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Desventuras em Série Livro oitavo O HOSPITAL HOSTIL de LEMONY SNICKET Ilustrações de Brett Helquist Tradução de Ricardo Gouveia 13ª - reimpressão

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� Desventuras em Série �

Livro oitavo

O HOSPITALHOSTIL

de LE MONY SNIC KET

Ilus tra ções de Brett Hel quist

Tradução de Ricardo Gouveia

13ª- reimpressão

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Copy right do tex to © 2003 by Lemony SnicketCopy right das ilus tra ções © 2003 by Brett Helquist

O selo Seguinte pertence à Editora Schwarcz S.A.

Pu bli ca do me dian te acor do comHar per Col lins Chil dren’s Books,

di vi são da Har per Col lins Pu blis hers, Inc.

Tí tu lo ori gi nal:The hostile hospital

Preparação:Beatriz Antunes

Re vi são:Olga Cafalcchio

Carmen S. da Costa

Os personagens e situações desta obra são reais apenas no universo da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos, e sobre eles não emitem opinião.

2014To dos os di rei tos des ta edi ção re ser va dos à

EDI TO RA SCHWARCZ S.A.Rua Ban dei ra Pau lis ta, 702 cj. 3204532-002 — São Pau lo — SP

Te le fo ne: (11) 3707-3500Fax: (11) 3707-3501

www.com pa nhia das le tras.com.brwww.blogdacompanhia.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Snicket, LemonyO hospital hostil / de Lemony Snicket ; ilus trações de Brett

Helquist ; tradução de Ricardo Gouveia. — São Pau lo : Com -pa nhia das Letras, 2004.

Título original: The hostil hospitalISBN 978-85-359-0451-2

1. Literatura infanto-juvenil I. Helquist, Brett II. Título.

03-7417 CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:1. Literatura infanto-juvenil 028.52. Literatura juvenil 028.5

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C A P Í T U L O

Um

Existem duas razões por que um escritor termina-ria uma frase com a palavra “ponto” escrita toda emletras maiúsculas PONTO. A primeira é no caso deo escritor estar redigindo um telegrama, que é umamensagem em código enviada por um fio elétricoPONTO. Em um telegrama, a palavra “ponto”, todaem letras maiúsculas, é o código para indicar o fi-nal de uma frase PONTO. Mas existe uma outra ra-zão por que um escritor terminaria uma sentençacom a palavra “ponto” escrita inteiramente em le-tras maiúsculas, que é advertir os leitores de que olivro que estão lendo é tão absolutamente desgra-çado que, se eles já começaram a ler, a melhor coi-

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sa a fazer seria parar PONTO. Este livro em particu-lar, por exemplo, descreve um período especialmen-te infeliz nas vidas aflitivas de Violet, Klaus e SunnyBaudelaire, e se você tiver um pingo de juízo queseja, irá fechar este livro imediatamente, arrastá-lopara uma elevada montanha e atirá-lo do alto docume PONTO. Não existe razão na Terra para vocêler nem mais uma palavra sobre o infortúnio, a trai-ção e o desgosto que estão reservados para as trêscrianças Baudelaire, do mesmo modo como nãoexiste razão para você sair correndo para a rua e sejogar embaixo de um ônibus PONTO. Esta sentençaterminada em “ponto” é a sua ultimíssima chancede fazer de conta que o aviso “PONTO” é um sinalde parada e parar com o dilúvio de desespero queo aguarda neste livro, o horror de parar o coraçãoque começa exatamente na próxima frase, bastan-do para isso obedecer ao “PONTO” e parar PONTO.

Os órfãos Baudelaire pararam. Era de manhã ce-do, e as três crianças vinham andando havia horaspela paisagem achatada e pouco familiar. Estavamcom sede, perdidas e exaustas, o que são três boasrazões para interromper uma longa caminhada, maselas também estavam assustadas, desesperadas e nãomuito longe das pessoas que queriam lhes fazer mal,o que são três boas razões para prosseguir. Os irmãos

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tinham desistido de qualquer tipo de conversa ho-ras atrás, economizando até a última gota de ener-gia para pôr um pé na frente do outro, mas agorasabiam que tinham de parar, nem que fosse por ummomento, e conversar sobre o que fazer a seguir.

As crianças estavam paradas na frente do Arma-zém Geral Última Chance, o único edifício que en-contraram desde que começaram a sua longa e deli-rante caminhada noturna. A fachada da loja estavacoberta de cartazes desbotados anunciando o queestava à venda, e sob a luminosidade fantasmagóri-ca da meia-lua os Baudelaire conseguiram ver quelimas frescas, facas de plástico, carne enlatada, en-velopes brancos, balas com sabor de manga, garrafasde vinho tinto, carteiras de couro, revistas de moda,aquários com peixinhos dourados, sacos de dormir,figos secos, caixas de papelão, vitaminas suspeitas emuitas outras coisas estavam disponíveis no arma-zém. Porém não havia, em nenhum lugar do edifí-cio, um cartaz que anunciasse ajuda, que é do queos Baudelaire realmente precisavam.

“Acho que deveríamos entrar”, disse Violet, ti-rando uma fita do bolso para amarrar os cabelos.Violet, a mais velha dos Baudelaire, que era prova-velmente a melhor inventora de catorze anos de ida-de do mundo, sempre amarrava os cabelos com uma

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fita quando tinha de resolver um problema, e na-quele momento estava tentando inventar uma so-lução para o maior problema que ela e os irmãos játinham enfrentado. “Talvez haja alguém lá dentroque possa nos ajudar de alguma forma.”

“Mas talvez haja alguém lá dentro que tenha vistoos nossos retratos no jornal”, disse Klaus, o Baude-laire do meio, que recentemente passara o seu déci-mo terceiro aniversário em uma imunda cela de ca-deia. Klaus tinha um verdadeiro talento para selembrar de praticamente toda palavra de praticamen-te todos os milhares de livros que tinha lido, e fran-ziu o cenho ao se lembrar de uma coisa sobre elemesmo que lera recentemente no jornal, e que nãoera verdade. “Se eles leram O Pundonor Diário”, con-tinuou ele, “talvez acreditem em todas aquelas coi-sas horríveis sobre nós. Aí é que não vão nos ajudarmesmo.”

“Ageri!”, disse Sunny. Sunny era um bebê, e co-mo acontece com a maioria dos bebês, partes dife-rentes dela estavam crescendo em proporções dife-rentes. Por exemplo, ela só tinha quatro dentes, mascada um deles era tão afiado quanto os de um leãoadulto, e muito embora ela tivesse aprendido a an-dar recentemente, Sunny ainda estava pegando ojeito de falar de um modo que todos os adultos pu-

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dessem entender. Seus irmãos, no entanto, enten-deram imediatamente que ela queria dizer: “Bem,não podemos continuar andando para sempre”, eos dois Baudelaire mais velhos balançaram a cabe-ça, concordando.

“Sunny tem razão”, disse Violet. “Isto aqui sechama Armazém Geral Última Chance. Soa comose este fosse o único edifício por quilômetros e qui-lômetros. Pode ser a nossa única oportunidade deconseguir alguma ajuda.”

“E olhe”, disse Klaus apontando para um cartazcolado em um canto elevado do edifício. “Podemosenviar um telegrama lá de dentro. Talvez assim con-sigamos alguma ajuda.”

“Para quem iríamos enviar um telegrama?”, per-guntou Violet, e mais uma vez os Baudelaire tive-ram de parar e pensar. Se você é como a maioria daspessoas, tem um sortimento de amigos e familiaresa quem pode pedir auxílio em tempos difíceis. Porexemplo, se você acordasse no meio da noite e vis-se uma mulher mascarada tentando se arrastar dajanela para dentro do seu quarto, poderia chamar asua mãe ou o seu pai para ajudá-lo a empurrar amulher para fora de novo. Se você se encontrasseirremediavelmente perdido, no meio de uma cida-de estranha, poderia pedir à polícia que lhe desse

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uma carona para casa. E se você fosse um autor tran-cado em um restaurante italiano que está sendoinundado de água, poderia apelar para os seus co-nhecidos nos negócios de chaveiro, massas e espon-jas para virem em seu socorro. Mas o infortúnio dascrianças Baudelaire começara com a notícia de queos seus pais tinham morrido em um incêndio terrí-vel, portanto não podiam apelar para a mãe ou opai. Os irmãos não podiam contar com o auxílioda polícia, porque os policiais estavam entre as pes-soas que os perseguiram durante a noite inteira. Enão podiam contar com conhecidos, já que haviatantos conhecidos das crianças que eram incapazesde ajudá-las. Depois da morte dos Baudelaire pais,Violet, Klaus e Sunny viram-se sob os cuidados devários tutores. Alguns tinham sido cruéis, alguns ti-nham sido assassinados. E um deles era o condeOlaf, um vilão ganancioso e traiçoeiro que era a ver-dadeira razão por que eles estavam ali, totalmentesozinhos no meio da noite, na frente do ArmazémGeral Última Chance, se perguntando a quem nomundo poderiam apelar por ajuda.

“Poe”, disse Sunny afinal. Ela estava falando dosr. Poe, um banqueiro que sofria de uma tosse atroze que estava encarregado de cuidar das crianças de-pois da morte dos seus pais. O sr. Poe nunca tinha

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sido especialmente benéfico, mas ele não era cruel,não tinha sido assassinado nem era o conde Olaf, eaquelas pareciam ser razões suficientes para conta-tá-lo.

“Acho que podemos tentar o sr. Poe”, concordouKlaus. “O pior que pode acontecer é ele dizer não.”

“Ou tossir”, disse Violet com um sorrisinho. Seusirmãos sorriram de volta, e as três crianças empur-raram a porta enferrujada e entraram.

“Lou, é você?”, gritou uma voz, mas as criançasnão puderam ver a quem ela pertencia. O interiordo Armazém Geral Última Chance era tão abarro-tado quanto o exterior, cada centímetro do lugarestava atulhado de coisas para vender. Havia prate-leiras de aspargos enlatados e estantes de canetas-tinteiro, ao lado de barris de cebolas e caixotes cheiosde penas de pavão. Havia utensílios de cozinha pre-gados nas paredes e candelabros pendurados no te-to, e o piso era formado por milhares de tipos dife-rentes de ladrilhos, cada qual com o seu preçocarimbado. “Você está entregando o jornal da ma-nhã?”, perguntou a voz.

“Não”, respondeu Violet, enquanto os Baudelai-re tentavam abrir caminho até a pessoa que estavafalando. Com dificuldade, passaram por cima deuma caixa de comida de gato e contornaram uma

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estante, só para encontrar fileiras e mais fileiras deredes de pesca bloqueando o caminho.

“Não estou surpreso, Lou”, continuou a voz en-quanto os irmãos voltavam atrás, passavam por ummonte de espelhos e uma pilha de meias e desciampor uma passagem repleta de vasos de hera e caixasde fósforos. “Normalmente, eu não recebo O Pun-donor Diário até depois da chegada dos Combaten-tes pela Saúde do Cidadão.”

As crianças pararam de procurar pela fonte davoz por um momento e se entreolharam, pensandonos amigos Duncan e Isadora Quagmire. Duncane Isadora eram dois trigêmeos que, como os Bau-delaire, tinham perdido os pais, juntamente com oirmão Quigley, em um incêndio terrível. Os Quag-mire tinham caído nas mãos de Olaf um par de ve-zes e escapado só recentemente, mas os Baudelairenão sabiam se algum dia voltariam a ver os amigosde novo, nem se ficariam sabendo de um segredoque os trigêmeos tinham descoberto e escrito nosseus cadernos. O segredo dizia respeito às iniciaisC.S.C., mas as únicas pistas que os Baudelaire ti-nham eram umas poucas páginas dos cadernos deDuncan e Isadora, e os três irmãos mal conseguiamencontrar tempo para examiná-las com cuidado.Poderiam os Combatentes pela Saúde do Cidadão

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finalmente ser a resposta que as crianças estavamprocurando?

“Não, nós não somos Lou”, gritou Violet. “Somostrês crianças, e precisamos enviar um telegrama.”

“Um telegrama?”, gritou a voz, e quando as crian-ças contornaram uma outra estante quase colidiramdiretamente com o homem que estava falando comelas. Era muito baixo, mais baixo do que Violet eKlaus, e parecia estar sem dormir e sem se barbearhavia um bom tempo. Estava usando dois sapatosdiferentes, cada um com a sua etiqueta de preço, euma porção de camisas e chapéus ao mesmo tem-po. Estava tão coberto de mercadorias que quaseparecia parte da loja, a não ser pelo sorriso amisto-so e pelas unhas sujas.

“Vocês com certeza não são Lou”, disse ele. “Loué um homem gorducho, e vocês são três criançasmagricelas. O que fazem por aqui tão cedo? É pe-rigoso, vocês sabem. Ouvi dizer que O PundonorDiário desta manhã traz uma matéria sobre três as-sassinos que estão à espreita bem nestas vizinhan-ças, mas ainda não li.”

“As matérias dos jornais nem sempre são acura-das”, disse Klaus nervosamente.

O dono do armazém franziu o cenho. “Bobagem”,disse ele. “O Pundonor Diário não publicaria coisas

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que não são verdadeiras. Se o jornal diz que alguémé um assassino, então é um assassino, e ponto final.Mas, bem, vocês disseram que queriam enviar umtelegrama?”

“Sim”, disse Violet. “Ao sr. Poe da Administra-ção Financeira de Multas, na cidade.”

“Vai custar um bocado de dinheiro para enviarum telegrama para tão longe, na cidade”, disse o ven-dedor, e os Baudelaire se entreolharam, consternados.

“Não temos dinheiro nenhum conosco”, admi-tiu Klaus. “Somos três órfãos, e o único dinheiroque temos é cuidado pelo sr. Poe. Por favor, senhor.”

“S.O.S.!”, disse Sunny.“Minha irmã quer dizer: ‘Este é um caso de emer-

gência!’”, explicou Violet. “E é.”O vendedor, dono do armazém, olhou para eles

um momento e depois encolheu os ombros. “Se érealmente um caso de emergência”, disse ele, “eu nãovou cobrar de vocês. Eu nunca cobro nada pelas coi-sas quando elas são realmente importantes. Com-batentes pela Saúde do Cidadão, por exemplo. Sem-pre que o ônibus deles pára aqui, eu lhes dou gasolinagrátis, já que fazem um trabalho tão maravilhoso.”

“O que, exatamente, eles fazem?”, perguntouViolet.

“Combatem doenças, é claro”, respondeu o ven-

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dedor. “Os C.S.C. dão uma parada aqui todas as ma-nhãs bem cedo, a caminho do hospital. Eles se de-dicam diariamente a alegrar os pacientes, e eu nãotenho coragem de cobrar nada deles.”

“O senhor é um homem muito bondoso”, repli-cou Klaus.

“Ora, gentileza sua dizer isso”, retrucou o ven-dedor. “Agora, o dispositivo para enviar telegramasestá ali, ao lado daqueles gatinhos de porcelana. Euvou ajudá-los.”

“Podemos fazer isso sozinhos”, disse Violet. “Eumesma construí um dispositivo desses quando ti-nha sete anos, portanto sei como conectar o circui-to eletrônico.”

“E eu já li dois livros sobre o código Morse”, dis-se Klaus. “Portanto posso traduzir a nossa mensa-gem em sinais eletrônicos.”

“Socorro!”, disse Sunny.“Mas que grupo de crianças talentosas”, disse o

vendedor com um sorriso. “Bem, vou deixar vocêstrês à vontade. Espero que esse tal de sr. Poe possaajudá-los com o seu caso de emergência.”

“Muito obrigada, senhor”, disse Violet. “Eu tam-bém espero.”

O vendedor fez um pequeno aceno para as crian-ças e desapareceu atrás de um mostruário de des-

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cascadores de batatas. Os Baudelaire se entreolha-ram, alvoroçados.

“Combatentes pela Saúde do Cidadão?”, sussur-rou Klaus para Violet. “Você acha que finalmentedescobrimos o verdadeiro significado de C.S.C.?”

“Jacques!”, disse Sunny.“Jacques falou alguma coisa sobre trabalhar co-

mo voluntário”, concordou Klaus. “Se ao menos ti-véssemos alguns momentos para examinar as pági-nas que sobraram dos cadernos dos Quagmire!Ainda estão no meu bolso.”

“Primeiro o mais urgente”, disse Violet. “Vamosenviar o telegrama para o sr. Poe. Se Lou entregarO Pundonor Diário esta manhã, o dono da loja vaiparar de pensar que somos um grupo de criançastalentosas e começar a pensar que somos assassinos.”

“Você tem razão”, disse Klaus. “Depois que o sr.Poe nos tirar dessa enrascada, teremos tempo parapensar nessas outras coisas.”

“Trosslic”, disse Sunny. Ela queria dizer algumacoisa na linha de: “Você quer dizer se o sr. Poe nostirar desta enrascada”, e os seus dois irmãos incli-naram a cabeça concordando, sombrios, e foramdar uma olhada no dispositivo telegráfico. Era umarranjo de botões, mostradores, fios e estranhos im-plementos metálicos que eu teria medo até de to-

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car, mas os Baudelaire se aproximaram daquilo con-fiantes.

“Estou razoavelmente segura de que podemosoperar isto aqui”, disse Violet. “Parece bem simples.Veja, Klaus, você usa estas duas barras de metal pa-ra bater a mensagem em código Morse, e eu vou co-nectar o circuito aqui deste lado. Sunny, você ficaaqui em pé e coloca estes fones de ouvido para ou-vir o sinal e ter certeza de que está sendo transmiti-do. Mãos à obra.”

As crianças puseram mãos à obra, uma expres-são que aqui significa “tomaram suas posições emvolta do dispositivo telegráfico”. Violet girou umbotão, Sunny colocou os fones de ouvido e Klauslimpou as lentes dos óculos para ter certeza de queiria enxergar o que estava fazendo. Os irmãos incli-naram a cabeça uns para os outros e Klaus começoua falar alto enquanto batia a mensagem em código.

“Para: sr. Poe, na Administração de Multas”, dis-se Klaus. “De: Violet, Klaus e Sunny Baudelaire.Por favor não acredite na história sobre nós publi-cada n’O Pundonor Diário PONTO. O conde Olafnão está realmente morto, e nós realmente não oassassinamos PONTO.”

“Pra ele?”, perguntou Sunny.“Não, ‘PONTO’ é o código para o fim de uma sen-

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tença”, explicou Klaus. “Agora, o que devo dizer aseguir?”

“Logo depois da nossa chegada na cidade deC.S.C. fomos informados de que o conde Olaf tinhasido capturado PONTO”, ditou Violet. “Apesar de ohomem que foi preso ter um olho tatuado no tor-nozelo e uma sobrancelha em vez de duas, ele nãoera o conde Olaf PONTO. O nome dele era JacquesSnicket PONTO.”

“No dia seguinte o encontraram assassinado, e oconde Olaf chegou na cidade junto com a sua na-morada, Esmé Squalor PONTO”, continuou Klaus,batendo sem parar. “Como parte do seu plano pa-ra roubar a fortuna deixada pelos nossos pais, o con-de Olaf disfarçou-se de detetive e convenceu a ci-dade de C.S.C. de que éramos os assassinos PONTO.”

“Uckner”, sugeriu Sunny, e Klaus traduziu o queela disse para o vernáculo e depois para o códigoMorse: “Nesse meio-tempo nós descobrimos ondeos trigêmeos Quagmire estavam sendo escondidose os ajudamos a fugir PONTO. Os Quagmire conse-guiram passar para nós alguns retalhos dos seus ca-dernos para que tentássemos descobrir o verdadei-ro significado de C.S.C. PONTO.”

“Nós conseguimos fugir dos cidadãos da cidade,que querem nos queimar na fogueira por um assas-

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sinato que não cometemos PONTO”, disse Violet, eKlaus rapidamente bateu a frase codificada, antesde acrescentar mais duas últimas frases dele mesmo.

“Por favor responda imediatamente PONTO. Es-tamos em sério perigo PONTO.”

Klaus bateu o último O de “PONTO” e depoisolhou para as irmãs. “Estamos em sério perigo”, dis-se ele de novo, mas sua mão não se mexeu no ma-nipulador.

“Você já enviou essa frase”, disse Violet.“Eu sei”, disse Klaus. “Não estava incluindo no

telegrama outra vez. Só estava falando. Estamos emsério perigo. É quase como se eu não tivesse me da-do conta de como era sério o perigo até bater a fra-se em um telegrama.”

“Ilimi”, disse Sunny, e tirou os fones de ouvidopara poder encostar a cabeça no ombro de Klaus.

“Eu também estou com medo”, admitiu Violet,dando palmadinhas no ombro da irmã. “Mas tenhocerteza de que o sr. Poe vai nos ajudar. Não se po-de esperar que a gente resolva esse problema semajuda de ninguém.”

“Mas foi assim que resolvemos todos os outrosproblemas”, disse Klaus, “desde o incêndio. O sr.Poe nunca fez nada, a não ser nos mandar de umlar desastroso para outro.”

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“Ele vai nos ajudar dessa vez”, insistiu Violet,muito embora sua voz não soasse muito segura. “Fi-que de olho no dispositivo. Ele vai nos mandar umtelegrama em resposta a qualquer momento.”

“Mas e se ele não mandar?”, perguntou Klaus.“Tchonex”, murmurou Sunny, e foi chegando

mais para perto dos irmãos. Ela queria dizer algu-ma coisa no gênero de: “Então estamos totalmentesós”, o que é uma coisa curiosa para se dizer quan-do se está com dois irmãos no meio de um arma-zém tão abarrotado de mercadorias que mal dá parase mexer. Mas enquanto permaneciam ali sentados,muito juntos, olhando para o dispositivo telegráfi-co, aquilo não pareceu curioso para os Baudelaire.Estavam cercados por cordas de náilon, cera paraassoalhos, tigelas de sopa, cortinas de janela, cava-linhos de balanço feitos de madeira, cartolas, cabosde fibra ótica, batom cor-de-rosa, damascos secos,lentes de aumento, guarda-chuvas pretos, pincéisfinos, trompas, e uns pelos outros, mas enquantoos órfãos Baudelaire aguardavam sentados uma res-posta ao seu telegrama, só conseguiam se sentir ca-da vez mais sozinhos.

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