diversos esclarecimentos.
Aos treinadores da Superliga, pela sua disponibilidade, abertura e interesse manifesto.
Realo tambm aqueles que participaram e auxiliaram nos contactos junto dos
inquiridos. A este nvel, terei que destacar, os professores Joo Paulo Correia, Carlos
Agostinho Sousa e Arlsio Coelho.
Aos elementos que participaram na validao do questionrio. Deixarei, no entanto, os
seus nomes no anonimato. Destaco as suas crticas, que, em meu entender, foram
pertinentes e oportunas. Foi com anlise criteriosa que enfrentaram o questionrio.
Aos colegas do curso de mestrado. A elaborao desta dissertao o culminar de um
percurso que se iniciou muito antes, com a inscrio no curso de mestrado. A
caminhada foi paulatina. O grupo era interessado, disponvel e coeso e sempre
mostrou uma boa capacidade de inter-ajuda. Os seus apoios foram relevantes.
Aos professores do curso de mestrado. Com eles aprendi novas abordagens e sempre
encontrei nas suas atitudes competncia, receptividade e abertura para dilogo.
Aproveito para destacar professores da universidade onde me licenciei, FCDEF-UP,
Jlio Garganta, Antnio Rebelo e Vtor Frade, os quais foram nucleares nos
ensinamentos acerca do Futebol.
III
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Aos amigos. Foram muitas as discusses com o amigo e colega de curso Pedro Silva,
com o qual partilhei os muitos quilmetros de viagem (e conhecimento) e a quem muito
devo. Ele foi uma influncia que jamais se poder disfarar. Presto tambm
reconhecimento aos incentivos e discusses em torno do Futebol traadas com os
amigos Alberto Mendes, Jorge Braz, Paulo Sousa, Paulo Carvalho, Mrcio Navito,
Ricardo Rosas e Paulo Mouro.
Aos meus pais e irms, pelo contributo crtico e amigo com que encararam as minhas
pretenses e pelo apoio prestado.
Mariana, pelo amor, carinho e incentivo, estando sempre disponvel para ouvir e pela
confiana transmitida.
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NDICE GERAL
AGRADECIMENTOS...................................................................................................................III
NDICE GERAL............................................................................................................................ V
NDICE DE QUADROS............................................................................................................... IX
NDICE DE FIGURAS ................................................................................................................XV
NDICE DE ANEXOS ...............................................................................................................XVII
RESUMO...................................................................................................................................XIX
ABSTRACT...............................................................................................................................XXI
RSUM .................................................................................................................................XXIII
1. INTRODUO ..........................................................................................................................1
2. REVISO DA LITERATURA....................................................................................................5
2.1. A natureza do jogo de Futebol ...............................................................5 2.1.1. Caractersticas gerais do jogo de Futebol .........................................5 2.1.2. O jogo de Futebol assenta numa lgica interna ................................7 2.1.3. A relao intima com o conceito de sistema .....................................7 2.1.4. A aleatoriedade, imprevisibilidade e complexidade das situaes
do jogo .............................................................................................11
2.2. A organizao de jogo. A organizao funcional e a organizao estrutural .............................................................................................15
2.2.1. Reflexes baseadas no conceito de estrutura ................................18
2.3. O treino como elemento condicionante do rendimento ........................21 2.3.1. A importncia dos conhecimentos cientficos no treino...................24 2.3.2. A rentabilizao do desempenho e a gesto do tempo de
preparao .......................................................................................25 2.3.3. A relao treino competio .......................................................25 2.3.4. A modelao como tendncia evolutiva do treino ...........................27 2.3.5. O treino como agente da qualidade do jogo....................................28
2.4. O Planeamento a Periodizao do processo de treino e competio..30 2.4.1. O Planeamento ...............................................................................32
2.4.1.1. Exigncias e objectivos da planificao...............................................34
V
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2.4.2. A Periodizao ................................................................................37 2.4.2.1. A periodizao da poca desportiva no contexto do Futebol ..............39
2.4.3. Variveis a ter em conta na Planificao ........................................46
2.5. A forma desportiva no Futebol .............................................................50 2.5.1. A estabilizao da forma no Futebol: picos de forma versus
patamares de rendimento ..............................................................52 2.5.2. A carga e a adaptao no contexto do processo de treino em
Futebol .............................................................................................55 2.5.3. A dinmica da carga em funo das fases de forma desportiva...59
2.5.3.1. A intensidade no processo de Treino ..................................................62 2.5.3.2. A Intensidade Mxima Relativa ...........................................................64
2.5.4. A concentrao como um postulado essencial do treino ................65 2.5.4.1. A fadiga versus recuperao ...............................................................67 2.5.4.2. A Fadiga Tctica (fadiga central) resultante de se jogar e treinar (constantemente) concentrado .........................................................................70
2.5.5. A relatividade dos conceitos: Carga versus Desempenho ......71 2.5.6. Consideraes sobre a poca desportiva .......................................75 2.5.7. A informao qualitativa e quantitativa no controlo do treino e da
competio.......................................................................................77 2.5.8. O controlo do treino e os testes fsicos ...........................................79 2.5.9. Importncia da anlise de jogo no processo de treino e de
competio.......................................................................................82 2.5.9.1. Interesses da anlise de jogo ..............................................................83 2.5.9.2. Eixos de estudo na anlise do jogo .....................................................85 2.5.9.3. mbito da anlise de jogo....................................................................86 2.5.9.4. Diferentes mtodos para a anlise de jogo .........................................87 2.5.9.5. Indicadores de desempenho na anlise do jogo .................................88 2.5.9.6. A relevncia da observao (entendida como uma das fases da anlise de jogo).................................................................................................89 2.5.9.7. A observao sistemtica ....................................................................90 2.5.9.8. A necessidade de auxiliares de registo de informao........................92 2.5.9.9. A necessidade de mtodos/sistemas de observao e anlise especficos ........................................................................................................93 2.5.9.10. Tipos de observao..........................................................................95 1.5.9.11. A tecnologia na observao e anlise do jogo ..................................95 2.5.9.12. A anlise de jogo e a informao/feedback acerca do desempenho .....................................................................................................98 2.5.9.13. A necessidade de ter critrio na escolha da informao (relevante) a retirar a partir da anlise do jogo ...................................................................99 2.5.9.14. Informao quantitativa e qualitativa na anlise de jogo .................102 2.5.9.15. A anlise do desempenho tctico ....................................................106
2.6. Delimitaes conceptuais: Estratgia, Tctica e Tcnica ...........108
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2.6.1. A Estratgia e a Tctica ................................................................108 2.6.1.1. Estratgia...........................................................................................109 2.6.1.2. Tctica ...............................................................................................110 2.6.1.3. Relao entre estratgia e tctica .....................................................118
2.6.2. A Tcnica ......................................................................................120 2.6.2.1. Delimitao conceptual do conceito de tcnica .................................121 2.6.2.2. A mudana de paradigma em relao ao movimento humano .........124 2.6.2.3. Os antecedentes da execuo ..........................................................124 2.6.2.4. Relao entre tctica e tcnica: aco tctico-tcnica (a tcnica como um continum da tctica) ........................................................................127
2.7. A Estrutura do Rendimento em Futebol .............................................129 2.7.1. As dimenses (factores) do rendimento .....................................131 2.7.2. Interaco entre os factores (entenda-se dimenses) do
rendimento .....................................................................................133 2.7.3. A irredutilibidade dos factores (entenda-se dimenses) de
rendimento .....................................................................................134
2.8. O Jogo como o centro do processo .................................................135 2.8.1. Perspectivas genricas do ensino/treino do jogo ..........................138 2.8.2. A abordagem sistmica do Jogo no Ensino/Treino um factor
condicionante para a exponenciao do Modelo de Jogo..............140
2.9. As dimenses tctica e fsica no Futebol.........................................142 2.9.1. Contra uma tendncia da perspectiva energtica do desempenho142 2.9.2 A dimenso fsica no Futebol como um imperativo tctico ..........145 2.9.3. A abordagem organizacional do jogo: a dimenso tctica no
Futebol como matriz configuradora do planeamento (e que determina arrastamento das restantes dimenses) .....................148
2.9.4. A real importncia da dimenso fsica no seio do planeamento em Futebol .....................................................................................150
2.10. O modelo como referncia e orientao coerente para um alvo o processo que conduz a uma (nossa) forma de jogar .....................151
2.10.1. Conceptualizao de modelo de jogo .........................................156 2.10.2. O modelo de jogo como construtor do futuro ..............................160 2.10.3. Os princpios do jogo e do modelo de jogo .................................160 2.10.4. O modelo de jogo como agente condicionador de uma
determinada forma de se jogar ......................................................162 2.10.5. O modelo de jogo como matriz do processo de Treino e de Jogo164 2.10.6. A individualidade do modelo de jogo...........................................165 2.10.7. O modelo de jogo como mapa para a especificidade do treino...165 2.10.8. Os requisitos da dimenso fsica de um modelo de jogo ............166
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2.10.9. Os momentos fundamentais que caracterizam a organizao do jogo da equipas e o modelo de jogo...........................................167
2.10.10. O modelo de jogo como critrio na avaliao do processo .......171 2.10.11. Inteligncia de jogo, conhecimento especfico e modelo de
jogo ................................................................................................172 2.10.12. A competncia da equipa e do jogador .....................................176 2.10.13. A importncia da elaborao de um modelo de Treino .............178
2.11. Conceptualizao de diferentes opes metodolgicas para operacionalizao da estrutura do Rendimento................................178
2.12. Importncia dos estudos da fisiologia no desenvolvimento da dimenso fsica. Da caracterizao do esforo especfico da modalidade ao esforo especfico requerido pelo modelo de jogo. ..182
2.13. O princpio da Especificidade...........................................................184 2.13.1. O conceito de Especificidade ......................................................185
2.14. Identificao e aperfeioamento do projecto colectivo de jogo. Transmisso e assimilao das ideias do jogo da equipa ................188
2.14.1. A lgica do exerccio (especfico) na transmisso das ideias aos jogadores de como jogar (em funo do modelo de jogo) .............191
2.14.2. O lado aquisitivo do treino...........................................................196 2.14.3. Necessidade de repetio sistemtica ........................................198 2.14.4. A consubstanciao do caminho: do diagnstico correcto da
situao estratgia de interveno ajustada (criao e seleco de exerccios profcuos ao comportamento dos jogadores) ...........199
2.14.5. A criatividade como exigncia do jogo ........................................201 2.14.6. Requisitos materiais para o processo de Treino .........................202
3. OBJECTO E MTODOS ......................................................................................................205
4. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ...................................................211
5. CONCLUSES .....................................................................................................................343
5.1. Concluses referentes ao planeamento e periodizao nos clubes da Superliga......................................................................................344
5.2. Concluses referentes constituio das equipas tcnicas na Superliga...........................................................................................351
6. SUGESTES PARA FUTUROS ESTUDOS........................................................................353
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................................355
8. ANEXOS ...............................................................................................................................371
VIII
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NDICE DE QUADROS
Quadro 1 Percentagem de clubes da Superliga em funo de dois aspectos do planeamento: (i) utilizao das fases da forma desportiva na sua relao com a dinmica da carga e, (ii) diviso da poca em perodos, na sua relao com as componentes da carga..............................................................211
Quadro 2 Percentagem de clubes em funo do tipo de manipulaes no volume e intensidade nos Perodos Preparatrio, Competitivo e de Transio, operacionalizadas no subgrupo dos 11 clubes da Superliga que utilizam estes aspectos no planeamento. .............215
Quadro 3 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tipo da orientao do processo de planeamento operacionalizado pelos seus treinadores. .........................................................................218
Quadro 4 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia atribuda pelos seus treinadores s componentes da carga e recuperao.................................................................................219
Quadro 5 Percentagem de clubes da Superliga em funo das componentes do rendimento consideradas pelos seus treinadores no processo de planeamento....................................221
Quadro 6 Percentagem de clubes da Superliga em funo da forma como as componentes do rendimento so trabalhadas. .......................223
Quadro 7 Percentagem de clubes da Superliga em funo do aspecto considerado central pelos seus treinadores, no treino de Futebol.........................................................................................224
Quadro 8 Percentagem de clubes da Superliga em funo do principal tipo de planeamento utilizado para preparar a equipa para o jogo..............................................................................................227
Quadro 9 Relao entre o desenvolvimento das capacidades fsicas e os aspectos do planeamento tctico no subgrupo dos 16 clubes da Superliga que referem utilizar um planeamento com base na componente tctica. ..................................................................229
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Quadro 10 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia hierrquica entre as componentes do rendimento. ..230
Quadro 11 Percentagem de clubes da Superliga, em funo das escolhas do subgrupo dos 12 treinadores que atribuem a mesma importncia s componentes do rendimento sobre a componente considerada guia do processo de planeamento. ..231
Quadro 12 Percentagem de clubes da Superliga em funo das escolhas que o subgrupo dos 6 treinadores que atribuem importncias distintas s componentes do rendimento faz sobre a componente considerada mais importante no processo de planeamento................................................................................233
Quadro 13 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia atribuda pelos seus treinadores ao modelo de jogo adoptado......................................................................................234
Quadro 14 Percentagem de clubes da Superliga que utilizam do modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo nas equipas. ........................................................................235
Quadro 15 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tipo de comportamentos contemplados pelo modelo de jogo das 16 equipas que referem utilizar o modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo. ................................237
Quadro 16 Percentagem de clubes da Superliga em funo das formas de estruturao do modelo de jogo, nas 16 equipas que referem utilizar o modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo.......................................................................237
Quadro 17 Percentagem de clubes da Superliga em funo dos momentos contemplados pelo modelo de jogo, nas 16 equipas que referem utilizar o modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo. .................................................240
Quadro 18 Percentagem de clubes da Superliga em funo da adaptao do modelo de jogo inicialmente delineado s capacidades, caractersticas e entendimento dos jogadores, nas 16 equipas
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que referem utilizar o modelo de jogo como elemento orientador do processo de treino e de jogo. .................................................241
Quadro 19 Percentagem de clubes da Superliga em funo das opinies dos treinadores sobre a orientao dos objectivos do trabalho a realizar no incio da poca...........................................................243
Quadro 20 Percentagem de clubes da Superliga em funo das percepes dos treinadores referentes ao principal objectivo de treino do perodo preparatrio. ....................................................245
Quadro 21 Percentagem de clubes da Superliga em funo da relao entre o trabalho dos aspectos fundamentais da organizao do jogo e o treino e da equipa e dos jogadores................................247
Quadro 22 Percentagem de clubes da Superliga em funo da relao entre o trabalho que visa a implementao dos princpios do modelo de jogo e o treino e da equipa e dos jogadores. .............249
Quadro 23 Percentagem de clubes da Superliga em funo das escolhas que o subgrupo dos 12 treinadores que referem procurar implementar os princpios do modelo de jogo em todos os treinos faz sobre a relao entre o trabalho que visa a implementao dos princpios do modelo de jogo e todos os exerccios da sesso de treino. ...................................................250
Quadro 24 Percentagem de clubes da Superliga em funo da orientao do treino fsico, pelos valores indicados pela fisiologia do exerccio. .....................................................................................251
Quadro 25 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tipo de exerccios utilizados para desenvolver a componente fsica da equipa e dos jogadores. ..............................................................255
Quadro 26 Percentagem de clubes da Superliga em funo da utilizao de mquinas de musculao e respectivos objectivos. ...............259
Quadro 27 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tipo de exerccios de recuperao utilizados no dia de treino aps o jogo, considerando a combinao das opes referidas pelos treinadores...................................................................................263
XI
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Quadro 28 Percentagem de clubes da Superliga em funo da principal forma de transmitir as ideias aos jogadores sobre como jogar, considerando as opes dos treinadores. ...................................265
Quadro 28.1 Percentagem de clubes da Superliga em funo da principal forma de transmitir as ideias aos jogadores de como jogar, considerando a combinao das opes referidas pelos treinadores...................................................................................268
Quadro 29 Percentagem de clubes da Superliga em funo do que privilegiado quando surgem paragens no campeonato, ao longo da poca......................................................................................269
Quadro 30 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia atribuda pelos seus treinadores, s informaes dos jogadores nos testes fsicos e nos jogos. .............................271
Quadro 31 Percentagem de clubes da Superliga em funo da importncia atribuda pelos seus treinadores a diferentes aspectos, na aferio da forma desportiva de um jogador de Futebol.........................................................................................275
Quadro 32 Percentagem de clubes da Superliga em funo da regularidade da utilizao de testes fsico, no controlo do processo de treino. ......................................................................276
Quadro 33 Percentagem de clubes da Superliga em funo dos objectivos da aplicao dos testes fsicos no subgrupo de 5 clubes que utiliza testes fsicos com regularidade.......................278
Quadro 34 Percentagem de clubes da Superliga que referem utilizar quase sempre a intensidade mxima, no treino. .........................279
Quadro 35 Percentagem de clubes da Superliga em funo do entendimento que os seus treinadores fazem do conceito de especificidade..............................................................................281
Quadro 36 Percentagem de clubes da Superliga que utilizam uma planificao semanal tipo ou microciclo padro......................284
Quadro 37 Percentagem de clubes do subgrupo dos 16 clubes da Superliga que refere utilizar um microciclo padro, acerca do
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tipo de relao entre o modelo de jogo e a orientao dada padronizao semanal.................................................................285
Quadro 38 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tempo antes com que planificado o microciclo da semana de trabalho286
Quadro 39 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tempo antes com que planificado a sesso de treino de um determinado microciclo................................................................288
Quadro 40 Percentagem de clubes da Superliga em funo da relao entre o nmero e tempo de treino e os jogadores titulares e no titulares. .......................................................................................290
Quadro 41 Percentagem de clubes da Superliga em funo das diferenas entre o treino dos titulares e no titulares. .................293
Quadro 42 Percentagem de clubes da Superliga em funo dos treinos e folgas, tendo como critrio um microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde..........................................................295
Quadro 43 Percentagem de clubes da Superliga em funo do tempo semanal total de treinos e sua relao com o nmero de treinos, tendo como critrio um microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde......................................................................299
Quadro 44 Valores absolutos e percentagem de sesses de treino, em funo da sua durao referenciada a cada dia de treino (manh e tarde), em 17 dos 18 clubes da Superliga, tendo como critrio um microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde. ........................................................................................303
Quadro 45 Percentagem de clubes da Superliga em funo da dinmica e incidncia dos padres de esforo e de recuperao, num microciclo padro ......................................................................309
Quadro 46 Percentagem de clubes da Superliga em funo dos objectivos do treino fsico ao longo num microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde. ...................................315
Quadro 47 Percentagem de clubes da Superliga em funo do nmero total de elementos das equipas tcnicas. ....................................327
XIII
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Quadro 48 Percentagem de elementos da equipa tcnica (treinadores principais, treinadores adjuntos, preparadores fsicos e treinadores de GR) dos clubes da Superliga, em funo do nvel de treinador. .....................................................................332
Quadro 49 Percentagem de elementos da equipa tcnica (treinadores principais, treinadores adjuntos, preparadores fsicos e treinadores de GR) dos clubes da Superliga, em funo da habilitao acadmica...............................................................334
Quadro 50 Percentagem de elementos da equipa tcnica (treinadores principais, treinadores adjuntos, preparadores fsicos e treinadores de GR) dos clubes da Superliga, em funo da experincia enquanto jogadores. ..............................................340
XIV
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NDICE DE FIGURAS
Fig. 1 Dinmica da incidncia dos padres de esforo e de recuperao assim como os objectivos fsicos, na generalidade das equipas da Superliga, tendo por base a maioria das respostas dos treinadores, considerando cada um dos dias da semana de trabalho, num microciclo padro, com jogo em casa, ao domingo tarde. ...........323
XV
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XVI
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NDICE DE ANEXOS
Anexo I Questionrio ..................................................................................XVI
Anexo II Procedimentos para validao do questionrio (2 Fase) ..........XXXI
Anexo III Aspectos relativos aplicao do questionrio em cada um dos clubes inquiridos .................................................................. XLII
Anexo IV Respostas dos treinadores ao questionrio ..............................XLVI
XVII
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XVIII
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RESUMO
A organizao do treino em Futebol um processo metodolgico e pedaggico complexo, que
visa obteno de elevados desempenhos competitivos pelas equipas e jogadores. Neste
contexto, o planeamento e a periodizao constituem-se como fases cruciais directamente
implicadas na eficcia, consistncia e qualidade do jogo das equipas.
Com o presente trabalho pretendeu-se estudar as concepes de planeamento e periodizao
que os treinadores das equipas da Superliga contemplam. Neste mbito, procurou-se investigar
(i) a valorizao atribuda ao modelo de jogo no processo de treino e jogo, (ii) a importncia e
relao das dimenses tctico-tcnica e fsica no processo de treino, bem como, da
dinmica da carga, (iii) a especificidade do processo de treino, (iv) as caractersticas gerais da
padronizao semanal, e (v) a constituio das equipas tcnicas.
O universo em estudo constitudo pelas dezoito equipas da Superliga da poca 2004/2005.
Foi aplicado um inqurito por questionrio validado por sete especialistas. Em representao
cada um dos clubes em estudo, responderam ao questionrio dezasseis treinadores principais e
dois adjuntos, em virtude da remessa do respectivo treinador principal.
Os resultados sugerem que embora parea no ser a corrente de treino dominante, o
paradigma da dimenso fsica do treino aparece ainda bastante vincado na Superliga. Alguns
dos pressupostos associados concepo tradicional do treino permanecem presentes no
trabalho realizado, sendo frequentemente utilizados. Parece ser costume operacionalizar um
planeamento com base na dimenso tctica. Apesar desta ser a guia do processo, e arrastar
a dimenso fsica, nem sempre tal se verifica. Embora surjam situaes em que ainda se
promove a separao das dimenses do rendimento, a referncia passa por trabalh-las,
sempre que possvel, simultaneamente. No obstante o consenso existente em matria de
valorizao atribuda ao modelo de jogo, parte dos treinadores parece no contemplar a
Especificidade do trabalho que se pode realizar tendo como elemento orientador o modelo de
jogo. Foram identificados casos pontuais de contradies entre a forma de pensar (concepo
acerca do planeamento) e de agir (execuo do treino). Nem todos os treinadores agem de
acordo com as suas convices expressas. Na generalidade, os clubes da Superliga tendem a
assemelhar-se no que se refere ao nmero de treinos da padronizao semanal. Subsistem, no
entanto, variaes no que se refere ao tempo total de treino. Foram, tambm, encontradas
diferenas relativas ao nmero de elementos constituintes das equipas tcnicas. No caso das
que possuem o mesmo nmero de elementos, as diferenas parecem no ser tanto ao nvel
das funes desempenhadas mas mais de foro terminolgico.
Palavras-chave: FUTEBOL, TREINO, PLANEAMENTO E PERIODIZAO, ESPECIFICIDADE,
PADRONIZAO SEMANAL, EQUIPAS TCNICAS
XIX
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XX
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ABSTRACT
The organization of Soccer training is a complex methodological and pedagogic process that
aims to obtain high competitive performance by the teams and players. In this context, the
planning and the periodization are assumed to be crucial phases directly implied in the
efficiency, consistency and game quality of the teams.
The aim of this work is to study the planning and periodization conceptions that Superliga
coaches follow. In this way one intends to investigate (i) the value attributed to the model of the
game in the training and game process, (ii) the relation and importance of the tactical-
technique and physical dimension in the training process and also in the loads dynamics,
(iii) the specificity of the training process, (iv) the general characteristics of the weekly
standardization, and (v) the constitution of the technical staff.
The universe under study is constituted by the eighteen Superliga teams in the 2004/2005
season. It was applied an inquiry by questionnaire validated by seven specialists. In
representation of each one of the studying teams, this questionnaire was answered by sixteen
main coaches and two assistant-coaches, by indication of the main coach.
Although the results suggest that the paradigm of the physical dimension seems not to be the
dominant training current, it still appears rather emphasized in Superliga. Some of the
assumptions associated to the traditional training conception remain present in the work carried
through, and are being frequently used. It seems to be usual to operate a planning based on the
tactical dimension. In fact, this dimension is considered to be the guide of the process, and
drags the physical dimension. Nevertheless, this doesnt always happen. There are situations
where the separation of the training factors is established; however the reference passes for
working them, as always as possible, simultaneously. Notwithstanding the existence consensus
in matter of the valuation given to the game model, part of the coaches seem not to contemplate
the specificity of the work that can be carried through having it as orientation element.
Exceptional cases of contradictions between the way of thinking (conception concerning the
planning) and the way of acting (execution of the trainings) had been identified. Not all the
coaches act according to their expressed beliefs. In general, the Superliga teams tend to
resemble themselves concerning the number of trainings of the weekly standardization.
Differences subsist, however, in the variations related to the training sessions total time.
Differences have also been found related to the number of members that constitute the technical
staff. In the case of the teams that possess the same number of staff members, the differences
appear not to be in the level related to the performed functions but more related to terminology.
Key words: SOCCER, TRAINING, PLANNING E PERIODIZATION, SPECIFICITY, WEEKLY
STANDARDIZATION, TECHNICAL STAFF
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RSUM
L'organisation de l'entranement dans le Football est un processus mthodologique et
pdagogique complexe, qui vise lobtention de performances leves et concurrentielles par les
quipes et joueurs. Dans ce contexte, la planification et la priodisation se constituent comme
des phases cruciales directement impliques dans l'efficacit, la consistance et la qualit du jeu
des quipes.
Avec le prsent travail on a prtendu tudier les conceptions de planification et de priodisation
que les entraneurs des quipes de la Superliga envisagent. Dans ce contexte, on a cherch
enquter (i) la valorisation attribue au modle de jeu dans le processus d'entranement et du
jeu, (ii) l'importance et la relation des dimensions tactique/technique et physique dans le
processus d'entranement, ainsi que, la dynamique des charges , (ii) la spcificit du
processus d'entranement, (iv) les caractristiques gnrales de la normalisation hebdomadaire,
et (v) la constitution des quipes techniques.
L'univers dans tude est constitu par les dix-huit quipes de la Superliga, Championnat
2004/2005. En reprsentation de chacun des clubs en tude, seize entraneurs principaux et
deux adjoints, en vertu de l'envoi du respectif entraneur principal, ont rpondu a un
questionnaire valid par 7 spcialistes.
Les rsultats suggrent que le paradigme de la dimension physique de l'entranement
apparaisse encore beaucoup rid dans la Superliga, mme si en apparence, elle napparat pas
comme la plus dominante. Certaines prsuppositions associes la conception traditionnelle de
l'entranement restent prsentes dans le travail ralis, en tant frquemment utiliss. Ils
semblent que la planification est faite sur la base de la dimension tactique, mais malgr cela,
mme en tant le guide du processus, et entraner la dimension physique, ceci ne se
vrifie pas de manire constante. Bien qu'il apparaissent des situations o on vrifie, encore, la
sparation des dimensions du rendement, la rfrence passe par les travailler, si possible, en
simultan. Mme en existant un consensus en matire d'valuation attribue au modle de jeu,
certains entraneurs semble ne pas envisager la Spcificit du travail qui peut se raliser en
aient comme lment dorientation le modle de jeu. On a identifis des cas ponctuel de
contradictions entre la forme de penser (conception concernant la planification) et d'agir
(excution de l'entranement). Certains entraneurs nagissent pas en accord avec leurs
convictions expresses. En gnral, les clubs de la Superliga tendent se ressembler en ce qui
concerne le nombre d'entranements de la normalisation hebdomadaire. On dtecte, nanmoins,
des variations, en ce qui concerne le temps total d'entranement. On a, aussi, trouves des
diffrences relatives dans le nombre d'lments constitutifs des quipes techniques. Dans les
cas o il y a le mme nombre d'lments, les diffrences ne semblent pas tre au niveau des
fonctions attribus mais plutt du forum terminologique.
Mots-cls : FOOTBALL, ENTRANEMENT, PLANIFICATION ET PRIODISATION,
SPCIFICIT, NORMALISATION HEBDOMADAIRE, QUIPES TECHNIQUES
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1. INTRODUO
O Futebol, institucionalizado em 1863 pela Football Association, uma
modalidade desportiva de fortssima expanso. Podemos considera-lo a
modalidade desportiva mais famosa (Ponce e Ortega, 2003) e popular do
mundo (Ferreira e Queiroz, 1982; Corra et al, 2002; Oliveira, 2004a). , sem
dvida, o fenmeno mas marcante do final do sculo XX e princpio do sculo
XXI (Garganta, 2004). Pela sua natureza intrinsecamente atractiva, o futebol
atrai milhes de pessoas (Reilly et al, 1993; Garganta, 1997). Burke e Hawley
(1997) referenciam a existncia de cerca de 120 milhes de jogadores de
Futebol no mundo.
So diversos e interactuantes os aspectos que concorrem para o rendimento
desportivo em Futebol (Bauer & Ueberle, 1988; Marques, 1990; Garganta,
1991; 1997; 2002; Castelo, 2002) sendo que, a expresso mxima das
capacidades do jogador requer condies ptimas de preparao e de
realizao (Quinta, 2004). O desenvolvimento das cincias do desporto atingiu
maturidade para gerar um conjunto de conhecimentos aplicveis ao Futebol,
tendo vindo a manifestar-se um aumento do interesse na diminuio do fosso
entre a teoria e a prtica e o aumento da conscincia do valor da abordagem
cientfica do Futebol (Reilly et al, 1997).
Apesar de muito se especular a propsito dos mltiplos factores que concorrem
para o xito, em Futebol, continua a ser verdade que o treino constitui a forma
mais importante e mais influente de preparao dos jogadores para a
competio (Garganta, 2004). Uma das tarefas do treinador a de definio da
estratgia desportiva, relacionando-se esta com o objectivo principal, a
planificao e a globalidade (Riera, 1995). O treino, com as exigncias
colocadas pela actual competio, vai muito para alm da sua execuo. A
programao e avaliao tm tanta ou mais importncia que o treino
propriamente dito (Mourinho, 2002: 15). O planeamento do treino a fase
fulcral de toda a organizao do processo de treino (Silva, 1998b). A
problemtica do planeamento e periodizao do processo de treino uma
preocupao central de qualquer treinador, tendo este que se debater com uma
diversidade de problemas de natureza metodolgica.
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O desporto de rendimento caracteriza um mundo extremamente exigente, onde
a inovao tcnica e tecnolgica so constantes (Tani, 2001). Vrios estudos
tm vindo a ser realizados no mbito da Teoria e Metodologia do Treino
Desportivo (TMTD), tendo como consequncia uma constante evoluo da
metodologia do treino desportivo da modalidade. Tm sido feitas diversas
tentativas para descrever a estrutura do rendimento no Futebol (Garganta &
Grhaigne, 1999). Na busca de uma maior eficincia do processo de treino, os
procedimentos, tcnicas, sistemas e mtodos empregues variaram bastante
nas ltimas dcadas (Cerezo, 2000). Existem vrias formas de jogar e de
conseguir resultados, do mesmo modo que existem vrias maneiras de treinar
(Garganta, 2004). Encontramos na literatura a emergncia de vrias correntes
de treino aplicadas ao futebol, que traduzem a prpria evoluo da histria da
TMTD. Fundamentalmente emergem duas tendncias opostas ao nvel do
planeamento do treino em Futebol: uma que coloca o primado nos aspectos da
carga e no planeamento da componente de rendimento fsica e outra, em
linha oposta, que coloca o postulado no planeamento dos aspectos tcticos,
centrando-se estes numa determinada forma de jogar. Considera-se que a
dimenso fsica surge agregada dimenso tctica, entendida como guia do
processo.
Pensamos encontrar aqui a pertinncia do estudo. Procuramos enquadrar a
realidade com que nos deparamos no processo de treino em Futebol,
confrontando-a posteriormente com os pressupostos tericos de referncia, no
sentido de encontrar a tendncia evolutiva do Futebol nacional ao nvel da
problemtica em estudo.
Com o presente trabalho pretende-se caracterizar o tipo de planeamento e
periodizao utilizados, nos diferentes clubes da Superliga do Futebol
portugus, na poca 2004/05.
Partindo das informaes recolhidas pretendemos referenciar os conceitos
tericos subjacentes ao treino com vista a rentabilizar o desempenho
desportivo da equipa e dos jogadores na competio. Pretende-se saber a
concepo/aplicao de variveis decorrentes do planeamento/periodizao do
treino que os treinadores de clubes da Superliga evidenciam nos respectivos
clubes, com vista a preparar as suas equipas para o sucesso competitivo.
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Existem numerosos estudos sobre a problemtica da periodizao no desporto
em geral, onde se destacam vrios estudos efectuados no mbito dos jogos
desportivos colectivos. A maior parte dos trabalhos sobre esta temtica, no
Futebol, esto relacionados com estudos de caso numa equipa ou anlise da
concepo que diferentes autores/treinadores apresentam sobre o treino.
Destes estudos, geralmente baseados em anlises de contedo, com
entrevistas efectuadas a treinadores e elementos das equipas tcnicas de
clubes dos principais escales do Futebol nacional e internacional, constata-se
ainda uma grande importncia atribuda a aspectos do planeamento fsico. As
planificaes e periodizaes, tm focado os aspectos que se relacionam em
larga escala com o trabalho fsico das equipas em lugar do aspecto tctico,
atribuindo-se portanto, demasiada importncia ao desenvolvimento de um
conjunto de capacidades fsicas em detrimento de uma consciente forma de
jogar (Faria, 1999: 6). Verificamos uma tendncia para, cada vez mais, se
procurarem meios para aumentar o rendimento fsico (Resende, 2002: 62). As
linhas de investigao de algumas faculdades de desporto em Portugal (que
centram os seus estudos na problemtica do alto rendimento desportivo)
tendem a privilegiar entre outras a periodizao do treino das qualidades
fsicas em desportos colectivos onde se incluiu o Futebol. No entanto, cada
ver mais aceite que a esfera directora do planeamento e periodizao do treino
em Futebol dever ser a tctica. Nesse sentido surge a imperativa
necessidade de uma reformulao nos aspectos metodolgicos, que o Futebol
necessita (Resende, 2002: 103).
No h, que tenhamos conhecimento, estudos realizados no Futebol portugus
que caracterizem e que procurem quantificar, de forma consistente, aspectos
diversos do planeamento e periodizao utilizados nos principais clubes do
futebol nacional. Surgem alguns estudos de caso que caracterizam a realidade
sobre a periodizao no clube alvo. Outros estudos apresentam as diferentes
correntes sobre o treino, descrevem algumas variveis que as vo caracterizar
e destrinar, sem nunca, no entanto, esclarecer qual o real impacto que uma
determinada concepo de treino assume no Futebol nacional, nomeadamente,
num determinado nvel competitivo. Este aspecto, no nosso entender traduz-se
numa lacuna considervel.
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Em funo do exposto anteriormente, pensamos que o presente estudo adquire
uma pertinncia favorvel sua realizao, possibilitando o compilar de um
conjunto de informaes cujo conscincia ir garantir uma valorizao na
interveno futura de treinadores, professores, praticantes e pessoas ligadas
rea da metodologia do treino desportivo. Assim, procuramos apresentar o
presente rumo da histria da TMTD, com base na realidade do Futebol
portugus.
Ao enveredar-se pela realizao do presente trabalho, pretende-se
conceptualizar os seguintes aspectos: (i) a importncia do modelo de jogo e
respectivos princpios no processo de treino e jogo; (ii) a importncia e relao
das dimenses tctico-tcnica e fsica no processo de treino, bem como, da
dinmica da carga; (iii) a Especificidade do processo de treino; (iv) as
caractersticas gerais da padronizao semanal; (v) a constituio das equipas
tcnicas dos clubes da Superliga.
Fundamentalmente, pretende-se promover uma investigao aplicada,
estudando as concepes acerca do planeamento e da periodizao que os
treinadores das equipas da Superliga contemplam, de modo a identificar a real
influncia de diferentes correntes de treino na preparao das equipas do
principal escalo do Futebol nacional, respondendo necessidade imperativa
de reflexo sobre a metodologia utilizada.
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2. REVISO DA LITERATURA
2.1. A natureza do jogo de Futebol
O jogo Futebol, definido como jogo desportivo colectivo (Ferreira e Queiroz,
1983; Teodorescu, 2003; Garganta, 1997; 1998b; Garganta e Pinto, 1998;
Castelo, 2006a), pode ser considerado a partir de diferentes perspectivas e
enquadramentos (Teodorescu, 2003). So vrias as disciplinas cientficas que
concorrem para a abordagem e anlise do fenmeno. Este facto permite que a
anlise do rendimento dos jogadores pode ser realizada a partir de abordagens
to distintas como a fisiolgica, a biomecnica, a tcnica e tctica, etc.
(Garganta, 1997; 1998). Assume-se o ponto de vista psicosociolgico,
morfolgico-funcional, psicomotor e pedaggico, entre outros (Teodorescu,
2003). Ao se assumir a perspectiva de cada disciplina, i.e., da biologia, da
pedagogia, da sociologia, da psicologia, etc., atribuem-se ao jogo focalizaes
distintas. Diferentes disciplinas vem coisas diferentes e constroem objectos
diferentes (Castelo, 1994: 8). Cada uma apresenta a sua interpretao do
fenmeno desportivo (Carvalhal, 2000). Este autor destaca que a abordagem
de um fenmeno, segundo um ponto de vista, no poder ser abrangente, pois
tanto verdadeira pelo que prope, como falsa, pelo que exclui. Assim,
segundo este autor, a perspectiva da biologia e das cincias humanas deve
completar-se. Por outro lado, concordamos com Castelo (2006a) a
necessidade de existir um dilogo sistemtico, consistente e complementar
entre a prtica e a teoria dado que estas esferas, quando em sintonia, formam
duas faces de uma mesma verdade (Castelo, 2006a). Segundo este autor,
deste dilogo interactivo nasce a qualidade da concepo, da aplicao e da
inovao dos meios de ensino/treino do jogo.
No nossa pretenso caracterizar pormenorizadamente o jogo de Futebol.
Pretendemos, no entanto, expor uma breve sntese que traduz algumas
implicaes de um entendimento sobre o jogo de Futebol.
2.1.1. Caractersticas gerais do jogo de Futebol
O Futebol um fenmeno social (Garganta e Pinto, 1998; Teodorescu, 2003) e
um acto de cultura (Teodorescu, 2003), ou, como refere Frade (1985) um
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fenmeno antroposocial-total. Na sua essncia o jogo de Futebol decorre do
confronto entre duas equipas que tm objectivos antagnicos. Podemos
considerar a existncia de uma microdimenso, o jogador, e de uma
macrodimenso, a equipa. Genericamente, classifica-se como um jogo
desportivo com luta pela bola, o que consubstancia uma relao de
adversidade tpica no hostil (rivalidade desportiva), numa relao de
colaborao e oposio (Teodorescu, 2003). As equipas em confronto
disputam objectivos comuns (Garganta, 1997; Castelo, 1999). Deslocando-se
em todas as direces do espao de jogo (Ferreira e Queiroz, 1982), lutam
para gerir em proveito prprio o tempo e o espao, pelo que realizam, em cada
momento, aces reversveis de sinal contrrio, ataque defesa, aliceradas
em relaes de oposio cooperao (Garganta, 1997; Garganta e Pinto,
1998) e adversidade rivalidade (Castelo, 1994). O apelo cooperao1 entre
os elementos de uma equipa visa vencer os elementos da equipa adversara
(Garganta, 1998b). A relao de oposio/cooperao para se tornar
sustentvel e eficaz exige dos jogadores comportamentos congruentes, face s
sucessivas situaes de jogo (Garganta e Pinto, 1998).
A relao dialctica e contraditria de ataque versus defesa, traduz modos de
interaco no seio de redes de comunicao (cooperao) e contra
comunicao (oposio) (Castelo, 1994). O golo, assume-se como objectivo
fundamental de ambas as equipas, nas fases do jogo (ataque e defesa),
determinando que todas as aces individuais e colectivas ganhem um
significado relativo, i.e., no surgem como objectivos em si mesmo mas como
meios pelos quais os jogadores e a equipa materializam as suas intenes
estratgicas, na procura da meta comum (Queiroz, 1986).
Como nos refere Queiroz (1983a), os diferentes modelos conceptuais que
existem para o ensino dos desportos colectivos derivam de interpretaes
diferentes da sua natureza. Como tal, o processo de treino deve assentar num
estudo crtico da natureza, essncia do jogo, assim como das suas tendncias
evolutivas (Vingada, 1989). E de facto, para se falar do treino em Futebol
necessrio entender-se o jogo de Futebol (Tavares, 2003).
1 A cooperao deve ser entendida como modo de comunicar atravs do recursos a sistemas de natureza comuns, sendo de natureza essencialmente motora (noo de equipa) (Garganta, 1998b)
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2.1.2. O jogo de Futebol assenta numa lgica interna
De acordo com Queiroz (1986), o jogo caracteriza-se pela aplicao de certos
procedimentos antagnicos, de ataque e de defesa, visando o desequilbrio do
sistema contrrio, na busca de uma meta comum, organizados e ordenados
num sistema de relaes e interaces coerente e consequente, denominado
de lgica interior do jogo. A este propsito, Garganta e Cunha e Silva (2000)
referem que decorrente da relao de oposio, existe uma lgica interna que,
em cada sequncia de jogo, gera uma dinmica de movimento global, de um
alvo ao outro, que a cada instante pode inverter-se. A lgica interna do jogo
consubstancia-se na prtica, pelos jogadores efectuarem, nas diversas
situao de jogo, processos intelectuais de anlise e sntese de abstraco e
generalizao (Castelo, 1999), que face elevada variabilidade,
imprevisibilidade e aleatoriedade do jogo (Garganta, 1997), muito dependente
do acaso (Dufour, 1993), faz emergir uma realidade dinmica fundada numa
constante mutao (Castelo, 1994). Esta determina uma necessidade de
constante adaptao, inteligncia e competncia da equipa e do jogador.
Castelo (1994) salienta a necessidade da lgica interna do jogo ser observada
e analisada na procura da identificao, conceptualizao e inter-relao dos
factores que a constituem, identificando e definindo um conjunto de fases, de
etapas, de princpios, de factores, etc. De entre diversos aspectos que
condicionam duma forma importante a lgica do jogo de Futebol, Garganta e
Pinto (1998) destacam o terreno de jogo e os princpios especficos do jogo.
O jogo de Futebol apresenta uma estrutura formal e uma estrutura funcional
(Garganta, 1997). Para este autor, a estrutura funcional decorre das aces de
jogo, enquanto resultado da interaco recorrente entre os companheiros de
uma equipa e, da interaco concorrente entre adversrios, em torno da bola,
no sentido de conseguirem vencer a oposio dos adversrios e atingir os
objectivos propostos. A estrutura formal refere-se ao terreno de jogo, bola, ao
regulamento, aos companheiros e adversrios (Garganta, 1997).
2.1.3. A relao intima com o conceito de sistema
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No contexto do Futebol, o conceito de sistema2 revela-se profcuo para inteligir
a lgica do jogo (Garganta e Grhaigne, 1999), sendo que a classificao dos
sistemas pode ser feita a partir de uma diversidade de critrios: natureza dos
objectos ou dos atributos, inter-relaes entre as partes constitutivas, nveis de
complexidade, etc. (Garganta, 1997).
O jogo de Futebol pode ser considerado como um macrossistema (Garganta e
Grhaigne, 1999) complexo3 (Vingada, 1989; Castelo, 1994; 2006a; Garganta
e Grhaigne, 1999; Oliveira, 2003), probabilista de escolha mltipla4 (Garganta
e Grhaigne, 1999), condicionado pelas linhas de fora5 (Garganta, 1997),
2 Um sistema definido simultaneamente pelos seus elementos constitutivos e pelas respectivas inter-aces (Garganta, 1997), ou seja, pela associao combinatria de elementos diferentes (Morin, 2003). Pires (2005) define sistema como um conjunto de elementos em interaco dinmica para atingirem um determinado fim. De acordo com Tschiene (1987: 46) um sistema uma classe de elementos, ligados entre si por uma aco recproca imediata: se se exercita um influxo sobre um elemento do sistema, so tambm influenciados os outros. Um sistema apresenta-se como um todo homogneo, se o perspectivamos a partir do conjunto, mas ele tambm simultaneamente, pelas caractersticas dos seus constituintes, diverso e heterogneo (Garganta, 1997; Garganta e Grhaigne, 1999). uma unidade complexa, um todo que no se reduz soma das partes constitutivas (Morin, 2003). O todo mais do que uma forma global, implica a manifestao de qualidades que as partes no possuam (Durand, 1992). Um sistema compreende tantos elementos em interaco que se deve antes de mais falar em subsistemas (Bertrand e Guillemet, 1994). Implica tambm uma necessidade de diversidade, que permite assegurar o equilbrio e uma certa margem de adaptabilidade (Durand, 1992). O conceito de sistema est intimamente ligado ao de organizao, uma vez que a esta decorre de um arranjo de relaes entre componentes, produzindo uma nova unidade (totalidade) que possui qualidades inexistentes nos seus elementos (Garganta, 1997). Assim, um sistema exibe uma forma global que poder implicar a apario de qualidades emergentes que transcendem as qualidades das partes (Garganta, 1997). Para Durand (1992) um sistema possui quatro qualidades fundamentais: a interaco, a globalidade, a organizao, a complexidade. Aplicado ao jogo de Futebol, o conceito de sistema deve exprimir sobretudo a dinmica do jogo, a qual permite configurar as opes tcticas dos jogadores e das equipas (Garganta e Grhaigne, 1999). 3 um macrossistema complexo devido s profusas inter-relaes entre os elementos que o constituem e que o tornam altamente elaborado e com elevado grau de inteligibilidade (Garganta e Grhaigne, 1999). Um sistema complexo quando composto por uma grande variabilidade de elementos que possuem funes diversas (Bertran e Guillemet, 1994). Um sistema complexo um sistema que no pode ser caracterizado a partir da reunio das caractersticas e qualidades das suas partes constitutivas, e cujo comportamento no pode ser previsto a partir das propriedades das partes componentes (Cunha e Silva, 1999: 119). Nele, no s a parte est dentro do todo, como o todo est inscrito na parte (Morin, 2002). O todo igualmente menos que a soma das partes, cujo qualidades esto inibidas pela organizao do conjunto (Morin, 2002). A complexidade liga em si a ordem, a desordem e a organizao e, no seio da organizao o uno e o diverso (Morin, 2003). Neste sentido necessrio enfrentar a complexidade e no dissolve-la ou oculta-la (Morin, 2003). 4 macrossistema probabilista de escolha mltipla, dado que as unidades que o constituem interagem de um modo no previsvel, sendo as respostas, nas aces de jogo, condicionadas pela configurao de diferentes sequncias de codificaes (Garganta e Grhaigne, 1999). 5 Segundo Teissie (1970), citado por Castelo (1994: 34), cada jogador concretiza uma linha de fora com mltiplas orientaes, em que o rendimento est subordinado sua situao no campo de jogo, relativamente bola, s balizas, aos outros jogadores. Surge assim, segundo o autor, um sistema de foras assente numa estrutura geogrfica do terreno de jogo, definindo corredores e sectores, no qual se desenvolvem os deslocamentos e posicionamentos. Nos
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geradas a partir do confronto entre dois sistemas, as equipas (Garganta, 1997;
Teodorescu, 2003). Tambm estas (as equipas) devem ser entendidas na
perspectiva de um fenmeno complexo (Garganta, 1997; 2001a; Cunha e Silva,
1999; Garganta e Grhaigne, 1999; Oliveira, 2002; Oliveira, 2003; Teodoresco,
2003) exibindo capacidade de se auto-organizarem6 (Garganta, 1997), auto-
regular (Teodorescu, 2003) e de se auto-transformar (Garganta, 1997), isto ,
evidenciam o que Morin (2003) designa por organizao viva. Pela auto-
organizao, a autonomia, a individualidade, complexidade, incerteza,
ambiguidade, tornam-se quase caracteres prprios do objecto (Morin, 2003).
As equipas representam uma forma de actividade social com variadas
manifestaes especficas (Castelo, 2006a). Enquanto sistemas, as equipas
procuram materializar as suas intenes atravs dos comportamentos tcticos
dos jogadores (Garganta, 1997), que consubstanciam aces e interaces
(Teodorescu, 2003), revelando nas equipas formas peculiares de organizao
(Garganta, 1997), assentes num contexto de cooperao e oposio
(Garganta, 1997; 2000c; Castelo, 1999; Garganta e Grhaigne, 1999;
Teodorescu, 2003), em funo de princpios, regras (Garganta e Grhaigne,
1999; Teodorescu, 2003) e prescries (Garganta e Grhaigne, 1999).
Com base em Morin (2003), podemos considerar a equipa como um sistema
auto-eco-organizador. Este tipo de sistema no pode bastar-se a ele prprio, s
pode ser totalmente lgico ao introduzir nele um meio estranho (Morin, 2003).
Podemos considerar o meio estranho a competio com a outra equipa.
Da definio de sistema, neste caso o jogo de Futebol, considera-se, segundo
Carvalhal (2000), que ao estudarmos um fenmeno, teremos de perspectivar
as partes que o constituem e as possveis relaes existentes entre elas.
Atravs do utilizao do conceito de sistema, no se pretende reduzir o jogo a
uma noo abstracta mas procurar inteligir princpios teolgicos que orientam o
comportamento e definem a organizao dos sistemas implicados, atravs da
identificao de regras de gesto e de funcionamento dos jogadores e das
jogos desportivos, visando os objectivos das equipas, e de acordo com a dinmica do jogo, relao de foras evolui constantemente (Tavares, 1998). Os diferentes posicionamentos dos jogadores traduzem-se por relaes de foras, e a mudana do posicionamento equivale mudana de estrutura (Castelo, 1994: 16). 6 A auto-organizao refere-se capacidade do sistema fazer evoluir a sua constituio interna e o seu comportamento, o que nega o princpio do determinismo (Durand, 1992). A auto-organizao faz evoluir conjuntamente memria e imaginao (Duram, 1992).
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equipas, e da descrio acontecimental das regularidades e variao que
ocorrem nas aces de jogo (Garganta e Grhaigne, 1999). Importa pois
identificar os sub-sistemas que, relacionados entre si, permitem a optimizao
de todo o sistema (Garganta, 1997).
A noo central de oposio do jogo de Futebol permite-nos considerar as
duas equipas como sistemas organizados em interaco cujas caractersticas
estruturais consistem num programa modificvel em funo da experincia
adquirida (Garganta e Grhaigne, 1999). Assim, segundo estes autores, a
aprendizagem uma propriedade fundamental das equipas. Ao considerarmos
este aspecto, definimos a importncia da dimenso pedaggica do jogo e do
treino.
Uma equipa de Futebol uma micro-sociedade (Oliveira, 2003), um micro-
sistema (Teodorescu, 2003), que tem uma cultura, que tem uma linguagem,
que tem uma identidade (Oliveira, 2003). Podemos caracterizar o jogo atravs
das formas de interaco que se estabelecem no seio de redes de
comunicao7 e de contra-comunicao (Castelo, 1999). Segundo este autor,
este facto indissocivel da aco de jogo. A comunicao conduz aplicao
de aces tcnico-tcticas individuais e colectivas, organizadas e ordenadas
num sistema de relaes e interrelaes coerentes e consequentes, de ataque
e defesa, tendo em vista o desequilbrio do sistema adversrio, na busca de
uma meta comum (Castelo, 1999). Assim, os jogadores e as equipas, face a
determinadas formas de oposio e baseados na coeso colectiva procuram,
na maior economia possvel de meios e processos, a partir do efeito surpresa,
criar oportunidade para fazerem com que o mbil do jogo atinja, com xito, o
alvo adversrio e evitarem que atinja o seu (Garganta, 2000: 53). Podemos
7 De acordo com Castelo (1999), no jogo de Futebol, a comunicao uma interaco motora de cooperao essencial e directa, que se efectua pela transmisso de um objecto (a bola) e a ocupao de um determinado espao, ou atravs de um papel sociomotor (guarda-redes, jogador de posse de bola, etc.) (pg. 26), enquanto que a contra-comunicao uma interaco motora de oposio essencial e directa, que pode acontecer de formas muito diversas e caracteriza-se por uma transmisso antagnica da bola, um papel desfavorvel (pelo adversrio) ou de uma posio ou situao especial desfavorvel (fora-de-jogo) (pg. 26). A comunicao estabelece-se sempre entre companheiros; a contra-comunicao estabelece-se sempre entre adversrios (Castelo, 1999). A comunicao motora traduzida pela interaco operativa de cooperao motora realizada por um jogador, que favorea directamente a realizao da tarefa de um outro jogador da mesma equipa. A contra-comunicao motora uma interaco operativa de oposio motora que dificulte directamente a realizao da tarefa de um outro jogador adversrio (Garganta, 1997: 80).
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perspectivar que qualidade das aces individuais e colectivas que acaba
quase sempre por ditar o vencedor (Rebelo, 2004).
2.1.4. A aleatoriedade, imprevisibilidade e complexidade das situaes do jogo
A actividade de jogo frtil em aces ou sequncias imprevistas e aleatrias
(Garganta, 1997: 169), cuja frequncia, ordem cronolgica e complexidade no
podem ser previstas antecipadamente (Garganta, 1998b). Considera-se que a
natureza complexa das aces de jogo implica a imprevisibilidade, e
emergncia plausvel do novo (Faria e Tavares, 1993). O jogo poder ser
entendido como um sistema dinmico no linear8, cujo comportamento varia
no linearmente com o tempo, dependendo o resultado da forma como se joga,
como se vai jogando (Cunha e Silva, 1999).
As decises do jogo ao serem tomadas num contexto no completamente
previsvel priori (Garganta e Grhaigne, 1999), num confronto simultneo
entre o previsvel e o imprevisvel, (Garganta e Cunha e Silva, 2000), permitem
constituir a equipa como um sistema adaptativo complexo (Garganta e
Grhaigne, 1999), dinmico (Garganta e Cunha e Silva, 2000; Teodorescu,
2003), aberto9 (Garganta, 1997; Castelo, 1994; 1999; Oliveira, 2002) e catico,
no qual ilhotas de determinismo (as jogadas10) se inserem no indeterminismo
global do jogo (Garganta e Cunha e Silva, 2000).
Segundo Morin (2003), o sistema aberto est na origem de uma noo
termodinmica, e apela noo de meio. Um sistema aberto troca matria,
8 Os sietemas no-lineares no obedecem a princpios de sobreposio de solues; a no linearidade significa que a maneira como se joga altera as regras do jogo (Gleick, 1994). A mutabilidade origina uma variabilidade de comportamentos possveis que no existe nos sistemas lineares (Gleick, 1994). 9 As equipas em confronto num jogo de Futebol so sistemas abertos dado que evidenciam vrias trocas, sobretudo de informao, com o envolvimento (colegas e adversrios), modificando-se ao longo do tempo, evidenciando capacidade de aprender a reconhecer o meio envolvente, utilizando os resultados de experincias passadas para melhor adaptar o seu comportamento (Garganta, 1997). 10 Embora a jogada se organiza da uma forma determinista, a passagem de uma jogada a outra evidencia que o jogo se organiza de forma catastrfica o que nos sugere que o determinismo uma componente do indeterminismo global (Garganta e Cunha e Silva, 2000), pelo qual no possvel saber, a partir do estado inicial, qual o estado final duma aco ou sequncia, surgindo a evidencia de situaes de final aberto (Garganta, 2001a). No entanto, o jogo -nos apresentado como uma sequncia global configurada a partir de vrias sequncias parcelares (Garganta, 1997).
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energia e informao com o meio (Durand, 1992). De acordo com Morin (2003),
a existncia e estrutura destes sistemas depende de uma alimentao exterior,
que no caso dos seres vivos no apenas material/energtica, mas tambm
organizacional/informacional. Sem o fluxo energtico/informacional que
alimenta o sistema haveria desregularo organizacional, provocando
rapidamente enfraquecimento (Morin, 2003). As numerosas e diversificadas
trocas permitem que o sistema se autoproduza, tenha auto-referencias, goze
de autonomia e possa auto-organizar-se (Durand, 1992). Morin (2003) refere
duas consequncias que decorrem da noo de sistema aberto: (i) as leis de
organizao do ser vivo no so de equilbrio, mas de desequilbrio,
recuperando ou compensando, de dinamismo estabilizado; (ii) a inteligibilidade
do sistema deve ser encontrada, no apenas no prprio sistema, mas tambm
na sua relao com o meio que no de simples dependncia mas constitutiva
do sistema. Portanto, o sistema s pode ser compreendido incluindo-se nele o
meio, que simultaneamente ntimo e estranho e faz parte dele prprio, sendo-
lhe sempre exterior (Morin, 2003: 33).
O jogo de Futebol uma construo activa, no qual, o seu desenvolvimento
decorre da afirmao e actualizao das escolhas e decises dos jogadores,
face a situaes diversas e descontnuas, decorrentes de um ambiente
aleatrio e imprevisvel, com diversos constrangimentos e possibilidades, s
quais o jogador e a equipa devem responder duma forma ajustada, em estrita
concordncia com os objectivos a atingir em cada uma das fases (ataque e
defesa) (Garganta, 1997). Face a um meio instvel e inconstante, o jogador
esfora-se em extrair as constncias e regularidades no conjunto das
informaes disponveis (Costa et al, 2002).
O jogador participa num jogo cujo resultado est para ele em aberto (Garganta
e Cunha e Silva, 2000) e no qual se sucedem as jogadas. Neste sentido, o jogo
de Futebol pode ser caracterizado como uma sequncia de sequncias (as
jogadas) (Garganta e Cunha e Silva, 2000). As sucessivas configuraes que
o jogo vai experimentando decorrem da forma como ambas as equipas,
constituindo uma fonte recproca de perturbaes, geram essas relaes em
funo das regras, dos princpios e do objectivo do jogo (Garganta, 1997:
134). No entanto, como nos destaca Cunha e Silva (1999), com o desenrolar
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do jogo, o contributo da incerteza, do acaso, incompatibiliza-se crescentemente
com qualquer regra.
As condies de funcionamento das equipas fazem com que no decurso de um
jogo, cada equipa tente perturbar ou romper o estado de equilbrio do
adversrio, procurando gerar desordem na sua organizao, preservando uma
certa ordem (Garganta, 1997; Garganta e Grhaigne, 1999). A aco das
equipas caracteriza-se pela sucessiva alternncia de estados de ordem e
desordem, estabilidade e instabilidade, uniformidade e variedade (Garganta,
2001a).
Segundo Morin (2003), o desequilbrio que alimenta o sistema, permitindo
manter-se em aparente equilbrio, quer dizer, em estado de estabilidade e de
continuidade, o que consubstancia um estado de steady state, firme, constante
e no entanto frgil. Segundo este autor, este aparente equilbrio s pode
degradar-se se for abandonado a ele prprio, ou seja, se houver fecho do
sistema.
Morin (1997) fala de um tetrlogo desordem / interaces / organizao /
ordem na qual os encontros e as interaces entre os seus acontecimentos /
elementos, permitem conceber, com o necessrio ingrediente da desordem, a
constituio da ordem, as morfogneses organizadoras de seres e de
existncias, os desenvolvimentos diversificadores e complexificadores.
Consoante o tipo de perturbao aleatria que o sistema sofre, ao tornar-se
instvel, surge um outro tipo de organizao, resultante das reaces que se
processam em condies de no equilbrio (Garganta, 1997; Garganta e Cunha
e Silva, 2000). Este comportamento permite considerar o jogo de Futebol como
um fenmeno que se projecta numa cadeia de estados de desiquilibrio-
equilibrio, no qual, em muitas situaes, a ordem parece nascer do caos
(Garganta, 1997; Garganta e Cunha e Silva, 2000). A sequncia do jogo
decorre numa perspectiva caolgica, no qual o jogador faz do tempo um tempo
de mltiplos possveis (Cunha e Silva, 1999).
Pode-se ento considerar que no Futebol os sistemas so dinmicos no
lineares, no qual o futuro que condiciona o processo (Carvalhal, 2000).
Dado que o ser humano no est mentalmente apetrechado para lidar com
situaes de confuso total ou de acontecimentos aleatrios a todos os nveis
(Garganta, 2001a), somente com base num registo de uma termodinmica de
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no-equilibrio, ser possvel criar mecanismos de auto-organizao que criem
estrutura e sentido a partir da aleatoriedade (Garganta e Cunha e Silva, 2000).
Assim, as equipas de Futebol constituem-se como estruturas dissipativas
que operam em estados de no-equilibrio e longe-do-equilibrio, interagindo
com o meio por forma a criar os ambientes ou condies que lhes sejam mais
vantajosas, i.e., impondo a sua forma de jogar (Garganta, 1997; Garganta e
Cunha e Silva, 2000). Devido s suas caractersticas, este tipo de sistemas s
se mantm pela aco, isto , pela mudana, pelo que a sua identidade ou a
sua invarincia, no provm da inalterabilidade dos seus componentes, mas da
estabilidade da sua forma e organizao face aos fluxos acontecimentais que
os atravessam (Garganta, 1997; Garganta e Grhaigne, 1999).
As equipas com sucesso, embora longe-do-equilibrio, tendem a tender para a
estabilidade, ou seja, procuram um equilbrio dinmico entre as suas
capacidades e as exigncias do jogo (Garganta, 1997). Remetemos para
Gleick (1994) para consideramos a equipa como um sistema aperidico,
entendido como sistema que nunca chega a um estado de equilbrio, que
quase se repetem em si mesmo, mas sem nunca o fazer exactamente. E no
Futebol, no existem duas situaes absolutamente idnticas, embora estas
possam ser categorizveis (Garganta e Grhaigne, 1999).
No raramente, situaes aparentemente lgicas e correctas geram resultados
negativos, e aces aparentemente ilgicas ou incorrectas produzem
resultados satisfatrios, pelo que, apesar da vontade unnime dos jogadores
envolvidos numa partida, que a todo o custo procuram ganhar, ou no perder,
os comportamentos dos jogadores podem acarretar consequncias
incontrolveis para a equipa (Garganta, 2001a). Um acontecimento casual
pode mudar o curso do jogo, lanando-o numa nova direco (Garganta e
Cunha e Silva, 2000). De facto, um microfacto pode ter macroconsequncias
ao nvel do decurso do jogo e do seu resultado (Garganta, 2001a).
O acaso e as regras so os elementos do jogo (Garganta e Cunha e Silva,
2000). De facto, Garganta (1997: 262) e Garganta e Cunha e Silva (2000: 7)
referem que o decorrer do jogo d-se na interaco, e atravs da interaco,
das regras constitutivas do jogo, o acaso e a contingncia de acontecimentos
especficos com as escolhas especficas e as estratgias dos jogadores,
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viradas para a utilizao das regras e do acaso para criarem novos cenrios e
novas possibilidades.
Refira-se que os processos de treino devem ajustar-se natureza do jogo.
Como nos refere Cunha e Silva (1999), os processos de treino devem conviver
com a variabilidade, fazendo dela uma fora suplementar, em vez de a tentar
esconjurar.
2.2. A organizao de jogo. A organizao funcional e a organizao estrutural
A existncia de aces e, de um grande nmero de interaces (fruto das
aces tcticas colectivas, em conjunto com as individuais, e a existncia da
relao de adversidade entre duas equipas), conduz necessariamente
organizao no interior de cada equipa (Teodorescu, 2003). As transformaes
ocorridas no seio das equipas reflectem um determinado tipo de organizao
que procura responder s caractersticas do prprio meio (Garganta, 1997). Em
funo de uma dinmica organizacional colectiva, surge um conjunto de
julgamentos e de decises que consubstanciam o jogo de Futebol (Sousa,
2005). A organizao pressupe o desenvolvimento e a coordenao racionais
das aces, tornando-se necessrio estabelecer princpios, regras, formas11,
bem como outros elementos pelos quais se assegura o xito no ataque e na
defesa (Teodorescu, 2003). Este autor destaca que os elementos atravs dos
quais se organiza a organizao racional do jogo constituem o contedo da
tctica.
Numa equipa pretende-se um alto nvel de organizao de jogo (Castelo,
2002). A organizao uma criao que est em evoluo constante (Bertrand
e Guillemet, 1994), e submete-se a um processo contnuo de optimizao, que
conduz a uma melhoria funcional da equipa (Teodorescu, 2003).
11 Para Teodoresco (2003), as formas representam a estrutura da actividade dos jogadores nas diversas fases, respeitando os princpios e utilizando os respectivos factores. Estes, segundo o autor, constituem os meios de base atravs dos quais os jogadores accionam as fases de ataque ou de defesa, em conformidade com os princpios que se referem a regras gerais, de base, atravs das quais os jogadores dirigem ou coordenam a sua actividade (individual e colectiva) nas fases de ataque ou defesa.
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A orientao do treino em Futebol deve ser o desenvolvimento da organizao
de jogo de uma equipa. Oliveira et al (2006), referem que o treino deve visar
acima de tudo os aspectos da organizao de jogo, tendo como grande
preocupao a aquisio hierarquizada dos comportamentos/princpios de
jogo, tendo em conta uma ideia de jogo (modelo de jogo). Como nos refere
Castelo (2002), tal no ser possvel se esse aspecto se treinar, somente no
prprio dia da competio. A organizao de uma equipa de futebol implica um
conjunto de procedimentos, os quais devemos ter sempre em considerao
(Oliveira, 2003).
Segundo Bertrand e Guillement (1994: 14) uma organizao um sistema
situado num meio que compreende: um subsistema cultural (intenes,
finalidades, valores, convices), um subsistema tecnocognitivo
(conhecimentos, tcnicas, tecnologias e experincia), um subsistema estrutural
(uma diviso formal e informal do trabalho), um sistema psicossocial (pessoas
que tm relaes entre elas) assim como um sistema de gesto (planificao,
controlo e coordenao). Para Bertrand e Guillement (1994), pese embora a
existncia de vrias definies de organizao, surgem os seguintes pontos em
comum numa organizao: o seu comportamento orientado por uma cultura,
uma misso, por finalidades, intenes e objectivos, i.e., apresenta um
comportamento cultural; recorre a conhecimentos, a tcnicas, a tecnologias,
experincia adquirida e ao saber-fazer, para cumprir as tarefas e alcanar os
objectivos previstos; supe uma estruturao e uma integrao das
actividades: diviso formal do trabalho, atribuio das responsabilidades,
coordenao, integrao, centralizao ou descentralizao, etc.; baseia-se na
participao de pessoas e nas suas caractersticas: inteligncia, sensibilidade,
motivao, personalidade, etc; uma totalidade que possui um centro
nervoso que organiza e controla o conjunto das actividades. Tendo em conta
estes cinco pontos, Bertrand e Guillement (1994) sintetizam cinco dimenses
principais, consideradas subsistemas da organizao:
i. Subsistema cultural, que se refere s intenes e valores determinados pela
organizao e pela sociedade, consubstanciando a razo de ser da
organizao;
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ii. Subsistema tecnocognitivo, que nos remete para o conjunto dos
conhecimentos necessrios para efectuar as tarefas requeridas na
organizao, i.e., para o funcionamento da organizao;
iii. Subsistema estrutural, que nos remete para a diviso (ou a diferenciao) e
a integrao das tarefas. A estrutura frequentemente descrita sob a forma
de regras e de procedimentos, de descries de tarefas assim como de
diagramas organizacionais;
iv. Subsistema psicossocial, constitudo pelas pessoas e pelos grupos em
interaco, sendo frequentemente designado por clima organizacional.
Compreende sobretudo as condutas das pessoas, as suas motivaes, as
suas expectativas, os seus papeis e os seus estudos, as dinmicas de
grupo e das redes de influncia. Est sob a influncia dos sentimentos, dos
valores, dos pressupostos, das aspiraes dos constituintes da
organizao;
v. Subsistema de gesto, que representa um papel dominante dado que
determina as intenes e objectivos; efectua a planificao (poltica,
estratgica, tctica); controla todas as operaes e assegura a relao
organizao/meio.
Durand (1992) considera que a organizao implica um arranjo de relaes
entre componentes ou indivduos, produzindo uma nova unidade que possui
qualidades inexistentes nos seus elementos. Para este autor, tambm o
processo pelo qual matria, energia e informao so reunidos e dispostos de
forma funcional, o que implica a ideia de uma forma de optimizao dos
componentes de um sistema e do seu arranjo.
Bertrand e Guillement (1994) referem que a organizao um sistema aberto
que tem mltiplas relaes com o seu meio. Teodorescu (2003) refere que a
organizao consiste na constituio duma determinada estrutura das aces e
interaces no quadro da equipa. Trata-se ento da criao de uma estrutura
de relaes (aces e interaces).
Para Durand (1992), a organizao comporta um aspecto estrutural e um
aspecto funcional, sendo que estruturalmente a organizao pode representar-
se sob a forma de um organigrama e, funcionalmente pode descrever-se por
um programa. Para Garganta (1997), o conceito de organizao transcende
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largamente a dimenso estrutural (esttica), e remete sobretudo para a
dimenso funcional (dinmica).
Queiroz (1986) distingue contedo de estrutura do jogo. Para este autor, o
contedo do jogo diz respeito totalidade das aces individuais e colectivas
expressas em oposio do adversrio e por um determinado nvel de
rendimento; quando observado e inserido no seu contexto global, o contedo
do jogo define a estrutura do jogo.
2.2.1. Reflexes baseadas no conceito de estrutura
Aps termos realizado uma breve pesquisa sobre o entendimento de estrutura,
esta pareceu-nos algo ambguo. Castelo (1994), com base na opinio de
diferentes autores, permite-nos concluir que a definio de estrutura12 associa-
se ao conjunto (entenda-se, equipa), s partes desse conjunto (entenda-se
jogadores) e ao sistema de relaes estabelecidas (entre os jogadores), ou
seja, estrutura refere-se organizao interna das unidades e no ao
posicionamento esttico dos jogadores. Quer isto dizer que, com base neste
entendimento, podemos relacionar a estrutura com uma organizao dinmica,
porquanto a estrutura tambm se reporta s relaes entre os jogadores. A
estrutura , pois, um modelo (Castelo, 1994: 78). Esta perspectiva contradiz
em nosso entender a apresentada por Garganta (1997).
Castelo (1994), refere que o entendimento de estrutura proposto por Levi-
Strauss (1957), a disposio tctica13 dos jogadores no terreno de jogo, ou
seja, a forma de organizao geral da equipa, no pode ser considerada como
12 Fazendo uma pesquisa pelo Dicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea da Academia de Cincias de Lisboa, aferimos a definio de estrutura: organizao ou modo como as diferentes partes esto dispostas entre si CONSTITUIO (). Conjunto das relaes que se estabelecem entre os elementos de uma comunidade ou dos valores por eles partilhados. () Modo de ajustamento e organizao dos vrios elementos de um todo, de forma a concorrerem para determinado fim. () Conjunto de capacidades fsicas ou psicolgicas de um individuo CAPACIDADE (pg. 1604). 13 Tambm podemos denominar sistema de jogo ou por mtodo de jogo. O sistema de jogo ou dispositivo tctico, representa o modelo de colocao dos jogadores sobre o terreno de jogo (Castelo, 1994: 55). De acordo com Teodorescu (2003: 35), o sistema de jogo representa a forma geral de organizao, a estrutura das aces dos jogadores no ataque e na defesa, estabelecendo-se misses precisas e princpios de circulao e de colaborao no seio de um dispositivo previamente estabelecido. Para este autor, o sistema de jogo tem uma esfera mais restrita do que a tctica, estando includo nesta noo, caracterizando-se pelo dispositivo (distribuio de base dos jogadores no campo) e pela estruturao das relaes entre os jogadores.
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estrutura dado que a estrutura no o ncleo do objecto mas o sistema de
relaes latente no objecto. Castelo (1994: 77) refere que a estrutura do jogo
rev-se para alm do posicionamento dos jogadores no terreno de jogo, ou
seja, na disposio espacial perceptvel, no sistema de relaes estabelecidas
entre os jogadores (companheiros e adversrios), com a bola, com o espao de
jogo, etc.. Ns diramos, face ao entendimento anteriormente apresentado,
que por si s, a disposio tctica dos jogadores no poder ser considerada
de estrutura, dada a necessidade de perspectivar as relaes. Suportando-nos
ainda neste entendimento, podemos concluir que, a estrutura embora no se
podendo reduzir ao posicionamento esttico dos jogadores, engloba, em si
mesmo, o posicionamento esttico dos jogadores, assim como a organizao
interna das unidades, isto , as relaes que se estabelecem.
Bertrand e Guillement (1994: 85), referem que a estrutura pode ser definida
como o modelo estabelecido das relaes entre os componentes ou as partes
de uma organizao, ou seja, o conjunto permanente de relaes entre os
elementos de uma organizao (pg. 65). Este entendimento no foge muito
do apresentado por Castelo (1994), no entanto, Bertrand e Guillement (1994)
referem a necessidade de fazer uma distino entre estrutura e funo dado
que so duas faces de uma mesma moeda, i.e., duas dimenses de um
mesmo fenmeno. Para estes autores, a estrutura constitui a organizao
esttica de uma organizao enquanto a funo constitui a sua dimenso
dinmica. De acordo com estes autores, a estrutura de uma organizao
complexa frequentemente definida por: (i) o modelo das relaes formais das
tarefas; (ii) a maneira como as diferentes actividades ou as tarefas so
distribudas aos diversos sectores ou s pessoas da organizao; (iii) a
maneira de coordenar as diferentes actividades e tarefas; (iv) as relaes de
poder, de estatuto no interior da organizao; (v) as polticas e os
procedimentos que orientam as actividades e as relaes na organizao.
A estrutura organizacional dinmica, i.e., evolui no tempo e reage s
mudanas no seio meio (Bertrand e Guillement, 1994). Ao reportarem-se s
estruturas, Bertrand e Guillement (1994) distinguem a estrutura formal de
estrutura informal14. Estes autores, referem que a formalizao da estrutura