o olha da mosca: não somos loucos, somos muitos em cada um de nós

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Não somos loucos Somos muitos em cada um de nós Lenzi PSICÓLOGA CRP 12/0165 juntos desatando nós O Olhar da Mosca Nosso mundo interno é povoado por múltiplas vozes. Nele habitam os nossos Personagens Internos. Eles têm que ser encontrados, conhecidos e identificados. E têm que aprender a conversar entre si. Eles podem mudar a nossa vida. E transformar o mundo em que vivemos. www.telmalenzi.com.br

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Ensaio de final de ano da Psicóloga e Palestrante Telma Lenzi.

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Page 1: O Olha da Mosca: não somos loucos, somos muitos em cada um de nós

Não somos

loucosSomos muitosem cada um

de nós

Lenzi PSICÓLOGACRP 12/0165

juntos desatando nós

O Olhar da Mosca

Nosso mundo interno é povoado por múltiplas vozes.

Nele habitam os nossos Personagens Internos.Eles têm que ser encontrados, conhecidos

e identificados.E têm que aprender a conversar entre si.

Eles podem mudar a nossa vida.E transformar o mundo em que vivemos.

www.telmalenzi.com.br

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O imediatismo, a simplificação e a fragmentação são três características do modelo mental que condicionam a nossa cultura. Algo que se repete por séculos, milênios, e passa a ser visto como uma realidade, uma verdade. Mas o que pensamos como verdade é uma construção social.

A verdade, a realidade como julgamos ver, é ilusória.Na prática, o modelo social se torna a lente através da qual enxergamos o mundo, interagimos com ele e tentamos entendê-lo.

É por meio desse modelo que toda a nossa cultura lida com seus acontecimentos e busca compreendê-los e explicá-los. Pense nisso: todas as nossas “certezas”, todas as nossas teorias a respeito do mundo, são formadas por esse modo de pensar e enxergar o mundo.

Perdemos nosso “olhar de mosca”: Olhar complexo com uma visão multidimensional, fixando em nós as lentes de um modelo mental restritivo.Fragmentamos para buscar compreender, ao invés de olhar o todo. Acreditamos que as causas são linearmente anteriores aos seus efeitos, negando a interação sistêmica. Validamos mais a objetividade, desprestigiando a subjetividade (sentimentos, intuição, emoções) e a dimensão qualitativa da vida, que são vistas como maneiras inferiores de conhecer e pensar. ·O mundo é visto de forma binária, pelo padrão ou/ou: ou bem ou mal; ou rico ou pobre; ou certo ou errado; ou real ou imaginário; ou vencedor ou vencido; ou opressor ou oprimido; e assim por diante.

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Telma Lenzi - 12/2013

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Espiando o mundo, o que vemos como resultantes?Imensas dificuldades de comunicação nos relacionamentos humanos. Imensas dificuldades de relacionamentos entre as pessoas em suas instituições (família, escola, organizações).Fracassos constantes nos esforços diplomáticos das intermináveis conversações de paz.

Vemos que nosso próprio condicionamento mental não nos favorece à autorreflexão para a mudança que necessitamos. E nosso mundo segue fragmentado, com visões simplistas e soluções imediatistas sobre seus próprios problemas. Não mudando a forma de pensar, outras soluções não aparecerão. Precisamos ir além.

Nosso jeito de ajudar o mundo exige a mudança do modelo de pensamento.Não queremos fazer parte deste jogo com vencidos e vencedores fracassados, infelizes, ansiosos, deprimidos, doentes. Não queremos pacientes em nossos consultórios, queremos clientes buscando juntos por outras formas de viver suas vidas.

Falamos de caridade e queremos tirar quem recebe da posição de eterno devedor, rompendo o jogo de poder onde quem dá tem o direito de ditar as regras. Falamos de amor e cuidado e queremos estar aptos a aceitar quando o outro diz não. Validarmos suas soluções e escolhas, abrindo mão de estar no controle.

Começamos por onde? Começamos pelos nossos Personagens nternos. Se conseguirmos transformá-los através de um tipo de diálogo especial, podemos transformar também nossas vidas e consequentemente o mundo em que vivemos.

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Não somos loucos. Somos muitos em nós.Temos múltiplas vozes em nosso mundo interno, múltiplos personagens que nos permitem enxergar por múltiplas perspectivas.Nosso “EU” não é binário, nem existe nele uma verdade principal. Impossível simplificá-lo, e fragmentá-lo em dois pedaços: razão e emoção. Não é tão simples assim calar uma multidão de vozes internas. Pensamentos, vozes, talentos, ideias em parcerias ou antagonismos, conscientes ou não, coexistem em nossas vidas interiores. Essa diversidade interna é legítima e todo ambiente composto de diferenças vai necessitar de diálogo para sua organização. Termos um mundo interno que dialoga entre si, garante o nosso autocuidado, a flexibilidade, a criatividade, a adaptabili-dade e a saúde emocional.

Agimos com nossos Personagens Internos (nossas várias vozes internas) com os mesmos pressupostos éticos, retóricos, modelos sociais, políticos e poéticos daqueles que utilizamos em nossas relações, nas conversações dialógicas no mundo exterior.

Precisamos reconhecê-los, legitimá-los, chamá-los, observá-los em nossas conversações internas e em nossas conversações e silêncios com as pessoas, percebendo suas formas de dialogar entre si e como aparecem no mundo exterior. Todos eles, dentro de suas perspectivas, têm algo a dizer, a ser respeitado e escutado. Desde o personagem que traz a censura, ao que confronta as regras sociais, ou que se considera vítima das circunstâncias.

Devemos observar também nossos personagens mais atuantes, e o que criamos ao utilizarmos determinados personagens internos e não outros.

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Podemos sempre acioná-los, pela imaginação, dentro de uma conversação para mudar o curso ou tom de um diálogo, de uma relação, ou inventarem outros finais para as histórias complicadas que estamos vivendo, através deste tipo de diálogo especial: o diálogo colaborativo. Como os personagens internos são resultantes dos intercâmbios sociais, a aprendizagem deste tipo de diálogo que constrói e compartilha novos significados transformará a convivência em nossas vidas interiores, porque transformará o condicionamento mental no qual estamos mergulhados.

Dialogar de forma colaborativa transforma as nossas relaçõesO Diálogo Colaborativo é uma forma de conversa que melhorará a comunicação entre nossos vários personagens internos (use nas relações do mundo externo também) e facilitará a construção de novos significados compartilhados. Eles vão pensar juntos e compartilhar as ideias que surjam.São todos convidados a ouvir até o fim, sem concordar nem discordar. Observar, não tentar logo de saída analisar, explicar, classificar, sair do automatismo concordo-discordo. Já de início é preciso tentar afrouxar os condicionamentos, buscando modificar alguns hábitos.Desta forma, eles estarão se opondo à fragmentação, ao imediatismo, a simplificação do pensamento binário ou/ou gerador de competição do nosso modelo social.

Eles vão colocar suas ideias e permitir que circulem sentidos e significados sem que sejam necessárias concordâncias, discordâncias e julgamentos.

Não é necessário defender ou manter posições, como acontece na discussão e no debate.

A ideia do diálogo é criar uma ligação para a formação de redes, em vez de separar, de fragmentar.

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O padrão “eu falo, você responde” é substituído pela alternativa “eu falo, você também fala; falamos juntos”.

As idéias novas surgem por meio da cooperação, não pelo confronto.O diálogo e a discussão ou debate são maneiras diferentes e complementares de conversar.

No diálogo, o objetivo é fazer emergir novas idéias e significados e então compartilhá-los. Não se quer concluir, chegar a um resultado único, nem nada equivalente.

Para isso é necessário estabelecer relações, compartilhar idéias, questionar e aprender, compreender, ver as relações entre as partes e o todo, fazer emergir ideias, revelar suas pluralidades. Discussão ou debate são formas de negociação com o objetivo de definir uma questão. Aqui o sentido é ganhar algo, mesmo tendo que ceder um pouco daquilo que pretendíamos ganhar.

É necessário convencer, marcar posições, defender idéias, ensinar, descartar a idéia vencida, fazer acordos e concluir. Ao estabelecermos diálogos colaborativos entre os personagens em nosso mundo interior, quebramos o automatismo concordo-discordo.

Ao refletirmos e percebermos as mesmas questões de modo diferente, criamos novos significados, novas possibilidades para velhos problemas, resultando em ações diferentes das rotineiras. Ao mudarmos a perspectiva, observando a partir de outros ângulos, a partir das várias outras formas de olhar de cada personagem, não há mais retorno: o novo paradigma da complexidade nos tocou, retirou nossas lentes limitadoras, devolveu nosso olhar multidimensional e complexo – Olhos de Mosca e está transformando nossos personagens e nossas vidas interiores.

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Page 7: O Olha da Mosca: não somos loucos, somos muitos em cada um de nós

Você mudou? Mude o mundo.Mudança na forma de conversar pode criar novas formas de vida, facilitar as

relações cotidianas e mudar a maneira como as pessoas se relacionam

rotineiramente, como seres dignos de respeito mútuo.

A forma de dialogar pode mudar as relações e o mundo em que vivemos.

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