o descabeçado

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O Descabeçado Cemitério, Aroldo (óculos escuro camisa social) chora diante de um túmulo segurando uma rosa. Aroldo Rosângela, que saudade tenho de você minha querida, meu inesquecível amor, docinho de coco. No túmulo, a foto de um homem (O Parreira), com expressão de dúvida. Aroldo Ai que dor no meu coração, Rosângela. Foi tão cedo minha pombinha, minha tetéia, ai Rosângela, queria você de volta comigo. As lagrimas escorrem no rosto de Aroldo. Rosto vermelho de choro. Foto do defunto com a mão na testa. Aroldo (Cantando) Que voltes para mim, querida, Ó pombinha! A foto do defunto tampa os ouvidos. Aroldo abaixa para depositar as flores no túmulo e quando olha para a foto, esta aponta para o nome na lápide. “Jurandir Adamastor do Brasil Brasileiro” Aroldo Jurandir? Você ai embaixo se chama Jurandir? E onde está minha querida, onde ela esta? A fotografia faz um gesto de dúvida. Aroldo Já sei o que fizeram comigo, esses coveiro filhos das putas. Venderam pra outro o berço eterno da minha Rosângela. Filhos das putas do caralho. Aroldo retira a rosa sobre o túmulo e coloca um maço de cigarro do Paraguai. Aroldo

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Roteiro de curta - Os Astecas Filmes

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Page 1: O Descabeçado

O Descabeçado

Cemitério, Aroldo (óculos escuro camisa social) chora diante de um túmulo segurando uma rosa.

Aroldo

Rosângela, que saudade tenho de você minha querida, meu inesquecível amor, docinho de coco.

No túmulo, a foto de um homem (O Parreira), com expressão de dúvida.

Aroldo

Ai que dor no meu coração, Rosângela. Foi tão cedo minha pombinha, minha tetéia, ai Rosângela, queria você de volta comigo.

As lagrimas escorrem no rosto de Aroldo. Rosto vermelho de choro. Foto do defunto com a mão na testa.

Aroldo

(Cantando) Que voltes para mim, querida, Ó pombinha!

A foto do defunto tampa os ouvidos. Aroldo abaixa para depositar as flores no túmulo e quando olha para a foto, esta aponta para o nome na lápide. “Jurandir Adamastor do Brasil Brasileiro”

Aroldo

Jurandir? Você ai embaixo se chama Jurandir? E onde está minha querida, onde ela esta?

A fotografia faz um gesto de dúvida.

Aroldo

Já sei o que fizeram comigo, esses coveiro filhos das putas. Venderam pra outro o berço eterno da minha Rosângela. Filhos das putas do caralho.

Aroldo retira a rosa sobre o túmulo e coloca um maço de cigarro do Paraguai.

Aroldo

Toma ai seu Jurandir, uns cigarrinhos. É do Paraguai, mas pra quem não tem pulmão, mal nenhum irá fazer. Melhor que flores, não é mesmo Jurandir?

Aroldo sai de cena, o cigarro fica aberto sobre o túmulo e a fotografia acendendo o cigarro.

Page 2: O Descabeçado

Imagens de túmulos, velas acesas, corujas.

Aroldo anda perdido pelo cemitério.

Aroldo

Onde fui amarrar o meu jegue? É túmulo que não acaba mais. Que calor (limpa o suor da testa com um lenço). Onde ficava mesmo o portão? Só essa que me faltava, nesse calor, eu perdido nesse cemitério.

Teodoro

Algum problema?

Aroldo

De onde você saiu coisa ruim?

Teodoro

Estou lhe observando desde que deixou o túmulo do seu amante... Nunca vi um amor tão verdadeiro. Supera o amor em vida... Bendita seja a morte!

Aroldo

Que que foi Urubú!? Trocaram minha Rosângela de túmulo, esses coveiros pilantras, filhos das putas. O senhor conhece o coveiro desse cemitério?

Teodoro

Sou eu, ao seu dispor. Teodoro Vilena. Aqui esta meu cartão. Além de coveiro, também sou agente funerário, faço embalsamento de cadáveres, faço tratamento de beleza em defuntos e toco piano para dar uma animadinha em velórios caídos.

Aroldo

E a Rosângela?

Teodoro

Belas ancas tinha a falecida...

Aroldo

Respeita a memória da minha pombinha. Tiram ela do túmulo e ainda fazem piada com suas...

Teodoro

Me desculpe, lido todos os dias com a dama de negro e acabo perdendo um pouquinho da sensibilidade para com os vivos. E, em relação a sua pombinhas, ela está bem atrás de você.

Page 3: O Descabeçado

Aroldo se vira e se depara com Rosário (vestido de preto segurando um saco de ossos).

Teodoro

Ai esta sua esposa, leve ela para casa, o direito dela de utilizar minhas dependências fúnebres venceu na semana passada. Guarde ela em baixo da cama e volte a dormir ao lado de sua pombinha novamente. (ri brevemente)

Aroldo

Vou processar esse cemitério, isto não existe.

Teodoro.

Me desculpe, são as normas, eu mesmo não concordo com elas. Quem as criou foi meu já falecido bisavô. E você já pensou na hora da morte? Tenho covas e caixões que serviriam perfeitamente em você. Não quer experimentar.

Aroldo

Não, eu quero é ir embora!

Teodoro

Sempre é hora, em vida, de pensar na morte. Temos muitos planos funerários e, com certeza, temos um que é de seu interesse.

Aroldo

Não quero nenhum plano funerário

Teodoro

Estamos em promoção, só hoje mesmo, covas rasas pela metade do preço.

Aroldo

Já disse que não quero

Teodoro

Dividimos em 50X no cartão de crédito. Está uma bagatela.

Rosário, com uma fita métrica começa e tirar as medidas de Aroldo.

Aroldo

Como não tem jeito, vou levar esse plano funerário, aqui está o meu cartão. É melhor pagar pra ir embora do que ficar aqui discutindo com você.(resmunga baixo)

Page 4: O Descabeçado

Aroldo entrega o cartão para Rosário que efetua o pagamento e lhe pede para assinar um contrato

Rosário

Não temos nenhuma cova do tamanho dele Teodoro, Esse cara é muito cabeçudo.

Teodoro

Então corte-lhe a cabeça.

Rosário saca um facão e corta a cabeça de Aroldo. (fade in para preto)

____________________________________________________________________________

(Fade out) A cena mostra a cabeça de Aroldo em cima de um túmulo com os olhos fechados. Aroldo abre os olhos.

Aroldo

Cadê o meu corpo seus pilantras miseráveis...Ai ai ai Mamita querida! Ei papito, me tira daqui. Sabe de naaaada inocente!

A cabeça some em uma explosão de fumaça. Próximo à cabeça, Teodoro olha surpreso para rosário que está com um celular em mãos.

Rosário

Fiz um bom negócio.

Paródia do comercial do Bom Negócio.com

Fim

Surpresinha: O corpo de Aroldo andando sem cabeça pelo cemitério, trombando nos túmulos.