o estudo da imagem na poesia - diaadiaeducacao.pr.gov.br · construção e o uso das imagens, bem...

34

Upload: phammien

Post on 12-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O ESTUDO DA IMAGEM NA POESIA

Autora: Graciele Hatsumi Obana

1

Orientadora: Profª Drª. Marcele Aires Franceschini2

Resumo

Este artigo consiste em propor um relato de experiência e o uso de uma metodologia relacionada à alfabetização literária das imagens a fim de resolver e minimizar o distanciamento entre o texto e o leitor. O objetivo é, antes de tudo, estudar a construção e o uso das imagens, bem como propiciar a leitura e o prazer da descoberta de texto poético por meio da imagem e em obras específicas de Carlos Drummond de Andrade e Helena Kolody. Partindo-se desse pressuposto, o estudo do gênero, com base no Método Criativo Bordini e Aguiar, permite a liberdade de expressão no papel ativo e criativo do aluno em seu processo de ensino-aprendizagem. No caso da presente experiência, resultou em uma exposição interativa implementada no Colégio Estadual Nestor Victor (Ensino Fundamental, Médio e Normal, Pérola – PR), em 2011, com os alunos do 3º ano A do Ensino Médio. Palavras-chave: Poesia; Estudo Imagético; Método Criativo; Carlos Drummond de

Andrade; Helena Kolody. Abstract This article offers an experimental exposure and the appliance of the method towards the literary alphabetization of the images in order to solve and minimize the distance between the text and the reader. The main goal of this issue is to study the construction and the use of the images, as well as to offer the reading and the pleasure of the discovery of the poetic text through the images and in the specific production of Carlos Drummond de Andrade and Helena Kolody. From this argument, the study of the gender, based on the Creative Method of Bordini and Aguiar, allows the freedom of the expression related to the active and creative roll of the student during his/her learning process. In the present experience, the result became an interactive exhibition implemented at Nestor Victor State School (5th / 8th grades, High School, Pérola - PR), in 2011, of the students from the Senior year. Keywords: Poetry; Image Study; Creative Method; Carlos Drummond de Andrade;

Helena Kolody.

1 Professora de Língua Portuguesa, concluinte PDE – 2010. Graduada em Letras pela FAFIU – UNIPAR

com Especialização em Metodologia do Ensino Superior, Processo de Ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, Orientação e Supervisão em Educação. Docente no Colégio Estadual Nestor Victor, em Pérola, NRE- Umuarama. Contato: [email protected] ² Professora de Teoria Literária e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Contato: [email protected]

2

Introdução

O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como a primeira visão direta das coisas, e depois como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo do mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.

Carlos Drummond de Andrade

No limiar do século, o mundo moderno, com suas excessivas exigências,

determina indivíduos criadores. Só alcançaremos criação pela educação do olhar, da

sensibilidade e da imaginação. De fato, a poesia oferece a magia do olhar para o belo,

bem como incentivar a criatividade, educar a sensibilidade, estimular a inteligência e,

principalmente, promover o autoconhecimento e a interação com a realidade.

Por outro lado, a linguagem poética é carregada de sentidos figurativos e jogos

imagéticos não perceptíveis por meio de uma simples leitura, o que suscita ao leitor ou

ouvinte um desdobramento à compreensão dos sentidos que as palavras articulam no

interior do poema.

Pensando, nisso optamos pelo estudo da imagem na poesia, tendo em vista a

necessidade de mediação entre professor/aluno e leitor/autor para o auxílio efetivo da

compreensão textual. Constatamos também a carência de uma metodologia específica

que vise a alfabetização literária das imagens, com o intuito de minimizar o

distanciamento entre o texto e o leitor. Para tanto, consideramos que o estudo do

recurso imagético poderá contribuir para melhorar a performance dos alunos. Partindo-

se desse pressuposto, o estudo do gênero textual “poema”, com base no Método

Criativo de Bordini e Aguiar (1988), proporcionará ao educando a experiência do

estimulo à criatividade e à habilidade de leituras e interpretações por meio de Oficina

de leitura, análise e produção de textos poéticos. Assim, consideramos as etapas

metodológicas idealizadas pelos autores dando ênfase na atitude intuitiva através da

proposta que trabalha com a criação, ou, a produção de textos – tanto os de caráter

literário quanto os de outra natureza.

A escolha da obra de Helena Kolody [1922-2004] para o estudo em classe

fundamenta-se por sua importância na literatura brasileira e, em especial, na literatura

paranaense. Além disso, em 2012 comemora-se seu centenário. Suas obras

3

essencialmente líricas e imagéticas apresentam uma boa variedade temática. Entre os

temas mais recorrentes encontramos a contemplação da natureza, o fazer poético, a

transitoriedade, a inquietação, o tempo, a solidão, a memória, a religiosidade, a

permanência, a imigração ucraniana e a fugacidade do amor. Quanto aos aspectos

sintáticos, sua poesia destaca-se pela síntese, pelo enxugamento dos textos. As

formas apresentadas alternam-se entre poemas longos e sintéticos como: dísticos,

tercetos, quadras, epigramas, tankas e haicais.

A preferência pela síntese imagética talvez se explique pelo fato de a escritora

paulista Fanny Dupré e o Jornal de Letras terem influenciado Kolody a se aproximar de

gêneros da poesia japonesa, em especial o haicai e o tanka. Com o lançamento de seu

primeiro livro, Paisagem interior (1941), Helena passa a ser a pioneira do haicai no

Paraná, bem como a primeira mulher a publicar haicai em livro no Brasil. Isto é

importante para nossa escolha de sua obra, pois o haicai e o tanka são gêneros

poéticos essencialmente fanopeicos, ou seja, imagéticos.

Já a escolha de Carlos Drummond de Andrade (que em 2012 faria 110 anos de

nascimento – também se lembram os 25 anos de sua morte) se deve em razão de o

autor ser incentivador e amigo de Helena Kolody. Outro fator é que o poeta exibe um

farto número de poemas relacionados à temática “árvore” – elemento bastante

apropriado neste estudo de caso. Sua evocação à natureza como elemento imagético

da lírica provavelmente é influenciada pela convivência e por seu contato, na infância,

com as árvores nas fazendas de sua família.

Neste artigo, pretendemos ressaltar os resultados de um projeto de intervenção

pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da rede pública do

Estado do Paraná. Esta experiência educativa foi realizada de setembro a novembro de

2011, com a participação de dezesseis alunos do 3º ano do Ensino Médio diurno do

Colégio Estadual Nestor Victor (Pérola-PR). Para tal vigência de produção literária se

exigiu a interação teórico/prático em relação à compreensão e à percepção dos

inúmeros significados que um signo pode ocupar em nosso cotidiano.

4

1 Poesia e imagem

Os poemas vão além de versos e rimas: possuem uma profundidade de

significações, aguçam os sentimentos, despertam para a nossa sensibilidade, criam

possibilidades de interação com o mundo subjetivo. A linguagem poética inclui não

apenas aspectos meramente cognitivos, mas substancialmente um olhar para além das

palavras. Portanto, é necessário que o docente ofereça condições para que o aluno

atribua sentidos a sua leitura.

Na poesia, as palavras adquirem um significado incomum e estimulam o voo da

imaginação e, ao mesmo tempo, permitem conhecer a própria realidade em que

circundam:

Que artimanha é essa que a poesia tece dentro do nosso chamado coração e, despertando encanto, consegue nos revelar uma vida mais nua, mais viva, cheia de detalhes deslumbrantes? Parece até que a poesia age como um fogo rápido que esquenta a frieza do dia a dia e desvenda fatos reais através de uma lente especial: a sensibilidade (PAIXÃO, 1983, p. 7).

Mediante a observação de Paixão, e somando-se a outra observação (1983, p.

95): “Conviver com a poesia, permite-nos estar de olhos mais abertos, olhando além do

que se vê, percebendo outros detalhes dentro dos contornos visíveis”, concluímos que

a poesia é extremamente importante devido a sua carga emocional. Carga esta que

possibilita uma vinculação diferenciada do homem quando em contato com seu “eu”,

com o outro e com o mundo. Nesta realidade, cabe ao ensino de literatura oportunizar

momentos de fruição poética, sendo tarefa de o educador oferecer um convite ao

imaginário, estabelecendo as relações entre a palavra e o mundo na produção de

sentidos:

A poesia, [escreve Eliot], pode ajudar a romper o modo convencional de perceber e de julgar […] e faz ver às pessoas o mundo com olhos novos ou descobrir novos aspectos deste. De quando em quando, ela dar-nos uma consciência mais ampla dos sentimentos profundos, ignotos, que formam o substrato do nosso ser, ao qual bem raramente acedemos: porque a nossa vida é, em geral, uma contínua evasão de nós mesmos e do mundo visível e sensível (BOSI, 1996, p. 31).

5

Para Paixão (1983, p. 14): “[...] a característica marcante da poesia é da de

recriar o significado das palavras, colocando-as num contexto diferente do normal”. Em

tal âmbito, o uso da imagem é um recurso significativo.

O vocábulo imagem é definido no dicionário “Aurélio” (FERREIRA, 2001, p. 373)

como a “representação mental de um objeto, impressão, etc.; lembrança, recordação,

metáfora”. Em sentido geral, são palavras que produzem no interior do poema uma

vasta rede de significados, tanto no plano real quanto no imaginário. No que se alude

ao real, as imagens são definidas como perceptíveis por meio dos órgãos dos sentidos,

a exemplo da pintura e da escultura. No entanto, ao se referir a pesquisa literária

restrita no campo poético, nossa discussão aqui diz respeito às imagens procedentes

do campo imaginário.

Consideramos legítimos neste estudo variados conceitos e tipos de imagens,

tais como a imagem visual, a mental e a virtual. Joly (1996, p. 22) expõe: “Pode-se

dizer que, na língua a “imagem” é o nome comum, dado à metáfora. A metáfora é a

figura mais utilizada, mais conhecida e mais estudada da retórica, a qual o dicionário

da “imagem” como sinônimo”.

Indubitavelmente, o leitor precisa de competência à leitura imagética e não

somente à leitura de textos literários. Esta competência é requerida no dia a dia de

todos: “De fato, a utilização das imagens se generaliza e, contemplando-as ou

fabricando-as todos os dias acabamos sendo levados a utilizá-las, decifrá-las,

interpretá-las” (JOLY, 1996, p. 10).

Ainda além, a autora expressa que a linguagem poética, apoiada em sua força

simbólica, representa

demonstrar que a imagem é de fato uma linguagem, uma linguagem específica e heterogênea; que, nessa qualidade, distingue-se do mundo real e que, por meio de signos particulares dele, propõe uma representação escolhida e necessariamente orientada; distinguir as principais ferramentas dessa linguagem e o que sua ausência ou sua presença significam; relativizar sua própria interpretação, ao mesmo tempo em que se compreendem seus fundamentos: todas garantias de liberdade intelectual que a análise pedagógica da imagem pode proporcionar (JOLY, 1996, p. 48).

Tomando-se vários conceitos sobre poesia, ressaltamos Santos (2006, p.3):

“Sempre pensei a poesia assim, como uma imagem, um desenho, uma fotografia, seja

de sensações, ânsia ou expectativas que construímos ao longo da vida”.

6

Por este conjunto de considerações, fica-se evidente que:

Por isso a literatura é importante no currículo escolar: o cidadão, para exercer plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária, alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá escrever um livro: mas porque precisa ler muitos (LAJOLO, 2000, p.106).

Atribuímos significados ao que observamos a partir de experiências e

conhecimentos obtidos com o passar do tempo. E cada leitor se comunica com as

imagens e as interpreta conforme sua capacidade, sua história de vida, seu meio e sua

época, atribuindo-lhes diversas significações.

As imagens, de modo geral, mostram as condições socioculturais do período em

que são produzidas. A época, a classe social, as características particulares dos

autores e leitores são aspectos que interferem tanto na produção como na recepção de

uma imagem. Deste modo, a leitura das imagens que nos cercam está de acordo com

a bagagem de conhecimento de quem as lê, podendo desempenhar um poder de

comunicação imediato e de simples compreensão.

2 Leitura e criação literária

Tratando-se da leitura e da criação literária, devemos considerar que os

recursos imagéticos geradores do deslocamento de sentido das palavras em direção

ao incomum estimulam o leitor ao exercício da imaginação. Neste processo, o autor

produz o texto poético a partir da acentuação poética, ou seja, do fluxo do pensamento

não condicionado ao tempo linear, visando não perder o fio condutor de sua

imaginação ou inspiração:

Caprichosos, esguios e constantemente recheados de sentidos estranhos, os versos do poeta não se preocupam em transmitir ideais lineares, sucessíveis e didáticas. É como se imaginássemos, usando o recurso da metáfora, que a arquitetura das imagens poéticas não se faz através de ângulos retos, superfícies planas e divisões entre as partes; na estreita comunicação entre as ideias (PAIXÃO, 1983, p. 40).

7

Na caracterização da escolha de Kolody – entre suas inúmeras qualidades de

produção –, vale dizer que até mesmo a Igreja Católica a concedeu um imprimatur,

diretamente pelo arcebispo de Curitiba, Dom Manuel da Silveira D´Elbooux, justificado

por sua poesia ter sido “salvação” a uma jovem depressiva do suicídio. Antes do gesto

trágico, a moça resolveu ler o livro que havia ganhado de sua professora: Helena

Kolody. Abriu-o aleatoriamente, leu “Prece”. Jogou o veneno fora e resolveu viver:

É nesse ponto que a leitura da literatura e, em especial, do texto poético, pode se constituir num caminho aberto para o resgate desses sujeitos, convertendo-se num aliado valioso no processo de autoconhecimento e de busca de alternativas para suas vidas, o que reafirma a importância da formação de leitores como meio de desenvolvimento dos indivíduos e de toda a sociedade (RÊGO apud AGUIAR et. al, 2006, p. 211).

Além da grandiosidade da capacidade da escuta poética, outro aspecto

importante é que a poesia possibilitou desenvolver a personalidade de um estudante,

incentivando-a o gosto pelo belo, pelo ritmo e pelo jogo da linguagem. A sonoridade, a

sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade, o conhecimento do próprio “eu” e a

capacidade de construção do conhecimento do mundo também são aspectos

evidenciados nesta questão:

Trata-se, de fato, da relação entre o leitor e a obra, e nela a representação de mundo do autor que se confronta com a representação de mundo do leitor, no ato ao mesmo tempo solitário e dialógico da leitura. Aquela que lê amplia seu universo, mas amplia também o universo da obra a partir da sua experiência cultural (DCE, 2008, p. 58).

Cabe lembrar, sobretudo, que a poesia possibilita a experimentação sensorial,

emocional e afetiva. Portanto, no trabalho com o gênero poético, o educador necessita

mobilizar estratégias para melhor compreender, sentir e reproduzir o texto. Segundo as

Diretrizes Curriculares Educacionais (2008, p. 72): “Numa atividade de leitura com o

texto poético, é preciso observar o seu valor estético, o seu conteúdo temático, dialogar

com os sentimentos revelados, as suas figura de linguagem, as intenções”. Para isso, é

essencial que o docente determine práticas de leitura poéticas que possam contribuir

na formação efetiva de professor/aluno e aluno/leitor. Em outras palavras, é

8

imprescindível que o profissional da educação transpasse a superficialidade do texto,

tornando-o significativo à vida do aluno:

O texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez que é na recepção que ele significa. No entanto, não está aberto a qualquer interpretação. O texto é carregado de pistas/estruturadas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. Além disso, o texto traz lacunas, vazios, que serão preenchidos conforme o conhecimento de mundo as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc., que o leitor carrega consigo (DCE, 2008, p. 59).

Coelho (2000, p. 267) enfatiza que “Nunca será demais insistir no fato de que

poesia (para crianças, jovens ou adultos) exige mais do que rimas e ritmos. O poema

deve nascer de um olhar inaugural, de ver diferente algo já conhecido ou algo ainda

desconhecido” (Grifo do autor). Nessa base, o essencial é fazer com que o educando

possa ter acesso ao mundo literário mobilizado pela poesia, levando-o a estabelecer

uma relação diferenciada com a linguagem, e, consequentemente, fazer-se leitor e

produtor de textos competentes:

Não se trata, portanto, de que a escola assuma a responsabilidade de “fazer poetas”, mas de desenvolver no aluno (leitor) sua habilidade para sentir a poesia, apreciar o texto literário, sensibilizar-se para a comunicação através do poético e usufruir da poesia como uma forma de comunicação com o mundo (ZILBERMAN apud AVERBUCK, 1991, p. 67).

A poesia é extremamente importante devido a sua carga emocional, que

possibilita a vinculação diferenciada do homem consigo mesmo, com o outro e com o

mundo. Adotando-se esta visão, cabe ao ensino de literatura oportunizar momentos de

fruição poética, propondo um convite ao imaginário para que relações entre a palavra,

o mundo e a produção de sentidos sejam estimuladas. Portanto, é necessário que o

docente ofereça condições para que o aluno atribua sentidos a sua leitura.

Ao professor cabe o papel de provocador deste estado, o de iluminador de caminhos para esta leitura, para que a criança possa, depois, nela se aventurar sozinha... Somente a partir desta “sensibilização” - do professor e do aluno – é que se cumpre o caminho da poesia (ZILBERMAN apud AVERBUCK, 1991, p. 70).

O processo de construção de uma leitura frutífera de qualquer obra literária na

escola, em especial, com o gênero poema exige a capacidade de entendimento do

9

enredo do texto. Mas não apenas isso: é preciso que seja estimulada no aluno a

sensibilidade para a multiplicidade de linguagens e a capacidade de estratégicas

linguísticas discursivas, ampliando-se a construção de sentidos:

Se [a] compreensão episódica é fundamental, ela não se esgota em si. Saber só isso de um texto é saber muito pouco ou quase nada. [...]. Saber quem fez o que, quando e onde, só é relevante quando acompanhado de outras reflexões […] e junto com elas contextualizado, transformando todas as ocorrências do texto num tecido significante (ZILBERMAN apud LAJOLO, 1991, p. 59).

Essas considerações nos permitem afirmar que o estudo da imagem na poesia,

aplicada metodologicamente e embasada por pressupostos teóricos, contribui

significativamente para melhora da performance dos alunos na leitura em geral e de

textos poéticos (literários) em particular. Portanto, faz-se urgente uma metodologia que

vise a alfabetização literária das imagens para minimizar o distanciamento entre o texto

e o leitor:

Assim, quer queiramos, quer não, as palavras e as imagens revezam-se, interagem, completam-se e esclarecem-se com uma energia revitalizante. Longe de excluir, as palavras e as imagens nutrem-se e exaltam-se umas às outras. Correndo o risco de um paradoxo, podemos dizer que quanto mais se trabalha sobre as imagens mais se gosta das palavras. (JOLY, 1996, p. 133).

A leitura, tomada de posse da informação no seu sentido mais amplo, supõe

uma atitude interrogativa do aprendiz diante dos textos, das imagens e uma

possibilidade de transposição destes elementos. Através da leitura aprofundada o

educando é capaz de perceber os significados implícitos no texto ao depreender as

reais intenções que cada texto traz, questionando, refutando, concordando,

complementando, surpreendendo-se:

O contato com a literatura resulta sempre num ganho para o leitor. Tanto faz se ela confirma expectativas ou abala convicções. Fica invariavelmente um saldo de conhecimento acerca de si mesmo e do mundo, uma perspectiva inusitada ou uma forma diferente de ele se autoconceder e de interagir com a realidade (AGUIAR apud RÊGO, 2006, p.210).

10

Conforme Oliveira (1998, p. 78): “Uma literatura de qualidade é aquela capaz de

fascinar o leitor e torná-lo cativo. É uma literatura carregada de sentido e de expressão,

grávida do novo, geradora de vida e capaz de impulsionar o ato criador do leitor”. Neste

compasso, é nosso objetivo de educador oportunizar leituras (em geral e de textos

poéticos) significativas, que possam transformar nossos alunos em leitores produtores

de textos competentes.

3 Relato de experiência sobre O Estudo da imagem na poesia na implementação

do material didático-pedagógico

A partir da compreensão de que um mesmo signo pode indicar caráter

simbólico, icônico e indicial, optamos pela temática “árvore” para facilitar a

compreensão e o estudo da imagem na poesia.

A estrutura da Unidade Didática foi elaborada em sete capítulos. Cada capítulo

foi composto de análises de tópicos particularizados. Objetivou-se o breve

entendimento de formas de expressão, fossem elas ícone, índice e símbolo aparatos

linguísticos amplamente usados pelo homem em seu cotidiano. O Capítulo 4

disponibilizou um banco de textos com sugestões de leituras, incluindo-se as distintas

representações imagéticas e com diferentes objetivos ou funções do elemento “árvore”.

Quanto a Capítulo 5, desenvolveu atividades de descontração sobre ilusão ótica.

Dando-se sequência, o Capítulo 6 serviu de sugestões e suporte para as pesquisas no

auxílio à compreensão do tema abordado: “O estudo da imagem na poesia”. Já o

Capítulo 7 foi elaborado visando à conexão do conhecimento atrelada à realidade e à

tentativa de produção de significados.

Nossa implementação se iniciou, primeiramente, através do contato com a

Diretora e a equipe pedagógica. Em uma oportunidade posterior, alcançou os

professores e pais no que diz respeito à apresentação do Projeto Didático-pedagógico.

As dinâmicas das atividades foram desenvolvidas em três aulas semanais

durante três meses, perfazendo 74 horas/aulas, que objetivaram propiciar o estudo da

imagem na poesia, destacando-se a imagem como ícone, índice e símbolo.

11

Primeira aula: a turma iniciou no dia 12 de setembro de 2011. Apresentamos aos

estudantes os objetivos, a metodologia e a importância de estudar a imagem na poesia.

Realizou-se a entrega do material impresso colorido. Verificamos por meio de

diagnóstico os conhecimentos e a expectativas dos alunos em relação ao estudo da

imagem na poesia.

Segunda aula: Iniciamos a primeira unidade – A imagem da árvore na poesia,

subdivididas em: “A imagem em nossas vidas”, “Um cotidiano de imagens”, “Mas o que

é imagem?”, “Tipos de imagem”, “A importância de saber ler as imagens que nos

cercam”. A aula foi expositiva, com questionamentos, dúvidas, exemplificações e com a

produtiva participação dos alunos.

Terceira e quarta aulas: Capítulo 1: “A imagem como ícone”, subdividido em:

“Objetivo a ser alcançado” e “Estudo do conceito”. A primeira etapa consistiu na

aplicação do método criativo Bordini e Aguiar. Oportunizamos análise da imagem

(charge). Nesse momento, cada aluno fazia a sua leitura interpretativa coletivamente,

levantando-se primeiro as hipóteses para então a observação da imagem verbal e não-

verbal. Em seguida, os estudantes responderam as questões por escrito. Durante estas

aulas, abordou-se também a pesquisa de Claudino Pilleti, que conduziu os alunos a

observarem e classificarem, individualmente, a sua forma própria de reter o

conhecimento. Já segunda etapa do método, “Coleta desordenada de dados”, propiciou

condições na tentativa de encontrar uma solução que eliminasse as carências, por

meio de mais exercícios. Nessa atividade os alunos perceberam como o ícone vem

sendo amplamente utilizado em diversos setores do dia a dia.

Quinta e sexta aulas: Na sequência, a terceira etapa: elaboração interna dos dados,

momento em que os dados foram estudados, distribuídos e estruturados no nível da

consciência. Para tanto, utilizamos: Texto 1: Refúgio, de Helena Kolody; e Texto 2:

Lanterna mágica, de Carlos Drummond de Andrade. (Observação: na página, há o

registro de um hiperlink sobre Carlos Drummond de Andrade). A árvore nos textos

analisados era vista apenas como ícone. Logo após a leitura e análise, os alunos

12

perceberam a visão do(a) poeta diante da natureza. Fizemos reflexão sobre qual é a

nossa visão sobre a natureza e qual é o nosso refúgio.

Sétima e oitava aulas: Lemos haicais de Helena Kolody. Tomamos como reforço as

leituras: Goga e os dez mandamentos do Haicai, bem como assistimos aos filmes:

Olhar Japonês: o poema que é a arte da concisão e Helena (curta-metragem). A partir

desse ponto, demos início à quarta etapa, que anteviu os esforços desenvolvidos para

suprimir as carências dos alunos, por meio da ação produção: Oficina de criação de

textos. Trabalhamos a partir do hiperlink da canção de Arnaldo Antunes: A árvore.

Segundo relatos, os alunos apreciaram conhecer e, principalmente, produzir um haicai.

Como fonte de exemplo, uma das criações da aluna Amália Elizabete Coelho Pinguello:

Aroma no ar. Cantam, ao longe, cigarras.

Enfim, primavera.

Nona e décima aulas: Capítulo 2: “A imagem como índice”, subdividido em: “Objetivo

a ser alcançado” e “Estudo do conceito”. A primeira etapa adaptou, novamente, o

método criativo de Bordini e Aguiar. Foram realizadas as análises de imagens: 1 e 2

(charge), bem como o texto I: A rua diferente, de Carlos Drummond de Andrade. Nas

análises e leituras os alunos observaram a influência do homem na natureza e o

impacto social decorrente dessa relação. Para facilitar a compreensão da imagem no

texto poético, utilizamos o mesmo signo “árvore” com objetivos e funções diferentes,

visando compreender o processo da construção da imagem.

Décima primeira e décima segunda aulas: Segunda etapa do método criativo: coleta

desordenada de dados, ocasião em que foram proporcionadas condições na tentativa

de encontrar uma solução que eliminasse as carências apresentadas por meio de mais

exercícios. Propusemos exercícios para “transformar” as palavras (de signo a índice –

relação causal e real). Analisamos charges. Concluímos que, na observação da

natureza/pessoas, podemos notar que os indivíduos revelam sinais involuntários ou

13

não intencionais, que nos permitem perceber ou descobrir um dado qualquer, ou seja,

indícios.

Décima terceira e décima quarta aulas: Terceira etapa do método criativo:

elaboração interna dos dados, momento em que os dados foram estudados,

distribuídos e estruturados no nível da consciência. A partir dos dados, realizamos

oficina de leitura e análise de textos: Antologia, de Drummond; e Nomes, de Kolody. Os

textos foram apresentados para a análise da imagem como índice. Nesse momento foi

explorado o recurso sinestésico. Os alunos chegaram à conclusão que os textos

sugerem e convidam o leitor a perceber a natureza a partir dos cinco sentidos. Na

sequência, trabalhamos a quarta etapa do método criativo: constituição do projeto

criador, etapa que anteviu os esforços desenvolvidos para suprimir as carências,

novamente por meio da Oficina de Criação de Textos. Nesta etapa foram realizadas as

readaptações textuais, individualmente.

Décima quinta e décima sexta aulas: Aqui, foi priorizado o estudo do conceito, a

partir da primeira etapa do método criativo: constatação das carências

individuais/coletivas. A partir desse levantamento, deu-se a análise do texto I: Limiar,

de Kolody. Analisamos a fotografia como símbolo (conceito). Também propusemos o

entendimento da obra de arte como símbolo. Posteriormente, deu-se a segunda etapa

do método criativo: coleta desordenada de dados para a busca da solução de

problemas. Diante dos resultados, tomamos o símbolo “árvore”, unido ao significado de

cada uma de suas partes. Consultamos o dicionário online e o dicionário de símbolos

de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

Décima sétima e décima oitava aulas: Terceira etapa do método criativo. Oficina de

Leitura e análise de textos: Texto 1: Araucária, de Kolody; e Texto 2: Tempo de ipê, de

Drummond. Nesta etapa o que os alunos mais gostaram foi relacionar cada árvore

símbolo com seu respectivo Estado do Brasil, e depois com seus países oriundos. Em

seguida, para a verificação dos resultados, foi utilizado o recurso do hiperlink. Na

sequência, trabalhamos a quarta etapa do método criativo: constituição do projeto

14

criador, analisando os esforços desenvolvidos para suprimir as carências dos alunos

através da Oficina de Criação de textos.

Décima nona e vigésima aulas: Banco de textos: este capítulo serviu de sugestões

de leituras, em que a árvore pôde ser representa imagética e significativamente de

diferentes formas e com distintos objetivos ou funções. Apresentou-se o capítulo 5:

“Para descontrair”. Este capítulo desenvolveu atividades de descontração sobre ilusão

ótica. Os alunos perceberam o quanto somos bombardeados com imagens

subliminares e quais suas possíveis intenções.

Vigésima segunda e vigésima terceira aulas: Capítulo 6: “Navegando na internet”.

Utilizamos o recurso de data-show, notebook e internet sem fio para facilitar os links

disponíveis. Escolhemos fazê-lo dessa forma devido ao acesso à sala de informática

ficar restrita para os professores na elaboração das atividades. Contamos, com a ajuda

do colégio, em disponibilizar esses recursos para o aprendizado. Na sequência, o

Capítulo 7: “Conexão do conhecimento”. Abordamos o conhecimento das imagens

junto à realidade e sua inerente produção de significados. Nesta etapa, realizamos

reuniões para planejar a exposição temática. Ouvimos as sugestões dos alunos.

Elegemos um(a) secretário(a) para fazer as anotações quanto aos materiais utilizados,

os recursos, o local, as ideias para a exposição, as poesias selecionadas e as

distribuições das tarefas para cada aluno. No início, realizamos o diagnóstico das

expectativas sobre o tema: O estudo da imagem na poesia. Abaixo, alguns relatos:

A partir do estudo da imagem na poesia gostei das aulas teóricas com a adição dos conhecimentos sobre imagem icônica, indicial, simbólica, conteúdos que não são geralmente trabalhados e que beneficiam a interpretação de texto, de charges, que frequentemente aparecem em vestibulares e ENEM (Amália Elizabete Coelho Pinguello). Eu gostei porque me ajudou a entender o que é índice, símbolo e ícone, e aprender um pouco mais sobre os poemas de Carlos Drummond e de Helena Kolody. Gostei porque usamos a nossa criatividade junto com os poemas e fizemos a exposição, que ficou muito bonita (Andressa Favero).

15

4 Relato da Exposição Interativa: Carlos Drummond e Helena Kolody

Os alunos foram desafiados a realizar a proposta de elaboração de uma

exposição interativa, tendo como princípio a reutilização de materiais. Lembramos que

optamos por oferecer essa abordagem uma vez que a fonte de renda da maioria dos

munícipios da região (Cianorte, Pérola, entre outros) é a indústria de confecção.

A culminância dessa implementação ocorreu na realização da exposição

interativa. A turma propôs suas ideias, sugestões e possibilidades para então

encaminhar ações na elaboração e execução da exposição. Logo após, foram

realizadas as anotações, os critérios e as distribuições das tarefas. Priorizamos as

relações dos materiais utilizados, escolhendo a data da exposição. A turma elaborou

um convite para a comunidade escolar, bem como organizou o ambiente para o dia da

exposição.

Nesta etapa de criação, os estudantes visitaram o viveiro da cidade e

conseguiram sementes de Pau-brasil, que resultaram no enfeite de uma topia feita com

bola de isopor e fuxico. Igualmente, foram elaborados cartazes impressos com árvores

símbolos: Ipê-amarelo (Brasil), Araucária (Paraná), Oliveira (Portugal) e Baobá (África).

Para a confecção de árvores que simbolizam o Japão foram utilizados galhos de poda

e papel crepom, nas cores branca e rosa (simbolizando o sakura ou a flor de cerejeira).

Quanto à elaboração de outra árvore símbolo, o plátano, que representa o Canadá,

foram usadas folhas colhidas no campus da UEM-Maringá. Tais folhas passaram por

um processo de secagem, sendo posteriormente pintadas com tinta spray nas cores

verde e laranja e então coladas com cola quente em galhos de poda.

Dando-se sequência à exposição, os alunos criaram:

Árvore poemas. Na árvore do pátio do colégio ficaram pendurados os poemas

dos alunos e dos poetas em questão. Os visitantes apreciaram as leituras em contato

com a sombra das frondosas copas.

Árvore dos sonhos. Ao lerem as obras de Drummond e Kolody, os alunos

puderam observar a temática “sonho”. Decidiram então criar a “Árvore dos Sonhos”

16

com galhos de poda pintados com tinta guache branca. Nos galhos, tiras de cartolinas

coloridas, recortadas, perfuradas e amarradas com linha de pesca. Os visitantes

escreviam na tira os seus sonhos e a pendurava. Ao lado, encontravam-se expostos os

poemas com a temática “sonhos”, de Helena Kolody e Drummond. Acreditamos que

essa árvore se destacou por refletir os sonhos e os projetos de cada aluno. Movidos

pela curiosidade, os estudantes sempre se aproximavam da árvore para,

discretamente, descobrir os sonhos alheios. Diante dessa ação, Trevisan (1993, p. 4)

afirma: "por se relacionar com a parte emocional do homem, a poesia tem a ver com

seus sonhos, e nenhum sonho é inocente".

Desse modo, o educando entrou em contanto com maior variedade de gêneros

textuais (literários ou não). A partir desse ponto, a leitura passa a ter diferentes

objetivos e funções. De acordo com Morais (1996, p. 12): “Os prazeres da leitura são

múltiplos. Lemos para saber, para compreender, para refletir. Lemos também pela

beleza da linguagem, para nossa emoção, para nossa pertubação. Lemos para

compartilhar. Lemos para sonhar e aprender a sonhar […]”.

Segundo o depoimento da aluna Amanda Sangoli: “Foi muito interessante à

árvore dos sonhos, pois nela ficou marcado o desejo de cada um dos alunos do

colégio.”

Caixa de pensamento. A partir das leituras das obras de Drummond e Kolody, os

alunos selecionaram fragmentos ou pensamentos digitados no editor de texto em

pequenas caixas de textos. Um ao lado do outro, impressos em cartolinas coloridas e

recortadas. Foram utilizadas caixas de fitas VHS pequenas para colocar os

pensamentos. Cada visitante escolhia um pensamento, lia e poderia levar para casa.

Esclarecendo: utilizo essa prática já há algum tempo durante minhas aulas e trabalhos

– faço coletânea de trechos ou pensamentos que são significativos em suas leituras.

Solicito aos alunos que me entreguem frases ou fragmentos com nomes dos autores e

obras dos quais foram retirados. Depois peço que argumentem a sua escolha e o que

entenderam do trecho escolhido. Utilizo-os, então, em cada início de aula. O aluno

retira um papel, lê e o interpreta oralmente. Na sequência, escrevo-o no quadro.

Construir a “Caixa de pensamento” com a participação e o interesse dos alunos

17

facilitou a recepção da leitura das obras obrigatórias, solicitadas para os vestibulares.

Por outro lado há alunos que fazem sua seleção de autores favoritos e praticam essa

dinâmica.

Rádio-CD, na voz de Helena Kolody (CD - Helena por Helena Kolody). A

princípio os alunos iriam tocar o CD no aparelho de rádio, tocando sucessivamente

seus poemas. Depois pensaram em uma forma de deixar a atividade mais interativa e

resolveram que cada visitante deveria escolher a faixa, de um a oitenta. Não foi

possível fazer o mesmo com o poeta Drummond, pois o CD estava esgotado nas lojas.

Painel poema. Em uma das Oficinas de criação de textos os discentes

produziram haicais. Pensando em como expô-los, os alunos reutilizaram uma porta de

armário para a construção de um painel. Materiais utilizados: tinta, pincel, elástico,

grampeador de tapeceiro, cartolinas. Tivemos a experiência de trabalhar com o haicai,

poema curto de três versos e concisos. Exploramos vários aspectos inerentes ao

gênero, como sua origem, sua estrutura, a precisão das imagens, sua exploração

sensorial, bem com o “kigo”, ou seja, as estações evocadas.

Mesa poema. Ao trabalharmos a temática natureza nas obras de Drummond e

Kolody, foi constante a ideia de preservação e responsabilidade de cuidar do que é

nosso. Os alunos, mobilizados pela consciência ambiental, resolveram pintar as mesas

do pátio e escrever haicais e trechos dos poemas dos autores em questão. O ambiente

ficou harmonizado e cuidado nos aspectos em que essas mesas antes eram pichadas

e rabiscadas. A poesia cumpriu com uma das suas funções: nesse caso, sensibilizá-

los. Tivemos como resultados algumas mudanças de hábitos na preservação ambiental

escolar e desafiamos a expandir essa ação para demais lugares de seu convívio.

Som da poesia. Árvore estilizada com discos de vinil. Desafiamos os alunos para

a criação de um painel com os elementos: poesia, som, ritmo, árvore. Disponibilizamos

como materiais: disco de vinil, papelão, cola quente, E.V.A. e cascas soltas das

árvores. O resultado foi a criação da árvore estilizada “Som da poesia”. Foram escritos

18

nos discos de vinil, com caneta corretiva, os poemas e trechos das obras de

Drummond e Kolody. O título “Som da poesia” alude à associação entre a própria

musicalidade das poesias com o disco de vinil. Destacamos algumas características do

haicai e do tanka com sua precisão e estrutura própria de composição.

A divulgação do trabalho para a comunidade escolar realizou-se no dia vinte

quatro de novembro de 2011, nas dependências do Colégio Estadual Nestor Victor.

Ocasião em que os sujeitos expuseram o resultado de sua criação. A partir desse

momento, os empenhos deixaram de ser individuais para se transformarem em um

bem-comum a ser partilhado com todos. Isso só se tornou possível, entretanto, a partir

do método criativo Bordini e Aguiar e através de pressupostos teóricos sobre imagem,

que fundamentaram o processo de execução do material didático. Contudo, o empenho

e a participação foram os fatores determinantes à realização da exposição.

É importante ressaltar ainda que nessa construção os alunos foram desafiados a

alcançar os objetivos propostos, sempre dentro de prazos para o cumprimento das

ideias iniciais. Encontramos dificuldades em relação ao tempo de execução para a

preparação da exposição. Os alunos levaram os trabalhos manuais para fazer em

casa, tendo inclusive alguns terem sido realizados em horários fora do projeto de

implementação. Compreendemos que foi exaustivo, mas também prazeroso. Imaginar

e depois ver executado foi satisfatório para os olhos e para alegria da turma.

Compartilhamos essa etapa de construção do saber.

Na prática pedagógica diária muitas vezes é difícil identificar os talentos, as

habilidades e a criatividade. Desafio para o educador é propiciar essas práticas

pedagógicas para o reconhecimento e valorização dos alunos como indivíduos criativos

e participativos.

Seguem as imagens do dia da exposição, na sequência disponibilizada na

análise:

19

Figura 1

Figura 2

20

Figura 3

Figura 4

21

Figura 5

Figura 6

22

Figura 7

Figura 8

23

Figura 9

Figura 10

24

Figura 11

Figura 12

25

Figura 13

Figura 14

26

Figura 15

Figura 16

27

Conclusão

A concretude do trabalho da implementação do material didático O estudo da

imagem na poesia deve-se à escolha do método criativo Bordini e Aguiar, ao qual nos

permitiu a liberdade de expressão e levou os educandos a assumir um papel ativo e

criativo no seu processo de ensino-aprendizagem. Por conseguinte, gerou uma

autonomia intelectual e autoral de pensamento e produção literária por parte dos

alunos. Por meio da metodologia aplicada, criaram-se no interior da sala da aula

oportunidades de vivências partilhadas, resultantes de um processo vivo, interativo,

instigante e desafiador. Em razão disso, dinamizaram as aulas de literatura.

Relembrando-se, as Oficinas de leitura, análise e produção de texto poético

foram dividas em três capítulos: a imagem como ícone, índice e símbolo. Os textos

contribuíram para que os alunos percebessem a abrangência do signo imagético, no

caso a “árvore”, bem como observaram que em todos os capítulos a imagem foi

representada de distintas formas e com diferentes objetivos e funções.

Essas estratégias mobilizadas resultaram na melhora da compreensão, do sentir

e do dizer do texto. Sendo assim, a possibilidade de se estudar a diferença entre a

representação da imagem foi muito importante para que pudéssemos compreender a

comunicação no mundo atual. O leitor precisa de competência para a leitura imagética

não somente para a leitura de textos literários, sendo, porém, requerida em nosso

cotidiano. Ao descobrir o seu mundo visual, o aluno conheceu melhor a si mesmo,

compreendendo e dinamizando sua cultura.

Tomando-se a perspectiva abrangente do andamento do processo de execução

e a relação interpessoal e intrapessoal, podemos afirmar que cumprimos um papel

importante que auxiliou a comunicação entre professora, alunos; alunos/alunos, “eu

consigo mesmo”; ou seja, as experiências valorizaram o trabalho grupal, a interação

social e o autoconhecimento. Resultado que gerou maior participação, iniciativa,

responsabilidade, dedicação dos alunos envolvidos nesta prática pedagógica.

28

Referências AGUIAR, Vera Teixeira de. O verbal e o não-verbal. São Paulo: UNESP, 2004.

AGUIAR, Vera Teixeira de; MARTHA, Alice Áurea Penteado. (org.) Territórios da leitura: da literatura aos leitores. São Paulo: Cultura Acadêmica; Assis, SP: ANEP, 2006. ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 54 ed. Rio de Janeiro: Record,

2004. __________________________. Poesia completa. vol. único – acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola para o Ensino Médio PNBEM /2008. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. AVERBUCK, Lígia Morrone. A poesia e a escola. In: ZILBERMAN, Regina. (org). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 10. ed. Porto Alegre:

Mercado Aberto, 1991. BARBOSA, João Alexandre. A metáfora crítica. São Paulo: Perspectiva, 1974. BARTHES, Roland. O prazer do texto. Tradução: J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2004. BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura, a formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1983. __________________________. (org.) Leitura de poesia. São Paulo: Ática, 1996. BRAIT, Beth. Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010. CANDIDO, Antonio. Na sala de aula: caderno de análise literária. 8. ed. São Paulo: Ática, 2005. CASTIM, Fernando. Princípios básicos de semântica. Recife: FASA, 1983.

CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: (mitos, sonhos,

costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 24 ed. Tradução: Vera da Costa e Silva. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural. São Paulo: Brasiliense, 1987.

29

CRUZ, Antonio Donizeti da. Helena Kolody: a poesia da inquietação. Marechal Cândido Rondon: EDUNIOESTE, 2010. D´ONOFRIO, Salvatore. O texto literário: teoria e aplicação. São Paulo: Duas

Cidades, 1983. ECO, Umberto. O Signo. 5. ed. Lisboa: Presença, 1997. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o minidicionário da língua portuguesa. Século XXI. 4. ed. revista e atualizada. Edição especial para o FNDE/PNLD. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. FILIPAK, Francisco. Teoria da metáfora. Curitiba: HDV, 1983. GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 10. ed. São Paulo: Ática, 1998. HANSEN, João Adolfo. Alegoria: construção e interpretação da metáfora. Campinas, SP: Hedra/UNICAMP, 2006. JOLY, Martine. Introdução à análise da Imagem. Tradução: Marina Appenzeller.

Campinas, SP: Papirus, 1996. KOLODY, Helena. Viagem no espelho. 2. ed. Curitiba: Editora da UFPR, 1995. __________________________. Helena Kolody. VENTURELLI, Paulo. (org.) Curitiba: Ed. da UFPR, 1995. [Série Paranaense, n.6]. __________________________. Sinfonia da vida. REZENDE, Tereza Hatue de. (org.)

Curitiba: Polo Editorial do Paraná, 1997. __________________________. Poemas do amor impossível. GOMES, Roberto. (org.) Curitiba: Criar Edições, 2002. KOTHE, Flávio R. A alegoria. São Paulo: Ática, 1986.

LAJOLO, Marisa. O texto não é pretexto. In: ZILBERMAN, Regina. (org.) Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 10. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991. __________________________. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 3.

ed. São Paulo: Ática, 1994. LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. 4. ed. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

30

MARTHA, Alice Áurea Penteado. (org.) Leitor, leitura e Literatura: teoria, pesquisa e prática: conexão. Maringá, PR: Eduem, 2008. MENEGASSI, Renildo José. (org.) Leitura e ensino. Formação de professores EAD. n.16. Maringá: EDUEM, 2005. MORAIS, José. A arte de ler. São Paulo: Editora da UNESP, 1996.

OLIVEIRA, Maria Alexandre de. A literatura infantil e a interação participativa da criança com a obra. In: PENTEADO, Heloísa Dupas (org.) Pedagogia da comunicação: teorias e práticas. São Paulo: Cortez, 1998. PAIXÃO, Fernando. O que é poesia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.

PARANÁ, Secretaria do Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica. Curitiba, 2008. PENTEADO, Heloísa Dupas (org.) Pedagogia da comunicação: teorias e práticas. São Paulo: Cortez, 1998. PILLETI, Claudino. Didática geral. 19 ed. São Paulo: Ática, 1995.

RÊGO, Zila Letícia Goulart Pereira. Poesia é voz de fazer nascimentos. In: AGUIAR, Vera Teixeira; MARTHA, Alice Áurea Penteado (org.). Territórios da leitura: da literatura aos leitores. Assis, São Paulo: Cultura Acadêmica, 2006. SANTAELLA, Lúcia. Teoria geral dos signos. São Paulo: Pioneira, 2000.

SANTOS, José Vandilo. A poesia é uma fotografia – Prefácio. In: Corpo estranho.

Palmas: Cromográfica, 2006. SOARES, Angélica; GUIMARÃES, Denise. Poesia: crítica e autocrítica. Curitiba: Scientia et Labor, 1989. TAVARES, Hênio Último de Cunha. Teoria literária. 9.ed. Belo Horizonte: Itatiaia

Limitada, 1989. TREVISAN, Armindo. Reflexões sobre a poesia. Porto Alegre: InPress, 1993. VANOYE, Francis. Usos da Linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. Tradução: Clarice Madureira Saboia. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. ZAPPONE, Mirian Hisae Yaegahi. A leitura de poesia na escola. In: MENEGASSI,

Renildo José. (org.) Formação de Professores EAD n. 19. Maringá, PR: EDUEM, 2005. ZOTZ, Werner; CAGNETI, Sueli. Livro que te quero livre. 4. ed. Florianópolis: Letras Brasileiras, 2010.

31

DISCOGRAFIA ANDRADE, Carlos Drummond de. Carlos Drummond de Andrade por Paulo Autran. Rio de Janeiro: Luz da Cidade, 1999. (Coleção “Poesia Falada”, vol. 13). KOLODY, Helena. Helena Kolody por Helena Kolody. Produção de Paulinho Lima.

Curitiba: Estúdio Sir, 1997. (Coleção “Poesia Falada”, vol. 4). ICONOGRAFIA (Crédito das imagens: aluna Andressa Fávaro) Imagem – 01 Nome dos alunos participantes da Implementação. Imagem – 02 Exposição Interativa: Carlos Drummond e Helena Kolody Imagem – 03 Topia Pau-brasil Imagem – 04 Cartazes árvores símbolos Imagem – 05 Árvore símbolo: Sakura ou flor-de-cerejeira - Japão Imagem – 06 Árvore símbolo: Plátano - Canadá Imagem – 07 Árvore poema Imagem – 08 Árvore dos sonhos Imagem – 09 Caixa de pensamentos Imagem – 10 Rádio-CD Imagem – 11 Rádio- CD Imagem – 12 Painel poema Imagem – 13 Mesa poema Imagem – 14 Mesa poema Imagem – 15 Som da poesia- Árvore estilizada com vinil Imagem – 16 Som da poesia – Árvore estilizada com vinil

32

WEBSITES utilizados em sala de aula> BOOKS. Poesia e imaginário, Ana Maria Lisboa de Mello. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fVbC86UEbD8C&oi=fnd&pg=PA9&dq=relato+de+experiencia+poesia+e+imagem&ots=TPVet25ai-&sig=7Qscr2e7urLuq1VDMu9w0vUJrZo#v=onepage&q&f=false> Acesso em 25 de mar. 2012. CAQUI REVISTA BRASILEIRA DE HAICAI. 11º Concurso Brasileiro de Haicai Infanto-Juvenil (2012). Disponível em:<http://www.kakinet.com/concurso/> Acesso em 20 de mar. 2012. SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA DO PARANÁ. Helena Kolody. Disponível em:<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=23196> Acesso em 10 de mar. 2012. SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA DO PARANÁ. Araucária, Helena Kolody. Disponível em: <http://www.cultura.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=19> Acesso em 10 de mar. 2012. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Reflexões sobre a poesia, Armindo Trevisan. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/proin/versao_2/trevisan/index13.html> Acesso em 12 de mar. 2012. YOU TUBE. Ana Cascardo – Valsa para Helena Kolody (Gerson Bientinez e Etel Frota) – Poema: Etel Frota. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=4o2VGtfz1Uo&feature=related> Acesso em 21 de fev. 2011. YOU TUBE. Centenário Helena Kolody – Pt. 1.Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=SxdiUSnj858&list=PLD3D758F2CB0D4AD7&feature=plpp_play_all> Acesso em 12 de mar. 2012. YOU TUBE. Centenário Helena Kolody – Pt 2. <http://www.youtube.com/watch?v=gNHTGKes9Ls&feature=bf_prev&list=PLD3D758F2CB0D4AD7&lf=plpp_play_all> Acesso em 12 de mar. 2012. YOU TUBE. Clóvis Ribeiro – Band Carroça de tolda, Helena Kolody Disponível em:<http://www.youtube.com/watch?v=wIkHf_lBtvg&feature=related> Acesso em 21 de fev. 2011.

33

YOU TUBE. Helena Kolody textos escolhidos. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=KvKRF8IERWw&feature=related> Acesso em 12 de mar. 2012. YOU TUBE. Helena Kolody narração poética. Disponível em:<http://www.youtube.com/watch?v=SVU3HP_k5vg&feature=related> Acesso em 12 de mar. 2012.