o menino lobo ¹ - fepal.orgfepal.org/images/2006ninos/passalacqua, fernanda -trabajo- o...
TRANSCRIPT
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
1
O MENINO LOBO ¹
Fernanda Sivaldi Roberti Passalacqua ²
¹ Trabalho a ser apresentado no XXXVI CONGRESSO LATINO AMERICANO
DE PSICANÁLISE, em Lima, Peru.
² Candidata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto – São
Paulo.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
2
O MENINO LOBO
“Uma corrente de água que encontra obstáculos no leito do rio, fica
represada e reverte para velhos canais que antes pareciam fadados a secar”.
Freud (1905)
INTRODUÇÃO
Neste trabalho tento mostrar as experiências clínicas vividas com
Marcelo, com 9 anos, que parece ter sofrido um desastre mental em
decorrência da preservação de mecanismos primitivos, associado ao
sentimento de abandono. A queixa principal dos pais refere-se à atitude do filho
em cheirar os próprios pés e mãos, tentativas às vezes com êxito, em cheirar
os órgãos sexuais dos outros. Está em análise há 3 anos.
O estabelecimento da sensorialidade se dá pela inter-relação mãe-
bebê, como uma forma de comunicação através do tato, visão, audição.
Quando esta reciprocidade falha ou é insuficiente, o bebê pode permanecer
usando este recurso ao sensório, buscando re-inventar o “outro”. Esta
reinvenção, penso eu, se dá a nível narcísico, já que uma vez o bebê sentindo
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
3
sua ligação amorosa com a mãe obstruída, sente a sua existência perdida, e
recria ilusoriamente a si mesmo.
Isto representaria a meu ver, uma expressão da incapacidade de
tolerar um objeto com existência própria. Tem a função de negar uma realidade
distinta da própria pessoa. Mas há também o sentimento de esperança: detrás
do espelho haveria alguém a ser encontrado.
Suponho que as falhas de reverie materna e paterna contribuem para
que o bebê, nas fases iniciais da vida, mantenha estados primitivos de mente
como um refúgio desesperado ao sentimento de abandono.
A incapacidade de tolerar frustração, favorece o desenvolvimento de
sentimentos de intensa destrutividade e ódio. Ocorre um “entupimento” de
elementos beta que não abre espaço para promover a capacidade para pensar.
Eu sentia muitas dificuldades no contato com esta criança. Na
tentativa de qualquer intervenção verbal ou movimento físico, a criança
berrava, tentando agredir-me verbalmente e fisicamente.
Passei a buscar angustiadamente junto com a criança, meios para
promover uma comunicação criativa e produtiva.
Observando o clima emocional durante as sessões, atenta as
identificações projetivas dele, mas também ao meu contra-sonho,
instrumentalizo-me a criar condições possíveis e favoráveis de mudança de
vínculo destrutivo inicialmente estabelecido.
A criança passa a estimular a minha criatividade para possibilitar que
a sua história traumática seja narrada e transformada.
Surge então nas nossas dramatizações, como um modelo, a história
de Mogli, o menino lobo, do filme de Walt Disney. A história desta criança que
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
4
por desconhecer-se possuidor de uma mente humana, vive como um animal
que cheira tudo para se orientar.
O INÍCIO ASSUSTADOR
Marcelo entra na sala de análise, descalço, de cabeça baixa. Joga
com força os gibis sobre a mesa, derruba violentamente a caixa de lego no
chão, chuta uma almofada para longe. Em seguida, se coloca embaixo da
mesa, onde começa a cheirar um dos pés e depois o outro, alternadamente.
Ele grita, com tom de voz autoritário: “Lê”.
Eu me sinto assustada, confusa. Começo a ler, tentando acalmar-me
e quem sabe a ele também. Ele pula para cima da mesa, começa a cheirar os
braços. Demonstra ouvir o meu tom de voz, muito mais do que o conteúdo da
leitura que eu faço da estória do gibi. Passa a chupar a gola da camiseta.
Pula para debaixo da mesa novamente, cheirando os pés.
Quando tento falar algo, ele grita: “Cala a boca, filha da puta,
desgraçada, vou te encher de porrada”.
Sinto-me ameaçada, com muito medo. Depois de alguns minutos, me
recomponho, e calmamente digo: “Hoje você está muito bravo”...
Ele me interrompe e grita mais alto: “Cala a boca”. Ele vem até mim
com o braço levantado, ameaçando me bater. Coloca o dedo no nariz e em
seguida põe na boca.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
5
Eu sinto náusea. Ele começa a lamber o joelho e fica envolvido nesta
atividade por vários minutos.
Penso que ali eu não existo, ou que não posso existir tamanho é o
envolvimento dele com ele mesmo. Esta cena me remete a uma imagem de um
animal ferido, que lambe sua ferida tentando cicatrizá-la, ou então, pelo menos,
amenizar sua dor. É uma ação solitária, em que eu observo tristeza, desalento,
mas também um pedido de socorro: ele não esconde sua dor, mas desconfia
que eu possa ajudá-lo.
Ele pula novamente para cima da mesa e faz o seguinte desenho;
Enquanto ele desenha, eu sinto certa tranqüilidade, fico inclinada em
comunicar isto a ele. Quando então tento fazê-lo, ele pega as peças do lego
que estão espalhadas no chão, e atira em mim, com força. Sinto-me como num
tiroteio, sem escapatória. Ele corre para fora da sala, e vai embora.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
6
Esta sessão mostra, a meu ver, que a dificuldade no contato com ele,
se deve a negação do outro. Ele é o seio que o alimenta, não precisa de
ninguém. Partes do corpo são sentidas como uma extensão dele, assim como
eu, quando ele manda que eu leia o gibi. Meu tom de voz é uma parte dele,
que ele aciona quando quer. Assim sendo, se eu falo com minha própria voz, e
não como porta voz dele, ele sente-se ameaçado pela minha existência.
Através do desenho, ele dramatiza sua experiência de ter uma mente
com tantos pensamentos assustadores e persecutórios. Como se ele estivesse
numa floresta repleta de animais ferozes e perigosos, que podem acabar com
ele a qualquer momento. Portanto, uma floresta-mente impenetrável.
Mas nesta mente tão desorganizada, existe uma porta e uma janela,
partes saudáveis dele que ficaram preservadas. São estas partes que lhe dão
esperança, e a mim também, de abrirmos uma possibilidade de contato, de
entrada e de saída, de existir um outro - analista, que possa compartilhar com
ele todo o desespero, terror.
Quando ele me manda “calar a boca”, ele tenta atacar esta
possibilidade, atacando as conexões da minha mente. Ele não agüenta a
desorganização da própria mente. Ele comunica que não consegue pensar, é
levado pelo impulso da ação, o que acarreta sentimentos muito dolorosos.
Uma mente que funciona tão precariamente gera violência,
destrutividade, como uma forma de evacuar elementos beta.
As peças de lego, separadas, des-ligadas umas das outras,
representam a fragmentação da personalidade em minúsculos pedaços, que
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
7
sugerem levar a excessiva projeção destes fragmentos da personalidade nos
objetos externos.
UM LOBO NA SALA DE ANÁLISE
Quando fui chamá-lo na sala de espera, ele me disse para eu esperar
que entraria logo. Eu fui para a sala de atendimento e fiquei esperando. Após
alguns minutos, ele entra, joga a caixa de brinquedos com toda força no chão,
(o que restava dela, pois ele já havia em sessões anteriores, destruído grande
parte desta). Sinto um medo terrível. Ele então despejou o lego na mesa e
disse gritando para eu montar alguma coisa. Ele canta alguma coisa, sem
palavras, emitindo apenas sons de maneira muito suave.
Eu ainda assustada disse: “Quem canta os males espanta”.
MARCELO - Fica quieta ou você vai levar um soco. (Ele ergue um
dos braços me ameaçando).
ANALISTA - Que pavor quando o lobo está solto, feroz.
MARCELO - Vou te dar um soco se você falar mais alguma coisa,
filha da puta, burra, imbecil.
Eu fico em silêncio, pego as peças de lego sobre a mesa e começo a
montar uma casinha. Ele me olha com olhos arregalados.
MARCELO - Posso fazer as paredes?
ANALISTA - Pode sim, as paredes são importantes, elas separam um
lugar do outro, definindo cada um.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
8
MARCELO - O que mais pode ter na casa?
ANALISTA - Podemos projetar juntos.
MARCELO - Nós vamos ser os pedreiros.
Eu sinto um bom contato entre nós, mas de repente, ele me atira um
lego acertando na minha testa.
ANALISTA - Assim não Marcelo, deste jeito a casa desmorona, e não
podemos ficar nela não.
MARCELO - Desgraçada, filha da puta. (Gritando e muito irritado).
Ele pega as peças de lego, e tenta insistentemente atirar em mim. Eu
seguro o braço dele, ele me ameaça com o outro braço, eu seguro os dois de
uma só vez.
ANALISTA - Este lobo precisa de abrigo, e não de uma jaula.
Ele se debate, eu o seguro com mais força, tenta me chutar com
ambos os pés. Eu o agarro com força, aos poucos ele vai se acalmando,
devagar vou diminuindo minha força até soltá-lo. Ele se joga nas almofadas,
parecendo estar exausto. Eu me posiciono ao lado dele, e assim
permanecemos até o final da sessão.
Mogli, o menino lobo, foi encontrado na selva por uma pantera que
ouviu o seu choro. Ela fica num impasse em ajudá-lo ou deixá-lo onde estava.
Decide levá-lo para junto de uma família de lobos, para ser amamentado pela
mãe-loba. Mogli vai crescendo na selva, até que um dia, para não ser morto
pelo leão que odiava o homem por sentir-se ameaçado por ele, é levado para a
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
9
civilização. Ele resiste, mas a pantera não desiste, o acompanha até ele
encontrar uma menina, humana como ele.
Penso que nesta sessão, ele entra como o Mogli, assustado pelo
mundo desconhecido (sala de análise-floresta), habitado pela analista -
pantera, e pelos personagens (objetos internos). Um mundo cheio de
perseguidores que o ameaçam como ao leão. Sua saída inicial é apelar para a
arrogância: ele entra na sala quando ele quiser, se eu quiser vê-lo, eu tenho
que esperar.
A analista diante da violência dele, sente medo, e tenta construir uma
casinha, um continente-abrigo para ambos, analista e analisando. Marcelo
aceita a oferta da analista, e juntos começam a construir uma mente que possa
abrigar pensamentos e sentimentos tão selvagens.
Penso aqui, em ruínas que continuam ativas na mente de Marcelo, e
que buscam ser reapresentadas no vínculo comigo, em busca de reconstrução.
Neste trabalho de reconstrução de entrar num território arqueológico, é
necessário tolerância de ambas as partes. Neste sentido, Bion diz sobre a
importância por parte do analista, de observar as diferentes funções que estão
em jogo na conduta verbal e não verbal do paciente e deduzir os fatores
(hipóteses) que participam em cada uma delas. É no presente que temos que
ter um método de formulação que possa penetrar a barreira.
Não existe ainda uma sustentação suficiente: ele explode, as paredes
caem. Há uma descrença de que ele possa desenvolver recursos para tolerar
os desabamentos mentais e ter ao seu lado uma pantera companheira. Ele
reage violentamente, com medo de ser aprisionado pela analista, representante
de seus próprios impulsos hostis.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
10
A analista sente o drama do desabamento, quase se irrita, tenta
segurá-lo. É um movimento de construção-desabamento-construção, um
modelo que se repete em busca de uma relação mais sólida.
Segundo Francis Tustin, a função do analista seria de um “útero
mental” que amortece o impacto do desmoronamento. Ao segurá-lo
fisicamente, representaria a meu ver, naquele momento da sessão, um
manancial necessário para suportar o que se sente ser insuportável.
Há uma confusão entre jaula e abrigo: ele é o Mogli que se enjaula na
selva, nos mecanismos primitivos para evitar o contato com emoções
profundas, civilizadas, que ele sente não suportar. Seria algo aproximado a
uma experiência de encapsulamento, para evitar qualquer coisa que não seja
não-eu, já que mobiliza sentimentos de intenso terror.
Em outros momentos, ele busca abrigo na contenção afetiva da
analista, dando vazão ao menino assustado, indefeso, solitário.
Freud faz referência sobre a importância da verdade histórica.
Verdade que é buscada e construída entre analista e analisando, num contato
de intimidade e reciprocidade. Neste ponto, acredito que os aspectos
contratransferenciais da analista são de suma importância. Eu sentia medo e
terror diante do menino-lobo. Ele convidava-me a encontrar com minhas
vivências primitivas, provavelmente para que eu pudesse entendê-lo e juntos
encontrarmos uma saída.
Marcelo não admite uma história que ele não seja o autor, diretor,
tendo os personagens sob seu controle rígido e autoritário. Pois é assim que
ele se relaciona, controlando, impondo, um leão rei da selva, não para cuidar,
mas para reinar. Há a impossibilidade de usufruir do prazer em estar com a
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
11
analista, pelo medo de que esta se transforme no leão, pronta para massacrá-
lo.
A ARTE DE CONTER O LOBO
Marcelo entra na sala rapidamente, se jogando nas almofadas,
sugerindo esconder algum objeto. Ele me olha e faz sinal que gostaria de me
mostrar algo.
ANALISTA - O que será que você trouxe aí?
Ele se levanta, se aproxima de mim, escondendo as mãos para trás.
MARCELO - Você sabe o que é?
Antes que eu dissesse alguma coisa, ele estendeu o braço na minha
direção, indicando para eu pegar. Eu assim fiz.
ANALISTA - Ah, um cartão de telefone!
MARCELO - Você está vendo um número aí em cima? 50?
ANALISTA - Estou.
MARCELO - Pode ligar 50 vezes.
ANALISTA - Como está chegando as férias, é um jeito de você se
sentir tranqüilo que podemos ficar ligados um no outro.
MARCELO - É de presente para você, eu tenho outro em casa.
Vamos brincar de pique-pega?
ANALISTA - Este cartão é uma pacto para nós não esquecermos um
do outro.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
12
Ele sorri e começa a me explicar como é a brincadeira. Nós iríamos
correr em volta da mesa, imitando um bicho de cada vez. Ele iria à minha frente
escolhendo o bicho que nós dois imitaríamos. Começamos, de vez em quando
eu tomo a frente. O primeiro bicho que ele escolhe é um gato. Observo que não
importava quem pegava quem, e sim que eu o seguisse nas imitações. Ele
expressa alegria.
ANALISTA - Você está feliz tendo minha companhia, visitando estes
animais.
Ele imita um cachorro.
ANALISTA - Qual a raça deste cachorro?
MARCELO - É um poodle.
Ele começa a latir mais forte.
ANALISTA - Agora surge um cachorro mais bravo.
Ele late ainda mais forte, fazendo caretas.
ANALISTA - Será que este é um pitbull?
MARCELO - Acertou. E agora, que bicho é este?
Ele range os dentes e mostra certa apreensão.
ANALISTA - Eu sou a domadora que vai dando nome para a
bicharada, te ajudando a ver cada um. Começamos pelo gatinho, agora acho
que estamos perto do leão.
MARCELO - Acertou.
Ele imita um gorila, fica agitado.
ANALISTA - O gorila causou agitação, será que ele está com medo
do leão?
MARCELO - Muito, muito medo mesmo.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
13
Neste momento, eu me recordo que na história do Mogli, o gorila
aprisiona o menino-lobo, para tirar dele o segredo do homem que é o fogo,
porque é o único meio de desbancar o leão.
ANALISTA - Quem sabe não podemos enfrentar o leão juntos?
MARCELO - Por que eles não podem ser amigos?
ANALISTA - Você quer acabar com esta guerra aí dentro de você,
descobrir um menino bom, fazer da selva uma boa moradia.
Ele se joga nas almofadas.
MARCELO - Deixa eu descansar um pouco. (Silêncio). Vamos brincar
de arminha?
ANALISTA - Vamos enfrentar o leão.
MARCELO - Cada um faz a sua arma, você pode pegar quantas
peças de lego quiser e eu também.
Eu observei que ele estava livre ali comigo, com regras iguais. Então
tomei o cuidado para não fazer uma arma que pudesse sugerir ser melhor que
a dele.
MARCELO - Deixa eu ver como ficou a sua, ficou legal. Agora a
gente faz o esconderijo, eu vou precisar de uma almofada e dois bancos.
ANALISTA - Legal é quando você percebe que é bom ficar junto. Eu
vou pegar a outra almofada e a mesa.
MARCELO - Você vai virar a mesa de lado?
ANALISTA - Por quê?
MARCELO - Ah, porque você não deixa eu fazer isto, pelo menos
nunca deixou.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
14
ANALISTA - Direitos iguais, porque assim ninguém fica em
desvantagem.
Ele começa o tiroteio, me atira com a sua arma, eu caio
dramatizando.
MARCELO - Pegou só de raspão, vai levanta.
ANALISTA - Eu sou a pantera que pode te proteger quando você está
muito feroz, mas também posso estar com você quando você está calmo.
O tiroteio recomeça, ele atira na minha barriga. Meus tiros nunca o
acertam.
ANALISTA - Ai minha barriga, o lobo queria ser o único a ficar perto
da mãe loba.
Ele coloca o polegar na boca, pede para eu esperar um pouco. Ele
vai até a mãe na sala de espera. Volta trazendo um boneco super-herói.
Mostra-me e me pergunta se eu acho bonito.
ANALISTA - Você está desapontado, o que foi?
MARCELO - Minha mãe prefere a Mulher Maravilha.
Isto me faz pensar nas fantasias dele de que se ele tivesse nascido
menina ele seria mais amado pela mãe. Ele é filho único e na entrevista inicial
a mãe me contou que quando engravidou queria uma menina.
ANALISTA - O que te faz achar que ela prefere?
MARCELO - Ela sempre diz isto. A Mulher Maravilha é fortona, acaba
com todo mundo.
ANALISTA - Bom, mas se ela tirar o cinturão e a coroa, ela fica
humana.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
15
MARCELO - O Batman também não pode ter amigos né, porque
ninguém pode descobrir o segredo dele.
ANALISTA - Você sabe qual o segredo dele?
MARCELO - Que ele é homem, ora. O Superman também.
ANALISTA - Então, você fica preocupado de ser um menino humano
e ser fraco, e ninguém gostar de você.
MARCELO - Amanhã eu vou trazer os meus super - heróis para te
mostrar. Tem homem, mulher, e tem um que eu não sei bem o que é.
ANALISTA - Você está na dúvida se você é homem, mulher, ou o
quê.
Logo no início da sessão, Marcelo mostra a sua angústia de
separação em decorrência da aproximação do período de férias. Esta angústia
reflete o medo de ser esquecido numa selva cheia de animais selvagens
perigosos, em que ele sente-se ameaçado pela sua violência interna.
Ele teme a crença de que o tempo e a distância desfaça na sua
mente a possibilidade de salvar os registros de nossos encontros.
Ao trazer o cartão telefônico, ele tenta certificar-se que permanece
uma linha de contato (vínculo) de extensão entre nós. Mas é uma linha que ele
não sabe bem a espessura, se é firme o suficiente para tolerar a ausência sem
sentir-se abandonado; ou se é tão fina que pode vir a romper a qualquer
movimento impulsivo, descontrolado ou de desespero. Haveria então uma linha
muito tênue entre o impulso e a ação, onde a capacidade para pensar pode ser
obstruída.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
16
Sugiro que Marcelo deva ter sofrido uma experiência traumática na
relação inicial com a mãe. Tenho observado na clínica, que certas crianças
desenvolvem reações de evitação para lidarem com uma consciência
traumática de separação física e psíquica da mãe, antes da possibilidade de
introjeção de um bom objeto (mãe nutriz). A mãe dele sofreu depressão pós -
parto, sentindo-se impossibilitada em amamentá-lo como também dedicar-se
aos cuidados ao bebê. O pai sentia-se inseguro e relatou-me que a mãe não
permitia que ele tentasse cuidar do filho, pois a criança tinha saído de dentro
dela, portanto, era mais dela do que do marido. No início do trabalho a mãe
mantinha um contato comigo ambivalente. Se por um lado, ela cuidava em
manter a análise, cumprindo os horários e honorários, por outro, ela temia que
eu pudesse “arrancar” o filho dela. Eu imagino que ela tentava manter uma
“gravidez eterna”, uma relação fusionada com seu filho, em que nada e
ninguém pudessem agir com a função de “obstetra”, de separá-la de seu bebê.
Margareth Mahler cita o rompimento psicótico com a realidade devido
a perda ter ocorrido em um estado tão imaturo de organização psíquica que
não é capaz de superar o pesar e o luto pela perda. O mamilo perdido não
alcançou a condição de objeto, foi experimentado com um conjunto de
sensações.
Ele então propõe o jogo de pique-pega, um movimento de
experimentação de aproximação e distanciamento. Inclui neste jogo a imitação,
que me faz considerar como a mais precoce experiência de uma relação
objetal, e que um relacionamento que não seja recíproco desde o início é
inconcebível. Na verdade, eu me sentia muito estimulada a exercer a minha
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
17
função de reverie, atenta as identificações projetivas, como também aos
aspectos contratransferenciais.
À medida que eu sobrevivo aos seus ataques (tiroteio) e que
permaneço viva com a minha capacidade para pensar, ele tem a experiência
de que sua violência não é tão grande, como na sua fantasia. Ele reintrojeta um
objeto tranqüilizador, transforma a presença de uma mãe morta (André Green)
numa presença de uma analista-mãe viva. É uma nova vivência, desconhecida,
mas que sempre ressurge a ameaça de aniquilamento.
Pode-se também observar as configurações edipianas que existem
no mundo interno de Marcelo. John Steiner ressalta que se o paciente
“negocia” o complexo de édipo de um modo relativamente saudável, ele tem
um modelo interno de relações sexuais que são no geral, uma atividade
criativa. Caso contrário, a fantasia de que uma ligação forma um casal bizarro
ou predominantemente destrutivo parece resultar em formas de pensamento
danificadas, perversas ou gravemente inibidas.
Penso que Marcelo tenta, na relação comigo, buscar esta
negociação, e transformar nosso encontro, cada vez mais fértil, criativo e
produtivo.
Nós dois temos “armas” iguais, dando vazão a uma competição de
igual para igual. Ele atira em mim, atingindo-me, eu não o atinjo, como uma
representação não de um duelo de vida ou morte, mas em busca de vida. Isto
se dá quando ele diz que me acertou só de raspão, ele me quer viva para viver
comigo o que até então ficou reprimido: o desejo de matar o pai, e ficar com a
mãe. Ele então sai em busca de sua identidade sexual, de sua masculinidade,
até agora tão indiferenciada.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
18
Mas pode ele alcançar a culpa e fazer reparação? Ele regride, põe o
dedo na boca, e vai ao encontro da mãe. Ele tem consciência que vem outras
crianças ao meu consultório além dele. Ele busca a mãe para se re-assegurar
que seus ataques em fantasias não a danificaram (ele disparou tiros na minha
barriga). Ele volta a ser o bebê para ter dela o aconchego, mesmo de uma
forma fusionada, primitiva.
Ele retorna para a sala desiludido, sofre a desilusão de “descer para
a terra” da experiência extasiante do estado sublime de unidade jubilosa com a
mãe. A mãe prefere a Mulher Maravilha. Só que neste momento seu
funcionamento psíquico está mais sólido, ele agüenta a dor da frustração, e
quer conversar sobre esta dor. Questiona sobre os super-heróis, se colocando
à parte dos personagens, sinalizando uma tridimensionalidade.
Ferro A. (1992) diz que os personagens são nós de uma rede de
relações intra-psíquicas, os fatos narrados o fundo são um disfarce
comunicável de realidade interna do paciente considerada, porém, já como
dada, à espera de um intérprete que esclareça seu funcionamento,
reencontrando sua raiz nas fantasias inconscientes.
Mogli só consegue se separar da selva (mundo primitivo) quando
descobre o amor. Não só pela menina humana, mas antes pela segurança de
se sentir amado e amar. Esta segurança no amor, é que contribui para dar os
primeiros passos para a posição depressiva: separação do objeto, individuação
e liberdade para ser o que se é.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
19
O LOBO E A PANTERA
Marcelo estava encostado na porta assim que eu abri. Aflito disse-me
que tinha trazido o teclado e perguntou-me se poderia tocar uma música para
mim. Eu aceno positivamente. Cuidadosamente ele pega o instrumento e a
mãe fica nos olhando, demonstrando sentir-se excluída. Ela se levanta
segurando o livro de música fazendo movimento de entrar na sala também. Eu
me ofereço sorrindo gentilmente para ela, tentando mostrar que eu a
compreendia. Ela retribui o sorriso, entrega-me o livro, pega uma revista e
senta-se novamente. Noto o empenho de Marcelo em arrumar o teclado no
chão da sala, como se estivesse orgulhoso em mostrar-me um pênis criativo e
potente.
MARCELO - Custou 9 mil reais.
ANALISTA - É mesmo muito valioso.
Ele começa a tocar “Serenata de Amor” de Mozart. Eu sinto uma
intensa emoção, ocorre-me uma imagem de estar diante de um rapaz que
mostra os dotes afetivos (principalmente o afeto). Ele termina de tocar, olha
para mim esperando minha reação. Eu bato palmas, ele sorri, eu emociono-me.
MARCELO - Qual foi o acontecimento mais feliz da sua vida?
ANALISTA - Eu estou feliz em te ver assim, tão compenetrado e
entregue a esta música.
MARCELO - Não, um acontecimento, o seu casamento, o nascimento
dos teus filhos?
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
20
ANALISTA - Fico feliz em ver um Marcelo nascendo aí, quem sabe
um futuro músico, formando uma parceria comigo.
MARCELO - Hum, talvez, tenho pensado nisto. Mas eu acho que
você ficou feliz com o seu casamento. Vou tocar uma música, vê se você
adivinha.
Ele toca “Marcha Nupcial” de Mendell.
MARCELO - Agora você escolhe uma música.
Imediatamente me ocorre “Asa Branca” de Luís Gonzaga. (Esta
música já foi tema de conversa entre nós).
MARCELO - Eu tinha certeza que você ia escolher esta.
ANALISTA - Por quê?
MARCELO - Porque você gosta de música sertaneja e de...
liberdade.
Enquanto ele toca, olha-me fixamente. Surge em minha mente, o
modelo da relação entre mãe-bebê, em que o olhar da mãe desperta interesse,
curiosidade, vínculo amoroso, e que o bebê capaz de recebê-lo, interage
positivamente com a mãe.
MARCELO - Agora vou tocar a minha música preferida: La
Cucaracha.
Ele toca de um modo engraçado, despojado, fazendo caretas,
agitando o corpo. Ao terminar, propõe brincarmos de pique-pega, tendo como
música de fundo La Cucaracha, que ele programou no instrumento. A regra do
jogo é que temos que correr em volta da mesa, dançando seguindo o ritmo da
música. Começamos a brincadeira, o clima emocional é descontraído, divertido
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
21
para nós dois. De repente ele começa a querer impor como eu devo fazer,
como devo dançar, mostrando-se tenso.
ANALISTA - Espera um pouco, você está assustado e tem que
mandar. O que foi?
MARCELO - Cala a boca. (gritando).
ANALISTA - Estava tão gostoso, mas como está terminando o nosso
tempo hoje, você acha que de tão gostoso você vai sentir tanta falta... (ele me
interrompe).
MARCELO - Que horas são?
ANALISTA - Você acha que eu te mando embora, então tentando
estragar a gostosura aqui você acha que fica mais seguro, será mesmo?
MARCELO - Dá para tocar mais uma música?
ANALISTA - Quero muito ouvir.
Ele toca uma música de sua autoria, com melodia triste e despede-se
de mim.
Nesta sessão, Marcelo aproxima-se da Posição Depressiva,
abandonando momentaneamente seu pensamento onipotente, integrando suas
percepções da realidade externa e interna, demonstrada pela preocupação em
mostrar-me o seu teclado-pênis-potente.
Mas mostra também sua ambivalência: pode ele amar e ser amado
com liberdade? Ele propõe-me casamento, uma relação diferente, não mais de
imposição, sedução de lutas de forças. Ele quer construir junto comigo uma
relação de troca, dada a experiência emocional vivida pelo par.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
22
Ele encontra-se com a sua criatividade mais de perto, através da
música, como uma linguagem de expressão de seus sentimentos.
“Serenata de Amor” pode ser ouvida como uma música de fundo para
dormir-sonhar-acordar.
“Asa Branca”, para libertar terrores, os medos persecutórios e ser um
prelúdio para uma mudança catastrófica.
Penso que há um movimento de restaurar e reintrojetar um casal de
pais que sejam amorosos, férteis, criativos, para que desta relação possa
nascer um filho amoroso, criativo.
É uma nova musicalidade que aos poucos vai sendo introduzida pelo
trabalho conjunto da dupla analítica, alternando-se os papéis de autores,
intérpretes, personagens, em favor da fantasia inconsciente do analisando.
Quando Melanie Klein faz referência a figura dos pais combinados,
representando uma figura de poder e autoritarismo, vejo também uma
expressão de um superego cruel e assassino. Muitas vezes ainda Marcelo
apresenta traços perversos, pela falta de consideração com o objeto (ele ainda
me atira peças do lego), expressa a sua necessidade em usar o objeto e não
usufruí-lo.
Ele dá as cartas para não ser engolfado pelo objeto.
O encontro com a música sugere uma tentativa de viver uma nova
experiência, onde o ódio e a destrutividade abrem caminho para o amor,
crescimento e desenvolvimento.
Há uma sexualidade que agora está podendo aparecer através da
música, do componente corporal, de busca de entrosamento, complementação.
Não é de penetração sádica, de forçar-me a fazer o que ele quer. É de uma
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
23
penetração em que se torna possível nascer novos frutos: pensamentos,
idéias, associações.
CONCLUSÃO
Tenho observado o empenho de Marcelo em deixar de ser um animal
para se transformar em homem, já que uma mente disponível se oferece à ele
para as suas projeções. Nosso trabalho é árduo (ele ainda mostra-se agressivo
comigo), o cenário (sala de análise) é muitas vezes uma selva povoada de
perigos tanto para ele como para mim também.
Às vezes, tomada pelo medo, eu me sinto impossibilitada de pensar,
sofro o impacto da violência dele de modo a sentir-me paralisada, não
encontrando uma sintonia entre nós. Ele exige de mim muita rapidez para
acompanhá-lo, e que em certos momentos acabo recorrendo a “falsas
interpretações”, ao invés de brincar de forma que possa oferecer
transformações.
À medida que se torna possível compartilhar os personagens no “aqui
e agora” da sessão analítica, desbravando seu mundo interno selvagem,
repleto de pensamentos primitivos, abre-se um novo caminho para o encontro
de si e do outro.
Isto permite uma transformação das turbulências proto-emocionais
em pensamentos e emoções pensáveis.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
24
O sadismo começa a perder sua força, dando espaço para a
experiência de prazer. Através da reverie da analista, ele pode vivenciar
possíveis relações de segurança. Quando nas sessões ele se joga nas
almofadas, acredito haver um movimento psíquico de incorporar o seio-
analista, mantendo um estado fusional. Depois, toma uma outra direção, que é
a de buscar e usufruir um seio, que possa alimentá-lo. O movimento seguinte é
de poder desenvolver e encontrar este seio continente dentro dele, que o ajude
a suportar o que ele sente ser insuportável.
Esta movimentação psíquica sofre oscilações freqüentes, que é fruto
de uma elaboração que vem sendo buscada exaustivamente. Esta oscilação
segue um padrão de repetição. Quanto mais íntimo o relacionamento, maior a
dependência potencial e, portanto, maior a necessidade de recuar para a
combinação específica de defesas.
No encontro analítico há uma busca incessante por reconstruir
verdades muitas vezes inevitáveis e por encontrar meios de simbolizá-las de
um modo que nos impele a reviver e continuar mais adiante esta busca. O
encontro com a música é fundamental. De início, a musicalidade era expressa
quase que unicamente através de seus gritos e berros, tornando inaudíveis as
intervenções da analista. Agora, está disponível um outro grito, como
instrumento musical acessível de escuta, com várias configurações, inclusive
de um choro ainda retido, pelo medo de afogar-se em lágrimas. Sonhar um
sonho a dois, no contato entre duas mentes, abre-se a possibilidade de um dia
Marcelo poder narrar sua história, observando os personagens, com um
conhecimento real do objeto, com seus aspectos bons e maus.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
25
A história de Mogli, que surgiu no contato entre nós dois, propiciou
uma possibilidade de usar uma linguagem acessível ao diálogo, re-visitando
um mundo tão selvagem para ambos, analista e analisando.
Havendo o encontro de um continente que receba as projeções
violentas do paciente, abre-se a possibilidade de se efetuar a cisão entre a
parte psicótica e a parte capaz de relação. Assim, Marcelo começa a passar
por transformações importantes para seu crescimento: de lobo para menino, a
analista, de pantera, vem sendo vista, segundo as próprias palavras dele, como
a “dra. ajudadora de gente”.
RESUMO
Através do atendimento de uma criança que apresenta mecanismos
muito primitivos na maneira de agir e pensar, levou a autora a investigar formas
de comunicação e uso de linguagem para estabelecer um vínculo entre a dupla
analista e analisando. A autora propõe que a falha da função materna e
paterna sobrecarregam a criança, desde o início da vida, com impulsos
agressivos e destrutivos, gerando um sentimento de terror no contato com
qualquer objeto externo. Isto deve-se a introjeção de objetos internos
ameaçadores e persecutórios, delineando o mundo interno e externo da
criança. Através da reverie da analista, este mundo amplia-se para um mundo
mais civilizado, tornando possível um contato com a criança consigo mesma e
com os outros. A autora se utiliza partindo do estímulo do analisando, da
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
26
história de Mogli, do filme de Walt Disney, que enriquece o sentimento de
esperança em desenvolver um vínculo amoroso, passando e re-visitando o
mundo primitivo da mente da criança.
BIBLIOGRAFIA
1- Bion,W.R. Caesura. In Two Papers: The Grid and Caesura.
Imago Ed , Rio de Janeiro,1977.
2- ________. Conferências Brasileiras. São Paulo,1973,
Imago Ed.
3- ________. (1967). Diferenciação entre a Personalidade
Psicótica e a Personalidade não Psicótica. Rio de Janeiro:
Imago,Ed,1994
4- Bettelheim,B (1980). A Psicanálise dos Contos de Fadas.
Rio de Janeiro, Paz e Terra Ed, 1980.
5- Ferro,A (1999). A Psicanálise como Literatura e Terapia.
Rio de Janeiro, Imago Ed,2000.
6- ______.Cultura da Reverie e Cultura da Evacuação.
Trabalho traduzido por Marta Petricciani.
7- Freud, S. (1937). Construções em Análise. In Edição
Standart das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud ( vol
XXXIII), Rio de Janeiro, Imago Ed,1980.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
27
8- _______. ( 1914). Sobre o Narcisismo: uma introdução.
In Edição Standart Das Obras Psicológicas Completas De Sigmund
Freud ( vol XIV), Rio de Janeiro, Imago Ed, 1980.
9- Feldman, Michael. O Complexo de Édipo- Manifestações
no mundo interno e na situação terapêutica, em Complexo de Édipo
Hoje-Implicações Clínicas. Porto Alegre, Artes Médicas Ed,1992.
10-Gaddini, Eugênio. Sobre a Imitação. Int J. Psycho-Anal (1969)
50, 475-484.
11-Klein,M. Inveja e Gratidão. (1946-1963). In Inveja e Gratidão e
outros trabalhos, Rio de janeiro. Imago Ed, 1991.
12-Klein,M. Notas sobre Alguns Mecanismos Esquizóides. (1952).
In os Progressos da Psicanálise, Rio de Janeiro, Zahar ed,1982.
13-Ogden,T. Analisando formas de vitalidade e desvitalização da
transferência e contratransferência. In Int J. Psycho-Anal (1995), 76,4.
14-Tustin,F. Barreiras autistas em pacientes neuróticos. Porto
Alegre, Artes Médicas Ed, 1990.
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
28
Fernanda Sivaldi Roberti Passalacqua Avenida Brás Olaia Acosta, 1º andar,
Sala 101- Centro Empresarial Ribeirão Office Tower- Jardim Califórnia.
Ribeirão Preto- São Paulo. Fone- (16) 36217556.
E-Mail- [email protected]
Fepal - XXVI Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis "El legado de Freud a 150 años de su nacimiento" Lima, Perú - Octubre 2006
29