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O PAPEL DAS YOUTUBERS MIRINS FRENTE AO CONSUMISMO INFANTIL
Michele Golam dos Reis (UNESPAR – Campus de Campo Mourão)
Fabiane Freire França (UNESPAR – Campus de Campo Mourão)
Resumo
O objetivo da presente pesquisa foi investigar a representação dos vídeos produzidos por youtubers mirins na formação da identidade de seus/suas telespectadores/as. Utilizamos como referencial teórico-metodológico os Estudos Culturais. A metodologia utilizada para a realização dessa pesquisa foi o estudo de caso e a pesquisa bibliográfica, além das análises de discurso das youtubers mirins Julia Silva e Juliana Baltar. Compreendemos que os vídeos postados por ambas evidenciam um apelo ao consumismo infantil, sobretudo de meninas, por conter propagandas explícitas e implícitas em seus vídeos, além de divulgarem seus próprios produtos ou de terceiros durante o vídeo. Portanto, destacamos que a educação para as mídias precisa fazer parte do cotidiano escolar. Palavras-chave: Educação; Mídia; Youtube; Consumismo. Introdução
Com o desenvolvimento das novas tecnologias da informação e comunicação
(NTIC) se tornou cada vez mais fácil e rápido se comunicar com pessoas de todo o
mundo, assim como receber e enviar informações instantaneamente.
Um site bastante popular entre as crianças é o youtube, um espaço em que
pessoas postam vídeos de diferentes finalidades para que outras assistam. Os
produtores desses vídeos são denominados youtubers. Abordamos especificamente
o quadro de duas youtubers mirins, Julia Silva e Juliana Baltar. Dessa forma, o
objetivo da presente pesquisa foi investigar a representação dos vídeos produzidos
por youtubers mirins na formação da identidade de seus/suas telespectadores/as.
Nossa problemática de pesquisa teve o intuito de responder o seguinte
questionamento: quais são os discursos utilizados por estas mídias para atrair o
público infantil e o investimento de grandes empresas?
Há poucos estudos na área da educação que analisam os impactos que as
mídias, especificamente as/os youtubers mirins, têm sobre o público infantil. Afinal
há interesses das mídias em relação ao consumismo exacerbado e a padronização
voltada ao público infantil.
Desenvolvimento
Na sociedade contemporânea, a mídia e empresas interessadas no público
infantil traçam estratégias para atrair cada vez mais crianças ao mundo consumista,
logo, essas crianças têm o desejo de serem inseridas nesse meio e buscam se
aproximar do mundo dos adultos seja em sua maneira de se vestir, em seu
comportamento ou no uso de produtos de beleza.
Em meio ao cenário atual do crescimento do acesso infantil à internet e do aprimoramento das tecnologias, novas possibilidades de estratégias publicitárias no ambiente on-line surgem a todo momento e contribuem para tornar mais complexa a relação entre infância e publicidade (CRAVEIRO, 2016, p. 19).
Recentemente, um dos meios mais procurados por empresários que atuam
na venda de mercadorias infantis, é o youtube, que possui grande visibilidade
quando o assunto é publicidade.
O YouTube e as redes sociais, “vem gradativamente se transformando não só em simples sites de relacionamentos entre as pessoas, mas também uma forma de procurar e transformar o comportamento do consumidor sobre as empresas”. Nas redes sociais as empresas conseguem obter respostas de seus consumidores instantaneamente, usando a análise de dados e de métricas para medir a eficácia da publicidade. No YouTube, a quantidade de visualizações, o número de “like”, e a análise de discurso dos comentários fazem a pesquisa de satisfação ser mais
ágil e de baixo custo. Para tal, as empresas patrocinam canais que têm um público assíduo para se promoverem (NUNES e ARAÚJO, 2016, p. 176).
Essas empresas têm como público alvo crianças de todas as idades, por isso
destinam às/aos youtubers mirins propagandas das marcas em questão, para
colocarem em seus vídeos. É importante destacar que as empresas nem sempre
produzem mercadorias destinadas as crianças.
As youtubers mirins que analisamos no decorrer da pesquisa têm patrocínios
de algumas marcas, além de terem criado seus próprios produtos. Julia Silva possui
por volta de 3.634.766 de inscritos em seu casal, enquanto Juliana Baltar, 6.635.486
inscritos. Essas youtubers tem 12 e 11 anos, respectivamente.
A maioria dos vídeos das duas youtubers mirins, são unboxing, ou seja,
envios de produtos por patrocinadores para elas colocarem em seus vídeos, como
forma de fazer propaganda. A prática do Unboxing ganha visibilidade com a presença dos YouTubers Mirins, ou embaixadores das marcas. A prática de abrir os brinquedos e fazer reviews ou avaliações de produtos vem ganhando espaço dos conhecidos dos YouTubers, a categoria da pesquisa é complementar a categoria Unboxing e somadas já representam mais de 5 bilhões de views no YouTube Brasil (CORRÊA, 2016, p. 11).
Essa prática de abrir presentes tem o propósito de atrair cada vez mais
crianças ao mundo consumista, despertam nelas o interesse e desejo de consumo.
Os brinquedos mostrados nos vídeos não são acessíveis a todos os públicos, por
serem brinquedos muito caros.
Uma das nossas preocupações ao analisar os canais dessas duas meninas é
a adultização das mesmas, além da promoção de estereótipos de gênero
apresentados em seus discursos, no qual as meninas brincam de boneca, usam
rosa, precisam ser bonitas, usarem maquiagens e produtos de beleza, entre outras
coisas.
As campanhas voltadas para o público infantil, principalmente as dirigidas às meninas, são geralmente sobre beleza. As meninas são, culturalmente, ensinadas a serem bonitas, a “precisarem” cultivar e manter a beleza desde cedo e, essa “beleza” é alcançada através de consumo de produtos como maquiagem, cremes, roupas, sapatos, etc. Esse comportamento é disseminado pela cultura que essas meninas estão inseridas (NUNES e ARAÚJO, 2016, p.178).
Os vídeos tanto da Julia Silva como da Juliana Baltar são direcionados ao
público infantil, mas com o intuito de dar visibilidade aos seus patrocinadores. As
duas youtubers começam seus vídeos pedindo like, inscrições e visualizações. Vale
ressaltar que antes ou no decorrer de seus vídeos há propagandas que podem ou
não ser direcionadas ao público infantil e nos deixam alguns alertas pelo fator
mercadológico de venda e propaganda e a reprodução de padrões de beleza
“femininos”.
Compreendemos que estas mídias, como a própria internet, podem ser
utilizadas como um recurso que contribua para a formação de crianças e jovens e
adultos, para tanto é necessário um processo de mediação (OROFINO, 2005).
As mídias, com suas amplas funções, sendo elas difusoras de conhecimentos
podem ser também reprodutoras de conteúdos que carregam em si sentidos e
intenções diversas. Portanto, a escola como parte fundamental do processo de
desenvolvimento do sujeito, pode e deve utilizar-se desse meio para propiciar a
criança oportunidades e conhecimentos para repensar estas mídias.
Considerações finais Como observado, o youtube é um site muito visitado pelas crianças, por
conter vídeos de entretenimento, como envios, reviews, games, desafios, diários,
maquiagens, etc. e, portanto, esse público tem passado a maior parte do tempo em
frente ao computador, tablet, celular ou outro eletrônico com tal acesso.
As youtubers mirins são idolatradas pelas crianças que as assistem, querem
ser e agir como suas referências virtuais, usar as mesmas roupas, falar igual a elas,
ter os mesmos brinquedos e produtos. Com o incentivo das youtubers as crianças
acabam almejando uma identidade padrão para se sentirem incluídas no meio virtual
e real.
Desse modo, é preciso considerar também outras mudanças que têm
contribuído para repensar o conceito de criança na contemporaneidade e seus
protagonismos. É inegável que o youtube disponibiliza vídeos destinados à
educação e ao aprendizado. Os profissionais da educação precisam compreender
esse mundo virtual tão admirado pelas crianças que frequentam suas salas de aula
e problematizar junto com elas os limites e as possibilidades destes vídeos.
Referências CANAL JULIA SILVA. Disponível em: https://www.youtube.com/user/paulaloma29. Acesso em: 15. Jun. 2018. CANAL JULIANA BALTAR. Disponível em: https://www.youtube.com/user/Juliana1846. Acesso em: 15. Jun. 2018. CORRÊA, L. O que tem dentro da caixa? Crianças hipnotizadas pelo YouTube Brasil, as fronteiras entre entretenimento, conteúdo proprietário e publicidade. São Paulo: ESPM, 2016. Disponível em: http://pesquisasmedialab.espm.br/wp-content/uploads/2016/09/CORREA_Luciana_Propesq_2016.pdf. Acesso em: 13. mar. 2019. CRAVEIRO, P. S. U. Publicidade e infância: estratégias persuasivas direcionadas para crianças na internet. Cultura midiática, 2016. Disponível em: http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/cm/article/view/29357/15673. Acesso em: 12. mar. 2019. NUNES, M.; ARAÚJO, N. A exposição infantil em vídeos de beleza: erotização da infância em favor do consumismo. Temática, 2016.
Disponível em:http://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/view/28606/15269. Acesso em: 14. mar. 2019. OROFINO, M. I. Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, participação e visibilidade. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2005.