o ensino da literatura infantil na educaÇÃo infantil · literatura infantil como arte fenômeno...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
O ENSINO DA LITERATURA INFANTIL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
BEATRIZ MARIA DE SOUSA
NATAL-RN
2016
2
BEATRIZ MARIA DE SOUSA
O ENSINO DA LITERATURA INFANTIL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia, na modalidade a distância, do
Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia, sob a
orientação da professora Dra. Mariangela
Momo.
NATAL-RN
2016
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O ENSINO DA LITERATURA INFANTIL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por
BEATRIZ MARIA DE SOUSA
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia, na modalidade a distância, do
Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Dra. Mariangela Momo (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_____________________________________________________
Dra. Kilza Fernanda Moreira De Viveiros
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________
Ms. Milene dos Santos Figueiredo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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O ENSINO DA LITERATURA INFANTIL NA EDUCAÇÃO INFANTI1
Beatriz Maria de Sousa2
Orientadora: Dra. Mariangela Momo3
RESUMO
A temática elegida para este artigo foi a literatura infantil e as necessárias situações de
ensino promovidas com a sua utilização na Educação Infantil. Nos dias atuais não está
sendo fácil o trabalho com a literatura na educação infantil, pois muitos professores não
incentivam a leitura de contos ou outros livros infantis. Por isso, a metodologia utilizada
para a realização da pesquisa foi a revisão bibliográfica sobre o tema. Teve como objetivo
geral compreender como se pode proporcionar momentos de prazer para a criança no
trabalho com a leitura infantil na escola. Essa escolha partiu do entendimento de que a
literatura infantil colabora para, amplia vocabulário e a organização de pensamento das
crianças; possibilita que as crianças consigam redigir melhor, desenvolvendo sua
criatividade, pois o ato de ler e o ato de escrever estão intimamente ligados. Como
principais resultados sistematizamos um conjunto de informações que podem ajudar a
organizar o trabalho com a literatura infantil na escola. Além disso, considerou-se a
literatura infantil como arte fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a
vida, através da palavra; funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e
sua possível/impossível realização.
Palavras – Chave: Criança. Educação Infantil. Literatura Infantil.
ABSTRACT
The theme for this article was elected to children's literature and the necessary teaching
situations promoted to their use in early childhood education. Nowadays it is not easy to
work with literature in early childhood education, as many teachers do not encourage
reading tales and other children's books. Therefore, the methodology used for the research
was a literature review on the topic. We aimed to understand how it can provide moments
of pleasure to the child in working with children's reading at school. This choice came
from the understanding that children's literature contributes to, expands vocabulary and
organization of children thinking; enables children can write better, developing their
creativity, because the act of reading and writing are closely linked. The main results
systematize a set of information that can help organize work with the children's literature in
school. In addition, it considered the children's literature as art creativity phenomenon that
represents the world, man, life, through word; merges dreams and everyday life, the
imaginary and the real, the ideal and the possible / impossible achievement.
Key - words: Child. Child education. Children's literature.
1 Artigo apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como parte dos
requisitos para obtenção do título de licenciatura em Pedagogia. 2 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN –
acrescenta o e-mail: [email protected] 3 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professora Adjunta do
Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A presente temática trata – se da literatura4 infantil. Nos dias atuais não está sendo
fácil ensinar a literatura infantil na educação infantil, pois muito professores não
incentivam a leitura sobre contos ou outros gêneros textuais em sala de aula. Na educação
Infantil tem-se uma responsabilidade de resgatar e organizar o repertório das
histórias/contos que as crianças gostam de ouvir em casa e nos ambientes que frequentam,
uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação sobre as diversas
formas culturais de lidar com as emoções, valores e com as questões éticas, contribuindo
para a construção da subjetividade e da sensibilidade de cada criança.
Justifica-se que a literatura infantil é um caminho pelo qual a criança percorre para
desenvolver sua imaginação. A escolha dessa temática se deu pelo fato de perceber que em
muitas escolas tem brinquedoteca, tem biblioteca, tem o cantinho da leitura, mas alguns
professores não dão tão importância a atividades como leitura e ludicidade, eles preferem
trabalhar de forma tradicional em vez de incorporar, por exemplo, o trabalho com a
literatura infantil. A criança aprende bem a ler e a escrever quando tem um incentivo
melhor por parte dos pais e dos professores. Por isso, é importante para formação da
criança ela ouvir muitas histórias, é no trabalho com a literatura infantil que a criança
aprender a ouvir, contar e recontar.
É um problema sério a falta de atenção dos professores em trabalhar todos os dias a
leitura infantil. Diariamente poderiam trabalhar com contos diversos e com histórias
clássicas. Muitas vezes o professor segue apenas seu livro didático, não que ele não seja
importante, mas não é um suporte adequado para trabalhar com a criança o incentivo à
leitura. Penso que é preciso que o professor planeje seu dia a dia na escola prevendo pelo
menos meia hora de leitura duas ou mais vezes por semana, sem fugir do que acredita ser o
conteúdo a ser trabalhado com seu grupo de alunos.
Por que as crianças não aprender a ler fluentemente? Essa é uma pergunta que os
professores fazem todos os dias. Mas a resposta pode ser simples. Uma das possibilidades
de resposta é: por falta de interesse, falta de acompanhamento da família e falta de atenção.
Os professores devem criar ideias estimuladoras para os estudante como ler, contar e
recontar histórias infantis. Uma possibilidade é estipula dois alunos por semana para contar
4 Literatura, segundo o dicionário informal é uma Atividade humana, criadora, que utiliza a
linguagem e língua para fins não somente de comunicação, mas também para fins estéticos e de cultura. Fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/literatura/.
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ou recontar as histórias, mas todos devem ler o mesmo livro, para que possam entender a
história, dessa maneira está trabalhando o gosto pela em leitura.
Considerando esse contexto, a metodologia utilizada para a realização da pesquisa
foi a revisão bibliográfica, utilizando as obras dos seguintes autores: Abramovich (2004),
Evangelista (2001), Lajolo e Zilberman(1985), Zilberman (1998), entre outros autores.
Para a revisão bibliográfica utilizou-se o acesso à bibliotecas, acervos online e o acesso a
alguns sites da internet. Realizando um processo de busca de textos que abordam a
importância da literatura infantil e dos livros para o indivíduo desde da infância. Uma vez
que é importante, incentivar a formação do hábito de leitura na idade em que todos os
hábitos se formam, ou seja, na infância. A literatura infantil é um caminho que leva a
criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e
significativa.
O presente trabalho está dividido em três seções. Na primeira seção aborda-se a
Leitura e a Literatura, dois importantes conceitos; O hábito da leitura literária; A
importância da leitura e da escrita na vida de um alfabetizando. Já na segunda seção
aborda-se: Leitura diária de contos de fadas e fábulas criando situações de fantasia e
encantamento; Estimula a criatividade do aluno através do lúdico. E na terceira seção
expor-se possibilidades do trabalho com a literatura infantil na escola. Por fim está a seção
que se destina às considerações finais.
O presente artigo tem como objetivo geral compreender como se pode proporcionar
momentos de prazer para a criança no trabalho com a leitura infantil na escola. E como
objetivos específicos: Discutir sobre o prazer pela leitura; Compreender como desenvolver
a linguagem oral através do trabalho com a literatura infantil; Compreender como
estimular a criatividade por meio da literatura infantil; Compreender como desenvolver o
gosto por histórias, contos, brincadeiras de faz de conta e estimular a imaginação através
do lúdico.
Na infância a linguagem oral talvez seja a habilidade que a criança mais
desenvolve, e a interlocução com o adulto favorece esse processo, principalmente quando
mediado pela literatura, oferecendo contato com a linguagem escrita, já que a linguagem
cotidiana pouco dá acesso à norma-padrão da língua.
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2. LITERARURA INFANTIL E EDUCAÇÃO INFANTIL
A educação infantil, pode-se dizer que é um novo campo de prática social. Uma
prática que deveria contribuir para a formação de leitores e o trabalho lúdico com a
literatura infantil seria um dos caminhos possíveis para essa contribuição. De acordo com
Machado (2002) a leitura é também uma brincadeira infantil, porque quando as crianças
passam pelas viagens fictícias elas brincam de “faz-de-conta”.
A literatura infantil tem por tarefa, na sociedade em transformação, servir como
agente de formação, seja no espontâneo convívio do leitor com o livro, seja no diálogo ou
nas atividades literárias promovidas pela escola. Para Todorov (2007), Literatura deve ser
vista e entendida como o encontro de outros autores, de outros pensamentos, é remeter o
leitor a um mundo mais pleno de ideias e liberdade analítica, ou seja, a mesma deve
manter-se no centro dos discursos vivos e instigantes.
A literatura infantil, nesta medida, é levada a realizar sua função formadora, que
não se confunde com uma missão pedagógica. Com efeito, ela dá conta de uma tarefa a que
está voltada toda a cultura - a de conhecimento do mundo e do ser (ZILBERMAN &
LAJOLO, 1985, p.25).
A importância da literatura na formação cognitiva, linguística,
comunicativa e psicológica da criança. Argumenta a necessidade de
implementar práticas pedagógicas prazerosas e regulares, como contar e
ler textos dos contos de fadas, para assegurar uma relação escolar bem-
sucedida, visto que a leitura é ferramenta instrumental na cultura
brasileira (AMARILHA, 2004).
Para Amarilha (2004) na literatura e na vida cotidiana, facilmente uma criança entra
em contato com metáforas. Assim, através de palavras novas e significados conhecidos,
palavras conhecidas e significados novos, ou mesmo apenas se detendo à sonoridade da
palavra conhecida ou desconhecida, a criança pode exercer a sua imaginação, construir
sentidos e desenvolver a sua linguagem. Um personagem pode ser uma metáfora: a criança
pode experimentar, através de um personagem e suas características, uma ideia ou
sentimento que pode ser para ela conhecida ou desconhecida.
Na Educação Infantil a apresentação da leitura tem por obrigação de vir
acompanhada de entusiasmo pelo professor, e este, deve atuar como
mediador para que a leitura se desenvolva com todo vigor entre os
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pequenos. “Para formar leitores devemos ter paixão pela leitura”
(KLEIMAN, 2007, p. 15).
Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI),
“o desenvolvimento saudável das crianças implica atender suas necessidades básicas de
afeto, alimento, segurança e integridade corporal e psíquica durante o período em que elas
passam na escola”. (BRASIL, 1998, p. 50). E o trabalho com a literatura infantil pode
contribuir com o desenvolvimento integral das crianças.
Segundo Vygotsky (1987), o desenvolvimento mental da criança é um processo
contínuo de aquisição de controle ativo sobre funções inicialmente passivas. Assim, desde
os primeiros dias de vida as atividades da criança adquirem um significado próprio no
sistema de comportamento social, quando é dirigido a objetivos definidos e retratados pelo
ambiente da criança. Confere, assim, ao outro indivíduo, pai, mãe, irmão, professora,
colegas, presentes na situação, uma importância na determinação do desenvolvimento
infantil (VYGOTSKY, 1987).
2.2 Leitura e literatura: conceitos
A leitura eficaz é a leitura racional acrescenta à sensorial e à emocional. É a leitura
que permite estabelecer uma ponte entre o leitor e o conhecimento, possibilita a reflexão, a
reordenação do mundo objetivo. Possibilita, no ato de ler, dar sentido ao texto e questionar
tanto a individualidade como o universo das relações (MARTINS, 1995).
Segundo as considerações de Piaget (1975,) entende-se que a fase sensória motora,
nos dois primeiros anos de vida, é reconhecida como complemento no desenvolvimento
posterior. Dessa forma, afirma-se que as intervenções efetuadas durante esse período não
só mostram efeitos imediatos, como também capacitam à aprendizagem futura.
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de
compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a
linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por
letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias
de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é
possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita
controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de
dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar
no texto suposições feitas (BRASIL, 1998, 69-70).
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Dois assuntos abordados nas escolas nos dias atuais leitura e literatura. Conceitos
diferentes segundo o dicionário, porem dois conceitos que quando colocados em
prática/vividos nos fazem viajar no mundo da imaginação criativa.
Leitura é a ação de ler algo. É o hábito de ler. A palavra deriva do Latim
"lectura", originalmente com o significado de "eleição, escolha, leitura".
Também se designa por leitura a obra ou o texto que se lê. A leitura é a
forma como se interpreta um conjunto de informações (presentes em um
livro, uma notícia de jornal, etc.) ou um determinado acontecimento. É
uma interpretação pessoal. O hábito de leitura é uma prática
extremamente importante para desenvolver o raciocínio, o senso crítico e
a capacidade de interpretação (CASTRO, 2013).
Literatura é uma palavra com origem no termo em latim littera, que
significa letra. A literatura remete para um conjunto de habilidades de ler
e escrever de forma correta. Existem diversas definições e tipos de
literatura, pode ser uma arte, uma profissão, um conjunto de produções, e
etc. Literatura é a arte de criar e compor textos, e existem diversos tipos
de produções literárias, como poesia, prosa, literatura de ficção, literatura
de romance, literatura médica, literatura técnica, literatura portuguesa,
literatura popular, literatura de cordel e etc. A literatura também pode ser
um conjunto de textos escritos, sejam eles de um país, de uma
personalidade, de uma época, e etc. (MICHAELIS, 2015, p. 80).
Portanto, tanto a leitura quanto a literatura são, ou deveriam ser atribuições da
escola, incluindo a escola de Educação Infantil. Para Zilberman (1998, p.18), a escola
assume um papel duplo o de introduzir a criança na vida adulta, e ao mesmo tempo, o de
protegê-la contra as agressões do mundo exterior. A ação entre educar e cuidar, na
Educação Infantil, deve ser compartilhada entre escola e família, mas muitas vezes a escola
passa a assumir o papel da família. Muitas famílias atribuem toda a responsabilidade para a
escola por falta de tempo ou de uma estrutura familiar onde falta amor, respeito, harmonia,
diálogo. Algumas crianças ao iniciar sua vida escolar nunca tiveram acesso a qualquer tipo
de livro infantil. Vê-se que é indispensável para a formação de uma criança, ouvir histórias
e a escola tem papel fundamental nessa prática.
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de
compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor o que sabe sobre a
linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por
letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica em
estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais
não é possível proficiência (KOCH; ELIAS, 2007).
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A citação de Koch; Elias (2007) se refere aos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN’s). Documento no qual consta o entendimento de que a leitura possui uma função de
extrema importância no ensino-aprendizagem dos alunos, uma vez que a partir do
desenvolvimento da sua competência leitora esse aluno poderá tornar-se proficiente em
todas as disciplinas. De acordo com PCN’s a interpretação de um texto é feita com base em
hipóteses que o leitor cria sobre o que lê. Essas hipóteses resultam das relações que o leitor
vai estabelecendo desde o início da leitura, continuamente entre os elementos visuais, as
palavras, as frases de um texto e todas as informações que ele pode trazer para a leitura.
Essa atividade está diretamente relacionada à predição, que consiste em antecipar o sentido
do texto, eliminando previamente hipóteses improváveis (PCN, 2007).
A Literatura Infantil assume um caráter pedagógico, ao transmitir valores e normas
da sociedade com a finalidade de instruir e de formar o caráter da criança. É o que Palo e
Oliveira (1998) chamam de função utilitário-pedagógica, ou seja, a reestruturação
educacional e o reconhecimento da educação destinada à criança representavam o
entrelaçamento da Literatura Infantil com fins pedagógicos.
A concepção de Barthes (1978) de que a literatura é a utilização da linguagem não
submetida ao poder, deve-se ao fato de que a linguagem literária não necessita de regras de
estruturação para se fazer compreender. Enquanto a utilização da linguagem cotidiana
requer uma estrita obediência de sua estrutura – deve-se enquadrar o pensamento nas
estruturas linguísticas, para que haja uma perfeita comunicação -, a linguagem literária não
obedece a qualquer regra estrutural fixa. O autor, que se utiliza dessa linguagem, não é
obrigado a emoldurar seus pensamentos nas estruturas linguísticas; ele é livre para escolher
e criar uma estrutura própria, que proporcione a ele uma clara expressão de seus
sentimentos e ideias. (BARTHES, 1978).
O ensino de literatura, também sob a ótica de Zilberman (1993), está a serviço da
leitura e tem como intuito transformar o indivíduo em leitor/cidadão crítico. Deste modo,
um aluno não se torna leitor apenas pelo fato de ter aprendido a ler os sentidos literais de
um texto (sentidos de dicionário). Para que ele seja “transformado” em leitor, é necessária
a intervenção do professor, que deverá apresentar ao aluno a concepção estética e
ideológica de prática da leitura literária, como possibilidade de construção de um leitor
sensível e intelectual para reconhecimento crítico das relações dos signos do texto com o
mundo (com seus usuários e suas representações).
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2.3 O hábito da leitura literária
O valor literário será dado pela harmonia entre a consciência-de-mundo,
transmitida pela obra, e a natureza do discurso literário, sobre as relações entre literatura e
escola ambas compartilham um aspecto em comum (ZILBERMAN, 1998, p.21). Tanto a
obra de ficção como a instituição de ensino estão voltadas à formação do indivíduo ao qual
se dirigem. No entanto, as obras infantis apresentam um mundo encantado, onde a criança
pode fantasiar várias coisas com seu enredo e personagens.
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de
selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que
podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias
de leitura adequada para abordá-los de formas a atender a essa
necessidade (BRASIL, 1998; p. 15).
O leitor deve ser crítico, saber interpretar e compreender as leituras, não apenas de
histórias em livros, mas compreender as outras disciplinas do dia a dia escolar. Segundo os
PCN, o objetivo principal do ensino de Língua Portuguesa é o domínio da linguagem. E
dentro disso está o ensino da leitura, para o domínio de uma competência leitora. Pode-se
dizer que o domínio dessa consciência leitora se inicia já na Educação Infantil. Para
Todorov (2009), é preciso antes de tudo criar uma postura crítica em relação ao ensino do
texto literário e apresentar ao leitor as várias possibilidades sociais e culturais que um texto
literário possa propiciar.
Para que o convívio do leitor com a literatura resulte afetivo, nessa
aventura espiritual que é a leitura, muitos são os fatores em jogo. Entre os
mais importantes está a necessária adequação dos textos às diversas
etapas do desenvolvimento infantil. (COELHO, 2000, p. 32).
Lajolo afirma que a linguagem tem um papel determinante na classificação de uma
obra como literária:
É a relação que as palavras estabelecem com o contexto, com a situação
de produção da leitura que instaura a natureza literária de um texto [...]. A
linguagem parece tornar-se literária quando seu uso instaura um universo,
um espaço de interação de subjetividade (autor e leitor) que escapa ao
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imediatismo, à predictibilidade e ao estereótipo das situações e usos da
linguagem que configuram a vida cotidiana. (LAJOLO, 1985, p.38).
A leitura diária para a criança é importante a fim de que seja estabelecido um hábito
de leitura. Os professores podem estabelecer algumas atividades para trabalhar o hábito da
leitura literária com as crianças. Pensamos e elaboramos algumas sugestões a partir dos
estudos por nós realizados. Trata-se de sugestões que os professores, incluindo os da
Educação Infantil, poderiam colocar em prática, cotidianamente, em suas salas de aula.
●Conversa informal sobre histórias que gostam;
●Cuidado com os livros;
●Falar sobre autor e ilustrador de cada livro;
●Ler a história;
●Debate sobre a história;
●Reprodução coletiva da história;
●Trabalhar linguagem oral e escrita explorando o conteúdo do livro;
●Exploração das características dos personagens e modelagem dos mesmos;
●Montagem de livro contendo as histórias trabalhadas.
Realizamos essas sugestões ao considerar que a inclusão do leitor na literatura não
depende apenas da sua faixa etária, mas primeiramente, segundo Coelho (2000, p. 33) da
“[...] inter-relação entre sua idade cronológica, nível de amadurecimento biopsiquico,
afetivo, intelectual e grau de conhecimento da leitura.” O pré-leitor faz parte da categoria
inicial que envolve duas fases: primeira infância dos quinze meses aos dois anos, e a
segunda infância, quando a criança está completando os três anos, (COELHO, 2000).
O educador deve determinar o tempo de leitura de acordo com a faixa etária de
cada criança, esse tempo serve para ouvir, contar e recontar as histórias.
Idade Tempo de leitura
Até 1 ano Poucos minutos
Até 2 anos 10 minutos
Até 3 anos 15 minutos
Até 4 anos 20 minutos
Até 5 anos 30 minutos
Até 6 anos* 30 minutos
Tabela 1. Tempo de leitura por faixa etária
Fonte: Brasil Escola
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O tempo destinado para o trabalho com a literatura e as estratégias utilizadas devem
respeitar as características e as especificidades das faixa etária das crianças. Se esse tempo
for respeitado, provavelmente, o trabalho terá sucesso e será eficaz. Já que o trabalho com
a literatura deve ser planejado e organizado com intencionalidade pedagógica.
Zilberman (1998, p.22) considera difícil, em grande medida, estabelecer uma
relação boa com a literatura que promova o espírito crítico, fazendo com que a criança
pense sobre o que foi lido, se espante com o maravilhoso ou até mesmo se irrite com a
história. Geralmente o que tem acontecido é a repetição sempre das mesmas perguntas
após a leitura das histórias.
Livros que contam histórias através da linguagem visual, sem o suporte
de textos narrativos ou com o apoio de pequenas falas escritas, são
chamados de livros de imagens (COELHO, 2000, p. 161).
É possível através de um livro realizar atividades diversas, nas quais a criança
coloca sua imaginação e toda sua criatividade em prática, despertando muitas vezes um
artista que está escondido dentro de si. Em algumas escolas a leitura dos livros é realizada
sobre pressão, uma tarefa a ser cumprida, com uma análise a ser feita após a leitura, esses
livros são impostos pela professora que também muitas vezes não escolhe, apenas segue o
que a escola determina.
A leitura literária nos obriga a um exercício de fidelidade e de respeito na
liberdade de interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica de
nossos dias, para a qual de uma obra literária pode-se o que se queira,
nelas lendo aquilo que nossos mais incontroláveis impulsos nos
sugerirem. Não é verdade. As obras literárias nos convidam à liberdade
de interpretação, pois propõe um discurso com muitos planos de leitura e
nos colocam diante das ambiguidades e da linguagem da vida. Mas para
poder seguir neste jogo, no qual cada geração lê obras literárias de modo
diverso, é preciso ser movido por um profundo respeito para com aquela
que eu, chamei de intenção do texto (ECO, 2003, p.12).
Para Coelho (2000), por volta dos 18 meses de idade, textos e ilustrações já são
compreendidos como reproduções da realidade e do mundo simbólico da criança: A partir
dos dois anos de idade, o vocabulário da criança está mais amplo, pois já compreende um
número expressivo de palavras e consegue comunicar-se oralmente com as pessoas e por
esse motivo os livros de histórias passam a ter maiores significados (KAERCHER, 2001,
p. 84).
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De acordo com Filho (2007), a literatura se utiliza da linguagem, no qual o autor é
livre para criar a sua própria história proporcionando a expressão de sentimentos e ideias,
ou seja, a linguagem literária vai assumindo vida própria, pois o autor se expressa com
liberdade por meio da literatura e está vai assumindo novas representações e significados
do real, permitindo a criação de novas realidades.
2.4 A importância da leitura e escrita nos processos de letramento e de alfabetização
A alfabetização não é um luxo nem uma obrigação; é um direito (FERREIRO apud
MORAES, 2005). O ensino inicial da leitura deve assegurar a interação significativa e
funcional da criança com a língua escrita já no contexto da Educação Infantil. Propiciar
essa interação implica a presença incluída do escrito na aula, nos livros, nos cartazes que
anunciam determinadas atividades, nas etiquetas que tenham sentido.
De acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998), a aprendizagem da linguagem oral e
escrita possibilita a ampliação da formação do sujeito a fim de que tenha uma consciência
crítica e transformadora, assim como possibilita a interação social com outras pessoas, a
orientação de suas ações e a construção de muitos conhecimentos. Isto se dá a partir da
promoção de experiências significativas ampliando, assim, as capacidades de comunicação
e expressão e o acesso ao mundo letrado pelas crianças.
Alfabetizar letrando, é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da
leitura e da escrita.
O sentido ampliado da alfabetização, o letramento, [...], designa práticas
de leitura e escrita. A entrada da pessoa no mundo da escrita se dá pela
aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado
do ato de ler e escrever. Além disso, o aluno precisa saber fazer uso e
envolver-se nas atividades de leitura e escrita. Ou seja, para entrar nesse
universo do letramento, ele precisa apropriar-se do hábito de buscar um
jornal para ler, de frequentar revistarias, livrarias, e com esse convívio
efetivo com a leitura, apropriar-se do sistema de escrita (ESPÍNDOLA,
2009, p. 01).
No que diz respeito à aprendizagem da leitura, Coelho (2000), orienta que no
período dessa descoberta, o adulto responsável pela educação do pequeno leitor deve
utilizar textos breves, combinados com grande quantidade de imagens e com poucas
páginas, cujos temas fundamentais a serem abordados devem ser simples, fáceis de
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decifrar, e que, de um livro para o outro, serão esclarecidas as dificuldades de compreensão
e entendimento da leitura para essa fase do pré-leitor.
Segundo Zilberman (1998), a democratização da leitura no Brasil tem passado pela
aquisição pública de livros para as escolas públicas, esses livros são, muitas vezes, de
gênero didático. Para a autora a leitura, no entanto, não deve ser pensada somente como
procedimento cognitivo ou afetivo, mas sim como ação cultural historicamente constituída,
o que importa é a representação da realidade presente no texto lido.
A leitura e escrita foram consideradas práticas diferenciadas, isto se deve à
própria história da formação dos leitores brasileiros, da história da
alfabetização, da história da nossa cultura, e em nosso país. O ato de
aprender a ler é totalmente associado ao ato de escrever, mas aos poucos
esses dois se fizeram (ZILBERMAN, 1998, p. 73).
O professor que trabalha com literatura infantil deve ter em mente o seu papel de
estimulador, orientador e mediador entre a criança e o livro. “Na concepção de literatura a
justificativa que legitima o uso do livro na escola nasce, pois, de um lado, da relação que
estabelece com seu leitor, convertendo-o ser crítico perante sua circunstância: e, de outro,
do papel transformador que pode exercer dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do
estudante” (ZILBERMAN & LAJOLO, 1985, p.25). O indivíduo compreende o texto, a
literatura de um livro, de acordo com o seu contexto social, quer dizer, as influências que
recebeu do seu ambiente sociocultural e de acordo com o seu nível de desenvolvimento
cognitivo. Nessa perspectiva, o Referencial Curricular Nacional (1998, v.1, p.32) afirma
que:
O âmbito social oferece, portanto, ocasiões únicas para elaborar
estratégias de pensamento e de ação, possibilitando a ampliação das
hipóteses infantis. Pode-se estabelecer, nesse processo, uma rede de
reflexão e construção de conhecimentos na qual tanto os parceiros mais
experientes quanto os menos experientes têm seu papel na interpretação e
ensaio de soluções. (BRASIL, 1998, v.1, p.32)
A interação permite que se crie uma situação de ajuda na qual as crianças avancem
no seu processo de aprendizagem. Os RCNEI (1998) propõe objetivos a serem atingidos
pelas crianças como forma de promover determinadas capacidades. Como por exemplo:
participar de variadas situações de comunicação oral e interessar-se pela leitura de histórias
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e ter contato com livros e revistas a fim de se aproximarem da escrita. Isto para as crianças
de 0 – 3 anos, enquanto que para as de 4-6 anos, a instituição deve oferecer meios para
ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão possibilitando que
haja intercâmbios sociais, participação em atos de leitura de textos pelo professor, assim
como escolhê-lo para ler.
O ato de ler torna-se uma necessidade para aquisição de significados onde a escrita
está presente, deste modo, “a leitura seria a ponte para o acesso educacional eficiente,
proporcionando a formação integral do indivíduo” (MARTINS, 1995, p.25). É importante
destacar que a origem da escrita não coincide com a origem da literatura. Os textos
sumérios e alguns hieroglíficos egípcios, considerados como os escritos mais antigos dos
quais se tenha registos, não pertencem ao âmbito da literatura. Entre os primeiros textos
literários destaca-se a Epopeia de Gilgamesh, um antigo poema épico de origem suméria
que foi gravado em tábuas de argila e cuja primeira versão data do ano 2000 a.C. Antes
dessa época, as narrativas costumavam circular de geração em geração através da
linguagem oral (MARTINS, 1995).
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3. VIVÊNCIAS SIGNIFICATIVAS COM A LITERATURA INFANTIL NA
ESCOLA
3.1 Leitura diária de contos de fadas e fábulas, criando situações de fantasia e
encantamento
Segundo Lajolo (2006, p.7) “ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida
que se vive. Se ler livros geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se
aprendem por aí, na chamada escola da vida [...]”. Podemos entender então, que as leituras
acontecem independente da aprendizagem escolar, ou seja, na interação com o mundo em
que se vive.
A crítica à leitura existente chama a atenção de autores de livros infantis pela
linguagem ríspida e de acusação da imprensa que, ao invés de servir de orientação aos
trabalhos literários, vai desestimulando as novas produções. O professor deve permitir que
também os alunos escolham suas leituras. Fora da escola, os leitores escolhem o que leem.
É preciso trabalhar o componente livre da leitura, caso contrário, ao sair da escola, os
livros ficarão para trás. (BRASIL, 1998; p. 17).
Os PCNs (1998) sugerem que o trabalho com a leitura seja diário. Conforme descrito nele,
há inúmeras possibilidades para que isso ocorra, tais como: Ler de forma silenciosa,
individualmente; Ler em voz alta (individualmente ou em grupo), quando fizer sentido
dentro da atividade; através da escuta de alguém que lê.
Na contação de história, o mundo representado pela criança não é totalmente o
mundo que ela vê, mas, simultaneamente, o mundo que ela fantasia. Vygotsky (1998)
concorda com o próprio Freud quando este compara a fantasia que a criança vivencia na
brincadeira fantasia vivenciada na arte. Vygotsky, na Psicologia da Arte, cita o que Freud
diz a esse respeito em “Escritores criativos e devaneios”, capítulo da sua obra Totem e
Tabu. Veja: Seria errado supor que a criança não leva esse mundo a sério; ao contrário,
leva muito a sério a sua brincadeira e nela dispende muita emoção (VYGOTSKY, 1998).
Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais Curriculares:
A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a
forma de viver, pensar e agir e o universo de valores, costumes e
comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares
que não são seu. (BRASIL, 1998, p. 143).
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Umberto Eco (ECO apud ZILBERMAN, 1998, p.242) relata que “[...] o texto
literário é um organismo preguiçoso, isto é, trabalha pouco para se construir, é econômico
nação, e delega ao leitor a tarefa de completá-lo.”. Nesse processo, ler é ampliar horizontes
e a literatura será melhor quanto mais provocar o leitor, e se tornar muito eficiente. Para
tanto, deve acontecer contendo por foco textos que estejam entrelaçados ao horizonte de
expectativas do sujeito.
O livro da criança que ainda não lê é a história contada. E ela é (ou pode
ser) ampliadora de referenciais, postura colocada, inquietude provocada,
emoções deflagradas, suspense a ser resolvido, torcida desenfreada,
saudades sentidas, lembranças ressuscitadas [...] as mil maravilhas mais
que uma boa história provoca [...] (desde que seja boa) (ABRAMOVICH,
2004, p. 24).
Para contar uma história, é necessário estar preparado, familiarizado com as
palavras, com a sonoridade das frases, dos nomes, com o acerto das rimas, enfim com todo
o jogo de palavras que o texto apresenta. De acordo com Teixeira (2015), a leitura de
história e de bons textos deve fazer parte da rotina diária dos alunos. O autor aponta dicas
de como o professor deve trabalhar, com base nas quais nós também elaboramos algumas
dicas:
Planejar a leitura – o texto deve ser bem escolhido e a leitura, estudada.
Repetir a leitura das mesmas histórias e deixar que completem os trechos.
Ler de diferentes formas cada texto.
Permitir interação durante ou após a leitura.
Pedir para reproduzirem a história lida.
Possibilitar o acesso a material de leitura significativo e interessante. Exemplo:
comentar os livros que leu e achou interessante, e pedir aos alunos que também
o façam.
Colocar o material de leitura ao alcance dos alunos.
Trabalhar com textos que possibilitem a memorização e a criação, organizar
coletâneas com eles e incentivá-los a contar a história sem lê-la.
Levar embalagens vazias, folhetos, catálogo etc. para a sala de aula.
Criar situações em que a leitura seja necessária.
Ler e escrever com finalidades reais.
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O professor deve estar em constante sintonia com as transformações do momento e
atualizar seus conhecimentos, sua consciência de mundo, como de literatura. Deve ser um
leitor atento à realidade social e saber o seu lugar dentro desse processo de transformação
por que vem passando a educação. Segundo Coelho (1986), em nenhum momento o
narrador deve interromper a história se for algo condizente com a narrativa, confirma-se
com algum gesto ou sorriso. Para Kleiman (1997), consideram o aprendiz- leitor e o autor
dos textos estudados como sujeitos sociais. A interação desses indivíduos advém não só
dos aspectos linguísticos tecidos no texto, mas também dos aspectos sociais e culturais
implícitos no mesmo.
É fundamentado em Piaget e Vygotsky que Zorzi (2002) acredita na importância
social da linguagem, visto que as crianças estão expostas à linguagem de forma a
compreenderem e interagir com o mundo. E mostra que há um paralelo entre as condutas
representativas e a evolução da linguagem. Ou seja, esta decorre do avanço na brincadeira
simbólica - da capacidade de representar, de evocar fatos e objetos ausentes.
3.2 Estimular a criatividade do aluno através do lúdico.
A educação para obter um ensino mais eficiente aperfeiçoou novas técnicas
didáticas consistindo numa prática inovadora e prazerosa. Como diz Rizzo (2001) “ […] A
atividade lúdica pode ser, portanto, um eficiente recurso aliado do educador, interessado no
desenvolvimento da inteligência de seus alunos, quando mobiliza sua ação intelectual.”
(RIZZO, 2001, p.40).
Segundo Vygotsky (1998) a antítese de brincadeira não é o que é sério, mas o que é
real. Apesar de toda a emoção com que a criança tem seu mundo de brinquedo, ela o
distingue perfeitamente da realidade, e gosta de ligar os seus objetivos e situações
imaginados às coisas visíveis e tangíveis do mundo real. O escritor criativo faz o mesmo
que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que ela leva muito a sério, isto é, no
qual investe uma grande quantidade de emoção, enquanto mantém uma separação nítida
entre esse mundo e a realidade (VYGOTSKY, 1998, p. 84).
A ludicidade na educação possibilita situações de aprendizagem que contribuem
para o desenvolvimento integral da criança, mas deve haver, segundo Vygotsky (1998)
uma dosagem entre a utilização do lúdico instrumental, isto é, a brincadeira com a
finalidade de atingir objetivos escolares, e também a forma de brincar espontaneamente,
envolvendo o prazer e o entretenimento, neste último, o lúdico essencial. Segundo
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Bettlheim (1980, p. 13) para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve
entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a
imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar clara suas emoções; estar
harmonizada com usas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades
e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam.
Segundo Khéde (1986) as origens dos contos de fadas são as mais diversas.
Proveniente de contos folclóricos europeus e orientais, há neles um interessante
cruzamento de princípios, entre os quais predominam os judaicos- cristãos e os da vertente
mística da antiguidade greco-latina. Os contos de fadas encantam, comovem e educam
indiretamente. Devem estar presentes nos trabalhos escolares, principalmente na Educação
Infantil.
Por meio da leitura de histórias, as crianças conseguem enfrentar os seus problemas
visto que nos livros as mensagens estão de maneiras simplificadas. Nas histórias as
crianças se identificam com os personagens, de acordo com Bettelheim (2004, p.16):
Devido a esta identificação a criança imagina que sofre como o herói suas
provas e tribulações, e triunfa com ele quando a virtude sai vitoriosa. A
criança faz tais identificações por conta própria, e as lutas interiores e
exteriores do herói imprimem moralidade sobre ela.
É por meio de atividades lúdicas as crianças manifestam, com evidência, uma
aprendizagem de habilidades, transformam sua agressividade em outras relações criativas,
crescem em imaginação e se socializam, melhorando o vocabulário e se tornando
independentes (DINELLO, 2004).
O desenvolvimento de atividades lúdicas, como o jogo, segundo Neto (2001), é de
vital importância para a criança, tornando-a um ser independente, capaz de se auto
expressar, realizando experiências e descobertas. Brougére,1998, reforça essa ideia citando
Erasmo e Baseadow:
O jogo não é senão uma forma, um continente necessário tendo em vista
os interesses espontâneos da criança; porém não tem valor pedagógico
em si mesmo. Tal valor está estritamente ligado ao que passa ou não pelo
jogo. Ao pedagogo cabe fornecer um conteúdo, dando-lhe a forma de um
jogo, ou selecionar entre os jogos disponíveis na cultura lúdica infantil
aqueles cujo conteúdo corresponde a objetivos pedagógicos identificáveis
(BROUGÉRE,1998).
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Para Vygotsky (1998), a forma que a criança se vê resulta do olhar dos pais, do
olhar das pessoas próximas, das pessoas com as quais ela se relaciona na escola e,
progressivamente, esse círculo vai aumentando. Quando conta-se histórias para crianças, o
principal vínculo entre quem conta e aquelas que ouvem é o som da palavra falada. O som
da palavra falada seria, então, o estímulo inicial percebido pelas crianças e, também, a
forma pela qual a literatura se apresenta a elas como objeto estético. Fazer do som das
palavras uma experiência estética requer que se tenha com elas uma relação diferente da
cotidiana. Requer trata-las como objeto estético, moldando-as com sensibilidade pela
entonação, pelas pausas e pelos gestos e olhares que acompanham a nossa fala.
Sabemos que o primeiro contato que a criança tem com a leitura é através da
audição, alguém está lendo para ela. É por meio dessa prática que a leitura vai se
apresentando para a criança (VILLARDI, 1999, p. 11).
Há que se desenvolver o gosto pela leitura, afim de que possamos formar
um leitor para toda vida”. Quando chega a escola, a criança encontrará
através da leitura, um mundo mágico, habitado por seres incríveis e que
chamam a atenção dela. “A leitura seria a ponte para o processo
educacional eficiente, proporcionando a formação integral do indivíduo.
(MARTINS, 1995, p.25).
Ler é essencial. Através da leitura, examinamos os nossos próprios valores e
conhecimentos com os dos outros. As histórias infantis são contos bem antigos e ainda
hoje podem ser consideradas verdadeiras obras de arte, lembrando sempre que seus
enredos falam de emoções comuns a todos nós, como: inveja, medo, ódio, ciúme, ambição,
rejeição e decepção, que só podem ser compreendidos e vivenciados pela criança através
das emoções e da fantasia.
Os professores devem saber selecionar entre os que circulam socialmente, aqueles
textos que podem atender às necessidades do educando, assim, os contos de fadas
trabalham como instrumentos para a descoberta desses sentimentos dentro da criança e
muitas vezes de adultos, pois são capazes de nos envolver em sua teia, de nos excitar a
mente e comover-nos com a sina de suas figuras.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino da leitura requer competência intelectual tanto do professor quanto do
aluno, Zilberman (1993), diz que a leitura tem como intuito transformar o indivíduo em
leitor/cidadão crítico para uma apropriação objetiva e, ao mesmo tempo, subjetiva dos
sentidos do texto lido. Porém, os estudantes precisam ficar atendo a leitura de modo geral e
não apenas o ensino de Literatura, dentro prática na sala de aula.
A literatura infantil possibilita que as crianças consigam desenvolver sua
criatividade no ato de ler e de escrever, a leitura racional acrescenta à sensorial e à
emocional o fato de estabelecer uma ponte entre o leitor e o conhecimento, a reflexão, a
reordenação do mundo objetivo, possibilitando-lhe, no ato de ler, dar sentido ao texto e
questionar tanto a individualidade como o universo das relações (MARTINS, 1995, p.66).
A literatura infantil é importante para o desenvolvimento das crianças durante os
anos iniciais, dentro da literatura infantil as crianças ler através de imagens e pequenos
contos, em alguns caso envolvendo a dramatização, a criatividade, a vida, através das
palavras. O desenvolvimento não precede o ensino, mas desabrocha numa contínua
interação contribuindo ao ensino, visto que as funções psicológicas nas quais se baseia a
língua escrita ainda estão começando a surgir no momento da escolarização (VYGOTSKY
apud Souza e Silva, 1998, p. 44).
Importante ressaltar que a mediação do docente é fundamental na tarefa do ensino
da leitura, uma vez que é preciso que aluno e professor entreguem-se ao texto, lembre-se
quem vai auxiliar o aluno nesta tarefa de leitura é o professor.
Chego ao final desse trabalho de conclusão de curso, como uma futura pedagoga,
com a certeza de que os objetivos dessa pesquisa foram alcançados. Durante a pesquisa
bibliográfica e a escrita deste artigo fica claro que o trabalho com a literatura infantil deve
proporcionar momentos de prazer a criança ampliando vocabulário e a organização de
pensamentos; Discutindo sobre o prazer pela leitura; Desenvolvendo a linguagem oral
através da escrita do educando; Estimulando a criatividade, e por fim, desenvolvendo o
gosto por histórias, contos, situações de faz de conta e estimulando a imaginação através
do lúdico relacionado a literatura infantil.
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