o modelo anisotrópico ginzburg-landau e a determinação de
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA
O Modelo Anisotrópico Ginzburg-Landau e a
Determinação de Campos Magnéticos Dispersos em
Nanoestruturas Híbridas Supercondutoras-
Ferromagnéticas
ANDERSON DOS SANTOS PASCHOA
VITÓRIA – ES
2020
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Anderson dos Santos Paschoa
O Modelo Anisotrópico Ginzburg-Landau e a
Determinação de Campos Magnéticos Dispersos em
Nanoestruturas Híbridas Supercondutoras-
Ferromagnéticas
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Física do Centro de Ciências Exatas da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título em Doutor em Física, na área de Física da Matéria Condensada. Orinentador: Prof. Dr. Edson Passamani Caetano e Co-orientador: Prof. Dr. Jorge Luis Gonzales Alfonso.
VITÓRIA – ES
ii
2020
Dedico esta conquista primeiramente a Deus, por ser essencial em minha vida e aos meus amores: Claudinei, Elza Cristina, Edipo, Tatiane e Jeferson, minha família.
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Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar a Deus e aos meus pais; Claudinei e Elza Cristina, aos meus
irmãos Edipo, Jeferson, Tadiane e toda minha família que, com muito carinho e apoio,
não mediram esforços para que eu chegasse até aqui.
Ao Prof. Dr. Edson Passamani Caetano pela paciência na orientação. Agradeço também
pela confiança em mim depositada, por todas as palavras de incentivo ditas nas horas
de desespero, e por me fazer terminar, esta etapa, uma pessoa mais madura e capaz.
Ademais, agradeço por sempre estado presente durante meu doutorado, pelas
sugestões em todo processo experimental e na discussão dos assuntos teóricos e, por
fim, por todas as vezes que passava no laboratório mostrando responsabilidade pelo o
mesmo e, para verificar o andamento da pesquisa. Muito obrigado.
Ao Prof. Dr. Jorge Luiz Gonzalez Alfonso pela co-orientação e pela enorme
disponibilidade durante as diversas vezes que precisei discutir sobre os dados obtidos
das amostras preparadas. Além disso, por todo apoio na pesquisa, pois sua
disponibilidade, contribuição científica e interesse comum para o andamento do
trabalho fizeram com que conseguíssemos finalizá-lo da maneira como planejado. Muito
obrigado.
Aos colegas de trabalho do LEMAG pelas várias contribuições e parceria e amizade que
criamos, isto é, pelo companheirismo e por me fazerem ter a certeza que essa equipe,
esse local, eu nunca esquecerei. Vocês são demais. Em especial ao Mestre e técnico do
LEMAG, Rafael Oliari, pelo apoio em todos os momentos nessa caminhada e também
aos meus colegas de pós-graduação Alisson Krohling, Calos Henrique Verberno, Calos
Eduardo Guimarães, Tales Freitas, Simone Venturini, Murilo Cecco e Camila Pinotti pelo
apoio sempre.
À galera maravilhosa que conheci nesse pouco tempo que vivi em Vitória – ES.
Por fim, quero deixar meu agradecimento as instituições responsáveis pela minha
formação desde o ensino fundamental e médio (técnico profissionalizante); EEEFM Prof.
Célia Teixeira do Carmo e Ifes – Campus Alegre e na graduação Ufes – Campus Alegre.
Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Física da UFES e as agências de fomento
FAPES e CNPq (projetos de pesquisa do LEMAG) e CAPES (Bolsa de doutorado), sem as
quais essa pesquisa não teria ocorrido.
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“Se você gosta de examinar tudo, procure selecionar o que lhe faz mais feliz.
Faça isso com atenção, com vista a um hoje e a um futuro especial que deve construir.
Apenas acumular informações é esforço desnecessário a confundir os objetivos. Selecione o que tem valor e mérito, que ajuda, acrescenta e faz luz, alegria e otimismo. Depois,
siga nos bons propósitos, em direção a um progresso que bate bem com o seu jeito de ser.
Quem não sabe para onde vai, fica paralisado ao ver estradas pela frente. ”
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(Trecho do livro “Otimismo todo Dia” – Lourival Lopes)
Resumo
Nesta tese de doutorado, o modelo anisotrópico de Ginzburg-Landau foi
experimentalmente testado. Foi definido o parâmetro físico ∆𝑇𝐶 = 𝑇𝐶|| −𝑇𝐶⊥, onde
𝑇𝐶|| 𝑒 𝑇𝐶⊥ representam as temperaturas críticas supercondutora (𝑇𝐶),
determinadas nas configurações de campo magnético aplicado paralelo (B||) e
perpendicular (B⟘) ao plano da amostra, respectivamente. Usando a técnica
Magnetron Sputtering (operando na geometria configuração confocal) foram
preparados filmes supercondutores Nb(20-100), heteroestruturas híbridas
supercondutoras-ferromagnéticas SC/FM [Nb(20-100)/Cu(5)/Co(40) e Nb(20-
100)/Cu(5)/Py(2)] e as ditas válvulas de spin supercondutoras SC/FM1/FM2 VSS
[Nb(20-100)/Cu(5)/Py(2)/Cu(5)/Co(40)], onde os valores entre parênteses estão
em nanômetros. O comportamento anisotrópico de TC e o efeito VSS, sob a
aplicação do campo magnético foram sistematicamente investigados. Com
medidas de magnetorresistência nas configurações de campos magnéticos
aplicados (B|| e B⟘), foi possível obter o comportamento experimental de ∆𝑇𝐶
para cada sistema híbrido SC/FM e aplicando o modelo anisotrópico de
Ginzburg-Landau, os valores de campo magnéticos dispersos das camadas FM
foram calculados na condição de campo magnético nulo, ou seja, os campos
dispersos das camadas de Co, Py e Py/Co (no sistema VSS) foram determinados
em campo aplicado zero (B = 0 T) como sendo respectivamente (- 8,5 ± 0,1) mT,
(31,0 ± 0,3) mT e (38,0 ± 0,4) mT, enquanto uma taxa de variação entre o campo
disperso e o campo aplicado (𝑑𝐵𝐹𝑀
𝑑𝐵) foi de (- 0,22 ± 0,02), (- 0,17 ± 0,02) e (- 0,26
± 0,02), respectivamente. Com medidas de dependência angular da
magnetorresistência, curvas ∆𝑇𝐶(𝜃, 𝐵) para filmes puros de Nb e dos híbridos
Nb/FM foram obtidas, e grandes valores de efeito de válvula de spin
supercondutora (EVSS) entre 60 e 300 mK foram medidos. Ao invés de usar
simplesmente a possibilidade de transição dos pares de Cooper do estado
singleto para tripleto, os resultados EVSS foram explicados considerando os
campos dispersos efetivos derivados das alterações nos domínios magnéticos
das camadas ferromagnéticas causada pelo campo magnético externo. Esses
resultados trazem contribuições para esclarecer o efeito de proximidade e o
efeito magnetostático; questões que ainda precisam ser bem compreendidas
para aplicações tecnológicas de válvulas de spin supercondutoras.
Palavras-chaves: Sistemas Híbridos, Efeito Válvula de Spin Supercondutora,
Campo Disperso, Domínios Magnéticos, Efeito de Proximidade.
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Abstract
In this doctorate thesis, the Ginzburg-Landau anisotropic model was
experimentally tested. The physical parameter ∆𝑻𝑪 = 𝑻𝑪|| −𝑻𝑪⊥ was defined,
where 𝑻𝑪|| and 𝑻𝑪⊥ represent the superconducting critical temperatures (𝐓𝐂),
determined in the magnetic field settings applied parallel (B||) and perpendicular
(B⟘) to the sample plane, respectively. Using the Magnetron Sputtering technique
(operating in the confocal geometric configuration), superconducting films
Nb(20=100), SC/FM superconducting-ferromagnetic hybrid heterostructures
[Nb(20-100)/Cu(5)/Co(40) and Nb(20-100)/Cu(5)/Py(2)] and said
superconducting spin valves SC/FM1/FM2 VSS [Nb(20-
100)/Cu(5)/Py(2)/Cu(5)/Co(40)] were prepared, where the values in parentheses
are in nanometers. The anisotropic behavior of Tc and the VSS effect under the
application of the magnetic field were systematically investigated. With
magnetoresistance measurements in the magnetic field configurations used (B||
and B⟘), it was possible to obtain the experimental behavior of ∆𝑻𝑪 for each hybrid
SC/FM system and applying the anisotropic model of Ginzburg-Landau, the
dispersed magnetic field values of the FM layers were calculated in the condition
of a null magnetic field, that is, the stray field of the Co, Py e Py/Co (in the VSS
system) layers were determined in zero applied field (B = 0 T) as being repectively
(- 8,5 ± 0,1) mT, (31,0 ± 0,3) mT e (38,0 ± 0,4) mT, while a rate of change
between the stray field and applied field (𝒅𝑩𝑭𝑴
𝒅𝑩) was of (- 0,22 ± 0,02), (- 0,17 ±
0,02) and (- 0,26 ± 0,02), respectively. With angular dependence measurements
of the magnetoresistance, ∆𝑻𝑪(𝜽, 𝑩) curves for pure Nb films and Nb/FM hybrids
were obtained, and large effect values of the superconducting spin valve (EVSS)
between 60 and 300 mK were measured. Instead of simply using the possibility
of transitioning Cooper pairs from singlet to triplet state, the EVSS results were
explained considering the effective dispersed field derived from changes in the
magnetic domains of the ferromagnetic layers caused by the external magnetic
field. The results bring contributions to clarify the proximity effect and the
magnetostatic effect; issues that still need to be well understood for technological
applications of superconducting spin valves.
Keywords: Hybrid Systems, Superconducting Spin Valve Effect, Stray Field,
Magnetic Domains, Proximity Effect.
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Lista de Figuras
Figura 2.1: Dependência da temperatura crítica (círculos pretos) e da
resistividade em 10 K (quadrados vermelhos) em função da espessura de filmes
de Nb (tNb) crescidos sobre substrato de safira [58]............................................10
Figura 2.2: (a) Campo crítico superior (HC2) em função da temperatura para as
amostras de SrTiO3 dopada com Nb, para campos magnéticos aplicado
perpendicular ao plano da amostra (quadrados) e paralelo ao plano (círculos).
As linhas pontilhadas são os ajustes com a teoria de Ginzburg-Landau
linearizada. (b) Completa dependência angular do campo crítico superior. A linha
pontilhada é o ajuste com a equação de dependência angular usando a Eq. (2.3)
[63].....................................................................................................................13
Figura 2.3: Esquema representativo da atuação do campo de desmagnetização
em filmes finos (a) ferromagnéticos (FM) e (b) supercondutores (SC)
[37].....................................................................................................................15
Figura 2.4: Esquema de possíveis sistemas híbridos: (a) bicamda FM/SC, (b)
tricamada FM2/FM1/SC, (c) multicamadas FM/SC e (d) heterostruturas com
camada não magnética (NM) separando a interface SC e
FM......................................................................................................................17
Figura 2.5: Dependência oscilatória de 𝑻𝒄 em função da espessura da camada
Gd obtida por Jiang e colaboradores [74]...........................................................20
Figura 2.6: Dependência de 𝑻𝒄 vs espessura da camada de Fe (𝒅𝑭𝒆 = 𝒅𝑭𝒆) obtida
por Müghe e colaboradores (triangulo fechado: 𝒕𝑵𝒃 25 nm; círculo fechado: 𝒅𝑵𝒃
22 nm; triangulo aberto: 𝒅𝑵𝒃 225) [76]...............................................................21
Figura 2.7: Representação do efeito de uma camada ferromagnética extra F´
entre a camada misturadora FM1 e a camada de drenagem FM2, para a geração
de pares tripletos. As setas verdes representam as direções de magnetização
de FM1 e FM2 (magnetização no plano); a seta azul indica uma camada de
interface com direção de magnetização fora do plano [21]...............................24
Figura 3.1: Imagem do equipamento Magnetron Sputtering, fabricado pela empresa AJA Internacional Inc. modelo ATC ORION-8 instalado no LEMAG/Ufes. Destaque para a câmara principal (evaporação) e a antecâmara, que possibilita inserir e remover amostras mantendo praticamente inalterada a pressão residual dos gases na câmara de evaporação. A válvula gaveta separando as câmaras também é nítida na figura (caixa tipo retangular metálica inclinada e acoplada com um cilindro negro que possibilita a conexão entre as câmaras) ..........................................................................................................26 Figura 3.2: Imagem esquemática de algumas das Magnetrons na configuração confocal (geometria de deposição oblíqua) do equipamento Magnetron
viii
Sputtering ATC ORION-8 usado neste trabalho (no esquema, só quatro das sete Magnetrons são mostradas). A célula de evaporação térmica também é mostrada (centro). Para deposição, a direção [110] do Si é usado como referência para orientar sobre um dado alvo específico....................................27 Figura 3.3: Esquema do processo de difração de raios X com incidência rasante,
sendo 𝜑 o ângulo rasante de incidência, e 2𝜃 o dobro do ângulo de difração percorrido pelo detector.....................................................................................35 Figura 3.4: (a) Imagem do difratômetro de difração de raios X Ultima IV da marca RIGAKU. Em (b), as geometrias disponíveis do difratômetro RIGAKU, Bragg-Bretano e Parallel Beam.....................................................................................36 Figura 3.5: Imagens do equipamento PPMS Evercool–II fabricado pela Quantum Design Inc. e operando no LEMAG. Na parte ampliada (imagem à direita) é mostrado, em destaque, o módulo MAV.............................................................38 Figura 3.6: Esquema ilustrativo das medidas com campos magnéticos aplicados
(B) para um ângulo 𝜃 qualquer relativo ao plano do filme (imagem da esquerda) e para as duas configurações principais: paralelo (|| - imagem central) e
perpendicular (⊥ - imagem da direita) ao plano do filme.....................................39 Figura 3.7: Esquema experimental para geometria do método de 4 pontas empregada na medida de resistividade elétrica em função da temperatura T e do campo aplicado B...............................................................................................41 Figura 3.8: Esquema representando as configurações da direção variável do campo aplicado (B), a corrente elétrica (i) fixa no plano do filme durante as
medidas angulares de R(T, B). O ângulo 𝜃 é definido entre o plano do filme e a direção de B, sendo zero para configuração no plano (||), 90o para configuração
perpendicular (⊥) ao plano do filme e 180o para a configuração antiparalela (anti-||) entre campo e corrente elétrica no plano........................................................42 Figura 3.9: Geometria das medidas de resistividade elétricas dos filmes supercondutores: (a) dispositivo de quatro pontas acoplado no módulo de resistividade do sistema PPMS, (b) configuração das medidas com o campo magnético aplicado paralelo (i) e perpendicular (i) ao plano da amostra e (c) método utilizado para medidas em função do ângulo........................................43
Figura 3.10: Método utilizado na determinação de 𝑇𝑐 dos filmes de Nb: (a) curva representativa de resistividade em função da temperatura 𝑅(𝑇), (b) curva da derivada primeira de 𝑅(𝑇) e (c) curva ilustrativa de FWHM para obtermos o
parâmetro de incerteza das medidas 𝛥𝑇𝑐...........................................................44 Figura 4.1: Padrões DRX tomados à temperatura ambiente para os filmes de (a) Nb100 e (b) Nb20...............................................................................................52 Figura 4.2: Curva de refletividade do filme Si/Nb20 obtida à temperatura ambiente (linha preta). A linha vermelha corresponde ao resultado do ajuste dos
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dados experimentais usando o programa Dyna [102]...................................................................................................................54 Figura 4.3: Curvas M(T) dos filmes de Nb100 (a) e Nb20 (b) preparados em TS = 100 °C. O campo de prova aplicado perpendicular ao plano do filme e com um valor de 3 mT. Curvas de R(T) dos filmes (c) Nb100 e (d) Nb20 com campo
aplicado zero na configuração perpendicular ao plano do filme (B⟘ = 0 T)........................................................................................................................56 Figura 4.4: Esquemática para mostrar a medição de resistividade [R (T)] de filmes supercondutores pelo método de quatro pontas (descrito no cap. 3) na interação intergranular (interação entre grãos supercondutores vizinhos), onde as bolas verdes representam os grãos SC.........................................................58 Figura 4.5: Curvas de M(B) tomadas em 2 K com o campo magnético perpendicular aos planos dos filmes de Nb, em (a) filme de Nb100 e (b) Nb20. Critério de obtenção de Bc1; com o aumento gradual da corrente da bobina é observado um aumento linear na resposta negativa da magnetização proporcional ao campo aplicado até o valor de Bc1 e, o critério está sinalizado pela linha vermelha tracejada.............................................................................59 Figura 4.6: Curvas de R/R0 para duas amostras de Nb100 (a) e duas amostras de Nb20 (b). No canto direito de ambas as curvas se encontra o ponto de máximo da curva (em vermelho), indicando o ponto de inflexão das curvas (TC).....................................................................................................................61 Figura 4.7: Curvas de R/R0 para os filmes de Nb(20 nm) (a) e Nb(100nm) (b). Os experimentos foram realizados nas duas configurações de campo magnético: paralelo ao plano da amostra (BII: lado esquerdo) ou perpendicular ao plano da
amostra (B⟘: lado direito)....................................................................................62 Figura 4.8: Comportamento de TC em função do campo magnético aplicado (B) para filmes [Nb20 símbolos pretos] e [Nb100 símbolos azuis]. Os círculos completos correspondem aos dados na configuração BC2||, enquanto os
quadrados são devidos aos dados na configuração BC2⟘. As linhas que passam pelos dados experimentais correspondem a ajustes usando funções polinomiais.........................................................................................................64
Figura 4.9: Comportamento da variação de temperatura crítica (∆Tc) em função de B para os filmes Nb20 (triângulos pretos) e Nb100 (triângulos azuis). Esses
dados foram obtidos da Fig. 4.5, usando a definição ∆Tc = Tc|| - TC⟘. As linhas sólidas são funções matemáticas ajustados no comportamento dos dados.................................................................................................................65 Figura 4.10: Padrões DRX convencionais (Bragg-Brentano) normalizados para os filmes híbridos (a) Si(100)/Nb20/Cu5/Py2 e (b) Si(100)/Nb20/Cu5/Co40.....................................................................................68 Figura 4.11: Curvas M(B) tomadas em 300 K nas configurações de campo
paralelo (B//- linhas vermelhas) e perpendicular (B⟘-linhas pretas) ao plano do
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filme para os sistemas controle FM (a) Cu5/Co40 e (b) Cu5/Py2. Em (c) Nb20/Cu5/Co40 e (d) Nb20/Cu5/Py2 são também mostrados os laços M(B)
obtidos na configuração de campo perpendicular (B⟘) e registrados em 3 K (linhas azuis) e 10 K (linhas marrons). As configurações dos campos utilizados estão representadas no canto esquerdo superior dos gráficos (a) e (c).......................................................................................................................71 Figura 4.12: Curvas M(B) tomadas em 300 K nas configurações de campo
paralelo (B//- linhas vermelhas) e perpendicular (B⟘-linhas pretas) ao plano do filme para os sistemas controle FM (a) Nb100/Cu5/Co40 e (b) N20/Cu5/Co40. Em (c) e (d) são também mostrados os laços M(B) obtidos na configuração de
campo perpendicular (B⟘) e registrados em 3 K (linhas azuis) e 10 K (linhas marrons) para a VVS20. As configurações dos campos utilizados estão representadas no canto esquerdo superior dos gráficos (a) e (c).......................................................................................................................75 Figura 4.13: (a) Curvas de resistências elétricas normalizadas, R/R0, em função da temperatura para as VSS com diferentes espessuras de Cu (dCu): Nb20/Cu5/Py2/Cu5/Co40 (símbolos pretos), Nb20/Cu2,5/Py2/Cu2,5/Co40 (símbolos vermelhos) e Nb20/Cu0/Py2/Cu0/C040 (símbolos azuis). Em (b), o comportamento de TC vs dCu desses filmes SSV (em vermelho o ajuste linear dos dados)................................................................................................................77 Figura: 4.14: Curvas de R(T, B)/R(B = 0, T = 10 K) (ou simplesmente R/R0) para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Co40 (a) e Nb100/Cu5/Co40 (b). Os experimentos foram realizados nas duas configurações de campo aplicado: paralelo (B||: lado
direito) ou/e perpendicular (B⟘: lado esquerdo) ao plano da amostra..............................................................................................................78 Figura 4.15: Comportamento de TC em função do campo magnético aplicado (B) para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Co40 (símbolos pretos) e Nb100/Cu5/Co40 (símbolos azuis). Os círculos completos correspondem aos dados na configuração BC2||, enquanto os quadrados são devidos aos dados na
configuração BC2⟘. As linhas que passam pelos dados experimentais correspondem aos ajustes usando funções..............................................................................................................80 Figura 4.16: Comportamento anisotrópico da temperatura crítica (ΔTC) em função do campo aplicado B para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Co40 (triângulos pretos) e Nb100/Cu5/Co40 (triângulos azuis). Esses dados são obtidos dos dados mostrados na Fig.4.15. Linhas sólidas são resultados dos ajustes. Esquemas de filmes híbridos mostrados na parte inferior da curva (triângulos azuis) são para representar o campo não homogêneo (variação na configuração de spins) na amostra Nb100/Cu5/Co40 em função de B...................................82 Figura 4.17: Comportamento da variação da temperatura crítica (ΔTc) em função de B para os filmes Nb100 (triângulos azuis completos) e Nb100/Cu5/Co40 (triângulos azuis abertos). Linhas sólidas são resultados dos ajustes, com funções do tipo exponencial indicadas na figura. ...............................................83
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Figura 4.18: Curvas de R(B,T)/R(B = 0, T = 10 K) (ou simplesmente R(T)/R0) para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Py2 (a) e Nb100/Cu5/Py2 (b). Os experimentos foram realizados nas duas configurações de campo aplicado: (B||: lado direito)
ou perpendicular (B⟘: lado esquerdo) ao plano da amostra. Os valores de campos estão indicados na figura......................................................................89 Figura 4.19: Comportamento de TC em função do campo magnético aplicado (B) para filmes de Nb20/Cu5/Py (símbolos pretos) e Nb100/Cu5/Py (símbolos azuis). Os círculos completos correspondem aos dados na configuração BC2||, enquanto
os quadrados são devidos aos dados na configuração BC2⟘. As linhas que passam pelos dados experimentais correspondem aos ajustes funções mostradas na figura............................................................................................90 Figura 4.20: Comportamento anisotrópico da temperatura crítica (ΔTC) em função do campo aplicado B para os filmes de Nb20/Cu5/Py2 (triângulos pretos) e Nb100/Cu5/Py2 (triângulos azuis). Esses dados são obtidos dos dados mostrados na Fig. 4.20. As linhas sólidas são os resultados dos ajustes................................................................................................................91 Figura 4.21: Comportamento da variação da temperatura crítica (ΔTc) em função de B para os filmes de Nb100 (triângulos azuis completos) e Nb100/Cu5/Py2 (triângulos azuis abertos). As linhas sólidas são devidas aos ajustes com funções do tipo exponencial, conforme equações indicadas na figura..................................................................................................................93 Figura: 4.22: Curvas de R(B,T)/R(B = 0, T = 10 K) (ou simplesmente R(T)/R0) para heteroestruturas híbridas do tipo válvula de spin supercondutora VSS20 (a) VSS100 (b). Os experimentos foram realizados nas duas configurações de
campo aplicado: paralelo (B||: lado direito) ou/e perpendicular (B⟘: lado esquerdo) ao plano da amostra...........................................................................................96 Figura 4.23: Comportamento de Tc em função do campo magnético aplicado (B) para os sistemas híbridos VSS20 (símbolos pretos) e VSS100 (símbolos azuis). Os círculos completos correspondem aos dados na configuração BC2||, enquanto
os quadrados são devidos aos dados na configuração BC2⟘. As linhas que passam pelos dados experimentais correspondem aos ajustes usando funções..............................................................................................................97 Figura 4.24: Comportamento anisotrópico da temperatura crítica (ΔTC) em função do campo aplicado (B) para os filmes de VSS20 (triângulos pretos) e VSS100 (triângulos azuis). Esses dados foram obtidos dos dados mostrados na Fig.24. Linhas sólidas são resultados dos ajustes.............................................98 Figura 4.25: (a) Esquema da configuração experimental indicando o ângulo (θ) entre o plano do filme e a direção do campo aplicado. A corrente elétrica no plano
(𝑗) também é mostrada (seta vermelha). Os parâmetros de Δ𝑇𝐶 determinados a partir das curvas R(T,B,θ) são mostrados para as amostras de (b) Nb20/Cu5/Co40 (triângulos completos), (c) Nb20/Cu5/Py2 (estrelas completas) e (d) heteroestrutura híbrida VSS20 – Nb20/Cu5/Py2/Cu5/Co40 (quadrados completos). Os dados de Nb20 (círculos abertos) também são adicionados em
xii
cada gráfico para comparação. As cores estão associadas a campos diferentes: preto (0,25 T), vermelho (0,5 T) e azul (1,0 T).................................................101
Figura 4.26: Comportamentos de Δ𝑇𝐶(B = 0,5 T, θ) determinado a partir das curvas de R(T,B=0,5 T,θ) para (a) Nb100/Cu5/Co40 (triângulos completos), (b) Nb100/Cu5/Py2 (estrelas completas) e (c) heteroestrutura híbrida tipo VSS100 - Nb100/Cu5/Py2/Cu5/Co40 (quadrados completos). Os dados de Nb100 (símbolos abertos) foram também adicionados em cada gráfico para comparação.....................................................................................................109 Figura A.1: Curva R(T) obtida por Heike Kamerlingh Onnes em 1911 para uma amostra de Hg [A.1]. Figura modificada com relação ao original (nomes das grandezas em português)................................................................................125
Figura A.2: Esquema mostrando linhas de campo magnético aplicado �� passando por uma seção transversal de um material supercondutor em duas
temperaturas T fixas (a) para 𝑇 > 𝑇𝑐 e (b) 𝑇 < 𝑇𝑐..............................................126 Figura A.3: Relação entre campo magnético aplicado versus temperatura para (a) supercondutor do tipo-I e (b) supercondutor do tipo-II (b) [A.27]..................130 Figura A.4: Diagrama das redes de vórtices (a) quadradas e (b) retangulares. As linhas pontilhadas mostram a célula unitária [A.9]...........................................131 Figura A.5: Esquema mostrando o movimento do par de Cooper por uma rede cristalina. As distorções da rede são provocadas pela passagem de um elétron que acarreta na atração de outro [A.31]............................................................133 Figura B.1: Esquema de uma fonte Magnetron Sputtering contendo o material do alvo (azul com bolas laranjas representando os átomos/moléculas que são ejetadas), a configuração dos imãs permanentes responsáveis em manter estável o plasma (estado misto de elétrons + íons de Ar+), o substrato (cinza) onde é depositado o filme dos átomos ejetados (laranja) (catodo representa o alvo + os imãs = base da Magnetron)..............................................................138 Figura C.1: Padrões DRX dos filmes híbridos (a) Si(100)/Nb100/Cu5/Co40 e (b) Si(100)/Nb100/Cu5/Py2...................................................................................140 Figura C.2: Padrões DRX dos filmes híbridos (a) Si(100)/Nb20/Cu5/Co40Cu5/Py2 VSS20 e (b) Si(100)/Nb100/Cu5/Py2/Cu5/Py2 VSS100............................................................................................................141 Figura D.1: Curvas de R/R0 para a amostra de Nb20 em diferentes configurações [ângulos (°)] que o campo B foi aplicado ao plano da amostra e em diferentes valores; (a) 0,25 T, (b) 0,5 T e (c) 1 T................................................................142 Figura D.2: Curvas de R/R0 para a amostra híbrida Nb20/Cu5/Co40 em diferentes configurações [ângulos (°)] em que o campo B foi aplicado ao plano da amostra e em diferentes valores; (a) 0,25 T, (b) 0,5 T e (c) 1 T....................143
xiii
Figura D.3: Curvas de R/R0 para a amostra híbrida Nb20/Cu5/Py2 em diferentes configurações [ângulos (°)] em que o campo B foi aplicado ao plano da amostra e em diferentes valores; (a) 0,25 T, (b) 0,5 T e (c) 1 T....................................144 Figura D.4: Curvas de R/R0 para a amostra híbrida tipo VSS Nb20/Cu5/Co40/Cu5/Py2 em diferentes configurações [ângulos (°)] em que o campo B foi aplicado ao plano da amostra e em diferentes valores; (a) 0,25 T, (b) 0,5 T e (c) 1 T..............................................................................................145 Figura D.5: Conjunto de curvas de R/R0 para a amostra (a) Nb100, (b) Nb100/Cu5/Co40, (c) Nb100/Cu5/Py2 e tipo (d) VSS100 [Nb100/Cu5/Py2/Cu5/Co40] em diferentes configurações [ângulos (°)] em que o campo B foi aplicado ao plano da amostra em B = 0,5 T...................................146
xiv
Lista de Tabelas
Tabela 3.1: Parâmetros importantes dos alvos e das condições utilizadas na preparação das amostras deste trabalho...........................................................31
Tabela 4.1: Valores dos tamanhos médios de grãos cristalinos (𝜏) e dos parâmetros de rede (𝑎) obtidos dos padrões GIXRD dos filmes de Nb(dNb)...............................................................................................................53
Tabela 4.2: Valores dos parâmetros de rede (𝑎) e do tamanho de grão (𝜏) obtidos de ajustes dos padrões DRX das heteroestruturas híbridas de Si(100)/Nb20/Cu5/Py2 e Si(100)/Nb20/Cu5/Co40.............................................69
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Sumário
Lista de Figuras ................................................................................................. vii
Lista de Tabelas ............................................................................................... xiv
Capítulo 1 ........................................................................................................... 1
Introdução .......................................................................................................... 1
Capítulo 2 ........................................................................................................... 7
2.1 Filmes Finos Supercondutores ..................................................................... 7
2.1.1 Filmes Supercondutores ..................................................................... 7
2.1.2 Fatores que influenciam o TC supercondutor em filmes finos ............. 8
2.1.3 Campo Crítico Superior .................................................................... 11
2.1.4 Fator de desmagnetização em filmes SC ......................................... 14
2.2. Sistemas híbridos supercondutor/ferromagnético (SC/FM) ................... 16
2.2.1 Características dos Sistemas Híbridos (SC/FM) ............................... 16
2.2.2 Comportamento de TC em filmes finos híbridos (SC/FM) ................. 19
2.2.3 Efeito de proximidade: válvulas de spins supercondutoras (VSS) .... 21
Capítulo 3 ......................................................................................................... 25
Técnica de Preparação e Caracterização das Amostras ................................. 25
3.1 Magnetron Sputtering .............................................................................. 25
3.2 Detalhes da preparação e deposição das amostras ............................... 29
3.2.1 Limpeza dos substratos .................................................................... 29
3.2.2 Preparo do alvo para deposição ....................................................... 30
3.2.4 Preparação das Amostras ................................................................ 31
3.3 Caracterização Estrutural: Difração de Raios X ...................................... 34
3.3.1 Difração de Raios X em Altos Ângulos ............................................. 34
3.3.2 Difração de raios X em baixos ângulos: Refletividade de Raios X (RRX)
37
3.4 Caracterização Magnética: Método MAV ................................................ 37
3.5 Medidas de Transporte Elétrico: Método de 4 pontas ............................. 40
Capítulo 4 ......................................................................................................... 45
Abordagem Teórica e os Resultados Experimentais ........................................ 45
xvi
4.1 Modelo teórico: Uma nova abordagem para determinação do valor do
campo magnético disperso (stray field) da camada ferromagnética (BFM). ... 45
4.2 Resultados experimentais dos filmes finos de controle SC de Nb. ......... 51
4.2.1 Caracterização estrutural dos filmes finos controles SC de Nb (dNb). 51
4.2.2 Caracterizações magnética e de transporte dos filmes finos controles
SC de Nb. .................................................................................................. 55
4.2.3 Caracterização por magneto-transporte dos filmes finos controles SC
de Nb. 60
4.3 Resultados experimentais dos filmes finos híbridos controles SCFM e
filmes finos do tipo válvulas de spin supercondutoras (VSS). ....................... 67
4.3.1 Caracterização estrutural das heteroestruturas híbridas SC/FM ...... 67
4.3.2 Caracterização magnética dos filmes finos controles FM de Py e Co e
das heteroestruturas híbridas SC/FM e VSS. ............................................ 69
4.3.3 Determinação da influência sobre o valor de TC do Nb do espaçador
metálico de Cu nas heteroestruturas híbridas SC/FM (VSS). .................... 76
4.4 Determinação do campo magnético disperso (stray field) das camadas
FM (Co e Py) nos filmes finos híbridos controle (Nb/Cu/FM) e VSS. ............ 77
4.4.1 Determinação do campo magnético disperso (stray field) da camada
de Co (BCo) em filmes híbridos Nb/Cu/Co .................................................. 78
4.4.2 Determinação do campo magnético disperso (stray field) da camada
de Py (BPy) em filmes híbridos Nb/Cu/Py. .................................................. 88
4.4.3 Determinação do campo magnético disperso (stray field) das camadas
de Py e Co em filmes híbridos tipo válvulas de spin supercondutora (SSV)
Nb/Cu/Py/Cu/Co ........................................................................................ 94
4.5 Determinação do efeito válvula de spins supercondutora nos filmes
híbridos controles (Nb/Cu/Py e Nb/Cu/Co) e nas válvulas de spin
supercondutora (Nb/Cu/Py/Cu/Co). .............................................................. 99
Capítulo 5 ....................................................................................................... 112
Conclusão ...................................................................................................... 112
Referências .................................................................................................... 117
Apêndice A ..................................................................................................... 124
A.1 História da Supercondutividade ............................................................ 124
A.2 Supercondutividade: Correlação entre Propriedades e Modelos Físicos
.................................................................................................................... 129
A.2.1 Propriedades Supercondutoras de materiais SC-I e SC-II ............. 129
A.2.2 Estado de Vórtices ......................................................................... 130
A.2.3 Teoria BCS da Supercondutividade. .............................................. 132
xvii
Apêndice B ..................................................................................................... 136
Magnetron Sputtering ..................................................................................... 136
B. Referências ................................................................................................ 139
Apêndice C ..................................................................................................... 140
Apêndice D ..................................................................................................... 142
1
Capítulo 1
Introdução
A produção de nanoestruturas de alta qualidade e o entendimento das
suas propriedades físicas estão certamente entre as questões mais desafiadoras
das últimas décadas para cientistas experimentais e também os teóricos.
Para os pesquisadores da área experimental, entre as nanoestruturas
amplamente preparadas e estudadas estão os filmes finos. Essa classe de
materiais artificiais é definida como materiais onde suas espessuras dfilme
(material depositado perpendicular ao substrato) têm dimensão manométrica no
intervalo dfilme ≤ 100 nm [1]. Para se preparar camada tão finas e com potencial
de aplicação tecnológica, há necessidade de equipamentos com alta qualidade
no vácuo e configurações versáteis, pois as aplicações requerem sempre
configurações físicas mais complexas, tais como empilhamentos alternados de
camadas de distintos materiais, gerando às multicamadas ou heteroestruturas
artificiais. De fato, essas heteroestruturas artificiais possuem interesse científico
e tecnológico em dispositivos usados em cabeçotes de leitura magnética
(válvulas de spin) [2], detectores de fóton-único [3], circuitos criogênicos para
comutadores de alta frequência [4] entre várias outras aplicações tecnológicas
[5,6], mesmo que alguns dos fenômenos físicos envolvidos no funcionamento do
dispositivo ainda não tenham sido completamente compreendidos e
experimentalmente controlados.
Entre as questões científicas em aberto, ou melhor, com um número
relativamente baixo de investigação científica está a problemática intrínseca
presente nos filmes finos híbridos; sistemas formados por empilhamentos de
materiais com diferentes propriedades elétricas, magnéticas, térmica,
mecânicas, entre outras e que suas propriedades são fortemente dependentes
das interações dos átomos nas regiões interfaciais [7]. Entre os sistemas
híbridos, com maior impacto para aplicações tecnológicas, estão aqueles
formados com as interfaces supercondutoras e ferromagnéticas (SC/FM). Nesta
tese de doutorado, em primeiro lugar, serão tratadas as questões de confecção
e caracterização (principalmente com medidas de transporte elétrico) de filmes
2
finos supercondutores puros (SC) de Nb, e filmes finos híbridos compostos por
empilhamentos de materiais supercondutores e ferromagnéticos, tais como:
SC/FM e/ou SC/FM1/FM2 (Válvula de Spin Supercondutora - VSS).
De fato, os filmes finos SC são de grande interesse da comunidade
científica desde década de 90 [8], pois essa classe de materiais constitui a
essência dos dispositivos eletrônicos supercondutores, que normalmente
operam com baixas correntes elétricas e podem, entre outras coisas, gerar
campos magnéticos consideráveis. Embora, os filmes finos puros SC tenham
sido bastante estudados, vários problemas ainda não estão completamente
resolvidos. Por exemplo, em filmes SC (produzidos por pulverização catódica)
de Nb depositados sobre substrato de Si há formação de uma camada granular.
Neste caso, há o surgimento de outros fenômenos físicos, como a transição
supercondutor-isolante [9]. Além disso, em geral, quando a espessura do filme
SC (dSC) é reduzida para uma faixa comparável à do comprimento de coerência
do material (ξSC), fenômenos (não vistos nos correspondentes materiais SC
volumétricos) são pronunciados; dentre eles (i) a supressão da temperatura de
transição supercondutora TC [10-14], (ii) o ponto de cruzamento entre os
comportamentos tridimensional e bidimensional (3D-2D) [15-19], (iii) mudança
significativa no estado SC do vórtice (na estrutura de vórtices no interior do SC),
que depende da espessura e da orientação do campo magnético aplicado [20].
De maneira análoga, as heteroestruturas híbridas SC/FM têm mostrados
recentemente fenômenos muito mais complexos associados as interações que
ocorrem fundamentalmente devido a interface ferromagnética-supercondutora,
ou seja, o efeito de proximidade e o efeito magnetostático (gerado pela camada
FM); questões que também não são ainda bem compreendidas e que, portanto,
carecem de mais investigação científica.
Cabe mencionar que as interações entre supercondutividade e
ferromagnetismo têm sido extensivamente estudadas, nas últimas décadas [22-
27] devido a possibilidade de se desenvolver dispositivos spintrônicos
supercondutores, como as válvulas de spin supercondutoras (VSS). Análogo aos
dispositivos válvula de spin magnéticas, usadas nos cabeçotes de leituras
magnética [2], as VSS têm potencial de aplicação em tecnologia de “memória”
criogênica; dispositivos que operam com baixas correntes. Como nas válvulas
de spin magnéticas convencionais que operam com mudanças da resistência
3
elétrica pela variação na orientação relativa da magnetização de duas camadas
FM (FM1,2), separadas por um espaçador metálico não magnético e uma delas
travadas por outra camada antiferromagnética pelo efeito de Exchange bias [28],
as VSS operam pela mudança no valor da temperatura de transição (TC) quando
se modifica as orientações dos spins de camadas ferromagnéticas FM1,2, ou
seja, um efeito que pode ser usado para desligar o estado supercondutor (ou
ligar) e reduzir (ou aumentar) a resistência total do dispositivo. Assim, no efeito
de VSS, o valor de TC é ajustado controlando a configuração de spin das
camadas FM1,2 através de um campo magnético externo [21,27].
Do ponto de vista físico, a variação da TC (em heteroestruturas híbridas
do tipo VSS) é determinada principalmente por dois mecanismos: (i) o efeito de
proximidade, que está intimamente correlacionado com a difusão dos pares de
Cooper do estado singleto (S) supercondutor para o interior das camadas FM1,2
e (ii) a interação magnética entre um campo magnético disperso efetivo (stray
field) e o parâmetro da ordem supercondutora SC (efeito orbital) [22,29,30]. É
pertinente também destacar que a hibridação induzida por campo disperso e
efeito de proximidade nas ordens supercondutoras e ferromagnéticas não
apenas permite novas funcionalidades spintrônicas, mas também dá origem aos
novos domínios de pesquisa da spintrônica supercondutora [21,25,26].
Na literatura [21,26], o efeito VSS tem sido basicamente explicado
assumindo o efeito de proximidade, através da condição de que os pares de
Cooper no estado S, ao difundirem no interior das camadas FM com uma
distribuição não homogênea de campo, ganham momento e transicionam para
o estado tripleto (T), ou seja, o pares de Cooper tem uma transição S-T. Essa
transição favorece uma redução na densidade de pares de Cooper no estado S
no interior da camada SC, consequentemente levando a uma redução acentuada
no valor de TC. Consequentemente, um segundo objetivo dessa tese de
doutorado é investigar a origem do efeito VSS na heteroestruturas híbridas
produzidas, levando em conta, não somente o efeito de proximidade, mas as
contribuições do campo magnético disperso (stray field) das camadas
ferromagnéticas; fato que não tem sido discutido na literatura científica. Para
isso, será usado o modelo anisotrópico de Ginzburg-Landau (GL), fazendo a
definição do parâmetro físico ΔTC = TC|| - TC⟘, onde TC|| e TC⟘ são as
temperaturas críticas supercondutora (TC) medidas nas configurações de campo
4
magnético aplicado paralelo (B|| TC||) e perpendicular (B⟘ TC⟘) ao plano da
amostra (os dados experimentais serão confrontados com o parâmetro ΔTC).
Essa metodologia, que não havia sido discutida até então na literatura (antes da
tese e artigos publicados [31,32]), traz informações sobre o campo magnético
disperso da camada FM sobre a camada SC nos sistemas híbridos SC/FM.
É relevante ainda dizer que os sistemas híbridos SC/FM são comumente
preparados usando supercondutores metálicos de baixos valores de TC. Entre
eles, o nióbio (Nb) é o que tem sido frequentemente usado [33,34,35,36]. As
principais razões para usar o Nb são: (i) tem um valor de TC relativamente alto,
(ii) apresenta propriedades SC do tipo-II e (iii) tem seu valor de anisotropia
relativamente baixo quando comparado com outros materiais SC monoatômicos.
No entanto, no caso dos filmes finos puros de Nb ou em heteroestrutura híbrida
de Nb/FM, a resposta das camadas de SC é fortemente dependente da direção
do campo magnético aplicado [21,35]. Essa resposta anisotrópica das camadas
SC está associada ao efeito anisotrópico provocado basicamente pela quebra
de simetria da espessura do filme (perpendicular ao plano do filme). Como de
praxe, mas importante ser aqui dito, para entendimento do efeito anisotrópico
(observado em filmes finos SC e híbridos SC/FM), há necessidade de investigar
sistemática os diferentes efeitos físicos intrínsecos ocorrentes nesses sistemas
(ex.: efeito da espessura da camada SC sobre os efeitos anisotrópicos nos filmes
de Nb). Neste sentido, alguns modelos teóricos podem ser testados com base
em dados experimentais para trazer uma contribuição adicional ao
entendimento, por exemplo, do problema da redução da temperatura crítica (TC)
pela dimensionalidade nos filmes finos puros ou a redução em TC provocada pela
mudança na distribuição de domínios magnéticos da camada FM em sistemas
híbridos SC/FM. Apesar dos esforços dedicados em compreender esses
problemas [21,25,35], algumas questões particulares ainda estão abertas,
merecendo uma atenção especial da comunidade científica. Em outras palavras,
apesar dos esforços dedicados em compreender esses problemas há várias
questões ainda em aberto, merecendo atenção especial da comunidade
científica.
Por exemplo, um ponto que não tem sido extensivamente explorado na
literatura é a questão da quantificação do campo magnético disperso (da camada
FM) em sistemas híbridos SC/FM, e consequentemente como esse campo
5
disperso varia com a mudança na sua distribuição de domínios magnéticos
provocadas por um campo magnético externo. Portanto, usando o parâmetro
ΔTC = TC|| - TC⟘ é possível experimentalmente estimar o campo magnético
disperso da camada FM sobre a camada SC de sistemas híbridos SC/FM
[31,32]. Para isso é necessário que sejam realizadas medidas de
magnetorresistência em função da temperatura, do campo e sua dependência
angular [R(T,B,)] nos filmes finos puros de Nb [espessuras distintas (dsc)] e em
sistemas híbridos SC(dSC)/FM. Foi também definida a grandeza física vetor
campo magnético efetivo (Bef) que tem, pelo menos duas fontes, o vetor campo
magnético aplicado (B) e o vetor campo magnético disperso (BFM), este último
oriundo da magnetização não homogênea da camada FM.
A fim de estudar as questões descritas acima (teste do parâmetro do
modelo anisotrópico de GL; cálculo do campo magnético disperso, entendimento
e quantificação do efeito VSS, entre outros), filmes SC puros de Nb, com duas
espessuras distintas Nb (dNb = 20 e 100 nm) e heteroestruturas híbridas SC/FM
[Nb(dNb)/Cu/Co ou Py] e VSS [Nb(dNb)/Cu/Py/Co] foram preparadas sobre
substrato de Si (100) usando deposição no Sputtering Orion-8 (equipamento com
configuração confocal dos magnetrons, formando uma ângulo de θ = 32° em
relação à normal do porta-amostra de deposição) instalado no Laboratório de
Espectroscopioa Mössbauer e Magnetometria (LEMAG) da Ufes [31,32].
Quanto as camadas de Cu. A primeira, entre as camadas SC de Nb e FM
de Py (ou Co) foi incluída, pois favorece a redução da inter-difusão atômica,
favorece o controle dos efeitos magnetostático e de proximidade na camada de
Nb (o comprimento de correlação da camada SC de Nb é superior a 10 nm [35]).
A segunda camada Cu, é dita espaçadora, e serve para descoplar
magneticamente as camadas FM de Py e Co. Assim, a camada de Py poderá ter
sua magnetização mais facilmente redirecionada com aplicação de um campo
do que a camada de Co.
Os sistemas puro (Nb) e híbridos (Nb/Cu/FM) foram caracterizados com
técnicas de difração de raios X (DRX) para verificar as estruturas cristalinas
formadas, os tamanhos grãos perpendiculares ao plano do filme e os parâmetros
de redes das camadas Nb, Py, Co. No filme fino puro SC Nb(20 nm) houve a
determinação da rugosidade da camada de Nb (Si/Nb) através de medidas de
refletividade de raios X, que foi assumida constante devido a reprodutibilidade
6
observada para os filmes de Nb [36]. Medidas de magnetização em função ou
da temperatura [M(T)] ou do campo [M(B)] usando o método de magnetização
de amostra vibrante para o entendimento das propriedades ferromagnéticas das
camadas de Py e Co bem como das propriedades SC da camada de Nb foram
executadas nos diferentes filmes puros SC, FM e híbridos. Usando o método de
quatro pontas, foram realizadas (de forma massiva) medidas de
magnetorresistência R(T,B,θ), buscando o entendimento do efeito de campos
dispersos de camadas FM sobre as camadas SC, tanto em sistemas SC/FM
como nas VSS.
Os capítulos seguintes desta tese serão divididos da seguinte forma. No
Capítulo 2, será apresentada uma revisão de literatura sobre os fundamentos
dos filmes finos supercondutores, heteroestruturas híbridas SC/FM e do tipo
VSS. No Capítulo 3, a parte experimental de preparação e caracterização dos
filmes finos e híbridos será mostrada em detalhes. No Capítulo 4, será
primeiramente discutido o modelo anisotrópico GL e seus limites, com a definição
do parâmetro ΔTC (modelo teórico). Os resultados experimentais das diferentes
amostras serão também discutidos e confrontados com base no modelo
anisotrópico GL, onde os valores dos campos dispersos das camadas Py, Co e
Py-Co serão quantificados. Por fim, no Capítulo 5, as conclusões principais
conclusões serão apresentadas, bem como algumas questões para reflexões
(pontos abertos). Os assuntos que trazem uma abordagem teórica da da
supercondutividae e da técnica experimental Magnetron Sputtering estão
disponíveis nos Apêndices A e B, respectivamente. Ademais, os dados
adicionais que não foram discutimos nos Cap. 4, mas que obtivemos neste
trabalho de tese, estão disponíveis nos Apêndices C e D.
7
Capítulo 2
Fundamentos da Supercondutividade e Filmes Finos Sistemas Híbridos Supercondutores-Ferromagnéticos
No Apêndice A é apresentada uma breve revisão dos principais conceitos
sobre o estado supercondutor. Neste capítulo, entretanto, serão apresentados
os principais estudos correlacionados com filmes finos supercondutores puros e
híbridos supercondutoresferromagnéticos (SCFM) reportados na literatura,
objetivando construir uma base para que o leitor possa ter um entendimento do
assunto que será desenvolvimento nesta tese de doutorado. Neste sentido,
serão abordados assuntos relacionados aos sistemas artificialmente
estruturados em forma de filmes finos supercondutores (i) puros (SC), (ii)
híbridos supercondutores/ferromagnéticos (SC/FM) e (iii) híbridos tipo válvulas
de spin supercondutoras (VSS). No final do mesmo, será apresentada a proposta
principal desta tese de doutorado.
2.1 Filmes Finos Supercondutores
Nesta seção será feita uma correlação entre parâmetros experimentais de
preparação de filmes supercondutores de nióbio (Nb) e as propriedades
supercondutoras: TC e BC2. Além disso, conceitos básicos do fator de
desmagnetização em filmes supercondutores e ferromagnéticos.
2.1.1 Filmes Supercondutores
Como observado nas últimas décadas, praticamente todos os materiais
nanoestruturados têm suas propriedades dependentes da sua dimensionalidade
[35,36,37-40]. Os filmes finos estão entre os principais materiais
nanoestruturados, pois na direção perpendicular ao plano do substrato há uma
quebra de simetria no material depositado, consequentemente efeitos de
superfícies e/ou interfaces, muitas vezes, determinam as propriedades dos
8
filmes finos (d < 100 nm). Em geral, as propriedades medidas são diferentes
daquelas encontradas em seus respectivos materiais massivos (bulk, d > 100
nm) [1].
Os filmes SC, que podem ser usados na construção de dispositivos
eletrônicos operando com baixos valores de corrente elétrica, estão entre os
sistemas mais estudados e fascinantes da atualidade, pois ao se reduzir uma de
suas dimensões física (dsc: espessura do filme) ao valor do seu comprimento
característico de coerência (𝜉), provoca o surgimento de vários fenômenos
interessantes nos mais variados materiais SC de baixos valores de TC (Nb, Pb,
Mo, NbSe2 e multicamadas) [41,42]. Entre esses fenômenos, são citados: (i) a
forte supressão da temperatura de transição TC [43-46,47] e (ii) o efeito de
cruzamento dimensional 2D-3D quando se varia a espessura do filme dsc [15-
48]. Na literatura tem se demonstrado que a natureza exata e a extensão da
visibilidade dos fenômenos dimensionais são fortemente dependes dos valores
de dsc e 𝜉, mas há vários fatores experimentais que devem ser testados para
uma melhor compreensão sobre as propriedades SC dos filmes finos. A seguir,
serão apresentados alguns resultados relevantes de filmes SC de Nb, mostrando
como alguns parâmetros experimentais influenciam em suas propriedades SC
(TC e BC2).
2.1.2 Fatores Experimentais que Influenciam o TC Supercondutor em Filmes Finos
A grandeza física TC, que é uma das principais propriedades de um estado
SC, é fortemente afetada em filmes finos pela morfologia e espessura (dsc). No
que diz respeito a morfologia, a qualidade dos filmes SC é determinada
principalmente pelos seguintes parâmetros [36,49-57]: tipo de substrato [52],
temperatura do substrato (TS) [36,49], a taxa de crescimento [50] e a pressão do
gás inerte na câmara de deposição do material [51].
Como neste trabalho de tese a base são filmes SC de Nb, então uma
sistemática de resultados (reportados na literatura) para filmes SC de Nb será
apresentada. Quando crescidos por Sputtering (pulverização catódica) em
atmosfera ultrapura de Ar, há uma modificação nas microestruturas dos filmes SC
de Nb quando o valor de TS é variado [36,49]. Um exemplo particular é o trabalho
9
do nosso grupo [36] que mostrou que, por um lado, enquanto o tamanho de grão
cristalino de Nb (dNb) permanece praticamente constante (dentro do erro
experimental) e há um aumento planar no tamanho das partículas (vista por
microscopia de força atômica) formadas pelos grãos cristalinos, por outro lado, há
um crescimento acentuado e contínuo nos valores do parâmetro de rede da fase
cúbica de corpo centrada (CCC) do Nb à medida que TS aumenta. Como
consequência dessas variações, inicialmente o valor TC aumenta gradualmente
com o crescimento no valor de TS, mas decresce abruptamente para valores de
TS > 100 oC [36]. Todavia, há resultados na literatura que mostra que o valor de
TC de filmes SC de Nb não depende apenas do parâmetro rede [52-53] e do
tamanho de grão [52,54], mas também do material utilizado como substrato [52].
No caso dos filmes de Nb depositados no substrato de Si, alguns resultados
sugerem que há uma tendência de aumento no valor do parâmetro de rede e uma
redução do tamanho do grão cristalino, fatores que contribuem para a redução no
valor de TC [36,49,54].
Ainda com relação a morfologia, foi experimentalmente demonstrado que
filmes SC de Nb têm sua microestrutura dependente da pressão de trabalho de
Ar durante sua produção por Sputtering [56]. Os autores induziram modificações
nos tamanhos de grãos cristalinos de filmes de Nb pela mudança na pressão de
Ar durante a deposição dos filmes, mostrando que o valor de TC tem alteração
dependente tanto do tamanho de grão (tNb) quanto da espessura dos filmes de
Nb (dNb). Em particular, o valor de TC aumenta à medida que cresce a espessura
do filme dNb. Em geral, o tamanho de grão dNb também tende a crescer, mas
aparentemente é a espessura dNb, o fator determinante no valor de TC. É
importante frisar que mesmo em filmes muito espessos de Nb (dNb 380 nm), os
valores de TC reportados são sempre inferiores (maior valor foi de 7,7 K) ao do
padrão (amostras bulk de alta pureza) que é 9,2 K [56]. A queda no valor de TC
dos filmes espessos de Nb está associada ao caráter granular dos filmes de Nb,
os defeitos pontuais e as tensões internas das camadas ocasionadas pela
discordância entre o parâmetro de rede do substrato e do filme de Nb [36,49,
50,57].
Com relação à espessura dos filmes SC de Nb (dNb), mas crescidos sobre
substrato de Si [43] e safira [58], Gubin e colaboradores [42] e Il´in e
colaboradores [58] constataram que o valor de TC aumenta significativamente
10
com o aumento de dNb, conforme mostrado na Fig. 2.1 transcrita da Ref. [58].
Nesta figura é possível observar o comportamento tanto de TC dos filmes SC de
Nb quanto o respectivo comportamento da resistividade elétrica em função dNb.
Como pode ser visto, a resistividade rapidamente diminui à medida que dNb
aumenta, enquanto há um aumento do tipo quadrático para TC (dNb). Valores de
TC ( 9 K), próximo ao valor de bulk do Nb, são reportados neste trabalho para
dNb > 18 nm.
Figura 2.1: Dependência da temperatura crítica (círculos pretos) e da resistividade em 10 K (quadrados vermelhos) em função da espessura de filmes de Nb (tNb) crescidos sobre substrato de safira [58].
Todavia, o valor ótimo de TC pode ser obtido com crescimento em
substrato de safira. Entretanto, neste trabalho de tese foi optado usar substrato
de Si por motivos científicos (domínio do crescimento das camadas de Nb sobre
Si pelo grupo) e econômicos (alto valor dos substratos de safira e falta de
recursos para aquisição). Cabe finalmente mencionar que o valor de TC da
camada SC de Nb em multicamadas também pode ser afetado por outros
mecanismos, tais como: (i) o efeito de proximidade [59] e (ii) o campo magnético
disperso oriundo da camada FM (stray field) [60], que será também tema de
estudo deste trabalho de tese.
11
2.1.3 Segundo Campo Crítico
Outra propriedade que é também afetada com a redução do tamanho
(dSC) do material SC (tipo-II) é o segundo campo crítico (BC2). Apriori, para
materiais SC com características bidimensionais (tipo-2D) e para uma
configuração de campo magnético aplicado (�� ) perpendicular ao plano, o campo
crítico 𝐵𝑐⟘, segundo o modelo Ginzburg-Landau [61], pode ser escrito como:
𝐵𝑐⟘ =
Ф0
2𝜋𝜉2 (2.1)
onde Ф0 e 𝜉 são o quantum de fluxo magnético e o comprimento de coerência
SC, respectivamente.
Em relação aos filmes finos SC, conforme reportado na literatura [39], há
uma diferença entre os valores de 𝐵𝐶 para medidas com campo aplicado
�� paralelo (𝐵𝐶||) e perpendicular (𝐵𝐶
⟘) ao plano dos filmes SC. De um modo geral,
a seguinte dependência angular do campo crítico 𝐵𝐶 é reportada na literatura [8]:
|𝐵𝑐(θ) sin 𝜃
𝐵𝐶⟘
| + (𝐵𝑐(𝜃) cos 𝜃
𝐵𝐶||
)2 = 1 (2.2)
Agora, a dependêcia angular do segundo campo crítico ( 𝐵𝐶2), pode ser
obtida a apartir da solução da equação bidimensional de GL, dada por [39,61]:
|𝐵𝑐(θ) sin 𝜃
𝐵𝐶2⟘
| + (𝐵𝑐(𝜃) cos 𝜃
𝐵𝐶2||
)2 = 1 (2.3)
12
onde
𝐵𝑐2
⟘ = Ф0
2𝜋𝜉||2
(2.4)
e
𝐵𝑐2
||=
√12Ф0
2𝜋𝑑𝑆𝐶𝜉||
(2.5)
onde 𝑑𝑆𝐶 é a espessura do filme SC, 𝐵𝐶2⟘ o campo crítico tomado para campo
aplicado perpendicular (�� ⊥) ao plano do filme, 𝐵𝐶2||
𝑒 𝜉|| são o campo crítico e o
comprimento de coerência obtidos na condição em que o campo magnético
aplicado está paralelo ao plano do filme (�� ∕∕). Para configuração de campo �� ∕∕,
estados de vórtices podem não parecer nos filmes SC se a condição 𝑑𝑆𝐶 ≪ 𝜉 for
satisfeita. Assim, o parâmetro de ordem 𝜉 é considerado praticamente constante
em todo o material do filme SC [39]. Além disso, considerando que para materiais
SC o parâmetro de ordem pode ser escrito dentro da aproximação de campo
médio como 𝜉 = (1 − 𝑇
𝑇𝑐)−
1
2 [36,62], a Eq. (2.5) para filmes SC tem o
comportamento linear do tipo (1 − 𝑇
𝑇𝑐), enquanto que para a Eq. (2.5) tem a
dependência com (1 − 𝑇
𝑇𝑐)1
2 [36,62].
Por exemplo, Kozuca e colaboradores [63] reportaram propriedades 2D
em amostras SC de SrTiO3 dopadas com Nb, conforme resultados mostrados na
Fig. 2.2. Em (a) são mostradas as dependências dos campos críticos superiores
para as configurações de campos magnéticos aplicados paralelo (�� ∕∕ = 𝜇𝑜 �� ∕∕)
e perpendicular (�� ⊥ = 𝜇𝑜 �� ⊥) ao plano do material bidimensional. É nítido dos
dados experimentais em (a) que para a configuração �� ∕∕ há um comportamento
do tipo quadrático com a temperatura, enquanto que o comportamento linear é
observado para a configuração �� ⊥. A dependência angular do campo crítico
13
HC2() para uma temperatura fixa é mostrada em (b), da Fig. 2.2. Esta
dependência angular no valor de HC2() mostra um máximo para o caso de =
0o, indicando que o maior valor de HC2 se dá na configuração paralela do campo
aplicado (�� ∕∕).
Figura 2.2: (a) Campo crítico superior (HC2) em função da temperatura para as amostras de SrTiO3 dopada com Nb, para campos magnéticos aplicado perpendicular ao plano da amostra (quadrados) e paralelo ao plano (círculos). As linhas pontilhadas são os ajustes com a teoria de Ginzburg-Landau linearizada. (b) Completa dependência angular do campo crítico superior. A linha pontilhada é o ajuste com a equação de dependência angular usando a Eq. (2.4) [63]. Para finalizar esse tópico, é importante mencionar quer os valores de HC2
também são determinados pela morfologia e espessura (dSC) dos filmes SC. Por
exemplo, Bose e colaboradores [64] estudaram filmes SC de Nb com tamanhos
de grãos cristalinos entre 20 a 60 nm e mostraram que há um aumento nos
valores de HC2 de até 2,5 vezes à medida que o tamanho de grão cresce. Por
outro lado, para filmes SC de Pb, Bose e colaboradores relataram
comportamento inverso, ou seja, aumento de HC2 à medida que o tamanho das
partículas diminuía de 60 para 7 nm em filmes de espessura fixa de 200 nm de
Pb [64]. Adicionalmente, Dobrovolskiy e colaboradores [65] observaram um
aumento em HC2 para filmes de Nb no limite sujo (defeitos na rede cristalina),
quando comparados com filmes de Nb no limite limpo; fato que faz com que
filmes tendo alta desordem podem ter altos valore de HC2 e, portanto, poderiam
ser mais interessantes do ponto de vista da aplicação. No caso dos filmes de Nb
14
o que se observa é que no limite sujo enquanto o valor de HC2 aumenta, há uma
tendência na redução do valor de TC, tendo então um balanço no número de
defeitos para se produzir as melhores propriedades supercondutoras de filmes
de Nb crescidos em substratos de Si [65].
2.1.4 Fator de Desmagnetização em Filmes SC
Ao pensar em um corpo magnetizado é possível assumir a existência de
“polos livres” em sua superfície que surge, por sua vez, onde a componente
normal da magnetização (�� ) tem uma descontinuidade [37,66-67]. Em outras
palavras, no interior do material, os polos opostos dos momentos magnéticos
individuais compensam uns aos outros, enquanto que na superfície surge uma
densidade superficial de polos livres, dada por:
𝜌𝑠 = �� ∙ ��
(2.6)
onde que (�� ) é o vetor unitário normal à superfície e �� a magnetização do
material. Os “polos livres” produzem um campo adicional �� 𝑑 oposto à direção da
magnetização �� líquida no interior do corpo. Neste caso, ao se aplicar um campo
magnético aplicado �� , a intensidade do campo �� 𝑖𝑛 no interior do material é dada
por �� 𝑖𝑛 = �� + �� 𝑑, onde �� 𝑑 é chamado de campo magnético de
desmagnetização e tem sua intensidade proporcional ao valor da magnetização
�� (a constante de proporcionalidade é chamada de fator de desmagnetização e
representada pela letra 𝑁𝑑 . De fato, 𝑁𝑑 é um tensor 3x3, em geral) e seu
sentindo é sempre o oposto a direção da �� do material (estado saturado) [37,66-
67].
Na Fig. 2.3 são esquematicamente representados os campos magnéticos
aplicado (�� ) e desmagnetização (�� 𝑑) que atuam em filmes finos FM (a) e SC (b)
na configuração de campo aplicado (�� ) perpendicular ao plano das amostras. A
direção da magnetização (�� ) também está representada em ambos materiais.
15
Figura 2.3: Esquema representativo da atuação do campo de desmagnetização em filmes finos (a) ferromagnéticos (FM) e (b) supercondutores (SC) [37].
O fator de desmagnetização 𝑁𝑑 varia entre 0 e 1 (ou entre zero e 4𝜋, no
sistema GGS). Para filmes finos, 𝑁𝑑 = 0 para a direção da magnetização paralela
ao plano do filme, enquanto atinge o valor da unidade para magnetização
perpendicular ao plano do filme [66]. Como a energia magnetostática 𝜖𝑚 ∝
𝑁𝑑𝑀𝑆2, ela sugere que é mais fácil magnetizar no plano do filme (𝑁𝑑 = 0) do que
perpendicular ao plano (𝑁𝑑 = 1), já que esta energia sempre acrescenta energia
ao sistema para qualquer valor não nulo de 𝑁𝑑. O campo magnético no interior
(�� 𝑖𝑛) dos filmes (camadas individuais) será dado por:
�� 𝑖𝑛 = (�� + �� 𝑑 + 𝜇0�� ) ⟹ 𝐵𝑖𝑛 = [𝐵 ∓ 𝜇0(1 − 𝑁𝑑)M] (2.7)
Na Eq. (2.7), o sinal (+) é usado no caso de materiais FM, enquanto que o sinal
(-) para os materiais SC e representa a direção da magnetização (�� ) em relação
à direção do campo aplicado (�� ). Além disso, no caso da magnetização uniforme
�� estar no plano do filme, 𝑁𝑑 = 0, e o campo interno 𝐵𝑖𝑛 aumenta (diminui)
relativo ao campo aplicado 𝐵 para filmes FM (SC). No caso da magnetização
uniforme �� estar perpendicular ao plano do filme, 𝑁𝑑 = 1, o valor do campo
interno 𝐵𝑖𝑛 será praticamente igual ao valor do campo aplicado 𝐵 para filmes FM
e SC (𝐵𝑖𝑛 = 𝐵).
Vale primeiro frisar que: (i) toda essa aproximação considera que os
materiais estão com magnetização uniformemente em seu interior, (ii) a questão
16
do campo 𝐵𝑖𝑛 nos filmes SC de Nb será importante para o estudo da
dependência de TC(B), pois como há uma diferença entre os valores de TC
tomados com o campo �� aplicado perpendicular (definindo 𝑇𝐶⊥) e paralelo
(definindo 𝑇𝐶∕∕
) ao plano do filme, um novo parâmetro será definido e testado
experimentalmente nesta tese. É possível adiantar que na configuração de
campo perpendicular (�� ⊥) haverá uma forte redução de TC (= 𝑇𝐶⊥), enquanto
uma redução mais moderada de TC (= 𝑇𝐶∕∕) será medida para a configuração de
campo �� ∕∕.
2.2. Sistemas Híbridos Supercondutor/Ferromagnético (SC/FM)
A partir desse momento, serão apresentados efeitos conjugados das
interações ferromagnéticas e supercondutoras que ocorrem nas interfaces
SC/FM. Com base em resultados reportados na literatura, será apresentada a
influência de um material FM sobre um SC em sistemas artificialmente
nanoestruturados híbridos SC/FM e também em híbridos que configuram um
dispositivo tipo válvula de spin supercondutora (VSS). Por fim, será apresentada
a proposta de trabalho desenvolvida nesta tese de doutorado.
2.2.1 Características dos Sistemas Híbridos (SC/FM)
Mesmo que os fenômenos da supercondutividade (SC) e
ferromagnetismo (FM) sejam considerados, em geral, antagônicos, é possível
impor uma “coexistência artificial” com a fabricação de nanoestruturas híbricas
SCFM, ou seja, empilhamentos sequenciais de camadas SC e FM das mais
diversificadas configurações, conforme alguns esquemas apresentados na Fig.
2.4 (a-d).
17
Figura 2.4: Esquema de possíveis sistemas híbridos: (a) bicamda FM/SC, (b) tricamada FM2/FM1/SC, (c) multicamadas FM/SC e (d) heterostruturas com camada não magnética (NM) separando a inteface SC e FM.
Quando camadas FM e SC estão em contato direto [ou separada por um
metal não magnético Fig. 2.4 (d)], existe uma grande probabilidade de
tunelamento de elétrons (ou de condução da camada FM para a SC ou pares de
Cooper da SC para a FM). Em particular, em se tratando do tunelamento dos
pares de Cooper do estado SC (estado S), através da interface SCFM, há uma
redução momentânea na densidade de pares de Cooper no interior do material
SC que, por sua vez, provoca um efeito direto na supressão das propriedades
SC (TC). Este fenômeno é chamado de efeito de proximidade e é um dos
mecanimos responsáveis pelo efeito de VVS [22,68-69]. Variações das
configurações das multicamadas SCFM, para estudo da influência do
magnetismo sobre as propriedades SC, têm sido intensivamente estudadas,
principalmente quando um outro material metálico não magnético (NM) é
inserido na interface SCFM [SCNMFM], como o sugerido pela Fig. 2.4(d)
[35,69]. A inserção da camada NM ajuda a separar as diferentes contribuições
da camada FM, pois ao se variar sua espessura (dNM), por exemplo, é mudada
a contribuição do campo magnetostático disperso da camada FM sobre a SC.
Em outras palavras, além do efeito de proximidade SC, o magnetismo da
camada FM também pode atuar sobre o filme SC ou através do campo
magnético disperso (stray field) ou através de um campo de troca via polarização
dos elétrons de condução da camada NM em uma configuração SCNMFM,
como mostrada na Fig. 2.9 (d). Ambos os campos magnéticos são devidos a
camada FM e será genericamente chamado de �� 𝐹𝑀.
Como dito no início ainda deste capítulo, os pares de Cooper podem ter
duas configurações: o estado singleto (S), com spin total nulo, retratando o
18
estado fundamental do estado SC e o estado tripleto (T), com spin total unitário.
O estado T não tem sido experimentalmente reportado em estados fundamentais
de materiais SC convencionais, mas devido ao efeito de proximidade tem sido
usado para descrever a redução do valor de TC em sistemas híbridos SCFM,
que possuem uma inomogeneidade na magnetização (consequentemente em
�� 𝐹𝑀) [21,35]. Reciprocamente, o ferromagnetismo das camadas FM também
pode ser modificado devido ao tunelamento dos elétrons da camada SC,
mudando a densidade de estados no nível de Fermi, e consequentemente,
mudando a interação de troca entre os elétrons do estado FM.
Apesar do aumento das pesquisas em sistemas SC/FM nos últimos anos,
a influencia do ferromagnetismo sobre o estado supercondutor,
consequementemente no comportamento de TC nos sistemas híbridos ainda não
foi completamente conhecido, pois o efeito de proximidade ainda requer maiores
investigações para se confirmar, por exexmplo, a existância cabal da transição
S-T (modelo sem comprovação experimental). Há também a necessidade de se
considerar outros fatores (campo magnético disperso e efeito de polarização
eletrônica da camada FM) para explicar a observação experimental da redução
de TC de um filme hibrido relativo a um filme puro. Pelo menos, uma das questões
acima será aprofundada nesta tese de doutorado, que é o efeito do campo
magnetostático disperso da camada FM (stray field) sobre o TC de filmes de Nb.
Dito isto, é relevante relembrar que os ordenamentos supercondutor e
ferromagnético apresentam escalas de comprimentos característicos muitos
distintos, ou seja, 𝜉𝐹𝑀 ≠ 𝜉𝑆𝐶. O valor de 𝜉𝑆𝐶 é na ordem de centenas de angstrons
para SC convencionais (ou 𝜉𝑁𝑏 ≈ 10 𝑛𝑚), enquanto que o valor de 𝜉𝐹𝑀 se
manifesta em dimensões menores que 2 nm [64]. Conforme explicitado nas Eqs.
(2.5) e (2.6), para que efeitos anisotrópicos sejam ampliados em materiais SC,
há necessidade de se trabalhar com espessuras adequadas. Como será também
demonstrado neste trabalho de tese, espessuras dNb ≥ 100 nm reduzem
fortemente os efeitos anisotrópicos, impedindo estudos do comportamento de TC
usando as variações de 𝑇𝐶⊥ e 𝑇𝐶∕∕ a serem definidas (mascara o efeito de
proximidade, deixando-o praticamente imperceptível).
Do ponto de vista do ferromagnetismo, filmes FM muito espessos também
propiciam magnetização mais homogêneas no plano do filme (𝜖𝑚 ∝ 𝑁𝑑𝑀𝑆2),
19
impedindo o surgimento da contribuição do campo magnético disperso (stray
field) fora da camada FM. A uniformidade da magnetização das camadas FM
também dificulta campos não homogêneos necessários para promover a
transição S-T dos pares de Cooper tunelados para a camada FM. Portanto, para
estudo dos efeitos proximidade, stray field, polarização, transição S-T, etc., os
filmes SC ou FM devem ter suas camadas no limite de um filme fino (< 100 nm).
Em sistemas híbridos SC/FM, formados de camadas finas, os estudos
sobre o efeito de proximidade têm sido conduzidos, em geral, no sentido de
verificar como ele afeta os valores de 𝑇𝑐 e de 𝐵𝑐2 dos filmes SC [22,35,68,69], ou
seja, o efeito de proximidade tem sido usado como sendo a principal fonte na
redução observada dos valores de TC em sistemas híbridos SC/FM. Aqui, será
tratada uma nova fonte para modificar TC, que é o campo magnético disperso
(stray field) das camadas FM. O parâmetro ∆𝑇𝐶 teórico, definido a partir do
modelo anisotrópico de G-L, será experimentalmente testado e os valores de
campos magnéticos dispersos de camadas FM de Py e Co serão calculados.
2.2.2 Comportamento de TC em Filmes Finos Híbridos (SC/FM)
Para uma discussão sobre o comportamento de TC em sistemas híbridos,
há necessidade de se fazer algumas definições antecipadamente. Uma junção
tipo-π é uma junção Josephson em que a diferença de fase entre as duas
funções de onda dos pares de Cooper é ∆(∅) = 𝜋. Em 1992, Buzdin e
colaboradores [70-71] argumentaram que um acoplamento deste tipo poderia
ocorrer em sistemas SC com impurezas magnéticas, mas a densidade de
impurezas deveria ser tal que a interação entre elas fosse não nula. Outra
maneira seria aproximar o sistema formado por dois materiais SC separados por
uma camada FM. De fato, foi demonstrado que este acoplamento ocorreria
somente para determinadas espessuras da camada FM (𝑑𝐹𝑀) [70-71].
Após a demonstração experimental da existência de junção tipo-π em
sistemas híbrido SC/FM, Radovi`c e colaboradores, em um trabalho teórico [72],
reportaram também que esse tipo de acoplamento poderia ocasionar oscilações
nos valores de TC de filmes SC, quando o valor 𝑑𝐹𝑀 fosse variado. Uma grande
quantidade de trabalhos experimentais ocorreu em seguida ao trabalho de
Radovi`c e colaboradores, todos buscando demonstrar a oscilação nos valores
20
de TC( dFM). Neste sentido, Strunk e colaboradores [73], em tricamadas
Nb/Gd/Nb eou multicamadas de Nb/Gd, crescidas pela técnica MBE (molecular
beam epitaxy), observaram experimentalmente a dependência oscilatória de
𝑇𝑐(𝑑𝐺𝑑). Os autores ainda constataram que o valor de TC reduzia com uma queda
quase exponencial com aumento de 𝑑, conforme mostrado na Fig. 2.5. Outro
grupo [74-75] também demonstrou o comportamento oscilatório de 𝑇𝐶 com a
espessura das camadas FM de Gd em filmes híbridos Nb/Gd crescidos por
magnetrom sputtering. Esses resultados em filmes híbridos Nb/FM crescidos por
MBE ou Sputtering [73-74] sugerem que o caráter oscilatório de TC (dFM) é uma
tendência real e pode ser explicada com sendo devido a aproximação de junções
do tipo-π, previsto teoricamente [72].
Figura 2.5: Dependência oscilatória de 𝑇𝑐 em função da espessura da camada Gd obtida por Jiang e colaboradores [74]. Posteriormente, Müghe e colaboradores [76] observaram que a
temperatura crítica TC de bicamada Fe/Nb apresentava uma dependência não
monoatômica e não oscilatória com aumento da espessura da camada
ferromagnética (dFe) para um valor fixo da espessura da camada supercondutora
(dNb), conforme representado na Fig. 2.6. Esta dependência é bastante
semelhante àquela observada no trabalho de Jiang e colaboradores [74-75]. No
caso do sistema Fe/Nb [76] foi assumido que os resultados poderiam ser
21
interpretados a partir da formação de uma fase não magnética na interface Nb-
Fe, que geraria esta dependência não monoatômica para TC (𝑑𝐹𝑒). Com isso, ao
usar uma camada NM entre as interfaces da camada SC de Nb e outra FM,
poderia reduzir esse efeito.
Figura 2.6: Dependência de 𝑇𝑐 vs espessura da camada de Fe (𝑑𝐹𝑒 = 𝑑𝐹𝑒) obtida por Müghe e colaboradores (triangulo fechado: 𝑡𝑁𝑏 25 nm; círculo fechado: 𝑑𝑁𝑏
22 nm; triangulo aberto: 𝑑𝑁𝑏 225) [76].
2.2.3 Efeito de Proximidade: Válvulas de Spins Supercondutoras (VSS)
Uma válvula de spin simples pode ser pensada como sendo uma
multicamada (heteroestrutura) composta por empilhamentos do tipo FM/NM/FM,
que produz mudança na resistência elétrica quando as direções das
magnetizações das camadas FM são modificadas por um agente externo, como
por exemplo, campos magnéticos �� . Em geral, usando modelo de dois canais
para os elétrons de condução, devidos suas polarizações up (↑) e down (↓) de
spins, a resistência elétrica é menor (menor espalhamentos dos spins dos
elétrons) quando as magnetizações das camadas FM estão paralelas, enquanto
o espalhamento máximo ocorre na configuração de magnetizações antiparalelas
no plano do filme [28,77]. Este efeito é conhecido como “magnetorresistência
gigante” (GMR = Giant Magnetoresistance) e foi descoberto em 1988 pelo Prof.
Dr. Mario Baibich da UFRGS e foi laureado com o Prêmio Nobel de Física em
2007. Uma das grandes aplicações na atualidade da GMR está nas cabeças de
leitura em discos rígidos magnéticos.
22
Então, uma válvula de spin é um dispositivo que tem mudança em uma
de suas propriedades (resistência, temperatura de transição, etc.) pela alteração
das magnetizações das camadas FM que o compõe. Assim, uma válvula de spin
supercondutora (VSS) é um dispositivo nanoestruturado que produz mudanças
nos valores de TC da camada SC pela alteração das magnetizações das
camadas FM; modificação esta produzida, por exemplo, pelo campo magnético
aplicado �� . Esses dispositivos são pensados para serem usados em circuitos
operando com baixas correntes elétricas e sem produção de dissipação Joule
[21,26,35]. Novamente, várias são as configurações nos sistemas VSS, mas os
tradicionais são do tipo: FM1/SC/FM2 ou SC/FM1/FM2. Nesse contesto, alterar
o alinhamento de camadas ferromagnéticas (FM1,2) desloca o valor de 𝑇𝑐 da
camada SC adjacente, ou seja, um efeito semelhante que pode ser associado
ao fato de se ligar (ou desligar) o estado SC pela mudança inclusive da
resistência total do dispositivo VSS [21,26,35].
Mesmo antes à descoberta da GMR em 1988, Pierre de Gennes em 1966
[47] e outros pesquisadores, em trabalhos teóricos [78-80], propuseram a
funcionalidade da VSS. Esses autores consideraram que mesmo que os
portadores de carga do estado SC sejam os pares de Cooper (pares de elétrons
com spin e momentos opostos) e não transportem uma corrente pura de spin, a
TC do material SC em uma VSS deveria depender do alinhamento da
magnetização das camadas FM. A mudança de TC resulta do chamado efeito de
proximidade nas interfaces SC/FM, que envolve o tunelamento de elétrons
emparelhados (pares de Cooper) da camada SC nas camadas vizinhas FM,
suprimindo a supercondutividade e fazendo ocorrer a transição SC-N em um
valor de TC menor do que aquele em que o efeito de tunelamento dos pares fosse
mínimo.
Em 2002, Gu e colaboradores [81] demonstraram o efeito VSS em um
dispositivo do tipo Py(4)/CuNi(5)/Nb(18)/CuNi(5)/FeMn(6) [os valores entre
parênteses estão em nanômetros (nm)]. Os autores observaram um valor de
10 𝑚𝐾 na quantidade ∆𝑇𝑐 = 𝑇𝑐(𝑃𝐴) − 𝑇𝑐(𝐴𝑃), onde 𝑇𝑐(𝑃𝐴) 𝑒 𝑇𝑐(𝐴𝑃) são
respectivamente os valores das temperaturas TC’s para as configurações
paralelas (PA) e antiparalelas (AP) das magnetizações das camadas FM.
Todavia, esse valor de 10 𝑚𝐾 é comparável à largura da transição SC-N e,
23
portanto, muito pequeno para ser empregado do ponto de vista prático (falta de
resolução).
Em 2006, Moraru e colaboradores [82] demonstraram experimentalmente
as previsões teóricas, encontrando uma mudança de TC de 41 𝑚𝐾 em
heteroestruturas híbridas de Ni/Nb/Ni.
Em 2010, Fominov e colaboradores [83] propuseram que uma transição
S-T poderia ser usada para ampliar o efeito VSS em estruturas de FM/FM/SC
quando as configurações das magnetizações das camadas FM fossem de
acoplamento ortogonal (90°) entre si. Esta configuração da magnetização no
dispositivo FM/FM/SC produziria o campo magnético não homogêneo (�� 𝐹𝑀1,2),
que favoreceria a transição S-T e, por sua vez, provocaria uma redução drástica
de TC. A proposta teórica de Fominov e colaboradores [83] foi experimentalmente
observada em dispositivos do tipo FM/FM/SC [84-85]. Em outras palavras, a
transição S-T tem sido explicada assumindo um campo magnético não uniforme
capaz de gerar um ganho de energia cinética ao par de Cooper do estado S que,
por sua vez, favorece a transição S-T [86-87]. Inicialmente um valor de variação
de TC de 120 𝑚𝐾 foi experimentalmente medido [85].
Em 2015, Singh e colaboradores [21], usando heteroestruturas do tipo
CrO2/Cu/Ni/MoGe [CrO2 e Ni são as camadas FM, Cu espaçador NM e MoGe
uma camada SC], demonstraram a maior variação de TC até o presente
momento, que é de 800 𝑚𝐾. No experimento, com campo aplicado (�� ⊥)
perpendicular ao plano do filme e representado na Fig. 2.7, os autores mostraram
que a partir de magnetizações no plano para as camadas FM de Ni e CrO2, a
magnetização da camada de Ni (magneticamente mole) foi levada para direção
perpendicular (paralela a direção do campo �� ), enquanto que a camada de CrO2
(magneticamente dura) ainda permanecia com a magnetização praticamente no
plano do filme. Esta condição das magnetizações das camadas FM provoca o
campo magnético não homogêneo responsável pelo ganho de energia cinética
dos pares de Cooper inicialmente no estado S, durante o espalhamento com
esse campo magnético e, portanto, leva ao aumento de energia necessário para
atingir o estado T.
24
Figura 2.7: Representação do efeito de uma camada ferromagnética extra F´ entre a camada misturadora FM1 e a camada de drenagem FM2, para a geração de pares tripletos. As setas verdes representam as direções de magnetização de FM1 e FM2 (magnetização no plano); a seta azul indica uma camada de interface com direção de magnetização fora do plano [21]. Para finalizar este capítulo, será apresentada a contribuição deste
trabalho de tese de doutorado para o entendimento do efeito da redução dos
valores de TC de filmes de Nb em sistemas híbridos reportados na literatura.
Primeiro, é importante dizer que os filmes desta tese foram preparados no
sistema Magnetron Sputtering Orion-8, que tem suas Magnetrons na
configuração confocal. Essa configuração da Magnetrons propicia, quando o
porta-substrato estiver parado durante a deposição, a formação de camadas
com grãos cristalinos colunares inclinados [88]. No caso de materiais FM, esta
anisotropia de forma pode propiciar magnetização fora do plano e não uniformes,
similar a proposta reportada na literatura [21,35]. Adicionalmente, as camadas
FM escolhidas foram de: (i) Py (Ni81Fe19) que é um magneto-mole e possui
grandes domínios magnéticos [89] e (ii) Co que é relativamente mais dura
magneticamente e se tiver magnetização perpendicular ao plano do filme, gera
domínios magnéticos pequenos em com magnetizações opostas [90]. Assim,
nesta tese de doutorado será estudo o efeito da redução nos valores de TC
levando em conta as contribuições do campo magnético disperso (stray field)
das camadas FM, algo ainda não discutido na literatura, bem como a influência
da mudança nas estruturas de domínios magnéticos das camadas FM quando o
campo magnético for aplicado perpendicular ao plano do filme. Um parâmetro
será definido baseado no modelo fenomenológico de GL modificado e valores
de campos dispersos das camadas de Py e Co serão efetivamente calculados
na configuração de campo magnético aplicado nulo.
25
Capítulo 3
Técnica de Preparação e Caracterização das Amostras
Neste capítulo serão apresentadas as técnicas experimentais usadas na
fabricação e na caracterização das nanoestruturas artificialmente preparadas por
deposição de vapores atômicos/moleculares sobre substratos de silício, ou seja,
filmes finos simples (supercondutores ou ferromagnéticos) e filmes híbridos
(supercondutores/ferromagnéticos como o da configuração Fig. 2.4(d) ou do tipo
válvulas de spin supercondutoras). Para orientar o leitor, no Apêndice B um
breve relatado do método Magnetron Sputtering, com configuração confocal das
Magnetrons será discutido. Os processos de medidas e principais características
relativas as técnicas de caracterização estrutural [difração de raios X (DRX) e
refletividade de raios X (RRX)], magnética [magnetometria de amostra vibrante -
MAV] e de transporte elétrico [método de quatro pontas para medidas da
resistência elétrica realizadas em diferentes intensidades de campos
magnéticos] serão também apresentados para uma melhor discussão dos
resultados obtidos.
3.1 Magnetron Sputtering
Nesta tese de doutorado, as nanoestruturas metálicas (filmes puros e
híbridos) foram preparadas no sistema Magnetron Sputtering, modelo ATC
ORION-8 fabricado pela empresa AJA International Inc. (Fig. 3.1). Nesse
equipamento, instalado no LEMAG/UFES (Laboratório de Espectroscopia
Mössbauer e Magnetometria), as Magnetrons são montadas na base da câmara
de deposição na configuração confocal (Fig. 3.2), ou seja, com o centro das
Magnetrons (de duas polegadas de diâmetro) formando um ângulo de 32o com
relação ao centro do porta-substrato (disco de quatro e meia polegadas). Há sete
Magnetrons montadas no ATC ORION-8 e as disposições de seus imãs
permanentes dentro das Magnetrons possibilitam o uso de alvos
ferromagnéticos e não ferromagnéticos.
26
Há também uma célula de evaporação térmica, que não foi usada nesse
trabalho, mas também representada na Fig. 3.1. Nas Magnetrons, há um
obturador na parte superior de cada chaminé, que possibilita interromper o feixe
de vapor que chegaria ao substrato. Este, por sua vez, é montado no centro do
porta-substrato (4,5 polegadas de diâmetro) e posicionado acima e no centro
geométrico das sete Magnetrons. Através de um controle automático, realizado
por meio de computador e um software da empresa AJA, é possível controlar o
acionamento dos obturadores (aberto ou fechado) das Magnetrons
individualmente, o fluxo de gás de argônio para criação do plasma, a temperatura
do substrato, entre outros parâmetros de deposição. Na preparação de cada
amostra, uma rotina de operação é criada e o software executa as atividades
determinadas pelo operador. Com isso, camadas finas e homogêneas de
diferentes materiais foram crescidas sobre substrato de silício monocristalino
[Si(100)] naturalmente oxidado em uma pressão de trabalho de (PT) de Ar de
2,0 mTorr.
Figura 3.1: Imagem do equipamento Magnetron Sputtering, fabricado pela empresa AJA Internacional Inc. modelo ATC ORION-8 instalado no LEMAG/Ufes. Destaque para a câmara principal (evaporação) e a antecâmara, que possibilita inserir e remover amostras mantendo praticamente inalterada a pressão residual dos gases na câmara de evaporação. A válvula gaveta separando as câmaras também é nítida na figura (caixa tipo retangular metálica
27
inclinada e acoplada com um cilindro negro que possibilita a conexão entre as câmaras).
Figura 3.2: Imagem esquemática de algumas das Magnetrons na configuração confocal (geometria de deposição oblíqua) do equipamento Magnetron Sputtering ATC ORION-8 usado neste trabalho (no esquema, só quatro das sete Magnetrons são mostradas). A célula de evaporação térmica também é mostrada (centro). Para deposição, a direção [110] do Si é usado como referência para orientar sobre um dado alvo específico.
O processo de Magnetron Sputtering (ejeção de átomos/moléculas – vide
Apêndice B) do ATC ORION-8 (Fig. 3.1) consiste basicamente de fontes de
correntes DC ou RF, que geram campos elétricos no plano, enquanto que os
imãs permanentes geram campos magnéticos perpendicular ao plano do alvo.
Essa conjugação campos elétricos e magnéticos transversais mantém o plasma
estável mesmo em baixas pressão de argônio (o papel do campo magnético é
equivalente a um aumento da pressão do gás de trabalho), possibilitando filmes
mais homogêneos na profundidade e lateralmente e, o mais importante, com
baixa rugosidade interfacial.
Uma grande desvantagem do método Magnetron Sputtering é a grande
perda de material do alvo (~ 30 % só aproveitado para ejeção de átomos)
ocasionada pela concentração do plasma em uma área limitada da área
superfície total do alvo (concentração do plasma somente um uma região circular
28
da área do alvo de 2 polegadas de diâmetro) [91]. Como mostrado na imagem
do Magnetron Sputtering ATC ORION-8 (Fig. 3.1), há duas câmaras com
ambientes de UAV. A antecâmara (ou load-lock), com um sistema independente
de UAV e atinge vácuo da ordem de 2 x 10-6 mTorr em aproximadamente 30
minutos, possui acoplado um braço móvel que pode ser deslocado entre as
câmaras, e onde é colocado o porta-substrato (com substrato) para ser inserido
na câmara principal de evaporação. Essa última, por sua vez, possui em base
circular com sete Magnetrons montados na geometria confocal e uma célula de
evaporação térmica (Fig. 3.2, onde são mostradas quatro das sete Magnetrons
do ATC ORION-8). O seu sistema de UAV da câmara principal proporciona um
vácuo da ordem de 2 x 10-8 mTorr, com uma atmosfera residual praticamente
constante durante vários meses de preparação das amostras. A checagem da
constituição dos gases da câmara de deposição é feita com um equipamento
RGA (Residual Gas Analuzer), da marca HORIBASTEC. Maiores detalhes sobre o
sistema Magnetron Sputtering ATC ORION-8 estão nas referências [36,88].
A configuração confocal das Magnetrons propicia naturalmente o
surgimento do efeito de sombreamento (shadow effect) durante o crescimento
dos filmes, caso o porta-substrato não esteja girando durante a deposição (a
rotação do porta-substrato é feita por um motor elétrico acoplado ao eixo do
porta-substrato) [88]. Na configuração de porta-substrato parado, os grãos
cristalinos, que estão sendo crescidos no substrato, possuem forma de colunas
com orientação de 32o relativo à normal do plano do substrato, ou seja, nessa
configuração, a deposição oblíqua gera grãos orientados e inclinados com uma
forte anisotropia de forma (anisotropia uniaxial) [88]. Por outro lado, se o porta-
substrato estiver girando (rotação até 40 RPM), os grãos cristalinos terão seus
crescimentos no plano do substrato com orientação aleatória, gerando filmes
policristalinos no plano do filme, mas que pode ter uma orientação preferencial
(textura cristalina) perpendicular ao plano do filme.
29
3.2 Detalhes da Preparação e Deposição das Amostras
3.2.1 Limpeza dos Substratos
A limpeza dos substratos é classificada como sendo também uma das
etapas fundamentais para a confecção das amostras (crescimento dos filmes)
de alta qualidade. Este processo deve ser feito de tal maneira que os filmes
possam, quando crescidos nas mesmas condições, apresentar propriedades
físicas muito semelhantes entre si se forem feitas réplicas de amostras. Então,
a contaminação da superfície dos substratos pode provocar: (i) uma baixa
adesão da camada sobre o substrato, (ii) formação de fases indesejáveis no filme
crescido, (iii) propriedades físicas que são difíceis de serem reproduzidas e
entendidas, entre outras consequências. O substrato escolhido neste trabalho foi
o silício monocristalino [Si(100)] por ser (i) um semicondutor que é a base da
microeletrônica atual, (ii) economicamente viável e (iii) pelo fato do grupo ter
experiência na produção de filmes de Nb com alta reprodução das propriedades.
Os procedimentos de preparação e limpeza dos substratos Si(100) já
estão bastante estabelecidos na rotina de preparação de filmes no LEMAG
[36,88,92] e, portanto, serão apresentados rapidamente. Primeiramente, discos
de Si(100), com diâmetro de aproximadamente 100 mm, são cortados com uma
caneta de ponta de diamante nas seguintes dimensões 1 × 1 𝑐𝑚2 ou 1,0 ×
0,4 𝑐𝑚2. É importante enfatizar que há uma marca da direção planar [110] do
disco de Si que, por sua vez, é transferida para cada pedaço cortado e serve
como referência na hora de colocar o pedaço cortado de Si para evaporação,
principalmente na configuração de deposição com o porta-substrato parado (Fig.
3.3).
Os substratos cortados de Si(100) são colocados em um Becker contendo
uma solução formada de detergente neutro e água destilada (1:10). Esse Becker
é então colocado, por 10 minutos, em um equipamento de ultrassom, para uma
primeira limpeza das gorduras superficiais. Em seguida, esses pedaços são
individualmente removidos e submergidos em acetona P.A. em um novo Becker
e, novamente submetidos, por 10 minutos, ao equipamento de ultrassom. A
acetona é movida cuidadosamente dos substratos e, então, são novamente
imersos em outro Becker contendo álcool Isopropílico P.A. Esse Becker é
30
colocado também por 10 minutos no equipamento de ultrassom. Por fim, após
esses 10 últimos minutos no ultrassom, o álcool é trocado por outra quantidade
limpa, e o Becker é coberto com papel alumínio, para reduzir a evaporação do
álcool e depósitos de impurezas sobre os substratos já limpos. Ou seja, vários
pedaços limpos de Si ficam armazenados e aptos para serem usados
individualmente na preparação de filmes no equipamento Magnetron Sputtering.
Antes de colocar o pedaço de substrato no centro do porta-substrato, o mesmo
é retirado do banho do álcool e submetido a um jato de Ar ionizado para secagem
e remoção de gotículas de poeira, etc.
3.2.2 Preparo do Alvo para Deposição
Os alvos (deste trabalho de tese) foram fabricados pela empresa ACI-
alloys, possuem diâmetro de 2 polegadas, espessuras de 1/8 de polegada,
purezas melhores ou iguais a 99,95% e são instalados no Magnetron Sputtering
ATC ORION-8, conforme esquema mostrado na Fig. 3.3.
A cada troca de alvo, as Magnetrons passam por um criterioso processo
de limpeza de suas superfícies (chaminés, obturadores, flanges, etc.), usando
jateamento com esferas de vidro, banho em acetona e aquecimento em muflas
a 150 oC por algumas horas. Os substratos, como dito acima, são
individualmente inseridos pela antecâmara (Fig. 3.1), sem precisar quebrar o
vácuo da câmara principal de evaporação. A inserção se dá com um manipulador
e pela válvula do tipo gaveta que separa as duas câmaras (antecâmara e
principal). A válvula gaveta só é aberta quando o vácuo da antecâmara atingir,
no mínimo, o valor de 4 x 10 -6 mTorr (após 30 minutos de bombeamento).
Com o vácuo de 2 x 10-8 mTorr na câmara de evaporação, o porta-
substrato é inserido a partir da antecâmara e acoplado na haste vertical da
câmara principal; haste esta acoplada a um motor elétrico que permite girar ou
não o porta-substrato acoplado durante a deposição (rotação máxima de 40
rpm). Em seguida, a válvula gaveta é fechada, é aguardado que o vácuo
novamente retorne ao valor de 2 x 10-8 mTorr na câmara principal de deposição.
Toda semana a pressão residual dos gases na câmara de deposição é verificada
para garantir que não há mudanças percentuais nos constituintes. Após atingir o
vácuo de 2 x 10-8 mTorr é feita a injeção com gás Ar ultrapuro (99,999% − 5𝑁) a
31
uma pressão trabalho (PT) de 2,0 mTorr (PT que favorece baixa inter-difusão
atômica nas interfaces [91).
Nestas condições, o plasma foi aceso em cada uma das Magnetrons
usadas neste trabalho (Nb, Cu, Co, Ni81Fe19 = Py = permalloy), mas mantendo
todos os obturados das Magnetrons acionadas fechados para evitar depósito de
material indesejável no substrato. Essa ação foi sempre feita para que houvesse
limpeza das superfícies dos alvos após os mesmos ficarem, pelo menos, 36
horas desligados (processo chamado de pré-Sputtering). O tempo desse
processo dependeu do material do alvo e teve como finalidade remover camadas
atômicas dos alvos que são contaminadas por impurezas de diversas fontes.
Especificamente, os tempos de pré-Sputtering foram (i) 15 minutos no caso do
alvo de Nb, pois esse material era muito susceptível a atmosfera residual (a
reprodução dos resultados dos filmes de Nb só era obtida quando este tempo de
pré-Sputtering foi usado) e (ii) máximo de 5 minutos, no para os alvos de Cu, Co
e Py.
Na Tabela 3.1 são apresentados os parâmetros de trabalho tanto relativo
aos alvos quanto do processo de fabricação dos filmes puros (supercondutores
- SC ou ferromagnéticos - FM), os filmes híbridos bicamadas de SC/FM e os
filmes com configuração do tipo SC/FM1/FM2 – VSS.
Tabela 3.1: Parâmetros importantes dos alvos e das condições utilizadas na preparação das amostras deste trabalho. Alvos Pureza(%) Corrente(mA) Tensão(V) Potência(W) Taxa (nm/s)
Nb 99,99 400 348 142 0,068 ± 0,002
Cu 99,95 100 349 34 0,053 ± 0,001
Co 99,99 200 330 77 0,043 ± 0,002
Py 99,95 200 378 76 0,043 ± 0,001
3.2.4 Preparação das Amostras
Antes de falar da preparação das amostras, é importante dizer que nas
VSS [configuração SCNMFM1NMFM2], a camada FM1 é escolhida de para
ser a mais suscetível entre as camadas FM referente a alteração a intensidade
32
e direção do campo magnético externo, sendo chamada de “camada livre” (é
mudada mais facilmente com mudanças na direção do campo magnético
aplicado). A camada FM2, que é praticamente desacoplada magneticamente da
camada FM1 pela camada espessa não magnética (NM), pode também ter
modificada sua estrutura de spins com a presença de campos magnéticos, mas
os valores devem ser maiores do que aqueles que saturam a camada FM1. Em
outras palavras, a camada FM2, por ter uma anisotropia magnética maior do que
da camada FM1, é chamada de “camada presa ou travada”. Em particular, o
material FM1 escolhido foi o Py por ser um dos materiais mais usados nas
indústrias [93]. Para a camada FM2, foi escolhido o Co por apresentar uma
magnetização de saturação diferente do Py e ter maior anisotropia magnética,
ou seja, possibilitando uma magnetização não homogênea no sistema VSS que,
por sua vez, possa contribuir para amplificar o fenômeno de válvula de spin
supercondutor [VSS = mudanças nos valores da temperatura crítica
supercondutora (TC) pelas mudanças nas estruturas de spins das camadas FM]
[21,35]. Um dos critérios para seleção do espaçador não magnético (NM) é alta
condutividade elétrica. Entre os metais mais utilizados na literatura são
reportados Ag, Au, Cu e Ru, onde o Cu se destaca devido ao seu bom custo-
benefício, a possibilidade favorecer o crescimento das fases cúbicas de face
centradas (CFC) do Py e Co e evitar possível formação de camada morta
magnética nas interfaces Nb/Py e Nb/Co [35,94].
Dito isto, foram fabricadas duas classes de nanoestruturas: os filmes finos
puros (SC ou FM) e as heteroestruturas híbridas (SC/FM). Os filmes finos puros
são os SC de Nb: Si(100)/Nb(𝑑𝑁𝑏) e os FM a base de Py e Co:
Si(100)/Cu(5)/Py(2)/Cu(3) e Si(100)/Cu(5)/Co(40)/Cu(3). As heteroestruturas
híbridas SC/FM são: Nb(𝑡𝑁𝑏)/Cu(5)/Py(2)/Cu(3) e Nb(𝑡𝑁𝑏)/Cu(5)/Co(40)/Cu(3).
As chamadas válvulas de spins supercondutoras (VSS) são:
Nb(𝑡𝑁𝑏)/Cu(dCu)/Py(2)/Cu(dCu)/Co(40)/Cu(3). Os valores entre parênteses das
configurações acima correspondem as espessuras e estão em nanômetros (nm).
Os parâmetros 𝑑𝑁𝑏 e 𝑑𝐶𝑢 correspondem respectivamente as espessuras das
camadas de Nb e de Cu, cujos valores, usados neste trabalho, foram 20 e 100
nm para o Nb e zero, 2,5 e 5 nm para o Cu. Para essas espessuras 𝑑𝐶𝑢 [que
separam as camadas supercondutora (Nb) das ferromagnéticas (Co e Py)], os
pares de Cooper supercondutores da camada de Nb, que têm um comprimento
33
de coerência aproximadamente de 10 nm [96], podem tunelar da camada
supercondutora de Nb para as camadas ferromagnéticas (FM) adjacentes de Py
e/ou Co, favorecendo assim o efeito de VSS, discutido no Capítulo 2.
Adicionalmente, essa camada espaçadora de Cu entre as camadas de Nb e Py
e/ou Co também serve como redutora de inter-difusão atômica e controle dos
efeitos magnetostático e de proximidade na camada Nb devido as camadas FM
[21,35,94]. A outra camada espaçadora de Cu entre as camadas FM de Py e Co
favorece o desacoplamento magnético entre estas camadas FM (para 𝑡𝐶𝑢= 5 nm,
as camadas de Py e Co tem baixíssima interação magnética [88]). Desta forma,
a camada de Py poderá ter sua magnetização mais facilmente redirecionada com
aplicação de um campo magnético do que a camada de Co. Finalmente, a
camada de Cu de cobertura dos filmes de 3 nm de espessura é simplesmente
usada para reduzir uma oxidação severa dos filmes. Essa camada de Cu
(capping layer) permitiu que os filmes mantivessem suas propriedades globais
por até 12 meses da data de suas fabricações.
Voltando a questão da deposição das camadas (filmes), as camadas de
Nb foram depositadas com o porta-substrato girando a 30 RPM e com a
temperatura do substrato (𝑇𝑠) mantida em 100 °C (essa temperatura foi
previamente estabelecida em outros trabalhos e ela é que gera o maior valor de
TC dos filmes de Nb crescidos sobre Si em nosso sistema [36]). As outras
camadas foram todas depositadas quando o substrato atingiu a temperatura
ambiente (300 K – no mínimo 24 horas após a deposição da camada de Nb) e
com o substrato parado para gerar grãos cristalinos orientados em forma colunas
inclinadas com relação ao plano do substrato (processo natural de crescimento
das camadas devido ao efeito de sombreamento oriundo da configuração
confocal das Magnetrons [88]).
Detalhe do Crescimento das Amostras: Filmes Supercondutores, as
Bicamadas SC/FM e as Válvulas de Spin Supercondutoras VSS
Como dito acima, os filmes de Nb (20 e 100 nm) foram todos depositados
com o porta-substrato rodando a 30 RPM e mantido a 100 °C (𝑇𝑠 = 100 °C).
Após o crescimento da camada de Nb (𝑑𝑁𝑏), rapidamente a pressão da câmara
retornava a 2 x 10-8 mTorr, mas houve sempre a necessidade de aguardar por
34
24 horas até que o porta-substrato indicasse novamente 300 K para, então,
iniciar a deposição das demais camadas. Se a deposição das outras camadas
fosse realizada ainda com 𝑇𝑠 = 100 °C ocorreria alta inter-difusão, conforme
experimentalmente verificado durante este trabalho (propriedades
supercondutoras da camada de Nb são degradadas drasticamente).
O crescimento por etapas/individuais das camadas posteriores (NM e
FM), foi feito com a seguinte metodologia. Foi primeiro alinhado à direção [110]
do substrato de Si com relação ao alvo desejado. Sabendo que o alvo faz um
ângulo natural de 32° com relação a sua normal e com o substrato parado, a
deposição da camada de Cu (na espessura desejada) foi realizada controlando
o tempo de abertura do obturador pela rotina criada e acionada pelo software de
controle do ATC ORION-8.
Com o uso de um goniômetro do lado de fora da câmara principal e
conhecendo a posição do segundo alvo (Magnetron) a ser depositado, o porta-
substrato foi girado, com a marca do substrato agora apontando para o novo
alvo, e a camada FM (ou NM) foi então depositada. Esse procedimento foi
repetido até que a configuração desejada dos filmes híbridos fosse atingida. Com
essa metodologia e considerando o processo de deposição com configuração
oblíqua (usado na confecção das camadas não supercondutoras), a literatura
mostra que há uma alta influência das microestruturas nas camadas NM (Cu) e
FM (Py e Co) [91]. Na Figura 3.3 é esquematicamente apresentada a geometria
confocal das Magnetrons do sistema Magnetron Sputtering ATC ORION-8 usada
na preparação de filmes principalmente das camadas sementes de Cu e
daqueles dos FM de Py e Co, onde em todos os casos os grãos cristalinos de
cada fase tinham como características serem orientados e inclinados em relação
ao substrato.
3.3 Caracterização Estrutural: Difração de Raios X
3.3.1 Difração de Raios X em Altos Ângulos
O estudo dos arranjos atômicos das camadas foi feito com a difração de
raios X, onde foram obtidas informações da estrutura cristalina das fases de cada
camada crescida. O método usando neste trabalho foi o de difração com
35
incidência rasante do feixe de raios X (GIXRD – Grazing Incidence X-ray
Diffraction), pois permite diminuir a contribuição do substrato para o padrão de
difração de raios X (DRX). Em alguns casos, o método Bragg-Brentano foi
também usado. Na GIXRD, a geometria convencional (Bragg-Bentrano) é
modificada para proporcionar um resultado de difração assimétrico, que permite
atingir pequenas profundidades de penetração da superfície da amostra. Isto é
possível pela incidência de um feixe de raios X quase paralelos à superfície da
amostra com ângulo fixo e bastante baixo, conforme sugere o esquema da Fig.
3.3. Em geral, são considerados ângulos baixos os valores de 𝜑 (ângulo de
incidência entre o plano do filme e o feixe de raios X) menores do que 10° [95-
96].
Figura 3.3: Esquema do processo de difração de raios X com incidência rasante,
sendo 𝜑 o ângulo rasante de incidência, e 2𝜃 o dobro do ângulo de difração percorrido pelo detector.
As medidas foram executadas no difratômetro Ultima IV da marca
RIGAKU [Fig.3.4(a)]; equipamento que possui a tecnologia CBO (Cross Beam
Optics), que, através de componentes óticos alinhados simultaneamente, produz
feixes de raios X divergentes (Bragg Brentano) ou feixes paralelos (Parallel
Beam), como indicado na Fig. 3.6(b). Neste trabalho, foi usada a geometria
Parallel Beam, com um ângulo de incidência 𝜑 fixo em 1°, enquanto o detector
realizou a varredura angular da superfície do filme 2𝜃 = 30 − 90°.
Para obter os padrões de DRX deste trabalho foi utilizada uma lâmpada
de Cu de 2 kW, operando com 60 % de sua potência (40 kV e 30 mA). Com um
36
filtro de níquel (folha de Ni), a radiação do tipo 𝐾𝛽 do tubo de Cu foi praticamente
absorvida, proporcionando então um feixe de raios X com radiação composta
pelas duas linhas do Cu 𝐾𝛼, ou seja, produzindo um feixe de raios X para o
processo de difração com radiação tendo um comprimento de onda 𝜆 =
0,15418 𝑛𝑚.
Figura 3.4: (a) Imagem do difratômetro de difração de raios X Ultima IV da marca RIGAKU. Em (b), as geometrias disponíveis do difratômetro RIGAKU, Bragg-Bretano e Parallel Beam.
Cada padrão de DRX foi obtido no intervalo angular 2𝜃 = 30 − 90°, com
passo de 0,05o e com tempo de contagem pelo detector por passo de 2
segundos. Num segundo momento, após a verificação das posições angulares
dos picos de Bragg das diferentes fases, uma nova varredura, mais lenta por
passo, foi realizada (5 segundos por passo), a fim de melhorar a razão sinal ruído
dos padrões de DRX. Os picos de Bragg dos padrões de DRX foram então
ajustados usando o software Origin, usando linhas do tipo lorentzianas. Com os
parâmetros obtidos (posição angular e largura de linha à meia altura) dos ajustes
dos picos de cada fase (camada), foram calculados o parâmetro de rede usando
a Lei de Bragg da difração e o tamanho de grão perpendicular (no caso das
medidas -2, ao plano do substrato pelo método de Scherrer [97-100].
37
3.3.2 Difração de Raios X em Baixos Ângulos: Refletividade de Raios X (RRX)
A refletividade de raios X (RRX) é uma técnica que nos fornece algumas
informações físicas importantes dos filmes finos, entre elas: espessuras e
densidade das camadas além das rugosidades interfaciais. É uma técnica pode
ser utilizada para o estudo de interfaces em filmes finos com 𝑑𝑓𝑖𝑙𝑚𝑒 < 50 𝑛𝑚, com
um erro estimado em torno de 5 – 10% [101]. As medidas dos padrões de RRX
foram também realizadas no difratômetro Ultima IV [Fig.3.4(a)], agora com uma
varredura de 0,2 − 2° com um passo de 0,02°. As simulações dos padrões de
RRX foram obtidas usando o código DYNA, desenvolvido no instituto Néel, em
Grenoble, França [102]. O código DYNA utiliza um formalismo no qual os
parâmetros-chave são aqueles que definem o índice de refração e absorção
linear como função de profundidade (parâmetros do material analisado) e
aqueles que definem as características do feixe incidente (parâmetros
instrumentais). Como principais resultados das medidas de RRX foram obtidas
as espessuras das camadas individuais e suas rugosidades interfaciais dos
filmes de Nb com dNb = 20 nm e dos filmes simples de cada um dos alvos usados
para a calibração das taxas de deposição.
3.4 Caracterização Magnética: Método MAV
Antes de falar do processo dos processos de medidas magnéticas e de
transporte elétrico, serão tecidas algumas informações básicas sobre o
equipamento Physical Properties Measurement System (PPMS) Evercool-II,
utilizado neste trabalho de tese. O PPMS (Fig. 3.5) é um equipamento versátil e
multimodular, ou seja, o PPMS/UFES possui vários módulos de medidas:
magnetização AC e DC, Resistividade elétrica, Calor específico, Ressonância
Ferromagnética. Por possuir um miniliquefator de hélio (3 litros de He líquido por
dia) e operando com a tecnologia Evercool-II da Quantum Design, o PPMS
permite (i) aplicação de campos magnéticos de até 9 T, gerados por uma bobina
supercondutora imersa no tanque do miniliquifator de He e (ii) temperaturas na
região da amostra entre 1,8 e 1000 K, dependendo do módulo de medida.
38
O campo magnético aplicado �� tem direção ao longo da bobina e
dependendo do módulo e a possibilidade de colocar a amostra para um dado
módulo, duas configurações de campo podem ser obtidas: no plano (||) e
perpendicular (⊥) ao plano de filmes (Fig. 3.6). Além disso, medidas angulares
[direção fixa do campo �� e variando no plano a posição de uma referência da
amostra (Fig. 3.6 - imagem da esquerda)] também são possíveis, principalmente
no módulo de transporte elétrico. Neste trabalho, foram utilizados os módulos de
magnetometria de amostra vibrante (MAV) [103-105] e de transporte elétrico
funcionando no método de quatro pontas do PPMS.
O método MAV foi baseado naquele reportado por Foner [103-106], onde
uma força eletromotriz 𝜀 é induzida em uma bobina captadora quando uma
amostra de magnetização M é vibrada no interior desta bobina. Esta força 𝜀,
quando calibrada com um material conhecido, converte a magnetização medida
em um valor conhecido em unidades eletromagnéticas (emu).
Figura 3.5: Imagens do equipamento PPMS Evercool–II fabricado pela Quantum Design Inc. e operando no LEMAG. Na parte ampliada (imagem à direita) é mostrado, em destaque, o módulo MAV.
39
Figura 3.6: Esquema ilustrativo das medidas com campos magnéticos aplicados
(B) para um ângulo 𝜃 qualquer relativo ao plano do filme (imagem da esquerda) e para as duas configurações principais: paralelo (|| - imagem central) e
perpendicular (⊥ - imagem da direita) ao plano do filme.
Em particular, foram realizadas medidas de magnetização em função do
campo aplicado [curvas M(B)] nas configurações no plano (||) e perpendicular (⊥)
ao plano de filmes (Fig. 3.6) e com a amostra mantida em três temperaturas
distintas: 300 K, 10 K e 3 K. Em 3 K, a camada de Nb está no estado SC, mas
em 10 e 300 K o sinal dominante nas curvas M(B) é o das camada FM (Py eou
Co). Foram também obtidas medidas de magnetização versus temperatura
[curvas M(T)] para o estudo das propriedades magnéticas da camada SC de Nb,
onde foram obtidos os valores da temperatura TC e campos críticos (HC1 e HC2)
dos filmes de Nb com diferentes espessuras. Para medidas M(B) do Nb em
baixas temperaturas (T< TC), somente medidas na configuração perpendicular
(⊥) ao plano de filme foram feitas.
É importante dizer que durante as medidas das propriedades
supercondutoras do Nb (TC, HC1 e HC2), a bobina do PPMS (geradora de campos
�� ) era zerada no módulo de campos oscilantes. Em outras palavras, em 10 K,
um campo de 500 Oe era aplicado e reduzido em modo de campo oscilante para
reduzir, ao máximo possível, qualquer campo remanente na bobina
supercondutora (este processo foi realizado para evitar criação de vórtices nos
filmes SC de Nb criados por um possível campo remanente alto da bobina
supercondutora). Entretanto, foi previamente determinado que sempre havia um
campo residual da ordem de 20 Oe na bobina supercondutora do PPMS [36].
Este valor de 20 Oe é inferior ao primeiro campo crítico HC1 das camadas de Nb,
40
que foi da ordem de 100 Oe [36]. Feito esse processo de redução do campo
remanente da bobina era feito sempre em 10 K, para em seguida a temperatura
da amostra ser baixada até 2 K (em geral todas as medidas começavam nesta
temperatura).
3.5 Medidas de Transporte Elétrico: Método de 4 pontas
A caracterização com medidas de resistência elétrica (R) traz informações
sobre o tipo de material (semicondutor, condutor, supercondutor, isolante), de
portadores de carga e dos efeitos de dimensionalidade no transporte elétrico
[107-109]. Enquanto nos materiais supercondutores há um marcante
comportamento da resistividade elétrica com a temperatura [R(T)], com uma
queda abrupta do valor de R na temperatura crítica de transição supercondutora
(TC) (vide Apêndice A, Fig. A.1 ), em metais R(T) tem um comportamento linear
com aumento da temperatura. Entre os métodos de medidas de R(T), o mais
usado, em filmes finos, é o de quatro (4) pontas [110-111]. É um método
parcialmente destrutivo, pois as pontas precisam penetrar pela camada dos
filmes, mas tem como principais vantagens a praticidade experimental e o fato
de não ser necessário um excelente contato ôhmico entre o eletrodo e a amostra
(as pontas penetram nas camadas dos filmes, logo o contato é por “pressão”).
Na Fig. 3.7 está esquematicamente apresentado o princípio do método,
onde quatro eletrodos são organizados linearmente e paralelamente entre si. A
corrente 𝑖 é injetada através de dois eletrodos externos (1 e 4), enquanto os dois
eletrodos (2 e 3) internos medem a queda de tensão proveniente do filme.
41
Figura 3.7: Esquema experimental para geometria do método de 4 pontas empregada na medida de resistividade elétrica em função da temperatura T e do campo aplicado B.
No caso em que as pontas são dispostas com espaçamentos variados
sobre uma superfície quase-infinita, a resistividade elétrica (ou a resistência a
menos do fator geométrico que as acoplam) é dada por:
𝜌 =
2𝜋(𝑉/𝑖)
[1𝑠1
+1𝑠3
−1
(𝑠1 + 𝑠2)−
1(𝑠2 + 𝑠3)
]
(3.1)
onde 𝑠1, 𝑠2 e 𝑠3 são os espaçamentos entre as pontas e 𝑉 e 𝑖 são
respectivamente a tensão medida e a corrente injetada no filme.
Em particular, medidas de resistência elétrica em função da temperatura
e do campo aplicado [R(T,B)], chamadas de magnetorresitência, foram feitas
para todos os filmes que continham camadas supercondutoras de Nb. Estudo da
dependência angular das curvas de R(T,B,𝜃), para cada campo fixo, foi realizado
para diferentes direções entre o campo aplicado (B – fixo e vertical) e o plano do
filme, conforme esquema mostrado na Fig. 3.8.
42
Figura 3.8: Esquema representando as configurações da direção variável do campo aplicado (B), a corrente elétrica (i) fixa no plano do filme durante as
medidas angulares de R(T, B). O ângulo 𝜃 é definido entre o plano do filme e a direção de B, sendo zero para configuração no plano (||), 90o para configuração
perpendicular (⊥) ao plano do filme e 180o para a configuração antiparalela (anti-||) entre campo e corrente elétrica no plano.
Imagens do módulo de medida de transporte do PPMS são apresentadas
na Fig. 3.9, onde se destaca o puck construído no LEMAG para medidas de
filmes finos. Esse puck é construído com quatro pinos de Au, com molas internas
que ajustam suas alturas relativas ao plano da amostra [Fig. 3.9(a) no 2)]. É
também mostrado a vareta com o goniômetro [Fig. 3.9 (c)], que permitiu girar a
amostra relativamente ao campo B, cujo direção fica ao longo do comprimento
da vareta. As medidas de dependência angular das curvas R(T, B) foram feitas
entre zero [configuração no plano (||) do filme – Fig. 3.9 (b) - superior] até 180o
[configuração antiparalela (anti-||)], passando pela configuração de 90o
[configuração perpendicular (⊥) – Fig. 3.9 (b) inferior]. Para as medidas das
diferentes curvas R(T, B, 𝜃), a corrente elétrica DC de 2 mA foi sempre aplicada
no plano da amostra e na mesma direção. O intervalo de temperatura de medida
foi de 2 até 10 K, acima da qual a camada de Nb já se encontrava no estado
condutor normal (estado metálico). Em cada medida com campo B, um campo
de 500 Oe era aplicada em 10 K e reduzido no modo oscilante, isso para reduzir
o campo remanente da bobina supercondutora antes de reduzir a temperatura
da amostra até 2 K. O valor máximo de B foi de 4 T na configuração de campo
𝐵∕∕ e 1,5 T na configuração de campo 𝐵⊥. As medidas de resistividade R(T, B, 𝜃)
foram feitas em pequenas partes das amostras dos filmes em forma de
paralelepípedos [Fig. 3.9 (b)].
43
Figura 3.9: Geometria das medidas de resistividade elétricas dos filmes supercondutores: (a) dispositivo de quatro pontas acoplado no módulo de resistividade do sistema PPMS, (b) configuração das medidas com o campo magnético aplicado paralelo (i) e perpendicular (i) ao plano da amostra e (c) método utilizado para medidas em função do ângulo.
Com as curvas R(T, B, 𝜃), foram determinados os diferentes valores da
temperatura de transição supercondutora (𝑇𝐶) obtidas nas duas configurações
de campos magnéticos aplicados, inclusive paralelo [𝑇𝐶∕∕ → 𝐵∕∕] e perpendicular
[𝑇𝐶⊥ → 𝐵⊥] ao plano do filme para o entendimento do comportamento das
propriedades supercondutores da camada de Nb (oriundas do TC) em função do
campo magnético efetivo Bef (= B + BFM) e do ângulo 𝜃; ângulo este entre o Bef e
o plano do filme (trouxe informação da influência da estrutura magnética das
camadas FM sobre as propriedades supercondutoras).
Na Fig. 3. 10 é apresentada uma curva R(T) hipotética usada para
descrever o método aplicado para definir os valores TC a partir das curvas
R(T,B, 𝜃). Primeiro, é tomado a derivada de R(T) com relação a temperatura
[(𝜕𝑅(𝑇)
𝜕𝑇)𝜃,𝐵 ]. Como pode ser visto na Fig. 3.10 (b), a curva apresenta um pico
definido. Este pico é referente ao ponto de inflexão da curva R(T) e será então
tomado como o valor de TC. A incerteza no valor de TC (δ𝑇𝐶) é definida como a
metade da largura a meia altura (FWHM) da curva (𝜕𝑅(𝑇)
𝜕𝑇)𝜃,𝐵 , conforme sugere
Fig. 3.10(c).
44
Figura 3.10: Método utilizado na determinação de 𝑇𝑐 dos filmes de Nb: (a) curva representativa de resistividade em função da temperatura 𝑅(𝑇), (b) curva da derivada primeira de 𝑅(𝑇) e (c) curva ilustrativa de FWHM para obtermos o
parâmetro de incerteza das medidas 𝛥𝑇𝑐.
45
Capítulo 4
Abordagem Teórica e os Resultados Experimentais
4.1 Modelo Teórico: Uma Nova Abordagem para Determinação do Valor do
Campo Magnético Disperso (Stray Field) da Camada Ferromagnética (BFM)
Conforme apresentado no Capítulo 2, o efeito de proximidade, que ocorre
em interfaces de sistemas híbridos SC/FM, tem sido assumido como sendo o
responsável pela redução observada no valor de TC do estado SC de sistemas
VSS. Por isso, esse efeito é também conhecido como efeito válvula de spin
supercondutor (redução adicional no valor de TC provocada pela mudança da
magnetização da camada FM).
Nesta seção, usando a teoria fenomenológica de Ginzburg-Landau
modificada para um SC anisotrópico, uma grandeza física é definida e uma
discussão no que tange o limite de sua aplicação é apresentada. Essa grandeza
é então usada nos dados experimentais (obtidos nesta tese) para obter
informações do campo magnético disperso (stray field) da camada FM que age
sobre a camada SC de Nb (como o campo efetivo experimentado pelo filme SC).
O campo magnético disperso é uma grandeza física dificilmente mensurada na
literatura científica e os livros básicos de teoria eletromagnética e magnetismo o
calculam assumindo várias hipóteses que não são experimentalmente obtidas
(são aproximações de 1ª ordem).
Em outras palavras, definindo uma nova grandeza física, a partir do
modelo de GL, será possível extrair diretamente a magnitude do campo
magnético disperso da camada FM (quantificar o valor do campo na ausência de
campo magnético aplicado) e indiretamente, entender o efeito da distribuição de
domínios magnéticos da camada FM (que cria o campo magnético disperso) no
efeito VSS encontrado em sistemas híbridos SC/FM. Adicionalmente, ao testar
os dados experimentais usando a nova grandeza é possível compreender o
limite do caráter anisotrópico observado em filmes finos de sistemas SC e
híbridos SC/FM.
46
Cabe inicialmente ressaltar que o efeito anisotrópico em supercondutores
está bem documentado na literatura científica [18,45,15]. Em geral, fatores
fenomenológicos do modelo de Lawrence-Doniach (LD) têm sido utilizados para
explicar propriedades SC de materiais 2D. Em particular, o modelo LD utiliza
uma abordagem simples para lidar com o fato de que em materiais SC, que
apresentam comportamentos bidimensionais (2D), a anisotropia de massa
impõe que o comprimento de coerência 𝜉 também deva ser anisotrópico. Dessa
maneira, as propriedades físicas dos materiais 2D SC dependem fortemente da
direção do campo magnético efetivo (�� 𝑒𝑓) atuando no material. Ademais, o
modelo LD pode ser reduzido à teoria anisotrópica de GL para temperaturas
próximas a TC do estado SC. Logo, no limite anisotrópico e em temperaturas
próximas ao valor de TC, o modelo anisotrópico GL continua sendo um bom ponto
de partida para explicar muitas propriedades físicas dos materiais SC. Dois
casos específicos são bem descritos na teoria anisotrópica de GL [15,109]. O
primeiro caso é aquele no qual o campo magnético é aplicado perpendicular ao
plano da amostra (�� ⊥), tal que o campo crítico superior 𝐵𝑐2⟘ seja descrito pela
Eq. (2.2) e aqui repetida na forma:
𝐵𝐶2⟘(𝑇) =
Ф0
2𝜋𝜉⟘2(𝑇)
(4.1)
onde, o parâmetro 𝐵𝐶2⟘ representa o campo crítico superior definido na
geometria de campo aplicado perpendicular ao plano do filme, 𝜉⟘ é o
comprimento de coerência perpendicular ao plano no filme (paralelo a direção
do campo �� ⊥) e Ф0 é o fluxo quântico.
O segundo caso trata da configuração de campo magnético aplicado
paralelo ao plano do filme (�� ||), onde o campo crítico superior (𝐵𝐶2||) é expresso
como:
𝐵𝐶2||(𝑇) =
Ф0
2𝜋𝜉⟘(𝑇)𝜉||(𝑇)
(4.2)
47
o 𝜉|| é o comprimento de coerência do par de Cooper paralelo ao plano do filme.
A seguinte condição foi experimentalmente verificada: 𝐵𝐶2⟘ < 𝐵𝐶2|| nos filmes SC
de Nb, como será mostrada adiante. Essa observação concorda com a
característica anisotrópica de materiais SC do tipo 2D [𝜉⟘(𝑇) > 𝜉||(𝑇)], como é o
caso de filmes finos de Nb [15,39].
Os resultados discutidos no Capítulo 2 (Fig. 2.2) sugerem que o campo
crítico superior tem uma dependência específica com a variação da temperatura
[BC2(T)], logo há de se esperar que haja também uma dependência 𝜉 com a
temperatura [𝜉⟘(𝑇)]. Portanto, usando a aproximação de campo médio onde é
demonstrado que [8,115]: 𝜉⟘(𝑇) = 𝜉0
(1−𝑇
𝑇𝐶)12
, onde 𝜉0 é o comprimento de coerência
característico em 𝑇 = 0 𝐾 e TC é a temperatura de transição SC tomada em
campo magnético nulo, a Eq. (4.1) é reescrita como:
𝐵𝐶2⟘(𝑇) = 𝐵𝐶2⟘(0)(1 −
𝑇
𝑇𝐶)
(4.3)
Onde 𝐵𝐶2⟘(0) =Ф0
2𝜋𝜉𝑜2
Reorganizando a Eq. (4.1), a mesma é reescrita para o comportamento
de TC em função de B [TC(B)], já que a quantidade mensurada
experimentalmente, com maior facilidade, é exatamente TC. Então, a Eq. (4.4)
rearranjada fica:
𝑇𝐶⟘(𝐵) = 𝑇𝐶⟘(0)(1 −𝐵
𝐵𝐶2⟘(0))
(4.4)
Na Eq. (4.4), 𝑇𝑐⟘(𝐵) é a temperatura crítica de transição supercondutora
registrada para qualquer valor de campo magnético aplicado perpendicular ao
48
plano do filme (configuração de campo 𝐵⟘), enquanto que 𝑇𝐶⟘(0) e 𝐵𝐶2⟘(0) são
respectivamente a temperatura crítica tomada em campo magnético nulo e o
campo crítico superior em 𝑇 = 0 𝐾. A Eq. (4.4) sugere que 𝑇𝐶⟘varie linearmente
com o campo magnético aplicado �� na configuração de campo 𝐵⟘. Esse
comportamento é experimentalmente verificado em vários estudos reportados
na literatura científica para sistemas supercondutores [15,45,109].
Para o segundo caso (𝐵𝐶2||), como a espessura do filme é reduzida, o
valor de 𝜉||(𝑇) limitado pelo tamanho físico do material [seu valor é limitado pela
espessura do filme (dSC)]. Neste caso, é esperado que 𝑇𝐶||(𝐵) tenha o
comportamento governado pela Eq. (4.5) [15,45,109]:
𝑇𝐶||(𝐵) = 𝑇𝐶||(0)(1 −𝐵2
𝐵𝐶2||2 (0)
)
(4.5)
Onde 𝐵𝐶2||(0) =Ф0
2𝜋𝑑𝜉𝑜
Na Eq. (4.5), 𝑇𝑐||(𝐵) é a temperatura crítica determinada para qualquer
valor de campo magnético aplicado na configuração de campo paralelo (𝐵||) ao
plano da amostra, 𝑇𝑐||(0) é a temperatura crítica correspondente a medida com
campo magnético zero e 𝐵𝐶2||(0) é o campo crítico superior em 𝑇 = 0 𝐾.
As Equações (4.4) e (4.5) têm sido frequentemente usadas, com sucesso,
na literatura para descrever dados experimentais de filmes finos SC.
Aproveitando essa constatação experimental das relações fenomenológicas
acima, a grandeza física ∆𝑇𝐶 (vide abaixo) é definida neste trabalho para
descrever (i) os comportamentos de 𝑇𝐶(𝐵) [𝑇𝐶||(𝐵) e 𝑇𝐶⟘(𝐵)] de filmes finos puros
de Nb de duas espessuras distintas e de seus sistemas híbridos SC/FM e (ii)
indiretamente fornecer o campo disperso de camadas FM e a influência da
distribuição de domínios magnéticos das camadas FM sobre as propriedades SC
de filmes de Nb. Certamente, os itens (i) e (ii) são algumas das principais
contribuições científicas dessa tese de doutorado, principalmente pelo fato de
que o campo magnético disperso é dificilmente reportado na literatura no caso
49
de filmes FM e é desconhecido valores para o caso de filmes híbridos SC/FM,
como os estudados neste trabalho.
O parâmetro ∆𝑇𝐶 é tomado como sendo a diferença entre 𝑇𝐶|| e 𝑇𝐶⟘, ou
seja, ∆𝑇𝐶 = 𝑇𝐶|| − 𝑇𝐶⟘|. Tomando as equações acima para 𝑇𝐶⟘ [Eq. (4.4)] e
𝑇𝐶|| [Eq. (4.5)], a seguinte expressão matemática é escrita para ∆𝑇𝐶:
∆𝑇𝐶(𝐵) = 𝑇𝐶(0)𝐵
𝐵𝐶2⟘(0)[1 −
1
𝛾(
𝐵
𝐵𝐶2||(0))]
(4.6)
Na Eq. (4.6), 𝑇𝐶(0) representa a temperatura crítica na ausência de
campos, 𝛾 =𝐵𝐶2||(0)
𝐵𝐶2⟘(0) é o coeficiente de anisotropia (sem dimensão) e �� é o campo
magnético aplicado nos sistemas SC puros ou híbridos SC/FM.
Uma análise da Eq. (4.6) pode trazer comportamento mais genéricos que,
por sua vez, podem ser experimentalmente testados ao obter um conjunto de
medidas de R(T, B) nas duas configurações de campos aplicados ([𝑇𝐶∕∕ → 𝐵∕∕] e
[𝑇𝐶⊥ → 𝐵⊥]). Por um lado, é possível notar que para um valor pequeno do termo
entre colchetes na Eq. (4.6), mas não insignificante valor 1
𝛾(
𝐵
𝐵𝐶2||(0)), essa
equação pode ser reescrita na forma da Eq. (4.7), onde foi usada a aproximação
𝑒−𝑥 ≈ 1 − 𝑥, quando x << 1:
∆𝑇𝐶(𝐵) = 𝑇𝐶(0)𝐵
𝐵𝐶2⟘(0)𝑒
−(1𝛾
𝐵𝐵𝐶2||(0)
)
(4.7)
Entretanto quando 1
𝛾
𝐵
𝐵𝐶2||(0)≪ 1 ainda na Eq. (4.6), a mesma pode ser
reescrita, desprezando o termo dentro do colchetes após a unidade (1
𝛾
𝐵
𝐵𝐶2||(0)≈
0), tal que a Eq. (4.6) possa ser escrita da seguinte forma:
50
∆𝑇𝑐(𝐵) = 𝑇𝑐(0)𝐵
𝐵𝐶2⟘(0)
(4.8)
A Eq. (4.8) sugere um comportamento linear para ∆𝑇𝑐 = 𝑇𝑐|| − 𝑇𝑐⟘ com o
campo magnético efetivo na amostra SC.
Neste momento, cabe definir a grandeza física do campo magnético
efetivo (�� 𝑒𝑓), já que nesta tese serão trabalhados filmes híbridos SC/FM de
diferentes configurações ferromagnéticas, ou seja, o campo magnético sentido
na camada SC sempre será um campo �� 𝑒𝑓 dado pela soma vetorial do campo
aplicado com os campos magnéticos dispersos das camadas FM [�� 𝐹𝑀(𝑖), i
representa as camadas FM individuais], além da contribuição da magnetização
induzida no caso da camada SC de Nb (contribuição oposta ao campo aplicado).
Em primeira aproximação entretanto é assumido que: �� 𝑒𝑓= �� + �� 𝐹𝑀(𝑖), onde
�� 𝐹𝑀(𝑖) é o campo disperso gerado por cada uma das camadas FM sobre o
material SC [sistemas híbridos do tipo SC/FM1; SC/FM2 ou SC/FM1/FM2].
As Equações (4.7) e (4.8) podem ser primeiramente testadas no caso de
filmes finos SC puro, com grau de anisotropia induzida pela espessura do filme
de Nb (dNb), para obtenção de algumas características supercondutoras
fundamentais dos filmes de Nb. Elas também são aplicadas para obter
informações do campo magnético disperso das camadas FM e/ou da influência
da distribuição de domínios ferromagnéticos sobre a supercondutividade (o
campo disperso e a distribuição de domínios mudam com a aplicação de campo
magnético B).
Para informação da influência da mudança dos domínios FM sobre as
propriedades SC, será necessário a realização de medidas de ∆𝑇𝐶(𝐵) variando
o ângulo de aplicação do campo B com relação ao plano do filme, tal que curvas
de ∆𝑇𝐶(𝐵, 𝜃) possam trazer informações das mudanças de domínios FM sobre a
supercondutividade. Este tipo de medida nos dará indiretamente informações do
efeito VSS e do campo magnético disperso, que estão presentes nas
heteroestruturas Nb/Cu/Py/Cu/Co também preparadas e estudadas nesta tese.
51
4.2 Resultados Experimentais dos Filmes Finos de Controle SC de Nb
Os resultados experimentais das caracterizações estruturais, magnéticas
e de magneto-transporte dos filmes finos puros de Nb (dNb = 20 e 100 nm) serão
primeiramente apresentados e discutidos. A seguinte notação simplificada será
usada: Nb20 e Nb100, onde os números representam a espessura do filme em
nanômetros (nm). Os filmes foram caracterizados segundo seus tamanhos
médios de grãos cristalinos (𝜏), parâmetros de rede (𝑎) da fase do Nb,
rugosidades (𝜎) e espessuras calculadas (𝑑). Como dito no Capítulo 3, os filmes
finos Nb crescidos diretamente sobre o substrato de Si (100) pelo método de
Magnetron Sputtering DC apresentam caráter granular e os tamanhos de grãos
modificam suas propriedades SC. Será demonstrado que os filmes de Nb
(camada simples ou híbridas) apresentam características granulares similares
entre si, o que garante que o campo magnético disperso será a principal fonte
de mudança adicional nos valores de TC dos filmes SC de Nb nos sistemas
híbridos.
4.2.1 Caracterização Estrutural dos Filmes Finos Controles SC de Nb (dNb)
Os filmes de Nb20 e Nb100 foram preparados com TS = 100 °C. Nenhuma
camada semente (Buffer layer) e/ou camada protetora (Capping layer) foi
utilizada. Logo, os filmes de Nb foram diretamente depositados sobre o substrato
de Si(100) e como as medidas foram realizadas ex-situ, uma possível camada
de óxido de Nb não pode ser descartada (filmes são estáveis por mais de 6
meses, conforme testes tomando como base o valor de TC). Filmes cobertos com
uma camada de Cu também apresentaram propriedades similares a que serão
apresentadas nas seções seguintes, indicando que a cobertura, por exemplo,
não altera o valor de TC dos filmes de Nb.
Os padrões de difração de raios X (DRX), mostrados na Fig. 4.1 (a) e (b),
não evidenciam a presença de picos de Bragg de uma possível fase do óxido de
Nb. Entretanto, conforme relatado por Freitas [36], um possível processo de
oxidação superficial de algumas monocamadas de Nb é fundamental para
52
passivar o processo e manter o filme de Nb com suas propriedades
supercondutoras do processo de preparação por vários meses. Em particular,
esses padrões de DRX (geometria GIXRD) só possuem o pico mais intenso de
Bragg no intervalo angular de 2θ entre 34° e 46°, que corresponde ao pico de
Bragg (110) da estrutura BCC do Nb. Nenhum estudo de textura cristalina foi
realizado nos filmes e a presença somente deste pico de Bragg não garante que
a camada de Nb tenha crescido texturizada. De fato, Tales [36], em estudo
prévio, demonstrou que os filmes de Nb crescidos por Magnetron Sputtering
sobre Si (100) são policristalinos.
Figura 4.1: Padrões DRX tomados à temperatura ambiente para os filmes de (a) Nb100 e (b) Nb20.
Por outro lado, é possível notar que os picos de Bragg dos dois filmes
(Nb20 e Nb100) estão em posições angulares distintas, indicando diferentes
parâmetros de redes para a fase BCC do Nb. Usando a Lei de Bragg para
difração, após ajustes dos picos de Bragg com função lorentziana para encontrar
as posições angulares, os parâmetros de rede (𝑎) dos filmes de Nb foram
53
respectivamente calculados e estão dispostos na Tabela 4.1. Os tamanhos de
grãos (𝜏) destes filmes foram obtidos com medidas de difração de raios X
convencional (Bragg-Brentano) e também são apresentados na Tabela 4.1
Tabela 4.1: Valores dos tamanhos médios de grãos cristalinos (𝜏) e dos parâmetros de rede (𝑎) obtidos dos padrões GIXRD dos filmes de Nb(dNb).
Amostra Tamanho de Grão (𝜏)
(nm)
Parâmetro de Rede (𝑎)
(nm)
Si(100)/Nb(20nm) 7,2 ± 0,3 0,3333 ± 0,0005
Si(100)/Nb(100nm) 9,9 ± 0,2 0,3327 ± 0,0003
Conforme reportado na literatura, o parâmetro de rede da fase BCC do Nb
bulk é 𝑎 = 0,3303 nm [42]. Ambos os valores dos parâmetros de rede dos filmes
Nb20 (𝑎 = 0,3333 nm) e Nb100 (𝑎 = 0,3327 nm) são maiores do que o valor de bulk
do Nb, indicando que os filmes de Nb crescidos sobre o Si estão ligeiramente
tensionados, sendo que a tensão na camada de Nb é maior no filme mais fino
(Nb20).
O efeito tensão é, pelo menos, um dos motivos pelo qual o valor de TC
dos filmes de Nb (crescidos sobre Si) é significativamente reduzido quando
comparado com seu valor de bulk de TC = 9,2 K. Outro fator importante que
influencia no valor de TC dos filmes de Nb é o tamanho de grão cristalino, que
está correlacionado com a espessura [36]. Dos dados da Tabela 4.1, é nítido que
o valor de 𝜏 (obtido do pico principal de Bragg da fase do Nb) diminui à medida
que a espessura do filme (dNb) decresce. Em consequência, o filme de Nb20
deve apresentar um menor valor de TC, não só pelo efeito de dimensionalidade
da camada, mas também pelo efeito de tensão interna da camada (maior
parâmetro de rede comparado com o valor do bulk) e da redução no tamanho de
grão cristalino.
Como a dimensionalidade dos filmes SC impacta no valor de
TC dos filmes, um entendimento da formação de uma camada de óxido de Nb
nos filmes descobertos (oxidação é como se houvesse uma redução do valor de
dNb) e, consequentemente no valor de TC são fundamentais para o
desenvolvimento deste trabalho (os resultados dos filmes puros serão usados
como referência).
54
Em primeiro lugar, cabe enfatizar que medidas realizadas algumas
semanas após a produção dos filmes apresentam propriedades semelhantes
àquelas obtidas logo após os mesmos serem retirados da câmara de deposição
do Sputtering, indicando que a oxidação, se ocorre, é superficialmente e mantém
a grande fração do filme de Nb no estado metálico (o estado SC é obtido em
baixas temperaturas). A existência ou não de uma fase de óxido de Nb nos filmes
descobertos foi testada com medida de refletividade de raios X (difração em
baixos ângulos) para o filme mais fino de Nb (Nb20), objetivando determinar a
espessura efetiva da amostra, as rugosidades interfaciais, entre outras. O filme
Nb100 tem uma espessura muito grande, que o inviabiliza para aplicação do
método experimental de refletividade de raios X (grande imprecisão já que não
aparecem franjas definidas nas curvas de refletividade de raios X). A curva
experimental de refletividade de raios X, juntamente com o ajuste dos dados com
o Programa Dyna, é apresentada na Fig. 4.2 para o filme Si/Nb20.
0 1 2 3 4
Refl
eti
vid
ad
e R
ela
tiva
(°)
Figura 4.2: Curva de refletividade do filme Si/Nb20 obtida à temperatura ambiente (linha preta). A linha vermelha corresponde ao resultado do ajuste dos dados experimentais usando o programa Dyna [102].
O ajuste dos dados experimentais de refletividade de raios X foi feito
usando apenas um componente; Nb. Do ajuste, se determinou que o filme de Nb
não apresentou nenhuma oxidação na superfície. Então, o filme Nb20 tem uma
55
espessura estimada de (25,0 ± 0,2) nm e rugosidade (𝜎) de (0,4 ± 0,2) nm,
conforme resultado do ajuste usando o programa Dyna. A priori, é possível inferir
que não houve interdifusão significativa de átomos de Nb na camada de Si
(substrato). A interdifusão Nb/Si ocorre, em geral, quando TS > 100 oC [36]. Com
essa variação na espessura é possível assumir que os valores de TC das
camadas de Nb para espessuras de 25 ou 20 nm podem ser assumidos
similares. Em conclusão, os valores de TC a serem determinados abaixo serão
assumidos iguais em todos os filmes desta tese já que apresentarão
propriedades estruturais e morfológicas similares (filmes de Nb têm se mostrado
bem reprodutíveis usando o Sputtering Orion-8 instalado no LEMAG).
Consequentemente, mudanças adicionais nos valores de TC dos filmes de Nb
dos sistemas híbridos SC/FM poderão ser efetivamente atribuídas a camada FM.
4.2.2 Caracterizações Magnética e de Transporte dos Filmes Finos Controles SC de Nb
Cabe inicialmente mencionar que as curvas M(T) foram sempre tomadas
em processo ZFC, com campo de prova de 3 mT e com a bobina supercondutora
tendo o campo magnético zerado no modo oscilante (campo inicial na bobina de
0,05 T). As curvas M(T) para os filmes Nb100 e Nb20 são respectivamente
apresentadas na Figura 4.3 (a) e (b).
56
Figura 4.3: Curvas M(T) dos filmes de Nb100 (a) e Nb20 (b) preparados em TS = 100 °C. O campo de prova aplicado perpendicular ao plano do filme e com um valor de 3 mT. Curvas de R(T) dos filmes (c) Nb100 e (d) Nb20 com campo aplicado zero na configuração perpendicular ao plano do filme (B⟘ = 0 T).
É possível observar da Fig. 4.3 (a) e (b) que as transições do estado
supercondutor (SC) para o estado normal metálico (SC-N) dos filmes Nb20 e
Nb100 são relativamente largas. Esta observação experimental sugere uma
distribuição de valores de TC que, por sua vez, deve estar associada com uma
distribuição de tamanhos de grãos dos filmes de Nb (caráter granular já discutido
e reportado [36]). A largura da transição SC-N (Nb) é determinada como sendo
a diferença entre o ponto onde a curva começa a apresentar o efeito
diamagnético (onset) e o ponto em que atinge a saturação diamagnética. Os
valores são: Nb20 = (2,6 ± 0,2) K e Nb100 = (3,4 ± 0,4) K, respectivamente.
Esses valores de Nb sugerem que os filmes possuem diferentes tamanhos de
grãos dispersos na matriz SC e, também pleo efeito de tensão interna.
57
Dessa maneira, os filmes de Nb podem ser interpretados como sendo
formados por um conjunto de grãos SC dispersos em uma matriz normal ou
fracamente SC (supercondutores “sujos”). Isto nos leva a sugerir que haja
concomitantemente duas fontes para a supercondutividade: (i) a contribuição
intragranular e (ii) a contribuição intergranular. A intragranular está associada
com as propriedades SC intrínsecas do material, inclusive tensões provocadas
pela redução do tamanho de grão, conforme observado com as medidas de
DRX. Já a contribuição intergranular é devida a regiões entre grãos vizinhos que,
por sua vez, são denominadas de weak-links (W-L) [36]. Essa região W-L
apresenta propriedades que são essencialmente decorrentes das características
das ligações entre os grãos vizinhos, ou melhor, características extrínsecas do
material que dependem muito das condições de preparação das amostras que,
no caso dos filmes de Nb, são granulares quando crescidos sobre substrato de
Si (sempre apresentaram esta contribuição como uma parte significativa) [43].
Por outro lado, na Figura 4.3 (c) e (d) são apresentadas curvas de
resistência elétrica normalizadas [R(B,T)/R(B=0T;T=10K) ou simplesmente
R(T)/R0] registradas em intervalos de temperaturas próximos aos respectivos
valores de TC dos filmes Nb100 e Nb20 (cada curva R/R0 é referente a mesma
amostra da curva de M (T) apresentada ao lado). Desta figura, é nítida uma
queda abrupta do valor da resistência elétrica, indicando a transição SC-N. Este
tipo de medida traz uma percepção de uma transição SC-N mais estreita do que
aquela definida com as medidas magnéticas [tomadas das curvas M(T)] para os
filmes de Nb20 e Nb100.
Essa aparente discrepância no valor TC e sua incerteza está associada
com a maneira em que cada técnica “enxerga” a transição SC-N. Considerando
então que (i) ambas as medidas M(T) e R(T) são tomadas de baixas para altas
temperaturas (aquecimento após um protocolo de ZFC), (ii) as medidas
magnéticas [curvas M(T)] sugerem uma distribuição larga nos valores de TC e
(iii) as medidas de transporte [curvas R(T)] sugerem uma distribuição bem
estreita de TC, é possível inferir, por um lado, que nas medidas de transporte
elétrico, a corrente elétrica percola pelos grãos SC somente quando todo o filme
está no estado SC (a grande maioria dos grãos estiverem na transição SC-N),
ou melhor, quando somente os grãos SC menores (baixos valores de TC)
58
estiverem transicionando não há percolação da corrente elétrica para se medir a
transição SC-N e, portanto, quando todo o material estiver no estado SC (mais
altas temperaturas), gera um caráter de transição mais estreita (todo o material).
Por outro lado, as medidas magnéticas [curvas M(T)] mostram as diferentes
contribuições da distribuição de tamanhos de grãos SC e/ou as contribuições
dos valores de TC intragranular e Intergranular dos grãos SC dos filmes de Nb
[se mede principalmente as contribuições “individuais” dos grãos SC de
tamanhos diferentes (distintos valores de TC)].
Figura 4.4: Esquemática para mostrar a medição de resistividade [R (T)] de filmes supercondutores pelo método de quatro pontas (descrito no cap. 3) na interação intergranular (interação entre grãos supercondutores vizinhos), onde as bolas verdes representam os grãos SC.
Como neste trabalho de tese de doutorado é buscado o entendimento do
efeito de campos dispersos de camadas FM sobre as camadas SC e assumindo
que na transição SC-N na camada SC (filme de Nb) está bem caracterizada, a
partir de agora, serão somente discutidos os resultados de medidas curvas R(T),
ou seja, os valores de TC dos filmes de Nb serão definidos, de agora em diante,
a partir das respectivas curvas R(T), tomando o máximo da sua primeira (1ª)
derivada, que corresponde exatamente o ponto de inflexão da curva R(T),
enquanto que a incerteza no valor de TC será tomada como a metade da largura
a meia altura do máximo do pico da curva da 1ª derivada de R(T). Para os filmes
de Nb20 e Nb100, os valores de TC são: (5,0 ± 0,1) K e (6,9 ± 0,2) K,
respectivamente. Os filmes de Nb mais espessos possuem valores maiores de
TC, mas ainda assim menores do que o valor de bulk de 9,2 K reportado na
59
literatura [120]. Estes valores de TC são confirmados nestas amostras replicadas,
conforme será discutido na próxima seção.
Para finalizar a caracterização dos filmes de Nb puros, que serão tomados
como referência no estudo dos sistemas híbridos Nb/FM, curvas M(B) foram
tomadas nos respectivos estados SC (T < TC) e são apresentadas na Fig. 4.5 (a)
e (b) respectivamente para os Nb100 e Nb20. Esses laços M(B) são obtidos na
configuração de campo B⟘.
Figura 4.5: Curvas de M(B) tomadas em 2 K com o campo magnético perpendicular aos planos dos filmes de Nb, em (a) filme de Nb100 e (b) Nb20. Critério de obtenção de Bc1; com o aumento gradual da corrente da bobina é observado um aumento linear na resposta negativa da magnetização proporcional ao campo aplicado até o valor de Bc1 e, o critério está sinalizado pela linha vermelha tracejada.
60
Os laços M(B) desses filmes apresentam características marcantes de
supercondutores do tipo-II (o formato típico de uma “estrela”), indicando que
estados de vórtices podem ser gerados nos filmes de Nb20 e Nb100. Outro fator
importante é que dependendo do valor de dNb, além de valores de TC diferentes,
há também mudanças nos valores de Bc1 para os filmes produzidos, ou seja,
sendo aproximadamente 5,4 mT para o filme Nb20 e 7,2 mT para o filme Nb100.
Ademais, não foi possível inferir os valores de Bc2 pelas curvas de M(B), pois no
intervalo de campo utilizado não houve interseção do laço inferior com o laço
superior para ambas as amostras, como critério experimental utilizado.
4.2.3 Caracterização por Magneto-Transporte dos Filmes Finos Controles SC de Nb
Como dito acima, os resultados das propriedades supercondutoras (pelo
menos, TC) são reprodutíveis em amostras replicadas preparadas em tempos
diferentes (intervalo de 20 meses). Na Figura 4.6 (a) Nb100 e (b) Nb20 são
apresentados os resultados das duas curvas R/R0 de duas amostras
semelhantes dos filmes Nb20 e Nb100, assim como os valores de TC (definidos
como o ponto de inflexão das curvas de R(T) - gráfico menor no canto direito das
curvas em vermelho) e as incertezas do TC (largura total na metade do máximo
do pico). Como é possível notar das curvas de R/R0, todos os valores de TC são
muito próximos entre si das amostras de mesma espessura, indicando que há
uma grande reprodução nos resultados e das propriedades supercondutoras
(tamanhos de grãos e parâmetros de rede também são similares). Em alguns
casos, foi feito até 3 réplicas de uma dada amostra.
Onde ocorreu de os valores de TC entre as amostras replicadas serem
maiores do que as incertezas tomadas pela largura à meia altura da medida, as
incertezas nos valores de TC foram tomadas como a diferença da média das
medidas de TC das amostras replicadas. Os filmes Nb100 têm um TC = (7,1 ±
0,3) 𝐾, enquanto que os filmes de Nb20 têm um valor de TC = (5,1 ± 0,2) 𝐾. É
então constatado que realmente há um aumento no valor de TC com o
crescimento dNb; efeito esse que está intrinsecamente correlacionado com o
aumento do tamanho de grão cristalino, a redução da tensão interna da camada
de Nb e a redução do efeito de dimensionalidade, já que nos filmes de 100 nm é
61
esperado que o material já tenha propriedades de bulk (caráter 3D). Cabe ainda
dizer que a pequena diferença nos valores de TC encontrada para os filmes
Nb100 [Fig. 4.6(a)] pode ser justificada pelas desordens topológicas
ocasionadas pelas tensionadas e/ou uma variação no tamanho de grão, mas
essa variação no valor de TC não é significativa para o que será discutido mais
adiante.
Figura 4.6: Curvas de R/R0 para duas amostras de Nb100 (a) e duas amostras de Nb20 (b). No canto direito de ambas as curvas se encontra o ponto de máximo da curva (em vermelho), indicando o ponto de inflexão das curvas (TC).
Demonstrado que as propriedades supercondutoras (pelo menos, TC, que
foi sistematicamente testado) são reprodutíveis nos filmes de Nb preparados em
tempos distintos no sistema Magnetron Sputtering Orion-8, é possível garantir
que estas propriedades sejam também estabelecidas nos sistemas híbridos
Nb/FM a serem estudados nas próximas seções. Entretanto, antes de
prosseguir, há necessidade de estudos adicionais das propriedades de magneto-
transportes dos filmes Nb20 e Nb100 com campos magnéticos sendo aplicados
paralelo (BII) e perpendicularmente (B⟘) ao plano do filme (estudo do efeito
anisotrópico SC).
Na Figura 4.7 é mostrado um conjunto de curvas R(T,B)/R0 registradas
em intervalo de temperatura em torno dos valores de TC dos filmes Nb20 e
Nb100, para diferentes valores de campos magnéticos aplicados. Estes campos
62
são aplicados em duas geometrias distintas: BII (lado esquerdo de a e b) e B⟘
(lado direito de a e b). Desta figura, é nítida a grande mudança nos valores de
TC ocasionadas pela presença do campo aplicado, mas amplificada para a
configuração de campo B⟘ em ambas as amostras (Nb20 e Nb100). Essas
alterações dos valores de TC são intensificadas nos filmes mais finos de Nb
(Nb20), devido à sua baixa dimensionalidade [13]. Como já relatado, os valores
de TC dos filmes de Nb são inferiores ao valor do Nb fase bulk (9,2 K). No entanto,
esses valores de TC são consistentes com os efeitos de dimensionalidade [13] e
são semelhantes outros valores reportados na literatura para filmes de Nb
crescidos no grupo do LEMAG/UFES [36] e por outros grupos em condições
semelhantes [12,112-113]. Sob nossas condições experimentais, o valor mais
alto de TC (~ 7 K) foi o obtido para os filmes Nb100 depositados com TS = 100
°C [36]. Ainda em nosso grupo de pesquisa, um valor de TC ótimo (9,2 K) só foi
obtido para filmes de Nb500 depositado com TS = 500 °C. Todavia, como será
mostrada adiante, essa espessura Nb inviabiliza o estudo dos efeitos de
proximidade e anisotrópico a serem estudos nesta tese de doutorado.
Figura 4.7: Curvas de R/R0 para os filmes de Nb(20 nm) (a) e Nb(100nm) (b). Os experimentos foram realizados nas duas configurações de campo magnético: paralelo ao plano da amostra (BII: lado esquerdo) ou perpendicular ao plano da amostra (B⟘: lado direito).
63
A Figura 4.8 foi construída com os valores de TC determinados com as
diferentes curvas R(T,B)/R0 das Fig. 4.7. Nesta figura são mostrados os
comportamentos de TC(B) para os filmes de Nb20 (símbolos pretos) e Nb100
(símbolos azuis) para os casos em que os campos aplicados são paralelos (BII:
círculos completos) e perpendiculares (B⟘: quadrados completos) ao plano do
filme. As curvas TC(B) foram ajustadas com funções polinomiais de graus: 1
(linear) e 2 (quadrática), conforme indicadas na Fig. 4.8. Na configuração de B⟘
[Fig.4.8], um comportamento linear é encontrado para ambos os filmes de Nb
(Nb20 e N100), conforme sugerido pela Eq. (4.4). Por outro lado, há uma
dependência quadrática das curvas de TC(B) para medidas na configuração de
campo BII. Os valores de TC(0) são respectivamente 5,0(1) K e 6,99(1) K para as
amostras de Nb20 e Nb100, confirmando a supressão de TC quando a espessura
do filme é reduzida [121]. O segundo campo crítico (Bc2) em T = 0 K para esses
filmes de Nb também foi calculado usando a Eq. (4.4) para o caso da geometria
campo B⟘. Os valores encontrados são: Bc2⟘(0) = 3,7 T e Bc2⟘(0) = 4,6 T para os
filmes de Nb20 e Nb100, respectivamente. Os valores de Bc2⟘(0), derivados de
nossos dados, também sugerem uma redução do valor de Bc2⟘(0) com a
dimensionalidade da camada de Nb e são semelhantes aos relatados na
literatura para sistemas supercondutores [15,112].
64
2
3
4
5
6
Tc Nb100
(K) = 7,07(2) - 0,96(5) B - 0,14 (2) B2
TcNb100
(K) = 6,99(1) - 1,46(1) B
TcNb20
(K) = 5,10(1) - 1,38(1) B
Tc
Nb
20(K
)
B (T)
TcNb20
(K) = 5,10(1) - 0,07(1) B - 0,13 (1) B2
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,52
3
4
5
6
7
8
Tc
Nb
10
0(K
)
Figura 4.8: Comportamento de TC em função do campo magnético aplicado (B) para filmes [Nb20 símbolos pretos] e [Nb100 símbolos azuis]. Os círculos completos correspondem aos dados na configuração BC2||, enquanto os
quadrados são devidos aos dados na configuração BC2⟘. As linhas que passam pelos dados experimentais correspondem a ajustes usando funções polinomiais.
Para a geometria de campo aplicado paralelo (B||), os dados de TC(B)
foram ajustados com uma função quadrática. Valores similares de TC(0) de
7,07(2) K para o filme Nb100 e 5,11(1) K para o filme Nb20 foram novamente
obtidos (considerando as incertezas). Um fato interessante é que as funções
usadas nos ajustes dos dados experimentais [Fig. 4.8], em geral, seguem o
comportamento sugerido pela Eq. (4.5), exceto pela adição de um termo linear
com o campo na função. Tomando os comportamentos de TC é nítido primeiro
que para o filme de Nb100 apenas pequenas diferenças entre valores de TC
[obtidos na geometria de campo perpendicular (TC⟘) e paralela (TC||)] são vistas
em todo o intervalo de campos aplicados (não há grande variação para um dado
valor de campo). Por outro lado, uma grande diferença entre as duas curvas
TC(B) da Fig. 4.8 (TC⟘ e TC||) é claramente vista para a amostra de Nb20 (para
cada valor de B em altos campos). Essa diferença no comportamento de TC⟘ e
TC|| para as amostras de Nb20 e Nb100 pode ser atribuída principalmente ao
efeito de espessura (maior caráter anisotrópico no filme Nb20).
65
Na Fig. 4.9 é apresentado o comportamento da diferença de temperatura
de transição supercondutora ∆TC [definido pela Eq. (4.6)] dos filmes de Nb20 e
Nb100. Desta figura, é nítido o aumento linear com o campo de ∆TC no caso do
filme Nb20 para campos baixos (B < 1 T), lembrando que neste caso o campo
interno na camada SC é dado pelo campo aplicado menos a permeabilidade
magnética vezes a magnetização em um dado valor de campo (o campo interno
varia linearmente com a magnetização induzida pelo campo aplicado). No
entanto, a amostra de Nb100 apresenta um comportamento com o campo
aplicado bastante diferente, como se fosse um comportamento do tipo
exponencial (a curva ∆TC(B) sugere uma dependência para um regime de
saturação em B > 1 T). Dessa forma, os dados de ∆TC(B) para filmes de Nb100
foram ajustados com uma função exponencial, conforme sugerido pela Eq. (4.7).
Lembrando que este comportamento significa que o fator 𝛾 =𝐵𝐶2||(0)
𝐵𝐶2⟘(0) da Eq. (4.7)
é pequeno (redução do efeito anisotrópico causado pela dimensionalidade do
filme de Nb).
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
0,0
0,4
0,8
1,2
Tc Nb100
(K) = 0,5(2) {1 - exp[-2,3(2).B]}
Tc Nb20
(K) = 0,02(1) + 1,14(1)B
T
c (
K)
B (T)
Figura 4.9: Comportamento da variação de temperatura crítica (∆Tc) em função de B para os filmes Nb20 (triângulos pretos) e Nb100 (triângulos azuis). Esses
dados foram obtidos da Fig. 4.5, usando a definição ∆Tc = Tc|| - TC⟘. As linhas sólidas são funções matemáticas ajustados no comportamento dos dados.
66
Em outras palavras, essa diferença no comportamento de ∆TC(B) entre os
filmes de Nb puros (Nb20 e Nb100) pode ser entendida como uma sequência
direta do efeito de espessura dos filmes e como se comporta o campo magnético
interno na camada supercondutora de Nb. Para o filme de Nb20, o
comportamento de ∆TC(B) mostra a tendência linear esperada e discutida
anteriormente na Eq. (4.8), onde se espera que o efeito anisotrópico seja
dominante, mas com 1/𝛾 ≪ 1. Então, os resultados experimentais de ∆TC(B),
obtidos nesse trabalho, indicam experimentalmente que a redução da espessura
do Nb leva a um aumento do coeficiente de anisotropia (𝛾), tornando
insignificante o segundo termo na dependência da Eq. (4.7), como discutido no
início deste capítulo. Assim, para a amostra de Nb20 um comportamento linear
é observado para ∆TC(B), pelo menos, para os valores de campo magnético
explorado neste trabalho de tese. Não foi possível a investigação de ∆TC(B) para
maiores (B > 1 T) para o filme Nb20, pois a supressão máxima de TC⟘ ocorre em
temperaturas inferiores ao limite de temperatura que alcança nosso sistema de
medida (2 K), impossibilitando a investigação de ∆TC(B).
Todavia, para o filme Nb100 foi possível fazer estudo para campos
magnéticos mais altos, ou seja, quando a espessura do Nb aumentada cinco
vezes mais (100 nm), o coeficiente anisotrópico (𝛾) diminui significativamente,
aumentando o peso numérico do segundo termo na Eq. (4.7). O melhor ajuste
dos dados ∆TC(B) para o filme Nb100 foi obtido com uma função exponencial,
que captura, de alguma forma, o regime de saturação observado em altos
campos. O primeiro termo da equação tipo exponencial, usada ajustar a curva
∆TC(B) do filme Nb100, é simplesmente um deslocamento da variação ∆TC(B).
Nas próximas seções, esse modelo físico (aqui proposto) será utilizado para
investigar o campo magnético disperso (stray field) da camada FM em sistemas
de heteroestruturas híbridas (SC/FM) e até mesmo em sistemas híbridos tipo
válvula de spin supercondutora (VSS).
67
4.3 Resultados Experimentais dos Filmes Finos Híbridos Controles SCFM e Filmes Finos do tipo Válvulas de Spin Supercondutoras (VSS)
Nesta seção, resultados das caracterizações estruturais, medidas
magnetização e magneto-transportes em sistemas híbridos SC/FM e VSS serão
apresentados e discutidos. Os filmes híbridos são: (i) Nb(20-100)/Cu5/Co40 (ou
Nb(20-100)/Cu/Co), (i) Nb(20-100)/Cu5/Py2 (ou Nb(20-100)/Cu/Py) e (iii) Nb(20-
100)/Cu5/Py2/Cu5/Co40 (ou VSS20 e VSS100), conforme apresentado no
Capítulo 3. Portanto, será testada aqui a nova abordagem definida (descrita na
seção 4.1 deste capítulo) através do modelo anisotrópico de GL, para extrair
informações sobre a influência da camada FM nas propriedades SC dos filmes
de Nb.
4.3.1 Caracterização Estrutural das Heteroestruturas Híbridas SC/FM
Como muitas das propriedades são semelhantes nos sistemas Nb(20-
100)/Cu/Co, Nb(20-100)/Cu/Py e VSS20 e VSS100, aqui serão apresentados
alguns resultados estruturais dos filmes híbridos Nb(20)/Cu/Py e Nb(20)/Cu/Co,
conforme mostrado respectivamente na Figura 4.10 (a) e (b) [outros resultados
estão dispostos nos Apêndices C e D]. Em outras palavras, serão apresentadas
as características estruturais dessas duas amostras com intuito de entender a
influência dos efeitos de tensão nas camadas que compõem os sistemas
híbridos estudados. Ademais, (i) resultados estruturais de outras
heteroestruturas (aqui estudadas) estão disponíveis no Apêndice C e (ii) no
sistema híbrido VSS20 e VSS100, os picos de Bragg referentes as fases FCC
das camadas de Py, Co e Cu estão praticamente sobrepostos, devido à
similaridade entre seus parâmetros de redes, conforme será mostrado abaixo
com os resultados dispostos na Tabela 4.2.
68
Figura 4.10: Padrões DRX convencionais (Bragg-Brentano) normalizados para os filmes híbridos (a) Si(100)/Nb20/Cu5/Co40 e (b) Si(100)/Nb20/Cu5/Py2.
Os padrões DRX [Fig. 4.10(a) e (b)] indicam picos de Bragg bem definidos
tanto para o Nb20 [pico (110) da estrutura BCC] quanto para as outras camadas
de [Fig. 4.10(a)] Py e [Fig. 4.10(b)] Co; ambas com o plano (111) da estrutura
FCC. Ajustando individualmente os picos de Bragg, com linhas do tipo
lorentziana, suas posições angulares e larguras a meia altura foram
determinadas, e consequentemente os valores de tamanhos de grãos cristalinos
de cada fase (𝜏) usando a fórmula de Scherrer [97] e os parâmetros de redes (𝑎)
das fases através da Lei de Bragg foram calculados. Os resultados estão
dispostos na Tabela 4.2.
Tabela 4.2: Valores dos parâmetros de rede (𝑎) e do tamanho de grão (𝜏) obtidos de ajustes dos padrões DRX das heteroestruturas híbridas de Si(100)/Nb20/Cu5/Py2 e Si(100)/Nb20/Cu5/Co40.
Amostra 𝑎 (nm) (Nb) 𝜏 (nm) (Nb) 𝑎 (nm) (Cu/Co) 𝜏 (nm)
(Cu/FM) Nb20/Cu/Py 0,336 ± 0,002 6,9 ± 0,3 0,364 ± 0,0002 1,6 ± 0,3
Nb20/Cu/Co 0,334 ± 0,003 7,1 ± 0,2 0,353 ± 0,0003 4,7 ±0,2
Como discutido para os filmes Nb20, os picos de Bragg da camada de Nb
nos filmes híbridos de Nb20/Cu5/Py e Nb20/Cu5/Co40 também estão em
posições angulares similares e com larguras a meia altura análogas aos dos
69
filmes Nb20 (puros), sugerindo valores similares de parâmtro de rede e de
tamanho de grãos para as camadas de Nb. Estas condições sugerem que seus
valores de TC, em princípio, devem ser similares ao encontrado para o filme puro
de Nb (Nb20). Assim, possíveis mudanças nos valores de TC das camadas de
Nb dos filmes híbridos deve ser realmente atribuída à camada FM ou Py ou Co
ou de ambas no caso das estruturas híbridas SSV.
Com relação às camadas FM de Py ou Co, é possível inferir que seus
valores de parâmetros de redes da fase FCC do Co é ligeiramente próximo ao
respectivos valor de bulk, indicando que o crescimento das camadas FM (Py ou
Co) sobre uma camada semente de Cu não alterou significativamente os valores
do parâmetro de rede, consequentemente estas camadas também estão sujeitas
há uma possível tensão interna, que pode levar a diferentes estruturas de
domínios magnéticos.
4.3.2 Caracterização Magnética dos Filmes Finos Controles FM de Py e Co e das Heteroestruturas Híbridas SC/FM e VSS
Como a questão do campo magnético disperso das camadas FM (stray
field) é um ponto fundamental desse trabalho de tese, é importante que seja
apresentada um bom estudo das propriedades magnéticas dos filmes de Py e
Co crescidos sobre uma camada de Cu de 5 nm, que é a camada espaçadora
usada neste trabalho tanto entre as interfaces dos sistemas híbridos simples
SC/FM como nas interfaces FM1/FM2 dos sistema VSS. Além das curvas M(B)
dos filmes controles FM (Py e Co), serão também apresentadas curvas M(B) das
heteroestruturas híbridas SC/FM. Em todos os casos, os laços M(B) foram
medidos tomando o seguinte protocolo: o campo magnético da bobina
supercondutora do equipamento PPMS foi inicialmente zerado no modo
oscilante. Então, a amostra foi resfriada até a temperatura desejada (ou medidas
em 300 K). Em seguida, o laço M(B) foi medido partindo do campo zero até de +
3 T, posteriormente levando ao campo de – 3 T e finalmente ao campo de + 3 T
(perfazendo um ciclo fechado de campo), no caso de medidas para campo de
varredura de ± 3 T.
70
Na Figura 4.11 (a) e (b) são mostrados os laços M(B) registrados em 300
K nas configurações de campo magnético paralelo (B// - linhas vermelhas) e
perpendicular (B⟘ - linhas pretas) ao plano do filme para filmes controles FM
Cu5/Co40 e Cu5/Py2. Esses filmes são assumidos serem amostras controles
FM, pois só possuem as contribuições FM ou da camada de Py ou da de Co (Cu
tem caráter diamagnético, mas com sinal - 10-6, assim como a contribuição
diamagnética proveniente do substrato de Si, que foi previamente removida – há
um conhecimento prévio do comportamento de M(B) do Si). Ainda na Fig. 4.11
(c) e (d) são também plotados os laços M(B) [configuração de campo B⟘] para
duas temperaturas distintas 3 K (linha azul) e 10 K (linha marrom) para filmes
híbridos Nb20/Cu5/Co40 e Nb20/Cu5/Py2.
A discussão começa com os resultados dos filmes controles FM, uma vez
que suas propriedades magnéticas serão importantes para a discussão do efeito
de campo magnético disperso e/ou efeito de proximidade supercondutor nos
sistemas híbridos produzidos nessa tese. Por um lado, os dados da Fig. 4.11 (a)
sugerem que um campo aplicado de 0,15 T produz saturação da magnetização
da camada de Co na configuração de campo B||. Por outro lado, os dados da Fig.
4.11 (b) indicam que a camada de Py precisa de um campo magnético superior
(~ 0,3 T) para a saturação da magnetização na mesma configuração.
71
Figura 4.11: Curvas M(B) tomadas em 300 K nas configurações de campo
paralelo (B//- linhas vermelhas) e perpendicular (B⟘-linhas pretas) ao plano do filme para os sistemas controle FM (a) Cu5/Co40 e (b) Cu5/Py2. Em (c) Nb20/Cu5/Co40 e (d) Nb20/Cu5/Py2 são também mostrados os laços M(B)
obtidos na configuração de campo perpendicular (B⟘) e registrados em 3 K (linhas azuis) e 10 K (linhas marrons). As configurações dos campos utilizados estão representadas no canto esquerdo superior dos gráficos (a) e (c).
Já para a configuração de campo B⟘, a magnetização de saturação do Py
ocorre em aproximadamente 0,5 T [Fig. 4.11 (b)], enquanto que a magnetização
do Co só atinge a saturação acima de 2 T [Fig. 4.11 (a)]. Os comportamentos
acima discutidos para as camadas de Py e Co [Fig. 4.11 (a) e (b)], para
configuração de campo B⟘, são justificados pelo fato de que a energia magnética
da camada de Co é governada pela contribuição da energia magnética
anisotrópica de forma, sugerindo que uma grande parte dos spins da camada de
Co se encontra paralelo ao plano do filme. Entretanto, como será discutido mais
adiante, há uma fração de spins de Co perpendicular ao plano do filme (vide alta
remanência para configuração de campo B⟘).
72
Em baixas temperaturas (ex.: 10 K), as contribuições das camadas FM
para as curvas M(B) são semelhante às encontradas nos laços medidos em 300
K na mesma configuração de campo [vide Fig. 4.11 (c) e (d) para o sistema
híbrido], exceto pelo fato de que os valores do campo coercivo (HC) se tornam
mais altos, como esperado para ferromagnetos macios. Todavia, os laços M(B)
tomados em 3 K possuem duas contribuições distintas (diamagnética e
ferromagnética) superpostas, ou seja, as contribuições do estado SC do Nb
(diamagneto perfeito) e do estado FM do Py ou Co. Como visto acima, o maior
valor de TC medido em filmes de Nb (dNb =100 nm) neste trabalho foi de 7 K.
Consequentemente, em 10 K somente a camada FM (Co ou Py) contribui para
o laço M(B) dos filmes híbridos (essa temperatura foi assumida com a
temperatura que a amostra tinha que ser levada antes de ser resfriada em
processo de ZFC).
Voltando às propriedades magnéticas dos filmes controles FM [Fig. 4.11
(a) e (b)], outro ponto importante é que a curva M(B), obtida na configuração de
campo B⟘, tem um aumento abrupto da magnetização do Co, em campos
magnéticos baixos (~ 0,1 T), antes de crescer linearmente com o aumento na
intensidade do campo B. Em outras palavras, após o salto no valor da
magnetização (próximo a origem de campo B), a mesma cresce quase
linearmente com aumento da intensidade do campo B até atingir a saturação
para valores da ordem ou maiores do que 2 T. Assim, esse aumento abrupto da
magnetização do Co (observado na configuração de campo B⟘) sugere que uma
fração de spins da camada de Co tem seu eixo de fácil magnetização
perpendicular ao plano do filme e, portanto, será assumido que há uma fração
de spins de Co perpendicular ao plano do filme (spins-⟘). A outra fração de spins
de Co paralela ao plano do filme (spins-||) é suportada (i) pelo crescimento linear
da magnetização com o campo B⟘ e (ii) pela energia de anisotropia de forma que
impõe spins no plano como mínima energia magnética do sistema (a fração
spins-|| é proveniente do fato de que a camada de Co é relativamente espessa
(40 nm) e, portanto, tendo uma grande contribuição da anisotropia de forma que
favorece spins no plano dos filmes como forma de minimizar a energia
magnetostática). Essas duas configurações de spins (spins-⟘ e spins-||) na
camada de Co provocam uma distribuição não homogênea de domínios
magnéticos nos filmes de Co crescidos ou sobre Cu e ou sobre Nb/Cu. Por sua
73
vez, esta distribuição não homogênea de spins da camada de Co será a
responsável pela presença de campo magnético disperso da camada FM [campo
magnético fora (na vizinhança) da região do filme] e que, portanto, poderá atuar
sobre a camada SC de Nb. Ademais, essas estruturas de domínios magnéticos
podem ser modificadas com aplicação de campos externos, conforme reportado
na literatura [114], principalmente com medidas na configuração B⟘.
Ao contrário, as propriedades magnéticas da camada de Py são
ligeiramente distintas daquelas medidas para a camada de Co. Primeiro, os spins
da camada de Py saturam mais rapidamente se comparados com os da camada
de Co para a configuração B⟘. Além disso, os spins da camada de Py não estão
inteiramente no plano do filme, conforme indicam os dados do laço M(B) tomados
na configuração de campo B// [Fig. 4.11(b)], ou seja, não há uma rápida
saturação da magnetização da camada de Py para medidas com campo B//. A
explicação para tal efeito presente na camada de Py vem do seu crescimento na
geometria de incidência rasante do feixe de vapor e com o substrato parado,
onde grãos cristalinos colunares e inclinados (com relação ao plano do substrato)
são gerados e impõe magnetização ligeiramente fora do plano do substrato
[88,114,115]. Como sua espessura é pequena, relativa aquela da camada de Co,
sua energia de anisotropia de forma não imporá spins no plano e seguirão a
tendência do formato dos grãos cristalinos de Py. Os domínios magnéticos então
são do tipo “cilindros” largos e com direção para fora do plano do filme, não
perpendicular, mas seguinte a geometria dos grãos cristalinos (tipo tubos
inclinados), conforme reportado na literatura científica [28].
Dito isso, é possível inferir que para a configuração de campo B⟘, o vetor
campo magnético efetivo Bef será a soma vetorial do campo magnéticos aplicado
(B) mais o campo magnético disperso (BFM) proveniente da camada FM
(contribuição da camada de Co e/ou de Py). Esse campo Bef deve influenciar
significativamente as propriedades supercondutoras da camada de Nb, quando
a contribuição dos domínios magnéticos fora do plano for gradualmente
modificada pela mudança na intensidade do campo B [114].
Considerando que neste trabalho a espessura da camada de Nb (dNb) foi
alterada (dois valores foram usados: 20 e 100 nm), o entendimento das
propriedades magnéticas das camadas FM crescidas sobre uma camada de Nb
mais espessa e ao mesmo tempo nas heteroestruturas do tipo VSS será
74
apresentado abaixo antes de se iniciar a discussão das propriedades de
magneto-transporte dos filmes híbridos NbFM. Os laços M(B) serão plotados na
Figura 4.12 (a) e (b) para configuração de campo B⟘ para os filmes híbridos
Nb100/Cu5/Co40 e Nb20/Cu5/Co40. Os laços M(B) tomados na configuração de
campo B|| são semelhantes aos apresentados na Fig. 4.11 (a), ou seja, indicam
que a saturação da magnetização de Co é atingida para campos de 0,1 T (a
maioria dos spins do Co estão no plano do filme).
Da mesma forma, os laços M(B) obtidos de dois filmes híbridos a base de
Co [Nb(dNb)/Cu5/Co40] sugerem que a magnetização da camada de Co
apresenta características semelhantes as aquelas discutidas acima, onde há
primeiro um aumento rápido da magnetização nas regiões de campo (B) baixo
(< 0, 2 T), para posteriormente haver um crescimento linear até atingir a
saturação para campos maiores do que 2 T. O que é possível constatar é que à
medida que o valor de dNb cresce, o valor da remanência diminui, indicando que
uma fração menor de spins de Co com configuração perpendicular ao plano do
filme (menor fração de spins-⟘). Desta forma, assumindo uma proporcionalidade
direta entre a magnetização e a espessura da camada de Co (área semelhante
para as frações magnéticas e as mesmas sendo formadas por camadas
adjacentes contínuas) e o fato de haver uma grande remanência para os filmes
contendo Co, as frações de magnetização do Co fora do plano (spins-⟘) nas
amostras de Nb20/Cu/Co40 e Nb100/Cu/C040 foram então estimadas. No caso
do filme híbrido Nb100/Cu/Co40, seu valor de remanência sugere uma
espessura de 5 nm de Co com spin-⟘, enquanto 10 nm da camada de Co têm
spin-⟘ para o filme híbrido Nb20/Cu5/Co40.
A explicação física para essa diferença nas frações de spin-⟘ da camada
de Co entre as duas amostras (Nb20/Cu/Co40 e Nb100/Cu/Co40) deve ser a
redução da tensão interna na camada de Nb à medida que dNb aumenta,
consequentemente propagando menor tensão para as camadas adjacentes de
Cu e Co em sequência. A redução na tensão interna na camada de Nb foi
experimentalmente verificada com a tendência de aproximação do valor do
parâmetro de rede ao valor esperado para o Nb bulk quando a espessura de Nb
do filme aumentou (Tabela 4.1). Finalmente, como dito acima e, enfatizado aqui,
essas duas frações spins (spins-|| e spins-⟘) conduz a um campo magnético não
75
homogêneo próximo a superfície da camada FM (Co) que, por sua vez, atuará
sobre os pares de Cooper quando eles tunelarem para a camada FM, através da
camada de Cu [21,35,115].
Figura 4.12: Curvas M(B) tomadas em 300 K nas configurações de campo
paralelo (B//- linhas vermelhas) e perpendicular (B⟘-linhas pretas) ao plano do filme para os sistemas controle FM (a) Nb100/Cu5/Co40 e (b) N20/Cu5/Co40. Em (c) e (d) são também mostrados os laços M(B) obtidos na configuração de
campo perpendicular (B⟘) e registrados em 3 K (linhas azuis) e 10 K (linhas marrons) para a VVS20. As configurações dos campos utilizados estão representadas no canto esquerdo superior dos gráficos (a) e (c).
Na Figura 4.12 (c) e (d) são apresentados os laços de M(B) para a VSS20
[Nb20/Cu5/Py2/Cu5/Co40] tomados configuração de campo B⟘ para as
temperaturas de 10 K (linha marrom) e 3 K (linha azul). Novamente, no laço M(B)
tomado em 3 K, são nítidas as contribuições do estado SC (diamagnético
perfeito) do Nb e do estado FM do Py e Co. Em 10 K, o laço M(B) é praticamente
devido a soma vetorial das magnetizações (anisotropias) das camadas de Py e
de Co, que, como demonstrado acima, têm distintos campos de anisotropias
76
magnéticas. Desta forma, o laço M(B) da VSS20 é mais complexo e não há
possibilidade de separação das distintas contribuições FM, menos estando o Nb
no estado paramagnético em 10 K.
4.3.3 Determinação da Influência Sobre o Valor de TC do Nb do Espaçador Metálico de Cu nas Heteroestruturas Híbridas SC/FM (VSS)
No intuito de se investigar a influência do espaçador não-magnético (NM)
de Cu em heteroestruturas híbridas SC/FM, foi escolhido o sistema híbrido
VSS20 com espessuras distintas da camada de Cu, ou seja, o sistema
Nb20/Cu(dCu)/Py2/Cu(dCu)/Co40.
Desta maneira, foram produzidas heteroestruturas híbridas (VSS20) com
dCu = 5 (previamente discutida); 2,5 e 0 nm. Na Figura 4.13 (a) são apresentadas
as curvas de R(T)/R0, tomadas em campo de prova nulo (B = 0T), para as SSV
Nb20/Cu5/Py2/Cu5/Co40 (símbolos pretos), Nb20/Cu2,5/Py2/Cu2,5/Co40
(símbolos vermelhos) e Nb20/Cu0/Py2/Cu0/C040 (símbolos azuis). Na Figura
4.13 (b) são apresentados os dados de TC vs. dCu. De acordo com a Fig. 4.13 (a)
e (b) é nítido observar que à medida que o valor de dCu diminui, há uma redução
linear e significativa nos valores de TC dos filmes com dNb = 20 nm [Fig. 4.13(b)].
Essa redução nos valores de TC é basicamente provocada pelos efeitos de
campos dispersos e de proximidade da camada FM sobre a camada SC de Nb.
Assim, retirar a camada espaçadora de Cu provoca uma redução significativa no
valor de TC de até (1,4 ± 0,3) K. Esse baixo valor de TC, para amostra sem
espaçador de Cu, inviabiliza tomadas de curvas de R(T, B) na configuração de
campo B⟘, pois, como já dito, nosso equipamento de medida tem uma limitação
em temperatura (menor valor é de 2 K).
Como descrito no Cap. 3, foi escolhido trabalhar nesta tese de doutorado
o valor dCu = 5 nm como espaçadores nos sistemas híbridos em geral pois: (i)
nos possibilita valores relativamente altos de TC para as camadas SC de Nb
(possível de estudar as propriedades com campo externo), (ii) evita a possível
camada morta magnética que pode se formar na interface Nb/FM, afetando
diretamente as propriedades supercondutoras do material (TC) como relatado
por outros trabalhos [21,35] e, (iii) esse espaçador [dCu(5 nm)] entre as camadas
FM de Py e Co, nos sistemas VSSs, respectivamente, favorece o
77
desacoplamento magnético entre estas camadas FM, que tem baixas interações
magnéticas [21,35].
Figura 4.13: (a) Curvas de resistências elétricas normalizadas, R/R0, em função da temperatura para as VSS com diferentes espessuras de Cu (dCu): Nb20/Cu5/Py2/Cu5/Co40 (símbolos pretos), Nb20/Cu2,5/Py2/Cu2,5/Co40 (símbolos vermelhos) e Nb20/Cu0/Py2/Cu0/C040 (símbolos azuis). Em (b), o comportamento de TC vs dCu desses filmes SSV (em vermelho o ajuste linear dos dados). 4.4 Determinação do Campo Magnético Disperso (Stray Field) das Camadas FM (Co e Py) nos Filmes Finos Híbridos Controles (Nb/Cu/FM) e VSS
Nesta seção, o modelo desenvolvido na Seção 4.1 será testado nos dados
experimentais, objetivando determinar o valor de campo magnético disperso
(BFM) de uma camada FM sobre a camada SC de Nb nas heteroestruturas do
tipo Controles (Nb/Cu/FM com FM = Co ou Py) e nas VVS. Mais uma vez,
segundo problemas clássicos da teoria eletromagnética e magnetismo, filmes
finos infinitos uniformemente magnetizados (independentemente se a
magnetização da camada estiver no plano ou fora dele), o valor do campo
magnético disperso (fora do filme) é sempre nulo na ausência de campos
magnéticos aplicados [116]. Entretanto, como já demonstrado acima, as
magnetizações das camadas FM (Co ou Py) em nossos sistemas híbridos
Nb/Cu/FM não são homogêneas, consequentemente é esperado um campo
magnético disperso não nulo fora da camada FM. Antes de tratar do caso híbrido
com configuração das camadas mais complexa (VSS), serão tratados
78
individualmente os casos dos sistemas controles híbridos Nb/Cu/FM com FM =
Co ou Py, nas próximas seção.
4.4.1 Determinação do Campo Magnético Disperso (Stray Field) da Camada de Co (BCo) em Filmes Híbridos Nb/Cu/Co
Na Figura 4.14 são mostradas as curvas R(T, B)/R0 onde R0 = R(T=10 K,
B= 0 T). Essas curvas foram obtidas em um intervalo de temperatura próximo
aos valores de TC e para campos magnéticos aplicados nas configurações:
paralela (B//- curvas do lado esquerdo) e perpendicular (B⟘- curvas do lado
esquerdo) ao plano para os filmes híbridos Nb20/Cu5/C040 (a) e
Nb100/Cu5/Co40 (b).
Figura: 4.14: Curvas de R(T, B)/R(B = 0, T = 10 K) (ou simplesmente R/R0) para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Co40 (a) e Nb100/Cu5/Co40 (b). Os experimentos foram realizados nas duas configurações de campo aplicado: paralelo (B||: lado
direito) ou/e perpendicular (B⟘: lado esquerdo) ao plano da amostra.
Diante disso, como pode ser observado na Fig. 4.14 (a) e (b), há uma
diferença nos valores de TC para campos aplicados perpendicular ao plano da
79
amostra (B⟘) quando comparados com os campos aplicados paralelo (B||).
Novamente como observado nos filmes controles de Nb, a supressão (redução)
nos valores de TC é mais nítida no filme híbrido com a camada de Nb mais fina
(dNb = 20 nm). Esse comportamento está intimamente relacionado a
dimensionalidade da camada SC de Nb [13] e seus efeitos de tensões internas,
supondo, em primeira aproximação, que a redução provocada pela camada FM
é praticamente igual em ambos os casos. Além disso, vale frisar que os valores
de TC dos filmes híbrido Nb20/Cu5/Co40 e Nb100/Cu5/Co40 são inferiores aos
dos filmes controles SC (filmes Nb20 e Nb100) apresentados anteriormente. Isso
indica claramente a influência do magnetismo da camada FM de Co sobre a
camada SC de Nb, já que os filmes de Nb têm sido replicados (ao longo de
alguns anos no LEMAG) com valores similares de TC [36]. A camada espaçadora
de Cu não é responsável diretamente pela redução de TC, mas ajuda a diminuir
os efeitos de proximidade e do campo magnético disperso da camada FM [vide
Fig. 4.13(b)]. Sob nossas condições experimentais, valores de TC mensuráveis
(nos sistemas híbridos em campo zero) foram obtidos para dNb ≤ 100 nm; uma
espessura que não nos limitaria para as análises físicas propostas neste trabalho
(efeito anisotrópico em sistemas SC/FM de baixa dimensionalidade).
A Figura 4.15 é construída com os dados de TC tomados a partir da Figura
4.14 (a) e (b). Então, nesta figura se tem os comportamentos de TC(B) para os
filmes híbridos Nb(20 e 100)/Cu5/Co40, para as configurações de campos B||
(círculos completos) e B⟘ (quadrados completos) ao plano do filme. Os dados
experimentais TC(B) foram ajustados com funções polinomiais previstas pela
teoria G-L para supercondutores anisotrópicos (linhas magentas para os ajustes
com funções quadráticas e linhas vermelhas para ajustes com funções lineares).
Qualitativamente, pequenas diferenças são novamente observadas, agora em
sistemas híbridos, entre TC⟘(B) (quadrados) e TC||(B) (círculos) para o filme de
Nb100/Cu5/Co40, mas alterações significativas são encontradas em dados da
amostra mais fina (Nb20/Cu5/Co40), quando o campo aplicado é superior a 0,25
T (este efeito também foi observado nos filmes controles SC Nb20 e Nb100
discutidos acima).
Mais especificamente, os dados de TC⟘(B) sugerem comportamentos do
tipo lineares para ambos os filmes híbridos, como previsto pela teoria
anisotrópica G-L (Eq. 4.5). Os seguintes parâmetros foram obtidos
80
respectivamente para os filmes de Nb20/Cu5/Co40 e Nb100/Cu5/Co40: TC⟘ =
4,12(2) e 6,33(2) K e BC2⟘(0) = 3,1(1) e 4,1(1) T. Primeiro, esses parâmetros
serão fundamentais para o cálculo do campo magnético disperso que será
calculado adiante. Em segundo lugar, com esses parâmetros físicos, obtidos
para os sistemas SC puro e híbridos SC/FM, é possível, por exemplo, mensurar
as alterações relativas (em relação aos filmes controles SC) dos valores de TC e
Bc2⟘(0). Para os filmes com dNb=20 nm, há uma redução relativa de
aproximadamente 10% e 15% para os valores de TC e Bc2⟘(0), respectivamente.
Em outras palavras, essas redução nos valores de TC e Bc2⟘(0) para os filmes
híbridos (com respeito aos valores nos filmes controles SC de Nb) indicam
diretamente a influência da camada FM de Co sobre essas propriedades [TC e
BC2⟘(0)], já que a camada espaçadora de Cu (que reduz os efeitos do campo
magnético disperso e de proximidade devido o possível contato direto) não afeta
o valor de TC da camada de Nb, conforme experimentalmente constatado [36].
2
3
4
5
TcNb100/Co40
(K) = 6,36(2) -1,26(4) B - 0,03 (2) B2
TcNb20/Co40
(K) = 4.07(1) - 0.24(2) B - 0.02 (1) B2
TcNb100/Co40
(K) = 6,33(1) - 1,55(1)B
TcNb20/Co40
(K) = 4,12(1) - 1,34(2)B
Tc
Nb
/Co
20(K
)
B (T)
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.52
3
4
5
6
7
Tc
Nb
/Co
100(K
)
Figura 4.15: Comportamento de TC em função do campo magnético aplicado (B) para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Co40 (símbolos pretos) e Nb100/Cu5/Co40 (símbolos azuis). Os círculos completos correspondem aos dados na configuração BC2||, enquanto os quadrados são devidos aos dados na
81
configuração BC2⟘. As linhas que passam pelos dados experimentais correspondem aos ajustes usando funções.
Na Figura 4.16 é mostrado o comportamento do parâmetro ΔTC(B) obtido
a partir dos dados dispostos na Figura 4.15 para os filmes híbridos
Nb20/Cu5/Co40 e Nb100/Cu5/Co40. Enquanto um ajuste linear foi obtido para o
filme híbrido Nb20/Cu5/Co40, uma função do tipo exponencial foi usada para
analisar dos dados do filme híbrido Nb100/Cu5/Co40 até campos de 1,3 T. As
funções e seus coeficientes, obtidas dos ajustes dos dados experimentais,
também são mostradas na Fig. 4.16. Dessa forma, comparando os resultados
de Nb20 (Fig. 4.9) e os dos filmes híbridos Nb20/Cu5/Co40 (Fig. 4.16),
mudanças mensuráveis nos valores de ΔTC(B) são observadas, ou seja, na faixa
de campos baixos (< 1 T), as taxas de variação de ΔTC para esses sistemas são
respectivamente de 1,14(1) K/T e 1,04(2) K/T. Logo, há uma diferença de 0,10(2)
K/T, que é atribuída exclusivamente à camada FM de Co. Por outro lado,
enquanto um regime de saturação de ΔTC(B) ocorre para o filme de Nb100 puro
(Fig. 4.9), os dados ΔTC(B) do filme híbrido Nb100/Cu5/Co40 parecem “oscilar
(flutuar)” quando a intensidade do campo magnético aplicado é superior a 1,3 T
(região de alto campo).
82
Figura 4.16: Comportamento anisotrópico da temperatura crítica (ΔTC) em função do campo aplicado B para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Co40 (triângulos pretos) e Nb100/Cu5/Co40 (triângulos azuis). Esses dados são obtidos dos dados mostrados na Fig.4.15. Linhas sólidas são resultados dos ajustes. Esquemas de filmes híbridos mostrados na parte inferior da curva (triângulos azuis) são para representar o campo não homogêneo (variação na configuração de spins) na amostra Nb100/Cu5/Co40 em função de B.
A Figura 4.17 corresponde a parte dos dados apresentados nas Figuras
4.9 e 4.15 [comportamento de ΔTC(B) para campos magnéticos inferiores a 1 T
para as amostras de Nb100 e híbrida Nb100/Cu5/Co40]. Ambas as curvas de
ΔTC(B) foram ajustadas com funções puramente exponenciais. Os valores de
ΔTC(B) são muito mais suprimidos para o filme híbrido Nb100/Cu5/Co40 do que
para a amostra de Nb100 pura, similarmente ao observado para os filmes
correspondentes para espessura mais fina da camada de Nb (dNb = 20 m).
Portanto, essa diferença mensurada no comportamento de ΔTC(B) das amostras
Nb100 [comportamento do tipo exponencial sugerido pela Eq. (4.7)] e híbrido
Nb100/Cu5/Co40, pode definitivamente ser atribuído à influência da camada FM
de Co. Em particular, sua origem pode ser atribuída a dois efeitos: (i) campo
magnético disperso da camada FM e (ii) efeito da transição do estado SC
singleto (S) para tripleto (T), ocasionado pelo efeito de campo magnético interno
não homogêneo na camada FM de Co (duas frações de spins da camada FM de
Co: spins-⟘ e spins-||). A transição dos pares de Cooper S-T é reportada na
83
literatura como sendo a única causa da variação de TC em VSS e sua explicação
tem sido dada assumindo que os pares de Cooper entram em regiões
ferromagnéticas não homogêneas e ganham energia, favorecendo a transição
S-T [93].
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
0,0
0,2
0,4
0,6
Tc Nb100/Co40 (K) = 0,4(2) {1 - exp[-1,6(2).B] }
Tc Nb100 (K) = 0,5(1) {1 - exp[-2,3(2).B ] }
T
c (
K)
B (T)
Figura 4.17: Comportamento da variação da temperatura crítica (ΔTc) em função de B para os filmes Nb100 (triângulos azuis completos) e Nb100/Cu5/Co40 (triângulos azuis abertos). Linhas sólidas são resultados dos ajustes, com funções do tipo exponencial indicadas na figura.
No nosso caso, comparando com os dados de ΔTC(B) da Fig. 4.9 (filmes
controle SC de Nb) e da Fig.4.17 (filmes híbridos Nb/Cu/Co), fica claro que a
camada FM (Co) está afetando as propriedades supercondutoras dos filmes de
Nb de maneira diferente. Na amostra híbrida Nb20/Cu5/Co40, a camada FM (Co)
provoca alterações na taxa de ΔTC(B) com um comportamento linear. No
entanto, para o filme híbrido Nb100/Cu5/Co40, dois regimes são observados. No
Regime I, para campos menores que 1,3 T, é encontrada uma tendência
exponencial, mas com coeficientes diferentes quando comparados ao filme Nb
puro. No Regime-II, para faixa de campo (> 1,3 T), além do comportamento
exponencial encontrado no filme puro de Nb100, a grandeza ΔTC(B) do sistema
84
híbrido parece ter uma contribuição adicional que leva a uma pequena flutuação
(oscilação) no comportamento de ΔTC(B).
É factível então dizer que a diferença de ΔTC(B) nos comportamentos dos
filmes de Nb mais finos e mais espessos (Figs. 4.9 e 4.16) deve, em primeiro
lugar, ser associada à anisotropia dos filmes SC de Nb induzida pelo efeito de
sua espessura (dNb). Para filmes mais finos de Nb (sistema puro ou híbrido), um
comportamento linear é experimentalmente encontrado e teoricamente previsto
pela Eq. (4.8) para o comportamento de ΔTC(B) (alto efeito anisotrópico devido
ao efeito de espessura da camada SC). Entretanto, é também nítida a influência
da camada FM de Co nas propriedades SC da camada de Nb nos sistemas
híbridos Nb/Co, conforme já previamente discutido. Para aprofundar um pouco
mais na discussão, é necessário observar os dados dos laços M(B)
anteriormente discutidos para os filmes a base de Co. Os laços M(B) dos filmes
híbridos Nb20/Cu5/C040 e Nb100/Cu5/Co evidenciaram claramente a existência
de duas contribuições de magnetizações (spins de Co): a fração spins-⟘ e a
outra com spins-||. Esses domínios magnéticos geram campos não homogêneos
que, por sua vez, favorecem, por exemplo, o efeito de proximidade
supercondutor (transição S-T), mas também provoca um valor significativo para
o campo magnético disperso da camada FM sobre a camada SC de Nb. Então,
essas duas contribuições não podem ser mutuamente excluídas e o mais
interessante, como será mostrado mais adiante, o campo magnético disperso
(até então praticamente desconsiderado) tem um papel importante no efeito de
válvula de spin supercondutora (variação de TC supercondutor devido mudanças
nas estruturas magnéticas)
Em particular, sobre o comportamento de ΔTC(B) encontrado no filme de
Nb100/Cu5/Co40 para campos acima de 1,3 T [Fig. 4.16] e com o esquema de
spins do Co descrito na seção 4.3.1 (fração de spin-⟘ mudando gradualmente
com a magnitude do campo aplicado), a flutuação (oscilação) no comportamento
exponencial (observado no filme de Nb100) do filme híbrido Nb100/Cu5/Co40,
foi anteriormente encontrada em multicamadas Nb/Gd e esse tipo de oscilação
nos valores de TC SC foi atribuída a polarização dos pares de Cooper pela
mudança de orientação das camadas FM quando sua espessura é mudada [81].
Em outras palavras, os autores demonstraram que há alterações nos valores de
85
TC, provocando um comportamento do tipo oscilatório de TC, quando a
espessura da camada FM (Gd) é alterada.
No nosso caso, a diferença no comportamento de ΔTC(B) observada entre
os dados dos filmes controle de Nb100 e híbrido Nb100/Cu5/Co40 também
podem estar associados, além do mencionado acima [81], aos efeitos de campo
magnético disperso e de proximidade [21,35,117]. Ademais, em campos altos
aplicados, os dados de ΔTC (B) sugerem que, mesmo que seja assumida a
principal contribuição devido ao efeito de proximidade e alterações adicionais na
fração de spin (spin-|| para spin-⟘ quando a magnitude do campo aplicado
aumenta), o campo não homogêneo da camada de Co não está resultando em
uma modificação suave de TC devido à transição S-T dos pares de Cooper
reportada na literatura [21,35].
Finalmente, objetivando quantificar o valor do campo magnético disperso
da camada FM nos filmes híbridos, o modelo anisotrópico G-L será aplicado no
caso dos filmes menos espesso, onde o comportamento linear de ΔTC (B) foi
experimentalmente observado (Fig. 4.16). De acordo com o modelo proposto, os
dados sugerem que para essas condições experimentais, temos a seguinte
condição:
1
𝛾
𝐵𝑒𝑓(𝐵)
𝐵𝐶2⟘ 𝑁𝑏20/𝐶𝑜40(0)≪ 1
onde agora Bef deve ser entendido como um campo magnético efetivo
experimentado pela camada supercondutora de Nb devido as duas principais
fontes: campo magnético aplicado e campo magnético disperso da camada FM
(o campo gerado pela magnetização induzida pelo campo aplicado tem sido
desconsiderada em primeira aproximação). Sob essas condições, a Eq. (4.8) é
reescrita da seguinte maneira:
∆𝑇𝑐(𝐵) =𝑇𝐶 ⟘𝑁𝑏20/𝐶𝑜40(0)
𝐵𝐶2⟘ 𝑁𝑏20/𝐶𝑜40(0)𝐵𝑒𝑓(𝐵)
(4.10)
86
onde 𝐵𝑒𝑓 = 𝐵 + 𝐵𝐶𝑂(𝐵) com B sendo o vetor campo aplicado e 𝐵𝐶𝑂(𝐵)
relacionado com o vetor campo magnético disperso da camada FM (Co) sentido
pela camada supercondutora. Observe que o campo magnético disperso da
camada FM de Co [𝐵𝐶𝑂(𝐵)] também depende do campo aplicado B, resultado
que está intimamente relacionado com o comportamento magnético da camada
ferromagnética mostrado nos laços M(B) [duas frações de spins de Co (spin-⟘ e
spin-||). Os dados de magnetização da camada de Co para configuração de
campo 𝐵⟘ sugerem que há uma mudança praticamente linear nos valores da
magnetização à medida que a intensidade do campo aplicado B aumenta até
antes do regime de saturação, que ocorre acima de 2 T. Considerando os
resultados mostrados na Fig. 4.11 (a) e (c) e as discussões sobre elas feitas, é
plausível de se assumir que haja, em primeira aproximação, uma dependência
linear do campo magnético disperso da camada de Co dada por: 𝐵𝐶𝑂(𝐵) =
𝜑𝐶𝑜 + 𝛽𝐶𝑜𝐵. Então, incluindo todas essas considerações, a Eq. (4.10) pode ser
novamente reescrita como:
Sendo assim, a Eq. (4.11) realmente nos fornece uma relação linear para
dependência de ΔTC(B), como experimentalmente demonstrado com os dados
exibidos na Fig. 4.16. Ademais, a Eq. (4.11) fornece diretamente informações
sobre o campo magnético disperso da camada FM (Co) para a condição de
campo B nulo, ou seja, BCo(0). Essa quantidade é identificada com o coeficiente
linear 𝜑 da Eq. 4.11. Finalmente, usando os valores determinados
experimentalmente acima [Tc⟘Nb20/Co40 = 4,12(2) K e BC2⟘ Nb20/Co40 (0) = 3,1(1) T]
e o coeficiente linear [obtido a partir do ajuste linear dos dados de ΔTC(B)
(Fig.4.15)], o valor de BCo(0) é calculado, ou seja, 𝐵𝐶𝑂(0) = −(8,5 ± 0,1) 𝑚𝑇.
Voltando ao problema clássico de campo magnético disperso (stray field)
de um filme fino com magnetização uniforme, geralmente considera o fator de
desmagnetização e/ou geometria simples da amostra (por exemplo, planos
∆𝑇𝑐(𝐵) =𝑇𝐶 ⟘𝑁𝑏20/𝐶𝑜40(0)
𝐵𝐶2⟘ 𝑁𝑏20/𝐶𝑜40(0)𝜑𝐶𝑜 +
𝑇𝐶 ⟘𝑁𝑏20/𝐶𝑜40(0)
𝐵𝐶2⟘ 𝑁𝑏20/𝐶𝑜40(0) (𝛽𝐶𝑜 + 1)𝐵
(4.11)
87
infinitos), que fornece expressões simples para o vetor campo B (indução
magnética). Em geral, os valores do campo magnético disperso é nulo para
regiões fora do filme, quando a magnetização estiver no estado saturado.
Todavia, para obter valores reais de campos dispersos em filmes finos FM é
preciso considerar efeitos realistas de tamanho finito, geometria da amostra,
magnetização não uniforme, entre outros [117], pois como mostrado acima há
um campo magnético disperso devido a camada FM de Co com domínios não
saturados e produzindo magnetização não homogênea.
Do ponto vista físico, o campo magnético disperso tem, pelo menos, duas
fontes: (i) desmagnetização não uniforme e (ii) campos uniaxiais complexos
(grãos tipo agulhas cruzados). No nosso caso, a primeira fonte advém da
existência de duas frações de spins (⟘ e ||) na camada FM (Co) em campo zero
(magnetização não homogênea), enquanto a segunda fonte é devida ao
procedimento de preparação da camada de Co, onde a anisotropia uniaxial é
induzida pelo efeito de sombra [28]. Assim, considerando os pontos acima, o
valor de -(8,5 ± 0,1) 𝑚𝑇 parece ser consistente com o campo de poucos Gauss
(G), relatado na literatura para camadas FM [117]. O campo de troca da camada
FM que polariza os spins dos elétrons da camada espaçadora de Cu não pode
ser completamente descartado, mas não temos nenhuma evidencia de sua
contribuição direta, exceto pelo comportamento mostrado na Fig. 4.13(b).
Todavia, essa contribuição não será analisada nesse trabalho de tese e pode
ficar como trabalhos futuros dentro do grupo.
Voltando a análise, cabe também ressaltar que o coeficiente 𝛽 representa
fisicamente a taxa de variação da reorientação dos spins do Co do plano para
fora do plano (spin-|| para spin-⟘) com o campo aplicado B, 𝛽𝐶𝑜 =𝑑𝐵𝐶𝑜
𝑑𝐵, ou seja,
nos dá informações da modificação na estrutura de spins (domínios magnéticos
da camada), e consequentemente da modificação do campo magnético disperso
da camada FM influenciada pelo campo magnético aplicado B. Então, levando
em consideração Tc⟘Nb20/Co40 = 4,12(2) K e BC2⟘ Nb20/Co40 (0) = 3,1(1) T, como
discutido anteriormente, o valor de 𝛽 =𝑑𝐵𝐶𝑜
𝑑𝐵= (−0,22 ± 0,02) é quantificado.
Um ponto interessante a ser observado, antes de efetivamente finalizar
esta seção, é que a abordagem teórica demonstrada nesta tese é um ponto de
partida para quantificar os possíveis efeitos das camadas FM em filmes finos SC.
88
Seguindo esse raciocínio, será então estudado também o campo magnético
disperso (stray field) da camada de Py em filmes híbridos SC/Py e nas VSS nas
próximas seções.
4.4.2 Determinação do Campo Magnético Disperso (Stray Field) da Camada de Py (BPy) em Filmes Híbridos Nb/Cu/Py
Como discutido anteriormente para os filmes híbridos Nb/Cu/Co, foram
tomadas medidas de magneto-transporte R(T,B) em um intervalo de temperatura
próximo ao valor de TC dos filmes de Nb nos sistemas híbridos Nb20/Cu5/Py2 e
Nb100/Cu5/Py2 para as configurações B⟘ (perpendicular ao plano do filme) e B//
(paralela ao plano do filme). Na Figura 4.18 é apresentado um conjunto de curvas
normalizadas R(T)/R0 dos filmes híbridos Nb20/Cu5/Py2 (a) e Nb100/Cu5/Py2
(b), com os valores de campo aplicados estão indicados (lado esquerdo: B// e
lado direito: B⟘). Como já visto para o sistema Nb/Cu/Co, o efeito anisotrópico
dos filmes SC de Nb está também evidenciado pela mudança mais pronunciada
nos valores de TC na configuração de campo B⟘ quando comparada com a
variação tomada na configuração de campo B// (mesmos campos) em ambos os
filmes híbridos Nb/Cu/Py.
Ainda como relatado anteriormente, os valores de TC dos filmes de Nb
são, em sistemas híbridos, reduzidos quando comparados com os valores de de
TC dos filmes puros para mesmas espessuras de Nb (dNb). Como a redução no
TC dos filmes de Nb no sistema Nb/Cu/Py foi menor do que no sistema híbrido
Nb/Cu/Co (comparado com os respectivos filmes puros de Nb), dois filmes novos
(Nb20 e Nb20/Cu/Py) foram preparados e os resultados aqui discutidos foram
similares.
89
Figura 4.18: Curvas de R(B,T)/R(B = 0, T = 10 K) (ou simplesmente R(T)/R0) para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Py2 (a) e Nb100/Cu5/Py2 (b). Os experimentos foram realizados nas duas configurações de campo aplicado: (B||: lado direito)
ou perpendicular (B⟘: lado esquerdo) ao plano da amostra. Os valores de campos estão indicados na figura. Usando a metodologia acima aplicada e fazendo uso dos dados de TC
tomados da Fig. 4.18, foi construída a Figura 4.19 que sugere os
comportamentos de TC(B) dos filmes híbridos Nb20/Cu5/Py2 e Nb100/Cu5/Py2
para as configurações de campos B|| (círculos completos) e B⟘ (quadrados
completos). Em primeiro lugar, essa figura reinforça a observação de que há
pequenas diferenças entre TC⟘(B) (quadrados) e TC||(B) (círculos) nos filmes
híbridos Nb100/Cu5/Py2, mas significativas diferenças no filme híbrido
Nb20/Cu5/Py2, especialmente para campos aplicados acima de 0,3 T.
90
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.02
3
4
5
6
Tc
Nb100/Py2 (K) = 6,3(2) - 1,65(3)B T
c
Nb20/Py2 (K) = 4,9(2) - 1,63(3)B
Tc
Nb20/Py2 (K) = 4,9(2) -0,16(4) B - 0,11 (2) B
2
Tc
Nb
20/P
y2(K
)
B (T)
2
3
4
5
6
7
Tc
Nb100/Py2 (K) = 6,42(2) -1,20(5) B - 0,15 (2) B
2
Tc
Nb
100/P
y2(K
)
Figura 4.19: Comportamento de TC em função do campo magnético aplicado (B) para filmes de Nb20/Cu5/Py (símbolos pretos) e Nb100/Cu5/Py (símbolos azuis). Os círculos completos correspondem aos dados na configuração BC2||, enquanto
os quadrados são devidos aos dados na configuração BC2⟘. As linhas que passam pelos dados experimentais correspondem aos ajustes funções mostradas na figura.
Os dados experimentais de TC(B) da Fig. 4.19 foram também ajustados
com funções lineares e quadráticas previstas pelo modelo GL, conforme
discutidos no início deste capítulo (Seção 4.1). Em particular, os dados de TC⟘(B)
apresentam o comportamento linear [Eq. (4.5)], com os seguintes coeficientes
para os filmes híbridos Nb20/Cu5/Py2 e Nb100/Cu5/Py2: TC⟘ = 4,9(1) e 6,35(2)
K e BC2⟘(0) = 3,0(5) e 3,9(2) T. Quando esses valores são comparados com
aqueles obtidos nos filmes SC controles (Nb20 e N100), as seguintes mudanças
relativas foram calculadas: 4% para TC⟘ e 35% para BC2⟘(0); mudanças
atribuídas principalmente a camada FM de Py, já que os filmes replicados
apresentaram valores similares de TC (principalmente os filmes de Nb puros).
Na Figura 4.20 são então mostrados os comportamentos de ΔTC(B) para
os filmes híbridos Nb20/Cu5/Py2 e Nb100/Cu5/Py2. Como também observado
nos filmes controle SC de Nb puro e híbridos Nb/Co, um comportamento linear
de ΔTC(B) é encontrado para o filme híbrido Nb20/Cu5/Py2, enquanto um do tipo
91
exponencial (saturação) ocorre para o filme híbrido Nb100/Cu5/Py2. Mais uma
vez, comparando os resultados do filmes controle SC Nb20 (Fig. 4.9) e
Nb20/Cu5/Py2 (Fig. 4.20), são notadas mudanças significativas nos valores dos
coeficientes angulares de ΔTC(B) destes sistemas, ou seja, 1,14(1) K/T para o
filme controle SC Nb20 e 1,35(4) K/T para o filme híbrido Nb20/Cu5/Py2. O
aumento relativo da taxa de crescimento de ΔTC(B) de 0,21(2) K/T é atribuída à
camada FM de Py. Quando comparado com o filme híbrido Nb20/Cu5/Co40, há
também um aumento significativo no valor de taxa do sistema a base de Py,
indicando que a supressão nos valores de TC dos filmes híbridos de
Nb20/Cu5/Py2 será maior do que nos híbridos Nb20/Cu5/Co40.
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
0,0
0,4
0,8
1,2
1,6
2,0
Tc Nb100/Py2 (K) = 0,3(1) {1 - exp[-5,2(5) B] }
Tc Nb20/Py2 (K) = 0,05(2) + 1,35(4)B
T
c (
K)
B (T)
Figura 4.20: Comportamento anisotrópico da temperatura crítica (ΔTC) em função do campo aplicado B para os filmes de Nb20/Cu5/Py2 (triângulos pretos) e Nb100/Cu5/Py2 (triângulos azuis). Esses dados são obtidos dos dados mostrados na Fig. 4.20. As linhas sólidas são os resultados dos ajustes.
Como observado para o filme híbrido Nb100/Cu5/Co40, onde o
comportamento de ΔTC(B) apresentou uma forte flutuação (oscilação) de ΔTC(B)
em altos campos, no filme híbrido Nb100/Cu5/Py2 as oscilações nos valores de
ΔTC(B) parecem ser periódicas, mas de menores intensidades (quase dentro do
erro da medida) do que no sistema Nb100/Cu5/Co40. Por um lado, não foi
92
objetivo desta tese fazer um estudo da origem física desse fenômeno, mas o
comportamento do tipo “oscilatório” de ΔTC(B) pode estar ligado a mudança na
estrutura de spins da camada FM à medida que a intensidade do campo B
(oscilação no valor de TC foi medida em filmes de Nb sanduichados com
camadas FM de diferentes espessuras [71]). Entretanto, em uma primeira
aproximação, os dados de ΔTC(B) do filme híbrido Nb100/Cu5/Py2 foram
simplesmente ajustados com uma função do tipo exponencial pura em todo
intervalo de campo B, conforme previsto pela Eq. (4.7) para o caso em que o
coeficiente anisotrópico SC 𝛾 (definido acima) seja não significativo.
Para efeito comparativo, na Figura 4.21 são mostrados os
comportamentos de ΔTC(B) para os filmes controle SC Nb100 e híbrido
Nb100/Cu5/Py2, com as respectivas funções exponenciais usadas nos ajustes
dos dados experimentais de ΔTC(B). Assim, é possível notar que os valores de
ΔTC(B) entre os dois filmes se tornam mais distintos para valores de B > 0,5 T e
que os valores de ΔTC(B) são reduzidos no filme híbrido Nb100/Cu5/Py2 quando
comparados com os do filme controle SC Nb100. Como a camada de Py só
atingir a saturação (na configuração de campo B⟘) próximo a 1,0 T em baixas
temperaturas, essas mudanças em ΔTC(B) no filme híbrido Nb100/Cu5/Py2 são
mensuráveis acima desse valor de campo, conforme experimentalmente
mostrado na Fig. 4.21.
93
0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
Tc Nb100/Py2 (K) = 0,3(1) {1 - exp[-5,2(5) B] }
Tc
Nb100 (K) = 0,5(2) {1 - exp[-2,3(2).B]}
T
c (
K)
B (T)
Figura 4.21: Comportamento da variação da temperatura crítica (ΔTc) em função de B para os filmes de Nb100 (triângulos azuis completos) e Nb100/Cu5/Py2 (triângulos azuis abertos). As linhas sólidas são devidas aos ajustes com funções do tipo exponencial, conforme equações indicadas na figura.
Para efeito do cálculo do campo magnético disperso (stray field) da
camada FM de Py sobre a camada de Nb, a mesma condições de
redirecionamento da magnetização da camada FM de Py na configuração de
campo B⟘ será assumida, ou seja, crescimento linear da magnetização à medida
que a intensidade do campo aplicado B aumenta até atingir a saturação dos
spins da camada de Py em 1,0 T, conforme sugerem os dados de M(B) [Fig.
4.11(d)] tomados em baixas temperaturas (3 e 10 K). Como há também um
crescimento linear da magnetização com a intensidade do campo B, é
novamente possível assumir 𝐵𝑃𝑦(𝐵) = 𝜑𝑃𝑦 + 𝛽𝑃𝑦𝐵, onde o 𝐵𝑒𝑓 = 𝐵 + 𝐵𝑃𝑦(𝐵).
Assim, a Eq. (4.12) é agora reescrita como:
∆𝑇𝑐(𝐵) =𝑇𝐶 ⟘𝑁𝑏20/𝑃𝑦2(0)
𝐵𝐶2⟘ 𝑁𝑏20/𝑃𝑦2(0)𝜑𝑃𝑦 +
𝑇𝐶 ⟘𝑁𝑏20/𝑃𝑦2(0)
𝐵𝐶2⟘ 𝑁𝑏20/𝑃𝑦2(0) (𝛽𝑃𝑦 + 1)𝐵
(4.12)
94
Lembrando que o coeficiente 𝜑𝑃𝑦 corresponde ao valor do campo
magnético disperso na ausência de campo magnético aplicado (B = 0 T). Dessa
forma, usando (i) os coeficientes (angular e linear) da função linear usada para
ajustar os dados experimentais de ΔTC(B) e (ii) os valores experimentalmente
determinados para Tc⟘Nb20/Py2 = 4,9(1) K e BC2⟘Nb20/Py2(0) = 3,0(5) T, um valor de
𝜑 = 𝐵𝑃𝑦(0) = +(31,0 ± 0,3) 𝑚𝑇 foi calculado. Por outro lado, o coeficiente 𝛽𝑃𝑦 =
𝑑𝐵𝑃𝑦
𝑑𝐵, que dá informação sobre o efeito de reorientação do spin do Py [do plano
(spin-||) para perpendicular ao plano do filme (spin-⟘)], foi calculado como sendo
𝛽𝑃𝑦 =𝑑𝐵𝑃𝑦
𝑑𝐵= (−0,17 ± 0,02), inferior ao valor obtido para a taxa de mudança de
spin da camada de Co [𝛽𝐶𝑜 =𝑑𝐵𝐶𝑜
𝑑𝐵= (−0,22 ± 0,02)].
Em resumo, a constatação experimental de que o valor maior do campo
magnético disperso da camada de Py [𝐵𝑃𝑦(0) = +(31,0 ± 0,3) 𝑚𝑇] ser maior do
que o da camada de Co 𝐵𝐶𝑜(0) = −(8,5 ± 0,1) 𝑚𝑇 será importante na discussão
do efeito VSS, medidos através de comparações com os dados de filmes
controle de Nb (dNb) em curvas de Δ𝑇𝑐(B, θ). É interessante notar que (i) os sinais
dos campos magnéticos dispersos são distintos para as camadas Co (negativo)
e Py (positivo), cuja explicação física plausível ainda não é possível e (ii) as taxas
de mudanças nas estruturas de spins são distintas para as camadas de Py
(menor) e Co (maior), algo fisicamente aceitável se for considerado o fato de que
a camada de Co tem duas estruturas de spins de partida e com uma fração no
plano com maior anisotropia. Essas características são importante e ajudam a
melhor entender o efeito do campo magnético disperso em heteroestruturas
híbridas VVS a serem discutidas na próxima seção.
4.4.3 Determinação do Campo Magnético Disperso (Stray Field) das Camadas de Py e Co em Filmes Híbridos tipo Válvulas de Spin Supercondutora (SSV) Nb/Cu/Py/Cu/Co
Por fim, o estudo aplicado para os filmes híbridos controles Nb (20 ou
100)/Cu5/Py2 e Nb(20 ou 100)/Cu5/Co40 será estendido para as respectivas
95
VSS (VSS20 e VSS100), cujos dados de R(T,B) para as configurações de campo
B|| (lado esquerdo da figura) e B⟘ (lado direito da figura) são apresentadas na
Figura 4.23. Como nos casos anteriores, devido ao efeito anisotrópico definido
pela espessura da camada de Nb (dNb), a supressão de TC na configuração de
B⟘é maior do que aquela observada na configuração B|| para ambas as VSS
[VSS20 (a) e VSS100 (b)]. Os valores de TC das VSS são inferiores aos valores
de TC dos filmes controles (puros e híbridos), indicando que os efeitos das
camadas FM são adicionados nas VSS.
Ademais, os dados do filme VSS20 [Fig. 4.22 (a) - para ambas
configurações de B (B⟘ e B||)] apresentam um “pico” nas curvas R(T)/R0, que
também foram observados por Tales [36] e explicado como sendo devido ao
caráter granular dos filmes de Nb. Embora, esse pico nas curvas nas curvas
R(T)/R0 não foi observado para nenhuma das outras amostras (sistemas puros
SC ou híbridos SC/FM), vale frisar que o intervalo de temperatura que ele ocorre
é muito pequeno e não foi investigado neste trabalho. Tales sugeriu que em
sistemas granulares o pico surgiria devido à transição do estado SC para um
estado tipo isolante, formando assim um material com múltiplas junções tipo
Josephson [36].
96
Figura: 4.22: Curvas de R(B,T)/R(B = 0, T = 10 K) (ou simplesmente R(T)/R0) para heteroestruturas híbridas do tipo válvula de spin supercondutora VSS20 (a) VSS100 (b). Os experimentos foram realizados nas duas configurações de
campo aplicado: paralelo (B||: lado direito) ou/e perpendicular (B⟘: lado esquerdo) ao plano da amostra. Na Figura 4.23 [construída com dados apresentados na Fig. 4.22] são
mostrados os comportamentos de TC(B) dos sistemas híbridos VSS20 e VSS100
para as configurações de campos B|| (círculos completos) e B⟘ (quadrados
completos). Vários os efeitos (diferentes magnitudes é claro) acima discutidos
nos filmes controles (puro e híbridos) são reproduzidos nas VSS, ou seja,
pequenas diferenças entre TC⟘(B) (quadrados) e TC||(B) (círculos) para o sistema
mais espesso (VSS100), mas significativas mudanças nos valores de TC⟘ e TC||
no sistema VSS20 para campo B superior a 0,3 T. Os dados experimentais de
TC(B) são ajustados com funções adequadas aos seus comportamentos (linhas
magentas para os ajustes polinomiais e linhas vermelhas para ajustes lineares).
Sendo assim, os seguintes parâmetros foram respectivamente obtidos para as
VSS20 e VSS100: TC⟘(0) = 4,2(2) e 5,5(1) K e BC2⟘(0) = 2,7(1) e 3,8(1) T. As
alterações relativas, em relação aos filmes controles de Nb, nos valores de TC(0)
97
e BC2⟘(0) mudam em aproximadamente em 16% e 28% para as VSS20 e
VSS100, respectivamente.
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,52
3
4
5
Tc
VS
S20(K
)
B (T)
2
3
4
5
6
7
Tc
VSS100 (K) = 5,6(1) -0,22(3) B - 0,6 (3) B
2
Tc
VSS20 (K) = 4,3(1) -0,34(2) B - 0,07 (1) B
2
Tc
VSS100 (K) = 5,58(1) - 1,23(2)B
Tc
VSS20 (K) = 4,22(1) - 1,54(3)B
Tc
VS
S100(K
)
Figura 4.23: Comportamento de Tc em função do campo magnético aplicado (B) para os sistemas híbridos VSS20 (símbolos pretos) e VSS100 (símbolos azuis). Os círculos completos correspondem aos dados na configuração BC2||, enquanto
os quadrados são devidos aos dados na configuração BC2⟘. As linhas que passam pelos dados experimentais correspondem aos ajustes usando funções. Na Figura 4.24 [construída a partir dos dados da Fig. 4.23] são mostrados
os comportamentos de ΔTC(B) para os sistemas VSS20 (triângulos pretos) e
VSS100 (triângulos azuis). Como nos sistemas controles (Nb puro e híbrido
controle), os dados de ΔTC(B) do filme VSS20 tem um comportamento linear e,
portanto, foi ajustado com a função linear indicada na Fig. 4.24, enquanto que
uma função exponencial foi utilizada para ajustar os dados do filme VSS100.
Para o intervalo de campo aplicado (B < 1 T), ΔTC(B) do filme VSS100 também
apresenta um comportamento do tipo exponencial sem oscilações, conforme
observado em todos os sistemas controles (puro e híbridos). Os valores de
ΔTC(B) são mais afetados nas VSS do que nas amostras controles (puro e
híbridas), indicando que o efeito conjugado das camadas FM tem um papel
importante nas VSS.
98
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
0,0
0,4
0,8
1,2
1,6
Tc
VSS20 (K) = 0,06(1) + 1,14(2)B
Tc
VSS100 (K)
= 0,4(2) {1 - exp[-4,1(6) B] }
T
c (
K)
B (T)
Figura 4.24: Comportamento anisotrópico da temperatura crítica (ΔTC) em função do campo aplicado (B) para os filmes de VSS20 (triângulos pretos) e VSS100 (triângulos azuis). Esses dados foram obtidos dos dados mostrados na Fig.24. Linhas sólidas são resultados dos ajustes.
Usando a sistemática aplicada anteriormente para cálculo do campo
magnético disperso (stray field), ou seja, as mesmas suposições [crescimento
linear da M(B) [Fig. 4.12 (d)], consequentemente BFM (B)] o campo magnético
efetivo (Bef) atuando na camada SC de Nb será a soma vetorial dada por: 𝐵𝑒𝑓 =
𝐵 + 𝐵𝑃𝑦/𝐶𝑜(𝐵), agora com 𝐵𝑃𝑦/𝐶𝑜(𝐵) sendo o campo magnético disperso das
duas camadas FM (Py e Co). Dessa forma, o valor do campo disperso das
camadas FM1,2 é calculado e ajuda a entender o funcionamento das válvulas de
spin supercondutoras VSS, aqui preparadas. Então, a dependência do campo
magnético disperso das camadas FM1,2 tem a relação : 𝐵𝑃𝑦/𝐶𝑜(𝐵) = 𝜑𝑃𝑦/𝐶𝑜 +
𝛽𝑃𝑦/𝐶𝑜𝐵, tal que a Eq. (4.13), que tem uma relação linear com B, possa ser
escrita:
∆𝑇𝑐(𝐵) =
𝑇𝐶 ⟘𝑁𝑏20/𝑃𝑦/𝐶𝑜(0)
𝐵𝐶2⟘ 𝑁𝑏20/𝑃𝑦/𝐶𝑜(0)𝜑𝑃𝑦/𝐶𝑜 +
𝑇𝐶 ⟘𝑁𝑏20/𝑃𝑦/𝐶𝑜(0)
𝐵𝐶2⟘ 𝑁𝑏20/𝑃𝑦/𝐶𝑜(0) (𝛽𝑃𝑦/𝐶𝑜 + 1)𝐵
(4.13)
99
A Eq. (4.13) fornece, quando aplicada a dados experimentais, o campo
disperso das camadas FM (Py e Co) em campo nulo, ou seja, 𝜑𝑃𝑦/𝐶𝑜 =BPy/Co(0).
Usando os valores experimentalmente determinados acima [TC⟘(0) = 4,2(2) K e
BC2⟘(0) = 2,7(1) T] e com os coeficientes (linear e angular) das funções que
ajustaram os dados experimentais de ΔTC(B) [Fig. 4.24], o campo magnético
disperso foi calculado como sendo 𝐵𝑃𝑦/𝐶𝑜(0) = +(38,0 ± 0,4) 𝑚𝑇, valor este
dominado pela contribuição da camada de Py. Do coeficiente angular da reta
que ajusta ΔTC(B), o valor de 𝛽𝑃𝑦/𝐶𝑜 =𝑑𝐵𝑃𝑦/𝐶𝑜
𝑑𝐵= (−0,26 ± 0,02) foi determinado.
Esse termo 𝛽𝑃𝑦/𝐶𝑜, que mede a taxa de mudança do campo magnético disperso
com a modificação do campo aplicado, é maior do que nos filmes finos controles
híbridos (SC/FM).
4.5 Determinação do Efeito Válvula de Spins Supercondutora nos Filmes Híbridos Controles (Nb/Cu/Py e Nb/Cu/Co) e nas Válvulas de Spin Supercondutoras (Nb/Cu/Py/Cu/Co)
O efeito de válvula de spin (VSS) supercondutora tem sido associado as
mudanças adicionais (além do campo magnético, por exemplo) na temperatura
de transição SC-N quando as orientações da magnetização de camadas FM são
relativamente modificadas pela presença de um campo magnético externo B.
Portanto, para medir o efeito VSS é necessário fazer uma comparação do efeito
do campo magnético aplicado B entre um filme controle SC e o seu híbrido
particular para mesma intensidade de campo. Uma boa maneira de mensurar o
efeito VSS é tomando medidas angulares de magneto-transporte dos filmes
controle SC puro e híbridos SC/FM, ou seja, medidas de curvas R(T,B,θ). Em
seguida, tomar os comportamentos angulares de Δ𝑇𝑐(𝑇, 𝜃) e pegar a diferença
entre os máximos dos Δ𝑇𝑐(𝑇, 𝜃) do filme puro e do híbrido.
Na Figura 4.25 (a) está esquematizado as variáveis usadas na tomada
das curvas angulares de magnetorresistência R(T,B,θ), que se encontram no
Apêndice D. As curvas de Δ𝑇𝑐(𝑇, 𝜃) para os diferentes filmes híbridos
Nb20/Cu/FM (FM = Co ou Py) e VSS20 são mostradas na Fig. 4.25 (b-d) para
100
três valores de campos magnéticos B: 0,25 T(cor preta), 0,5 T (cor vermelha) e
1,0 T (cor azul) – curvas plotadas em ordem diferentes. Mais especificamente,
em (b) estão os dados de Δ𝑇𝑐(𝑇, 𝜃) para o filme híbrido controle Nb20/Cu5/Co40,
em (c) para o filme híbrido controle Nb20/Cu5/Py2 e em (d) para a
heteroestrutura do tipo VSS20 (os símbolos preenchidos correspondem aos
dados dos filmes híbridos e VSS). Adicionalmente, os dados do filme controle
SC de Nb20 também são plotados para comparação em cada gráfico (símbolos
não preenchidos) da Fig. 4.25 (b, c e d).
101
Figura 4.25: (a) Esquema da configuração experimental indicando o ângulo (θ) entre o plano do filme e a direção do campo aplicado. A corrente elétrica no plano
(𝑗) também é mostrada (seta vermelha). Os parâmetros de Δ𝑇𝐶 determinados a partir das curvas R(T,B,θ) são mostrados para as amostras de (b) Nb20/Cu5/Co40 (triângulos completos), (c) Nb20/Cu5/Py2 (estrelas completas) e (d) heteroestrutura híbrida VSS20 – Nb20/Cu5/Py2/Cu5/Co40 (quadrados completos). Os dados de Nb20 (círculos abertos) também são adicionados em cada gráfico para comparação. As cores estão associadas a campos diferentes: preto (0,25 T), vermelho (0,5 T) e azul (1,0 T).
Levando em consideração que o foco principal do presente trabalho diz
respeito aos efeitos da configuração de campo B⟘ sobre a variação de TC nos
filmes finos controles híbridos SC/FM e nas VSS, será analisado o
comportamento do parâmetro Δ𝑇𝑐(𝑇, 𝜃), que é definido como: Δ𝑇𝑐(B, θ) =
𝑇𝑐(𝐵, 𝜃 = 0) − 𝑇𝑐(𝐵, 𝜃), onde o 𝑇𝑐(𝐵, 𝜃 = 0) representa a temperatura crítica no
sistema SC quando o campo magnético B e a corrente elétrica (𝑖) estão na
mesma direção, enquanto o termo 𝑇𝑐(𝐵, 𝜃) é a temperatura crítica para o campo
inclinado, ou melhor, girado de um ângulo em relação ao plano da amostra, como
mostrado esquematicamente na Fig. 4.25 (a). Para 𝜃 =𝜋
2, o parâmetro
102
Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 ), que corresponde exatamente à diferença entre as temperaturas
críticas TC (determinada para o mesmo valor de campo magnético) determinadas
experimentalmente nas configurações de campos B|| e B⟘. Como já estabelecido
anteriormente, é possível assumir a seguinte proporcionalidade: Δ𝑇𝐶(B, θ) ≈
𝐵𝑒𝑓 = 𝐵 + 𝐵𝐹𝑀, em que BFM é devido ao vetor campo magnético disperso da
camada FM. Assim, em princípio, o parâmetro Δ𝑇𝐶(B, θ) deve sempre: (i) ser um
número positivo; (ii) aumentar à medida que a magnitude do campo é amplificada
e (iii) atingir um valor máximo para 𝜃 =𝜋
2 [Δ𝑇𝐶 (B, 𝜃 =
𝜋
2 )]. Em outras palavras,
com relação à dependência angular de Δ𝑇𝐶(B, θ), quando o ângulo θ é
aumentado, o componente perpendicular do campo diminui, em maior extensão,
o valor de TC comparado com o valor obtido na configuração do campo B|| [TC (θ
= 0°)]. Assim, quando o ângulo θ aumenta, o Δ𝑇𝐶(B, θ) também aumenta até
atingir um máximo para 𝜃 =𝜋
2, depois cai novamente produzindo, em geral, uma
curva simétrica para Δ𝑇𝐶(𝑇, 𝜃) com máximo em 𝜃 =𝜋
2. Em outras palavras,
Δ𝑇𝐶(B, θ) = 𝑇𝐶(𝐵, 𝜃 = 0) − 𝑇𝐶(𝐵, 𝜃) deve ser positivo, deve aumentar com θ e
atingir seu valor máximo para 𝜃 =𝜋
2 , quando o campo aplicado é completamente
perpendicular ao plano da amostra (isto é, supressão máxima de TC).
Finalmente, o Δ𝑇𝑐(B, θ) deve diminuir novamente para θ > 𝜋
2, ou seja, no intervalo
de 𝜋
2 < θ < 𝜋.
Um ponto adicional a ser notado é quando o campo é inclinado para fora
a configuração B⟘, a estrutura magnética da camada FM também pode ser
substancialmente modificada, e isso pode ter consequências adicionais na forma
como campo magnético disperso da camada FM que afeta as propriedades
supercondutoras (SC) adjacentes, particularmente, se é assumido que os
domínios magnéticos perpendiculares mudam progressivamente com o aumento
da magnitude do campo B.
Após essa discussão qualitativa sobre o parâmetro Δ𝑇𝐶(B, θ), é necessário
retornar a discussão dos resultados experimentais mostrados na Fig. 4.25 (b, c
e d). Primeiro, como pode ser visto, todas as curvas de Δ𝑇𝐶(B, θ) mostram
valores positivos e suas magnitudes aumentam à medida que o valor do ângulo
aumenta, atingindo o pico em aproximadamente 𝜃 =𝜋
2 e diminuindo novamente
103
no segundo quadrante (𝜋
2 < θ < 𝜋), conforme discutido qualitativamente no
parágrafo acima. Melhor dizendo, todas as curvas Δ𝑇𝐶(B, θ) sugerem
comportamentos parabólicos, em geral, relativamente simétricos e com máximos
em 𝜃 =𝜋
2
Surge aqui um ponto interessante quando se analisa os dados para
Nb20/Cu5/Co40 e Nb20/Cu5/Py2 (não totalmente separados), mas em
comparação com os dados semelhantes para a amostra de Nb20. Em particular,
para o filme controle híbrido Nb20/Cu5/Co40 [Fig. 4.25 (b)] não há nenhuma
diferença significativa entre às curvas Δ𝑇𝐶(B, θ) obtidas para os campos
aplicados 0,25 T (símbolos pretos) e 0,5 T (símbolos vermelhos) quando
comparado com os respectivos dados de Δ𝑇𝐶(B, θ) para o filme controle SC
Nb20, mesmo considerando o campo magnético disperso no sistema híbrido
Nb20/Cu5/Co40; campo magnético este causado pelas duas frações de spins da
camada de Co previamente discutidas [spin-⟘ e spin- ||] para estes valores de
campo. Em outras palavras, os valores de Δ𝑇𝐶(B, θ) são praticamente os
mesmos em ambos os filmes [Nb20 e Nb20/Cu5/Co40], para todo o intervalo de
ângulos usado em nosso experimento e para cada valor de campo aplicado B
(0,25 e 0,5 T). Para esses valores de campo [0,25 e 0,5 T], conforme sugere
curva M(B) [Fig. 4.11(a)], a magnetização da camada de Co advém
principalmente da fração de spin-⟘ e, portanto, as estruturas de domínios
magnéticos da camada de Co não estão afetando significativamente as
propriedades SC da sua camada Nb20. Dessa forma, a mudança nos valores de
Δ𝑇𝐶(B, θ) tanto no filme controle híbrido Nb20/Cu5/Co40 quanto no sistema
controle SC Nb20 é causada basicamente pela contribuição do campo aplicado
na configuração B⟘ [não há alteração relativa de Δ𝑇𝐶(B, θ) em relação à amostra
de Nb20 devido à modificação dos domínios magnéticos do Co para esses dois
valores de campo].
Por outro lado, para B = 1,0 T e para um intervalo específico de ângulos
em torno de 𝜃 =𝜋
2, os valores de Δ𝑇𝐶(B, θ) para o filme controle híbrido
Nb20/Cu5/Co40 são inferiores aos valores Δ𝑇𝐶(B, θ) correspondentes para o
filme controle SC Nb20 na mesma posição angular. De fato, uma diferença de -
230 mK no Δ𝑇𝐶(B, θ) [medida do efeito de VSS] é encontrado entre as amostras
de Nb20 e Nb20/Cu/Co, conforme mostrado na Fig. 4.25 (b).
104
Como indicado pelos resultados mostrados na Fig. 4.11 (a), os valores de
magnetização do Co são gradualmente aumentados à medida que o campo B
aumenta de 0,5 para 1,0 T (configuração de campo B⟘), logo seria também
esperado um aumento no valor do Bef experimentado pela camada SC de Nb,
provocando uma redução maior no valor de TC quando comparado com a
amostra pura de Nb20, ou seja, um valor maior de Δ𝑇𝑐(B, θ) = 𝑇𝑐(𝐵, 𝜃 = 0) −
𝑇𝑐(𝐵, 𝜃) no caso de filmes híbridos deveria ser observado. No entanto, foi medido
um comportamento oposto para o Δ𝑇𝐶(B, θ) registrado em 1,0 T [Δ𝑇𝐶(B, θ) <0].
Aqui deve mais uma vez ressaltar que os resultados de Δ𝑇𝐶(B, θ) da amostra de
Nb20/Cu5/Co40 foram repetidos em amostras replicadas. De certa forma, essa
observação experimental pode (ou deve) fornecer alguma indicação sobre o
comportamento da interação entre supercondutividade e ferromagnetismo no
sistema híbrido, assim trazer informação, por exemplo, do papel das estruturas
de domínios das camadas FM sobre a SC da camada de Nb.
Para entender essa questão, é necessário considerar que (i) esses
resultados de magnetização para o filme híbrido Nb/Cu/Co [Fig. 4.11 (a)]
mostraram a presença de duas configurações de spin: uma fração dominante
com configuração de spin no plano (spin-||) e uma contribuição adicional de spin
fora do plano (spin-⟘) e (ii) resultados da literatura indicam que os filmes finos
de Co crescidos na camada de Cu possuem domínios magnéticos irregulares
[119] e, domínios magnéticos perpendiculares (regiões de paredes de domínios)
que podem ser modificadas pelo campo aplicado na configuração B⟘ [90]. As
ideias (i) e (ii) acima estão de acordo com um grande sinal de remanência
medido para a configuração de B⟘ e também com o fato de que a distribuições
de domínios magnéticos (spins-⟘ e ||) da camada de Co são significativamente
modificados pelo campo magnético aplicado. Além disso, a fração de spin-⟘ é
crescida progressivamente com o aumento da magnitude do campo B aplicado.
Nesta condição, haverá um aumento da densidade de domínios perpendiculares
(domínios magnéticos perpendiculares de Co têm dimensões menores do que
os domínios planares), em condição de fechamento (efeito magnetostático),
antes da ocorrência de saturação total da magnetização da camada de Co [90].
Com base nessas ideias, é possível supor que as estruturas de domínios
magnéticos da camada FM de Co sejam a origem física para o comportamento
105
de Δ𝑇𝐶(B, θ) discutido acima para B = 1,0 T, mesmo que no filme controle híbrido
Nb/Cu/Co as camadas SC de Nb e FM de Co estão fisicamente separadas.
Portanto, há, pelo menos, duas fontes principais de interação entre a camada
SC e FM: (i) efeito de proximidade, onde os pares de Cooper do SC de Nb
difundem na camada FM de Co reduzindo o valor de TC (depende da estrutura
de domínio magnético dentro da camada) e (ii) efetivamente o campo disperso
da camada de FM de Co. Outros mecanismos físicos não podem ser
desconsiderados, como por exemplo, o campo magnético de troca oriundo da
polarização dos elétrons da camada metálica de Cu (o efeito de polarização de
spin via elétrons de condução do espaçador de Cu), mas que não foi estudado
nesta tese, exceto quando foi mostrado que há uma redução de TC com dCu [TC
decresce com aumento de dCu – Fig,. 4.13 (b)].
Com relação a contribuição proveniente do campo magnético disperso
(BFM) é importante ressaltar os esforços recentes para manipular as
propriedades SC em heteroestruturas híbridas SC/FM, controlando as estruturas
do domínio magnético (spins ⟘ e ||) da camada FM [21,30,79]. Os estudos de
manipulação dos domínios spin-⟘ sugerem que há regiões na camada SC onde
o campo Bef é aumentando, enquanto há outras regiões onde o campo Bef é
diminuído, amplificando assim as propriedades SC da camada em
heteroestruturas SC/FM com spins-⟘ [30] na configuração de campo aplicado
B⟘. Portanto, considerando que a relação de Δ𝑇𝐶(B, θ) ≈ 𝐵𝑒𝑓 e os resultados
experimentais para o filme controle híbrido Nb20/Cu5/Co40 para o campo B =
1,0 T [Figura 4.25 (b)], é possível inferir que o campo Bef atuando na camada SC
de Nb do filme controle híbrido Nb20/Cu5/Co40 está diminuído quando
comparado com efetivo que atua na camada SC Nb pura para um menos valor
de B que define Δ𝑇𝐶(𝐵, θ). Consequentemente, para explicar o comportamento
de Δ𝑇𝐶(B, θ) observado para B = 1,0 T, é necessário assumir que os domínios
de spin-⟘ crescem gradualmente na camada FM de Co à medida que o campo
B aumenta, ou seja, com isso aumenta a densidade de domínios magnéticos
com spin-⟘ na camada do Co (grandes densidades de regiões da parede de
domínio), que, em essência, gera um campo disperso efetivo não homogêneo
na superfície da camada de Nb. Sob essas condições, devem existir regiões no
filme de Nb no filme híbrido Nb20/Cu5/Co40 em que o campo magnético
106
disperso dos domínios magnéticos pode compensar (reduzir) parcialmente o
campo magnético aplicado B, favorecendo a nucleação da supercondutividade
(preferencialmente nas regiões da parede de domínio) ou possibilitando o fluxo
de pares de Cooper (ocasionando maior valor de TC na amostra de Nb/Co). Essa
descrição do efeito é semelhante ao observado por Lange e colaboradores [30],
quando nanoengenharia de pontos magnéticos foram preparadas tal que havia
regiões onde a supercondutividade era mantida no sistema híbrido mesmo na
presença de campo aplicado B (foi demonstrado que existe uma nucleação da
supercondutividade nas regiões espaciais na camada SC entre domínios
ferromagnéticos perpendiculares). Em essência, o menor valor de TC para
direções de campo inclinado no sistema controle híbrido Nb20/Cu5/Co40
(quando comparado com o valor de TC determinado para Nb20) é causado
principalmente pela presença de grande densidade de domínios magnéticos com
spins-⟘ na camada FM (Co), que resulta em regiões de campos dispersos
magnéticos não homogêneos na interface SC/FM, tal que o campo Bef no filme
híbrido Nb20/cu5/Co40 é menor que o campo sentido na amostra de Nb20 pura.
Por outro lado, o comportamento do valor de Δ𝑇𝐶(B, θ) [Fig. 4.25 (c)] para
o filme híbrido Nb20/Cu5/Py2 (comparado com o do filme controle SC Nb20) tem
o mesmo comportamento esperado para camadas FM em sistemas híbridos
comuns, ou seja, Δ𝑇𝐶(B, θ) ∝ Bef, que por sua vez, aumenta com aumento da
intensidade do campo B em todas as regiões da amostra. De fato, os valores de
Δ𝑇𝐶(B, θ) para o filme controle híbrido Nb20/Cu5/Py2 são (i) superiores aos
valores medidos para a amostra pura de Nb20, como previsto por Δ𝑇𝑐(B, θ) ≈
𝐵𝑒𝑓 = 𝐵 + 𝐵𝐹𝑀, e (ii) são independe da magnitude do campo. O item (ii) não foi
observado para a amostra de Nb20/Cu5/Co40, já que os campos de 0,25 e 0,5
T não apresentaram mudanças nos valores de Δ𝑇𝑐(B, θ) com relação aos do
filmes de Nb20 puro. Como consequência, diferenças maiores nos valores de
Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 ) são encontrados nos filmes híbridos Nb20/Cu5/Py2, tal que os
valores de efeito VSS são calculados como sendo: +230 mK a campo de 0,5 T e
+300 mK a B = 1,0 T [valores definidos entre os máximos das curvas de Δ𝑇𝑐(B, θ)
amostras de Nb20 e Nb20/Cu5/Py2, conforme sugere Fig. 4.25 (c)].
Considerando o sistema controle híbrido Nb20/Cu5/Py2 cabe discutir
primeiramente as propriedades magnéticas da camada de Py. Ela, por sua vez,
107
mostrou um caráter de magneto macio (fraca anisotropia magnetocristalina,
onde os spins mais facilmente se orientam na direção do campo aplicado B),
mesmo para a configuração de campo B⟘ [Fig. 4.11 (b) – campos de baixa
magnitude podem saturar facilmente sua magnetização]. O caráter observado
na Fig. 4.11(b) da camada de Py está associado a formação de domínios
magnéticos tipo “tarjas” (ou “faixas”), causadas pelos grãos colunares
produzidos pelo processo de deposição [89]. Os filmes de Py costumam formar
domínios magnéticos com “tarjas” grandes [89], portanto, o campo magnético
disperso é mais homogêneo na camada de Py (no estado saturado) do que na
camada de Co. Este fato reforça, em todo material híbrido, o campo aplicado
devido à sua baixa densidade das regiões da parede de domínio, ou seja, em
todas as regiões do filme de Nb, o campo Bef é sempre crescente, levando ao
comportamento esperado para os valores Δ𝑇𝐶 [Δ𝑇𝐶(B, θ) ≈ 𝐵𝑒𝑓]. Assim, os
valores de Δ𝑇𝐶(B, θ) para o filme controle híbrido Nb20/Cu5/Py2 são maiores em
relação aos obtidos para o filme controle SC de Nb20, seguindo completamente
o comportamento esperado para parâmetro Δ𝑇𝐶(B, θ).
A partir dos resultados de Δ𝑇𝐶(B, θ) para a heteroestrutura híbrida VSS20
[Fig. 4.20 (d)], é possível notar que Δ𝑇𝐶(B, θ) também acompanha o
comportamento esperado de Δ𝑇𝐶(B, θ) ≈ 𝐵𝑒𝑓, ou seja, Δ𝑇𝐶 aumenta
positivamente mais rápido do que os valores de Δ𝑇𝐶(B, θ) no filme controle SC
de Nb20 (aumento com o valor do ângulo e tem seu em 𝜃 =𝜋
2). Mesmo sendo o
comportamento de Δ𝑇𝐶(B, θ) aparentemente dominado pela contribuição da
camada FM de Py, não é possível desprezar a contribuição da camada FM de
Co, conforme demonstrado acima quando o valor do campo magnético disperso
foi calculado, onde foi demonstrado que ele aumenta em relação ao do sistema
controle híbrido Nb20/Cu5/Py2.
Cabe finalmente mencionar que: (i) no sistema híbrido SVV20 o campo
Bef (experimentado pela camada SC de Nb) sempre aumenta à medida que o
campo B aplicado cresce [Δ𝑇𝐶(B, θ) ≈ 𝐵𝑒𝑓], (ii) a camada FM de Py [ferromagneto
mole – Fig. 4.12(b)] está quase saturado, mas a camada de Co ainda está longe
da saturação [Fig. 4.12(a)] até 1,0 T, (iii) a camada de Co está mais afastada da
camada SC de Nb, assim o efeito líquido da camadas FM individuais de Py e Co
é de adição do valor final de campo Bef, como o efeito observado para o filme
108
controle híbrido Nb20/Cu5/Py2 [as heterogeneidades derivadas dos domínios
magnéticos fora do plano da camada do Co (aumentada pela fração de spin-⟘
de Co) ficam mascaradas e são brutalmente reduzidas]. Portanto, o valor do
efeito VSS medido de + 200 mK para a VSS20 [medido para Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 )] para
o campo de 0,5 T relativo ao filme controle SC de Nb20 sugere que, mesmo
considerando os resultados do filme controle híbrido Nb20/Cu5/Py2, a VSS20
mostrou grande valor de Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 ) para campos de 0,5 e 1,0 T e portanto, o
sistema Cu5/Co40 ainda tem uma significante influência no efeito da válvula de
spin supercondutora VSS20. Então, a supressão do TC no sistema híbrido do
tipo VSS20 (quando comparado com a mesmo efeito no sistema puro de Nb20)
aumenta gradualmente para 0,5 T e depois reduz novamente para campos altos
(B = 1,0 T), ressaltando a contribuição do campo magnético disperso da camada
de Co. O valor de + 200 mK em B = 0,5 T para Δ𝑇𝐶 [Fig. 4.20 (d)] é consequência
do efeito conjugado de campos dispersos das camadas ferromagnéticas de Py
e Co na camada SC de Nb.
Considerando que o maior valor de Δ𝑇𝐶(B, θ) (efeito VSS) foi observado
para o campo de 0,5 T, foi estudada um novo conjunto de filmes controles
híbridos e VSS, agora com Nb de 100 nm de espessura (intuito de estudar a
influência da espessura da camada supercondutora). Os resultados de Δ𝑇𝐶(B, θ)
são apresentados na Figura 4.27 para apenas o valor de 0,5 T. Essa figura
mostra o comportamento do parâmetro Δ𝑇𝐶(B, θ) para Nb100/Cu5/Co40 [Fig.
4.26 (a)], Nb100/Cu5/Py2 [Fig. 4.27 (b)] e para a mostra híbrida tipo VSS100
[Fig. 4.26 (c)]. Os resultados de Δ𝑇𝐶(B, θ) para o filme controle SC Nb100
também são exibidos em cada gráfico para comparação (símbolos abertos).
Primeiro, os valores de Δ𝑇𝐶(B, θ) para as amostras com dNb = 100 nm são
menores que os encontrados para os filmes com dNb = 20 nm, previamente
discutidos. Enquanto o filme controle híbrido Nb100/Cu5/Co40 [Fig. 4.26 (a)]
apresenta uma redução nos valores de Δ𝑇𝐶(B, θ) quando comparado com o filme
controle SC Nb100 (similar ao comportamento dos filmes controles SC Nb20 e
Nb20/Cu5/Co40), para o filme controle Nb100/Cu5/Py2, os valores Δ𝑇𝐶(B, θ) [Fig.
4.26(b)] também sugerem um crescimento quando comparados com os
resultados de Δ𝑇𝐶(B, θ) do filme controle SC de Nb100, similar aos resultados
observados para os filmes controle mais fino de Py [Nb20/Cu5/Py2]. Então, os
109
resultados de Δ𝑇𝐶(B, θ) indicam que o comportamento redução (aumento) nos
valores de Δ𝑇𝐶(B, θ) é uma característica das contribuições distintas das
camadas Py (Co).
Figura 4.26: Comportamentos de Δ𝑇𝐶(B = 0,5 T, θ) determinado a partir das curvas de R(T,B=0,5 T,θ) para (a) Nb100/Cu5/Co40 (triângulos completos), (b) Nb100/Cu5/Py2 (estrelas completas) e (c) heteroestrutura híbrida tipo VSS100 - Nb100/Cu5/Py2/Cu5/Co40 (quadrados completos). Os dados de Nb100 (símbolos abertos) foram também adicionados em cada gráfico para comparação.
110
Por outro lado, para o sistema híbrido do tipo VSS100, o comportamento
do parâmetro Δ𝑇𝐶(B, θ) [Fig. 4.26 (c)] é diferente ao encontrado no sistema
híbrido VSS20, ou seja, os valores de Δ𝑇𝐶(B, θ) reduzem em relação aos valores
encontrados para o filme controle SC Nb100. Consequentemente, usando os
resultados acima apresentados e discutidos, é possível inferir que a camada FM
de Co aparentemente tem um papel relevante sobre as propriedades SC da
camada Nb com dNb= 100 nm. Finalmente, comparando os resultados de
Δ𝑇𝐶(B, θ) dos sistemas híbridos de Nb20/Cu5/Co40 e Nb100/Cu5/Co40, é
calculada uma diferença de 0,3 K (300 mK) nos valores de Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 ).
Essa observação experimental sugere que o valor de Δ𝑇𝐶(B, θ) é
drasticamente reduzido em filmes de Nb mais espessos quando em
heteroestruturas híbridas e contendo uma camada FM de Co (como imã forte).
Essa redução na magnitude de Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 ), ou efeito da VSS, observada em
filmes de Nb espessos (Nb100) é uma consequência do efeito anisotrópico da
camada SC de Nb que diminui à medida que dNb cresce.
Nesta configuração de camadas espessas de Nb (ex: Nb100), o campo
magnético disperso não homogêneos da camada FM de Co, que cai com a
distância dentro da camada SC de Nb, ocasionará um gradiente de campo
magnético tal que haverá parte dos átomos de Nb longe da interface magnética
(Co) com campo Bef reduzido e onde a supercondutividade irá se nuclear (esse
comportamento é diferente do discutido acima para o filme híbrido
Nb20/Cu5/Co40). O máximo efeito VSS100 foi de - 60 mK [Fig. 4.27 (c)]. Este
valor, como dito acima, é inferior ao observado em sistema híbridos com
camadas de Nb mais fina (VSS20), mas ainda é um maior do que aquele relatado
para sistemas híbridos FM/SC/FM para qual foi medido um valor de + 41 mK
quando as magnetizações no planos das camadas FM tem suas orientações
relativas modificadas [82].
Para finalizar esta discussão, é possível enumerar algumas
características importantes: (i) valores consideráveis de efeito VSS (200-300
mK) foram medidas em heteroestruturas híbridas SC/FM estudadas nesta tese,
(ii) o campo magnético disperso das camadas FM de Co e Py tem fontes
distintas, consequentemente atuam de maneira diferente na camada SC de Nb,
111
(iii) as estruturas de domínios não homogêneas da camada de Co são
responsáveis para produzir regiões com campo magnético efetivo menor do que
o campo aplicado, favorecendo a supercondutividade, (iv) o efeito VSS diminui
à medida que a camada SC de Nb se torna mais espessa, reduzindo assim os
efeitos anisotrópicos e de proximidade e (v) foi demonstrado que o campo
magnético disperso tem um papel fundamental no comportamento do efeito VSS
[medido Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 )] e, portanto, não somente a transição dos pares de
Cooper do estado singleto para o tripleto (S-T) é a explicação dos altos valores
de Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 ).
112
Capítulo 5
Conclusão
Neste trabalho de doutorado, foram preparadas no equipamento
Magnetron Sputtering Orion-8 filmes finos puros supercondutor de Nb e
ferromagnéticos de Py e Co e também heteroestruturas híbridas Nb/Cu/FM (FM=
Co ou Py) e válvulas de spin supercondutoras Nb/Cu/Co/Cu/Py (VSS) afim de
testar o modelo fenomenológico anisotrópico de Ginzburg-Landau (GL) e
quantificar o campo magnético disperso da camada FM que atua na camada SC
de Nb. Para isso, estas amostras foram sistematicamente caracterizadas com
medidas de difração de raios X, magnéticas e de magneto-transporte, sendo as
medidas de magnetorresistência as mais utilizadas no trabalho. Do ponto de
vista de nossa hipótese (usar o modelo de GL para determinar o valor do campo
magnético disperso), as Equações (4.4) e (4.5) respectivamente para TC⟘(B) e
TC||(B) (extraídas do modelo anisotrópico de GL) mostraram limites específicos
para a espessura da camada SC de Nb onde o efeito anisotrópico é amplificado.
Então, com a definição do parâmetro ∆𝑇𝐶(𝐵) [=TC||(B) - TC⟘(B)] foi primeiro
observado que no limite de SC anisotrópico (caráter 2D) há uma relação de
proporcionalidade com o campo magnético efetivo (Bef) atuando na camada SC
de Nb, consequentemente a hipótese pode ser testada e o valor do campo
magnético disperso pode ser quantificado em cada uma das estruturas híbridas
controle e VSS.
Os filmes puros Nb (dNb = 20 e 100 nm) foram crescidos diretamente sobre
o Si(100) naturalmente oxidado com o substrato girando e em uma temperatura
Ts = 100 °C. Nesta condição, esses filmes de Nb apresentaram caráter granular,
com estrutura cristalina governada pela fase BCC e com os tamanhos de grão
que aumentaram à medida que a espessura dNb aumentou, reproduzindo
resultados previamente observado por Tales [36]. Ambos os valores de
parâmetro de rede dos filmes Nb20 e Nb100 são maiores do que o valor de bulk
Nb, indicando que o filmes de Nb crescidos sobre Si estão sempre tencionados,
de maneira que no filme de Nb20 a tensão é maior. O caráter granular e as
113
tensões internas da camada de Nb (nos grãos) provocam uma redução adicional
da temperatura crítica supercondutora TC, reproduzindo também resultados
previamente estabelecidos. Este fato garante que nas condições experimentais
descritas nesta tese, há uma garantia na reprodução das propriedades
estruturas, morfológica (distribuição de grãos cristalinos) e, consequentemente
nas propriedades supercondutoras. Mesmo levando em consideração que há
uma distribuição nos valores de TC, medidos indiretamente com curvas R(T), a
análise dos grãos cristalinos maiores (maiores TC) favoreceu o entendimento de
vários problemas, como por exemplo, a influencia do campo magnético disperso
das camadas FM sobre a camada SC de Nb. Das réplicas de amostras
preparadas neste trabalho, foi também demonstrado experimentalmente que as
propriedades supercondutoras da camada de Nb são reprodutíveis nos filmes.
Com relação as propriedades magnéticas das camadas FM de Py e Co
(importantes para o entendimento do campo disperso dessas camadas), foi
demonstrado que:
A camada ferromagnética de Co sempre apresentou duas configurações
de domínios magnéticos: spins-⟘ e spins-||. Essas frações foram
modificadas através da aplicação de campo, principalmente na
configuração perpendicular (B⟘). Além disso, a fração de spins-⟘ da
camada de Co é fortemente dependente da tensão interna na camada de
Nb usada para crescimento primeiro da camada espaçadora de Cu e
depois de Co. Então, foi observado que à medida que dNb cresce menor
é a fração de spins-⟘. A existências das duas frações é fundamental para
se produzir um campo magnético disperso com propriedades específicas,
que garantem a nucleação do estado SC mesmo em presença de altos
campos magnéticos aplicados (relativo ao valor de TC tomado para o filme
equivalente puro no mesmo campo aplicado).
A camada ferromagnética de Py, por ser um magneto mole, ter um
espessura baixa (2 nm = filme ultra fino) e ser crescida pela geométrica
de incidência rasante do feixe de vapor e com o substrato parado (grãos
cristalinos colunares e inclinados com relação ao plano), tem domínios
magnéticos maiores do que na camada de Co e com a magnetização
ligeiramente fora do plano (acompanha a anisotropia de forma dos grãos).
114
Todavia, para valores de campo B⟘ inferiores aos da camada de Co,
ocorre a saturação da magnetização (1,0 T para o Py e 2,0 para o Co),
com isto sua distribuição de magnetização é mais homogênea e influencia
diferentemente as propriedades supercondutoras do Nb.
Com respeito a influência da espessura do espaçador de Cu (dCu) sobre a TC
da camada SC de Nb, foi experimentalmente verificado [com medidas de R(T,
B= 0 T)] para o sistema híbrido tipo válvula de spin VSS20] que à medida que o
valor de dCu diminui no sistema Nb/Cu(dNb)/Py/ Cu(dNb)/Co, há uma redução
linear e significativa nos valores de TC dos filmes finos de Nb com dNb = 20 nm.
Essa é uma comprovação conjugada de vários fenômenos intercorrelacionados
que são: (i) o campo disperso da camada FM adjacente a camada SC, (ii) o efeito
da polarização dos elétrons de condução da própria camada de Cu pela camada
FM e (iii) o efeito de proximidade, que favorece maior densidade de pares de
Cooper tunelando para a camada FM. Nesta tese os itens (i) e (ii) foram
assumidos indistinguíveis e foram denominados como campo magnético
disperso, sem perda de generalidade.
Como dito acima, o campo magnético disperso não tem sido calculado e
nem medido experimentalmente de maneira frequente (antes desta tese não se
conhecia o valor deste campo em sistemas híbridos). Então, uma das principais
contribuições, além do desenvolvimento de nanomateriais com diferentes
estruturas de spins, é o uso do parâmetro definido ∆𝑇𝐶 para quantificar o campo
magnético disperso das diferentes camadas FM em sistemas híbridos SCFM.
Em outras palavras, foi experimentalmente verificado o comportamento linear
com o campo efetivo proposto para o parâmetro ∆𝑇𝐶(B) oriundo do modelo
fenomenológico de GL para todas as heteroestruturas híbridas produzidas com
dNb =20 nm. Em particular, foi demonstrado que:
O valor do campo magnético disperso (stray field) da camada FM nos
sistemas híbridos Nb/Cu/FM (FM= Co ou Py) tem intensidade e sinais
diferentes, ou seja, 𝐵𝐶𝑜(0) = −(8,5 ± 0,1) 𝑚𝑇 e 𝐵𝑃𝑦(0) = +(31,0 ±
0,3) 𝑚𝑇. O principal motivo da diferença nesses valores e sinais foi
explicada assumindo o fato de que a camada FM de Py apresentou uma
distribuição mais homogênea na magnetização em B⟘ (em campos
115
baixos) do que a da camada de Co que, por sua vez, apresentou uma
magnetização não homogenia oriunda das duas frações de spins (⟘ e ||);
Pelo valor do campo disperso (stray field) inferido para a VSS20
[𝐵𝑃𝑦/𝐶𝑜(0) = +(38,0 ± 0,4) 𝑚𝑇], foi concluído que a camada de Py tem
uma forte influencia neste valor de campo, pois está mais próxima da
camada SC de Nb e devido sua distribuição de domínios magnéticos
largos sempre tem um efeito aditivo ao campo aplicado, enquanto que na
camada de Co os domínios perpendiculares são menores e tem regiões
onde se soma ao campo, mas tem também regiões onde reduzem o valor
do campo aplicado;
Foi também demonstrado que a taxa de mudanças nas estruturas de
spins provocadas pelo campo aplicado nos sistemas Nb/Cu/FM (FM= Co
ou Py) segue a seguinte condição 𝛽𝐶𝑜 [(- 0,22 ± 0,02)] < [(- 0,17 ± 0,02)]
𝛽𝑃𝑦, fato que está intimamente relacionado com as diferentes estruturas
de domínios magnéticos das camadas de Py e Co.
Do estudo do efeito VSS [definido como a diferença entre os máximos dos
parâmetros ∆𝑇𝐶 do sistema híbrido relativo ao sistema puro, ou seja, ∆𝑇𝐶(Nb/FM)-
∆𝑇𝐶(Nb)] foi possível mostrar que (i) as diferentes estruturas de domínios
magnéticos das camadas de Co e Py geram campos magnéticos dispersos
distintos que, por sua vez, geram valores altos de efeito VSS no intervalo entre
60 e 300 mK, (ii) esse efeito é dependente também do efeito anisotrópico da
camada SC, ou seja, à medida que o valor de dNb aumenta, o efeito VSS diminui
ou é mascarado pela redução do efeito de anisotropia da camada SC, (iii) o sinal
do campo magnético disperso das camadas FM de Co (negativo) e Py (positivo)
provoca diferentes valores do efeito VSS, sendo também negativo para o caso
do sistema híbrido com Co em 1,0 T, mas sempre com valores positivos para o
sistema híbrido com Py, (iv) as estruturas de domínios não homogêneas da
camada de Co são responsáveis para produzir regiões com campo magnético
efetivo menor do que o campo aplicado, favorecendo a supercondutividade.
Finalizando, foi possível concluir que o campo magnético disperso tem um
papel fundamental no comportamento do efeito VSS [medido Δ𝑇𝑐 (B, 𝜃 =𝜋
2 )] e,
portanto, não somente a transição dos pares de Cooper do estado singleto para
116
o tripleto (S-T) é a explicação dos altos valores de Δ𝑇𝐶 (B, 𝜃 =𝜋
2 ) encontrados
recentemente em sistemas híbridos SCFM [21,35]. Com esta tese e os artigos
publicados, fica demonstrado que há realmente a necessidade de se levar em
conta a contribuição do campo magnético disperso da camada
FM em sistemas híbridos SCFM. A metodologia aqui desenvolvida traz uma luz
para que esta questão seja então sistematicamente usada na interpretação e do
entendimento do efeito VSS. Em outras palavras, esta tese forneceu um modelo
físico prático que contribui para se quantificar os campos magnéticos efetivos na
camada supercondutora de heteroestruturas híbridas SC/FM,
consequentemente contribui para um melhor entendimento do funcionamento
dos dispositivos VSS.
Uma das questões em aberto, entre as várias, é exatamente tentar separar
os efeitos do campo magnético de troca, originado pela polarização dos elétrons
de condução do espaçador, sobre a camada SC de Nb. Para isso, há
necessidade de se variar a espessura do espaçador de monocamada e mudar o
mesmo, colocando por exemplo, Ru que possui maior densidade de elétrons de
condução. Em particular, se usar ou substrato de safira ou alvo de nióbio
nitretado (NbN) valores maiores de TC podem ser obtidos e camadas mais finas
SC podem ser preparadas para amplificar também o efeito de proximidade. São
muitas açoes que podem ser feitas nos sistemas híbridos, pois é um assunto
muito novo e quente.
117
Referências
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124
Apêndice A
A.1 História da Supercondutividade
A ideia desta seção não é ter uma descrição histórica detalhada da
supercondutividade, mas localizar o leitor com relação ao desenvolvimento da
área. Dito isso, a descoberta da supercondutividade ocorreu em 1911, em Leiden
na Holanda, pelo físico holandês Heike Kamerlingh Onnes [A1-A3]. Após a
liquefação do Hélio em 1908, o grupo holandês estudava o comportamento da
resistência elétrica de metais em baixas temperaturas [R(T)]. Quando
investigava o mercúrio (Hg), Onnes observou que em uma temperatura definida,
o sólido Hg possuía uma abrupta mudança no valor da sua resistência, ou seja,
R(T = 4,2 K) reduzia de um valor próximo de 0,125 𝛺 para um valor ~10−5 𝛺,
conforme mostrado na Fig. A.1. A temperatura onde essa queda da resistência
elétrica atingia o menor valor ~10−5 𝛺, foi então definida como sendo a
temperatura crítica de transição supercondutora e representada por TC (na época
Onnes chamavam de supracondutora a transição).
125
Figura A.1: Curva R(T) obtida por Heike Kamerlingh Onnes em 1911 para uma amostra de Hg [A.1]. Figura modificada com relação ao original (nomes das grandezas em português).
Em 1933 [A.4], os físicos W. Meissner e R. Oschsenfeld demonstraram
que a indução magnética (será usado, neste trabalho, campo magnético ��
mesmo sendo um abuso de linguagem) era nula no interior de um material no
estado supercondutor (�� 𝑖𝑛 = 0 ) quando o material supercondutor estivesse
exposto à presença de campo magnético (�� = 𝜇𝑜�� ) de intensidade inferior a um
valor limite BC. Essa propriedade do estado supercondutor relembra um
diamagneto perfeito (Fig. A.2). Hoje, ela é considerada a impressão digital da
supercondutividade e foi definida então como efeito Meissner-Oschsenfeld [A.4].
126
Figura A.2: Esquema mostrando linhas de campo magnético aplicado �� passando por uma seção transversal de um material supercondutor em duas
temperaturas T fixas (a) para 𝑇 > 𝑇𝑐 e (b) 𝑇 < 𝑇𝑐.
Em 1935, os irmãos Fritz e Heinz London [A.5] propuseram a primeira
formulação teórica capaz de explicar fenomenologicamente o efeito Meissner-
Oschsenfeld. Eles (usando um modelo clássico do eletromagnético)
conseguiram prever o comprimento de penetração (𝜆𝐿) do campo magnético
estático no material supercondutor a partir de sua superfície. Maiores detalhes
são apresentados na literatura [A.6].
Em 1950, Vitaly Ginzburg e Lev Landau (Ginzburg-Landau: GL) também
propuseram uma teoria fenomenológica baseada em observações experimentais
e algumas suposições [A.7]. A teoria GL descreve as propriedades dos materiais
supercondutores apresentadas até aqui de forma satisfatória. Ginzburg-Landau
afirmaram que a supercondutividade deveria ser entendida como um fenômeno
quântico macroscópico, de tal modo que a transição de fase de 2º ordem do
estado normal (N) para o supercondutor (SC) fosse descrita por um parâmetro
de ordem na forma de uma função de onda do tipo: 𝜓 = 𝛥(𝑇) 𝑒𝑖𝜃, onde 𝛥(𝑇) é
sua amplitude de probabilidade e θ a fase do parâmetro de ordem [A.7]. Eles
ainda introduziram o conceito de comprimento de coerência (𝜉); parâmetro esse
que está relacionado com a variação espacial do condensado supercondutor,
mais tarde chamado de condensado de pares de Cooper. Ginzburg-Landau
também definiram o parâmetro 𝜅 através da razão entre o comprimento de
127
penetração 𝜆𝐿 e o comprimento de coerência 𝜉 [𝜅 =𝜆(𝑇)
𝜉(𝑇), conhecido como
parâmetro de GL] [A.6,A.7]. Com o parâmetro 𝜅, por exemplo, é possível explicar
a existência de dois tipos de materiais supercondutores: o supercondutor do tipo-
I (somente um campo crítico BC = BC1) e o supercondutor do tipo-II (dois campos
críticos BC1 e BC2) [A.8]. Maiores detalhes estão descritos em livros específicos
sobre supercondutividade, por exemplo, os apresentados nas Referências
[A.6,A.9].
No final da década de 50 surge o primeiro modelo microscópico para
descrever o estado SC; modelo este proposto por John Bardeen, Leon Cooper
e Robert Schrieffer, que hoje é conhecido como modelo (ou teoria) BCS [A.10].
A ideia central dessa teoria é que os elétrons, responsáveis pela
supercondutividade, teriam uma interação atrativa que seria mediada por um
fônon “virtual” da rede cristalina (fônon = quantum de vibração da rede cristalina)
[A.6,A.9-A.10]. A proposta de interação sugere que a passagem de um dado
elétron produz uma deformação da rede cristalina devido à atração Coulombiana
com os núcleos da rede. Um segundo elétron, por sua vez, usa essa deformação
da rede (“desbalanço nas cargas positivas da rede” pela passagem do 1º elétron)
para reduzir a energia interna do sistema, acoplando-se com o primeiro elétron.
Dessa forma, a interação seria do tipo elétron-fônon-elétron e esses elétrons
emparelhados (no espaço dos momentos) são chamados de pares de Cooper e
estão no estado S (spin total nulo). Vale mencionar que foi o físico alemão
Herbert Fröhlich o primeiro a sugerir que a atração entre elétrons via fônons
produzia um gap (banda proibida) de energia entre o estado fundamental
supercondutor (SC) e o primeiro estado excitado normal (N) [A.11]. Além disso,
Bardeen e David Pines [A.12] demonstraram que esse gap, ocasionado pela
interação elétron-fônon, produzia uma atração entre elétrons relativamente maior
do que sua repulsão Coulombiana. Foi assim que Cooper sugeriu que o valor da
energia do gap (oriundo do acoplamento elétron-fônon-elétron) seria o valor
mínimo necessário para destruir o estado SC [A.13].
A teoria BCS também prevê, devido ao valor máximo previsto pelo gap de
energia, um valor limite para temperatura de transição do estado SC para o
estado N (SC-N) de 𝑇𝐶 ~ 25 𝐾 [A.14]. Esse valor relativamente baixo de TC vem
parcialmente restringindo as aplicações tecnológicas dos supercondutores BCS,
128
exceto em sistemas operando com temperaturas criogênicas [T < 20 K]. Então,
uma das grandes aplicações dos materiais supercondutores BCS é em
construções de bobinas supercondutoras para geração de altos campos
magnéticos (12 T, por exemplo) [A.15].
Em 1987, uma nova classe de materiais supercondutores foi descoberta,
ou melhor, foi experimentalmente demonstrado o estado SC em materiais
cerâmicos. Nestes materiais, os valores de TC estavam acima da temperatura de
ebulição do nitrogênio líquido (77 K), fato que potencializou a aplicação
tecnológica dos supercondutores [A.16-A.17]. Em condições normais de pressão
e temperatura, um dos maiores valores de TC nos cerâmicos é de 132 K
(HgBa2Ca2Cu3Oy, sob altas pressões podendo chegar a um valor maior TC)
[A.18]. Devido aos altos valores de TC, atualmente esses supercondutores
cerâmicos são conhecidos com high-TC e não são plenamente descritos pela
teoria BCS. Mais recente e curioso, foi a demonstração da existência do estado
supercondutor em materiais a base de Fe [A.19-A.21], onde não se esperava à
existência do estado SC devido a presença de um possível estado
ferromagnético (FM) dos átomos de Fe, ou seja, o estado ferromagnético (FM) e
supercondutor (SC), sempre foram antagônicos: a existência de um, proíbe a
presença do outro.
Aqui entra um dos pontos chave desse trabalho, a busca do entendimento
da “coexistência” entre ferromagnetismo (FM) e supercondutividade (SC) em um
mesmo material compósito (não significa estar na mesma fase do material).
Como ainda não há menção na literatura, com exatidão, de um material onde há
coexistência entre FM e SC, uma maneira experimental é a construção de
materiais artificialmente estruturados a partir de preparação e desenvolvimento
de filmes finos conjugados em forma de multicamadas compostas por
empilhamentos de camadas FM e SC, ou seja, com interfaces FM/SC. Nestes
sistemas os elétrons de uma dada fase (SC ou FM) podem “tunelar” e persistir
dentro da outra fase, mudando mutuamente as propriedades das duas fases.
Esses sistemas são conhecidos como híbridos por possuírem a interface FM/SC
e apresentarem algumas das características acima mencionadas.
Nos sistemas híbridos (SC/FM) é possível estudar vários efeitos
recíprocos, ou seja, influência da supercondutividade sobre o magnetismo e
vice-versa. Em particular, há um interesse recente no entendimento do efeito: (i)
129
de proximidade SC, onde há tunelamento dos pares de Cooper (estado S) no
interior da camada FM; camada essa que poderá ter ou não uma distribuição
homogênea de magnetização, (ii) da interação do campo magnético disperso
(stray field) produzido pela camada FM sobre o estado SC (efeito orbital) [A.22-
A.24] e (iii) de polarização de spins dos elétrons de condução, por exemplo, de
uma camada espaçadora inserida entre as camadas FM e SC [A.25]. Agora
antes da descrição das observações experimentais e modelos que descrevem
as propriedades de sistemas híbridos SC/FM, algumas propriedades SC serão
apresentadas e discutidas brevemente para uma melhor compreensão dos
efeitos que serão discutidos nesta tese.
A.2 Supercondutividade: Correlação entre Propriedades e Modelos Físicos
A.2.1 Propriedades Supercondutoras de materiais SC-I e SC-II Os supercondutores do tipo-I (SC-I) exibem apenas ou estado normal (N)
ou o de Meissner (SC) ao se variar temperatura T e campo magnético �� ,
conforme ilustrado na Fig. A.3 (a). Desta figura esquemática, é possível notar
que à medida que a temperatura T da amostra aumenta, há uma redução não
linear no valor de campo magnético crítico, que leva o material a fazer a transição
SC-N. Além disso, como �� 𝑖𝑛 = 0 , a magnetização induzida no estado SC é
contrária à direção do campo aplicado, �� = −�� . Portanto, em uma curva M(H)
é esperado um comportamento linear no segundo (quarto) quadrantes para
valores negativos (positivos) de campo magnético aplicado B. Os
supercondutores tipo-II (SC-II) exibem dois campos críticos, o inferior,
𝐵𝑐1(= 𝜇𝑜𝐻𝑐1), e o superior 𝐵𝑐2(= 𝜇𝑜𝐻𝑐2), como mostrado na Fig. A.3 (b).
Novamente, ambos os campos críticos dependem não linearmente da T. Uma
característica marcante é que nos SC-II há um estado chamado de misto. Nesse
estado misto, há penetração do campo magnético (conhecido como estado de
vórtice). Assim, em uma curva M(H) primeiramente há o comportamento linear
entre M e B (�� = −�� ) até atingir o valor de 𝐵𝑐1 devido ao estado SC puro (estado
Meissner). Para valor de B > 𝐵𝑐1, o valor da magnetização induzida reduz à
medida que o valor do campo aplicado �� aumenta até zerar toda magnetização
130
induzida. Esse valor de campo magnético é chamado de campo crítico superior
𝐵𝑐2. O laço de histereses completo [M(H)] de um SC-II é conhecido como laço
tipo estrela [A.26]. Os campos críticos de ambos os tipos de supercondutores
variam com a temperatura e são nulos na temperatura TC de transição SC-N,
conforme sugere o esquema da Fig. 2.3 (b).
Figura A.3: Relação entre campo magnético aplicado versus temperatura para (a) supercondutor do tipo-I e (b) supercondutor do tipo-II (b) [A.27].
A.2.2 Estado de Vórtices
Como abordado acima e na literatura [A.6,A.9], o fenômeno da
supercondutividade pode ser descrito com base na teoria de GL. As duas
grandezas físicas mais relevante na teoria GL são: (i) o parâmetro de ordem
supercondutor 𝜓 e (ii) o vetor potencial 𝐴 . Em sua versão mais simples, 𝜓 =
𝜓𝑒𝑖𝜃, ou seja, 𝜓 é um parâmetro de ordem complexo que descreve os
elétrons emparelhados responsáveis pelo estado.
A versão para entendimento dos SC da teoria de GL foi desenvolvida por
Abrikosov em 1957 [A.8]. Abrikosov procurou descrever o comportamento dos
SC convencionais de baixas temperaturas (TC < 25 K). O diagrama de fase B(T),
mostrado na Fig. A.3, descreve a fase de Meissner (caracterizada pela expulsão
completa do fluxo magnético na condição 𝐵 < 𝐵𝑐1) separada do estado normal
(condição: 𝐵 > 𝐵𝑐2) pela fase mista. Como já dito, na fase mista o campo
magnético aplicado penetra parcialmente no material supercondutor em forma
131
de vórtices. Com isso, a teoria de GL prevê que o campo crítico inferior Bc1(T)
está correlacionado com o comprimento de penetração de London 𝜆𝐿, sendo a
escala de comprimento que determina a resposta eletromagnética do
supercondutor. O fluxo magnético, delimitado em vórtice, é quantizado (quantum
de fluxo magnético) em unidades de,
𝛷0 =
ℎ𝑐
2𝑒~ 2. 10−7𝐺𝑐𝑚2
(A.1)
Havendo aumento no campo magnético aplicado (�� ), a densidade de
vórtices aumenta até que a densidade de vórtices seja tão alta que há forte
superposição desses vórtices, provocando a transição SC-N. Assim, é definido
que o campo crítico superior 𝐵𝑐2(𝑇) está intimamente correlacionado com o
comprimento de coerência 𝜉 do estado supercondutor. Em outras palavras, há
uma segunda escala de comprimento fundamental no estado SC que determina
a resposta espacial do parâmetro de ordem 𝜓 [A.28].
Esses vórtices podem se organizar em topologias regulares conhecidas
como rede de vórtices. Foi Abrikosov que propôs que, no estado misto, os
vórtices não penetram no SC em um único domínio, mas são distribuídos em um
arranjo regulares de tubos de fluxo magnéticos [A.6,A.29]. Abrikosov estudou
dois arranjos regulares: uma rede quadrada e outra triangular (hexagonal) de
vórtices, conforme mostrado na Fig. A.4. A rede triangular é a mais estável
energeticamente, e é conhecia como rede de Abrikosov.
Figura A.4: Diagrama das redes de vórtices (a) quadradas e (b) retangulares. As linhas pontilhadas mostram a célula unitária [A.9].
132
Quase todas as propriedades interessantes dos SC-II estão
correlacionadas com vórtices ou com estados mistos. As propriedades mais
interessantes do estado misto são o seu elevado valor de BC2 e sua capacidade
de carregar uma densidade de corrente (𝐽 ) com essencialmente nenhuma
dissipação térmica. Diferentemente do caso de um SC-I, a densidade de corrente
flui não somente na superfície, mas também por todo o corpo do material. Assim,
haverá uma força eletromagnética, a força de Lorentz 𝐹 𝐿 = 𝐽 × �� , sobre os
vórtices, fazendo com que os vórtices se movam transversalmente à corrente. É
importante também dizer que os vórtices tendem a se fixarem, reduzindo sua
energia, nas imperfeições presentes do material, tais como: impureza, defeitos
pontuais, região de contorno de grãos, etc. Logo, se a força de Lorentz não for
suficientemente intensa, os vórtices podem permanecer estacionários [A.6,A.29].
A.2.3 Teoria BCS da Supercondutividade
A teoria microscópica desenvolvida por Bardeen, Cooper e Schrieffer para
descrever o estado SC, gerado pela interação elétron-fônon, é conhecida
também como a teoria BCS. Há excelentes livros publicados sobre a teoria BCS,
caso maiores detalhes sejam necessários [A.6,A.9,A.29]. Em 1972, Bardeen,
Cooper e Schrieffer foram laureados com o prêmio Nobel de Física. A teoria BCS
considera que o mecanismo da supercondutividade se dá pela formação de
pares de elétrons chamados de “pares de Cooper” [A.13]. Esses pares de
Cooper são formados por dois elétrons, que possuem spins e momentos opostos
[|↑, 𝑝 ⟩ 𝑒 (|↓,−𝑝 ⟩] e estão acoplados por uma interação atrativa gerada pela
deformação da rede cristalina. No seu estado fundamental, os pares de Cooper
(quasi-partículas do tipo de Bose-Einstein) estão no estado de spin total nulo,
chamado de singleto (S). Seu estado excitado possui spin total unitário e é
chamado de estado tripleto (T). Como o estado T tem energia cinética maior que
o S, a transição S-T dos pares de Cooper tem sido usada para descrever o efeito
de proximidade (efeito válvula de spin supercondutora – efeito VSS) em sistemas
híbridos SC/FM [A.30]. Na Fig. A.5 é apresentada uma ilustração dos pares de
Cooper se movendo na rede cristalina. Dentro de uma interpretação clássica,
uma vez que a velocidade do elétron é muito maior que a velocidade de
133
propagação do fônon na rede cristalina, há um atraso na propagação da
deformação em relação ao elétron que o criou, tornando o acoplamento entre os
elétrons um mecanismo aceitável e que ocorre em todo o material no estado SC.
Figura A.5: Esquema mostrando o movimento do par de Cooper por uma rede cristalina. As distorções da rede são provocadas pela passagem de um elétron que acarreta na atração de outro [A.31].
Como dito acima, a energia da interação elétron-fônon-elétron provoca um
gap (∆) nas bandas de energia de condução do material SC; gap (∆) este que
reduz a energia total do sistema. Assim, a teoria BSC prevê que a energia de
ligação dos pares de Cooper é da ordem de 2∆. Quando a temperatura (energia
térmica) for superior a 2∆, os pares de Cooper serão rapidamente aniquilados e
a supercondutividade é destruída. Outras características fundamentais da teoria
BCS foram as descrições, com satisfatória concordância, de vários fenômenos
experimentais observados. Dentre eles, são citados, pelo menos, três:
A temperatura crítica TC variando com a massa dos átomos (efeito
isótopo), caso a supercondutividade seja devido à formação dos pares de
Cooper [A.32];
A temperatura crítica supercondutora TC ser diretamente proporcional ao
valor do gap ∆, tal que: ∆(0) = 1,76 𝑘𝐵𝑇𝐶, onde 𝑘𝐵 é a constante de
Boltzmann e ∆(0) é o valor do gap em T = 0 K [A.33];
Prevê o comportamento exponencial observado experimentalmente com
medidas de calor específico, isto é, 𝐶 = Г𝑒−𝛾/𝑘𝐵𝑇, onde Г e 𝛾 são
constantes próprias do material [A.34].
134
A. Referências
A.1] H. K., Onnes. Comm. Leiden., 120b (1911). [A.2] H. K., Onnes. Comm. Leiden.,122b (1911). [A.3] H. K., Onnes. Comm. Leiden., 124c (1911). [A.4] W. Meissner, R. Ochsenfeld, Naturwiss, 21, 787 (1933). [A.5] F. London and H. London. Proc. Roy. Soc., A149:71, (1935). [A.6] A. C. Rose-Innes and E. H. Rhoderick. Pergamon Press, 2nd edition, (1994). [A.7] V. L. Ginzburg e L. D. Landal, Zh. Eksp. Teor. Fiz. 20, 1064 (1950). [A.8] A. A. Abrikosov. Sov. Phys. JETP, 5:1174, (1957). [A.9] M. Tinkham. 2a ed., McGraw-Hill, (1996). [A.10] J. Bardeen, L. N. Cooper, and J. R. Schrieffer. 108:1175–1204, Dec. (1957). [A.11] H. Fröhlich, Proceedings of the Royal Society, (London) A 215, 291 (1952). [A.12] D. Pines, J. Bardeen, Physical Review 99, 1140 (1955). [A.13] L.N. Cooper, Physical Review 104, 1189 (1956). [A.14] M. Cyrot. Singapore:World Scientific, (1995). [A.15] A. M. Luiz, Superconductivity – Theory and Applications, 1a ed., (2011). [A.16] J. G. Bednorz and K. A. Müller. Phys. B 64, 189 (1986). [A.17] S. N. Putilin, E. V. Antipov, A. M. Abakumov, M. G. Rozova, K. A.Lokshin, D. A. Pavlov, A. M. Balagurov, D. V. Sheptyakov, and M. Marezio. Phys. C. 338, 52 (2000). [A.18] H. Takahashi, A. Tokiwa-Yamamoto, N. Môri, S. Adachi, H. Yamauchi, S. Tanaka. Physica C, 218, (1993). [A.19] C. Wang, L. Li, S. Chi, Z. Zhu, Z. Ren, Y. Li, Y. Wang, X. Lin, Y. Luo, S.. EPL (Europhysics Letters) 83, 67006 (2008). [A.20] F. Hsu , Y. Luo, K. Yeh, T. Chen, T. Huang, P. Wu, Y. Lee, Y. Huang, Y. Ch, D.Yan, M. Wu. PNAS 105, 38 (2008).
135
[A.21] S. Medvedev, T. M. McQueen, I. A. Troyan, T. Palasyuk, M. I. Eremets, R. J. Cava,S. Naghavi, F. Casper, V. Ksenofontov, G. Wortmann & C. Felser. Nature Materials 8, 630 (2009). [A.22] Buzdin, A. I., Rev. Mod. Phys 7., 935 (2005). [A.23] A. Garifullin, JETP Lett. 106, 57 (2017). [A.24] M. Lange, M. J. Van Bael, Y. Bruynseraede, and V. V. Moshchalkov, Phys. Rev. Lett. 90, 1970061 (2003). [A.25] T.Y. Karminskaya,A.A.Golubov, M.Y.Kupriyanov, Phys. Rev. B 84, 064531 (2011). [A.26] T. C. Freitas. Filmes Finos Supercondutores de Nb e Híbridos Nb/[Co/Pd]: Nanoestruturação e Caracterização Estrutural, Magnética e Transporte Elétrico. Tese (Doutorado em Física) – Ufes, Vitória, (2017). [A.27] K. Fossheim, A. Sudbo, Wiley, England, (2004). [A.28] G. Blatter, M. V. Feigel’man, V. B. Geshkenbein, A. I. Larkin, and V. M. Vinokur. Rev. Mod. Phys. 66., 1125 (1994). [A.29] A. C. Rose-Innes, E.H. 2º ed. Oxford (1978). [A.30] Ya. V. Fominov, A. A. Golubov, T. Yu. Karminskaya, M. Yu. Kupriyanov, R. G. Deminov, and L. R. Tagirov. JETP Lett. 91, 308 (2010). [A.31] M. B. S. Costa, A. C. Pavão. Rev. Brasileira de Ensino de Física, v. 34, n. 2, 2602 (2012). [A.32] E. Maxwell. Phys. Rev. 78., 477 (1950). [A.33] P. Townsend and J. Sutton. Ta, Sn, and Pb. Phys. Rev.128., 591 (1962). [A.34] H. A. Boorse. Superconducting electronic specific heats, the “exponential law,” and the Bardeen, Cooper, Schrieffer theory. Phys. Rev. Lett. 2., 391 (1959).
136
Apêndice B
Magnetron Sputtering
Neste apêndice há algumas definições básicas e uma breve discussão sobre o
processo de deposição por Sputtering.
Os filmes são camadas de vapores atômicos/moleculares de materiais que são
depositadas sobre uma superfície (substrato) com temperatura menor do que a
do vapor atômico. Um exemplo cotidiano, seria o vapor de água quente de um
chuveiro depositado sobre os vidros de um banheiro fechado. Cientificamente
falando, para ser considerado filmes finos (nanoestruturas) as espessuras dos
depósitos devem estar entre algumas monocamadas atômicas até, no máximo,
cem (100) nanômetros de espessura (d < 100 nm) [B.1].
Em particular, para produção de nanoestruturas metálicas em forma de
filmes há necessidade de que a deposição dos vapores atômicos seja realizada
em um ambiente de ultra-alto-vácuo (UAV) que, por sua vez, impede
significativamente um possível processo de reação química indesejável ao feixe
atômico de vapor (consequentemente do filme depositado) e reduz a dispersão
do feixe de vapor atômico (espalhamento pelo gás residual) que chega ao
substrato. Quanto melhor for o ambiente de UAV, menores podem ser as taxas
de deposição dos feixes atômicos, consequentemente mais viável os
crescimentos epitaxiais de camadas sobre um dado substrato. Por outro lado, a
produção dos feixes de vapores atômicos pode ser obtida por vários processos
(evaporação térmica, canhão de elétrons, bombardeamento de íons, entre
outros) que, em geral, estão também correlacionados com o processo usado na
preparação dos filmes finos.
Se por um lado, a preparação dos filmes depende de vários fatores
experimentais do processo (tipo de UAV, atmosfera da câmara de deposição,
taxa de deposição, tipo de substratos, temperatura do substrato, entre outros),
por outro lado, a aplicação tecnológica dos filmes depende da viabilidade da
técnica do método (custo, reprodução de resultados, quantidade de filmes por
dia, flexibilidade etc.). Dentre os principais métodos de deposição de filmes
137
metálicos, tem sido amplamente empregado na indústria o método de Magnetron
Sputtering (pulverização catódica), pois possui alta eficiência e tem uma ótima
reprodutibilidade dos seus resultados.
Nesse método, os feixes de vapores atômicos são produzidos por
bombardeamentos dos alvos, que se deseja produzir o filme, por íons de gases
nobre. Em geral, átomos de argônio (Ar) é usado, para obtenção do plasma,
devido ser eficiente, ter baixo potencial de ionização e ser mais barato (mais
abundante) entre os demais gases nobres. Dessa forma, os íons Ar+, que são
acelerados por uma diferença de potencial quando dentro da região do alvo
(Magnetron), bombardeiam um determinado alvo (cátodo), transferindo
momentum linear, consequentemente tendo probabilidade não nula de arrancar
átomos/moléculas do alvo. Para ejeção (cuspi) atômica do alvo, a energia dos
íons Ar+ deve, no mínimo, ser superior a quatro vezes a entalpia (Halvo) de
formação do material do alvo (EAr+ > 4 Halvo). Em outras palavras, através da
transferência de momentum linear dos íons Ar+, os átomos da superfície do alvo
são tornados voláteis e são transportados sob a forma de vapor
atômico/molecular para o substrato, que é colocado diretamente na frente do
vapor atômico para produção do filme, conforme esquematizado na Fig. B.1.
138
Figura B.1: Esquema de uma fonte Magnetron Sputtering contendo o material do alvo (azul com bolas laranjas representando os átomos/moléculas que são ejetadas), a configuração dos imãs permanentes responsáveis em manter estável o plasma (estado misto de elétrons + íons de Ar+), o substrato (cinza) onde é depositado o filme dos átomos ejetados (laranja) (catodo representa o alvo + os imãs = base da Magnetron).
139
B. Referências
[B.1] A. P. Guimarães, Nanoscience and Technology; Principles of Nanomagnetis, 2a ed., Springer, (2009).
140
Apêndice C
Neste apêndice está sendo disponibilizado um conjunto de medidas de DRX
realizadas nas heteroestruturas híbridas dos sistemas com Nb(dNb = 100 nm)
estudadas nesta tese.
Medidas estruturais das heteroestruturas híbridas Nb100/Cu5/Co40,
Nb100/Cu5/Py2 e tipo válvulas de spin supercondutoras VSS100
Figura C.1: Padrões DRX dos filmes híbridos (a) Si(100)/Nb100/Cu5/Py2 e (b)
Si(100)/Nb100/Cu5/Co40.
141
Figura C.2: Padrões DRX dos filmes híbridos (a)
Si(100)/Nb100/Cu5/Py2/Cu5/Py2VSS100 e (b) Si(100)/Nb20/Cu5/Co40Cu5/Py2
VSS20.
142
Apêndice D
Neste apêndice está sendo disponibilizado um conjunto de medidas de magneto-
transporte realizadas nas amostras estudadas nesta tese, com intuito de
contribuir para o melhor entendimento do leitor.
Medidas de magneto-transporte [R(T,B,θ)] das amostras puras de Nb(dNb)
(onde dNb = 20 ou 100 nm de espessura), das heteroestruturas híbridas
Nb(dNb)/Cu5/Co40, Nb(dNb)/Cu5/Py2 e das heteroestruturas hibridas do tipo
VSS Nb(dNb)/Cu5/Py2/Cu5/Co40
Figura D.1: Curvas de R/R0 para a amostra de Nb20 em diferentes configurações
[ângulos (°)] que o campo B foi aplicado ao plano da amostra e em diferentes
valores; (a) 0,25 T, (b) 0,5 T e (c) 1 T.
143
Figura D.2: Curvas de R/R0 para a amostra híbrida Nb20/Cu5/Co40 em
diferentes configurações [ângulos (°)] em que o campo B foi aplicado ao plano
da amostra e em diferentes valores; (a) 0,25 T, (b) 0,5 T e (c) 1 T.
144
Figura D.3: Curvas de R/R0 para a amostra híbrida Nb20/Cu5/Py2 em diferentes
configurações [ângulos (°)] em que o campo B foi aplicado ao plano da amostra
e em diferentes valores; (a) 0,25 T, (b) 0,5 T e (c) 1 T.
145
Figura D.4: Curvas de R/R0 para a amostra híbrida tipo VSS
Nb20/Cu5/Co40/Cu5/Py2 em diferentes configurações [ângulos (°)] em que o
campo B foi aplicado ao plano da amostra e em diferentes valores; (a) 0,25 T,
(b) 0,5 T e (c) 1 T.