o desenvolvimento de um sistema multidimensional
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Denis ZamignaniTRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DENIS ROBERTO ZAMIGNANI
O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao
teraputica.
So Paulo
2007
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DENIS ROBERTO ZAMIGNANI
O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao
teraputica.
Tese de apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Doutor em Psicologia. rea de concentrao: Psicologia Clnica Orientadora: Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer
Trabalho parcialmente financiado pela FAPESP (processo 04/05840-8) Bolsista CAPES doutorado (maro de 2004 a fevereiro de 2005).
So Paulo
2007
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogao na publicao Servio de Biblioteca e Documentao
Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo
Zamignani, Denis Roberto.
O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao teraputica / Denis Roberto Zamignani; orientadora Sonia Beatriz Meyer. -- So Paulo, 2007.
289 p. Tese (Doutorado Programa de Ps-Graduao em Psicologia.
rea de Concentrao: Psicologia Clnica) Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo.
1. Classificao (processos cognitivos) 2. Processos
psicoterapeuticos 3. Psicoterapia estudo e ensino 4. Analise do comportamento I. Ttulo.
RC480.8
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FOLHA DE APROVAO
Denis Roberto Zamignani
O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao teraputica
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Psicologia.
rea de concentrao: Psicologia Clnica
Orientadora: Sonia Beatriz Meyer
Aprovada em: _____/_____/_____
Banca Examinadora
Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer ____________________________________________
Universidade de So Paulo
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DEDICATRIA
Dedico este trabalho aos meus pais Alcebades e Helena, a quem agradeo pela vida, pelo cuidado, pelo carinho e pelo apoio em momentos to importantes nesses ltimos anos.
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AGRADECIMENTOS
minha querida orientadora Sonia Beatriz Meyer, que abraou este projeto com entusiasmo e dedicao. Pelas sacadas brilhantes que me ensinaram tanto. Pela pacincia frente ao meu ritmo sempre acelerado e atabalhoado. Pela orientao cuidadosa, conduzida com enorme carinho.
Ao Beto, nos mltiplos papis que exerce em minha vida: amigo, scio, parceiro de pesquisas, companheiro, modelo, referncia, conselheiro, amparo. Pelo socorro a meus pedidos de ajuda nas horas mais imprprias, pela tolerncia ao meu mau humor, pela compreenso e apoio.
Ao Srgio Luna, por sua grande disponibilidade e apoio ao longo de todo este trabalho, pela amizade e carinho.
Emma Otta, que se mostrou uma pessoa incrvel, com sua simpatia, interesse e prontido a contribuir com seu conhecimento e experincia.
Maria Amlia, pela convivncia deliciosa em meu mestrado, que se estendeu ao doutorado com suas contribuies e seu cuidado maternal.
Rejane, pela ajuda inestimvel com sua disponibilidade para ajudar de forma responsvel, minuciosa e dedicada.
Giovana, que mostrou-se uma excelente parceira de pesquisa. Pelo cuidado e carinho com que me ajudou em cada etapa deste trabalho.
Marina que, alm da companhia adorvel, me ajudou em muitas tarefas insanas ao longo deste projeto.
Fernanda, que amavelmente dedicou muitas horas ao trabalho de categorizao.
Ju Donadone, pela prontido a ajudar, dedicando horas preciosas de sua rotina apressada.
Aos atores Yara, Carla, Rafaela, Roberto e Joana que, graciosamente, cederam seu tempo, seu talento e sua imagem para o desenvolvimento do treino de observadores.
Aos amigos dos grupos de pesquisa, de superviso e da disciplina de anlise da interao teraputica da USP - Esther, Fernanda, Cludia, Rejane, rika, Chris, Giovana, Juliana, Alessandra, Priscila, Roosevelt, Dbora, Fabola, Stanly, Ana Lcia, Patrcia, Oliver, Rodrigo, Lucirley - que, com suas sugestes e sua anlise aguada, ajudaram a aperfeioar este projeto.
Aos participantes Terapeuta e Cliente que permitiram a realizao deste trabalho
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iii
Clara Hill, que, de maneira simptica, disponibilizou seu sistema de categorias.
Ao Andr Jonas, parceiro de docncia na So Judas, pela amizade, pelo apoio e por sua grande contribuio no aperfeioamento deste trabalho, dispondo-se a utiliz-lo com seus alunos de TCC.
Ao Joo Ilo, por seu interesse e pelas trocas que me ajudaram a pensar muito do que compe este trabalho.
Aos colegas Andra, Arlete, Mateus, Renata, Gisele, Juliana, Aline, Camila, Fernanda, Monalisa, Sandra e Thais, Moema, Giovana, que aceitaram o desafio de adotar o sistema de categorias em seus trabalhos.
Aos amigos do PROCOOP, da ABPMC e da ANPEPP, que contriburam com anlises e sugestes no desenvolvimento deste trabalho.
Miriam Marinotti que, com suas aulas instigantes, despertou meu interesse pelo estudo metodolgico.
Ao Cndido, pela dica preciosa e disponibilidade em ensinar na elaborao dos grficos de fluxo comportamental.
CarlaWitter, pela compreenso e apoio nas etapas finais deste trabalho.
Ao Srgio e ao Z Luis, pelo gentil acolhimento, cedendo sua casa para meu retiro.
Joana, que tornou mais leve o dia-a-dia estressante dos ltimos anos, por seu apoio
incondicional, por sua amizade e carinho e pelas deliciosas e enriquecedoras parcerias.
Roberta, que se revelou uma grande amiga, pela convivncia adorvel, pela amizade e apoio, pelo companheirismo em nossas empreitadas paradigmticas.
Mrcia que, h anos, tem sido meu porto seguro, onde eu sei que, quando preciso, posso buscar abrigo e acolhimento.
Picky, por sua disponibilidade e pelas conversas deliciosas e instigantes no grupo de estudos.
Aos colegas, professores e alunos do Paradigma e da So Judas, por sua tolerncia com minha pouca disponibilidade nos ltimos anos.
Ao Gilberto, Vanusia e a todos do CPA por sua torcida pelo sucesso desta empreitada.
Aos amigos Joo, Elza, Carlo, Marcelo, Paulo, Beto, Regina, e muitos outros que tornam a vida mais divertida e afetuosa.
Famlia Banaco, pelo carinho e torcida em todos esses anos.
Fapesp e Capes, pelo apoio financeiro para a elaborao deste trabalho.
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iv
As coisas tm
Peso, massa, volume
Tamanho, tempo
Forma, cor
Posio,
Textura, durao
Densidade,
Cheiro, valor
Consistncia
Profundidade, contorno
Temperatura, funo
Aparncia, preo, destino,
Idade, sentido
As coisas no tm paz
(As Coisas
Gilberto Gil / Arnaldo Antunes)
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v
RESUMO
Zamignani, D. R. (2007). O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorizao de comportamentos na interao terapeuta-cliente. Tese de doutorado. Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo.
A interao teraputica tem sido compreendida como um dos principais fatores de mudana na psicoterapia, e sua investigao denominada pesquisa de processo, contando para isso, com o registro de sesses em udio e/ou vdeo para a categorizao de comportamentos e posterior anlise de padres de interao. O trabalho teve como objetivos o desenvolvimento de um sistema multidimensional de categorizao de comportamentos do terapeuta e do cliente para o estudo da interao teraputica, a verificao da concordncia entre observadores ao usar o sistema e a produo de evidncias quanto sua aplicabilidade e validade. A pesquisa foi composta por trs estudos: o Estudo 1 consistiu em uma avaliao sistemtica da literatura referente classificao de comportamentos verbais vocais. Constatou-se que os sistemas de categorias j existentes no so satisfatrios para o estudo da terapia analtico-comportamental, havendo a necessidade da construo de um novo sistema. No Estudo 2 foi desenvolvido o Sistema Multidimensional de Categorizao de Comportamentos na Interao Teraputica, composto por trs eixos de categorizao e quatro qualificadores. O Eixo I foi o de comportamento verbal, contendo 15 categorias para as verbalizaes do terapeuta e 13 para as do cliente e tendo como qualificadores o tom emocional (com seis categorias) e gestos ilustrativos (com duas categorias); O Eixo II analisa os temas abordados tendo 16 categorias e seus qualificadores so o tempo no qual o assunto tratado (com cinco categorias) e conduo do tema na sesso (com cinco categorias); O Eixo III o das respostas motoras contendo cinco categorias. Foi ainda elaborado um treino padronizado para observadores. Sua aplicao a um participante produziu o satisfatrio ndice de concordncia Kappa de 0.73 a 0.84 nas categorias do terapeuta e o insatisfatrio ndice de -0,09 a 0,36 nas categorias do cliente, requerendo ajuste no treino e nas categorias do cliente. O Estudo 3 consistiu na anlise de trs sesses de terapia analtico-comportamental, uma inicial, outra intermediria e uma final, que evidenciou a aplicabilidade do sistema de categorizao ao estudo da terapia analtico-comportamental ao permitir a identificao de regularidades no comportamento dos participantes.
PALAVRAS-CHAVE: Categorizao de Comportamentos; Interao Teraputica; Terapia Analtico-Comportamental
Rodrigo MadeiraHighlight
Rodrigo MadeiraHighlight
Rodrigo MadeiraHighlight
Rodrigo MadeiraHighlight
Rodrigo MadeiraHighlight
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vi
ABSTRACT
Zamignani, D. R. (2007). Development of a multidimensional system for coding behaviors in therapist-client interaction. Doctoral thesis. Psychology Institute, University of So Paulo, So Paulo, 2007.
Therapeutic interaction has been considered as one of the main factors of change in psychotherapy, and its investigation is called process research. It uses sessions audio and/or video recording to code behaviors which, subsequently, permits the analysis of patterns of interactions. The objectives of the study were the development of a multidimensional coding system of therapist and client behavior to study therapeutic interaction, verification of agreement between observers in the use of the coding system and the production of evidences regarding its applicability and validity. Research was composed by three studies: Study 1 consisted in a systematic evaluation of literature referring to behavior classification in its vocal dimension. The already existing coding systems were not satisfactory for studying behavior-analytic therapy, showing the need for construction of a new one. In Study 2, the Multidimensional System for Coding Behavior in Therapeutic Interaction was developed. It was formed by three coding axes and four qualifiers: Axe I contained 15 therapist and 13 client verbal behavior having as qualifiers the emotional tone (with six categories) and illustrative gestures (with two categories); Axe II analyses the theme of the interaction, having 16 categories and as qualifiers the time in which the subject is treated (with five categories) and the conduction of the theme during the session, with five categories; Axe III is of the motor responses containing five categories. A standardized training for observers was also developed. Its application to one participant produced a satisfactory Kappa index of agreement ranging from 0.73 to 0.84 in therapist categories, and an unsatisfactory one, ranging from -0.09 to 0.36 in client categories, requiring adjustment in clients training and categories. Study 3 consisted in the analysis of three behavior-analytic therapy sessions, an initial, an intermediate and a final session that made evident the applicability of the categorization system to the study of behavior-analytic therapy as it succeeded in the identification of regularities in the three sessions.
KEY WORDS: Categorization of Behaviors; Therapeutic Interaction; Behavior-Analytic Therapy.
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vii
Sumrio Introduo 1 Estudos sobre a relao teraputica desenvolvidos no Brasil por analistas do comportamento
3
A psicoterapia como um processo de interao social 7 Critrios para a sistematizao de eventos em torno de categorias comportamentais
9
A classificao da interao em torno de categorias temticas 11 Comportamentos verbais no-vocais e respostas motoras 13 Critrios formais e funcionais para a definio da unidade de ocorrncia em uma interao social
18
A delimitao da unidade de registro no estudo de interaes sociais 25 A questo da medida e suas implicaes 27 A categorizao de comportamentos referentes a respostas no-vocais 30 Fidedignidade e validade de um sistema de categorizao 34 Preciso na definio das categorias 41 Questes relativas sistematizao e anlise dos dados 44 Elementos necessrios em um sistema de categorizao do comportamento 49 Objetivos
49
Estudo 1. Identificao de eventos relevantes da interao teraputica a partir da avaliao sistemtica da literatura sobre categorizao de comportamentos.
51
Estudo 1. Mtodo 51 Procedimento 51 1. Busca de literatura referente categorizao do comportamento verbal ou no verbal humano.
51
2. Anlise dos sistemas de categorizao selecionados na literatura a partir de critrios de incluso
52
3. Sistematizao de categorias de comportamentos do terapeuta encontradas na literatura
53
Estudo 1. Resultados 55 1.1. Anlise dos sistemas de categorizao do comportamento verbal vocal do terapeuta selecionados na literatura
55
1.2. Sistematizao de categorias de comportamentos do terapeuta encontradas na literatura
60
87
Rodrigo MadeiraHighlight
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viii
1.3. Anlise dos sistemas de categorizao do comportamento verbal vocal do cliente selecionados na literatura 1.4. Sistematizao de categorias de comportamentos do cliente encontradas na literatura
91
Estudo 2. Desenvolvimento e avaliao de concordncia de um Sistema multidimensional de categorizao de comportamentos da interao teraputica.
106
Estudo 2 - Mtodo 106 Participantes 106 Aspectos ticos 107 Material e equipamento 107 Procedimento de coleta de dados 108 Procedimento para elaborao do sistema de categorias 109 Estudo 2. Resultados 120 Verso final do Sistema multidimensional de categorizao de comportamentos da interao teraputica
120
Apresentao da verso final do Sistema multidimensional de categorizao de comportamentos da interao teraputica
124
Eixo I. Categorias referentes ao comportamento verbal vocal e no vocal do terapeuta e do cliente
124
Eixo I-1. Categorizao do comportamento verbal vocal do terapeuta. 125
Eixo I-2. Categorizao do comportamento verbal no vocal do terapeuta. 151
Eixo I-3. Categorizao do comportamento verbal vocal do cliente. 155
Eixo I-4. Categorizao do comportamento verbal no vocal do cliente. 171
Eixo I-5. Categorizao do Qualificador 1: Tom Emocional 174
Eixo I-6. Categorizao do Qualificador 2: Gestos Ilustrativos 177
Eixo II. Categorias referentes ao tema da sesso. 178
Eixo II-1. Categorizao do tema da sesso. 178
Eixo II. -2. Categorizao do Qualificador 1: Tempo no qual o assunto tratado.
184
Eixo II-3. Categorizao do Qualificador 2: Conduo do tema da sesso. 186
Eixo III. Categorias de registro de respostas motoras do terapeuta e do cliente 187
O desenvolvimento de um treino sistemtico para observadores 189
Estudo aprofundado sobre as categorias de comportamentos do cliente 195
204
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ix
Estudo 3. Aplicao do Sistema multidimensional de categorizao de comportamentos na interao teraputica em um conjunto de sesses de terapia analtico-comportamental. Estudo 3. Mtodo 204 Participantes 204 Material e equipamentos 204 Procedimento de coleta de dados 205 Procedimento de anlise de dados 206 Estudo 3. Resultados Sistematizao dos dados referentes ao Eixo I-1: Comportamento verbal dos participantes, e ao Eixo III: Respostas motoras.
207
Sistematizao dos dados referentes sesso 2 209 Sistematizao dos dados referentes sesso 11 215 Sistematizao dos dados referentes sesso 17 220 Sobre o Qualificador Gestos Ilustrativos do Eixo I 224 Comparao entre as sesses 225 Consideraes a respeito do Estudo 3 228 Discusso
230
Alguns dos pressupostos assumidos ao longo do presente trabalho 230 Construo e validao de um sistema de categorizao 237 Etapas da terapia e as categorias de comportamento do terapeuta e cliente: Um exerccio de descrio do processo teraputico analtico-comportamental
245
Concluso 273 Referncias 275
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x
Lista de Figuras
Figura 1. Esquema representativo do ambiente de coleta de dados, com a identificao do posicionamento das cmeras.
108
Figura 2. Exemplo de tela de treino no qual apresentado um segmento de definio da categoria SOLICITAO DE RELATO do terapeuta.
190
Figura 3. Exemplo de tela de treino, na qual apresentada uma atividade de identificao da categoria SOLICITAO DE RELATO do terapeuta.
191
Figura 4. Exemplo de tela de treino no qual apresentada uma atividade de identificao da categoria SOLICITAO DE RELATO do terapeuta a partir de trechos fictcios de sesso teraputica, gravados em vdeo.
192
Figura 5. Exemplo de tela referente aos exerccios finais do treino do terapeuta.
193
Figura 6. Exemplo de tela referente aos exerccios finais do treino do terapeuta.
193
Figura 7. Distribuio das categorias de respostas verbais da cliente de acordo com cada um dos observadores, em 30 minutos da sesso 17.
197
Figura 8. Distribuio das categorias de respostas verbais da cliente pelo Observador 1, em 30 minutos da sesso 17.
199
Figura 9. Soma das categorias do Eixo I: Respostas verbais do terapeuta e do cliente (incluindo respostas verbais vocais e gestos comunicativos) em ocorrncias e durao (segundos), em cada uma das trs sesses e no total das trs sesses analisadas.
208
Figura 10. Durao mdia das respostas verbais do terapeuta e da cliente (incluindo respostas verbais vocais e gestos comunicativos) em cada uma das trs sesses e no total das trs sesses analisadas.
209
Figura 11. Percentual de ocorrncia e de tempo ocupado por cada categoria de comportamento verbal do terapeuta e da cliente na sesso 2, com relao ao total de verbalizaes do prprio participante.
209
Figura 12. Distribuio das categorias mais freqentes do terapeuta e da cliente ao longo da sesso 2, em freqncia acumulada de tempo de ocorrncia (segundos).
212
Figura 13: Probabilidade de transio de categorias de respostas verbais do terapeuta (EMPATIA; INTERPRETAO; SOLICITAO DE REFLEXO; SOLICITAO DE RELATO) para categorias do cliente (RELATA; ESTABELECE RELAES e CONCORDA), com um intervalo de at 4 segundos, na sesso 2.
213
Figura 14. Percentual de ocorrncia e de tempo ocupado por cada categoria de comportamento verbal do terapeuta e da cliente na sesso 11, em relao ao total de verbalizaes do prprio participante.
215
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xi
Figura 15. Distribuio das categorias mais freqentes do terapeuta e da cliente ao longo da sesso 11, em freqncia acumulada de tempo de ocorrncia (segundos). As barras coloridas abaixo do eixo horizontal representam a distribuio no tempo do Eixo III - Respostas motoras de T e C e do qualificador do Eixo I - Tom emocional da interao.
217
Figura 16. Probabilidade de transio de categorias de respostas verbais do terapeuta (APROVAO, EMPATIA; INFORMAO, INTERPRETAO; RECOMENDAO, REPROVAO, SOLICITAO DE REFLEXO e SOLICITAO DE RELATO) para cada uma das respostas verbais do cliente selecionadas (RELATA; ESTABELECE RELAES, CONCORDA e OPOSIO), com um intervalo de at 4 segundos, na sesso 11.
219
Figura 17. Percentual de ocorrncia e de tempo ocupado por cada categoria de comportamento verbal do terapeuta e do cliente na sesso 17, com relao ao total de verbalizaes do prprio participante.
220
Figura 18. Distribuio das categorias mais freqentes do terapeuta e da cliente ao longo da sesso 17, em freqncia acumulada de tempo de ocorrncia (segundos). As barras coloridas abaixo do eixo horizontal representam a distribuio no tempo do Eixo III - Respostas motoras de T e C e do qualificador do Eixo I - Tom emocional da interao.
222
Figura 19: Probabilidade de transio de categorias de respostas verbais do terapeuta (APROVAO, EMPATIA; INFORMAO, INTERPRETAO; RECOMENDAO, REPROVAO, SOLICITAO DE REFLEXO e SOLICITAO DE RELATO) para cada uma das respostas verbais do cliente selecionadas (RELATA; ESTABELECE RELAES, CONCORDA e OPOSIO), com um intervalo de at 4 segundos, na sesso 17.
223
Figura 20: Ocorrncia e durao do Qualificador Gestos Ilustrativos em cada uma das categorias no conjunto de sesses.
224
Figura 21. Durao e freqncia de cada uma das categorias de terapeuta e cliente nas trs sesses analisadas.
226
Figura 22. Representao esquemtica das Etapas da Avaliao Comportamental (adaptado de Follette, Naugle & Linnerooth, 1999)
252
Figura 23. Esquema representando o paradigma do comportamento operante, no qual OE uma operao estabelecedora, SD um estmulo discriminativo, o smbolo representa uma funo probabilstica na qual, dadas determinadas circunstncias, h uma probabilidade de que uma resposta seja emitida; R a resposta, a seta direita indica uma relao de contingncia entre resposta e conseqncia e SR o estmulo produzido pela resposta que, ao retroagir sobre o organismo, altera a probabilidade de que respostas da mesma classe venham a ser emitidas (Follette et al. 1999).
261
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xii
Lista de Tabelas Tabela 1. Avaliao dos sete sistemas de categorizao selecionados, segundo os critrios de incluso definidos no procedimento deste estudo.
58
Tabela 2. Sistematizao das categorias de comportamento do terapeuta a partir dos sistemas de Chamberlain e Ray (1988), Ford (1978), Fiorini (1995), Hill (1978), Margotto (1998), Meyer e Vermes (2001), Schindler et al. (1989), Stiles (1992), Tourinho et al. (2003) e Zamignani (2001).
62
Tabela 3. Critrios de seleo dos sistemas de categorizao do comportamento verbal vocal do cliente.
89
Tabela 4. Sistematizao das categorias de comportamento do cliente a partir dos sistemas de Chamberlain e Ray (1988), Hill et al. (1992), Margotto (1998), Schindler et al. (1989) e Zamignani (2001).
91
Tabela 5. Valores obtidos no clculo de concordncia entre o pesquisador e o Observador 1, referentes s categorias verbais e qualificadores, na sesso 11.
113
Tabela 6. Valores obtidos no clculo de concordncia entre o pesquisador e o Observador 1 referente s categorias verbais e qualificadores, na sesso 17
114
Tabela 7. Percentagem de coincidncia entre as funes propostas pelascategorias pr-definidas do sistema preliminar de Zamignani (2006, versopreliminar) e as categorias definidas pela terapeuta-pesquisadora a partir daanlise das sesses, no trabalho de Del Prette (2006).
117
Tabela 8. Esquema bsico de palavras emocionais (adaptado de Shaver et al., 1987 readaptado por Brando, 2003).
182
Tabela 9. Valores obtidos no clculo de concordncia entre o Observador 2 e o pesquisador referente s categorias de Respostas Verbais e Qualificadores, na categorizao final de 30 minutos da sesso 17.
195
Tabela 10. Matriz de concordncia (em segundos) entre a categorizao de pesquisador (linhas) e o Observador 2 (colunas), referente a cada categoria de respostas verbais da cliente, em 30 minutos da sesso 17.
196
Tabela 11. Valores obtidos no clculo de concordncia entre o pesquisador e o Observador 1, referente s categorias de respostas verbais e qualificadores da cliente, na categorizao de 30 minutos da sesso 17.
198
Tabela 12. Matriz de concordncia (em segundos) entre a categorizao de Pesquisador (linhas) e o Observador 1 (colunas) referente a cada categoria de respostas verbais da cliente, na sesso 17.
199
Tabela 13. Matriz de concordncia (em segundos) entre a categorizao do pesquisador (linhas) e o Observador 2 (colunas) referente a cada categoria do qualificador Tom emocional, em 30 minutos da sesso 17.
200
Tabela 14. Matriz de concordncia (em segundos) entre a categorizao do pesquisador (linhas) e o Observador 2 referente a cada categoria do Qualificador Gestos Ilustrativos, em 30 minutos da sesso 17.
201
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xiii
Lista de Anexos
1. Termos de consentimento de terapeuta e cliente para pesquisa
2. Termo de Compromisso e Responsabilidade
3. Adendo s categorias verbais do terapeuta e do cliente
-
1
A qualidade da interao teraputica reconhecidamente importante para a
obteno de bons resultados na psicoterapia. Em vista disso, os mais diversos aspectos
dessa interao tm sido investigados (Follette, Naugle & Callaghan, 1996; Meyer &
Vermes, 2001), em busca de identificar variveis gerais e especficas que possam
produzir resultados mais ou menos favorveis.
Parte das pesquisas relativas a esse tema tem como objetivo investigar
caractersticas do terapeuta e do cliente e a possvel influncia destas nos resultados do
tratamento (por exemplo, Abramowitz, Abramowitz, Roback & Jackson, 1974; Billings
& Moos, 1984; Kolb, Beutler, Davis, Crago & Shanfield, 1985; Miller, Benefield &
Tonigan, 1993; Pope & Tabachnick, 1993; Quintana & Holahan, 1992; Schaffer, 1982;
Schaffer, 1983; Talley, Strupp & Morey, 1990). Outros estudos buscam relacionar
variveis da relao terapeuta-cliente, ou as tcnicas utilizadas pelo terapeuta, com a
predio de resultados e/ou do engajamento do cliente no processo teraputico (por
exemplo, Delitti, 2002; Ford, 1978; Monteiro, 2000; Morgan, Luborsky & Crits-
Christoph, 1982; Nichols, 1974; Tryon, 1990).
Estas podem ser consideradas caractersticas gerais do processo teraputico, e o
estudo das mesmas tem fornecido informaes sobre o papel de variveis relevantes da
interao teraputica. Entretanto, muitas vezes os mtodos utilizados no permitem
identificar aspectos especficos do processo teraputico por meio do qual ocorrem as
mudanas. Uma caracterstica freqente nas linhas de pesquisa anteriormente citadas a
obteno de dados por meio da comparao entre grupos, ou mesmo a avaliao dos
resultados a partir de um conjunto de procedimentos, sem uma anlise momento a
momento do processo, o que no permite a identificao dos fatores responsveis pelos
resultados em cada interao teraputica estudada.
-
2
Em busca de identificar e avaliar os aspectos especficos da relao teraputica,
pesquisadores de diferentes abordagens tericas e de diferentes reas do conhecimento
tm desenvolvido estratgias metodolgicas para a caracterizao da interao em
sesso teraputica, por meio da observao direta de sesses gravadas em udio e/ou
vdeo e categorizao dos comportamentos observados. Em tais pesquisas, denominadas
pesquisas de processo (Greenberg & Pinsof, 1986; Russel & Trull, 1986), o dado
principal o que ocorre dentro do processo teraputico, mais especificamente na
interao (verbal e no-verbal) entre terapeuta e cliente e o objetivo identificar os
processos de mudana ao longo dessa interao.
Considera-se que um estudo diz respeito a processo se ele oferece (a) uma
descrio molecular ou uma especificao das aes ou operaes que esto sendo
estudadas; (b) uma descrio molecular e molar das relaes seqenciais entre essas
operaes ou unidades e (c) as indicaes de objetivos ou metas em direo aos quais o
processo se dirige (Russel & Trull, 1986).
O estudo de mecanismos envolvidos no tratamento, de acordo com Kazdin e
Nock (2003), provavelmente o melhor investimento, de curto ou longo prazo, para
melhorar a prtica clnica e o cuidado ao cliente. Estes autores afirmam que, entender
como e por que o tratamento funciona, pode proporcionar a maximizao de seus efeitos
e assegurar que seus aspectos crticos sejam generalizados para a prtica clnica (p.
1117).
A partir das concluses de Kazdin e Nock (2003) a respeito da importncia de
se investigar os porqus da efetividade dos tratamentos, a seguir, apresenta-se agora um
panorama dos estudos brasileiros sobre relao teraputica analtico-comportamental.
-
3
Estudos sobre a relao teraputica desenvolvidos no Brasil por analistas do
comportamento.
A sesso teraputica e a superviso clnica tm sido estudadas por analistas do
comportamento no Brasil para a investigao de diferentes queixas clnicas.
Comumente, estes estudos so realizados a partir do registro em udio e/ou vdeo do
comportamento verbal vocal1 do terapeuta, cliente ou supervisor.
J em 1989, Wielenska estudou o processo de superviso clnica por meio da
anlise de cadeias de verbalizaes de uma terapeuta ao longo do processo de
superviso. O estudo envolveu entrevistas sucessivas, registradas em udio e ento
analisadas e reapresentadas terapeuta, de modo que ela fornecesse informaes sobre
seu prprio atendimento. A anlise realizada pela pesquisadora, que era tambm a
supervisora, permitiu identificar caractersticas importantes da interao da terapeuta
com seu cliente.
Kovac (1995) e Zamignani (1995) utilizaram parcialmente o mtodo de coleta de
dados proposto por Wielenska (1989) para estudar variveis encobertas que
possivelmente controlariam o comportamento do terapeuta na sesso. Para tanto,
partiram de sesses gravadas em udio e vdeo e transcritas. Entrevistaram, ento, o
terapeuta a respeito de seus sentimentos e pensamentos, enquanto este assistia s
sesses em vdeo. Suas verbalizaes foram categorizadas de acordo com o tipo de
evento relatado como determinante de seu comportamento na sesso.
Outro estudo, envolvendo a gravao das sesses em vdeo e sua posterior
transcrio, foi realizado por Margotto (1998) com objetivo de detectar mudanas no
curso da sesso teraputica. A partir das gravaes, a autora desenvolveu um sistema de
1 O termo comportamento verbal vocal utilizado por Skinner (1957/1992) para diferenciar este tipo de comportamento verbal de outras classes de comportamento que tambm podem ser caracterizados como comportamento verbal. No presente trabalho, em algumas passagens, o termo genrico comportamento verbal ser utilizado como equivalente a comportamento verbal vocal, o mesmo valendo para o termo verbalizaes.
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categorias para a caracterizao do comportamento do terapeuta e do cliente e analisou,
a partir dos dados categorizados, padres seqenciais de interao na sesso teraputica.
Adaptaes do sistema de categorizao proposto por Margotto (1998) ou o
desenvolvimento de novas categorias, a partir da gravao e transcrio de sesses em
vdeo, foram realizadas em diversas outras pesquisas brasileiras com vistas a identificar
diferentes aspectos da sesso teraputica ou de superviso (por exemplo, Almsy, 2004;
Baptistussi, 2001; Barbosa, 2001; Brando, 2003; Donadone, 2004; Garcia, 2001;
Maciel, 2004; Martins, 1999; Meyer & Donadone, 2002; Moreira, 2001; Nardi, 2004;
Novaki, 2003; Oliveira, 2002; Silva, 2001; Tourinho, Garcia & Souza, 2003; Vermes,
2000; Yano, 2003; Zamignani & Andery, 2005).
Os resultados obtidos com os trabalhos j finalizados lanam luz sobre questes
tericas e tcnicas importantes para o entendimento do processo teraputico. Dentre as
variveis da sesso teraputica estudadas, destacam-se a teoria, as regras de atendimento
e a experincia clnica como fatores determinantes da tomada de deciso do terapeuta
(Donadone, 2004; Kovac, 1995; Margotto, 1998; Moreira, 2001; Oliveira, 2002;
Vermes, 2000; Wielenska, 1989; Zamignani, 1995; Zamignani & Andery, 2005); o
processo de estabelecimento de relaes causais por parte do terapeuta sobre o
comportamento do cliente como um dos focos da terapia (Margotto, 1998; Oliveira,
2002; Vermes, 2000; Zamignani, 1995; Zamignani & Andery, 2005); funes dos
eventos privados no desenvolvimento da terapia comportamental e os efeitos de
diferentes tipos de interveno sobre falas referentes a estes eventos (Almsy, 2004;
Azevedo, 2001; Barbosa, 2006; Brando, 2003; Kovac, 1995; Maciel, 2004; Martins,
1999; Silva, 2001; Zamignani, 1995); a identificao de efeitos de procedimentos
reforadores ou aversivos sobre o comportamento do cliente na sesso (Almsy, 2004;
Baptistussi, 2001; Garcia, 2001; Silva, 2001); a caracterizao de estilos de atendimento
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utilizados por terapeutas analtico-comportamentais (Zamignani, 2001); a identificao
de variveis envolvidas na superviso clnica de base analtico-comportamental e o
desenvolvimento de instrumentos para a superviso (Ireno, 2007; Moreira, 2001; Pinto,
2007; Ulian, 2007; Wielenska, 1989); a identificao de variveis responsveis pelo uso
de orientaes e interpretaes por terapeutas comportamentais e a relao destas com a
experincia clnica do terapeuta (Donadone, 2004; Oliveira, 2002; Zamignani, 2001); o
uso da Psicoterapia Analtico-Comportamental para lidar com problemas de
relacionamento interpessoal (Taccola, 2004).
Alguns dos trabalhos realizados no Brasil permitiram tambm a identificao de
variveis relacionadas a problemas especficos do cliente e o manejo destas na sesso
teraputica. Destacam-se o estudo de possveis variveis de controle ambientais e
verbais sobre respostas de ansiedade (Maciel, 2004); a comparao entre estratgias
padronizadas e individualizadas para o tratamento do transtorno do pnico (Yano,
2003); a caracterizao do atendimento de clientes com o diagnstico de transtorno
obsessivo-compulsivo por analistas do comportamento (Zamignani & Andery, 2005); o
desenvolvimento de assertividade e habilidades sociais (Souza Filho, 2001) e o estudo
de suas possveis funes no controle de peso em adolescentes (Barbosa, 2001). Outros
trabalhos estudaram, ainda, aspectos metodolgicos relacionados ao uso de categorias
para o registro de eventos na sesso teraputica (Azevedo, 2001; Chequer, 2002; Del
Prette, 2006; Kovac, 2001; Nardi, 2004; Souza Filho, 2001).
Com relao aos mtodos utilizados nas diferentes pesquisas realizadas no
Brasil, alguns aspectos podem ser destacados. Sero apresentadas e discutidas, aqui,
algumas pesquisas com diferentes delineamentos de estudo e tratamentos de dados.
Quanto aos delineamentos das pesquisas, a grande maioria dos trabalhos at
ento desenvolvidos tem um carter exploratrio (por exemplo, Barbosa, 2001; Garcia,
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2001; Margotto, 1998; Martins, 1999; Oliveira, 2002; Wielenska, 1989; Baptistussi,
2001; Vermes, 2000; Yano, 2003; Zamignani, 1995). Pesquisas de carter
metodolgico, visando aprimorar os mtodos para a categorizao de eventos, foram
desenvolvidas por Chequer (2002), Del Prette (2006), Kovac (1995) e Nardi (2004). Em
outros trabalhos, foi analisada a correlao entre dados obtidos por meio de escalas,
entrevistas e/ou inventrios e aqueles obtidos por meio de observao direta
(Baptistussi, 2001; Barbosa, 2001; Kovac, 1995; Vermes, 2000; Yano, 2003;
Zamignani, 1995). H ainda trabalhos nos quais algumas variveis da interao
teraputica foram manipuladas em estudos experimentais ou quase-experimentais
(Almsy, 2004; Pinto, 2007, Silva, 2001, Tacolla, 2004).
Com relao s estratgias para a organizao das informaes coletadas, alguns
trabalhos utilizam os operantes verbais de Skinner para inferir provveis relaes
funcionais envolvidas em verbalizaes do cliente (Kovac, 2001; Nardi, 2004), ao passo
que outros utilizam diferentes sistemas de categorizao, ora partindo de uma
categorizao inicial de seqncias de interao para posterior anlise (Barbosa, 2006;
Brando, 2003; Tacolla, 2004), ora inicialmente categorizando verbalizaes
individuais, para posterior anlise de seqncias, buscando-se identificar relaes
funcionais sobre comportamentos do terapeuta, do cliente ou do supervisor (Almsy,
2004; Garcia, 2001; Margotto, 1998; Martins, 1999; Silva, 2001; Wielenska, 1989;
Zamignani & Andery, 2005).
Os dados obtidos a partir da categorizao ou da identificao de classes
funcionais foram tratados de diferentes maneiras. Alguns trabalhos correlacionaram a
categorizao dos comportamentos do terapeuta com outras variveis, tais como o tema
abordado na sesso ou as justificativas dadas pelo terapeuta para suas intervenes
(Baptistussi, 2001; Barbosa, 2001; Garcia, 2001; Kovac, 1995; Margotto, 1998;
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Martins, 1999; Oliveira, 2002; Vermes, 2000; Yano, 2003; Zamignani, 1995). Em
outros, a identificao de relaes comportamentais foi feita por meio de um sistema de
notao, no qual as categorias de comportamento eram distribudas em seqncia,
conforme ocorreram na sesso teraputica, juntamente com informaes sobre
mudanas de tema ou outras observaes do pesquisador (Garcia, 2001). A estratgia de
construo de grficos de freqncia acumulada de verbalizaes (do terapeuta e
cliente) foi utilizada por Baptistussi (2001) e Zamignani (2001). Alguns trabalhos ainda
combinaram diferentes mtodos quantitativos e qualitativos de anlise de verbalizaes
para a caracterizao da sesso teraputica (Barbosa, 2001; Maciel, 2004; Zamignani &
Andery, 2005), ou analisaram estatisticamente a correlao entre variveis observadas
da sesso teraputica e resultados alcanados com os procedimentos clnicos (Barbosa,
2001, Donadone, 2004, Ulian, 2007).
Cada uma dessas estratgias metodolgicas proporcionou diferentes tipos de
informao sobre o processo estudado e a anlise do conjunto de estudos sugere que a
combinao de diferentes mtodos de sistematizao dos dados pode propiciar um
entendimento mais completo do processo teraputico.
A psicoterapia como um processo de interao social
Uma particularidade com a qual os pesquisadores lidam ao estudar o que ocorre
dentro da psicoterapia a anlise do comportamento de, no mnimo, dois indivduos
terapeuta e cliente interagindo. Trata-se, portanto, de um processo de influncia mtua
(Meyer & Vermes, 2001), no qual os comportamentos do cliente e do terapeuta so
analisados como comportamentos sociais (Skinner, 19532).
2 De acordo com Skinner (1953/1993), o comportamento de duas ou mais pessoas em relao uma com a outra ou em relao conjunta com o ambiente caracteriza o comportamento social. Em um episdio social, as conseqncias das respostas emitidas por um indivduo dependem da mediao de outra(s) pessoa(s).
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Para se estudar uma interao social deve-se levar em conta as variveis que
controlam o comportamento de cada um dos membros da interao (Skinner, 1953).
Estas variveis so constitudas principalmente por estmulos sociais no caso, a ao
do outro indivduo da dade terapeuta-cliente que, por sua vez, sujeito influncia de
um grande conjunto de variveis. Tal interao implica numa complexidade maior do
que no caso de comportamentos controlados por eventos de natureza no-social -
relativamente mais estveis - permitindo certa previsibilidade sobre sua ocorrncia e
facilitando a anlise. Apesar das caractersticas dos eventos sociais, possvel se
identificar regularidades neste tipo de interao, o que permite sua sistematizao para
estudo3.
No estudo de interaes sociais, uma das possibilidades de identificao de
regularidades a sistematizao dos dados observados em torno de classes de
comportamento do terapeuta e do cliente, cujos critrios de sistematizao seriam
descritos em termos de categorias de comportamento4. A partir de ento, so conduzidas
anlises das relaes entre essas categorias, de forma a identificar possveis efeitos que
de diferentes classes de comportamento de um membro da dade sobre o outro (Russel
& Trull, 1986; Wampold, 1986).
A observao e a sistematizao dos dados referentes ao comportamento
humano so foco de interesse em diversas reas da cincia. Em um levantamento da
literatura pertinente ao tema, foram localizados diversos trabalhos nos quais houve
tentativa de categorizao do comportamento humano verbal vocal e motor em 3 A obra de Skinner, Comportamento Verbal (1957), um exemplo de sistematizao de regularidades encontradas em um tipo especfico de comportamento social - o comportamento verbal. Vale lembrar que a obra de Skinner (1957) descrita pelo prprio autor como um exerccio de interpretao, no tendo sido constituda a partir de um estudo sistemtico. 4 No presente trabalho, adota-se a definio de Classes de Comportamentos de Danna e Matos (1999), que consiste no agrupamento de eventos comportamentais em torno de caractersticas comuns, tais como sua morfologia, funo ou ambos. O termo Categoria de Comportamentos, por sua vez, ser utilizado no presente trabalho referindo-se ao conjunto de definies construdo de modo a sistematizar os elementos que compem uma Classe de Comportamentos.
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diferentes situaes de observao (por exemplo, Abramowitz, Abramowitz, Roback &
Jackson, 1974; Baptistussi, 2001; Barbosa, 2001; Batista, 1980; Campbell, 2004;
DeVito, 1989; Fagundes, 1978; Hickson & Stacks, 1989; Knapp & Hall, 1999;
Marturano, 1978; Marturano, Bertoldo & Camelo, 1982; Street & Buller, 1987; Vieira,
1975).
Diferentes sistemas de categorizao desenvolvidos especificamente para a
anlise da interao terapeuta-cliente so encontrados na literatura nacional (por
exemplo, Baptistussi, 2001; Brando, 2003; Britto, Oliveira & Sousa, 2003; Donadone,
2004; Garcia, 2001; Margotto, 1998; Martins, 1999; Moreira, 2001; Novaki, 2003;
Oliveira, 2002; Tourinho, Garcia, & Souza, 2003; Vermes, 2000; Yano, 2003;
Zamignani & Andery, 2005) e internacional (por exemplo, Bischoff & Tracey, 1995;
Chamberlain & Ray, 1988; Chamberlain, Patterson, Reid, Kanavagh & Forgatch, 1984;
Hill, 1978; Hill, Corbett, Kanitz, Rios, Lightsey & Gomez, 1992). Muitos destes
sistemas apresentam categorias que descrevem classes de comportamentos bastante
semelhantes, mas utilizam para isto diferentes denominaes e definies. As diferenas
encontradas entre eles devem-se principalmente natureza da questo investigada e aos
diferentes pressupostos tericos que norteiam cada estudo.
Nos trabalhos existentes sobre o tema, problemas envolvidos na elaborao,
definio e aplicao de categorias para a classificao do comportamento merecem ser
considerados. Alguns desses problemas sero discutidos a seguir.
Critrios para a sistematizao de eventos em torno de categorias comportamentais
A categorizao de eventos parte da observao e do agrupamento do universo
estudado em torno de classes, agrupamento este que depende do objetivo ou funo a
ser exercida pelo sistema de categorias (Marinotti, 2000). Alguns sistemas de
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categorizao so propostos para o treinamento ou julgamento do desempenho de
terapeutas em uma determinada abordagem de terapia (exemplos de sistemas utilizados
para esse fim so apresentados por Callaghan, 2006; Hill & O'Brien, 1999; Ireno, 2007;
Sturmey, 1996). Nesse caso, a funo do sistema prescritiva, ou seja, a apresentao
das categorias visa sugerir um conjunto de padres que deveriam ser seguidos pelo
terapeuta para o desenvolvimento de seu trabalho clnico. Tal proposta de categorizao
orientada principalmente pelo modelo terico-metodolgico de interveno adotado
pelo autor, mais que por um determinado conjunto de dados observados.
Sistemas que tm como objetivo a caracterizao da interao teraputica para a
pesquisa, por outro lado, apresentam um carter essencialmente descritivo. Em funo
disso, os critrios para essa categorizao, diferentemente do que ocorre em um sistema
prescritivo, so guiados mais pelos dados observados. Tal carter descritivo, entretanto,
deve ser considerado com cautela. Por mais que o pesquisador esteja isento do propsito
de orientar ou prescrever um determinado conjunto de prticas, a organizao do
fenmeno observado no se furta de revelar algum tipo de interpretao a priori, ao
selecionar quais seriam os eventos relevantes para sua compreenso. Destacar algumas
classes de comportamento, em detrimento de outras, revela uma forma de compreender
o processo que, necessariamente, perpassada pela postura terico-metodolgica
adotada pelo pesquisador.
Conforme apresentado anteriormente, grande parte dos estudos clnicos at ento
desenvolvidos sobre a interao teraputica tm categorizado o comportamento verbal
vocal dos participantes a partir da anlise dos textos das transcries de sesses
gravadas em udio ou vdeo. Estes estudos consideram, para essa categorizao, as
aes apontadas pela literatura clnica como tpicas de uma interao verbal teraputica
(chamadas, em alguns dos estudos, de variveis interpessoais), tais como descrio de
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eventos, orientao, inferncia, aprovao etc. (por exemplo, Almsy, 2004;
Barbosa, 2001; Chamberlain & Ray, 1988; Chamberlain et al., 1984; Donadone, 2004;
Garcia, 2001; Hill, 1978; Hill et al., 1992, Kovac, 2001; Maciel, 2004; Margotto, 1998,
Martins, 1999; Meyer & Donadone, 2002; Moreira, 2001; Oliveira, 2002; Silva, 2001;
Vermes, 2000; Yano, 2003; Zamignani & Andery, 2005).
A partir da categorizao em torno desses eventos, os autores tm analisado
processos importantes da interao clnica, tais como a tomada de deciso do terapeuta
(Margotto, 1998), as conseqncias providas pelo terapeuta s aes do cliente
(Almsy, 2004; Silva, 2001), a orientao e o aconselhamento fornecidos pelo terapeuta
(Donadone, 2004; Meyer & Donadone, 2002; Zamignani & Andery, 2005), o manejo de
sentimentos e emoes (Almsy, 2004; Brando, 2003; Vermes, 2000) e de diferentes
queixas clnicas na sesso (Barbosa, 2001; Yano, 2003; Zamignani & Andery, 2005),
entre muitos outros.
A classificao da interao em torno de categorias temticas
Em algumas pesquisas sobre a interao teraputica, a conduo do estudo pode
exigir a classificao da interao em torno de assuntos ou temas (por exemplo,
Baptistussi, 2001; Barbosa, 2006; Eells, Kendjelic & Lucas, 1998; Garcia, 2001;
Goldberg, Hobson, Maguire, Margison, Osborn & Moss, 1984; Yano, 2003; Zamignani
e Andery, 2005).
Baptistussi (2001) e Garcia (2001) estudavam comportamentos do terapeuta
relacionados audincia no punitiva e ao bloqueio de esquiva, e seus possveis efeitos
sobre o responder do cliente. Estes pesquisadores utilizaram o aumento ou diminuio
na variedade de temas trazidos pelo cliente para a conversao como indicador de
respostas de adeso ou esquiva. Garcia (2001) utilizou categorias por meio das quais se
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identificava qual dos membros da dade introduzia assuntos novos e em que momento
isso ocorria ou, ainda, se o terapeuta ou o cliente mudavam de assunto ou derivavam a
partir do assunto corrente. Esse tipo de categorizao (chamada no presente trabalho de
conduo da sesso) foi importante para verificar o quanto o tipo de interveno
utilizada pelo terapeuta criava condies para que o cliente introduzisse assuntos que,
supostamente, teriam sido punidos em sua histria de vida. Alm da utilidade desse tipo
de categorizao demonstrada no estudo de Garcia (2001), a identificao da conduo
da sesso pode tambm ser importante para estudos que investigam o domnio da sesso
por parte de um ou outro membro da dade, tal como conduzidos por Lichtenberg e
Heider-Barke (1981) e Tracey (1985).
No trabalho de Zamignani e Andery (2005), por sua vez, pretendia-se
caracterizar o processo teraputico analtico-comportamental no atendimento a clientes
com o diagnstico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Neste estudo, a subdiviso
das categorias interpessoais do terapeuta e do cliente, com relao a seu tema ser ou no
relacionado queixa do cliente, permitiu a visualizao de processos tais como o
reforamento diferencial de verbalizaes e a interveno por meio de anlise de
contingncias e aconselhamento, conduzidos pelos terapeutas participantes. No estudo
de Yano (2003), a categorizao em torno de eventos considerados relevantes pelo
terapeuta-pesquisador (alguns destes eventos referentes a temas), em casos de transtorno
de pnico, permitiu a avaliao de resultados do processo teraputico por parte da
pesquisadora.
Para a categorizao de temas da sesso, na maioria dos trabalhos citados
anteriormente, as categorias referentes aos temas da sesso foram definidas a posteriori,
a partir dos dados previamente observados. Essa escolha, provavelmente, advm da
grande variedade de temas possveis que podem ser tratados em uma terapia. Assim,
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embora seja possvel uma categorizao a priori dos temas da sesso, ela precisaria
contemplar uma ampla gama de possibilidades de interao do cliente, com critrios de
incluso e excluso bastante especficos a fim de evitar sobreposies, o que dificultaria
bastante sua execuo. Alm disso, possvel que, para um determinado cliente, um
nico tema possa ser explorado com profundidade e relacionado a outros assuntos e
aspectos de sua vida, o que exigiria do pesquisador, provavelmente, uma subdiviso em
aspectos relacionados a esse tema. Um sistema de categorias temticas a priori, que
pudesse abarcar a diversidade de temas possveis, seria muito amplo, produzindo
disperso excessiva dos dados. Parece importante, ento, considerar a flexibilidade no
uso de um instrumento desse tipo, adequando categorias pr-definidas aos temas
relevantes das amostras de sesses estudadas.
Comportamentos verbais no-vocais e respostas motoras5
Na maioria dos trabalhos at ento desenvolvidos, foram realizadas anlises de
comportamento verbal vocal. Embora, em diversas pesquisas, essa estratgia tenha
oferecido importantes informaes, por vezes, questes de natureza terica ou prtica
que conduzem o trabalho dos pesquisadores exigem outros tipos de informao. Alguns
pesquisadores apontaram limitaes com relao a esse tipo de dado. Baptistussi (2001),
Garcia (2001), Vermes (2000) e Zamignani (2001) relataram dificuldades para a
5 Na literatura sobre o tema, tais propriedades do comportamento so estudadas sob o rtulo
comportamento no-verbal (Beier & Young, 1998; Burgoon, Buller & Woodall, 1996; Caballo, 1993; Keeley, 2005). Tal rtulo, entretanto, no est de acordo com a noo de Comportamento Verbal proposta por Skinner (1957/1992), que assume uma definio funcional do comportamento. Esta definio inclui respostas motoras, quando tm funo de alterar o comportamento de um ouvinte, mediador de reforadores para o falante. Desse ponto de vista, as variveis que compem o que chamado comportamento no-verbal seriam mais bem representadas pelos termos propriedades dinmicas da resposta vocal (variveis paralingusticas), respostas verbais no-vocais, ou respostas motoras. Entretanto, de forma a facilitar a fluncia do texto, o termo comportamento no-verbal ser utilizado, considerando-se que ele compreende o conjunto de variveis descritas acima.
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caracterizao e identificao dos fenmenos estudados, quando o dado obtido era
exclusivamente verbal-vocal, o que limitaria o alcance de seus estudos.
Respostas verbais no-vocais e respostas motoras correlatas a respostas
emocionais tm sido apresentadas pela literatura como representantes mensurveis de
aspectos emocionais (Beier & Young, 1998, Fiorini, 1995). Desse modo, a incluso de
outras dimenses do comportamento dos participantes, alm da verbal-vocal, pode
favorecer a anlise e interpretao dos dados, em especial no estudo de episdios
emocionais.
A considerao de comportamentos no-vocais da interao tem contribudo
ainda para o estudo da manifestao de sintomas de quadros psiquitricos durante a
sesso, tais como ansiedade e depresso (Geerts, 1997; Waxer, 1978) ou para o estudo
de indicadores relacionados constituio da aliana teraputica (Tickle-Degnen &
Rosenthal, 1990). Para permitir um estudo mais completo do processo teraputico, de
acordo com Fiorini (1995), um sistema de categorizao deveria apresentar um carter
multidimensional, ou seja, suas categorias no deveriam envolver apenas elementos da
interao verbal vocal, mas tambm outras dimenses da interao social que ocorre no
processo teraputico.
A partir da literatura a respeito de comportamento no-verbal na prtica clnica,
alguns atributos do comportamento verbal no-vocal tm sido sugeridos como
importantes para a compreenso da interao teraputica. Aspectos topogrficos do
comportamento verbal vocal, tais como propriedades ou atributos do som produzido
durante a fala ou conversao, so estudados sob o rtulo de variveis paralingsticas
e tm sido de interesse para a pesquisa clnica (Hickson & Stacks, 1989). Estas
variveis esto geralmente relacionadas ao grau de intimidade, atrao, influncia e
credibilidade entre os interlocutores, alm de funcionarem como indicadores de estados
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emocionais e afetivos do falante (Beier & Young 1998; Caballo, 1993; Campbell, 2004;
Gobl & Chasaide, 2000; Hickson & Stacks, 1989; Pereira, 2000). Caballo (1993) afirma
que os sinais paralingsticos podem afetar de forma importante o significado do que
dito e, conseqentemente, a maneira com que a mensagem recebida.
Outro fenmeno de interesse no estudo da psicoterapia o padro de sincronia
paralingstica na interao verbal que cliente e terapeuta desenvolvem em alguns casos
(Beier & Young, 1998). Tais padres tm sido estudados como preditores de sucesso do
processo teraputico (Geerts, 1997).
Alguns autores tm estudado a funo de variveis paralingsticas da fala na
inferncia de estados emocionais do falante (por exemplo, Cowie, 2000). Um dos
mtodos pelo qual essa inferncia pode ser realizada utiliza uma lista de rtulos
relacionados a estados emocionais, que so selecionados por um juiz na avaliao de
uma determinada vocalizao. Um exemplo de estudo que utilizou esse mtodo o de
Campbell (2004). Nesse estudo, 129 diferentes entonaes da palavra eh, do
vocabulrio japons foram apresentadas a juzes, que classificavam a emoo expressa
na verbalizao em uma das seguintes expresses: aborrecido, aliviado, com medo,
excitado, farto, feliz, indiferente, indiferente, inseguro, magoado, perplexo, surpreso,
triste, triste-chorando, zangado (p. 1). Essa categorizao adotada por Campbell (2004)
permitiu a comparao dos estados emocionais identificados entre indivduos de
diferentes culturas.
Skinner (1957/1992) lida com as chamadas variveis paralingsticas tanto por
meio do conceito do operante verbal autocltico quanto do conceito de propriedades
dinmicas das respostas verbais. O autocltico definido por ele como uma unidade de
comportamento verbal que, para sua ocorrncia, depende de outra resposta verbal e que
modifica o efeito dessa resposta sobre o ouvinte e indica algo a respeito das
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circunstncias nas quais a resposta produzida. As propriedades dinmicas, por sua vez,
so caractersticas topogrficas da fala que, sozinhas, no informam muito sobre o
comportamento verbal, mas compem, juntamente com o contedo, a fora da resposta
verbal vocal. Esse autor sugere as seguintes dimenses formais como medidas que se
combinam na determinao da fora do comportamento verbal: (1) energia, dizendo
respeito intensidade com a qual uma resposta verbal emitida, e que varia em uma
escala contnua; (2) velocidade com a qual respostas verbais sucessivas so emitidas; (3)
repetio imediata de uma resposta e (4) freqncia com que uma dada unidade verbal
aparece numa amostra de comportamento verbal. Skinner (1957/1992) afirma que, alm
da fora da resposta, essas medidas podem indicar diferentes condies ambientais
envolvidas na emisso da fala, tais como condies especiais de reforo e condies
fsicas ambientais, como presena de rudo e a distncia entre interlocutores.
Outra classe importante de respostas no-vocais a expresso facial, que
proporciona discriminaes finas sobre estados emocionais de um indivduo (Ekman,
Friesen & OSulivan, 1988; Wagner, 1990). Diversas pesquisas indicam que a
expresso facial do terapeuta, ou o desacordo entre essa expresso e a emoo sentida
pelo terapeuta, podem ter influncia sobre a avaliao que o cliente faz sobre este, alm
de influenciar o andamento e o resultado da terapia (Bnninger-Huber & Widmer, 1997;
Beier & Young, 1998; Beneke, Merten & Krause, 1998; Dreher, Mengele, Krause,
Kmmerer, 2001; Merten, Ullrich, Anstadt, Krause & Buchheim, 1996).
Alm disso, estudos tm demonstrado diferenas na expresso facial de
pacientes com diferentes transtornos psiquitricos, quando comparados a pessoas que
no apresentam tais transtornos. Essas diferenas incluem no apenas a habilidade de
mudar a expresso de acordo com o contexto, como tambm a reao desses pacientes a
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expresses faciais de terceiros (Ekman, 1989; Merten & Brunnhuber, 2004; Steimer-
Krause, Krause & Wagner, 1989).
Movimentos do corpo e posturas, de forma semelhante, funcionam como
modificadores, amplificadores e reguladores do comportamento verbal vocal. De acordo
com Beier e Young (1998), mudanas sutis em comportamentos motores, tais como
movimentos com a cabea ou inclinao do tronco, podem ter influncia sobre o poder
de persuaso de um falante.
Na psicoterapia, a observao de mudanas em padres posturais dos clientes
so indcios de seus estados emocionais (Scheflen, 1996) ou mesmo facilitam o
diagnstico de determinados quadros psiquitricos, tais como ansiedade e depresso
(Waxer, 1978). Por sua vez, movimentos sutis do terapeuta, tais como balano de
cabea, inclinao do corpo, braos cruzados ou abertos, tm sido relacionados a uma
maior ou menor sensao de acolhimento, ateno e concordncia por parte do cliente
(Beier & Young, 1998). De acordo com Caballo (1993), um fenmeno comum (e
desejvel) em uma interao social so as chamadas posturas congruentes tendncia
de que a pessoa imite a postura corporal do seu interlocutor, especialmente quando
ambos apresentam pontos de vista concordantes. Todos estes comportamentos por parte
do terapeuta teriam impacto no estabelecimento do vnculo e no andamento do processo
teraputico.
Os gestos exercem diferentes funes na comunicao, tais como ilustrar objetos
ou aes que seriam difceis de verbalizar, amplificar uma informao verbal, substituir
uma fala, alm de proporcionar a inferncia de estados emocionais do falante (Caballo,
1993). Os gestos de auto-estimulao e os movimentos das pernas e dos ps, geralmente
no tm a funo de comunicar, mas sugerem alguma condio de desconforto por parte
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de quem o apresenta, que aliviada pela estimulao sensorial produzida (Caballo,
1993).
Movimentos da cabea, por sua vez, apresentam possibilidades limitadas na
comunicao (Caballo, 1993). De especial interesse so os movimentos de assentimento
(a indicao de sim com a cabea, que ocorre em todas as culturas), que sugerem
acordo ou solicitao para que o ouvinte continue falando, e podem agir como
reforadores para a ao ou verbalizao prvia do interlocutor, embora tambm possam
sinalizar um interesse em interromper a conversao. O sacudir a cabea (como que
indicando no) tambm um movimento encontrado em todas as culturas e tem
funes opostas s dos movimentos de assentimento (Caballo, 1993).
Vale ressaltar que, no estudo de comportamentos no-vocais, em nenhum
momento se assume que essas respostas, por si s, tenham um significado especfico na
comunicao humana. Entretanto, conhecer o potencial de comunicao de cada uma
dessas classes de comportamento pode dirigir o olhar do terapeuta ou do pesquisador
para aspectos que, na relao teraputica, certamente exercem funo. Por essa razo,
essas classes de comportamento devem ser analisadas de forma mais aprofundada, no
como significados de estruturas especficas, mas como informaes importantes sobre
variveis de controle que operam na sesso teraputica.
Critrios formais e funcionais para a definio da unidade de ocorrncia em uma
interao social
Ao discorrer sobre a elaborao de categorias comportamentais, Marinotti
(2000) destaca a necessidade de que, na definio de uma categoria, seja estabelecida a
sua unidade de ocorrncia, ou seja, quando ela comea e quando termina de forma a
permitir a quantificao da categoria em questo. Essa unidade denominada unidade
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de registro, e deve relacionar-se s caractersticas do objeto de estudo e aos objetivos da
anlise de maneira pertinente (Bardin, 1977).
As unidades de registro tm natureza e dimenses muito variveis, podendo
partir de critrios topogrficos, funcionais, semnticos, entre outros, a depender dos
objetivos do pesquisador (Bardin, 1977, Danna & Matos, 1999/1976; Fagundes,
1992/1976; Hutt & Hutt, 1974; Johnston & Pennypacker, 1993). Para o estudo de
sesses de psicoterapia, cada um desses critrios implica em limitaes e vantagens.
Um dos importantes objetivos de estudos cujo referencial a anlise do
comportamento a identificao de variveis de controle relacionadas ao
comportamento de interesse, o que, na maioria das vezes, remete a relaes funcionais
entre as respostas e outros eventos ambientais. Visa-se, portanto, a identificao de
classes funcionais de resposta. Segundo Johnston e Pennypacker (1993), uma classe de
respostas chamada funcional quando ela definida de forma a incluir apenas aquelas
respostas cuja ocorrncia depende de ( funo de) uma particular classe de estmulos,
ou seja, respostas que estabelecem uma relao de contingncia com determinada classe
de eventos ambientais. A questo que se coloca em que momento do processo de
pesquisa no momento de categorizao ou em uma etapa posterior - essas relaes
funcionais devem ser identificadas (ou inferidas).
Questo semelhante a esta foi discutida por Russel e Stiles (1979), com relao
pesquisa de processo em psicoterapia. Esses autores referiram-se a dois tipos de
estratgia a pragmtica e a clssica - por meio das quais dados de interaes sociais
podem ser categorizados.
A estratgia denominada pragmtica consiste na inferncia direta do observador
sobre estados ou caractersticas do falante (ou no caso da anlise do comportamento,
inferncia direta de relaes funcionais). Essa estratgia, segundo os autores, permite o
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estudo de eventos bastante sutis da interao, entretanto, implica em grande grau de
inferncia. A falta de uma definio operacional do processo de tomada de deciso, ao
categorizar cada evento, limita a possibilidade de replicao da pesquisa realizada, bem
como impede a reviso dos dados analisados, perdendo em generalidade. Esse parece
ser o principal problema envolvido na categorizao com unidades funcionais de
registro (Danna & Matos, 1999/1976; Fagundes, 1992/1976; Johnston & Pennypacker,
1993). Em uma interao social, as variveis relevantes para a identificao de classes
funcionais de resposta no so necessariamente contguas resposta estudada e,
portanto, mesmo que se considerassem os eventos imediatamente precedentes e/ou
subseqentes resposta para a categorizao, tal informao seria insuficiente. Esse o
caso do resultado de qualquer procedimento aplicado pelo terapeuta que, geralmente,
no pode ser observados imediatamente e nem mesmo no interior de uma nica sesso.
A outra estratgia referida por Russel e Stiles (1979), denominada clssica,
requer dois passos operacionais para a categorizao do comportamento.
Primeiramente, o pesquisador identifica instncias de categorias, a partir de aspectos
formais do evento estudado e, mais tarde, faz inferncias baseadas na freqncia (ou
outro tipo de medida) das categorias identificadas. Tal estratgia tornaria mais explcito
o processo envolvido na inferncia realizada pelo pesquisador para a categorizao,
favorecendo a replicao e a generalidade dos resultados obtidos. A interpretao sobre
relaes funcionais, nesse caso, no feita no momento do registro, mas sim
posteriormente, a partir da sistematizao dos dados categorizados, o que permitiria a
identificao de padres na interao estudada. Tal estratgia parece seguir uma
seqncia de passos necessria para a identificao de relaes funcionais. Nas palavras
de Staddon (1967):
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Operantes (...) no so definidos, mas inferidos. As regularidades so
observadas entre eventos-estmulo e eventos-resposta; aps a
observao cuidadosa, o experimentador decide que essas
regularidades relacionam uma classe de eventos a outra e identifica
essas classes por suas propriedades. (p. 382)
Considerando as estratgias propostas por Russel e Stiles (1979), caso se tenha
como objetivo a construo de um sistema de categorias que possa ser utilizado em
diferentes pesquisas, com maior probabilidade de produzir dados comparveis, parece
razovel a adoo de estratgias de categorizao mais prximas denominada clssica.
Para tanto, uma das possibilidades para a elaborao de categorias de registro de
comportamento a categorizao de eventos em torno de critrios formais (ou
topogrficos). A categorizao a partir de critrios topogrficos tem como foco
semelhanas no movimento, postura e/ou aparncia do comportamento (dimenses
espaciais do comportamento). Em outras palavras, implica na deciso sobre os limites
de forma com relao s trs dimenses espaciais ao qual cada resposta deve
corresponder para ser includa em uma classe (Johnston & Pennypacker, 1993, p. 71).
Os critrios formais favorecem que sejam claramente especificados e
identificados os elementos relevantes para a categorizao. Quando nos referimos a
comportamento social, entretanto, h mais dificuldade para a delimitao de dimenses
topogrficas. Mesmo que se considerem palavras, frases ou sentenas como dimenses
relevantes, trata-se de unidades que, isoladamente, proporcionam informao restrita
sobre a interao em curso (Bischoff & Tracey, 1995). Tal limitao pode ser discutida
a partir das consideraes de Skinner (1957/1992):
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Abaixo do nvel da palavra jazem razes ou, mais rigorosamente, as
pequenas unidades significativas chamadas morfemas. Acima da
palavra esto as frases, idiomas, sentenas, clusulas, etc. Cada uma
delas pode ter unidade funcional como um operante verbal. Uma
partcula de comportamento to pequena quanto um nico som pode
estar sob controle independente de uma varivel manipulvel. (...) Por
outro lado, um amplo segmento do comportamento (...) pode variar
sob controle unitrio funcional semelhante. (p. 21)
Dessa forma, verbalizaes ou respostas motoras de topografias muito
semelhantes podem ser evocadas por eventos bastante diversos ou afetar o
comportamento do interlocutor de forma tambm diversa, dependendo do contexto no
qual a resposta ocorre. Parece importante que a topografia da resposta seja, sim, levada
em conta, mas inserida em um contexto que lhe d sentido. Eventos contguos ao
responder eventos imediatamente precedentes e subseqentes - no so suficientes
para a identificao de uma classe funcional de respostas, mas constituem elementos
que contextualizam a verbalizao ou ao do indivduo. Neste caso, estaramos
abdicando de uma categorizao topogrfica, em direo a uma estratgia que envolve
certo grau de inferncia sobre a funo da resposta no contexto imediato da interao.
Tal estratgia de categorizao, considerando-se a classificao de Russel e Stiles
(1979), situa-se entre a clssica e a pragmtica (conforme apontado por Hill, 1986) e
envolve a estimativa da funo imediata da verbalizao a partir da observao da
topografia e do contexto imediato no qual a verbalizao se insere. A identificao de
relaes funcionais sobre o contexto mais amplo da sesso ou da relao terapeuta-
cliente feita em um momento posterior da anlise.
Este mtodo de categorizao pode ser relacionado ao que Bardin (1977)
denomina categorizao semntica. Esse tipo de categorizao, segundo esta autora,
refere-se a recortes em nvel semntico de unidades de significao, segundo certos
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critrios relativos teoria que serve de guia anlise que, em algumas vezes, coincidem
com unidades formais do texto (palavras, frases etc.). Seu comprimento varivel e a
sua validade no de ordem estritamente lingstica:
...consiste em descobrir os ncleos de sentido que compem a
comunicao e cuja presena ou freqncia de apario pode
significar alguma coisa para o objetivo analtico escolhido. (...) [a]
unidade de registro corresponde a uma regra de recorte (do sentido e
no da forma) (...) o recorte depende do nvel de anlise e no de
manifestaes formais reguladas. (...) a unidade de registro existe no
ponto de interseco de unidades perceptveis (palavras, frase,
documento, material, personagem fsico) e de unidades semnticas
(temas, acontecimentos, indivduos), embora parea difcil (...) fazer-
se um recorte de natureza puramente formal... (pp. 105-107)
O sentido de uma unidade semntica, segundo Bardin (1977) seria dado por
elementos de contexto - segmentos da interao que do significado unidade de
registro. Vale lembrar que o termo significado, para a anlise do comportamento,
remete necessariamente a relaes do evento em estudo com outros eventos que
alterariam a sua probabilidade de ocorrncia (Tunes, 1984). Nas palavras de Skinner
(1974):
Uma resposta, por exemplo, pode ser descrita como uma forma de
comportamento. Um operante especifica pelo menos uma relao com
uma varivel o efeito que o comportamento, caracteristicamente, se
bem que no inevitavelmente, tem sobre o meio e que no , por
isso, uma unidade formal. Uma especificao formal no pode ser
evitada, desde que uma resposta s pode ser considerada um exemplo
de operante por meio de uma identificao objetiva. Mas no basta a
identificao objetiva. (p. 115)
Um exemplo de classe de verbalizao que ilustra essa discusso o relato de
melhora por parte do cliente. Tal relato, visto puramente em seu aspecto topogrfico, no
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mximo pode ser categorizado como descrio de eventos ou, dependendo do critrio,
como afirmao. Outras informaes so necessrias para consider-lo como um relato
de melhora o contexto no qual o relato ocorreu, o tema, eventos contguos. Ainda
assim, no possvel identificar imediatamente as relaes funcionais envolvidas.
Enquanto uma classe funcional de respostas, tal verbalizao pode ser uma descrio
(um tato), indicativa do sucesso do procedimento adotado pelo terapeuta, mas tambm
pode ter como funo a esquiva de outros temas que, naquele momento, seriam difceis
para o cliente ou ainda a manipulao da disposio emocional do terapeuta, em busca
de evocar neste alguma ao favorvel. Por outro lado, outro relato ou comportamento
no-verbal que, de acordo com seu contexto imediato, no contenha explicitamente uma
descrio de melhora, pode ser um comportamento clinicamente relevante que indique
um avano do cliente. assim que uma descrio sentimento do cliente, por exemplo,
quando sua queixa envolve a dificuldade de expresso emocional, pode ser indicativa de
melhora. No andamento da sesso teraputica, o terapeuta atento supe as possveis
funes de tais verbalizaes e, ao observar outras ocorrncias da mesma classe de
relato, e seu contexto de ocorrncia, levanta dados para a identificao da funo.
O mesmo deve ocorrer com o pesquisador. A ao do pesquisador, se restrita ao
passo da categorizao do evento como relato de melhora no suficiente para a
identificao de relaes funcionais, embora tal passo seja essencial para a busca dessa
relao. A inferncia a priori da funo do comportamento, por sua vez, tambm
insuficiente, pois necessria a observao de outras ocorrncias para que se possa
fazer tal inferncia com mais propriedade. O pesquisador teria mais sucesso em sua
investigao se, tal qual esperado do terapeuta, considerasse aquele episdio do
comportamento (portanto, um primeiro nvel de categorizao) e, em outro momento,
verificasse as suas ocorrncias ao longo das sesses observadas, e identificasse que tipo
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de padro de interao tipicamente est ocorrendo quando se observa aquela categoria
de resposta verbal.
A delimitao da unidade de registro no estudo de interaes sociais
A questo da delimitao da unidade de registro, na interao social da
psicoterapia, foi conduzida de maneiras diversas por diferentes pesquisadores. Alguns
estudos tiveram como unidade de ocorrncia a verbalizao de um participante - toda a
fala do participante compreendida entre a verbalizao anterior e a posterior do outro
(por exemplo, Baptistussi, 2001; Kovac, 2001; Margotto, 1998). O problema com esse
tipo de unidade que, com muita freqncia, so encontrados dados de interao
teraputica com longas falas de um ou outro membro da dade, que contm em seu
interior diferentes classes de verbalizaes, as quais no poderiam ser identificadas por
meio de uma nica categoria de comportamento6.
Outros trabalhos assumiram como unidade de ocorrncia segmentos de
verbalizaes - trechos da verbalizao de um participante identificados em uma classe
especfica (por exemplo, Donadone, 2004; Garcia, 2001; Maciel, 2004; Martins, 1999;
Moreira, 2001; Oliveira, 2002; Zamignani & Andery, 2005). Segundo este critrio, a
fala no delimitada exclusivamente pela resposta do outro participante, mas sim por
qualquer mudana em sua natureza (classe, pausa, tema etc.), ainda que dentro da
mesma verbalizao deste participante. Uma vez que o presente trabalho visa tambm 6 Vale ainda destacar outro tipo de unidade de registro que tem sido utilizado em estudos sobre eventos emocionais ocorridos na sesso teraputica (por exemplo, Barbosa, 2006; Brando, 2003; Greenberg e Korman, 1993; Taccola, 2007). Nesses estudos, a unidade o episodio emocional definido como o episdio da interao que compreende todo um trecho da sesso no qual o cliente fala sobre experienciar ou ter experienciado uma resposta emocional (ou tendncia ao, ou ambos) em um contexto especifico no qual ela ocorreu, que delimitado pelas falas anterior e posterior do terapeuta. Este tipo de unidade apresenta a vantagem de situar mais amplamente o contexto de ocorrncia da resposta emocional de interesse, mas implica nas mesmas questes encontradas quando a unidade de registro o segmento de verbalizao.
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categorizao de respostas no-vocais, assume-se como unidade de ocorrncia o
segmento de interao, que pode ser caracterizado por um segmento de verbalizao ou
de qualquer comportamento no-vocal identificados em uma classe especfica. Esta
soluo favorece a categorizao das diferentes classes de fala de um mesmo
participante em uma verbalizao, mas acarreta uma dificuldade metodolgica para a
obteno de concordncia entre observadores, pois ambos os juzes devem concordar
no apenas com relao categoria escolhida, mas tambm com relao delimitao
dos trechos para categorizao.
Uma soluo para este problema foi apresentada por Chequer (2002), que sugere
que, ao se realizar o teste de concordncia entre observadores, o pesquisador selecione
previamente os segmentos a serem categorizados antes de encaminhar os dados para a
avaliao dos juzes. Com isso, o nico critrio a ser avaliado com relao
concordncia o rtulo ou categoria atribudo ao segmento em questo. Tal sugesto,
entretanto, implica em um problema para a replicao do trabalho por pesquisadores
no envolvidos no mesmo grupo de pesquisa, por no ter sido avaliada a concordncia
entre observadores com relao prpria seleo dos segmentos.
Outra possibilidade avaliar separadamente a concordncia entre observadores
com relao seleo dos segmentos e com relao categorizao, cada uma destas
medidas fornecendo informaes sobre processos distintos. A primeira verifica a
preciso na definio da unidade de registro, enquanto a outra verifica a preciso e a
clareza na definio das categorias.
Vale lembrar ainda que alguns softwares proporcionam a obteno de medidas e,
pelo menos parcialmente, solucionam o problema da seleo de segmentos da interao.
O software The Observer, da Noldus Technology e o Software Etnograph, da Qualis
Research Associates, por exemplo, permitem uma medida do percentual de
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concordncia, por meio do clculo do perodo da interao (respectivamente o tempo ou
o nmero de linhas) em que houve concordncia entre observadores,
independentemente do momento exato do incio do evento categorizado. Com isso,
mesmo que haja divergncias com relao ao incio do episdio categorizado, possvel
detectar o perodo da interao no qual houve concordncia.
A questo da medida e suas implicaes
Falar em medida implica em considerar, dentre as propriedades constitutivas do
fenmeno, aquelas que melhor o representam nas diferentes condies em que ele
ocorre e, ento, definir uma dimenso quantificvel desta propriedade (Johnston &
Pennypacker, 1993). Neste tpico, portanto, a fim de melhor situar a discusso a
respeito de medida de comportamento, considera-se como unidade de ocorrncia o
segmento de interao, conforme definido no tpico anterior.
Na anlise do comportamento, a freqncia de respostas tem sido a medida por
excelncia para a grande maioria dos estudos em qualquer rea de conhecimento
(Johnston & Pennypacker, 1993, Sturmey, 1996). Tal predileo tem origem nos
estudos experimentais, nos quais a freqncia mostrou-se uma medida bastante
apropriada para representar o processo de aquisio de comportamentos. Nestes estudos,
tem-se na freqncia um indicador a partir do qual inferida a probabilidade de
ocorrncia de determinada classe de respostas e, conseqentemente, o processo de
fortalecimento ou enfraquecimento dessa classe (Sidman, 1976, Skinner, 1953,
Sturmey, 1996).
Com relao ao estudo de categorias comportamentais, entretanto, h certo
debate sobre a relevncia dessa medida. A utilizao da freqncia como dimenso
representativa da ocorrncia de determinadas categorias de comportamento coloca em
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um mesmo nvel de anlise (e, portanto, as considera comparveis) desde verbalizaes
mnimas tais como o hum hum at longos segmentos de verbalizao nos quais um
evento relatado ou analisado. Dessa forma, a adoo exclusiva dessa medida pode
superdimensionar categorias tais como as primeiras, que ocorrem em alta freqncia,
mas que representam um perodo mnimo da interao teraputica. Sturmey (1996)
afirma que a medida de freqncia mais apropriada para comportamentos que ocorrem
em episdios discretos e que, para muitos comportamentos clinicamente relevantes, a
durao e a proporo do tempo so medidas muito mais importantes. A medida de
durao, por sua vez, embora proporcione informaes sobre o tempo ocupado por cada
classe de comportamento e a distribuio dos comportamentos ao longo da interao
(Sturmey, 1996), pode subdimensionar este mesmo tipo de evento que, na medida de
freqncia, superdimensionado.
Sendo assim, a alternativa mais vivel seria considerar ambas as medidas, cada
uma delas analisada em diferentes momentos do processo de sistematizao dos dados,
tal como sugerido por Sturmey (1996) e conduzido por Zamignani e Andery (2005) e
Taccola (2007). Sturmey (1996) sugere uma distino entre comportamentos de
freqncia significativa e comportamentos de durao significativa. Os primeiros tm
curta durao e ocorrem com relativa freqncia, enquanto os segundos tipicamente
ocupam perodos de tempo mais extensos.
A obteno da medida de durao exige do pesquisador a observao da sesso
registrada em udio ou vdeo e o registro da ocorrncia e durao de cada episdio
categorizado, o que torna o trabalho de pesquisa bastante rduo. Atualmente, existem
aparatos tecnolgicos mais sofisticados que permitem o registro das categorias a partir
da observao direta da interao, indexando-o ao tempo decorrido da sesso
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registrada7. Tais equipamentos, entretanto, tm um custo bastante elevado, o que pode
inviabilizar o desenvolvimento da pesquisa e/ou a replicao por parte de outros grupos
que no possuem os mesmos aparatos.
Alguns autores, levando em considerao estas limitaes, recorreram a medidas
indiretas do tempo da interao. Zamignani (2001) utilizou como medida anloga ao
tempo o nmero de linhas da transcrio da sesso ocupadas por uma determinada
categoria. Donadone (2004), ao estudar a ocorrncia de orientaes na sesso, utilizou o
nmero de palavras contidas em cada verbalizao do terapeuta categorizada como
orientao e do cliente categorizada como auto-orientao, comparando-as com o
nmero total de palavras proferidas por cada participante na sesso. Baptistussi (2001),
por sua vez, utilizou a freqncia de palavras em um determinado intervalo de tempo
como indicador do nvel de participao do cliente na interao teraputica. As solues
oferecidas pelos pesquisadores proporcionaram informaes relevantes sobre as
interaes estudadas e o uso destas estratgias uma alternativa quando no h recursos
para outro tipo de registro ou quando no h a necessidade de acesso a variveis no-
vocais da interao. Outras possveis medidas levariam em considerao propriedades
diversas do fenmeno de interesse, tais como intensidade, eventos seqenciais, taxa,
produtos permanentes do comportamento etc., dependendo do problema de pesquisa e
das propriedades do fenmeno a ele relacionado.
7 Nos trabalhos desenvolvidos por este grupo de pesquisa, o software The Observer, desenvolvido pela empresa Noldus Technology, tem sido utilizado para este fim.
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A categorizao de comportamentos referentes a respostas no-vocais
A pesquisa sobre sistemas de categorizao de comportamentos no-vocais
revela uma diversidade de estratgias e recortes na categorizao. As categorias
desenvolvidas para a categorizao de respostas motores (por exemplo, Batista, 1980;
Caballo, 1993; Chamberlain & Ray, 1988; Hill, Siegelman, Gronsky, Sturniolo & Fretz,
1981; Hill & Stephany, 1990; Keeley, 2005; Kim, Liang & Li, 2003; Krauss, Chen &
Chawla, 1997; Mahl, 1968; Marturano, 1978; Monti, Kolko, Fingeret & Zwick, 1984;
Rodrigues, 1997; Tepper & Haase; 1978; Vieira, 1975) variam desde categorias
estritamente topogrficas (por exemplo, inclinao de cabea para frente, inclinao de
cabea para direita, de Rodrigues, 1993) at aquelas que envolvem um amplo grau de
inferncia (por exemplo, a avaliao de entonao vocal e expresso facial de Tepper e
Haase, 1978).
Alguns deles, tais como Marturano (1978) e Batista (1980) apresentam sistemas
com grande nmero de categorias, mas cuja definio pouco detalhada. Neste caso, h
risco de que os observadores, ao utilizarem o sistema, estabeleam critrios
idiossincrticos para os elementos que no foram contemplados na descrio das
categorias de interesse. Outros sistemas de categorizao oferecem definies bastante
detalhadas e precisas o caso, por exemplo, do catlogo de categorias de
comportamento de Vieira (1975). Esta opo de definio, embora implique em maior
dificuldade e demora em sua apreenso pelos observadores, especifica detalhadamente
os critrios e exemplos para os diferentes aspectos envolvidos na categorizao de cada
unidade proposta.
Com relao categorizao de expresses faciais, grande parte da literatura
utiliza mtodos automticos de anlise (por exemplo, Ekman, & Friesen, 1978),
estratgia que inviabilizaria a categorizao por meio da observao direta da sesso em
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vdeo. Por outro lado, trabalhos descritivos localizados na literatura que permitem uma
categorizao de expresses faciais apresentam um carter excessivamente topogrfico,
contribuindo pouco para fins de contextualizao da informao.
Categorias para a classificao de variveis paralingsticas (propriedades
dinmicas das respostas verbais vocais) foram encontradas em diversos sistemas, alguns
deles compostos exclusivamente por esse tipo de categorias (Cowie, 2000; Eklund,
2004; Rice, 1986) e outros nos quais elas esto junto a outros comportamentos no-
vocais (Chamberlain & Ray, 1988; Hill et al., 1981; Hill & Stephany, 1990; Keeley,
2005; Monti et al., 1984; Rodrigues, 1997; Tepper & Haase; 1978).
Outra forma de estudo envolve anlise de mudanas em propriedades
topogrficas especficas no padro de fala do participante (por exemplo, Eklund, 2004;
Rice, 1986). Esse tipo de abordagem, entretanto, tem sido questionado no estudo de
interaes sociais por no levar em conta outros aspectos, tais como o contexto no qual
a fala emitida (Hickson & Stacks, 1989). A avaliao da topografia do comportamento
verbal vocal, sem levar em conta a topografia habitual de cada falante, ou mesmo as
informaes de contexto, afirmam Hickson & Stacks (1989), seria insuficiente para a
compreenso da interao.
Uma estratgia para o estu