o cinema ocupa a escola do campo

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    CAPiTULO 1

    o cinema ocupa a escola do campoAna LuciaAzevedo Ramos

    Atafdes BragaInes Assuncao de Castro Teixeira

    As cr iancas e os jovens de hoje t ern cada vez menos chances deencontrar , em sua vida social normal, outrosf i lmes que sejamniio osdo consumo imediato. A escola (eas disposi tivos que aela sel igam) eo ult imo lugar onde esteencontro ainda pode

    acontecer. Portanto, mais do que nunca, sua missiio e facilitara acesso - de modo simples e permanente - a uma colecao deobras que deem uma ideia el evada, ndo pedagogica, daquilo

    que 0 cinema - todo 0 c inema - p o d e produzir de melhor.ALAIN BERGALA

    "0 cinema ocupa a escola!" Essa seria uma boa noticia para os reporteresbrasi leiros. Mas com qual cinema ocupar a escola, para que seja bem-vindo?Como impregnar a escola com 0 cinema, de cinema, pelo cinema? 0 que fazerpara que esse fato seja real? Nao h o i regras, receitas ou rigidos procedimentoquanto a isso, mas proposicoes a serem consideradas que trazemos para 0 debate,reconhecendo-as como inacabadas, cientes de que nao se trata de formulacoesabsolutas, posto que cabem outras perspectivas acerca da questao,

    Outras terras, outro cinemaLembrando BlaiseCendrars (apud DUARTE, 2008), entre outras propriedad s

    nele contidas, "0cinema dotou 0 homem com um olho mais maravilhoso que 0olho facetado da mosca. Cem mundos, mil movimentos, u rn m il ha o de dramasentrain slmultnncam nte dentro do campo de acao d ss 01110", II.s\~aormult1

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    comportamento humane, aprofundar nosso processo de autoconhecimento enosso conhecimento do mundo. Alem disso, eIepode ser urn instrumento valiosopara desenvolvermos nossa capacidade de ver e compreender os produtos au-diovisuais que constituem, nas sociedades contempora.neas, a mais disseminada,popular e poderosa forma de expressao que conhecernos.

    Sendo assim, e dever da escola, de um lado, prom over meios para que oseducandos possam desenvolver as habilidades necessarias para a compreensaoIucida e critic a desses objetos de difusao de valores, ideias e comportamentos eque, pelas caracterist icas de sua linguagem ajudam nao so a forrnar nos espec-tad ores cer to modo de consurnir outros objetos da cultura contemporanea, mastambem influenciam na percepcao que ternos da realidade. Na sociedade atual ,quem possui algum domfnio sobre os codigos da linguagem audiovisual t ernrnais poder do que aqueles que nao identi fi cam como esses discursos sobre 0mundo sao construidos, assim como os que sabern ler e escrever textos escri tostern rnais poder e prestigio social do que aspessoas que nao sabern.

    E tambern uma tarefa da escola assegurar aos educandos 0 acesso ao cinemapropriamente dito, 0 cinema como manifestayaO artistica, pois, ao longo de suahis toria de pouco mais de urn seculo, 0 cinema como arte e criacao foi cedendolugar a urn certo tipo de filmes e de cinema como puro consumo, como indus-tria cultural, como semi-informac;:ao, na esteira dos process os socio-historicose culturais associados a expansao e a hegemonia do mercado, a mercantilizac;:aoda vida e das relacoes sociais e a espetacularizayao do mundo. Nos logradourospublic os, nas salas de cinema, nas locadoras devideos e DVDs, na televisao, nosanuncios epropagandas , nos jornais erevistas ou na midia em geral , esse e 0 tipode cinema que predomina nos mais diversos pai ses: da Pranca, onde essa artenasceu pelas maos dos Irrnaos Lumiere, ate osmais variados paises e continentes.

    Em contraposiyao aessa hegemonia do cinema como puro consurno, mantidopelos esquemas de producao, de 'dis tr ibuiyao e de exibicao das grandes produ-toras, resiste com importantes , belas e s ignificativas obras, em varios paises domundo, inclusive no Brasil, 0 cinema de criacao, 0 c inema de arte, de autor, ououtras denominayoes que possa haver. Tra ta-se, aqui , de urn cinema que sen-sibi liza, que pensa, que interroga, que convoca a alteridade, a sensibilidade, aimaginac;:ao. Trata-se do cinema como obra de arte, que eleva e que enleva, quenos move e cornove, que desloca. Trata-se de urn c inema que contempla e quese desdobra em abertura e poss ibil idades estet icas, eticas, poeticas; humanas,sociais, politicas.

    Nesse quadro, estudos e observac;:oes indicam que 0 acesso e as relay6es denossas criancas e jovens educandos com 0 cinema referem-se ao cinema comopuro consumo. POI' ser ass irn, a escola sera para a maior par te, senao para todos

    eles, c riancas e jovens brasile iros do campo e da cidade, urn unico Iugar ondepoderao conhecer e experienciar 0 cinema como arte e criacao,

    Esse e urn dos nossos argumentos para a proposicao de que nao se trata delevar a escola qualquer f ilme ou qualquer cinema, mas 0 cinema como arte, 0cinema de criacao. Partindo do suposto de que osprocessos educativo-escolaresdevem possibilitar a plena formacao das novas geracoes humanas, que envolve asdimensoes pratico-instrumental, estetico-expressiva e etico-rnoral, que se con-jugam e sintetizam na formacao de subjetividades humanas e po1itic~s, capazesde viverem digna, justa e solidariamente a vida em comum, como dispensar apresenc;:ada arte na escola? E, entre as artes, 0 cinema de criacao!

    Sea arte precis a estar na escola e sabendo que nossas criancas ejovens, hojesocializados, predominantemente, pela via das imagens, do espetaculo e ~a ~~r-canti lizacao, entre outros process os de sua insercao na sociedade e na his toria,torna-se responsabil idade da escola educar e reeducar 0 olhar . Dito de outromodo, e necessaria criar, nos tempos e espac;:osescolares, dispositivos, atividades,projetos e praticas mediante os quais nossos educandos pos~~m desapr,ender eaprender com 0 cinema. Desaprender, porque mui tos deles Ja cheg~ a escolacom 0 olhar, uma perspectiva, uma compreensao, urn gosto produzidos peloconsumo rapido, do repetitivo, do descartavel que lhes e imposto cotidian~ente,das mais variadas formas, pelas imagens veiculadas pela midia, pela publicidade,pelo cinema e pelo video de puro consumo. .

    Nesse sentido, se levarmos a escola 0 mesmo cinema, as mesmas lingua-gens, aparatos e praticas a que ja estao expostos , estaremos apenas reforcando ealargando-o, em processos de restrita reproducao. Ao contrario, entendem~~ q~ea escola e a arte na escola deveriam ampliar, interrogar, interpelar a expenenClaeo que as criancas e os jovens ja trazem consigo, fazendo-os desapre~~~r.paraaprender algo novo, dis tinto. Como simples reproducao do mundo midiat ico, aescola nao tem sentido, nao e necessaria. .

    E um direi to das criancas e dos jovens e um dever dos educadores e da escolapossibilitar-lhes a oportunidade de vivenciar experiencias esteticas, conhecendooutro tipo de cinema, que lhes agucem a sensibilidade e estimulem mudancas nasforma deolhar, depensar , desentir , detocar e de serelacionarem com 0mundo.

    De outra parte, retomando Bergala, nao tern fundamento a ideia de que "asr tancas nao se interessam" e "os jovens nao se envolveriam" com 0 cinema deria o. A esse respeito, 0 autor nos fornece dois contra-argumentos, lembrandoI II ' o gosto que as criancas e os jovens desenvolveram ate el1tao.fOi,aprendido e'produzklo" pelos efeitos do marketing. Trata-se, pois, de aproxima-los, de dar-IlIv,~IUIlS0 I outros tipml d 'liilgU

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    nao se interessariam ou nao entenderiam certo tipo de filme e cinema seriadesqualificar ou mesmo desrespeita-los. 0 autor observa:

    o que mais interessa, "diz alguma coisa" it cr ianca como ao adulto . .. nao e ne-cessariamente aquilo que ele tem 0 habito de ouvir . A questao consi st e em sabero qu~ se en~e~de pOI' "dizer alguma coisa" Se nos atemos it banal cornunicacaon~ldlat lca, e as criancas, como publico de rnassa, que os filmes "sob rnedida"dizem alguma co isa, e eles dizem todos a mesr na coisa e da mesma maneira.Mas ~eyensarm~s que a a:t~ e antes de tudo um aba lo pes soal, "dize r a lgumacoisa e algo muito rnais Intirno, desconfortavel, enigmatico. E este encontroque preci sa ser visado, a inda que seus e fe itos nao sejam imedia tamente visive isnem quant if icaveis . 0 verdadeiro encontro com a arte e aquele que deixa marcasduradouras (BERGALA, 2008, p. 100).

    Mas como a escola pode for talecer e concret izar essa aproximacao dos edu-candos ao cinema nao comercial? E, ainda, como se contrapor a posicao dosespectadores em relacao a poderosa industria de bens culturais e do entreteni-mento, ~ue espera de todos apenas um consumo avido e uma recepcao passivae favoravel do que e la nos ofe rece diariamente? Numa primeira abordagemdessa questao, alern do aspecto de quais filmes e de qual cinema levar a escolae necessario pensar sobre como trabalhar 0 cinema na escola. '

    Cinema na escola: a possibilidade do encontroA educacao escolar ja incorpora 0 cinema em suas atividades pedagogicas,

    em certa medida. Observando esse fato no Brasil , profess ores de Historia, de~ortugues , de Geograf ia e de outras disciplinas cos tumam utilizar f ilmes parailustrar conteudos que ja foram expostos oralmente e lidos em textos infor-mativos, entre outras situacoes, Mas 0 cinema pode muito mais do que isso. 0cinema e a discussao sobre ele na escola devem ser a lgo mui to maior do que 0uso pedagogico desse dispositivo para ensinar conteudos disciplinares. Certosfilmes nos a judam a aprender e a pensar porque mobil izam nossa inteligencia,mas convocam tambern nossas ernocoes, nossos sentimentos e visces de mundo.Des:n~olvendo nossa sensibilidade, nosso olhar e perspectivas, provo cam ne-cessanos deslocamentos. 0 cinema de criacao e um encontro com a alter idade.Portan:o ao tratar 0 cinema apenas como um recurso auxi lia r nos processoseducatrvos, a escola esta desperdicando 0potencial educativo, humane, artisticoetico e estetico que 0 cinema pode proporcionar. '

    Ao promover 0 encont ro das c riancas, dos adolescentes edos j oven alun sdos proprios do centes com manifestac;:oes artisticas como 0 cinema, a escola sta-ra estimulando uma mudanca significativa no processo de ensino-aprendiza n a ,pois a energia que essa obra de arte rnobili za no espec tador p de s t ransforrnnrem conhecimento, 111 autoconhec im nto, em en 011(1'1) ( nm o out ro, ' Oil l 1 1111 I

    nova linguagem e expressividade. Este encontro, da escola com 0 cinema decriacao, pode ultrapassar 0 paradigma que impoe a razao como unica forma deapreensao do mundo e investi r numa formacao que reconhece a importanciados afetos na construcao do conhecimento, entre outros poss iveis.

    Esse processo, no entanto, nao ocorre em qualquer situacao que envolva filrnese espectadores. E preciso que haja condicoes para que 0 contato entre os sujeitoseo cinema possa se constituir numa feliz e fecunda experiencia. Alern da escolhados fi lmes e do tipo de cinema com os quais trabalhar , como mencionado acima,a frequencia com que as pessoas tern oportunidade de vivenciar essa experien-cia e sem duvida fundamental para que elas desenvolvam habil idades que lhespermitam apreciar, com autonomia, com propriedade a amplitude, as narrativascinernatograficas. Se a educacao escolar pretende formar criancas, adolescentes ejovens capazes de compreender e apreciar 0 cinema e outros produtos audiovisuais,e fundamental que os professores, como mediadores preferenciais desse processopedagogico, escolham filmes e atividades que despertem sensacoes, sentimentose pensamentos, afetos e express ividades inusitados nos educandos. E que eles eelas sejam estimulados a manifestar como percebem e apreendem essa situacao.o cinema pode ser experimentado de duas mane iras. A prime i ra delas e aexibicao e 0 debate de filmes na sala de aula, nos recreios, nos encont ros ent reprofessores e pais ou com a comunidade em geral. Apresenta-se nessa atividadeapossibilidade de exercitar aomaximo a inventividade, a par tir do ato de ass is tiraos filmes pensando nas al ternativas de outros finais, de novos personagens eformas de se contar a historia e realizar 0 filme. Busca-se desse modo estimularo abandono de uma atitude passiva por parte do espectador, buscando seu en-gajamento numa outra maneira de ver filmes.

    Visto por outro angulo, 0 cinema na escola pode ser usado e comeca a aparecerde duas maneiras ou em duas direcoes bas icas , A primeira delas e a exibicao e 0

    I. bate de filmes, Nesse caso, e importante pensarmos e trabalharmos 0 cineman a somente como recurso dida tico para ensinar conteudos, mas como umalin uagem, com um dispos it ivo que permite 0 desenvolvimento dos afetos, daIi .ns lbil idade, das ernocoes, da experiencia estet ica, em suma. Nessa direcaocxistcrn atividades e projetos, e outros devem ser criados e imaginados, a seremI' -nlizados na escola como urn todo, na sala de aula, com os educandos, assimrumo propostas de formacao e vivencias culturais de professores com relacao10 cin .rna. P dem-se realizar, por exernplo, atividades de exibicao de filmes ed IHlIIMIi( o d . bons f ilmes, da sala de aula aos recreios , dos encontros entre pro-i l" ,I ,OII 'S :lOS ' 11 ontro com os pais e a comunidade em geral.

    l Jill 1 N - gunda rnan e i ra OLI lima segunda direcao pela qual 0 cinema estaria bem1111111 IlIln 1 1;1 (', l (JIll scria ,\I' '.1111,\'110 d(' cria {) s f fimi as, d p qu nas producoes

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    ou exercicios cinematograficos feitos pelos proprios educandos e educadores.Ha proje tos e atividades nessa direcao, de forma sistematica e coletiva oude modo mais informal e individualizado, que tern mostrado suas inumerasposs ibil idades e importancia para as criancas, os adolescentes e os jovens . Enos dias atuais esses exper imentos se tornaram mais faceis de ser realizados,pois um celula r que seja ou um modesto aparelho de fi lmagem digital podeassegurar sua realizacao,

    No caso da producao filmica, a escola estar ia oferecendo aos educandosoportunidades para conhecer um pouco mais alinguagem do cinema e tambempara utiliza-la como meio de expressao.o t rabalho com cinema na escola, seja como exibicao e lei tura f ilmica, sejacomo realizacao de exercicios de criacao filmica, sao propostas que reunern,em ultima instancia, 0 aprender e ens inar e 0 ensinar aprendendo, pos to que oseducadores tambern aprendem e deverao aprender a coordenar e desenvolveresses tipos de projeto e trabalho. Teremos, assim, uma comunidade de aprendi-zagem e de aprendentes em torno do cinema.

    A exibicao de bons filmes e os exercicios de producao filmica sao atividadesque podem se constituir em uma novidade positiva para 0 curriculo escolar seconseguirem despertar 0 espanto e,dessa forma, est imular os mecanismos queabrem asportas do corpo e da mente, das emocoes e das racionalidades humanaspara 0 novo, 0 desconhecido, 0 que foge asnossas praticas habituais em termosde con sumo de filmes.

    A escola e lugar privilegiado para essas acoes desbravadoras, porque para mui-tas criancas ejovens e 0 unico espaco em que des podem ser estimulados a assistira f ilmes que nao sejarn apenas voltados para 0 entretenimento como consumorapido.voltados para 0 entretenimento como consumo rapido.

    Por meio do cinema, as criancas, os adolescentes e os jovens poderao seexpressar e dizer sobre si mesmos, sobre 0 mundo daqui e de acola, sobre osconhecimentos, sobre seus estudos e aprendizagens usando a camera, 0 olharfflmico, 0 angulo, a luz e a sombra, inventando cinema na escola. Fazendo artena escola, como nos lembra Fresquet (2007).

    Em uma escola prenhe de dificuldades para setornar realmente significativapara as novas geracoes, para os jovens, sao necessar ias mudancas, que podemvir por meio de a tividades como trabalbo com cinema para exibicao e debateou exercicios de realizacao filmica pelos proprios educandos e tambern peloseducadores. Sabe-se que essas mudancas exigem uma nova ati tude dos educa-dores, mas sem ela nenhuma transforrnacao na escola sera possivel, uma vez quesabemos que os professores sao a chave. Os mestres e asmestras sao essenciaispara que ascoisas acontecam na escola.

    o

    A escola deve se preocupar em proporcionar a seus educandos a oportuni-dade desse fel iz encontro com a arte, mesmo que isso exija uma organizacaodiferenciada de tempos, de espacos, de organizacao do trabalho. Mesmo que issoexija novos tipos de atividade, de projeto, de relacao com 0 conhecimento, com 0saber, mudancas hoje tao necessaries em uma escola prenhe de dificuldades parasetornar realmente significativa para as novas geracoes, para osjovens, sobre-tudo. Mesmo que tudo isso exija uma ati tude e novos esforcos dos educadores,uma vez que sabemos que os profess ores sao a chave. Os mestres e as mestrassao essenciais para fazer acontecer uma coisa e outra na escola: seja 0 trabalhocom cinema para exibicao e debate, como parte dos processos educativos, sejacomo exercicios de realizacao filmica dos proprios educandos e educadores.

    Os professores nao precisam temer 0 risco de trabalhar pedagogicamen-te com fi lmes que nao sao costumeiramente exibidos na TV ou divulgadoscom insistencia por meio da propaganda. Pelo contrar io , essa opcao deve sercomemorada e encarada como uma chance para que os aJunos conhecambelos filmes, a lguns deles fe itos aqui no Brasil, mas pouco conhecidos oudesconhecidos , simplesmente porque nao foram feitos pela grande industriacinematografica e, por isso, seus realizadores nao tern como inves tir em pu-bl icidade na mesma proporcao que os blockbuste rs. E tambern ha os fi1mesmais antigos, mas ainda muito valiosos. Obras que sao prec iosas nao so por-que ajudam a formar espectadores agudos, capazes perceber detalhes de umfilme, compreender suas mensagens, mas principalmente porque sao capazesde emocionar 0 espectador.

    Ainda e preciso insistir, que quando setrata de planejar uma atividades comIllmes, e desejavel que 0 professor continue a tomar certos cuidados como 0 den sist ir previamente a peliculas antes de exibi-las aos seus alunos, mas mais doque isso os docentes devem inves tir no tipo de obra escolhida. Quando se tratade ducar , e preciso que haja uma preocupac;:ao dos profess ores em proporcionar[lOS alunos e a s imesmos a oportunidade de vivenciar exper iencias diversas, deumpliar suas possibilidades de escolba e vivencias. Atitudes como essa valern1110is d que ser um erudito em cultura cinematografica.

    Na r alizacao de pequenas criacoes f llmicas, de igual forma, mesmo que osdOl ' ' Il l' s nao tenham formacao espedfica em cinema, eles poderao iniciar-se11111 poucc n ssa artes, aprendendo junto com os educandos, aprendendo noIII()( e ss o rn 'S1110 pegar a camera, delancar 0 olhar, de registrar, de editar. Nadatil" 0 " um S 'gr do ou uma capacidade para poucos iluminados . Ao contrario,111110 p od 'l 11 f a> '.'I' SLlaS pequel1as reali7.ac;:os com cinema, pois nao e trataIi, 1111111,11 )ll'ilil ks 'in .a sl as , m :.1 S de po rilhllll:lI' lima prim 'ira al roxima ao

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    alem de ass is tir a f ilmes inteiros ou em partes, cur tas, longas e media metrageme discutir sobre eles, nossas criancas ejovens puderem fazer pequenas filmagens.

    Todos os pro fesso res e professoras que se dispuserem a proporc ionar aoseducandos essas experiencias devem faze-lo, nao e preciso ser um especialistaem cinema. Na conducao de t rabalhos como esses, 0 que importa, em relacaoao docente , e a di sposicao de se arri scar a exibi r, comenta r e ap rofundar umaref lexao sobre f ilmes, sem temeridade, mesmo que para 0 proprio docente sejauma novidade 0 contato com 0 cinema de criacao e com a filmagem.

    Nao se trata, tambern, de abandonar a exigencia de que 0 professor deva as-sistir previamente aos filmes antes de exibi-los aos seus alunos, mas a novidadeem questao esta no t ipo de obra escolhida, que talvez nao se ja conhecida peloprofessor, cujos interesses mais especificos podem estar voltados para outros earn-pos de atividade humana. As pessoas tern interesses e gostos diferenciados, mas,quando setrata de educar, epreciso que haja uma preocupacao dos profess ores emproporcionar aos alunos e a simesmos a oportunidade de vivenciar experienciasdiversas, de ampliar suas possibilidades de escolha e vivencias, de educandos e deeducadores. Enfim, 0 desej o e a coragem de se aproximar da arte pelo cinema ea disposicao para criar uma atmosfera favoravel para a apreciacao dos f ilmes naescola serao mais valiosos para 0 sucesso dessa atividade do que 0 conhecimentoespecializado, 0 dorninio completo dos codigos, da linguagem cinematognifica.

    Reafirmarmos que 0 desejo e a coragem de se aproximar da arte pelo ci-nema e a disposicao para criar uma atmosfera favorave l para a apreciacao dosf ilmes na escola serao mais valiosos para 0 sucesso dessa atividade do que 0conhecimento especializado, 0 dorninio completo dos codigos, da linguagemcinematografica.

    Assim tao importante quanta a vontade de se tornar um espectador maispoderoso e de contagiar os educandos com esse desejo e a forma como sedara 0 contato desses sujei tos com os filmes na escolas. A organizacao dessesmomentos comeca com a escolha criteriosa dos filmes, que precisa contemplarobras com valor artistico, mas tambern que reflitam a diversidade cultural exis-tente na Humanidade. Uma boa selecao deve con tar com titulos provenientesde paises diferentes, que expressem a cultura e os pon tos de v ista de variadosgrupos humanos que constituem associedades. Ass im os docentes permitiraoque os alunos alarguem sua concepcao demundo e tenham outros parametrespara elaborarern sua cornpreensao sobre s imesmos e a sua realidade.

    E tarnbem recomendavel que, durante e depois da selecao de filmes, ospro-fessores procurem saber mais sobre os filrnes a serem apresentados, por mei dpesquisas e estudos sobre os filrnes, anteriores Iiexibicao na escola, para que stc-jam preparados para debater com os educandos sobre 0filme a que era assi lido

    e tarnbern para fazer uma escolha mais consciente, que atenda aos objet ivos daatividade que eles estao organizando. Uma pesquisa sobre os filmes servira paraque 0proprio professor os aprecie melhor e tambern para que possa problematizara obra, levantando quest6es que ajudem os estudantes a examinarem e comparti-lharem sua impressao sobre a variedade de aspectos que a constituem.

    Nao se pretende, com essa pesquisa , que 0 professor va buscar meios ne-cessarios para explicar os f ilmes aos alunos para que ao final todos saiam comasmesmas conc lus6es. Afinal , sendo um born fi lme, uma obra em aber to e osespectadores sujei tos diferentes entre s i, discentes e docentes uti lizam suas vi-vencias e seus registros culturais para interprets-los, 0 que levara a forrnulacoesdiferenciadas sobre 0 que se viu nas telas, necessariamente. Esse ponto e umadas caracterist icas interessantes das atividades com cinema na escola: elas naoso fazem uma inversao na organizacao dos poderes na sala de aula, t irando, poralguns momentos, 0 professor do centro do palco, no qual esta a tela, levando-opara a mesma posicao de seus alunos, a de espectador. E os signif icados cons-truidos por todos os espectadores, nesse caso, educandos e educadores, sobre aforma e 0 conteudo dos filmes assistidos, sobre a linguagem e a estetica fflmica,sao perpassados pelos seus valores , suas concepcoes de mundo, sendo ass impassiveis de questionamento e abertura.

    Esse, alias, e um ponto fundamental para asatividades com cinema na escola:a possibilidade de se conversar sobre filmes depois de assisti-los. A discus sao eum procedimento absolutamente fundamental, seja qual for 0 objetivo da pro-pos ta, nao soporque a troca de ideias amplia nossa compreensao sobre a forma,o conteudo, a sintaxe e a estetica das obras fflmicas, mas principalmente porqueesse e momenta privilegiado. Nele podem ser postas em questao a compreensao,aleitura e a opiniao dos participantes sobre assituacoes em que estao envolvidase asatitudes das personagens das historias narradas na tela. Essa e a ocasiao emque 0 discurso dos outros envolvidos pode impactar nossas concepcoes sobrea vida, sobre as outras pessoas , sobretudo, favorecendo uma autoavaliacao emr lacao a aspectos de nossa manei ra de pensar e agir no mundo.

    Ressaltamos, ainda, que as aprendizagens e os efeitos das experiencias com' inema no cotidiano escolar nao sao imediatos; ambos serao potencializadoss ih Liverrnais oportunidades de dialogo com outros f ilmes, a contr ibuicaode inforrnacoes adicionais sobre as obras ass is tidas. Sao tambern relevantes asoportunidades de estab J cr relacoes entre 0 que foi percebido nos f ilmes comollll'

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    o cinema na escola do campo: algumas questoes para uma agendaDe forma geral , nas escolas do campo ou em outras delas , a aproximacao, 0

    dialogo e 0 encontro entre a educacao e 0 cinema, embora ja existam, ainda estaopor ser feitos de forma mais plena e fecunda. Apesar de varias escolas eprofessoresusarem filmes em suas aulas e praticas didatico-pedagogicas, 0 cinema aindacarece de uma presenc;:amais viva e vigorosa nas escolas, como as demais artes,mui tas vezes reduz idas as aulas de artes. Ou, no caso do cinema, a exibicao defilmes para 0 ensino de conteudos disciplinares, qual seja, a utilizacao do cinemacomo estrategia pedagogics para 0 ensino de alguns conteudos curriculares.Ass im sendo, impregnar a escola com 0 cinema, ultrapassando 0 seu usa comorecurso didatico, meramente, como sevena maioria dos casos em que 0 cinemaali esta, e uma questao e um caminho a percorrer nao so na escola do campo.

    No entanto, e preciso perguntar mais sobre 0 que pode haver de especificoda escola do campo quanto ao cinema. Em nossos term os: 0 que haveria deespecifico para que 0 cinema ocupe a escola do campo? 0que precisa ser con-sider ado para ocuparmos a escola do campo com 0 cinema de criacao? 0 queprecis a ser observado para seJazendo arte com 0 cinema na escola do campo,no duplo sentido dessa expressao, nos termos de Fresquet (2007).

    Do ponto de vis ta da exibicao e de trabalhos com filmes pensando 0 cine-ma no contexte especif ico da escola do campo tres aspectos se sobressaem. 0primeiro e 0 fa to de que, mais acentuadamente do que nas c idades, se com-pararmos as gran des metropoles, nas quai s a inda ex istem algumas sa las deexibicao de cinema, 0 acesso de criancas ejovens ao cinema de criacao e aindamais dif icil e penoso. Exige, por tanto, um esforco maior dos professores e dasescolas para que nossos educandos possam conhecer essa arte. Nes te sentido,torna-se mais cruc ia l a tarefa da escola e de seus profissionai s no sentido dque somente atraves deles sera possivel 0 acesso dos educandos a esse t ipo decinema. E os proprios profi ssionais da escola das escolas do campo tern maisdif iculdade de acesso a ele.

    Um segundo aspecto a considerar e a questao dos equipamentos e das COI1-dicoes materiais de exibicao de filmes, tanto quanto de exercicio de producaoc inematografica com os educandos, que podera ser tambern mais di fic il nasescolas do campo, em geral mate rialmen te mais precarias do que as outras.Nelas tais equipamentos costumam ser mais escassos e insuficientes. Contudo,as novas possibilidades de distribuicao de filmes como tambem de filmagem,ainda que de qualidade infer ior, seja atraves de celulares , seja de outro dispos it ivos mecanicos ou digitais, sao cada vez maiores. Esse aspecto do trabalhocom cinema nas escolas do campo se inse re no conjun to de out ros preble IWlll

    . . " I i ) 1111ntos didatico-pedag6gicos (bi-11,l.lllvotl S ondi OCS matertats c aos ql It) em geral mais precariosIllInl. 'as, vid otecas, devedetecas, hemerolccas, e C. ,1 Iid d do que nas grandes urbes.11 I '1 l1 i IS 'S olas e suas oca 1 a es 1 d pode ser um espaco de encon-. t '0 de que a esco a 0 campo( ) I .rcciro aspec 0e . de cri _ expandindo-se aos grupos.d d 1 cais com 0 cmema e cnacao.1111us omum a es 0 d d slocalidadeseentornos .Na. dos J'ovens e aosmora ores a1'111111iarcsas cnanc;:ase de oai unidade em geral tenham, 1 e a comunidade ep alS e comI dlld " 6 lim posslVe qu . t bern 0 acesso a um repertorio

    I. d hegar as salas de cmema e amIllllior's 11ances e c , d 1 doras por exemplo, mas no'. ouco mais amplo atraves e oca, ,tll 'l 1111 S Ja LUll p id d Desta maneira, por meio da1 d e deve ser essa oportum a e,1IIIIpoaescoapo e _ enteaescolamasseuentorno,,_ deri impactar nao som 'I I oil,()cinema decnacao po ena id ar na criacao de cineclubes

    1 d 1 localidade Neste senti 0,pens"IIm u nica eesco ar , a ' idade local seria uma iniciativa muitoIIiiies olas, por exemplo, para toda a com~, id ultural da comumdade.11',11111liva para a Vl a c , _ uma agenda que solicita a

    'I 'n is especificidades da escola ~o cand1PolmfiPo~mis e comunidades escolares,[c esf indi iduai s e coletivos ospro ission1111I\\) tee !Drc;:osn Vl " ' d ional e cultural das associac;:oes e, ' ela politica e ucaClOn 'till {)I'g, os e responsavels p _ d imentos sociais de modo geral,t f asda educac;:aoe os mOVlm1111Iudcs represen a rv ,_ d cacao A favor desses esfor -, 0do cinema de criacao na e u v .l'iIi'!\ mnpltarmos 0 espac ld DVDs ao celular e a internet,, ralizado aos Vl eos, aos ,

    I,ll ,1'Htl\, acesso mais gene , f' ilconhecer 0 repertorio de fllmes jad int et rambem ficou mais ac ,1'01111 'io a 111 ern , drc de qualidade do cinemalh os que atendem aos pa oes1'1!)(llIziC\osara esco er 'd's ou longas1 sejarn eles curtas, me ia .,\\11' .Ics 'jamos ver nas esco as, levar 0 cinema para suas praticas,1 \ s dificuldades das escolas do ca_mpoemd dera de nossos protagonismosd de acao que epen era11111'\'1'10 Jmpoemumaagen a 1 ti rganizados movimentosb l' lacoes com osco e lVOS0 't ll 'l ,d ll 'ndores em uscar ar icu "r , 'I'd de um lado e de outro1 , d soc iedade C1Vlorgamza a,II( Ills' outros co etrvos a , " dos Estados da Uniao, noI' ' mental dos mumclplOS, ,1111"'111'I lio po inca governa , It' que atentem para a impor-1,,,1do d ' viabilizar politicas educatlvas e cu urais

    I 111 III d 'Hsaqllestao, d rupos oprimidos ligados aot sem-terra e to os os gI'n l' . .rto que, en re os , ematografia brasileira temldos nas suas lu tas como a em1 11 1 1' 11 1\ , S .mpre aguern " ue conduzam a melhores

    t _0 fal tarao protagomsmos q11'1'.Inltio 111par e, na e sendo sem-terra, sao, 1 especialmente para os qu ,tiltlll puru 0 [nema na esco a,""llltt'lll s'I:n-tela,

    II' (r )comec;ar:a terra e seus personagens no cinema brasileirolit" IHII" omeco ou recorneco para os trabalhos co~ cinema n:e :: ::l~:

    , .. .0 de devedetecas com filmes que discutem a qt i l l IIIII'PO, ,\ 11:1.,ocinema ocupaa escola docampo 43

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    11'1111,H'lIS pCl'sonagens, sua vida, suas lutas, suas Iidas. A cinematografia bra-,~III'':1 ~ Iar ta nessa direcao e poderia constituir uma boa par te das videotecasl' d -v xletecas de nossas escoJas do campo. Fazendo uma varredura geral nessa( llrnografta, mesmo num pais de sem-terra, de sem-tetos e sem-telas , nao es-tamos sem filmes. Ao contrar io, algwnas obras da producao cinernatograficabrasileira precisam integrar 0 reper torio dos trabaJhos com cinema em todasas escolas, nas do campo em especial. Nes te sentido, relembramos aqui algunsdeles, conforme uma cronologia basica, Podemos escolher dentre os t itulosdisponiveis a partir de questionamentos que se colocam para nos espectadores.Que filmes de f iccao ou documentar io nos ajudam a pensar 0 cinema brasileiroesua relacao com a situacao do campo? Como 0 cinema retrata 0 homem rural,suas lutas, suas conquistas? Qual imagem do sertanejo, camp ones e trabalhadorrural sao apresentadas em nossas telas? Essas poder iam ser algumas questoes aserem debatidas e trabalhadas nas escolas do campo a par tir do nosso cinema.

    Numa visao panoramica e introdutoria a respeito, em um primeiro momento,essa visao foi retratada pelo caipira Genesio Arruda no filme Voca \7i io Irres ist ive l(1924); em seguida a f igura de Mazzaropi sempre as turras com a urbanidadee em sua "apatia" no campo, representada pelo personagem do Ieca Tatu, cujarepresentacao ernblematica do homem do campo merece ser conhecida e de-batida , assim como suas ideias sobre os homens chegados do meio rural quese perdem na cidade grande, normalmente, se marginalizando, mas tarnbernresistindo bravamente a esse processo.

    G an ga b ru ta (1933), de Humberto Mauro, inicia urn novo olhar , bucolicoe lirico sobre 0 campo reforcado em C an to d a s au da de (1953) e nos C an to s d etraba lho (1955) e que sera 0 ponto de partida para se pensar 0 homem brasi-l eiro, As primei ras imagens fortes da saida e vida dura do homem do campoaparecem em Aruanda (1959), de Linduarte Noronha, e rnarcarao fortementeo docurnentario brasileiro.

    Na tentativa de conhecer 0 mundo rural , seus costumes, suas lutas, temosa poetica da crueldade em V id a s s ec a s (1964) de Nelson Pereira dos Santos. AIuta das Ligas Camponesas e a vida de Ioao Pedro Teixeira, l ider campones daParaiba, assass inado em 1962, esta apresentada e ilustrada, por sua vez, na sagade C ab ra m arc ad o p ara m orrer (1964-1984), de Eduardo Coutinho.

    A alienacao religiosa eoutras Iutas politicas tern, tambern, representacao noscamponeses Manoel e Rosa e no Beato Sebastiao em Deus e 0D ia bo na Terra doSo l (1964), de Glauber Rocha, que continua na lei tura de Anselmo Duarte, emV er ed a d a s al va c ao (1965), de Jorge Andrade.

    Passando aoutro tipo de problema tambem ligado a terra, Wladimir Curvnlhodescreve 0 trabalho bracal nos garimpos, em A pedro da riqu 'Z(/ (I ')'/1.) 1 ' 1 / 1 IlIlIrI

    da te rra , em ba ixo do c eu (1982), de Walter Lima [r., retrata a luta nas favelas doRio de Janeiro e nas regioes perifericas de Curit iba, Parana, para criar solucoesespontaneas de habitacao. D e P ern am bu co fa la nd o p ara 0 mundo (1982) retomado movimento sindical rural pernambucano, interrompido pelo movimento de1964. M ul he re s d a te rr a (1985), de Marlene Franca, apresenta a luta das mulheresboias-frias na regiao de Araraquara. Caldeiriio d e S an ta C ru z d o D eser to (1986)conta a hi st6ria da comunidade de Caldei rao que se desenvolveu em moldessocialistas, sob a orientacao do beato Jose Lourenco e foi destruida pela policiacearense em 1936, 0 que ocasionou a morte de mais de dois mi l camponeses.Peter e Marta Overbeck documentaram a situacao dos boias-fr ias, na regiao dePiracicaba, em A c la ss e q u e s ab ra (1986), mostrando diferentes aspectos do trabalhodos deserdados do campo. A d as se r oc ei ra (1986), de Berenice Mendes, retrata aluta dos trabalhadores rurais do Parana. Q uem m ato u E lia s Zi? (1986), de MuriloSantos, fala sobre 0 assassinato de urn lider campones no interior do Maranhao.A i gr ej a d os o pr im id os (1986), de Jorge Bodansky, relata a luta dos trabalhado-res rurais de Conceicao do Araguaia. T er ra p ar a R os e (1987), de Tete Moraes,represent a a ocupacao da fazenda Annoni, ocorrida em 1985, por trabalhadoresrura is sem-te rra do Rio Grande do SuI e retomado em 0 S on ho d e R ose (1997),discutindo 0 legado de Rose e sua [mportancia na criacao do MST. U m a q u es ti iod e t er ra (1988), de Manfredo Caldas, aborda a ocupacao de terras improdutivaspor fazendeiros latifundiarios, destinando-as a criacao de gado, em detrimento dostradicionais moradores na regiao. N a t er ra d ev a st ad a (1988), de Peter Overback,documenta 0 assassinate do padre [osimo Moraes Tavares. Mais q ue a t er ra (1990),de Eliseu Ewald, focaliza as invasoes de terras irnprodutivas em prol da ReformaAgraria nas fronteiras da Amazonia e os problemas sociais, economicos epoliticosdecorrentes dessas invasoes. Canudos (1997) , de Sergio Rezende, faz da saga deConselheiro run espetaculo, A s t er ra s d o Bern- V ini (2006), de Alexandre Rampazzo,trata da esperanca de milhares de imigrantes e dos confli tos na luta pela terra naAmazonia. 0 documentario Baga\70 (2006), de Maria Luisa Mendonca e TiagoThorlby, aborda ascondicoes dos trabalhadores nas usinas de cana-de-ayucar, emPernambuco. E ss e h o me m v ai m or re r: u m fa ro es te c ab oc lo (2008), de Emilio Gallo,traca urn painel da violencia no sul do Para.

    E, alargando urn pouco mais a problematica social brasi leira, para alern dasque toes da terra, ate quando veremos aquelas fortes imagens de Sergio Bianchi,'111 Croni amentc invlav / (2001), painel reflexive sobre nossa cultura e nossasIlIl:1l1, ou nl ndll ( ,' rl l' rl /J t r ( (}()l)) , d Jose Padilha, que apresenta uma triste situacaodu I l li S ( '1 1 i1 1 1 ,1 1 1 1, , 11 1 1 " dl1lll '"I!"lIt'l)~ cia ( 'ITa?

    ' l't'lldn 11'1111'~ ( II \ 'l lI il ll Il Il 'l ll lI " l 'I,lcl1lhr

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    devera selimitar a ternatica da terra, resta conduir estas reflexoes que esperamospossam abrir-se a outras.

    E como plantar sementes ...o cinema de criacao e abertura, e infini to. Ne le estao contidas inumeras

    possibilidades, horizontes, perspectivas, tal como na educacao, Da mesma for-ma que em cada crianca, adolescente e jovem ha uma vida que desabrocha deforma unica, num conjunto de devires, para a qual os conhecimentos cientificos,a literatura, a filosofia poderao contribuir, 0 mesmo se passa com as artes. Edentre elas, com 0 c inema. Assim como uma boa aula, urn born livro, uma boaexcursao e outras atividades podem conduzir a formacao humana, ao esplendorhumane, 0 mesmo ocorre com 0 born cinema.o cinema de criacao e expressao, e l inguagem, e manifestacao estet ica, Euma forma de dizer a vida, de falar e mostrar a vida. E uma forma particularde dizer 0 mundo, de dizer do mundo, de expressar e de inventar 0 mundo. 0cinema e narra tiva. Nele estao "sentimentos do mundo', aproximando-se daexpressao do poeta. Por i sso e muito mais deve estar presente nos processoseducativos escolares.

    A imagem em movimento, a fotografia, 0 jogo deluz e sombra, a montagem,os planes e angulos, as sequenc ias, os cortes fazem do c inema uma modernaforma de expressao e de criacao estet ica desde a sua invencao, Por isso e muitomais, 0 cinema de criacao deve ocupar 0 territorio da escola, seus varies tempose espacos, a sala de aula e para alern dela. Porque esse tipo de cinema convocae interpela asnossas formas de olhar , com 0 olhar de quem olha com a camera,com a lente, focando e desfocando, registrando e imaginando. Essa arte nosconvida a deslocar nosso o~ar, a ver de out ro jeito, em pequenos angulos e emgrandes planos, no colorido e no preto e branco, no que esta ernbacado, fora defoco e no que esta claro, no que se esconde e no que salta aos olhos.o cinema que nao e puro consumo, mercado e industria cultural, inventae reinventa, acolhe e interroga, apresenta e representa 0 mundo, 0 humano, 0desumano, asculturas, a Hist6r ia e ashistor ias, 0 cinema pensa enos fazpensar.o cinema e a lteridade. 0 c inema de criacao e tudo isso e muito mais, por issodeve estar na escola, em todas elas, como nas escolas do campo. E ali estando, ecomo plantar sementes. Pede cuidado, delicadeza e atencao desde a escolha dosf ilmes ate as maneiras de conternpla-lo e recria- lo para que possa f lorescer embeleza e luminosidade. Da mesma forma que a terra e a semente se encontrame fecundam, 0 cinema e a educacao do campo, em companhia urn do outro,podem dar belos frutos na formacao, nos viveres e nas his torias de nossas crian-cas , adolescentes ejovens do campo. Esse e 0 110SS0 desejo, esse e 0 nosso lab r.

    ReferenciasBERGALA, Alain. A hip6tese-cinema. Rio de Janeiro: Booklink e CINEAD/UFRJ, 2~08.DUARTE, Rosalia. Cinema &educacao. refletindo sobre cinema e educa~ao. Belo Horizonte:Autenttca, 2002. E CDUARTE, Rosalia. Pedagogias da imagem cinematografica, Anais do III SBC, anoas,agosto de 2008. .d P "ncia de aprender com 0 cmema.FRESQUET, Adriana. Imagens do desapren er: urna ex eri eRio de Janeiro: UFRJ, 2007. .LOPES, Jose de Sousa Miguel; TEIXEIRA, Ines Assuncao de Castro (Orgs.). A escola val aocinema. Belo Horizonte: Autentica, 2008.TEIXEIRA, Ines A. C. 0 que nos ret em aqui: 0 cinema interrog~ a,docenci~. ~n: DALB~N,

    . . LEAL, 1.XV ENDIPE - Encontro Nacional de Didatica e Pratica de=:~O'l~I~:;~l,:~encias e tensoes no campo dajormaciio e do trabalho docente. Belo Honzonte:Autentica/UFMG,2010. .. _. 2TOLENTINO, Celia Aparecida F. 0 rural no cinema hrasileiro. Sao Paulo. UNESP, 200 .