o fazer do psicologo escolar

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    O FAZER DO PSICLOGO ESCOLAR:

    UMA ESCUTA DA PRTICA DO PSICLOGO NA ESCOLA

    ROJAS, Jucimara1

    PRATI, Regina Cheli2

    A Pesquisa

    O termo escuta tem origem na clnica psiquitrica e refere-se ao

    apreendido ao lado do leito. Por ser apreendido ao lado do leito, a experincia se

    sobrepe teoria. Assim, para que pudssemos revelar o fazer do psiclogo

    escolar a partir da sua prtica, escolhemos a Fenomenologia como procedimento

    de pesquisa.

    A escolha dos sujeitos entrevistados respeitou os seguintes critrios: (1)

    que o psiclogo entrevistado fosse reconhecido na instituio onde trabalha

    como psiclogo escolar e (2) que fizesse parte do quadro de funcionrios da

    escola com carga horria mnima de 20 horas semanais e, quando esse critrio

    no fosse respeitado ter, no mnimo, cinco anos de atuao como psiclogo

    escolar naquela instituio. Tais critrios foram respeitados, porque aliceram,

    ao nosso ver, a garantia de uma atuao reconhecida na rea.

    A pergunta norteadora de sentido foi: O que voc faz na escola? Para

    qu? A opo por essa pergunta direta e nica deu-se porque acreditamos que

    ela evite que o psiclogo fale da representao social que ele tem quanto ao seu

    papel, uma vez que, de acordo com Rossi e Paixo (2003), apesar de o grupo dos

    1 Ps Doutora em Educao de Infncia: Educao, Formao e Ludicidade pela Universidade de Aveiro Portugal; Doutora em Educao pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo e Professora da

    Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.2 Psicloga Clnica, Psicopedagoga, Mestre em Educao pela UFMS e professora dos Cursos de Formao doAnalista da Delegao Geral/Regio Centro Oeste da Escola Brasileira de Psicanlise do Campo Freudiano.

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    psiclogos atuantes nas escolas se representar em uma determinada condio, os

    papis que eles exercem no possuem a mesma orientao.

    Estabelecemos em (06) seis, o nmero de profissionais entrevistados, umavez que tnhamos entre os nossos sujeitos, psiclogos que atuavam em todos os

    nveis de ensino. Todos os psiclogos entrevistados atuam em escolas

    particulares da cidade de Campo Grande Estado de Mato Grosso do Sul, uma

    vez que no existem psiclogos que atendam aos critrios por ns estabelecidos

    em instituies pblicas.

    Os resultados

    A partir da leitura dos depoimentos dos sujeitos da pesquisa, foram

    destacadas unidades de significado que serviram de base para a articulao dos

    discursos. Da articulao dos discursos, destacamos duas categorias abertas que

    revelaram a essncia da atuao do psiclogo na escola:

    . o trabalho com o aluno e

    . o trabalho com o professor.

    Inseridas nessas categorias que emergiram da fala dos sujeitos,

    encontram-se asseres que revelam o fazer do psiclogo escolar e que nos

    ajudam a interpretar as categorias abertas:

    1. Atende a alunos, faz avaliao, entrevista com os pais eencaminhamentos;

    2. Realiza Orientao Vocacional;3. Auxilia no processo de socializao da criana;4. Ensina aos professores as etapas do desenvolvimento da criana;5. Trabalha o planejamento de aula norteado pelo desenvolvimento infantil;6. Trabalha a aprendizagem e a emoo do professor;7.

    Leva os professores a produzirem saber sobre o aluno;

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    8. Avalia e orienta os professores e interfere na tomada de decises daescola.

    Em Fenomenologia atribuir significado ou interpretar, depende dapercepo do pesquisador e da sua habilidade de adentrar no crculo

    hermenutico. Na anlise das categorias abertas, observamos, em relao ao

    perfil dos profissionais entrevistados, que 03 (trs) tm uma atuao dirigida

    Educao Infantil e s quatro primeiras sries do Ensino Fundamental, 02 (dois)

    atuam nas quatro ltimas sries do Ensino Fundamental e no Ensino Mdio e 01

    (um) atende todos os nveis de ensino.

    Dentre os sujeitos que dirigem seu trabalho para a Educao Infantil e o

    Ensino Fundamental, 02 (dois) privilegiam a atuao com o professor embora

    todos apresentem aes dirigidas aos alunos. Isso nos sugere que, entre os

    psiclogos que atuam nos nveis de ensino mais precoces, h uma preocupao

    maior com a formao e atuao do professor e, na medida em que os nveis de

    ensino se elevam, a atuao do psiclogo escolar torna-se mais dirigida aos

    alunos.

    Dos sujeitos que tm uma atuao mais dirigida ao professor, a

    metodologia utilizada no trabalho diferente. Um leva at os professores

    conhecimentos tecidos pela Psicologia Gentica enquanto outro, tece o

    conhecimento (psico)pedaggico em conjunto com o professor. Dessa forma,

    por mais que as falas dos sujeitos entrevistados nos sugiram que o fazer destes

    psiclogos seja o mesmo, uma vez que os dois privilegiam a atuao com os

    professores, a essncia do que determina esse fazer diferente.

    Alm disso, embora existam diferenas no fazer do psiclogo na escola,

    interessante observar que a ao de atendimento ao aluno com problemas

    emocionais, de aprendizagem e de comportamento, est presente em todos os

    discursos dos sujeitos entrevistados. Contudo, para um dos sujeitos no h

    necessidade de o psiclogo escolar estar em contato direto com o aluno uma vez

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    que, do seu ponto de vista, o professor que deve estar atento ao mesmo para

    constatar dificuldades ou limitaes em seu processo de aprendizagem e

    desenvolvimento. De acordo com esse profissional, os professores temcondies de fazer, eles mesmos, o diagnstico dos alunos que necessitam de

    um acompanhamento diferenciado e solicitar ao psiclogo que converse com os

    pais para, em conjunto com eles, decidir a melhor maneira de intervir no

    problema constatado.

    Para os demais profissionais o contato direto com o aluno

    imprescindvel de maneira que entre os entrevistados, haja os que se empenham

    em estar disponvel para que os alunos o procurem nos momentos de

    dificuldades e outros que realizem psicodiagnsticos e entrevistas devolutivas

    com os pais e os conseqentes encaminhamentos.

    Apesar de em Fenomenologia os fenmenos no serem explicados,

    acreditamos que algumas hipteses podem ser formuladas quanto presena

    desse tipo de atuao no interior das escolas. A primeira hiptese est

    relacionada ao fato de os psiclogos entrevistados atuarem em escolas

    particulares o que aumentaria a preocupao com a individualidade do aluno da

    resultando o atendimento individualizado do mesmo. Outra hiptese diz respeito

    utilizao por parte dessas escolas do psiclogo como instrumento de

    marketing capaz de atrair mais clientes/alunos quando garantido o atendimento

    psicolgico queles que apresentam dificuldades conforme apontam Witter e col

    (apud CAMPOS E JUC, 2003). Outra possibilidade diz respeito formao

    preponderantemente clnica oferecida pelos cursos de formao em Psicologia.

    Outra assero que encontra-se inserida dentro da categoria de trabalho

    com o aluno a Orientao Vocacional. Todos os sujeitos entrevistados que

    trabalham com alunos do Ensino Mdio revelaram como uma de suas aes essa

    orientao que composta de: entrevistas individuais, aplicao de testes de

    mensurao de habilidades individuais e escalas de interesse, tcnicas de

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    dinmica de grupo, palestras com profissionais de diferentes reas e visitas a

    instituies de ensino superior.

    Sabemos, que o que ainda caracteriza a especificidade da atuao dopsiclogo nos mais diferentes meios sociais, a aplicao de tcnicas de

    avaliao psicolgica que, de acordo com a legislao vigente, so de uso

    exclusivo desse profissional. Assim, a prtica da Orientao Vocacional ou

    Profissional uma das poucas atividades exclusivas do psiclogo escolar, uma

    vez que nela, ele se utiliza da aplicao de testes psicolgicos, faz a

    interpretao dos mesmos e realiza a orientao a partir dos resultados obtidos.

    Alm disso, a atuao do psiclogo escolar como orientador vocacional

    garantida pelo de Conselho Regional de Psicologia, que estabelece como uma

    das especificidades da Especialidade Psicologia Escolar/Educacional a

    participao do psiclogo em programas de orientao profissional (CFP, 2000).

    Para a Associao Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, a rea de

    atuao do psiclogo escolar abrange uma ampla gama de servios, entre eles, a

    orientao vocacional (ABRAPEE, 2004).

    Completando a categoria de trabalho com o aluno, destacamos que,

    metade dos sujeitos da pesquisa, evidenciaram aes no sentido de auxiliar no

    processo de socializao da criana. Essa atuao, apesar de ter sido includa na

    categoria de trabalho com o aluno tem tambm aes dirigidas ao professor,

    uma vez que a socializao entendida como o processo de inserir a criana em

    um meio social mais amplo que a famlia de origem, o que quer dizer, adapt-la

    ao meio escolar e s suas exigncias. Nesse sentido, a ao de auxiliar no

    processo de socializao da criana no passaria de uma tarefa a ser

    desempenhada pelos psiclogos escolares a partir de um referencial adaptativo

    do aluno, uma vez que, de acordo com Santiago (2005), as leis de obrigao

    escolar fizeram aparecer uma srie de casos de alunos de difcil escolarizao.

    Isso determina que as atividades do psiclogo escolar se caracterizem pela

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    orientao psicopedaggica, orientao a pais, aconselhamento psicolgico,

    psicodiagnstico, psicomotricidade e orientao a professores, priorizando-se

    uma ao junto a alunos problemas, com distrbios de aprendizagem e fracassoescolar.

    Em relao categoria aberta de trabalho com o professor, a primeira

    ao evidenciada diz respeito atuao relacionada com a aprendizagem e a

    emoo do professor.

    Para um dos entrevistados, grande parcela dos professores apresenta

    resistncia ao novo ou, dificuldade de aprendizagem, o que constitui um

    problema emocional relacionado sua vivncia de aprendizagem e aos

    relacionamentos na infncia. Nesse sentido, so as questes emocionais que

    atrapalham na aprendizagem e na execuo de tarefas profissionais do professor.

    Adentrando nesse terreno, o sujeito entrevistado diz que, o vnculo que o

    professor faz na atualidade com a aprendizagem e com o aluno, repete as coisas

    boas ou ruins que ele viveu enquanto estudante. Assim, caberia ao psiclogo

    escolar trabalhar com o professor na busca de um significado novo para as

    experincias vividas por ele na escola.

    Para Rossi e Paixo (2003), esperado que o psiclogo escolar oferea

    suporte aprendizagem, que seja conhecedor do comportamento humano e dos

    distrbios de seu desenvolvimento, que direcione comportamentos, interfira na

    cognio e nos afetos e que solucione problemas. Alm disso, que oferea

    atendimento individualizado, de teor clnico para toda a comunidade escolar:

    professores, alunos, suas famlias e funcionrios.

    Essa ao corroborada pelo dizer de outros profissionais entrevistados

    que afirmam que toda a comunidade escolar pode ser atendida pelo Setor de

    Psicologia. Embora este atendimento consista apenas na escuta e orientao,

    entendemos que essa ao do psiclogo tambm constitui um atendimento ao

    emocional do professor e dos demais membros da equipe pedaggica da escola.

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    Podemos dizer, dessa forma, que o psiclogo , no ambiente escolar,

    independentemente de sua formao ou opo terica, o profissional de quem se

    espera a compreenso e o tratamento de questes emocionais no apenas dosalunos como tambm dos professores. Assim, o que essa atuao revela uma

    mudana de posio na atuao do psiclogo escolar uma vez que suas aes

    passam a ser dirigidas ao professor e s suas dificuldades como aprendente e

    ensinante e no apenas ao aluno e seus problemas.

    Outra ao do psiclogo escolar relacionada ao trabalho com o professor

    diz respeito tomada de decises na escola. Na prtica, porm, essa atuao esta

    presente apenas nas aes de um dos sujeitos da pesquisa. Para Guzzo (2001, p.

    84), participar das decises da escola compreendido por como a verdadeira e

    potencial imagem de um profissional favorecedor do desenvolvimento das

    crianas no processo de escolarizao, articulador de mudanas e promotor da

    vida psicolgica na escola.

    Alm dessa atuao, um dos entrevistados tambm participa de atividades

    de avaliao de professores, realizada em conjunto com os alunos. Essa

    avaliao pode ser relacionada Psicologia do Trabalho, o que corrobora o dito

    por Martinez (2003), de que a Psicologia Escolar no um mero campo de

    aplicao da Psicologia da Educao, mas um espao de atuao que se nutre de

    conhecimentos psicolgicos diversos, entre eles da Psicologia Organizacional e

    da Psicologia do Trabalho necessrios otimizao do processo educativo na

    instituio escolar. No entanto, do nosso ponto de vista, a Psicologia

    Educacional que subsidia a avaliao realizada uma vez que, como diz o sujeito

    entrevistado, essa ao visa colaborar com o professor e auxili-lo a

    desempenhar sua funo na forma esperada pela escola. Na mesma direo

    encontra-se a ao de conversar com o professor acerca de sua conduta

    profissional. Todas essas aes revelam que esperado do psiclogo escolar que

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    ele saiba orientar o professor em sua prtica, o que corrobora o dizer de Souza

    (2004, p. 28),

    em tudo se encontra o valor das contribuies da Psicologiapara a tarefa do professor, pois ela faculta-lhe umacompreenso maior e plena da possibilidade de melhor

    poder instrumentalizar-se e desta forma achegar erelacionar-se com os alunos, para conseguir desenvolver umtrabalho que deixe evidente sua boa qualidade e facilidadede superao dos obstculos que o permeiam.

    Como j foi dito anteriormente, boa parcela dos tericos da Psicologia

    Educacional e da Psicologia Escolar vem as contribuies da Psicologia dessa

    ordem. Assim, de acordo com Del Prette e Del Prette (2001), o psiclogo

    especialista educacional trabalha com questes relacionadas aos problemas e

    dificuldades de ensino e de aprendizagem e, com questes ligadas s interaes

    pessoais. Essas aes tambm so preconizadas pelo Conselho Federal de

    Psicologia (CFP) e, pela Associao Brasileira de Psicologia Escolar eEducacional (ABRAPEE), quando se referem a tarefas de consultoria,

    treinamento, superviso, desenvolvimento organizacional, seleo de pessoal,

    implantao e acompanhamento de programas e, atividades de preveno.

    Quer dizer, embora grande parte do trabalho do psiclogo na escola esteja

    dirigido aos indivduos inseridos no contexto escolar, nessa ao de avaliao e

    orientao aos professores e de interferncia na tomada de decises da escola,revela-se uma atuao claramente dirigida ao processo educativo, o que

    evidencia que o psiclogo escolar se coloca como especialista educacional na

    escola. Alm disso, a ao de ensinar aos professores as etapas do

    desenvolvimento da criana e trabalhar com eles o planejamento de aula

    norteado pelo desenvolvimento infantil, indica outra atuao relacionada

    Psicologia Educacional.

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    Buscando compreender melhor o sentido dessa atuao e diferenci-la da

    ao de levar o professor a produzir saber sobre o aluno, cabe-nos apontar

    que, etimologicamente, ensinar tem o sentido de transmitir conhecimento, dar aconhecer. Dessa forma, em nossa pesquisa um dos sujeitos ensina as etapas do

    desenvolvimento da criana aos professores e participa do planejamento de aula,

    baseando-o na teoria que embasa a prtica pedaggica. Assim, trabalhar com os

    professores o planejamento de aula significa fazer o plano em conjunto com os

    mesmos, respeitando as etapas do desenvolvimento e de acordo com parmetros

    constitutivos da Psicologia Gentica.

    Nesse sentido, a ao de ensinar aos professores o desenvolvimento da

    criana e trabalhar com eles o planejamento de aula norteado pelas fases do

    desenvolvimento infantil sugere-nos que, para esse sujeito assim como para

    Tessaro (2004), a formao do professor apresenta-se deficitria, precria e

    fragilizada. Dessa forma, a presena do psiclogo na escola vista por Campos

    e Juc (2003), como uma tendncia inovadora na atuao do psiclogo escolar.

    Por outro lado, para outro sujeito, ...acompanhar a criana em todo o seu

    desenvolvimento, (...) no que significa a sua aprendizagem, o seu

    relacionamento, o seu crescimento afetivo e social, tem o sentido de o

    psiclogo deter o conhecimento acerca do desenvolvimento infantil e transmit-

    lo aos professores na forma de orientaes.

    Em suma, ensinar aos professores as etapas do desenvolvimento da

    criana e trabalhar o planejamento de aula norteado pelo desenvolvimento

    infantil, so aes que corroboram o dizer de Andal, Leite e Tavares (apud

    Neves, Almeida, Chaperman e Batista, 2002, p. 4), quanto ao papel do

    psiclogo escolar no que diz respeito a ...possibilitar ao professor acesso ao

    conhecimento psicolgico relevante para a sua tarefa de transmisso e

    construo do conhecimento.

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    Quanto ao de levar os professores a produzir saber sobre o aluno

    importante, para compreend-la e diferenci-la da ao de ensinar aos

    professores as etapas do desenvolvimento da criana, apresentaremos algumasreflexes realizadas por Mendona Filho (2001) acerca do ensinar. Para esse

    autor (p. 73), ...mesmo que a adaptao seja um efeito inevitvel do educar, ela

    no aglutina em si o objetivo da Educao, que pode ser sintetizado como sendo

    o de levar produo de uma relao com o saber. Nesse sentido, produzir

    saber sobre o aluno pensar cada caso, estudar os casos um a um e supor

    que possvel encontrar algo que possa ser realizado para aquele sujeito que no

    se encaixa na regra, a exceo regra. Assim, o forte do trabalho de um dos

    sujeitos de nossa pesquisa colocar-se, em conjunto com o professores e os

    Coordenadores de ensino, na posio de alunos. Isso muda a posio do

    psiclogo na escola uma vez que, apesar de trabalhar com o professor, ele no

    leva um conhecimento pronto sobre o aluno, mas o constri juntamente com os

    membros do corpo pedaggico da escola. Essa atuao tem, de acordo com o

    sujeito entrevistado, um resultado efetivo na sala de aula uma vez que os

    professores promovem um saber a partir do estudo e da discusso de casos. Esse

    saber produzido pelo professor resulta em um olhar diferente sobre os alunos

    que tm mais dificuldades, o que permite que se realize um trabalho

    diferenciado com cada estudante, embora o planejamento do trabalho permanea

    geral. Dessa forma, levar o professor a produzir um saber sobre o aluno

    diferente de deter um saber e transmit-lo aos professores. Logo, o lugar

    ocupado por esse psiclogo na escola um lugar de provocao, ou seja, embora

    detendo conhecimento terico sobre o escolar, esse sujeito busca levar o

    professor a produzir seu prprio saber acerca do aluno, alis, acerca daquele

    aluno especfico. Isso tem o sentido de que no existem receitas prontas de como

    ensinar, de como aprender ou, de como professor e aluno devem se comportar

    na escola.

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    Assim, enquanto um dos entrevistados, leva uma teoria pronta sobre o

    desenvolvimento infantil e suas etapas, e auxilia os professores no planejamento

    de aula a partir dos pressupostos dessa teoria, outro promove, em conjunto comos professores, Estudos de Caso e Grupos de Estudo objetivando leva-los a criar

    a sua prpria teoria acerca do aluno que apresenta dificuldades, isto , uma

    teoria que se aplica a cada caso, um a um.

    Concluindo a compreenso do sentido da categoria aberta de trabalho com

    o professor possvel visualizar que o professor um dos grandes destinatrios

    das aes do psiclogo na escola tanto em relao transmisso e produo de

    saber acerca do aluno, como tambm, em relao ao trabalho com seus aspectos

    emocionais, profissionais e de aprendizagem.

    Consideraes Finais

    Apresentamos a interpretao e a significao do fazer do psiclogo

    escolar de acordo com as aes que se destacaram na anlise dos discursos dos

    sujeitos da pesquisa. Pretendemos, a ttulo de concluso, apresentar as nossas

    consideraes sobre o que julgamos merecer maior destaque naquilo que foi

    revelado na pesquisa realizada, evidenciando formas inovadoras de atuao.

    unnime entre os profissionais entrevistados, a ao de atendimento aos

    alunos que escapam ao padro (psico)pedaggico e apresentam diferenas no

    comportamento e na aprendizagem, embora, os procedimentos seguidos em tal

    atuao no sigam um modelo nico. Essa prtica aliada ao de

    socializao do aluno objetiva, em ltima instncia, adaptar o aluno

    realidade escolar onde ele est inserido, sendo que, apenas um dos psiclogos

    entrevistados busca levar o professor a desenvolver um saber sobre o aluno

    que no se adapta e sobre o que possvel fazer para ajud-lo.

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    Essa atuao chama a ateno, pois o psiclogo sai do lugar de detentor

    do saber e passa a ocupar o lugar de aprendente, juntamente com o professor e

    os demais membros do corpo pedaggico da escola valorizando, dessa forma, oprofessor e desenvolvendo nele habilidades para pensar nos casos dos alunos de

    difcil escolarizao, uma vez que seu saber colocado em uso. Essa prtica de

    estudar e discutir os casos dos alunos com o corpo pedaggico da escola nova

    na educao e pode ser colocada como uma ao inovadora revelada pela

    pesquisa quanto ao fazer do psiclogo escolar.

    Por outro lado, a ao de trabalhar com a emoo e a aprendizagem do

    professor constituiu, de acordo com a nossa viso, uma mudana de direo na

    prtica do psiclogo na escola uma vez que, suas aes passam a ser dirigidas

    pessoa do professor e s suas dificuldades como aprendente e no apenas como

    ensinante.

    A ao de ensinar aos professores as etapas do desenvolvimento da

    criana e trabalhar com eles o planejamento de aula norteado pelo

    desenvolvimento infantil, que coloca a cincia psicolgica como esteio da

    educao, bastante comum na Psicologia Escolar, pois visa levar at o

    professor o conhecimento psicolgico relevante para a sua tarefa de ensinar. No

    entanto, essa prtica perigosa uma vez que pode acabar gerando um abismo

    entre o aluno terico, ensinado nas teorias de desenvolvimento e aprendizagem e

    o aluno real. Da a importncia de aes como as desenvolvidas no sentido de

    levar o professor a produzir saber sobre o aluno, caso a caso, um a um, de

    forma a desenvolver no professor, autonomia para pensar e criar aes que

    visem auxiliar nos casos dos alunos de difcil escolarizao.

    Outra ao revelada pela pesquisa foi a realizao de Orientao

    Vocacional unnime entre os profissionais que atuam no Ensino Mdio.

    interessante observar ainda que, o que a pesquisa revelou, que as

    atuaes inovadoras do psiclogo escolar esto do lado do trabalho com o

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    professor e que, apesar de sugeridas na bibliografia, as prticas de elaborao de

    polticas educacionais, planejamento e avaliao de programas de ensino e,

    preparao e orientao de educadores nos processos de incluso de alunos comnecessidades especiais no ensino comum, no esto presentes em nenhuma das

    aes dos psiclogos entrevistados.

    Alm disso, aes que evidenciam a participao do psiclogo nas

    decises pedaggicas, administrativas e educacionais da escola esto presentes

    apenas no depoimento de um dos sujeitos da pesquisa, o que nos leva a pensar

    que, o psiclogo ainda ocupa na escola um lugar acessrio e no est inserido no

    ntimo do processo pedaggico.

    De qualquer forma, alm das aes descritas na pesquisa, acreditamos que

    h uma grande variedade de aes desenvolvidas pelos psiclogos escolares que

    visam atender s demandas especficas de cada instituio onde atuam. Dessa

    forma, podemos dizer que a identidade profissional do psiclogo escolar est

    alm dos modelos clnico e/ou educacional situando-se em um lugar onde

    permitido inventar aes que no respeitam a modelos e padres previamente

    determinados, o que quer dizer, formas de atuao que passeiam entre o fazer

    criativo e inovador e o re-fazer, re-adaptado e re-organizado num movimento

    contnuo de trans-fazer sua prtica.

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