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O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO «O CÉREBRO É O HARDWARE DA ALMA» O que é que nos torna diferente das outras pessoas, se todos, de forma geral, temos a mesma estrutura cerebral? É a nossa consciência ou o cérebro onde ela eventualmente habita? Por Ana Basto *

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O funciOnamentO dO cérebrO

«O cérebrO é O hardware

da alma»O que é que nos torna diferente das outras pessoas, se todos, de forma geral, temos a mesma estrutura cerebral? É a nossa consciência ou o cérebro onde ela eventualmente habita?

Por Ana Basto *

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uando se fala em cérebro, surgem de imediato diversos (pré)conceitos.

Associa-se a todas aquelas no-menclaturas técnicas e enfado-nhas de difícil pronunciação. Mas, certamente, já ouviu di-zer: «O cérebro é o hardware da alma». O que lhe proponho neste artigo é uma breve, mas vibrante viagem ao mundo fas-cinante que vive bem dentro de si – A sua Mente.

Na actividade profissional que desempenho – hipnoterapia – são-me colocadas com fre-quência as seguintes questões: «Em estado de transe vou ficar sem consciência?» ou «Irei recordar-me de alguma coisa feita na sessão?». É também muito comum ouvir por parte dos pacientes no final da ses-são: «Estive sempre conscien-te de tudo». O que eu sempre explico é que em estado de transe hipnótico, relaxamos o corpo e acalmamos a mente com o objectivo da nossa aten-ção estar duplamente focada no nosso Eu mais profundo.

Acompanhe-me neste artigo e perceba de que forma esta-mos conscientes durante todo o processo e que isso é a mais-valia do sucesso terapêutico. A prática de hipnose clínica só pode ser aplicada a seres com capacidade cognitiva e, por consequência, na boa re-

lação de sinapses que ocorrem entre neurónios, potenciando conscientemente os processos de cura. A propósito, estudos recentes da Faculdade de Dart-mouth, nos EUA, revelam que é uma rede de neurónios que é responsável pela imaginação. Esta última é, necessariamente, um pré-requisito para se dar o fenómeno hipnótico, que ire-mos abordar com mais detalhe à frente.

Ter consciência de algoMas, antes de tudo, acompa-nhe-me no seguinte raciocí-nio: para termos consciência de algo, primeiro é necessá-rio ter algo para que seja-mos conscientes disso, certo? Apesar de na actualidade não existir conhecimento nem con-cordância sobre como se forma a consciência nos nossos cére-bros, a tecnologia actual já nos permite entrar no cérebro hu-mano de uma pessoa ainda em vida e perceber quais as áreas que estão a ser activadas em di-versos momentos e, podemos perceber que existe imensa

actividade entre os hemisfé-rios denominada por sinapses. Damásio - neurocientista por-tuguês e entusiasta nesta temá-tica, radicado nos EUA desde 1974 e professor na Universi-dade da Califórnia, refere-se à mente consciente com a se-guinte metáfora: «É aquilo que

Q perdemos quando caímos num sono profundo sem sonhos ou quando somos anestesiados de forma geral e é o que recupe-ramos quando acordamos do sono ou da anestesia geral».

Mas, o que é exactamente isso que perdemos? Seguindo os experimentos de Damásio, para perceber isso, primeiro é neces-sário compreender o conceito de mente e só então passar a ter consciência dela. Decerto, pode concordar e fará para si sentido que a informação chega-nos do exterior através dos nossos sen-tidos (visão, audição, olfacto,

gosto e cinestesia –além do tac-to), é recebida por neurónios, e percepcionada por regiões cere-brais que formam os mapas neu-ronais que, por sua vez, formam imagens sensoriais (imagem sensorial é um padrão mental dinâmico, não apenas visual, «com uma estrutura construída com sinais provenientes de cada uma das modalidades senso-riais – visual, auditiva, olfativa, gustatória, e cinestésica») que dão origem a um fluxo deno-minado por MENTE. Segun-do Damásio, «nós não somos apenas expositores passivos desses padrões sensoriais, ou

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...cada um de nós é dono da sua mente e tem a percepção

de si mesmo enquanto ser individual – mente consciente»

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A hipnose clínica e a PNLSendo a hipnose clínica e a PNL (programação neurolinguís-tica) as técnicas de excelência no uso da imaginação como instrumento de terapia, o pressuposto do uso dos processos imaginativos é precisamente a transformação de experiências passadas traumáticas e consequente criação de novos cenários, novas imagens no cérebro com densa carga emocional posi-tiva, de modo a desencadear respostas e estados emocionais também positivas e, em última análise, ‘reprogramar’ a mente para a felicidade. A hipnoterapia bem como a PNL têm inúmeras técnicas que potenciam este pressuposto. A sala do controle da mente é uma delas. É o exemplo de uma excelente técnica usada para ajudar a resolver problemas aditivos, mas sobretudo para fazer a primeira abordagem a pacientes que sofram de stress, ansiedade ou perturbações de pânico. O que se pretende é assemelhar o cérebro a uma sala de controlo com botões, alavancas, potenciómetros e monitores, onde se encontrem todos os processos metabólicos e homeostáticos e que podem ser regulados e controlados a partir de lá, tais como a respiração, controlo de temperatura, ansiedade, sono e outros. É absolutamente fascinante constatar como processos mentais e imaginários podem influenciar directamente o corpo e o comportamento e vice-versa.Esteja consciente! Dentro dessa caixinha que é o cérebro, vive uma mente consciente e nela co-existem caminhos para a doença que são os mesmos para a CURA, e isso é verda-deiramente extraordinário!

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Uma viagem ao mUndo qUe vive dentro de si

...ao recordar informação é como fisicamente ela se repetisse»«

(*) especialista em Hipnose clínica e life coach

em pnl Licenciada em MKT

Clínica Dra Rosa Basto | [email protected]

916 299 580 / 967 130 405 / 933 597 162 / 218 222 403

seja, dessas imagens visuais auditivas e tácteis, nós temos o Self – Eu, que está automa-ticamente nas nossas mentes a todo o momento» e por isso cada um de nós é dono da sua mente e tem a percepção de si mesmo enquanto ser indivi-dual – Mente Consciente. E seguindo esta linha de racio-cínio, O Eu é, em certa medi-da, uma representação de nós mesmos, construído com base em recordações passadas, tudo o que já vivemos e em recordações dos planos que fi-zemos; «é o passado vivido e o futuro antecipado.» (Damá-sio in TED, 2011)

a memória…E, se o leitor está a acompa-nhar-me é porque o fascínio por este tema que está neste preciso momento activo den-tro de si já o deslumbrou e, então, achará incrível o que se segue: O mais admirável é que a partir da memória, po-demos produzir de volta ima-gens sensoriais, precisamente nas mesmas regiões que têm a percepção. Como diz o autor já referenciado, «então pen-sem como maravilhosamente conveniente e preguiçoso o cérebro é. Portanto, capacita certas áreas para a percepção e para a formação de imagens. E

elas são exactamente as mes-mas que vão ser usadas para a formação de imagens quando recordamos informação». Ou seja, ao recordar informa-ção é como fisicamente ela se repetisse. E é tão específico assim, pois existe uma ligação muito forte entre o cérebro e o corpo, ligação essa, feita atra-vés do tronco cerebral.

… e a imaginação«As imagens e os sentimentos são fantasmas, mas fantasmas que habitam o meu mundo subjetivo e o dos meus pa-cientes. Eles são nossos com-panheiros constantes e desejo explicá-los», (Priberam, sobre o imaginário).Para o Priberam, não é possí-vel explicar adequadamente o comportamento ou a lingua-

gem sem recorrer a um mapa, ou seja, a algum tipo de ima-gem. Neste seguimento, evi-denciar que a imaginação é um instrumento de modi-ficação do comportamento atesta ainda mais o seu uso interventivo e estratégico, pois é através dela que pode-mos criar novas imagens com base nas nossas memórias. A imaginação como instrumen-to para a cura é, portanto, reco-nhecida pelo modelo social e comportamental e explicada pela forma como cada um sente a sua realidade, sem que seja necessário recorrer aos níveis muitas vezes redutores da ciência ou a explicações sobrenaturais.Achterberg refere na sua obra A imaginação na cura que «Os cientistas sociais e do comportamento preocu-pam-se enormemente com a enfermidade e não com a doença, com os factores sub-jectivos (ou psicológicos) e com a mudança de compor-tamento. Na literatura sobre o comportamento, a imagina-ção é frequentemente descrita como extremamente eficaz na cura de doenças imaginárias – usando formas de pensamen-to para combater formas de pensamento. Também é co-mum considerar a imaginação

como parte integrante de um mecanismo incluído

na configuração de en-fermidade, a resposta à doença. Não é de sur-preender que o trabalho comportamental com a imaginação focaliza

primariamente as per-turbações mentais.»