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  • Autor: Julio Cesar Bianchi Furtado (Julio Fantasma)Mais Contos: http://www.juliofantasma.com.br/contos-de-terror/Facebook: http://facebook.com/juliofantasmaTwitter: http://twitter.com/juliofantasma

    O MOTOQUEIRO MISTERIOSO

    Carlos Eduardo Santini, ou simplesmente Kadu, voltava para a sua sala para assistir a segunda aula do curso de Publicidade e Propaganda. Era aluno do turno da noite, na UNITAU, em Taubat. Ao passar pela cantina viu um rosto familiar, uma garota da sua turma. At a tudo bem, se no fosse pelo fato da garota estar branca feito um copo de leite, chorando baixinho e tremendo da cabea aos ps. O nome dela era Anelize Maia.

    Kadu no tinha a menor intimidade com a garota, mas no teve coragem de deix-la ali sozinha, naquele estado. Talvez precisasse de alguma ajuda. Aproximou-se dela a uma distncia que no a assus-tasse ainda mais e perguntou:

    Est tudo bem com voc? sua voz quase no saiu direito.Ela tremia tanto que mal conseguia tomar o copo de gua sem derrubar o lquido na mesa de

    plstico. Ela no o escutou. Ou +ngiu que no escutou. Aconteceu alguma coisa? insistiu ele. Agora um pouco mais alto e con+ante.Ela +nalmente levantou os olhos na direo dele. Seus lbios tremiam demais. Ela parecia em

    estado de choque. O que voc quer? disse ela, com voz de choro. Eu s queria saber se voc precisa de alguma coisa. Preciso que voc me belisque para eu saber que no estou sonhando sua expresso era

    to sria quanto a de um professor em dia de exame +nal. O qu?Ela estendeu o brao e acenou com a cabea. Vamos, me belisque! ordenou.

  • Apesar de achar aquilo meio excntrico, Kadu deu trs passos at ela e deu um belisco de leve no brao da menina. Anelize usava uma blusa de croch azul, bem grossa. Aps belisc-la +cou em dvida se realmente a tocara ou se atingira apenas a blusa.

    Caraca, no estou sonhando ela parecia meio perdida. Os olhos arregalados. O pensamen-to distante.

    Voc foi assaltada? No. Desculpa, no da minha conta.Aps 6 meses estudando juntos, esta foi a primeira vez que trocaram mais que trs palavras. Perdo, qual o seu nome mesmo? disse ela, agora de p. Pode me chamar de Kadu ele estendeu a mo. Anelize ela o cumprimentou. Mas pre+ro Ane. OK. Voc est melhor, Ane? No, acho que no. Preciso sair daqui. No estou com cabea para assistir s prximas aulas.Era sexta-feira. Aquilo poderia ser uma cantada? Pensou Kadu. No, com certeza no era. Garo-

    tas como ela no do em cima de garotos como ele. O rapaz no feio, mas Ane uma boneca. Baixi-nha, coxas grossas, nem gorda nem magra, cabelos lisos, longos e escuros feito petrleo. Sua pele levemente morena, de um bronzeado natural. Seu olhos castanhos so enigmticos, apesar de hoje estarem meio tristonhos. O nariz no +no, mas pequenino e proporcional ao seu rosto. Os lbios ainda trmulos so carnudos e Kadu +cou gamado neles.

    Como s petisca quem arrisca, ele tentou uma investida. Eu tambm no estou com muita pacincia para as aulas hoje. Gostaria de ir a algum lugar?

    Conheo um barzinho novo timo. Desculpa, tudo o que eu preciso de um banho quente e da minha cama. S quero esquecer

    esta noite ela +cou olhando para o vazio, como se estivesse tentando recordar de algo. Espero que o +nal de semana seja bem melhor. Obrigada ela +nalmente sorriu. Um sorriso bem tmido, mas sorriu.Silncio por alguns instantes. Kadu no conseguia parar de olhar para ela. Sua cala manchada e

    apertada no corpo era um arraso. Bom, at segunda ento cumprimentou-a uma ltima vez e deu as costas para ela, decep-

    cionado. Espere, +que! ele abriu um sorriso e virou de volta. Quero dizer, s enquanto eu telefo-

    no para o meu namorado vir me buscar.O sorriso murchou rapidamente. Kadu no conseguiu esconder a frustrao ao ouvir aquilo. Mas

    a+nal de contas, que frustrao? Uma garota linda como aquela j era de se esperar que estivesse com algum.

    Tudo bem, eu +co sua voz saiu meio desa+nada. Muito obrigada! e sacou o celular da bolsa. Faz tempo que estou tentando falar com

    ele, mas s d caixa postal. Justo quando eu mais preciso. Hummm, ento por isso que voc estava to chateada? No. Quero dizer, isso tambm me estressou bastante, mas o motivo real no foi esse. Posso

    parecer frgil, principalmente hoje, mas no sou daquelas que choram por causa de homem. A +la anda, e eu sempre deixo isso bem claro quando comeo um relacionamento. Pisou na bola comigo no tem segunda vez.

    Desculpa, mas voc no parece ser assim to durona. No me provoque ela sorriu, mas logo em seguida mudou sua expresso, bem irritada.

    Caixa postal outra vez. Sei l, mas isso no est me cheirando bem. Vou ligar para a minha sogra.Kadu fez uma cara de quem estava interessado, apesar de no estar. Est chamando disse ela, esperanosa. Al? Dona Marta? Oi, boa noite, aqui a Ane,

    tudo bem com a senhora? Que bom, a senhora sabe se o Well est fazendo hora-extra hoje? Estou ligando para ele faz quase meia hora e nada. O qu? Ele chegou mais cedo? Como assim j saiu com

  • dois amigos? Saiu pra onde? Disse que ia me buscar em casa para sairmos? Dona Marta, como assim? Eu tenho aula at tarde, ele sabe disso. E no estou com ele, como a senhora pode perceber seu tom de voz +cando cada vez mais alto e irritado. Kadu comeou a se interessar pela conversa. No o defenda, Dona Marta! Pelo amor de Deus, a senhora tambm mulher, deveria +car do meu lado. Faa--me o favor, Dona Marta. Quer saber? Tchau! desligou o aparelho. Vaca estpida!

    Calma disse Kadu, rindo por dentro.Ela ameaou jogar o telefone longe, mas no ltimo segundo desistiu. Aquele +lho da puta! esbravejou. Depois +cou meio sem graa, e colocou as mos na

    frente da boca. Perdo, saiu sem querer. No tem problema. Faz bem desabafar. Acho que palavres so capazes de economizarmos

    horas e horas de terapia. O alvio imediato. Nem tanto assim. Ainda estou me sentindo pssima. Com certeza a pior noite da minha vida.

    Perseguida por um motoqueiro maluco e agora isso.Kadu arregalou os olhos. Motoqueiro maluco? Sim, foi um susto e tanto. Onde foi isso, aqui no centro? No, na estrada velha entre Pinda e Taubat. Que foda. Fez um bons arranhes no meu pobre carrinho. Coitado, j to velho e agora todo arranhado.

    Sempre cuidei to bem dele. Pelo menos voc est bem. Ah, sim, claro, apesar de psicologicamente em frangalhos. Mas parece que voc durona mesmo, vai superar ela gostou de ouvir aquilo e sorriu para

    ele. Adorei como voc encarou a sua sogra. Ex-sogra, voc quis dizer. E nem me lembre disso. Um trauma por vez.Kadu soltou uma gargalhada. O namorado j era. OK, desculpa.Eles trocaram olhares por alguns instantes. Sorrindo ela +cava ainda mais linda. E agora estava

    solteira novamente. Sei que voc est fragilizada e tal, mas o convite para o barzinho ainda est de p. Olha, se fosse um outro dia eu no recusaria, srio. Mas ... Sempre o mas. Odeio estes mas. Calma, rapaz, no seja to melodramtico! Hoje eu seria uma pssima companhia. Cerveja

    nenhuma neste mundo me faria esquecer o que me aconteceu naquela estrada. Foi bizarro demais. Fico arrepiada s de lembrar.

    Nossa, agora voc me deixou curioso. E vai continuar curioso. No te conheo direito, portanto no vou lhe dar a oportunidade de

    sair por a espalhando para toda a faculdade que a Anelize do 1 ano de Publicidade uma maluca de pedra.

    Eu jamais faria isso. Ah, faria, faria sim. E jogaria no seu Facebook ainda hoje, e da noite para o dia eu viraria a

    maluca da UNITAU. No, obrigado. O que eu vi morre comigo, rapaz. Voc tem di+culdade em chamar os outros pelo nome? Fica me chamando de rapaz.Ela riu novamente. Dizem que uma garota sorrindo muito para voc pode signi+car duas coisas:

    ela est na sua ou achou voc um total idiota. Kadu est certo de que a primeira opo tem 80 porcento contra 20 da segunda.

    Ele um rapaz bonito, mas como a maioria dos rapazes da sua idade, tem um pssimo gosto para se vestir. Hoje ele est com uma jaqueta jeans velha sobre uma camiseta preta do anti-heri Justi-ceiro, da Marvel. Cala jeans com um buraco nos joelhos e um par de tnis vermelho que parece ter vindo de uma guerra na Bsnia. Loiro, cabelos estilo Kurt Cobain, barba por fazer, olhos azuis e um nariz

  • ligeiramente comprido. No chega a ser muito mais alto que Anelize, apenas uns 10 centmetros acima. No gordo, mas no chega a ser malhado quanto o ex de Anelize.

    Desculpa, um defeito que j tentaram me corrigir. Se voc no for acometido da mesma doena, +que vontade para me chamar de Ane. S o meu pai me chamava de Anelize.

    E no chama mais por qu? Ele faleceu ano passado. Nossa, sinto muito. Tudo bem. Silncio. Kadu se arrependeu amargamente de ter tocado no assunto. Idiota! Idiota! Idiota!

    Repetiu mentalmente. Kadu disse ela, com nfase nas duas slabas , voc mora aqui em Taubat mesmo? Sim, nascido e criado. Legal. Desculpa a pergunta, mas voc vem de carro? Sim, apesar de no morar muito longe. Moro na Independncia. Estou sem graa de te pedir um favor. Pode pedir. Se eu puder ajudar. Olha, no quero que voc se sinta na obrigao de me ajudar. S responda sim se realmente

    puder e no for muito incmodo, OK? Voc quer o meu rim ou algo assim? No, claro que no! ela caiu na gargalhada. Mas aceito um pulmo. Voc meio bobo,

    n? S quando no estou dormindo. Voc quer uma carona para ir embora, no ?Ela assentiu com a cabea, meio sem graa. No tenho a menor condio de voltar quela estrada esta noite explicou. Imagino. E nem precisa, eu te levo. Srio? No vou te atrapalhar? Voc no tem compromisso para hoje noite? Eu tinha, mas uma mina a me dispensou. Putz, sacanagem.Ele riu. E piscou para ela. Agora caiu a +cha. Eu fui loira por um bom tempo, isso. Vambora! Vou pegar as minhas coisas e levo voc para o seu lar doce lar. Muito obrigada. Voc caiu do cu. Tecnicamente voc