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O choque do petróleo ....e suas consequências UFABC julho 2014

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O choque do petróleo

....e suas consequências

UFABC julho 2014

Os primeiros anos da Opep

• Governos nacionais e empresas do “Big Oil” não deram importância à Opep no início

• Dificuldades da Opep: • Arábia Saudita e Irã rejeitavam aumento

unilateral de preços • Oferta de petróleo maior que a demanda:

fracasso da tentativa de embargo/1967 • Controle do negócio pelas transnacionais • Um marco: expropriação de 99,5 da concessão da

IPC no Iraque (1961)

Novos fatores entram em cena

• Empresas “independentes” e a italiana ENI

• Vitória da Líbia na renegociação: 55% (1970)

• (Antecedente: ENI no Irã: 25% x 75% NIOC)

• Primeiras nacionalizações: Argélia (1971), Iraque (1972) e Líbia (1973)

• Explosão do consumo nos países ricos

• Reservas EUA atingem limite (pico em 1970)

• Acirramento do conflito árabe-israelense

• Arábia Saudita assume 20% do capital da Aramco

O grande choque de 1973

• Detonador: Guerra de Outubro (Yom Kippur)

• Países da Opep do Golfo Pérsico: 70%: de US$ 3,01 p/ 5,12

• Países árabes da Opep: embargo aos aliados de Israel (EUA, Holanda,África do Sul...)

• Corte de 25% na produção mais corte de 5% mensais até saída de Israel dos territ. Ocupados

• Novo aumento em dezembro: o preço do barril sobe para US$ 11,65

Vulnerabilidade do “Ocidente”

• Aumento das importações EUA: de 8% (1970) para 32% (1973)

• EUA ultrapassam Japão como o > importador • Disputa entre EUA e países europeus para

garantir acesso aos suprimentos do OM • Escassez, inflação (12%-(EUA), recessão (- 2%),

desemprego (7,2%) • Perda de controle do mercado petroleiro pelos

EUA e “Sete Irmãs” • Forte impacto s/ Terceiro Mundo não petroleiro

O apogeu dos países da Opep

• Renda conjunta: de US$ 23 bilhões (1972) para US$ 140 bilhões (1977)

• Arábia Saudita (reservas $$): de 3,9 bi (1973) para 14,3 bi (1974) e 49,6 bi (1976)

• Nacionalização por etapas (p.130) • Aumento da influência política dos países árabes:

terceiro-mundismo, “Nova Ordem Econômica Internacional”

• Isolamento de Israel, fortalecimento da Organização para a Libertação da Palestina

O Império absorve o choque

• Inflação do dólar

• Investimentos financeiros e compra de ativos nos EUA, Europa e Japão (petrodólares)

• Criação da Agência Internacional de Energia

• Investimentos em novos campos petrolíferos (Mar do Norte, Golfo do México, África)

• Construção de usinas nucleares

• Redução do consumo (Europa, Japão)

Militarização da energia: o “direito ao petróleo”

• Antecedentes: crise do Irã. Eisenhower: “direitos ocidentais” no Oriente Médio (1957)

• Henry Kissinger: “não estou dizendo que não existe nenhuma circunstância em que não poderíamos usar a força.”

• ...”Mas uma coisa é usá-la numa disputa por preço e outra coisa é numa situação real de estrangulamento do mundo industrializado.”

• (...) Quero deixar claro, entretanto, que o uso da força somente seria considerada em uma grave emergência.”

• Mais tarde: “Nenhum país pode anunciar que permitirá que o asfixiem sem reagir.”

“O petróleo pela força”

• Planos de contingência

• Oil Fields as Military Objectives – a Feasibility Study (21.8.75)

• 1) Tomada das instações deve ocorrer sem que elas sofram estragos graves

• 2) A união Soviética deve se abster de intervir

• “Combinará altos custos com altos riscos”...

E o que diz a ONU?

• Carta dos Direitos e Deveres Econômicos:

• Artigo 1: Todo país tem direito à sua “soberania total e permanente, o que inclui a posse, uso e acesso à sua riqueza, recursos naturais e atividades econômicas.”

• Art. 32: Nenhum Estado poderá usar medidas econômicas, políticas ou de qualquer outro tipo para coagir outro Estado com o propósito de obter dele a renúncia ao exercício dos seus direitos soberanos.”

O 2ºchoque do petróleo

• 1978/79: Revolução Iraniana (aiatolá Khoimeini) Greve dos petroleiros iranianos reduz a produção de 6,5 mbd p/ 1,5 mbd

• Queda de apenas 4% na oferta global é suficiente para provocar pânico no mercado

• Filas nos postos de gasolina // renda adicional para os países exportadores // crise se agrava no Brasil e demais países periféricos ñ-petroleiros

• Janeiro/1979: o xá Reza Pahlevi foge do Irã • Crise dos reféns na embaixada-EUA: 444 dias

O nascimento de uma indústria

• Primeiro poço: 1859, Titusville (Edwin Drake)

• 1863: John Rockefeller cria sua 1ª refinaria

• 1870: Standard Oil Company

• Em 1890, a Standard Oil é a maior empresa do mundo: 100 mil empregados, 20 mil poços de petróleo e 6.500 km de oleodutos

• Lei Anti-Trustes Sherman (1890)

• 1911: dissolução em 34 empresas separadas

Outros marcos importantes

• 1899: invenção da lâmpada elétrica

• Descobertas de petróleo em Baku (Rússia) e nas Índias Orientais Holandesas (Indonésia)

• 1892: Marcus Samuel (Shell) controla 92% do petróleo que passa pelo Canal de Suex

• Samuel + Henri Deterding = Royal Dutch Shell

• 1909: Anglo-Persian assume as reservas do Irã

• 1912: Turkish Petroleum Company, com 75% de capital inglês e 25% alemão

1ª Guerra Mundial

• 1912: Churchill: mudança da frota britânica do carvão para o petróleo

• 1914/18: novas máquinas, novo combustível

• 1918: “A causa aliada flutuou para a vitória sobre uma onda de petróleo” (Lord Curzon)

• Pós-Guerra: Grã-Bretanha controla o petróleo do antigo Império Otomano; Compagnie Française des Pétroles no TPC com 25%

Empresas americanas ingressam no Oriente Médio

• Standard Oil da Califórnia (atual Chevron), Gulf e Texaco (as principais)

• Foco: Kuwait e Bahrein

• Objetivos: a) ampliar participação no mercado internacional de combustíveis; b) economizar as reservas dos EUA

• 1927: petróleo jorra em Mossul (Iraque)

• 1918: Exxon e Mobil na IPC (23,5% no total), com Anglo-Persian, Shell e CFP (5% Gulbenkian)

O cartel do Big Oil (Sete Irmãs)

• 1927/28: Acordo da Linha Vermelha: decisões tomadas em conjunto sobre investimentos, produção, concessões e preços; sistema de cotas em todos os mercados consumidores

A 2ª Guerra Mundial

• Objetivo alemão na invasão da URSS: Baku

• Fator no ataque japonês a Pearl Harbor

• Desenlace da guerra: Alemanha e Japão literalmente “sem gás”

• Forte participação das reservas dos EUA, México e Venezuela no esforço aliado

• Pós-Guerra: petróleo barato do Oriente Médio abastece a recuperação europeia e japonesa

Lucros “além dos sonhos da avareza”

• Anos 40/50: tempos áureos das Sete Irmãs

• Petróleo saudita em 1945:

US$ 0,10 – custo de produção

US$ 0,16 – royalties à Casa Real

US$ 1,05 – preço mínimo de venda (crude oil)

Nacionalismo nascente

• 1948: Acordo 50/50 (Venezuela) • Crise iraniana: recusa da Anglo-Iranian em aceitar

a divisão da renda petroleira em 50/50 (Lucros da empresa entre 1945/50: US$ 250

milhões, enquanto o Irã ficou com US$ 90 mi) - 1951: Mossadegh nacionaliza o petróleo Resposta:boicote internacional de consumidores 1953: golpe de Estade (CIA) derruba Mossadegh e

instala ditadura do xá Reza Pahlevi – volta dos britânicos e ingresso das empresas dos EUA no Irã

Nacionalismo se fortalece

• 1953: Nasser assume o poder no Egito

• 1956:Conferência de Bandung (não-alinhados)

• 1960: fundação da Opep (Bagdá): Iraque, Irã, Arábia Saudita, Kuwait e Venezuela

• Novos atores desafiam as 7 Irmãs: Occidental e ENI ingressam na Líbia, com + de 50% (1972)

O Choque do Petróleo

• Outubro de 1973: Guerra do Yom Kuppur

• Embargo aos EUA e países europeus

• Alta inicial de 70%, que acaba quadruplicando o preço em dois meses

• Impacto devastador nos países desenvolvidos e nos importadores do Terceiro Mundo

• Maior transferência de renda da história

• Receitas agregadas dos países da Opep:

• 14 bi (1972), 23 bi (1973) e 96 bi (1974)

Efeitos do Choque do Petróleo

• Assinalou dependência dos países capitalistas desenvolvidos /suprimentos do Oriente Médio

• Mostrou vulnerabilidade energética dos EUA

• Mudança na correlação de forças em favor dos exportadores e em especial dos países árabes

• Crise nos países consumidores pobres

• Nacionalização do petróleo nos países exportadores

• Fortalecimento da URSS no cenário econômico

Depois do Choque do Petróleo

• Reciclagem dos lucros do países da Opep: o fenômeno dos petrodólares

• Inflação nos países centrais • Criação da Agência Internacional de Energia • Políticas de redução do consumo de petróleo • Aumento da carga fiscal sobre os combustíveis (Europa

e Japão) • Busca de novas áreas produtoras (Mar do Norte, Golfo

do México) • Diversificação das fontes de energia (nuclear, gás

natural, álcool/Brasil...)

Citação

• “Poucas coisas acontecem na Venezuela que não tenham a ver, direta ou indiretamente, com o petróleo”.

Margarita Lopez-Maya, cientista política

Dados gerais

• Maior reserva da América Latina

• 2ª maior do mundo (incluindo petróleo extrapesado da Bacia do Rio Orenoco)

• Maior exportador latino-americano

• Um dos cinco maiores fornecedores dos EUA

• 90% da receita de exportações

• 50% da arrecadação fiscal

• 30% do PIB

As origens

• Produtos coloniais: cacau, café, gado

• Primeiro campo de petróleo: 1913

• Início das exportações: 1918

Contexto:

Ditadura de Juan Vicente Gómez (1905-1935)

Uma relação neocolonial

• Contratos de concessão e a Lei de Hidrocarbonetos (1922) elaborados pelos advogadas das empresas petroleiras:

• Shell e Standard Oil (depois: Jersey/Exxon)

• Divisão da receita:

- 10% (ou menos): royalties (para o Estado)

- 90% (ou mais): lucros (para as empresas)

Documento

• Revista World Petroleum escreveu em 1930:

• “Probably nowhere else do oil companies enjoy advantadges equal to or greater than those which the government of Venezuela grants them for the purpose of stimulating operations.”

Probably nowhere else do oil companies enjoy advantadges equal to or greater than those which the government of Venezuela grants them for the purpose of stimulating operations

O boom da década de 1920

• Campos gigantescos no Lago Maracaibo

• Produção salta de

1,4 milhões de barris por ano (1920) para

137 milhões de barris (1927)

- Segundo produtor mundial (depois dos EUA)

- 40% dos lucros mundiais da Shell

Condições internas

• Repressão (Universidade Central de Caracas foi fechada várias vezes...)

• Mais de 80% das terras nas mãos de latifundiários (Gómez um dos principais)

• Sólida aliança entre as classes dominantes internas (burguesia comercial, bancária e latifundiária) e as petroleiras estrangeiras

• População: 3 milhões de habitantes

Coisas começam a mudar

• Morte de Gómez (1935) abre período de ebulição política.

• Nova ditadura: López Contreras(até 1941)

• Movimento democrático, novas lideranças, leis trabalhistas

• Sucessor: Medina Angarita (eleito pelo voto indireto)

Novos rumos

• Medina Angarita surpreende: nova Lei do Petróleo (1943)

• Nacionalização no México (1938): muitos investimentos se deslocam para a Venezuela

• Royalties aumentam para 16,56 (um em cada seis barris pertence ao Estado)

• Novos contratos de concessão: 40 anos

• Obrigação de construir refinarias

Década de 1940

• Fornece mais de 60% do petróleo consumido pelas tropas aliadas na 2ª Guerra Mundial

• Urbanização acelerada

• Criado o Banco Central da Venezuela

• 1945: democratização. O escritor Rómulo Gallegos eleito para a presidência (1947).

• Dois partidos fortes: AD e Copei

• Novas regras para o petróleo: 50%-50%

Ditadura e modernização

• 1948: golpe militar leva ao poder o general Perez Jimenez

• Renda petroleira financia obras faraônicas

• Construção da infra-estrutura nacional: hidrelétricas, siderurgia, petroquímica

• Uma ideia: “semear o petróleo”

• Mas o que se consolida é capitalismo rentístico

Características do rentismo

• Principal fonte de renda: exportação de recursos naturais, sem uma contrapartida de esforços produtivos internos

• “Doença holandesa”: supervalorização da moeda favorece as importações

• Empreendedores domésticos com foco no comércio e nos serviços

• Estado superdimensionado

Um estrutura social específica

• No topo da pirâmide: executivos e gestores a serviço das transnacionais

• Patronato (rural e urbano)

• Elite dirigente: políticos profissionais, altos oficiais militares, tecnocratas etc

• Classe média (funcionários públicos, profissionais liberais)

• Classes populares

O pacto de Punto Fijo

• 1958: queda de Perez Jimenez abre caminho para a democracia

• Um grande acordo: AD, Copei, URD (União Republicana Democrática)

• Partilha do poder (e da renda petroleira)

• Condomínio estatal: repartição de todos os postos do aparelho de Estado

• Neutralização dos conflitos sociais

Enquanto isso, na área do petróleo

• Venezuela é membro fundador da Opep

• Criada a Corporação Venezuelana do Petróleo

• Controle estatal dos gás e derivados

“Venezuela saudita”

• Avalanche dos petrodólares financia tudo

• Remodelação radical da cidade de Caracas

• Classes média e alta: padrão de 1º Mundo

• Melhoria geral das condições sociais, ascensão social em escala limitada

• Tentativa de substituição de importações via financiamento estatal

• Empréstimos internacionais

1976: a nacionalização

• 1975: Carlos Andrés Pérez cria a PDVSA

• 1976: Estatal encampa as 15 concessionárias privadas (entre elas: Exxon, Shell e Mobil)

• A mesma estrutura administrativa é mantida

• Aos poucos: PDVSA ganha mais autonomia em relação ao Estado

A virada da maré

• Década de 1980: declínio dos preços do petróleo

• 1983: crise da dívida: os juros disparam. O presidente Luis Herrera Campins desvaloriza a moeda. Fuga de capitais. Desemprego dispara.

• 1986: contra-choque petroleiro.

• Pacto de Punto Fijo entra em crise.

O que acontece com a PDVSA?

• Na crise, funcionários mais graduados buscam desvincular a empresa do Estado.

• Gestão por critérios privados

• Objetivo: diminuir a participação estatal nos ingressos petroleiros

• “Estado dentro do Estado”

• Aquisição de empresas no exterior, lucros maquiados em investimentos

A era neoliberal

• 1989: Carlos Andrés Pérez volta à presidência, com a promessa de “volta os bons tempos”

• Faz o contrário: acordo com FMI inclui desvalorização da moeda, aumento dos juros, congelamento de salários, fins dos subsídios aos produtos de primeira necessidade

• Resposta: o Caracaço: mais de 3 mil mortos

“Abertura petroleira”

• Abertura das reservas do país a empresas estrangeiras, em troca de royalties muito baixos (16,7% em média)

• Redução do pagamento de royalties da PDVSA ao governo: apenas 1% em alguns casos

• Preparativos para a saída da Opep e para a privatização da PDVSA

• Contexto: privatização geral das estatais

Um cenário de crise

• 1989: PIB de 8,1% negativos, inflação de 81%

• Pobreza: aumento de 15% para 45% (1988-90)

• Descrédito geral dos políticos

• Fim do sistema de Punto Fijo

• Quebra de uma imagem do país, ruptura de um padrão de convivência

• Chávez: rebelião militar em fevereiro de 1992

• Corrupção: Impeachment de CAP em 1993

A indústria da defesa

• Deficiência histórica das FFAA: acesso a armamentos modernos

• Dependência dos EUA no pós-II Guerra Mundial: Acordo Militar (1952)

Década de 90

• No governo FHC, o Brasil aceita a ideia do desarmamento, estimulada pelos EUA.

• Justificativas: inexistência de ameaça política plausível; liberar recursos para programas sociais

• Na prática: sucateamento das FFAA; agenda praticamente limitada às questões salariais e à participação do Brasil em missões da ONU.

TNP + Ministério da Defesa

• Tendência do governo brasileiro a conformar-se às normas e regras internacionais.

• Adesão ao TNP (1998)

• Criação do Ministério da Defesa: articular os atores no campo da defesa nacional, formular política

• “Política de Defesa Nacional” (1996)

1990s: O Brasil na ONU

• Lançamento da candidatura a membro permanente do Conselho de Segurança (1994-governo de Itamar Franco)

• G-4: com Alemanha, Japão e Índia

• Argumento brasileiro: o Conselho deve espelhar as mudanças internacionais; organismo se tornaria mais representativo e, por isso, mais efetivo

• Maior participação nas missões de paz

O foco na Amazônia

• Visão dos estrategistas: eterna fonte de ameaças. (fronteira extremamente porosa...)

• Necessidade de integração/desenvolvimento

• Área ser ocupada pelo poder central: prestação de serviços e integração produtiva

INICIATIVAS

- Transferência do eixo estratégico da fronteira sul para a fronteira norte

Ainda a Amazônia...

• SIVAM: Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia

• SIPAM: Sistema de Proteção da Amazônia

• Rede de radares visando monitorar o espaço aéreo do norte do país. Detecção de queimadas,levantamento de recursos naturais

• Programa Calha Norte: desenvolvimento econômico-social na fronteira norte