o centro educaciona unificado como um fator de centralidade da periferia
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO
PAULO
LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
HENRIQUE MACEDO JUSTINIANO
O CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO COMO UM FATOR DE
CENTRALIDADE DA PERIFERIA
SÃO PAULO – SP
2014
HENRIQUE MACEDO JUSTINIANO
O CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO COMO UM FATOR DE
CENTRALIDADE DA PERIFERIA
Monografia apresentada para a conclusão do curso de
Licenciatura em Geografia do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia de São Paulo.
Colaboração: Professor Me. Marco Antonio Teixeira.
SÃO PAULO
2014
Para meus pais Seu Tião e Dona Léia.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos familiares pelo suporte dado em diversos momentos para a conclusão do
curso. Alexandre e Adriana sempre juntos nas adversidades. Meus sobrinhos Gabriella e
Thiago por cederem o computador quando eu preciso.
Agradeço principalmente ao meu pai Sebastião Rodrigues Justiniano e minha mãe
Leacira Maria Macedo que fizeram e fazem ainda muitos esforços em suas vidas para darem o
máximo possível de bem estar para mim.
Agradeço ao Professor Rodrigo que em conversas no ano de 2009 me indicou o curso
de Geografia do Instituto Federal de São Paulo.
Agradeço ao CEU Pêra Marmelo e CEU Perus pelo acolhimento à pesquisa.
Agradeço a Leda, José Soró e Marcio que me cederam entrevistas significativas para a
pesquisa.
Agradeço aos professores do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia por
fazerem um curso de Geografia muito rico na visão crítica da sociedade em que vivemos,
sendo fundamental uma aula do Professor Fausto no ano de 2010 para a definição do tema de
pesquisa.
Por fim, agradeço a todos(as) amigos e amigas que tive o prazer de conversar durante
esse período do curso sobre os mais diversos assuntos. Galera do CA Estrabão- Gestão Bertha
Becker pela experiência interessante de articulação política. E claro agradecimento especial
pelas conversas filosóficas divertidas que ocorrem invariavelmente com a companheira Deise
Serra e com os camaradas Douglas Faria, Edson Silva da Rocha, Marcio Romeiro e
Regimarcio Pereira.
Os que moram
Do outro lado do muro
Nunca vão saber
O que se passa no subúrbio
Eles te consideram
Um plebeu repugnante
Eles te chamam
De garoto podre
Garotos Podres - Garoto Podre
Aqui não vejo nenhum clube poliesportivo
Pra molecada frequentar, nenhum incentivo
O investimento no lazer é muito escasso
O centro comunitário é um fracasso
Racionais MC’s - Fim de Semana no Parque
RESUMO
No ano de 2003, durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (PT – 2001-2004), a
periferia da cidade de São Paulo obteve um novo equipamento público: o Centro Educacional
Unificado (CEU). Tal equipamento continha num mesmo espaço teatro, piscina, biblioteca,
quadra poliesportiva e sala de informática abertos não só aos alunos ali matriculados, como
também a toda a comunidade sendo alvo de uma grande disputa política na eleição do ano
seguinte, o presente trabalho pretende investigar o significado mais profundo que está contido
neste objeto técnico, que resistiu as gestões conservadoras de José Serra (PSDB – 2005-2006)
e Gilberto Kassab (DEM – 2006 - 2012); foi taxado de concreto pedagógico por um grande
jornal de São Paulo e nos faz questionar quanto à possível resolução da nossa Questão
Periférica e a emergência de uma Centralidade da Periferia.
Palavras- Chave : CEU; Questão periférica; centralidade da periferia; Marta Suplicy;
José Serra.
ABSTRACT
In 2003 during the administration of Mayor Marta Suplicy (PT - 2001-2004) to the
outskirts of São Paulo got a new public facility: Unified Education Center (CEU). Such
equipment contained in the same space theater, swimming pool, library, sports court,
computer room open not only to students enrolled there as well as the entire community.
Target of a major political dispute in the election the following year, this study aims to
investigate the deeper meaning that is contained in this technico object, which withstood the
conservative administrations of José Serra (PSDB - 2005-2006) and Gilberto Kassab (DEM -
2006 - 2012), was labeled a pedagogical concrete for a major newspaper in São Paulo and
makes us wonder about the possible resolution of our Issue Peripheral and the emergence of a
Centrality of the Periphery.
Key-words: CEU, peripheral issue, the centrality of the periphery, Marta Suplicy, José Serra.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................07
1 - O CEU - EM BUSCA DA TOTALIDADE.........................................................09
1.1 Reestruturação Urbana..................................................................................16
1.2 Verticalidades e horizontalidades..................................................................20
1.3 Amplificação Pública......................................................................................22
1.4 Cidade Educadora..........................................................................................24
1.5 Conselho Gestor..............................................................................................27
2 – A QUESTÃO PERIFÉRICA............................................................................30
2.1 Queixadas e o CEU Perus..............................................................................34
CONCLUSÃO – CENTRALIDADE DA PERIFERIA........................................36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................38
APÊNDICE..............................................................................................................40
ANEXOS...................................................................................................................41
7
1 - Introdução
Quando seu objeto de investigação está indelevelmente ligado a sua formação e
construção de sua vida o pesquisador fica instado a vangloriar tal objeto. Porém a insatisfação
leva ao questionamento e assim questões diversas são levantadas para que se tenha uma
compreensão satisfatória do processo social, da luta política, das relações sociais, da
construção e identificação para com o território, palco no qual está colocado o objeto, e no
qual atuam os diversos atores sociais.
Instigado a investigar o porquê de um grande jornal de São Paulo taxar o Centro
Educacional Unificado (CEU) de “Concreto pedagógico”, passamos a investigar o debate
político por detrás de tal equipamento público, localizado em áreas marginalizadas da Cidade
de São Paulo, verdadeiros espaços esquecidos pelo Estado na área social.
Esta questão territorial dos CEUs também causa uma curiosidade epistemológica, no
sentindo de compreender o porquê de tal investimento em uma obra de grande porte,
verdadeiro monumento arquitetônico a contrastar com o entorno autoconstruído, em
localidades periféricas com baixo índice de desenvolvimento humano.
Fazer falar o território1 é uma questão central no trabalho do geógrafo. As disputas
sociais, econômicas, políticas e culturais possuem uma expressão e correlação fortemente
ligada ao território, à produção do espaço, sendo a Cidade de São Paulo dialeticamente
desenvolvida nas contradições que emergem de uma verdadeira disputa entre classes.
Postulamos que existe uma luta de classes, em todos os âmbitos acima citados, que
marca o território de forma ímpar. E o papel dos intelectuais exercido na construção de uma
hegemonia através da disputa política para a classe na qual exercem sua função também é um
ponto de interesse para o entendimento do que é o Projeto CEU.
Assim, a pesquisa é feita através da paixão no sentido gramsciano da palavra2, na
busca de entender a formação periférica de São Paulo e as possíveis saídas para que tal
1 “Quando a gente faz falar o território – que é um trabalho que creio que é o nosso, fazer falar o território, como
os psicólogos fazem falar a alma, como Darcy Ribeiro quis fazer fala o povo, como Celso Furtado quis falar a
economia, o território também pode aparecer como uma voz... O território brasileiro é esquizofrênico, [...]
porque de um lado, recebendo esses insumos de modernização globalitária, ele se fragmenta, se fragiliza; de
outro lado, descobre que esse processo não lhe convém. E talvez lhe falte descobrir qual é a lógica mais geral
que permita a produção de um discurso novo. Primeiro acadêmico, quando possível também de mídia, e depois o
discurso político”(SANTOS in : Entrevista em Caros Amigos,1998). 2 “Paixão no sentido de Gramsci: o de colocar-se em uma posição e, mediante essa colocação e por causa dela,
tentar entender uma tragédia” (OLIVEIRA, 1987,p.9)
“Porque somente a paixão aguça o intelecto e ajuda a tornar mais clara a intuição” (GRAMSCI, 2005, in
SADER. p.35.).
8
periferia construa uma nova centralidade na qual o ser o humano seja o cerne da questão em
detrimento do lucro capitalista.
A busca pela totalidade do fenômeno se faz presente no primeiro capitulo, no qual é
debatido o processo político de execução do Projeto CEU, aas escolhas feitas, mudanças
ocorridas, etc. Uma análise dos conceitos ligados ao nosso objeto técnico também é necessária
para o entendimento das suas características de localização periférica e possível pólo de
desenvolvimento das comunidades na construção de uma Cidade Educadora.
Indo além, postulamos uma por nós chamada Questão Periférica. Por que a periferia
pobre e marginalizada tende a formar um bloco histórico3 com setores conservadores da
cidade de São Paulo? O Projeto CEU poderia ajudar a resolucionar a nossa chamada Questão
Periférica, ou é mesmo um mero concreto pedagógico sem utilidade alguma? Com ajuda do
depoimento de alguns atores sociais possíveis respostas emergem das contradições
apresentadas.
Caminhe conosco nessa investigação. Boa leitura!
3 Uma análise apurada do conceito de Bloco Histórico na obra de Antonio Gramsci pode ser encontrada em
PORTELLI, Hugues. Gramsci e o bloco histórico; tradução de Angelina Peralva. Rio de Janiero, Editora Paz e
Terra,1977
9
1 – O CEU – Em busca da totalidade.
Analisamos nosso objeto técnico, o Centro Educacional Unificado (CEU), através do
olhar do geógrafo Milton Santos e sua análise da forma, função, estrutura e processo, com
vistas a alcançar a totalidade. : “A forma nos apresenta a coisa, o objeto geográfico; sua
função atual nos leva ao processo que lhe deu origem; e este, o processo, nos conduz à
totalidade social, a estrutura social que desencadeou e dá ao objeto uma vida social”
(SANTOS,1988,p.7)
Entendemos que a forma se constitui no objeto técnico intitulado Centro Educacional
Unificado, que com sua arquitetura arrojada, causa um contraste impactante com as casas
autoconstruídas ao redor. Porém, o objeto em si não se explica, é preciso compreender o seu
fundamento dado através das relações sociais.
O objeto apresenta-se com a função de desenvolver o local, o lugar, assim sua forma
(arquitetura arrojada) possui uma função (desenvolvimento local). Devemos então
compreender a estrutura social no qual o equipamento está inserido, investigando o processo
social e suas mudanças produzidas no decorrer do tempo.
Assim, discorremos sobre este fenômeno social buscando abarcar sua totalidade:
Forma, função,estrutura e processo são quatro termos disjuntivos
associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia.
Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas,
do mundo.Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles
constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir
os fenômeno espaciais em totalidade. (SANTOS,1985,p. 52.).
E para buscar tal totalidade, percorremos os processos políticos envolvidos na
execução inicial do Projeto CEU, a historicidade da formação periférica da Cidade de São
Paulo, os conceitos por de trás da confecção do objeto técnico e por fim entrevistas com
aqueles que dão vida ao equipamento, os atores locais que possuem o território como abrigo:
Os atores locais tem o território como um abrigo, buscando
constantemente se adaptar ao meio geográfico local, ao mesmo tempo que
recriam estratégias que garantam sua sobrevivência nos lugares. É neste jogo
dialético que podemos recuperar a totalidade.(SANTOS,2004,p.261)
10
Os CEU’s se baseiam em experiências anteriores, tais como as “Escolas Parques” do
educador Anísio Teixeira na Bahia nos anos 1950, os CIEP’s (Centros Integrado de Educação
Pública) escolas de tempo integral construídas no Rio de Janeiro durante o governo de Leonel
Brizola (1983-1987), com apoio do educador Darcy Ribeiro, entre outras tentativas de
integrar educação, cultura e lazer num mesmo equipamento (PADILHA, 2004, p.29-30).
Um dos nossos entrevistados4 comenta sobre essa influência do CIEPs já nas
discussões sobre uma Cidade Educadora e a construção de equipamentos públicos com esta
concepção na época da Prefeita Luiza Erundina (1989-1992) e de Paulo Freire como
Secretário Municipal de Educação:
Tinha o aspecto de dar um choque na educação, e isso tem a ver
com a Fábrica e com o CEU também, porque essa ideia do CEU nasce lá
atrás via Paulo Freire, de uns encontros com o movimento de moradia da
zona leste. Eles eram metidos a pensar o lugar da educação como um lugar
educativo, e foram atrás do Paulo Freire pra discutir isso. E desenharam a
implantação do conjunto habitacional todo pensado como um lugar
educador, do jardim a casa, a praça, todo desenhando com o Paulo Freire. Ai
começa a nascer essa ideia do CEU acho assim, de um lugar que seja
integrador da comunidade, nascem dessas ideias ai. Mas eles não chegaram a
fazer o CEU, e todos eram fãs assim, apesar de estar em partidos diferentes ,
do Darcy Ribeiro e os CIEP's no Rio, mas não chegaram a fazer o CEU. José
Soró.
Assim, em 2002 na Gestão da Prefeita Marta Suplicy (2001-2004) o Projeto CEU se
apresenta como um pólo de desenvolvimento da comunidade, pela sua arquitetura arrojada e
fundamentalmente, por propor a integração de seus diversos setores. Seus espaços e
equipamentos abertos ao uso, não só dos alunos matriculados, mas também da comunidade
potencializam os princípios da Cidade Educadora, caracterizando-se como uma rede de
proteção social.
Isto demonstra o equívoco do jornal Estado de São Paulo, que em sua edição de
03/08/2003 ataca os CEUs, através de uma critica ao discurso5 do Presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT), pronunciado na inauguração do CEU Jambeiro em Guaianazes no extremo leste
da capital paulista no dia 01/08/2003.
4 A íntegra das três entrevistas realizadas com Leda (Moradora da Vila Aurora e frequentadora do CEU Pêra
Marmelo, sendo também Presidente do Conselho Gestor), José Soró (morador de Perus e agente cultural do
bairro) e Marcio Bezerra ( morador de Perus e gestor do CEU Perus) encontram-se no anexo 1. 5 Confira a íntegra do discurso em http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/luiz-inacio-lula-da-
silva/discursos/1o-mandato/pdfs-2003/2o-semestre/01-08-2003-discurso-do-presidente-da-republica-luiz-inacio-
lula-da-silva-na-cerimonia-da-inauguracao-do-centro-educacional-unificado-jambeiro/view. Acesso em
13/10/2014 , 23:15.
11
O Jornal no editorial “O CEU das elites”6 trabalha apenas sobre uma ótica
economicista, entendendo o Projeto CEU como um “Concreto pedagógico” , tratando os
alunos ali matriculados como os “eleitos” em detrimento dos demais alunos das escolas da
comunidade. Por falta de conhecimento, ou como coloca a Prefeita Marta Suplicy (PT)7 , no
mesmo Estado de S. Paulo do dia 06/08/2003, por um preconceito ideológico contra o CEU, o
Editorial do jornal deixa de citar as possibilidades criadas com o Projeto. Assim obtém uma
resposta da Prefeita Marta Suplicy, deixando claro os objetivos que os CEU’s possuem :
Os CEU’s são uma nova proposta pedagógica de educação inclusiva
e consistem em organizar toda a rede municipal nesse conceito. Assegurando
a todas as crianças do ensino fundamental uniforme e material escolar
gratuito : transporte para as que moram a mais de dois quilômetros da escola;
merenda de qualidade e acesso a computação, música e instrumentos
musicais, teatro, cinema e esportes, começando pelas regiões mais pobres da
cidade. Em algumas regiões, isso estará concentrado numa única construção,
como os CEUs que estão sendo inaugurados agora, assegurando como
rotatividade o acesso a esses espaços. Em outros bairros, criando espaços
semelhantes interligados com a rede escolar já existente. A comunidade
passa a ser co-gestora e participe do sistema. Juntos construiremos um outro
futuro se a reprodução recorrente da pobreza. Não fomos escolhidos para
perpetuar o sistema e a desigualdade social. Estamos fazendo uma revolução
na educação, rompendo com a lógica de 500 anos de exclusão.
(SUPLICY,2003,p.2).
A execução da obra possibilita que, de certa forma, um direito começa a efetivamente
se fazer presente aos excluídos da periferia, caracterizado por José de Souza Martins (2008)
como:
O direito justo dos pobres de terem acesso às promessas sociais e
revolucionárias do centro, do monumento e do monumental, do teatro, da
música erudita, da arte, dos museus, do propriamente urbano e do bem-estar
que ele anuncia e possibilita, aquilo que é propriamente emancipador do
homem. A falta desse acesso corrói o referencial crítico que possibilitaria a
um periférico fazer a crítica social e política do seu periferismo (MARTINS,
2008, p.55.)
Um dos nossos entrevistados também comenta esta visão do jornal que acaba por
contaminar até mesmo funcionários do equipamento:
E a gente pensa justamente o inverso, todo este complexo cultural,
esportivo é pra todas as escolas do entorno. É isto que a gente faz hoje, a
gente abre pra todas. Uma diretora daqui chegou a usar o seguinte termo
6 Confira o Editorial “O CEU das Elites” no acervo online do Jornal o Estado de S. Paulo no link :
http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20030803-40101-nac-3-edi-a3-not acessado em 13/10/2014, 23:25. 7 Confira a resposta da Prefeita ao Editorial “O Ceu das Elites” no acervo online do Jornal o Estado de S. Paulo
no link : http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20030806-40104-nac-2-opi-a2-not acessado em 13/10/2014,
23:30.
12
numa reunião, por isso que eu falo porque foi numa reunia aberta, “ - Pô
vocês tão abrindo o CEU desse jeito daqui a pouco o morro vai descer pra
cá” . Pô eu falei pra ela se o morro descer pra cá é isso que eu quero né!
(risos). Este complexo não é de vocês. O Gestor do CEU era um zelador de
condomínio das três unidades. E eles não perceberam até hoje a dimensão do
que é a concepção do CEU. Marcio
É interessante notar que construídos com êxito durante o governo da Prefeita Marta
Suplicy (2001-2004), do Partido dos Trabalhadores (PT), os 21 CEUs de sua gestão não se
fizeram como um “espetáculo da educação, em prol de um clientelismo político”, como
preconiza Reinaldo Tadeu Boscolo Pacheco (PACHECO, 2009), afinal a candidata petista a
reeleição foi derrotada nas urnas por José Serra (PSDB), que inicialmente, sendo coerente
com seu discurso eleitoral de que o projeto era caro, barrou a construção de outros 24 CEU's
já licitados, retornando-os ao final de seu primeiro ano de mandato (2005)8, com algumas
mudanças no projeto (como por exemplo, a capacidade do teatro que foi reduzida de 450 para
180 pessoas.).
Em 2006 mais um fato político ocorreu na prefeitura de São Paulo, a saída de José
Serra (PSDB) para se candidatar ao governo do estado de São Paulo, tomando posse seu então
desconhecido vice-prefeito Gilberto Kassab (DEMOCRATAS- DEM)9. Comparando através
da Tabela abaixo10
a votação da Prefeita Marta Suplicy nas eleições de 2000 (campanha
vitoriosa) e 2004 (campanha derrotada) com os locais de construção dos 21 CEUs entendemos
que a tese de clientelismo político não é válida.
Mas claro a derrota dela causa uma grande surpresa:
O CEU foi uma coisa tal impactante pra periferia que eu achava que a
Marta não perderia jamais a eleição. Na época tinha 21 CEUS construídos, a
Marta fez 21 teatros na periferia, 21 cinemas. E não é qualquer teatro, é uma
coisa de qualidade uma coisa boa, 11 anos depois você desce lá, ele ta lá
bonitinho. Não tinha como perder essa eleição, mas eleição se perde nos
detalhes (risos). Marcio.
Olha voltar à fase da Marta é difícil. Igual à Marta não tem, fiquei até
triste que ela não ganhou, pelo tanto que ela fez, mas voltar do jeito que era
ela é difícil. Leda
8 Serra decide retomar os CEUs veja : http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u115664.shtml
acessado em 14/10/2014 00:10. 9 Marta foi duramente criticada pelos valores dos 21 CEU’s, porém a dupla Serra/Kassab fez 24 mini-CEU’s,
mais simples, sem preocupação com a estética, com menores equipamentos, porém mais caros no seu custo final
como demonstra o link : http://blogdofavre.ig.com.br/2008/09/o-ceu-e-a-verdade/ acessado em 14/10/2014
00:30. 10
Tabela extraída do interessante trabalho “A derrota não explicada – Uma reflexão sobre a eleição municipal de
2004 em São Paulo” que busca explicações para a derrota nas urnas de uma Prefeita com 48% de ótimo e bom
na avaliação de sua gestão. Acessado no dia 11/10/2014 23:00 no link : http://www.bocc.ubi.pt/pag/paula-luiz-
eleicao-municipal.pdf . Sobre o papel da mídia e a administração municipal leia na época da Marta leia :
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq260220032.htm acesso em 14/10/2014 02:45.
13
Tabela11
com os votos de Marta Suplicy nas eleições de 2000 e 2004 :
11
Vide nota 10.
14
Analisando a tabela percebemos que Marta aumentou sua votação nos bairros do
Grajaú (CEU Navegantes e CEU Três Lagos), Guaianazes (CEU Jambeiro) São Mateus (CEU
São Mateus e CEU São Rafael) e Capela do Socorro ( CEU Cidade Dutra).
Nas demais localidades diminuiu sua votação: Cidade Ademar (CEU Alvarenga),
Capão Redondo (CEU Capão Redondo), Pirituba (CEU Pêra Marmelo e CEU Anhanguera),
Itaim Paulista (CEU Vila Curuça e CEU Parque Veredas), Brasilândia (CEU Paz),
Sapopemba (CEU Rosa Da China), São Miguel Paulista (CEU Parque São Carlos), Itaquera
(CEU Inácio Monteiro e CEU Aricanduva),Ipiranga (CEU Meninos), Butantã (CEU Butantã),
Campo Limpo (CEU Casa Blanca).
Apesar da derrota de uma força progressista, entendemos o Centro Educacional
Unificado como uma política de luta por hegemonia através da cultura, esporte e lazer
associados à educação em áreas até então esquecidas nestes itens pelo Estado, estabelecendo-
se assim uma luta pela democracia. E a guerra de posição neste contexto é travada nas áreas
periféricas, quase sempre cooptadas pelo conservadorismo.
Afinal, Aldo Tortorella12
diz sobre a Hegemonia que :
Para Gramsci, o grande mérito de Lênin é precisamente o de ter
compreendido, contra as degenerescências e simplificações economicistas e
deterministas, o extraordinário e decisivo valor da luta cultural e ideológica
para a afirmação das classes subalternas e de um novo sistema
econômico-social. Contudo, a ideia da hegemonia em Lênin — segundo a
interpretação de Gramsci — não deve ser entendida como afirmação de uma
dominação, mas como afirmação de uma capacidade superior de
interpretação da história e de solução dos problemas que ela coloca (grifo
nosso)
Quanto a guerra de posição Gramsci coloca no caderno 13 “Breves notas sobre a
política de Maquiavel” parágrafo 1713
que :
Se as crises históricas fundamentais são determinadas
imediatamente pelas crises econômicas; pode-se excluir que, por si mesmas,
as crises econômicas imediatas produzam eventos fundamentais; podem
apenas criar um terreno mais favorável à difusão de determinados modos de
pensar, de pôr e de resolver as questões que envolvem todo o curso
subsequente da vida estatal.
A história da formação das periferias de São Paulo denota o quão perverso é o regime
de acumulação do capital no Brasil. Deixados à margem das políticas do Estado, milhões de
pessoas foram excluídas do centro da cidade e de suas promessas culturais, sociais, ou seja, de
12
http://www.acessa.com/gramsci/texto_visualizar.php?mostrar_vocabulario=mostra&id=644 acesso em
14/10/2014 00:40. 13
Extraído de http://www.acessa.com/gramsci/texto_visualizar.php?mostrar_vocabulario=mostra&id=643
acessado em 17/10/2014 14:30
15
cidadania, sendo “exilados” nas longínquas periferias da cidade, sem mínima infraestrutura
adequada, se reproduzindo com o básico (em alguns casos abaixo do básico), aumentado
dessa forma a acumulação de capital.
Assim, em 2003, no processo de implementação dos CEUs esse contexto histórico foi
entendido de forma superior, sendo necessária a construção de alguma ferramenta para a
possível superação desse problema de segregação sócio espacial constituindo pela formação
das periferias. Essa ferramenta se materializa nos CEUs, espaços destinados a uma política de
integração da sociedade civil. Aqui, instala-se a necessidade da democracia política para que
coincida governantes e governados no mesmo processo dialógico.
A construção dessa democracia política se dá pelo poder através de uma ação de
classe, construindo-se uma contra hegemonia na sociedade. Exercido em conjunto através da
cultura, desmontando o intelectual orgânico da burguesia, criando o intelectual orgânico da
classe trabalhadora. Ocorre aqui uma apropriação da cultura de massa e uma resignificação
da mesma perpetrada pelos novos intelectuais orgânicos formados nessa nova agenda social
realizada através das possibilidades colocadas pelo instrumental contido nos CEUs.
Deve-se dessa forma aproveitar as condições materiais do nosso tempo, para produzir
outra forma política, utilizando por exemplo a internet como forma de disseminação da
informação e consequentemente da contradição presente no mundo, mote fundamental do
desenvolvimento histórico. E o território é a base dessa luta. Entendido como matriz da vida
social, econômica e política para a superação da contradição maior da sociedade brasileira
contida no desequilíbrio entre direitos e deveres na construção da cidadania. Isso se faz
possível porque no nosso tempo está contida a possibilidade de se conviver com o futuro
possível.
Apenas a visão da violência como forma de entendimento do mundo não capta o real
processo do movimento perpetrado de baixo para cima, pelas classes populares em suas mais
diferentes organizações e instrumentos de luta. O presente trabalho analisa a capacidade e o
potencial do Centro Educacional Unificado de funcionar como um forte instrumento pela
construção da democracia verdadeiramente participativa, na qual as decisões e processos
partam da base14
.
Assim a apropriação dessa ferramenta, transformando-a numa “esquina” da
comunidade, na qual os problemas sejam debatidos, e soluções sejam apresentadas significam
14
Os CEUs possuem o Conselho Gestor, local de debate das questões relativas ao uso dos equipamentos,
envolvendo representantes da comunidade (vide apêndice), dos professores, alunos e direção. Analisaremos
melhor esta questão no subcapítulo 1.5.
16
uma construção pela sociedade civil, no entendimento Grasmiciano do termo, de uma
necessária participação política.
Nas palavras dos nossos entrevistados fica claro que é essa “Esquina da Comunidade”:
Eu uso um termo que eu ouvi num curso que eu fiz, lá atrás o
arquiteto que planejou ele dizia que o CEU tem que ser a esquina do bairro,
o que é a esquina do bairro? Onde os movimentos sociais, a população, se
encontram pra debater. Ao invés de debater no boteco, vem aqui no CEU.
Por exemplo, hoje a noite vai ter a reunião do movimento da fábrica. De
manha teve na biblioteca o curso caminhos da UBS, na sala da UAB uma
reunião do conselho gestor de saúde Pirituba/ Perus e no teatro um evento
DST/AIDS, é isso a Esquina do Bairro todos os movimentos convergindo
pra cá e ele sendo ponto de efervescência de todos os movimentos populares.
Marcio.
A gente começou a fazer o baile, era um bailinho pequeno pouca
gente, a gente colocava mesinhas, mas cresceu tanto que hoje não cabe mais
mesinha, ai começou a vir gente de fora, do CEU Vila Atlântica e nos vamos
ao baile lá. Isso, e é bom que a gente conhece muita gente, é muito bom lhe
dar com o pessoal da melhor idade e tem também o artesanato, conseguimos
ai uma parceria com uma pessoa que estudou gerontologia, e visa o bem
estar dos idosos, ai com a gente ela vai ver essas questões de leis, estatuto do
idoso, estas coisas assim porque a gente tem muita dúvida, das leis, dos
direitos dos idosos. Eu já conhecia ela do tempo da Marta, mas ai no tempo
Serra/ Kassab ela foi posta de lado e ai ela voltou agora. Leda.
Por tanto no CEU, essa “esquina da comunidade”, a democracia deve ser debatida e
fortalecida para a evolução social do lugar perante o mundo. Como um projeto de larga
escala, o CEU possui uma gama enorme de conceitos por de trás da sua confecção. Vamos
analisar algum deles.
1.1- Reestruturação Urbana
O Projeto CEU, pela sua particularidade de localização periférica15
visa torna-se um
pólo de desenvolvimento das comunidades periféricas de São Paulo16
, baseado na
intersetorialidade, de forma que a cultura, educação, esporte e lazer se integrem constituindo-
se numa forte ferramenta para o desenvolvimento local e a participação popular.
Assim, pretende-se chegar a uma melhoria da qualidade de vida e um aumento da
justiça social através do desenvolvimento sócio espacial. Com sua arquitetura arrojada os
15
Vide mapa da localização dos CEUS por Diretoria de Ensino e uma tabela com os endereços de cada unidade
no anexo 2. 16
Sobre as condições sociais da Cidade de São Paulo acesse:
http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/mm/index.php?texto=corpo&tema_cod=5. Acesso em 17/10/2014
17:30.
17
CEUs se apresentam como projetores de uma possível mudança social positiva, não apenas
nas relações sociais, mas igualmente na espacialidade.
O lugar constitui-se como um espaço vivido17
, no qual as relações sociais estão
contidas de emoções, significados diversos, etc. Os CEUs pretendem-se como um espaço de
encontro para o fortalecimento dessas relações, necessárias para a construção da democracia
participativa, representada de forma maior pelo conselho gestor nos CEUs. Com a Operação
Urbana CEU o Governo Municipal agiu de forma a propiciar um ferramental para a
construção de tal democracia, minimizando a segregação espacial em relação à cultura,
educação etc.
A concepção dos CEUs está orientada para o futuro do desenvolvimento das regiões
no qual foi construído. A alternativa escolhida foi pela periferia. A derrota na eleição de 2004
promoveu mudanças na concepção do Projeto CEU pelo candidato vencedor José Serra
(PSDB)18
, baseado no Estado mínimo Neoliberal19
, o projeto inicial dos CEUs de participação
popular foi abandonado. A chegada ao poder em 2013 de Fernando Haddad (PT) retoma as
características originais baseadas na concepção de uma Cidade Educadora, de intervenção
urbana com vistas ao desenvolvimento igualitário da Cidade de São Paulo20
.
17
“O espaço vivido é o conjunto dos lugares de vida de um indivíduo. A casa, o lugar de trabalho, o itinerário de
um a outro local formam os componentes principais do espaço vivido.” (PONTUSCHKA,2007 p.314) 18
http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20051210-40961-nac-53-cid-c1-not/ Acesso em 18/10/2014 04:50. 19
O Neoliberalismo privilegia o mercado em detrimento da intervenção Estatal nas áreas sociais. 20
Até 2016 a gestão de Fernando Haddad prometeu a construção de 20 novos CEUs, reutilizando equipamentos
já existentes como os Centros Esportivos subutilizados, com a construção das torres que compõem as
características originais do Projeto CEU, constituindo assim o Território CEU.
http://planejasampa.prefeitura.sp.gov.br/wpcontent/uploads/2014/10/EQP_141015_Audi%C3%AAncia_CPOP.p
df Acesso em 17/10/2014. 16:00.
18
Mapa da exclusão/inclusao – Distritos do Munícipio de São Paulo-200221
.
Para execução da Operação Urbana CEU, foram delimitados os locais com maior
vulnerabilidade social, baseados nos índices sintetizados no Mapa acima, no qual os locais em
vermelho possuem piores condições de qualidade de vida, desenvolvimento humano e
consequentemente menor autonomia dos indivíduos. Repare no mapa abaixo a localização dos
45 CEUs coincidindo com esses locais de maior vulnerabilidade.
21
Extraído de http://www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/mm/mapas/indice4_1.pdf Acessado em 18/10/2014
04:10.
19
45 CEUs - Centro Educacionais Unificados22
.
22
http://planejasampa.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/SME_CEU_CPOP15.10.pdf Acessado
em 18/10/2014 04:20.
20
1.2 - Verticalidades e Horizontalidades
O sistema econômico atual se impõe de forma vertical, delimitando lugares que
mandam e lugares de exclusão. Na cidade de São Paulo, em relação à cultura, educação, etc.,
os bairros centrais perpetram uma verticalidade de produção e acumulação de equipamentos
sócio-culturais que segregam espacialmente boa parte da população, “exilada” nas periferias
longínquas, tanto perante a distância, quanto à questão econômica. Afinal:
O processo de implantação de infra estrutura ocorre
descontinuamente, aos saltos, sendo que, quando acontece, cobre uma
grande área de uma só vez. E isto ocorre porque os investimentos feitos pelo
poder público em bairros de população de baixa renda dependem muito
mais de conjunturas políticas do que de um processo de
planejamento.”(BONDUKI, 1978, p.124)
Assim, para a construção de uma horizontalidade diversificada, pois contra
hegemônica a produção homogeneizadora dos lugares, os CEUs se apresentam como uma
importante ferramenta popular:
As horizontalidades, pois, além das racionalidades típicas das
verticalidades que as atravessam, admitem a presença de outras
racionalidades (chamadas de irracionalidades pelos que desejariam ver como
única a racionalidade hegemônica). Na verdade, são contra racionalidades,
isto é, formas de convivência e de regulação criadas a partir do próprio
território e que se mantêm nesse território a despeito da vontade de
unificação e homogeneização, características da racionalidade hegemônica
típica das verticalidades. A presença dessas verticalidades produz tendências
à fragmentação, com a constituição de alvéolos representativos de formas
específicas de ser horizontal a partir das particularidades. (SANTOS, 2000,
p.110.)
Comentando sobre o processo de participação na construção do CEU Perus um dos
nossos entrevistados coloca luz neste encontro das verticalidades e horizontalidades, ou seja,
da produção que vem de “cima” e as questões horizontais que circulam em “baixo” :
Como a gente já reivindicava um centro cultural há muitos anos, rolou
então essa coisa do CEU em Perus e começou o processo de participação das
pessoas a dizer como queria, que tipo de CEU queria... Eu acompanhava de
longe e pensava o seguinte, era a favor que você tem que montar algo que
quebre a lógica mórbida periférica, até brincava a gente lutou durante quase
quinze, vinte anos pelo centro cultural e de repente a gente ganha esse mega
monstro (risos). Pra alguns lugares isso foi tão espantoso, que a falta de
habilidade de quem estava na gestão com o entorno, transformou em elefante
branco, ou escola privilegiada, o CEU é sempre tido como uma puta escola
pelos seus recursos Mas enfim, eu achava o CEU muito correto como
política publica, muito mais talvez pelo aspecto cultural do que o
educacional, porque numa ideia de mudança da sociedade a gente tem que
reparar os direitos das pessoas, chegar com as condições, mas eu já tinha
uma concepção que era muito mais além disso, as pessoas não tinham boa
escola, não iam no teatro, não era só por que não tinham acesso ou custava
caro, nessa época trabalhando com pessoas de rua já tinha descoberto que o
21
repertório de universo imaginário das pessoas é fundamental, então uma
pessoa que nunca foi no teatro, ou qualquer outras manifestações artísticas,
não tem isso no seu cotidiano. Não faz parte. Ele não vai por que aquilo não
diz muito respeito a ele. Não faz parte do cotidiano dele, ele também não
estimula os filhos porque não tem esse repertório. Então pra mim é
necessário investir em cultura, porque ela potencializa o universo
imaginário das pessoas, enriquece. Jose Soró. (Grifo nosso)
Vista aérea do CEU Perus23
.
Vista aérea do CEU Pêra Marmelo24
.
23
https://www.google.com.br/search?q=Ceu+Perus&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=6mxZVNndPOX9sASJ
hoKgCA&ved=0CAcQ_AUoAg Acesso em 04/11/2014 22:20
24
https://www.google.com.br/search?q=Ceu+Pera+Marmelo&es_sm=93&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=P
25ZVPBq-JOxBLSdgrAB&ved=0CAkQ_AUoAg&biw=1280&bih=699 Acesso em 04/11/2014 22:25
22
É dessa forma, graças à esquizofrenia do espaço, no qual os lugares é que são o
mundo, pois o reproduzem de “... modos específicos, individuais, diversos. Eles são
singulares, mas são também globais, manifestações da totalidade-mundo, do qual são formas
particulares” (SANTOS,2000 p.112), que o cidadão, até então excluído das promessas do
centro, pode e deve apropriar-se dos CEUs para a constituição dessa horizontalidade
diversificada, instalando-se como um cidadão de sua Cidade, de seu Estado, do seu País:
Nas condições atuais, o cidadão do lugar pretende instalar-se também
como cidadão do mundo. A verdade, porém, é que o “mundo” não tem como
regular os lugares. Em conseqüência, a expressão cidadão do mundo torna-se
um voto, uma promessa, uma possibilidade distante. Como os atores globais
eficazes são em última análise, anti-homem e anticidadão, a possibilidade de
existência de um cidadão do mundo é condicionada pelas realidades
nacionais. Na verdade, o cidadão só o é (ou não o é) como cidadão de um
país. (SANTOS, 2000, p.113)
A cultura popular, pelas suas características específicas dos lugares em que é criada,
enraizada no território, produz uma contraordem. Os CEUs possuem possibilidades,
potencialidades de se constituírem como os enclaves de formação dessas “irracionalidades”,
pois contrárias a racionalidade dominante, produzindo-se assim uma nova hegemonia, na qual
a questão sociocultural como integradora e possibilitadora da destruição das desigualdades se
construa, pois “... a conformidade com a Razão Hegemônica é limitada, enquanto a produção
plural de “irracionalidades” é ilimitada. É somente a partir de tais irracionalidades que é
possível a ampliação da consciência” (SANTOS, 2000, p.115).
1.3 - Amplificação Pública
A mídia é conhecida como o quarto poder da república, pela sua característica de
contar os fatos e de certa forma transformá-los em verdade. Assim, as periferias de São Paulo
ficaram estigmatizadas como locais de violência, moradia de ladrões, traficantes, homicidas,
etc. A miséria tratada como espetáculo por programas como “Aqui Agora”, “Cidade Alerta”,
“Brasil Urgente”, “Polícia 24 horas”, entre outros, perpetuam as mais tristes e podres
caricaturas dos moradores dos bairros periféricos das grandes cidades.
A televisão não é como um livro, ou sequer como um jornal
impresso, cuja leitura podemos interromper, refazer, submeter a reflexões
demoradas. A dinâmica da imagem solicita respostas imediatas de quem a
ela está submetido. As reações são reflexas, rápidas. Esse mecanismo é
muito eficaz quando se trata de manter oculta a estrutura do texto ou a
concepção que está na base da disposição segundo a qual as imagens são
representadas. (ARBEX, 2008, p.13)
23
Será mesmo que a periferia é apenas violenta e desprovida de algum bem cultural de
valor universal ? 25
Faz-se, então, necessária a superação das imagens televisivas estereotipadas. Até
mesmo pelas universidades que costumam vir até a periferia com uma visão salvadora,
ignorando os conhecimentos que circulam por ali. Nosso entrevistado José Soró nos alerta
sobre isso ao comentar sobre as parcerias frustradas com a universidade:
Umas da primeiras conversas foi com a USP leste. Mas eles não
aguentaram, porque tem uma coisa complicada nessa relação com a
universidade, uma coisa vetorizada superior, tanto é que eles separavam
conhecimento popular e conhecimento acadêmico, eu falo não tem essa,
conhecimento é conhecimento, o que eles são ? São diferentes. A academia
é um vetor de conhecimento, um vetor com um jeito de organizar e
estabelecer conhecimento. Mas ao longo dos anos isso acabou gerando um
vetor de valor, deixando os outros conhecimentos desvalorizados. E isso não
é verdade. As pessoas aqui tem um grande conhecimento. E o desafio era
impor isso, mas a universidade não soube como lidar com isso, não saber
que papel assumir quando você não tem mais isso de chegou a salvação
(risos). Quando a gente começou a questionar queremos uma relação que
esses conhecimentos e capacidades daqui estejam integrados. Se não, não
rola. Uma relação de domino não rola. Eles não deram conta de achar um
lugar que não fosse esse de salvador. Foram embora, chegamos a
desenvolver um curso de capacitação cultural juntos, mas foram embora.
José Soró.
25
https://www.google.com.br/search?q=Sorria+voce+esta+sendo+manipulado&es_sm=93&source=lnms&tbm=i
sch&sa=X&ei=W29ZVOjnL-vjsATjzoJo&ved=0CAgQ_AUoAQ&biw=1280&bih=699 Acesso em 04/11/2014
22:35.
24
Porém as tentativas de parceria não cessaram. Está em curso atualmente o projeto da
Universidade Livre e Colaborativa com o Professor Euller Sandeville26
, tendo o CEU um
papel auxiliar no projeto:
Depois que o Marcio assumiu a gestão o CEU Perus virou uma
espécie de lugar que a gente tem todas as condições e tal, mas ela continua
circulando, tem aula em igrejas, casas, escolas, na Quilombaque, na praça,
enfim. Ela mantém esse espírito pra não permitir o predomínio de uma
lógica funcional. E entendendo que o conhecimento, ele não é só um pedaço
do discurso, da retórica, ele é toda uma experiência. Porque isso vindo aqui
as pessoas participando de almoço comunitário, quebrando barro, aula na
casa de não sei o quem. Então a ideia da Universidade é um aprendizado
integral. Enriquecendo seu repertório afetivo vivencial. Ai cada aula é
diferente, não existe uma igual a outra. José Soró.
Dessa forma, os CEUs se apresentam como holofotes a apontar novos
caminhos,abrindo espaços para as diversas experiências do seu entorno, desmitificando-se a
estigmatização das periferias, propiciando assim a “Amplificação Pública” (SOUZA, 2010,
p.111), ou seja, outra visão desses lugares até então estigmatizados pela violência e carência
material, pois pelas características do Projeto CEU, as questões político-sociais que afetam
tais áreas estão associadas às matérias produzidas sobre os CEUs, e consequentemente as
resoluções apontadas pela cultura popular imbricada e produzidas dentro do equipamento
social. Além disso, com a emergência das redes sociais essa amplificação pública se faz maior
e melhor, pois é executada sem a visão, algumas vezes distorcida, dos intermediários
midiáticos comprometidos com a ideologia mercadológica dominante.
1.4 Cidade Educadora
A construção de uma Cidade Educadora está atrelada a ação estatal. O Projeto CEU
está imbricado à constituição de uma Cidade Educadora, na qual a escola torna-se um espaço
comunitário e a cidade um grande espaço educador para que se possa aprender na cidade, com
a cidade e com as pessoas, valorizando o aprendizado vivencial. Um dos princípios
norteadores do Projeto CEU é a constituição de uma Cidade Educadora27
·: “A Cidade
Educadora é um complexo em constante evolução e pode ter expressões diversas, mas sempre
considerará como uma de suas prioridades o investimento cultural e a formação permanente
de sua população” (GADOTTI, 2004 p. 12).
26
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4792295T9 Curriculum
Lattes do Professor Euller Sandeville. Acesso em 02/11/2014 19:40. 27
Veja alguns elementos que você pode encontrar em uma Cidade Educadora:
http://educacaointegral.org.br/noticias/19-elementos-que-voce-pode-encontrar-em-uma-cidade-educadora/.
Acessado em 16/10/2014. 02:05.
25
Vivemos uma tensão global-local, no qual existe uma racionalidade dominante
vinculada ao capital que produz o espaço de forma a atender seus interesses. A periferia
pobre, excluída, acaba por se constituir como um produto dessa produção do espaço, não
sendo uma exclusividade brasileira:
Em geral, é na periferia que também se encontram os bolsões de
extrema pobreza (favelas brasileiras, villas miséria na Argentina,
callampas chilenas, precaritas mexicanas etc.), que foram se construindo a
partir das migrações rurais- urbanas da década de 1950, dando lugar à
conformação dos assentamentos irregulares que cresceram enormemente
entre os anos 1960-1970, e que desde os anos 1980, são a expressão de uma
sociedade informal fortemente definida, cuja característica é o
congestionamento domiciliar e a carência de serviços urbanos e péssima
qualidade de vida (GADOTTI, 2004 p. 18-19.) Grifo nosso.
Com uma diminuição da intervenção social do Estado, a produção do espaço ocorre
desregradamente, porém compreendemos que no caso da acumulação capitalista que se deu
no Brasil pós década de 1950, esse desregramento foi planejado, ou seja, ficou a cargo única e
exclusivamente da classe trabalhadora buscar meios para se reproduzir, sendo a
autoconstrução a principal saída para a resolução do problema da moradia.
Assim, pelas particularidades do local (baixa renda, consequentemente menor
mobilidade urbana) seus moradores perdem um contato maior com a Cidade, porém caso
ocorra um reconhecimento histórico28
do seu entorno, cria-se uma sensação de pertencimento
interessante:
A possibilidade de poder nos reconhecer historicamente em nosso
próprio entorno físico e social cria um caráter ativo de identidade cultural.
Devemos pensar, então, a cidade como totalidade complexa, que é
necessário recuperar como espaço público de discussão e realização,
fortalecendo assim o desenvolvimento de experiências culturais através do
exercício da Cidadania.(GADOTTI, 2004, p.24-25).
Realizado em Barcelona, em novembro de 1990, o primeiro Congresso Internacional
de Cidades Educadoras fez uma carta que continha os princípios básicos para definir um
modelo progressista de cidade.
Assim, a “força do lugar” se faz presente, encampadas por políticas publicas
executadas pelos municípios, tornando-se o motor da construção das Cidades Educadoras:
No lugar- um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas,
firmas e instituições – cooperação e conflito são a base da vida em comum.
28
“Cada grupo de pessoas percorre apenas pequenos setores das cidades quando realiza suas tarefas habituais.
Talvez por isso, se perca a experiência do urbano, enfraquecendo os laços de solidariedade e a ideia de
pertencimento” (GADDOTTI, 2004 p.21).
26
Porque cada um exerce uma ação própria, a vida social se individualiza; e
porque a contiguidade é criadora de comunhão, a política se territorializa,
com o confronto entre organização e espontaneidade. O lugar é o quadro de
uma referência pragmática ao mundo, do qual lhe vem solicitações e ordens
precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das
paixões humanas, responsáveis, por meio da ação comunicativa, pelas mais
diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade.” (SANTOS,
2012, p.322.).
Portanto cabe:
Aos Municípios desenvolver com eficiência as competências que
lhes correspondem em matéria de educação pelo qual devem organizar uma
política educativa ampla e de alcance global, de maneira a incluir nela todas
as modalidades de educação formal e não formal assim como as diversas
manifestações culturais (GADOTTI, 2004, p. 29).
As cidades são reconhecidas como verdadeiros espaços de aprendizagem e a educação
possui um papel de assumir e compreender a diversidade:
A educação tem que assumir a difícil tarefa de compreender e aceitar
a diversidade, já que esta potencializa o enriquecimento entre os indivíduos e
os grupos humanos, e evitar que esta se converta em fator de exclusão social.
Para isso é necessário gerar os espaços de encontros e de
integração”(GADOTTI, 2004, p.31).Grifo nosso
Entendemos os CEUs como um desses espaços de encontros e de integração, numa
“Esquina da Comunidade”. No escopo da cultura popular urbana, as esquinas são pontos de
encontro de fundamental importância, possuindo quase sempre um bar, no qual se discute os
mais variados assuntos (futebol, trabalho, política29
, religião, etc.), ou seja, a “Esquina da
Comunidade” está intrinsecamente vinculada à produção de cultura popular, sendo, portanto
interessante esta visão do equipamento CEU, pois durante a Gestão Kassab o mesmo foi
esvaziado30
, afinal era visto apenas como um local de entretenimento, visão da qual não
compartilhamos, pois a cidade já possui diversos espaços privados que funcionam sobre esta
ótica, como os Shooping’s. Portanto o CEU, “Esquina da Comunidade”, objeto técnico
capaz de alavancar a revanche da cultura popular, desde que devidamente apropriado, deve
ser entendido como produtor de uma pedagogia urbana:
29
Veja que interessante a fala de Frei Chico irmão do ex presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2009) sobre
a importância do Bar da Rosa nas articulações políticas em
http://docverdade.blogspot.com.br/2011/03/presidentes-da-america-latina-brasil.html. Acessado no dia
16/10/2014 04:20. 30
http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,publico-de-eventos-dos-ceus-cai-42-na-gestao-kassab,365064
Acessado em 16/10/2014 03:42.
27
“As contribuições da pedagogia urbana mais significativas são as
seguintes:
1 – Ampliação do campo de ação pedagógica.
2 – Construção de valores democrático-participativos.
3 – Ressignificação da cidadania: de objetos urbanos a sujeitos.
4 – Multiplicação de redes educativas e culturais.” (GADOTTI, 2004, p.
35)”
Sobre o esvaziamento do CEU nas gestões Serra/ Kassab leia o diálogo com Leda :
Henrique- Mas ai mudou o governo, você notou diferença? Você reparou
diferença de Marta pra Serra /Kassab?
Leda – Deu muita diferença, foi o Kassab que venho depois?
Henrique - Venho o Serra ele ficou um ano e pouco ai entrou o Kassab,
porque o Serra foi ser candidato ao governo.
Leda - Isso ele abandonou né. Então, mas ai piorou muito. Deu uma caída
boa o CEU, porque no tempo dela era muito bom. Eu lembro que tinha
muito teatro, tinha teatro pra adulto, e teatro infantil eu ia aos dois porque eu
gosto de teatro, participava dos dois, tinha peças boas, depois do Serra caiu
muito o CEU.
E com Marcio :
Marcio - E a população se apropriou porque ela sabia na gestão
Marta, eu acompanhava, frequentava o CEU direto, que toda sexta e sábado
a noite tinha um filme, que todo mês um sábado tinha uma peça de teatro.
Criou um hábito. Tem um rapaz aqui do lado o Mario que ele falava “ –Eu
sabia que toda sexta ou sábado eu podia ir lá que tinha um filme, mas
quando o Serra/ Kassab entrou acabou com isso”. Isso daqui virou um
condomínio fechado. Eu conto umas historias aqui e passo por mentiroso
cara, mas é verdade. No primeiro mês que entrei aqui, eu recebi uma
denúncia de uma pessoa do Recanto dos Humildes que tava lendo e foi
expulso da biblioteca. Eu falei vem cá me conta esta historia direito. Ele
falou eu sou casado e tenho filho pequeno, eu gosto de ler, e o único lugar
que eu consigo ler tranquilo é aqui na biblioteca, e nesse dia me tiraram da
biblioteca eu tava lendo, não sei por que falaram que ia ter um evento. Ai
chamei à bibliotecária e perguntei por que tiraram o rapaz da biblioteca? Ela
falou que toda última sexta feira do mês a Natura faz uma exposição na
biblioteca pra vender produtos!
Henrique- Apropriação privada do bem público!
Marcio - Isso. Era isso que acontecia. Isso daqui foi
desmantelado.Grifos nosso.
1.5 - Conselho Gestor
Nosso país possui uma democracia nova. E seu passado autoritário ecoa forte nos
atuais tempos, pois apesar da pressão popular, a transição foi arquitetada por cima com a
eleição indireta de Tancredo Neves na década de 1980 pelo colégio eleitoral. Porém, José
28
Sarney, advindo das fileiras da ditadura assume a presidência após a morte de Tancredo,
promovendo uma distribuição nada democrática de transmissoras de rádio e televisão a
políticos em troca de apoio. Manteve-se assim uma tradição autoritária na execução das
políticas públicas. Algumas instituições, como a Polícia Militar não se democratizaram,
atuando ainda sobre a ótica ditatorial do inimigo interno, tratando a sociedade civil, e
principalmente aqueles que reivindicam melhores condições de vida, com forte truculência.
Por isso, enquanto instituição nova, a proposta intersetorial dos CEUs é importante
para a construção e fortalecimento da democracia, pois abrangem diversas áreas tais como
meio ambiente, educação, emprego e renda, participação popular, desenvolvimento local,
saúde, cultura, esporte e lazer, afirmando-se dessa forma como um espaço de afirmação de
direitos e de promoção da cidadania, como coloca o Decreto de Regulamentação dos
Conselhos Gestores:
1° O Conselho constituir-se-á em instância permanente de debate e de
articulação entre os vários equipamentos que integram o CEU, tendo em
vista o atendimento das necessidades comuns e a solução dos conflitos que
possam interferir em seu funcionamento (DECRETO Nº 50.738, de 15 de
Julho de 2009)
Assim, a participação no Conselho Gestor da população torna possível uma melhor
construção dessa proposta intersetorial, pois as demandas são colocadas, debatidas,
construindo-se soluções conjuntas para os problemas específicos de cada CEU. A construção
desse espaço comunitário atua como princípio da Cidade Educadora. E para a constituição de
uma tradição democrática de participação é necessário que :
Os governos locais possuam mecanismos institucionais adequados
que deem a um número representativo de cidadãos a possibilidade de intervir
no planejamento urbano e na construção de políticas públicas necessárias
para o planejamento da cidade presente e futura. E nós cidadãos devemos
aprender a participar ativamente na conquista e construção das nossas
cidades.(GADOTTI, 2004 p.33)
Identificamos na fala dos nossos entrevistados alguns problemas com o Conselho
Gestor :
Acho que falta participação da comunidade, é fácil chegar e
reclamar, mas a comunidade não ta participando, só tá indo eu e a Maria, eu
sozinha é difícil, agora o conselho tá mais formado por professores, lógico
que eles vem o lado deles, mas acho que a comunidade ta perdendo com
isso, ninguém quer se envolver ninguém quer dar a cara a tapa pra mim
sozinho é difícil.Leda
Conseguimos eleger um conselho gestor só no meio do ano, mas
mesmo assim ele não é um conselho gestor participativo pleno, mas isso daí
29
é outra coisa que a gente vai retomar aos poucos a participação no conselho.
As pessoas tão retornando a participar agora do CEU, é uma coisa lenta, a
gente quer que se apresse, mas é lento, mas tá voltando a participação.É uma
coisa legal isso. Marcio
A política adotada durante oito anos pelas gestões Serra/Kassab (2005-2012)
promoveu um esvaziamento intencional do debate político dentro do CEU, tornando o
Conselho Gestor um órgão esvaziado, apesar da sua grande importância. Porém, acreditamos
assim como nosso entrevistado José Soró, que a questão da autonomia do CEU como um todo
acaba por influenciar na participação, pois o Conselho Gestor fica preso a esta dependência de
decisões externas, sendo, portanto, em nossa visão mais um instrumento consultivo do que
deliberativo:
Olha, eu tava pensando nisso hoje, você me cutucou. Fiquei pensando
em como pode ser um desenho viável pro CEU, por que ele fica preso na
própria lógica dele, forma dele, e não se potencializa no que foi pensando
nele como política pública, não materializa aquilo que se esperava dele
enquanto força dinâmica. Há que se pensar, acho que os CEUs deveriam ser
organismos autônomos, inclusive do ponto de vista orçamentário. Ai a
gestão integrada teria o papel de construir projetos próprios de características
locais, de cada região. Mas não tendo isso não cumpre esse papel. Mesmo a
gestão Haddad, que eu respeito, neste aspecto não oferece nenhuma
esperança que vai mudar esse enquadramento. José Soró.
Após esta breve análise desses instrumentais vinculados ao Projeto CEU ficamos
instados a propor que tal equipamento pode contribuir para a resolução daquilo que
chamamos de Questão Periférica, possibilitando a construção de uma Centralidade da
Periferia. Desenvolveremos esta tese no próximo capítulo.
30
2 - A Questão Periférica
“Todos os homens são intelectuais, poder-se-ia dizer então:
mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de
intelectuais”
Antonio Gramsci, Os intelectuais e a organização da cultura.
Após a análise da concepção do Projeto CEU, fica a questão: será que tal equipamento
é capaz de resolver nossa Questão Periférica, permitindo a construção de uma Centralidade
da Periferia. Devemos entender primeiramente o que seria esta Questão Periférica.
O Comunista italiano Antonio Gramsci (1891-1937) se questionava quanto a Questão
Meridional verificada em sua terra natal:
Afirmamos que o camponês meridional esta ligado ao grande
proprietário rural por meio do intelectual. Este tipo de organização é o mais
difundido em todo o Mezzogiorno e na Sicília. Forma um monstruoso bloco
agrário que no seu conjunto funciona como intermediário e guardião do
capitalismo setentrional e dos grandes bancos. Seu único objetivo é
conservar o status quo.(GRAMSCI in : SINGER,2002 p.9)
Intrigava o comunista italiano o fato dos camponeses pobres do Sul formarem um
grande bloco histórico ligado aos grandes proprietários, protegendo o capitalismo dos grandes
bancos do norte da Itália, mantendo um status quo que era prejudicial a tais camponeses.
Como citado acima o papel dos intelectuais nessa composição era fundamental.
No Brasil, André Singer, em sua análise quanto aos Sentidos do Lulismo,31
investiga a
possível resolução daquilo que ele chama de Questão Setentrional, na qual dessa vez ocorre
um deslocamento das massas rurais exploradas, principalmente no Nordeste brasileiro, que até
2006 estavam ligadas aos grandes proprietários rurais, representados em nossa democracia no
antigo PFL (Partido da Frente Liberal) - atual DEMOCRATAS - para o Lulismo. Tais massas
beneficiadas pelas políticas públicas do primeiro mandato de Luis Inácio Lula da Silva (2003-
2006), tais como o Bolsa Família, Crédito Rural, Luz para todos, fortalecimento do salário
mínimo, entre outras fazem tal deslocamento de apoio, consagrando Lula com um segundo
mandato em 2006.
31
SINGER, André Vitor. Os Sentidos do Lulismo: reforma gradual e pacto conservador. 1ed. São Paulo. Cia das
Letras,2002.
31
Entendemos então, que o CEU como ferramenta construtora de intelectuais orgânicos
pode promover a resolução da Questão Periférica colocada da seguinte forma: Por que as
massas periféricas da Cidade de São Paulo tendem a se alinhar a um conservadorismo
direitista que invariavelmente tende a prejudicar tais classes? Pois tal visão de mundo não
está preocupada em buscar resoluções para as desigualdades sociais, além de atuar de forma a
barrar atitudes que tem esse objetivo, como é o caso da descaracterização promovida nos
CEUs construídos nas Gestões Serra/Kassab32
.
O nosso entrevistado Marcio conta uma história interessante da visão de Serra sobre os
CEUs:
Tem uma piada, não sei se é piada ou se é verídico33
. Dizem que o
Serra quando assumiu, reuniu seus secretários e falou:
“-Vou fechar os CEUS”.
Ai o pessoal saiu foi pros bairros que tinha CEU :
“-Serra é bom não fechar”.
Ai ele falou:
“- Então não vou construir mais nenhum”.
Ai o pessoal saiu pros bairros voltou.
“ - Olha Serra é bom fazer (risos)”.
“-Vou fazer. Mas vou fazer mal feito.” Marcio
Aqui o papel de intelectuais orgânicos ligados aos setores conservadores, tais como
José Luiz Datena34
e Marcelo Rezende35
ajudam a explicar essa aderência. Porém,
entendemos que as políticas públicas executadas nos CEUs podem agir como uma contra
hegemonia no sentindo de criar intelectuais orgânicos vinculados a classe trabalhadora,
tendendo a se aliar a setores progressistas da Cidade, pois como coloca Singer (2012, p.23) :
“As classes podem transformar-se em classes para si, isto é, conscientes de seus interesses e
dispostas a lutar por eles no plano da política.”
A ação política no caso do Projeto CEU encampada no mandato de Marta Suplicy
(2000-2004) baseou-se fortemente no terreno da realidade efetiva, pois:
O político em ação é um criador, instigador, mas não cria nada
nem se move no vazio turvo de seus próprios desejos e sonhos. Ele se
baseia na realidade efetiva. O que é, porém, essa realidade efetiva ? Será
por acaso algo estático ou imóvel, ou, antes, uma relação de forças em
constante movimento, alternando continuamente o equilíbrio ? Aplicar a
vontade na criação de um novo equilíbrio de forças realmente existente e
32
Arquitetos criticam os CEUS de Serra. http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20051210-40961-nac-53-cid-
c1-not Acesso em 20/10/2014 acesso em 20/10/2014 08:10. 33
História verídica ou não o fato é que José Serra possui um grande desprezo pelo Projeto CEU. Veja:
http://poderonline.ig.com.br/index.php/2012/04/21/serra-diz-que-os-ceus-sao-iguais-a-qualquer-outra-escola/
02/11/2014 21:20. 34
Apresenta o programa policial Brasil Urgente na Bandeirantes. 35
Apresenta o programa policial Cidade Alerta na Rede Record.
32
operantes, baseando-se em determinada força que se considera progressista e
reforçando-a para levá-la ao triunfo, é se mover sempre no terreno da
realidade efetiva, mas para dominá-la e superá-la ou contribuir para
isso.(GRAMSCI, previsões e perspectivas In SADER, 2012 p. 36-37 )
Grifo nosso.
Entendemos o Projeto CEU como um fortalecimento das forças progressistas. De todo
um movimento que existe na periferia, convergindo para o CEU, desde que ele esteja aberto á
participação. Veja este caso interessante no CEU Perus:
Quando a gente chegou aqui no ano passado a pista de skate
tava detonada e a gente não tinha dinheiro pra consertar. Até recebi
denúncia que tinha ferro solto, tava perigosa. Falei quer saber de
alguma coisa, chama essa molecada. Esta pista é muito usada, num
mês fizemos uma medição passam por dia em torno de cem a duzentas
crianças, jovens e adultos. Chama essa molecada pra conversar.
Temos que fazer a reforma. Que reforma eles querem que faça ? E tem
um menino ai campeão brasileiro de skate, o Feijão, que já foi pra
Barcelona, já foi pra Dinamarca. Falei pra ele coordena a molecada ai
e vamos conversar. Ai nos vimos que o problema era maior, além da
pista de skate tinha uma molecada que usava bicicleta. Eles falaram
“- Porque a gente não faz uma pista de bicicleta do lado?” Eu
falei:
“- Beleza vamos fazer juntos porque sozinho eu não consigo”.
Fomos na diretoria regional:
“-Olha tem que reformar”.
“- Vai custar caro?”
“-Não.”
“-Então a diretoria banca.”
Tinta, quem vai pintar? Chama o coletivo de grafite de Perus,
chama o Danilo chama o Bonga chama o Perusferia e vamos fazer. O
Feijão coordenando tudo. No dia do Emicida aqui no teatro nos
fizemos à inauguração da pista lá, todos os grupos de hip hop da
região vieram tocar, cara a molecada chorava, porque quem fez a
reforma foram eles. Ai venho o pessoal da bicicleta:
“- E nossa pista ?”
“ -Bem vamos lá na diretoria, o que precisa ?
“ - Precisa terra.
“ - Se a sub prefeitura autorizar a gente faz.”
A subprefeitura autorizou. Pegaram terra no rodo anel com o
caminhão do depósito aqui de baixo, e pronto fizeram a pista de
bicicleta. Nos apenas intermediamos. Quem fez foram eles. Isto pra
mim já valeu a pena, um negócio assim indescritível. Marcio.
Voltando a Gramsci, possuindo uma concepção dialética da histórica ele faz uma
distinção entre movimentos conjunturais e movimentos orgânicos :
No estudo de uma estrutura, é necessário distinguir os movimentos
orgânicos – relativamente permanentes- dos movimentos que podem ser
33
chamados de conjunturais – que se apresentam como ocasionais, imediatos,
quase acidentais... A distinção entre “movimentos” e fatos orgânicos e
movimentos e fatos “conjunturais” ou ocasionais de ser aplicada a todos os
tipos de situações. (GRAMSCI, previsões e perspectivas In SADER, 2012
p. 40-41)
Lembrando que para Gramsci :
É o problema das relações entre estrutura e superestrutura que
precisamos colocar concretamente e resolver para chegar a uma analise justa
das forças que operam na historia de um determinado período e determinar
suas relações.
Nenhuma sociedade se coloca problemas sem que existam condições
necessárias e suficientes para sua solução, ou sem que essas condições
estejam ao menos em via de aparecer ou se desenvolver (GRAMSCI,
previsões e perspectivas In SADER, 2012 p.39 )
Assim, podemos compreender a eleição de Marta Suplicy em 2000 como um fato
conjuntural, pois é o retorno de uma força progressista ao governo municipal, após oito anos
de governos conservadores encarnados nas figuras de Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta
(1997-2000) e o Projeto CEU, disputado politicamente na eleição de 2004, como um
movimento orgânico, ou seja, algo permanente, sobrevivendo ao retorno conservador das
gestões Serra (2005-2006) e Kassab (2006-2012), até a ocorrência de um novo movimento
conjuntural, a eleição de Fernando Haddad em 2012, retornando o Projeto original do CEU
enquanto pólo de desenvolvimento da comunidade não meramente como espaço de
entretenimento.
Para facilitar o entendimento podemos separar estes momentos da seguinte forma:
2000 – Eleição de Marta Suplicy (PT) – Movimento Conjuntural;
2003 - Execução Projeto CEU – Movimento Orgânico;
2004 – Eleição de José Serra (PSDB) - Movimento Conjuntural;
2012 – Eleição de Fernando Haddad (PT) - Movimento Conjuntural;
A posse de Gilberto Kassab (na época no DEMOCRATAS hoje no PSD) ,em 2006,
após a renúncia de José Serra para concorrer ao governo de São Paulo e, posteriormente, a
reeleição de Kassab em 2006,fazem parte do mesmo movimento conjuntural de 2004 de
fortalecimento do conservadorismo. Em 2012 ocorre o retorno de uma força progressista ao
governo municipal encampada na figura de Fernando Haddad. O CEU apesar do seu
esvaziamento, ou das tentativas de esvaziamento, seguiu enquanto um movimento orgânico,
34
permanente, passando pelas duas gestões conservadoras, e agora ressurge com força numa
gestão de caráter progressista.
O Haddad ele tem um olhar sobre o CEU, que eu acredito, muito
legal. Na primeira reunião ele disse o seguinte, o CEU tem que ser a
menina de olhos dessa prefeitura, O CEU tem que ser o lugar onde
eles vão falar mudou. O PT tá ali mudou, não só o PT porque nem
todos os gestores são do PT, mas a administração do PT tá ali mudou
a relação com a comunidade. Marcio
Portanto entendemos que o Projeto CEU – movimento orgânico, permanente - se
propõe a fortalecer a classe trabalhadora enquanto força progressista de transformação da
realidade desigual brasileira sem do assim um fator de extrema importância para a
resolução da nossa Questão Periférica.Vejamos um exemplo interessante que ocorre no bairro
de Perus extremo noroeste da Capital Paulista.
2.1 Queixadas e o CEU Perus
O Centro Educacional Unificado de Perus é um caso emblemático na luta política
contra hegemônica. Entendido pelo seu Gestor como uma Esquina da Comunidade, está
fortemente atrelado as questões do bairro, como por exemplo ao Movimento pela
Reapropriação da Fabrica de Cimento de Perus36
. Este movimento tem como origem a Greve
dos Queixadas, trabalhadores da antiga Fábrica de Cimento da região que na década de 1960
promoveram uma grande greve na luta por melhores condições de trabalho. Atualmente,
existe no bairro este movimento pela reapropriação da fábrica com vistas a torná-la um ponto
de memória e cultura da classe trabalhadora37
. Suas reuniões ocorrem dentro do CEU Perus,
que expõe também atividades diversas sobre a memória da fábrica, tais como exibição de
filmes, palestras e exposições sobre a história do movimento dos Queixadas, promovendo a
construção de um sentimento de pertencimento ao bairro por parte das gerações mais novas.
E a desapropriação da fábrica será a coroação de uma luta antiga dos trabalhadores
desta região:
Conseguimos criar uma ideia de parque dos Queixadas no
território que é da fábrica, um território cultural que envolve Jaraguá,
Anhanguera e Perus. É um mecanismo de proteção, a gente não tem a
36
Sobre o Movimento Pela Reapropriação da Fabrica de Cimento de Perus acesse :
http://movimentofabricaperus.wordpress.com/ Acessado em 17/10/2014. 17:30. 37
Veja algumas questões importantes que envolvem a luta política em Perus no link a seguir :
https://drive.google.com/file/d/0BxR7Lnu7EeUiNDdaOWN5T3hHRWs/view?pli=1 formando toda uma rede
cultural sendo o CEU Perus um polo irradiador fundamental dessa luta. Acesso em 20/10/2014 10:00.
35
fábrica por que continua privada , mas vamos criando movimentos
entorno que vão dificultando essa degradação, a possibilidade do cara
vender etc. E o movimento recuperou sua vitalidade, tem uma
integração muito grande com os coletivos, as ações são até autônomas
do movimento, cada coletivo inventa sua ação. E todos tem claro que
precisamos conquistar a fábrica, ela é um elemento simbólico vital.”
José Soró
Vista aérea da fábrica de cimento de Perus.
38
Assim o CEU aberto aos movimentos que permeiam as comunidades do seu entorno
torna-se um fator de construção da Centralidade da Periferia.
38
Imagem retirada de : http://hrechi.blogspot.com.br/2011/04/fabrica-de-cimento.html Acesso em 02/11/2014
22:20.
36
Conclusão - Centralidade da Periferia.
Milton Santos (2008) discute diante da globalização perversa uma possível
centralidade dos países periféricos em relação aos blocos, países hegemônicos mundiais
(notadamente Estados Unidos da América, União Européia e Japão). O autor vaticina que o
novo será promovido pelos “debaixo”, os excluídos, que produzem uma contra ordem à
globalização expropriadora.
Essa análise se faz interessante na produção do espaço da capital Paulista,
notadamente segregador no qual as classes populares, ou seja, os “debaixo” foram
expropriados do centro39
e de suas promessas. Podemos entender, então, que os CEUs podem
propiciar aos periféricos, através da sua correta apropriação de seus variados equipamentos, o
referencial dito por José de Souza Martins (2008), facilitando assim a construção da crítica
social e política do seu periferismo e uma possível resolução da Questão Periférica, ou seja,
o desvinculamento da classe trabalhadora dos setores conservadores que a oprimem. Dessa
forma, se constitui assim o tempo de possibilidades:
O que conta mesmo é o tempo das possibilidades efetivamente
criadas, o que, à sua época, cada geração encontra disponível, isso a que
chamamos tempo empírico, cujas mudanças são marcadas pela irrupção de
novos objetos, de novas ações e relações e de novas ideia”. ( SANTOS,
2008,p.117 ).
Essa questão é colocada em nossas entrevistas :
Henrique – E o que você pensa do futuro, essa criançada que cresce com
esse tipo de escola, que já entra desde sempre no CEU, seis, sete, oito anos?
Leda - A educação é outra né, eles têm várias coisas boas pra aproveitar,
várias atividades, se eles tiverem a cabeça boa vão aproveitar bastante coisa
ai.
Fechamos aqui nossa busca pela Totalidade. Porém, fica claro para nós que ela é uma
Totalidade incompleta, nossos atores sociais entrevistados e a relação cotidiana do autor com
o CEU Pêra Marmelo e CEU Perus, além dos movimentos que circulam no entorno provam
que o CEU é apenas mais um fator da construção da Centralidade da Periferia. Porém, um
fator muito forte e significativo, suas paredes de concreto pulsam quando as pessoas
39
Veja nesta reportagem http://reporterbrasil.org.br/gentrificacao/haddad-e-alckmin-juntos-para-riscar-do-mapa-
favela-do-moinho/ a imensa luta dos moradores da Favela do Moinho, a última a resistir no Centro de São Paulo
contra a especulação imobiliária. Acesso em 20/10/2014 08:00.
37
encontram- se ali naquela Esquina da Comunidade para debaterem as diversas questões que
perpassam-o seu entorno. E tais paredes reverberaram as soluções mais criativas e produtivas
para estas questões, pois são criadas pelos próprios atores locais.
E as novas gerações da periferia nascem já com um novo objeto técnico ao seu dispor,
com grandes possibilidades de construção de novas ações, relações e novas ideias. Sendo esta
uma das formas de construção de uma Centralidade da Periferia na Capital Paulista, com a
emergência da cultura popular.
38
Referências bibliográficas
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BONDUKI, Nabil e ROLNIK, Raquel – Periferia: Ocupação do espaço e reprodução
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7.reimpr. São Paulo,Editora da Universidade de São Paulo.2012.
39
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Paulo, ago.1998. Entrevistadores : Maria Amaral, Sergio Pinto de Almeida, Leo Gilson
Ribeiro, Georges Bourdoukan, Roberto Freire, João Noro, Sergio de Souza.
. Espaço e método. São Paulo, Nobel, 1985.
.O espaço geográfico como categoria filosófica, IN : Terra Livre – n.5 –
O Espaço em questão. Ed. Marco Zero, AGB, 1988.
.O papel ativo da geografia : um manifesto. In: Milton Santos e o
Brasil. Maria Brandão (org.) São Paulo.Editora Perseu Abramo,2004.p.261.
.Por outra globalização: do pensamento único à consciência universal /
Milton Santos. - 16 Ed. - Rio de Janeiro: Record, 2000.
SINGER, André Vitor. Os Sentidos do Lulismo: reforma gradual e pacto conservador.
1ed. São Paulo. Cia das Letras,2002.
SOUZA, Ricardo de. A educação social em espaços de experimentação pedagógica: as
potencialidades dos CEUs / Ricardo de Souza; orientação Roberto da Silva. São Paulo: s.n.
2010. 301 p.
SUPLICY, Marta. O preconceito ideológico contra os CEUs.O Estado de S. Paulo.São
Paulo, 06 de agosto de 2003,p.2.
40
Apêndice
O autor do trabalho foi candidato eleito com 19 votos a representante da comunidade no
Conselho Gestor do CEU Pêra Marmelo no ano de 2011.
41
Anexos
Anexo 1 - Íntegra das entrevistas realizadas:
Leda Maria de Moutta Ferro- Moradora da Vila Aurora, frequentadora do
CEU Pêra Marmelo e presidente do Conselho Gestor - Entrevista realizada
em 23/10/2014 – às 15 horas na casa da Leda.
Henrique - Gostaria começar pedindo que você se apresentasse se sempre morou aqui
na Vila Aurora?
Leda - Eu vim de Paranapiacaba (Santo André), faz mais de 15 anos, meu filho não
conseguiu escola, ai saiu o CEU pra sobrar mais vaga, ele tava numa escola longe, no Aldo,
não conseguiu vaga no CEU, foi para o Veríssimo.
Henrique – Você lembra como foi a formação do CEU, se você participou, como que
foi ? Foi em 2002, 2003, por aí? E como foi esse começo? Eu lembro que ali era um
campinho de futebol.
Leda- Participei, participei. Vai fazer 11 anos mês que vem (novembro de 2014).Isso
ali era um campinho de futebol.
Henrique – E como foi você lembra?
Leda – A Mara que era representante de bairro sabia da nossa luta por vaga na escola,
e chamou a gente pra participar, ai ela falou do CEU, já sabia que ia sair. Mas no começo eu
fiquei em duvida, fui de porta em porta pedir abaixo assinado pro pessoal, ai quando falou que
era uma escola assim que ia ter piscina, ia ter isso, aquilo, eu duvidei, ai eu falei meu deus se
não sair isso daí eu vou apanhar na rua.
Henrique - Na época você passava e falava essas características. Que ia ter piscina,
quadra teatro?
Leda- Isso, falava que ia ser tudo junto uma coisa só, mas mesmo assim eu duvidava,
tinha medo (risos) ia apanhar. Cheguei a trabalhar na política nessa época, mas graças a deus
saiu deu certo. Mas Eu ficava aqui de casa que da pra ver, eles trabalhando dia e noite, cada
coluna que eles colocavam eu ficava olhando aqui a primeira coluna a segunda coluna desde o
começo.
42
Henrique – É eu lembro que passava ali na Pêra Marmelo dava pra ver batendo a
estaca, ficava curioso, mas eu não participei de nada era novo ainda. Você chegou a vir no dia
da inauguração
Leda – Sim, nos fizemos um bolo na padaria do CEU, porque aquela padaria era pra
comunidade aprender panificação, mas parece que acabou eu cheguei a aprender a fazer bolo
ali, matinha um professor, mas acabou, e hoje a padaria.
Henrique- Hoje virou uma cozinha.
Leda – Mas aquilo lá era pra comunidade aprender a trabalhar, que nem as maquinas
de costura, tem ali, mas nuca ninguém ensinou, que era pro pessoal aprender a trabalhar nas
maquinas industriais mas ate hoje não se usou, a intenção da Marta era boa, pro pessoal
aprender a trabalhar.
Henrique – Mas ai mudou o governo, você notou diferença? Você reparou diferença
de Marta pra Serra /Kassab?
Leda – Deu muita diferença, foi o Kassab que venho depois?
Henrique - Venho o Serra ele ficou um ano e pouco ai entrou o Kassab, porque o
Serra foi ser candidato ao governo.
Leda - Isso ele abandonou né. Então, mas ai piorou muito. Deu uma caída boa o CEU,
porque no tempo dela era muito bom.
Henrique - Eu lembro que tinha muito show, cheguei a ver show ali na pista de skate.
Leda - Eu lembro que tinha muito teatro, tinha teatro pra adulto, e teatro infantil eu ia
aos dois porque eu gosto de teatro, participava dos dois, tinha peças boas, depois do Serra caiu
muito o CEU.
Henrique - E como era sua relação com cultura antes do céu, teatro?
Leda – Nenhuma.
Henrique - Você acha que facilitou? Você já tinha visto teatro antes?
Leda - Sim com pouca frequência, por que era muito longe e caro. Ai o CEU venho
pra cá. Eu comecei a ver bastante. Todas eu assistia, de criança e de adulto e passava filme
também, tinha bastante filme, mas cortaram tudo isso.
Henrique - E quais outras atividades você fazia?
Leda - Sempre fiz ginástica, hidro, alongamento, tudo que tem eu faço, caminhadas,
artesanato da melhor idade, conselho gestor. Procuro sempre tá por dentro das coisas que vão
ter.
Henrique - E o seu filho chegou a fazer algum curso por fora?
43
Leda - Chegou a fazer judô, mas no tempo do Serra acabou agora parece que tem
umas crianças fazendo, mas meu filho cresceu né ai não deu mais.
Henrique - E agora com essa mudança de prefeito, dois anos de Haddad, você acha
que de uma modificada, voltou à fase da Marta?
Leda - Olha voltar à fase da Marta é difícil igual à Marta não tem, fiquei ate triste que
ela não ganhou, pelo tanto que ela fez, mas voltar do jeito que era ela é difícil.
Henrique - E a questão do conselho gestor? Que eu participei também, vamos falar
um pouco, o que você pensa sobre ele, acha que falta participação?
Leda – Acho que falta participação da comunidade, é fácil chegar e reclamar, mas a
comunidade não ta participando, só tá indo eu e a Maria, eu sozinha é difícil, agora o conselho
ta mais formado por professores, lógico que eles vem o lado deles, mas acho que a
comunidade ta perdendo com isso, ninguém quer se envolver ninguém quer dar a cara a tapa
pra mim sozinho é difícil.
Henrique – E o que você pensa do futuro, essa criançada que cresce com esse tipo de
escola, que já entra desde sempre no CEU, seis, sete, oito anos?
Leda - A educação é outra né, eles têm várias coisas boas pra aproveitar, várias
atividades, se eles tiverem a cabeça boa vão aproveitar bastante coisa ai. Vários esportes, as
professoras dedicadas. Eu acho que se eles tiverem a cabeça boa vão aproveitar bastante, meu
filho infelizmente não conseguiu vaga ai, o tanto que eu lutei, mas não deu. Agora virou uma
bagunça porque no meu tempo ter que comprovar que morava perto da escola, agora vem
gente de longe, aqui briga com o Pedrinho do campo (Dono do terreno onde foi construído o
CEU Pêra Marmelo.).
Henrique – Ele não queria ceder o terreno?
Leda - Sim, mas no fim deu tudo certo. Mas você vê com tanta luta meu filho não
entrou ai, mas vem criança de longe.
Henrique – Fala um pouco pra mim sobre o baile da melhor idade esta integração
desde quando tem o baile?
Leda – Desde o começo tinha a Ana Claudia do telecentro, ai a gente começou a fazer
o baile era um bailinho pequeno pouca gente, a gente colocava mesinhas, mas cresceu tanto
que hoje não cabe mais mesinha, ai começou a vir gente de fora, do CEU vila Atlântica e nos
vamos ao baile lá.
Henrique – Ai tem essa integração, o pessoal de lá vem aqui e o daqui vai pra lá?
Leda - Isso, e é bom que a gente conhecesse muita gente, é muito bom o lhe dar com o
pessoal da melhor idade e tem também o artesanato, conseguimos ai uma parceria com uma
44
pessoa que estudou gerontologia, e visa o bem esta dos idosos, ai com a gente ela vai ver
essas questões de leis, estatuto do idoso, estas coisas assim porque a gente tem muita dúvida,
das leis, dos direitos dos idosos. Eu já conhecia ela, do tempo da marta, mas ai no tempo
Serra/ Kassab era foi posta de lado e ai ela voltou agora.
Henrique – Falando de direitos aqui vai virar polo de direitos humanos? O que você
pensa disso?
Leda – Tudo que for feito pra comunidade pra melhorar é bem vindo, porque o
pessoal não se liga muito nessas coisas de informação, de direito de educação a gente tem que
saber tem que ta por dentro.
Henrique - E a comunicação do CEU? Você acha que é eficiente?
Leda - Então eles põem avisos, tem a programação do mês inteiro, mas tem gente que
fala assim pô você não me avisa, mas ta lá pra todo mundo vê, tem aqueles painéis, tem na
parede, é uma questão de parar e olhar, ler né! Se programar, eles divulgam sim é bem
divulgado.
Henrique – Pra finalizar o que você tem a dizer sobre sua relação com o CEU e o que
você pensa do futuro dele? Como você vê essa dinâmica do governo atual, da comunidade.
Leda – Você conhece o CEU aqui, você já foi CEU do Kassab? Olha o teatro é
pequenininho, não e igual esse o teatro daqui já venho muita gente aqui e todos elogiaram o
teatro daqui eu já fui no teatro Butantã, porque antes eu fazia o vocacional fui se apresentar
lá.O teatro era pequenininho.o nosso daqui é grande os da marta são melhores.
Henrique - Você fazia o vocacional?
Leda - Fiz durante um ano. Era dança. É legal mas não era o que eu queria eu queria
dança de salão,sempre lutei pra vir dança de salão aqui mas não venho,porque o vocacional é
mais expressão corporal alongamento, pé legal mas não era o que eu queria dança de salão
mesmo e o que mais você perguntou ?
Henrique- Sobre a relação do CEU e a comunidade o que você pensa pro futuro?
Leda - Era bom que a comunidade participasse mais, não só de deixar o filho lá, mas
participasse da vida do CEU que nem eu fico lá.
Henrique - Saber o que ta acontecendo
Leda - Exatamente porque as pessoas só deixam o filho lá e vão pra casa, e não é
assim tem que participar, tem que estar por dentro de tudo o que acontece, se você acha que
não tem uma coisa legal tem que ir lá no conselho e reclamar, porque uma pessoa sozinha dá a
impressão que é picuinha minha , que só eu que to vendo
Henrique - Não tem uma demanda unida.
45
Leda - Não tem, na outra gestão tinha mais comunidade participando era melhor,
agora eu fico ali de bobeira, eu falo, elas acham que o direito delas ta certo.
Henrique - Então o que você pensa é que a galera precisa participar mais?
Leda - Isso você tem que ficar integrado ali, tem que saber tudo o que acontece,
porque isso daí é nosso é da comunidade, o pessoal que ta ali ta ganhado pra trabalhar, a gente
tem que ter o melhor, e pra gente querer o melhor a gente tem que ta integrado ali, participar,
isso daí falta muito.
Henrique - Bem e você quer falar mais alguma coisa?
Leda - Não, (risos) acho que já falei tudo acho. Já falei demais.
Henrique - Então agradeço e estamos ai. Participar, vou ver a questão do horário.
Leda - Ah deixa eu falar uma coisinha o meu vice me deixou na mão (risos) , mas eu
sei você tava estudando.
Henrique - Vou ver re retorno (risos).
46
José Soró – Agente cultural de Perus, Diretor da Agendes – Agencia de
Desenvolvimento Cultural. Entrevista realizada no Quiosque do CEU Perus
no dia 25/10/2014 às 15 horas.
Soró- Eu fiquei curioso né, eu não trabalho no CEU, fiquei pensando por que você
quer me ouvir ?
Henrique -Mas aí que ta a graça (risos). Eu queria que você se apresentasse, José
Soró, onde nasceu ? Quanto tempo mora aqui em Perus ?
Soró - Eu nasci no mato grosso do sul, morei lá em fazenda ate os 11 anos, aí meu pai
morreu, nos somos em 6 irmãos e minha mãe, ai um tio meu que morava em São Paulo meio
que resgatou a gente , trouxe pra São Paulo, ai viemos morar em perus em 1976, aí fiquei por
aqui e de alguma maneira essas historias que tinha em Perus acabou atraindo muito, eu
cheguei num período que da minha casa dava pra ver tas manifestações no portão da fabrica,
tanques ainda da ditaduras e tal, essa coisas aguçavam.
Henrique – Impactaram ?
Soró – Impactaram. Ai quando entrei na escola, entrei com doze anos no Candido
Portinari, eu já sabia ler e escrever, antes não tinha estudado por que onde morava não tinha
escola, mas tinha aprendido a ler e escrever com gibis essas coisas e fui aprendendo, mas tive
que entrar na primeira serie, era um gigante, interessante né porque ali já exercício um pouco
o papel de mais velho, era o único lugar que tinha ou morrer de vergonha por ta ali com doze
anos no meio de crianças de sete. Enfim, o Candido Portinari, é uma característica das
escolas de Perus, era muito politizada, contava-se muitas historias dos queixadas,das lutas
sociais que existiam no bairro, ai acabou não dando outra cara!! Um dia cruzei com um
professor de historia e as coisas começaram a fazer sentido. Era interessante acompanhado um
pouco o período de 79 das lutas pela...
Henrique – Democratização ?
Soró - Não, ainda era pela anistia e aquilo aparecia assim, ai começaram a aparecer às
greves.
Henrique Greves, tinha informação ?
Soró – Tinha. E eu me lembro daquelas cenas da Vila Euclides, do Lula, que aquilo
ali dava um calor, mas eu ainda não entendia por que. E as contrainformações eram muito
grandes, sempre eram colocados como baderneiros enfim, e era sempre assustador esse clima
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ainda de final da ditadura militar, mas aquilo chamava atenção, e tanto é que eu acabei
entrando na militância política podemos dizer assim , mas não pelo PT, uma vizinha ia fazer
campanha pro Janio Quadros e resolveu contratar o povo, e eu fui enfim NE era um bico, mas
tinha aquele interesse porque vinha ai deputado conversar, ai tinha aquele interesse, mas
acabei entrando pela porta errada, mas era a campanha de 82 e o lula aparecia mais vezes,
porque tinha o horário eleitoral e aquilo começava a ferver, ferver, ferver dentro de mim, ai
chegou à eleição e meu primeiro voto foi no Janio Quadros prefeito, mas acho que nunca mais
cometi algum erro (risos). Mas me encantei por essa coisa do universo político, na eleição
mesmo conheci algumas pessoas, alguns jovens aqui do bairro e já tinha alguns jovens
discutindo a falta de cultura no bairro, e tinha um cara do PCB, Edson, por conta do Mario
Covas ser prefeito ele era uma espécie de subprefeito, e ele era muito envolvido com arte e
com cultura e começou a dar uma impulsionada também, ai a gente se juntou num grupo de
pessoas, ai a gente criou um centro cultural, se chamava Ajuá.
Henrique - Década de 80 ?
Soró – 82,83, ai promovendo algumas coisas ai, ai acabei indo pro mundo político,
fazendo militância política mesmo, achei que o PT era o que eu queria, aquela coisa com o
lula e tudo, e sou apaixonado por política acho uma arte, e fui compreendendo desde a minha
historia ate a realidade periférica de Perus que era muito violenta,fui começando a
compreender esses conceitos de luta de classe, etc. ai fazer política não foi só um gosto uma
adrenalina, mas um posicionamento pragmático político meso, quem eu era onde estava, e
sempre fui muito revoltado com a pobreza né, e teve um certo desencanto com a minha
infância né porque tudo que eu lembrava era muito bonito, mas depois você vai entendendo
que meu pai era trabalhador, a máquina roçadeira que eu vi um dia e achei maravilhoso
parecia de outro planeta, na verdade era a desgraça do campo e a consciência que meu pai era
trabalhador que vivia aquela migração atrás de emprego , de colheita,estas coisas e tal ate que
eu voltei um dia eu fui pro mato grosso uma época, tava tudo parado lá, ai nunca mais quis
voltar, nunca mais tive essa coisa de voltar pra lá, mas acho que ganhei do ponto de vista do
meu lugar no mundo e desde então participei dos movimentos sociais, aqui do bairro sempre
muitos movimentos, luta de absolutamente de tudo, água asfalto, etc.
Henrique – Bem eu fiquei curioso, você falou ai do Janio Quadros, e a vitoria da
Erundina em 89 ?
Soró – Ahh! Ai eu já tava bem descolado. Fiz parte assim de uma cristalização de uma
identidade política fudida, que foi a história da Erundina. Eu comecei a participar da Igreja
(Comunidades Eclesiais de Base) e toda essa ebulição que acontecia no Brasil, e tudo foi me
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interessando bastante e fui aprendendo, e nessa época da Luiza Erundina, era muito
interessante, eu fiz parte do PT acho que doze anos, assumi cargos, fui candidato etc. Mas não
era muito meu encanto, mas entendo que era um caminho natural quando você faz militância
partidária assumir cargos faz parte do percurso, mas da Luiza, o PT tinha uma proposta de ser
de massas e de quadros40
e ele era mais que um partido, era um movimento cultural de
mudança, e congregava diversos tipos de núcleos, neste sentido ele era de massas, por que a
base tinha lugares pra falar, participação intensa, ele se constituía por núcleos, só em Perus
tinha dois núcleos , e tinha uma participação muito direta desde o sujeito mais simples até o
mais intelectual dentro do partido, e isso politizou muita , estudar, era um movimento que
tinha aquilo de que tem que estudar, tem que se formar. Tanto até que na primeira reunião que
eu fui, a pedagogia era horrível, os caras sentaram lá, sábado a tarde e abriram O Capital
(risos) volume 1, e começaram a ler O Capital, era muito simples, mas essa consciência da
necessidade de estudar, isso me favoreceu muito, assim de ganhar disciplina, de pensar de
estudar fazer analise de conjuntura, e isso hoje acho que ficou muito pobre, essa necessidade
de ter a disciplina de estudar não é visto como uma tarefa revolucionária, ai tem um
empobrecimento enfim. Ai nesse caminho todo surge 88, que foi uma historia muito
interessante. A parte diretiva do PT, que já era um núcleo em torno do Jose Dirceu,eles
avaliavam que o melhor candidato era o Plínio por que ele era cristão,dialogava com a classe
media pra perder aquele medo do PT. E a outra candidata era a Luiza Erundina, que vinha
arrebentando tudo, zona leste com NE barro, tinha um discurso radical, que a cidade precisava
arrebentar a cidade por que a cidade era muito complicada. Enfim, a direção bancou o Plínio,
mas teve uma rebelião de bases interna, a cara do PT é a Erundina, e eu fiz parte desse
movimento, era da articulação que era majoritária mas comecei a me desencantar um pouco
com eles. E quando chegou as prévias as bases deram uma virada feia, tipo 80 por cento pra
Erundina e ai criou um problema por que a direção se ressentiu e se afastou, então você tinha
a máquina partidária controlada por essas pessoas e tinha uma candidatura lançada pelas
bases, e a consciência imediata era vamos com o que a gente tem, boca,língua convencimento
ai virou uma febre em são Paulo os núcleos todos se mobilizaram, lembro que aqui em perus a
gente fez porta em porta duas vezes conversando com a pessoa e isso se generalizou pela
cidade, ai não deu outra batemos o Maluf. Mas isso gerou um problema de governabilidade
porque ela não tinha estrutura partidária, não tinha estrutura, montou um governo conforme a
base apontou, mas não tinha sustentação. O primeiro ano foi muito difícil, mas isso foi bom
40
Sobre Partido de Quadros e Partido de Massas veja http://www.veduca.com.br/play/7283 Acessado em
02/11/2014 as 18:05.
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porque as bases discutiam muito os diretórios indicavam o administração regional, tinha que
ser alguém de perto, os cargos eram todos discutidos, pra todos os organismo de saúde, de não
sei o que a gente montou conselhos populares, então tinha um participação muito intensiva,
foi um ano de governo direto com as pessoas. Mas a sustentação institucional era complicada
e ai eles tiveram que arregar por que a direção voltou e assumiu e falou que tinha que ser do
nosso jeito também, ai o governo ganhou em capacidade funcional administrativa,mas fugiu
um pouco das bases. Mas enfim esse papel esse momento é fundamental, essa é um pouco a
minha escola de aprender a olhar o mundo.
Henrique – Me fala mais um pouco ai da Erundina, ela que tomba a Fábrica de
Cimento nesse momento ?
Soró - Pois é, essa é uma historia ruim (risos) dela e nossa. No governo dela essas
coisas de recuperar a memória, dar valor ao movimento sociais, o povo da área acadêmica
vem em peso com a Chauí como secretaria de cultura , e começam a fazer um resgate de
memória na zona leste e isso bateu aqui nos ouvidos do João Breno e do pessoal do sindicato.
Ai rolou uma parceria e a secretaria de cultura venho pra cá e começou um estudo para efeitos
de tombamento patrimonial e ao mesmo tempo um resgate da memória oral que ia sustentar
esse tombamento imaterial por que em tese a fabrica não tinha elemento para ser tombada
patrimonialmente então a historia da greve dos queixadas sustentou esse tombamento, durante
quis um ano a gente ouviu uns 200 queixadas contando suas historias . E isso resgatou a ideia
do centro de cultura do trabalhador que era uma ideia de 58 a gente resgatou, ai conseguiu o
tombamento, faltava fazer a desapropriação e construir o centro de cultura e memória.Havias
conversas com o SESC pra viabilizar o centro de cultura e a prefeitura precisava fazer a
desapropriação. Foi feito o tombamento a gente celebrou na praça. Ai entrou no ultimo
mandato da Erundina, ai aconteceu uma coisa complicada, o povo militante nos cargos
começa a ir pra campanha, ai o governo começa a trabalhar mais lento. E havia uma crença
também, não que ela seria reeleita por que não tinha reeleição, mas que a gente ia conseguir
reeleger o sucessor, que na época era o Suplicy. Ai entramos nessa crença tanto eles do
governo e a gente dos movimentos sociais, então a gente vai ganhar faz a desapropriação
depois , ai se fudemos por que perdemos pro Maluf (risos). E FOI UM vacilo mesmo. Lembro
que o João Breno que era um cara muito sabido falava olha não vamos entrar nessa onda,
vamos acelerar as coisas e lembro que a gente mais militante falava assim que isso não seja pé
frio não fala dessas coisas (risos) . E isso criou um vácuo, porque ela foi tombada mas não foi
desapropriada.Ela continua pertencendo ao Abdalla que não conseguiu transformar ela pra
outros negócios ai venho destruindo ela sistematicamente. Foi falta de mais esperteza que
50
acho que retardou atrasou um pouco. Foi essa historia com a Luiza Erundina, mas claro o
respeito e admiração pela coragem dela de enfiar a mão, porque eu lembro que essa discussão
da imaterialidade era tirada por todos os intelectuais da área de patrimônio como bobagem,
então foi uma luta muito forte pra reconhecer , e mais transformar uma ação de trabalhadores
em patrimônio, é fácil você achar ai um herói renegado e transformar em patrimônio, outra
coisa é transformar a historia de trabalhadores em patrimônio.
Henrique- Pra não fugir da Erundina, queria que você falasse um pouco da vala
comum também, é nesse momento que é descoberta , teve a CPI, ela venho aqui.
Soró – Foi, foi. Esses assuntos eram corriqueiros, se falava mas eram tidos meio como
boatos, e tinha um cara aqui de extrema direita que não sei por que se encantou com a
Erundina quando ela se elegeu (risos) e ele trabalhava no cemitério. E ele sempre contava
essas historia e ele resolveu levar a serio por que tinha convicção, ai debateu lá no serviço
funerário enfim e conseguiu convencer alguém La de que era possível essa história,ai o
pessoal comprou a historia dele e resolveu as valas e descobriu. Ai todas aquelas historias
boatos que se ouviam começa a ganhar conexão sentido, e grande parte da população naquela
época já tinha um ódio violento ao Maluf, aço que por causa dessas historias, por que o cara
foi um grande canalha, filho da puta, construiu um cemitério pra esconder dissidentes
políticos, movimentos de enfrentamento a ditadura. Mas, mais que isso, uma coisa muito
nojenta os extermínios de pobres e pretos na periferia, então era um cemitério pra isso, uma
coisa absurda! Ai tem uma parte que tem uma convicção danada anti Maluf e tem uma parte
que adora, venera ele. Mas faz parte dos movimentos lá. E a Luiza Erundina acho que teve
esses aspecto de um governo de coragem, de arrebentar a coisa de rasgar tecido. E tinha puta
quadros, não temos mais. Ela tinha Paulo freire como secretário da educação, Marilena Chauí
como secretária de cultura (risos) então tinha muita coragem, foi um governo de arrebentar
mesmo, muito corajoso. E tinha dois aspectos que eram muito interessantes. Um era dar um
choque na educação, e isso tem a ver com a Fábrica e com o CEU também, porque essa ideia
do CEU nasce lá atrás via Paulo Freire, de uns encontros com o movimento de moradia da
zona leste. Eles eram metidos a pensar o lugar da educação como um lugar educativo, e foram
atrás do Paulo Freire pra discutir isso. E desenharam a implantação do conjunto habitacional
todo pensado como um lugar educador, do jardim a casa, a praça todo desenhando com o
Paulo Freire. Ai começa a nascer essa ideia do CEU acho assim,de um lugar que seja
integrador da comunidade,nascem dessas ideias ai mas eles não chegaram a fazer o CEU, e
todos eram fãs assim, apesar de estar em partidos diferentes , do Darcy Ribeiro e os CIEP's no
Rio, mas não chegaram a fazer o CEU. Então a Luiza ela tem essas importâncias de arrebentar
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algumas coisas tinha isso de abrir discussões,abriu essa coisa do urbanismo. De memória
assim de conhecimento eu tenho memória do Mario covas do Janio, ai tinha ideia do que era a
prefeitura, na época dos caras as prefeituras era o que basicamente são as subprefeituras hoje,
zeladoria, a prefeitura era basicamente a zeladoria de São Paulo, não criava não propunha, ai
quando chegou a Luiza Erundina ela passa a ser uma prefeitura de olhar a cidade, o povo, ela
começou a abrir essas coisas a prefeitura é muito mais do que só administrar,zelar, acho que
no governo dela foi que abriu um pouco essas coisas em São Paulo. E esses acontecimentos
de arrombo né! O cemitério, a vala comum, era até um risco, era recente o fim da ditadura,
então ela foi corajosa nesse sentindo foi um governo que abriu muitas frentes de coragem Há
um choque inclusive mesmo na esquerda, a Marta e mesmo o Haddad agora , todo o ideário,
não tem nada novo nesse sentido , todos eles são continuação daquele programa feito em São
Paulo , mas com menos coragem (risos) naquele momento tinha coragem (risos).
Henrique – Vamos dar um salto histórico ai, amos pular o Maluf e o Pitta, e em 2000
a Marta é eleita, ganha do Maluf você chegou a participar dessa campanha ?
Soró – Não, já tava fora do PT. Sai fora do PT em 93/94. Eu digo que fui salvo da
mediocridade, eu sai já com o questionamento que era o receio da questão ética.
Henrique - Isso em 94 ?
Soró - Em 92 eu já tava em crise. No primeiro ano do governo da Erundina, seis setes
meses, teve um encontro municipal, na Vila Madalena, fui eu e o Mario Bortoto, a gente ta lá
sentando esperando um pouco, o povo atrasado uma hora e pouco, um ato revolucionário
chegar atrasado (risos), ai chega os opalas oficiais, e descendo o povo que a gente conhecia do
cotidiano, do ralo, chinelo no pé, com paletó pastinha de coro, nada contra isso , mas deu um
choque assim de visão . Ai o Mario falou, você tentou imaginar essas pessoas assim que ate
ontem ano tinha salários estavam desempregadas, j=hoje tem cargos, sala com ar
condicionado, como vai ser difícil pra elas se reacostumarem depois, voltarem pro ponto zero
? Eu falei que isso bobagem Mario . Num deu outra. Muita gente não conseguiu voltar. Ai
você começa um movimento interno de grupo que é na verdade de se sustentar. E é
complicado por que se perde a coragem tudo fica mais negociado, ai começa a perder ai, as
pessoas já não são tão mais livres e originais. E o PT tinha ganhado outras prefeituras e o Zé
Dirceu assumiu, ele deu um basta nessa historia de partido de quadros e de massas, não tinha
mais nada de massas (risos).Ai ele começou a montar a maquina a estrutura, o pessoal que
trabalhava aqui i começou a ir pras outras prefeituras, no acre,não sei na onde, outras
administração porque tinham conhecimento e habilidade, mas também por que já faziam parte
de uma rede já, ai esse caras não saíram mais do poder. E naturalmente os grupos vão
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começando a construir pra se manter e não mais pra transformar. Ai começa azedar o caldo
ético e cultural que a gente tava vivendo. Ai eu já tava desencantando com isso, inclusive fiz
uma fala com o grupo aqui, tenho um dever para com vocês mas to saindo desencantado e
minhas angustias tem a ver com essas coisas. Claro os seres humanos tão la sujeitos a risco
né, não tenho duvida que há corrupção, muita gente acaba sucumbindo aos mecanismo
corruptos. Eu lembro que a quando eu era do partido, era da comissão de ética, lembro que a
gente caçava a filiação do sujeito só por falas machistas, saber que o sujeito foi grosseiro com
a mulher dele já era motivo pro sujeito ir pra comissão de ética. Esse rigor era necessário pra
manter os companheiros na linha não correr o risco, mas enfim faz parte do processo político.
Henrique – Ai falando em participação, 2002, 2003 a Marta começa a execução do
projeto CEU, você lembra como que foi ? E teve questão de participação ? E o que era aqui
nesse terreno ? (CEU PERUS)
Soró - Este terreno era um brejão, um dia ele já foi há muitos anos, década de 50 um
campo de futebol, mas nos anos 80 pra cá, era um brejão matão, meio que o lugar das
enchentes porque sempre enchia aqui.
Henrique- Os queixadas jogaram bola aqui ? Década de 50 ?
Soró- Jogaram muita bola. O gestor de CEU aqui é palmeirense, a gente gosta de
lembrar de uma batalha que teve aqui que foi o Portland e o Palmeiras oficial, e o Palmeiras
apanhou( risos) , a gente adora lembrar essa historia pra ele, Palmeirinha tomou um cacete
(risos)
Henrique - Dos queixadas (risos)
Soró – Então mas era um brejão Eu não tava aqui , tava no centro da cidade
trabalhando com pessoal de rua, mas sempre acompanhado o que acontecia aqui, e o pessoal
continuava sempre mobilizado em perus, isso e um dado interessante em Perus, você tem
muitos grupos e pessoas divergentes aqui, mas há uma sensibilidade pra compreender coisas
que são coletivas do bairro, e nisso sempre se juntaram.Então esse jeito de funcionar sempre
teve, e sempre muito intenso, tinha movimento contra o lixão, o pessoal sempre permanecia
mobilizado né . Ai a Marta ganhou, e um grupo daqui montou a subprefeitura. O Mario
Bortoto como subprefeito, e a equipe, então eles começaram a meio que governar o bairro em
torno das lutas todas, foi um ano de subprefeitura muito itens, participativo, e nesse período
começou a discussão em torno dos CEUs, como a gente já reivindicava um centro cultural há
muitos anos, rolou então essa coisa do CEU em Perus e começou o processo de participação
das pessoas a dizer como queria, que tipo de CEU queria. Os projetos foram bastante
discutidos antes deles virem pra construção. Mesmo em cada um tem características mudadas.
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Aqui numa das audiências, o modelo arquitetônico era de um teatro de arena.Tinha um povo
das comunidades do entorno, Ai a Marta venho ai e falando ah vocês vão ter um teatro de
arena , aquela coisa idílica (risos) . Ai uma senhora vira pra ela e fala, que a gente quer teatro
é uma certeza, mas a gente quer um teatro, teatro!!! Com cortina etc. Ai a Marta parou
pensou e falou você tem razão e mandou mudar o projeto ai construiu esse prédio que tem o
teatro. Então o processo de construção dos CEUs foram bastante participativos neste sentido ,
nos bairros que as pessoas participaram mais tem essas características, e em Perus houve
grande participação, esta impregnado, enfim. Ai participaram de todo o processo, e a escolha
do terreno tinha que haver um que coubesse algo desse tamanho, não tinha muitas áreas livres
que coubesse, ai foi escolhido essa área aqui, claro tiveram que fazer um trabalho de suporte
ai porque era mais baixo por conta das enchentes, mas foi escolhido aqui por conta do aspecto
histórico e por que era a área central. E o grupo do Mario que tava na discussão do plano
diretor regional naquele período junto com os movimentos, já tinham entabulado uma
concepção dos 3 eixos e do corredor cultural. Esse corredor cultural implicava daqui do CEU
seguindo o rio, a rua passando pela praça entrando na fabrica pelo túnel que era a entrada
original dos trabalhadores.Ai junto com a fabrica e a ferrovia perus Pirapora formava um
grande corredor cultural.O corredor previa vários desapropriações aqui no entorno que era pra
construir outros equipamentos culturais, mas como eles saíram da subprefeitura esse resto que
era pra ser feito não foi feito.Ai ate hoje não conseguiu dar essa características de um
território, que era abrir aqui e conectar com a praça,uma grande área aberta com vários
equipamentos culturais, chegaram a fazer a pista de skate, mas parou por ai porque esse
grupo por conta de brigas internas foi expulso da administração, e ai quando eles saem essa
ideia toda perde força ai não aconteceu. Então o CEU parou ai. Durante ainda o governo da
Marta, eu não tava aqui mas acompanhava muito porque vinha aqui, o pessoal que assumiu a
gestão, Maria Helena, o povo que assumiu a gestão, tinham a ver com os movimentos do
bairro, então eles garantiram durante o governos da Marta um CEU bastante intenso,
produtivo com as características que eram pra abrir pra população.Eu acompanhava de longe
e pensava o seguinte, era a favor que você tem que montar algo que quebre a lógica mórbida
periférica, ate brincava a gente lutou durante quase quinze, vinte anos pelo centro cultural e de
repente a gente ganha esse mega monstro (risos), pra alguns lugares isso foi tão espantoso,
que a falta de habilidade de quem estava na gestão com o entorno, transformou em elefante
branco, ou escola privilegiada, o CEU é sempre tido como uma puta escola pelos seus
recursos Mas enfim, eu achava o CEU muito correto como política publica, muito mais talvez
pelo aspecto cultural do que o educacional, porque numa ideia de mudança da sociedade a
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gente tem que reparar os direitos das pessoas, chegar com as condições, mas eu já tinha uma
concepção que era muito mais alem disso, as pessoas não tinham boa escola não iam no
teatro, não era só por que não tinham acesso ou custava caro, nessa época trabalhando com
pessoas de rua já tinha descoberto que o repertório de universo imaginário das pessoas é
fundamental, então uma pessoa que nunca foi no teatro, ou qualquer outras manifestações
artísticas, não tem isso no seu cotidiano, não faz parte.Ele não vai por que aquilo não diz
muito respeito a ele. Não faz parte do cotidiano dele, ele também não estimula os filhos
porque não tem esse repertório. Então pra mim é necessário investir em cultura, porque ela
potencializa o universo imaginário das pessoas, enriquece. Tanto é que acho que a gente tem
um fenômeno grave hoje, que é conseguimos tirar grande parte da população de um estado de
miséria econômica, garantindo emprego, estabilidade, renda, mas temos uma grande parte
dessas pessoas hoje compondo movimentos fascistas. Imediatamente compondo com
preconceito, discriminação. Ele saiu ontem da favela e ta nisso, então o que é isso. É falta de
projeto ético, ideológico e cultural. Então o que a gente viu nesses anos todos de governos de
esquerda, esta compreensão diria errônea, ou limitada da questão da cultura e dos efeitos que
a miséria produz nas pessoas. Não é só a fome, é o que isso tira da sua capacidade de pensar,
de compreender, então retirar da miséria não é só garantir comida, mas também chegar com o
aprouche de outras coisas. Tanto é que a educação não melhorou de qualidade, a despeito de
temos todo mundo na escola , mas a educação piorou sua qualidade enquanto papel
formador. E a cultura sempre foi relegada a um canto dos governos, então é um tiro no pé.
Tanto é que ta correndo agora o risco de perder a eleição, ou correu um grande risco. As
pessoas que tão com ódio hoje, grande parte delas foram as pessoas beneficiadas, com
universidade com não sei o que, mas como não houve politização o sujeito não sabe de onde
venho, e ele se sente no direito de não ter responsabilidade com essa historia, com essa
construção. Então é meio que assim foi deus que deu emprego, não cara !!, foi uma escolha
política a outra escolha política desempregava. Não ouve politização, e esse papel é da
educação e cultura, e nos governos de esquerda essas áreas são complicadas.
Henrique- Você falou do partido, tem até um certo desencanto com os partidos, o
próprio PT não tem mais essa historia de formação.
Soró – Com certeza, pra você ter um partido de quadros controlado, você precisa
quebrar essa historia e a formação é uma delas. A captação de militantes que era os núcleos
foi tudo cortado, ai você tem uma perda. Por exemplo quando eu voltei pra Perus, em 2002,
2003, conversei com os jovens envolvidos na cultura, ai conheci a molecada do Quilombaque
e achei muito curioso, por que eles eram pessoas bem informadas, compreendiam a realidade,
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tinham um posicionamento político de lugar no mundo, que eram negros, jovens, etc. E
perguntei vocês tem experiência partidária e eles falavam que não. Nenhum deles tinham.Isso
me chamou muita atenção, ai atribui isso a esse déficit, que criou um vácuo, que esses
militante com consciência, poucos nesse sentido, que não tinham passado nas escolas
tradicionais, muito jovens hoje que não contribuem pra construção partidária , que seria muito
importante pra vitalidade dos partidos, mas também não é uma preocupação dos partidos nem
do governo, isso se perdeu. Falando com absoluta convicção, o PT não tem mais militância ou
paixão, esse tecnicismo apesar de produzir ações transformadoras, ele não produz paixão e
não produz a linkagem entre você lutar, conquistar e defender a conquista, então não tem essa
paixão. Ai agora pouco sofreram sério abalo, correndo risco de perder a eleição, eles
continuavam perdidos, e o interessante que quem fez o PT reacender foi o povo de fora,
coletivos periféricos , a maioria deles não tem vinculação partidária, grande parte dos
intelectuais de hoje, uma sociedade mais esclarecida que vendo o risco resolveu reagir, e a
primeira reação foi chuchar (risos) o PT, e falar acorda, briga, se defende, a gente fica aqui
vendo vocês apanhado da Rede Globo todo dia, de tudo quanto é mutreta e vocês não
reagem, falam das conquistas e avanços mas não criam uma identidade com isso, então essa
pressão de fora fez o PT reagir, e é o que vai fazer a diferença na reeleição da Dilma, essa
capacidade de reação, de voltar a acreditar em política, ir pra rua de discutir, enfrentar os
argumentos do fascismo. O cara nem percebe o quanto ta sendo odioso e não percebe a
contradição que ele ta fazendo. E na campanha da Luiza Erundina esse ódio contra mulher e
nordestina era violento, muito mais que hoje a gente enfrentou isso com debate, coragem de
debater,convencendo as pessoas e hoje nesse momento os caras ficaram recuados não vão pra
rua, não defendem, e essa reação social de entorno ,que eu chamaria democrática republicana
.Eu não faço mais parte do PT, não votei no PT no primeiro turno, votei na Luciana genro,
mas nesse momento é um posicionamento republicano ou é isso ou é essa caralhada de força
escrota que fechou entorno do Aécio e que dá vida, argumentos pra esses caras que ficam
assassinando os outros na rua. E os coletivos que entregaram o documento na zona leste, tem
um posicionamento bem claro, ninguém que tava lá tava envolvido no partido ou na
campanha, mas vamos lá entregar esse documento meio que com um compromisso, um
posicionamento responsável, até mesmo coletivos apartidários tiveram a coragem de se
posicionar. Não é um gesto gratuito, custa caro enfrentar o debate interno nos coletivos,
eleitores do Aécio tem poucos, mas tem muitos anarquistas, gente que defende o voto nulo,
então nesse sentido entregamos o documento, mas dizendo olha estamos entrando numa
batalha, mas vamos cobrar.
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Henrique - Eu queria saber, você falou dessa questão da Marta aqui o CEU bem
aberto participativo, e quando o Serra foi pra prefeitura, esse período Serra/ Kassab e o CEU,
como ficou essa relação ?
Soró –Piora né, a educação tomou conta de vez, sempre foi um conflito complicado
entre educação, esporte e cultura no mesmo lugar e com critério que tem a ver com a
educação, o gestor só pode vir da educação, então é um equilíbrio delicado num lugar que
devia ser autônomo por excelência Na época o grande projeto era das subprefeituras com a
concepção de governos locais autônomos, e o CEU já foi desenhando nessa perspectiva de
organismo autônomo.Não tendo aquela relação de guarda chuva que as secretarias tem, por
exemplo o posto de saúde só fala com a secretaria de saúde, etc. Como o projeto das
subprefeituras não foi pra frente, porque implicaria em tirar poder das secretarias, redistribuir
recursos, porque falar de autonomia sem recursos ... Ai esse instrumento de governo local não
deu certo. Ai você tem o CEU, ele tem a gestão, mas a parte da educação se relaciona com a
secretaria de educação, a parte de cultura com a secretária de cultura, de esporte com a
secretária de esporte, então você não tem um integração local, dependendo do gestor e do
conjunto que se forma ali. Então o projeto dançou ai, antes mesmo de chegar o Serra/Kassab,
quando eles chegaram, sem projeto nenhum na educação, tanto faz isso pra eles, não fede nem
cheira, afundou o CEU, isto aqui ficava as moscas, instrumentos abandonados, poucas
atividades. Então , eles só agudizam um processo que já no final do governo da Marta já
estava complicado o modelo CEU, porque ele se afundava em próprias contradições dele.Não
respondia e com a chegada do Serra/ Kassab só piora. O engraçado disso é que no final do
governo da Marta e começo do Serra, tinha o Quilombaque, que se propunha a ser um local
de articulação, não era pra substituir o CEU, mas o que não acontecia aqui acontecia lá. Ai
quando se fecham de vez as portas do CEU a Quilombaque estava num momento de
vitalidade, então acabou tendo um pouco o papel que o CEU poderia ter cumprido, que era
ser um centro de referencia no bairro que articula a movimentação cultural. Vários grupos
reclamavam que não tinham espaço no CEU, e iam lá no Quilombaque pedindo espaço era
uma festa (risos) a gente comemorava. Não queríamos acabar com o CEU, mas eles ficavam
reféns das atitudes mais estranhas, nenhum grupo tinha garantido por exemplo que todo mês
num domingo estava garantido um espaço para que o grupo pudesse se planejar. Era uma
burocracia estranha. O sujeito ficava sempre inseguro, não dava pra se programar. Mas enfim,
forçou a Quilombaque a crescer e acolher isso, e manteve essa cena viva que o CEU poderia
ter feito. Os meninos eram bem rebeldes, mas eu quando entrei macaco velho em política,
falei calma a gente tem que aprender quando tem que dá grito, quando tem que conversar.
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Então todo gestor do CEU que entrava, todo subprefeito que aparecia , a gente ia fazer uma
visita oficial e apresentava o que a gente tava fazendo e nossa proposta pro bairro e chamava
parcerias se o cara quisesse bem. Quase nenhum quis, mas a gente fazia nosso papel de ir lá e
reconhecer o instrumento público, nunca deixamos de legitimar os caras como instrumento
público e ate dizer pro cara que ninguém era bobo neste sentido. E a Quilombaque tentava se
diferenciar do discurso, se diferenciado pelo fazer, mostrando que sempre era possível e isso
sempre foi um incomodo pro CEU. Mas esse conflito é bom pro CEU não morrer de vez . Eu
conheço alguns CEUS, alguns nem chegaram a ter vida, outros perderam essa vitalidade
virando elefantes brancos , e os CEUs do Kassab que eram uma aberração, lugares sem alma,
sem condição.
Henrique – Já nasceram mortos.
Soró – É . Tem um na Anhanguera por exemplo que não consegue engatar uma ideia,
uma concepção. Porque nasceu meio naquela concepção enfia um prédio lá e pronto. Aqui
nasceu de um desejo da população do entorno, dos movimentos organizados e isso faz
diferença no animo.
Henrique –Na participação.
Soró – Sim, sim.
Henrique – E é porque, quando você fala do gestor , ai eu lembro eu tava aqui no dia
da posse do gestor do Marcio, ele comentou de transformar o CEU numa Esquina da
Comunidade.
Soró - É que quando ele nasceu a concepção era essa, do CEU ser um a Esquina da
Comunidade, o local onde as pessoas se encontram, essa é a concepção originária do CEU e o
Marcio como participou dessa primeira concepção, ele tem muito isso e tinha isso
engasgado, porque era o nosso centro cultural que lutamos (risos) e você vê os caras
desgraçando o lugar, dilapidando uma concepção linda. Que vinha como uma ideia de lá, mas
se encontrava com uma desejo, uma ideia que a gente tinha aqui com um lugar de cultura e
educação, então ficar vendo os caras acabarem com isso é difícil. E ter a oportunidade de
mudar isso é bom .
Henrique – Me fala um pouco da universidade livre, interessante essa parceria, a USP
vindo aqui, essa parceria, CEU, USP, Universidade livre e o Movimento da Fábrica.
Soró- Tem dois núcleos aqui que são muito fortes, o povo ligado a educação e o povo
ligado a cultura, ai vai vendo, quando tem esse encontro com a Quilombaque, e
compreendendo a realidade local de que a Quilombaque vai ter que assumir o papel
responsável de puxar, revitalizar isso, inclusive os companheiros cansados, e nesse ponto
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outros coletivos chegaram e somaram, a gente meio que foi descobrindo os outros o que tava
acontecendo nas bordas periféricas.Neste momento nasce a ideia de formar uma rede,
chamada Rede Viva Periferia Viva! Porque a gente tava discutindo um dos maiores problemas
do processo cultural, a tal da sustentabilidade, não tem condição, não tem dinheiro, etc. É
interessante inventar do nada, mas tínhamos que discutir condições de sustentabilidade, e eu
chegava então com minha experiência e começava a discutir com eles estratégias de
sustentabilidade, de sustentabilidade pedagógica. Não adianta as vezes você ter alguma
experiência de banda, teatro, experiência artísticas, mas você ficar mal das pernas, acaba e
não tem serventia, e pra processo pedagógico é preciso que essas coisas tenham longevidade.
Os grupos acabavam muito rápido, as ideias afundavam, e o problema financeiro era grave.
Eu como discutia, a capacidade financeira , a tal da sustentabilidade, eu discutia com eles
como fazer. Eles faziam uma coisa, que é quase natural, tanto por ser pobre e pela
convivência, que é aquela coisa da colaboração, a gente sempre fez isso , festinha, não sei o
que, junta uma coisa daqui dali,e faz a coisa e eles tinham isso quase que naturalmente, vários
coletivos se juntavam pra produzir algumas coisas juntos, mas não era uma concepção. O que
a gente fez foi trabalhar isso como uma coisa intencional, se juntar como uma estratégia de
sobrevivência, por exemplo tinha elaboração de projetos pros os editais etc. A gente fazia um
exercício de cada grupo ver qual sua atuação, manifestação, mas vamos discutir em conjunto
as planilhas, o que era isso, neste projeto você coloca som, neste completador,etc.Mas nem
todos nos vamos pegar, mas se você concentra em um só você corre o risco de não pegar
nada. Então com isso a gente foi conseguindo, por exemplo ganhar o edital ali você não pode
mandar dinheiro pra outro, mas pode comprar equipamento que todos utilizam, e a molecada
gostou , dessa historia meio Robin Hood. Então isso pegou e virou um plano, ai um dia o
Ministério da Cultura ouviu falar dessas historias, Quilombaque, Fábrica etc. Apareceu um
secretario aqui do Ministério e conversando a gente apresentando as ideias ele falou se
poderíamos fazer um projeto sobre isso, nos falando sobre a arte e a cultura pra combater a
violência. Ele perguntou se seriamos capazes de fazer um plano, opa somos (risos). Mas
como eu digo adiantado pra não chocar, falei custa caro,não é brincadeira um plano
desse.Nem tínhamos ideia, mas em um mês conseguimos construir um plano de
desenvolvimento local, que tinha a arte e cultura como ferramenta fundamentais de
transformação e também de potencial financeiro de girar a economia local. E pensamos assim
se queremos discutir a arte na periferia, que não seja só um entretenimento, mas também uma
perspectiva artística, cultural, a gente tem que pensar em processos sólidos, então a arte e
cultura possibilitariam isso desde que a gente conseguisse construir um plano sustentável. E a
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ideia era fortalecer os coletivos, dotá-los de capacidade pra concorrer na nova lógica de
distribuição de recursos, que tem que ter legalidade, etc. E construir uma espécie de circuito,
porque até então naquela parte que eu chamo de cultura patrimonial pegou um vicio de dar
oficina pra pobre, mas não tinha uma perspectiva sólida, concreta, falar assim vamos investir
na arte como exercício, se o sujeito quiser virar um artista ,ter potencial pra isso vire, mas não
só ficava nesse estímulo inicial, oficina daqui oficina dali, mas sem perspectiva futura.E a
gente queria traçar isso, vamos desenvolver oficinas, mas esse sujeito que saia da oficina pra
onde ele vai o que ele vai fazer. Pensamos então o desenvolvimento local como um sistema.
Por exemplo, o Danilo me falou uma coisa dolorida. Que ajudou a pensar e impactar um
pouco isso ele dava oficina de grafite, e tem um moleque lá com tem umas condições
familiares ruins, violência etc. Mas o moleque se descobriu no grafite, no desenho, quer ficar
lá o tempo todo, desenha muito, enfim o moleque se descobriu, mas a oficina vai acabar e o
Danilo não sabe o que fazer com esse moleque. Que merda né! Uma porta de saída pro
moleque , uma porta de talento pra arte, mas fudida porque você não tem estrutura pra isso.
Ai a gente começou a pensar nisso em fortalecer os coletivos, criar um circuito sólido,
fortalecer os coletivos, os centros culturais, na época era os Cicas, a Quilombaque, o
Girandolá em Morato, o Mutirão Cultural na Quebrada em Osasco, e o Quintal Cultural em
Carapicuíba. Então a gente falou vamos criar um circuito e garantir que esses atores poetas
etc. possam circular nesses lugares, ai quando ele sai da oficina ele tem um circuito seguro de
experimentação, inserção e contato com o mundo, a partir de uma rede você tem essa
possibilidade. Já que a gente não tinha estrutura pra segurar um ator que se descobre uma
bolsa gente da uma bolsa pra esse cara continuar estudando, não ter que trabalhar por causa
da pressão familiar etc.Ai a gente criou estratégias pra minimizar isso, ai de fato gente tá
discutindo a arte e a cultura como alternativas de desenvolvimento, de perspectivas pra
juventude.
Henrique – Não como mero entretenimento.
Soró- Isso, não só aquela ideia de oficina pra preencher o tempo, e depois acaba com a
brincadeira porque tem que ir trabalhar, e cara você perde muito. Como to vivendo mais esses
anos intensamente com os coletivos culturais, não perco a capacidade de me espantar com
tanto talento que existe, as vezes eu fico muito impactado assim ,você descobre gente com
tanto talento, mas ai você vê esse sujeito tendo que se tornar um trabalhado braçal fudido.É
uma estrutura que mata a criatividade. Então a gente tem que pensar estruturas que
potencializassem , criando caminhos pra que ganhe força, ai nasce o plano nesse sentindo,.
Um aspecto complicado era os preconceitos com esses dualismos, periferia x centro, as
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experiências com as universidades são trágicas, as ideias de que a universidade vem pesquisa,
chupa, leva e não devolve nada, varias experiência nesse sentido. Mas a gente tinha que
quebrar isso, não podia formar uma ideia de gueto. A cultura é a cultura da quebrada, isso não
vai levar a gente a lugar nenhum a não ser a um isolamento. A gente tem que cruzar os
conhecimentos a varias experiências porque isso ia enriquecer. Um dos problemas da miséria
é a falta de conhecimento. Ai a gente foi atrás, umas da primeiras conversas foi com a USP
leste. Mas eles não aguentaram, porque tem uma coisa complicada nessa relação com a
universidade, uma coisa vetorizada superior, tanto é que eles separavam conhecimento
popular e conhecimento acadêmico, eu falo não tem essa, conhecimento é conhecimento, o
que eles são ? são diferentes. A academia é um vetor de conhecimento, um vetor com um jeito
de organizar e estabelecer conhecimento. Mas ao longo dos anos isso acabou gerando um
vetor de valor, deixando os outros conhecimentos desvalorizados. E isso não é verdade as
pessoas aqui tem um grande conhecimento. E o desafio era impor isso, mas a universidade
não soube como lidar com isso, não saber que papel assumir quando você não tem mais isso
de chegou a salvação (risos). Quando a gente começou a questionar queremos uma relação
que esses conhecimentos e capacidades daqui estejam integrados ,se não, não rola, uma
relação de domino não rola.Eles não deram conta de achar um lugar que não fosse esse de
salvador. Foram embora, chegamos a desenvolver um curso de capacitação cultural juntos,
mas foram embora.Um dia desses numa dessas causalidades que eu acho ótimo essas
causalidades, eu sempre falo assim a gente tem que ta na rua visível pra poder ter os
encontros, e numa dessa ai o Cica que tava enfrentando um despejo, traz o Euller Sanderville
da FAU que tava ajudando eles num projeto pra se defenderem. Ai trouxemos ele aqui no
Quilombaque, mas a gente tava vivendo um processo que tinha acabado de descobrir que um
povo da FAU trabalhando pra um escritório de arquitetura tinha desenhando o parque linear
aqui.
Henrique – Que desapropriava o Quilombaque ?
Soró- Isso, e a gente ajudou no projeto, mas ai depois descobrimos essa traição, que
nesse desenho a gente tinha o pescoço cortado, colocaram várias quadras lá onde é o
Quilombaque.Ai foi uma revolta generalizada , não só porque poderíamos o perder o lugar,
mas pela sacanagem, então falar que era arquiteto naquela época era risco de vida .Ai o
Juninho chegou com o Euller, falou que era da FAU, arquiteto (risos), o Dedê olhou pra ele e
falou assim, ah vocês são os filhos da puta que querem acabar com a gente aqui (risos). Ai o
Euller falou não faço parte disso, então você faz parte de cá. Ele tentou um tempo juntar,
promoveu um encontro com os escritório mas não rolou paixão mesmo, a traição ficou
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marcada. Ai o Euller caiu bem, ele falando de expectativas de montar a universidade, inserida,
de algumas experiências frustradas e tal a gente contou nossas histórias também, e nossa visão
de quanto era importante esse encontro de conhecimento pra enriquecer o território.E que as
questões que a gente levantava aqui precisavam de um momento de reflexão, de estudo.
Acabou-se criando então o projeto da universidade livre e colaborativa, que tem essa função e
intenção de ser um lugar que integra essa varias experiências e conhecimentos. E claro é
viabilizado porque a parceria com a FAU permite muitas coisas. Mas tem mais a ver com o
Euller e o LAB Cidade. Mas é uma proposta de experiência , e eu lembro que eu falava pro
Euller você ta disposto a apanhar ? Porque geralmente o pessoal não aguenta. Porque a gente
sabe o que quer a gente sabe o conhecimento que a gente tem, essa coisa de memória e
história a gente tem muito claro, então vocês não tão vindo salvar ninguém né. Mas o que
vocês tem, se juntar com o que a gente tem, consegue criar uma coisa muito interessante.
Mas é preciso desviciar vocês dessa mentalidade acadêmica, mesmo sendo libertário padece
dessa estrutura.E tem sido assim, uma parceria no sentido da gente ter personalidade, e umas
das questões pra dar errado também é quem ta recebendo a universidade não ter
personalidade, e nos temos. Então cada conversa, encontro, linha, vírgula da Universidade
Livre é resultado de muito debate, conflito, na própria aula o pau come. E o conflito é
desejado e bem vindo pra evitar que haja esse predomínio de uma coisa ou de outra. E na
própria metodologia de funcionamento isso ta garantido. As aulas sobre o território aqui elas
são dadas basicamente a partir dos pontos históricos importantes e das contribuições
importantes dos territórios. E são dadas pelos próprios agentes da historias, coletivos, escolas,
lugares, queixadas e as aulas andam.
Henrique - O CEU é só mais um lugar ?
Soró- Sim. Depois que o Marcio assumiu a gestão o CEU virou uma espécie de lugar
que a gente tem todas as condições. Mas ela continua circulando, tem aula em igrejas, casas,
escolas, na Quilombaque, na praça, enfim. Ela mantém esse espírito pra não permitir o
predomino de uma lógica funcional. E entendendo que o conhecimento, ele não é só um
pedaço do discurso, da retórica, ele é toda uma experiência. Porque isso vindo aqui as pessoas
participando de almoço comunitário, quebrando barro, aula na casa de não sei o que. Então a
ideia da Universidade é um aprendizado integral. Enriquecendo seu repertório afetivo
vivencial. Ai cada aula é diferente, não existe uma igual a outra.
Henrique- Não existe uma coisa programada.
Soró- Sim, e não chegamos ainda a viver o conflito em que a USP tenha medo e acaba
querendo meter a mão no processo. Por enquanto ele é solto livre, porque a gente não tem
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dependência das estruturas da USP. Então isso permite um pouco nossa autonomia nesse
funcionamento. Mas teremos conflitos ai nesses dois modelos ainda mais com a USP né
(risos). Historias com a USP não deram certo. Mas a gente tem mantido vivo e presente esse
conflitos todos, teóricos, as aulas tem alunos de graduação, pós - graduação, e que eu chamo
categoria acadêmica moradores (risos) , lideranças enfim. Tem mantido esse caldo, o projeto
tem ganhando respeitabilidade, já produziu enfrentamentos na cidade, construção de
territórios de cultura, uma outra abordagem clivando o plano diretor entrando com a questão
afetiva e cultura como elementos da cidade, não só a parte estrutural construtiva. Ela já
contribuiu muito e vai contribuir mais, agora no plano local, a gente vai participar dele, dia 22
vai ter discussão aqui, e já com um certo desenho do bairro, com o Movimento da Fábrica, e
tem essa ideia de Perus, dos três eixos. Um enfrentamento contra a especulação imobiliária
que com as rodovias vem com uma violência impressionante, e a gente precisa propor um
outro tipo de desenvolvimento, e nesse sentido a fabrica é um movimento principal e
fundamental nisso. E tem todo um território numa perspectiva de integração, tanto numa
possibilidade local, quanto num enfrentamento contra esse lógica da esquina de são Paulo que
é essa região, com o rodo anel etc. e os impactos que ela traz, deletérios.A gente acompanha
por exemplo valor de aluguel, imóveis tudo sobe.
Henrique – E o Movimento da Fábrica como que tá ? Com a aprovação do Plano
Diretor daqui como território cultural ? Isso passou ?
Soró – Passou. A gente entende esses instrumentais, essas regulações. Conseguimos
criar uma ideia de parque dos Queixadas no território que é da fábrica, um território cultural
que envolve Jaraguá,Anhanguera e Perus. É um mecanismo de proteção, a gente não tem a
fábrica por que continua privada , mas vamos criando movimentos entorno que vão
dificultando essa degradação, a possibilidade do cara vender etc. E o movimento recuperou
sua vitalidade, tem uma integração muito grande com os coletivos, as ações são até
autônomas do movimento, cada coletivo inventa sua ação. E todos tem claro que precisamos
conquistar a fábrica, ela é um elemento simbólico vital. E também com capacidade logística,
se a gente fazer lá o que a gente tá falando, ai essa briga pelo tipo de desenvolvimento fica
covarde, porque a gente chega com força. A parte institucional do movimento sentou com a
prefeitura, ta em elaboração a DUP (Declaração de Utilidade Pública). Há a preocupação de
fazer uma DUP que não corra riscos, a outra correu, ai conseguiram destombar grande parte.
Há uma preocupação legítima que se crie uma DUP que proteja e não crie buracos. Mas deve
sair agora, a eleição atrapalhou um pouco mas deve sair. E há uma conversa firmada com o
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Ministério da Cultura (MINC), com a Marta, que deu a proposta de que o Haddad faça a DUP
e o MINC paga a desapropriação através do PAC.
Henrique – E foi a Erundina que fez essa ligação com a Marta ?
Soró – Foi, foi interessante. Bem e nos não estamos criando algo novo, estamos dando
continuidade numa luta dos Queixadas. E claro há um reconhecimento no papel da Erundina.
Ai fomos procurar ela, não temos problemas em pedir pra alguém, mas ela falou vamos
conversar com o MINC. E a Marta tem uma características, aquela história do teatro, e numa
conversa rápida , ela tem essa característica, quando compreende e se empolga com uma coisa
é isso, é isso, esse lado teimoso dela é bom nisso. Há essa confiança na seriedade da promessa
dela. Mas claro ouvi noticias ai de que ela não tem uma relação legal no governo, e
provavelmente não ficará numa reeleição da Dilma. Mas tenho a confiança que dessa vez a
gente consegue, definitivamente dessa vez a gente faz a coisa por inteiro, desapropria,. Temos
todas as condições tanto de relações institucionais, quanto no bairro, as escolas, coletivos
envolvidos , é um momento muito forte que estamos vivendo, e isso dá essa convicção de que
vamos conseguir. Mas vamos ver né (risos) . Principalmente da parte do dinheiro que não é
barato desapropriar isso dali né. A gente sempre apostou que o Abdala estaria devendo
impostos , mas descobrimos que a empresa não ta devendo nada, mas há essa promessa do
MINC com o PAC. Vamos aguardar a conjuntura. Mas se não vier com dinheiro , essa
disposição de lutar ta muito forte agora e vai continuar, a gente não parou de fazer os processo
pedagógicos, de envolver as escolas e a população . A gente vê que o movimento é um ato
pedagógico. E estamos preparando agora um mega ato pra dezembro, artístico, cultural.E
entendo isso como um exercício do que a gente vai fazer lá dentro. Todos que participam tem
essa compreensão.Se for pago beleza, mas se não, tá crescendo a possibilidade da ocupação.
Henrique – Pra finalizar qual sua expectativa agora com o Haddad e o CEU ? Um
retorno da época da Marta de maior participação ?
Soró – Não, não. A leitura que tenho do CEU como um equipamento e uma ideia de
política pública, tem dois CEUS que eu acho muito representativos, o CEU Perus e o do
Jaçanã. Esse espírito de reduzir a segregação, o preconceito a descriminação, esse dois lugares
são ambiente acolhedores neste sentido. Aqui a entrada do Marcio rapidamente a população
sentiu isso. Nunca se produziu tanto e tem tanta participação de gente como nesses dois anos.
Mas é uma característica local e depende muito do gestor. Porque as secretarias e a estrutura
de governo não há uma linkagem. O CEU não tem autonomia, não produz programação, ele
fica dependendo do que sobra, não tem autonomia no sentido de construir um projeto local e
não vejo nesses últimos dois anos essa lógica de estrutura mudar. Aqui tem esse compromisso
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do Marcio com o movimento. Mas é aquilo, tem muita disputa pro lugar do Marcio, mais
pela visibilidade, status, do que pra trabalhar, o Marcio trabalha pra cacete, cada detalhe aqui
é uma briga, e ele tem disposição e a gente tem maior respeito pelo trabalho dele. Se não for o
Marcio ou alguém com esse compromisso a gente ta fora, vivemos oito anos sem o CEU e
fizemos. Mas claro que é um instrumento fundamental ser essa coisa da esquina e o Marcio
incorpora isso e faz acontecer mesmo. Eu brinco com ele, não é a subprefeitura o lugar do
bairro de discussão política , esse lugar tem sido o CEU, até o subprefeito venho aqui pedir
arrego (risos). Por que de fato toda discussão que tem no bairro ela tem um pé e passa por
aqui, transita aqui.
Henrique – Pra finalizar quer falar mais alguma coisa ?
Soró- Falar mais uma hora e meia (risos)
Henrique – Lembrei, fala um pouco da Agendes (Agencia de desenvolvimento
social).
Soró – Então na formação do plano cultural, a gente previa dois instrumentos: A rede
sua consolidação e a construção de uma agencia.E começou com um brincadeira, dos super
heróis coloridos.
Henrique – Power Ranges ?
Soró- Isso. Power Rangers (risos). Que era essa discussão ? A gente precisa construir
um instrumento de força. E a rede era isso. Ai elaboramos que era necessário construir uma
agencia de desenvolvimento social que ocuparia esse papel, que a gente já fazia de
sustentação institucional de capacidade de elaborar projeto que era uma defasagem dos
movimentos, e eu já trabalhava antes com um grupo chamado AGER. E a gente acabou
fomentando a Agendes e ela faz hoje esse papel de formação e capacitação.Mas tinha outro
lado dela como os Power Rangers, aquela coisa cada Ranger apanha mas quando eles se
juntam viram um robozão vão lá e ganham (risos). Essa parte então de construir um banco
comunitário, pra poder mexer com dinheiro. E o banco pode mexer com isso né, os projetos
não podem pegar dinheiro de um e dar pra outro. E incubar projetos também, por exemplo
alguns coletivos não tem regularidade ou nem querem ter, a agencia caba cumprindo esse
papel de fornecer regularidade jurídica. Esse é um lado de gerar recursos, fundos e capacidade
de ação logística integrada pra poder enfrentar. Quando a gente foi discutir Lei Rouanet a
gente defrontou com os grandes escritórios. Vai que um projeto emperra no MINC, questões
burocráticas, esse caras pegam um avião meia hora tão em Brasília, os coletivos as vezes não
tem um vale transporte pra ir na secretaria de cultura no centro. Então, a gente precisa ter
capacidade de operar pra enfrentar esse grupos, a Agendes nasce pra isso. Não opera ainda
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por não ter conseguido as condições pra montar isso, mas tem essa disposição, vontade, e
cumprindo um pouco esse papel de aríete de força de enfrentamento.Mas sempre essa coisa
colaborativa a gente só é forte juntos, todo o esforço é no sentido de construir entendimento e
construir entendimento não é apaziguamento, pelo contrario.É no conflito que a gente constrói
entendimentos sustentáveis. Então, a gente tem essa perspectiva de ser instrumento de força.
Henrique – Mais alguma coisa deseja pra encerrar ?
Soró – Olha, eu tava pensando nisso hoje, você me cutucou. Fiquei pensando em
como pode ser um desenho viável pro CEU, por que ele fica preso na própria lógica dele,
forma dele, e não se potencializa no que foi pensando nele como política pública, não
materializa aquilo que se esperava dele enquanto força dinâmica. Há que se pensar, acho que
os CEUs deveriam ser organismos autônomos, inclusive do ponto de vista orçamentário. Ai a
gestão integrada teria o papel de construir projetos próprios de características locais, de cada
região.Mas não tendo isso não cumpre esse papel. Mesmo a gestão Haddad, que eu respeito,
neste aspecto não oferece nenhuma esperança que vai mudar esse enquadramento.
Henrique – Eu não perguntei, alem da formação política você tem alguma formação
acadêmica ?
Soró - Eu sou quase teólogo, fiz dois anos de teologia, quase um cientista político
acadêmico, fiz dois anos de ciência política na Escola de Sociologia e Política, e tenho
tecnólogo de gestão em empreendimentos sociais.
Neste momento da conversa o Marcio gestor do CEU apareceu. E começamos a
conversar os três sobre a eleição. Assim encerramos o diálogo.
Henrique – Vou encerrar aqui então. Obrigado Soró pela participação.
Soró – Obrigado você.
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Entrevistado Marcio Antonio Melhado Bezerra – Gestor do CEU
Perus. Entrevista realizada em 31/10/2014 às 16 horas na sala da Gestão do
CEU Perus.
Henrique – Boa tarde Marcio gestor do CEU Perus, Pra começar primeiro eu queria
que você se apresentasse, quanto tempo você mora aqui em Perus, sua formação?
Marcio – Bem vamos lá, sou formado em geografia pela USP e depois eu fiz
pedagógica na Uni nove. Trabalho na rede municipal como professor e diretor. Como diretor
desde 2008 e como professor desde 1998. Moro em Perus já se vão uns 30 anos mais ou
menos isso e minha área de atuação sempre foi a educação.
Henrique - Você é de São Paulo mesmo?
Marcio - Não, sou caipirinha, sou do interior, de Borborema, que tá no noticiário ai
por causa daquele acidente com as crianças ontem41
. Uma cidadezinha de 15 mil habitantes.
Mas eu vim do interior pra São Paulo porque a cidade pequena não tinha ensino médio, quem
queria estudar tinha que ir pra São Paulo. Sou o irmão mais novo, meus irmãos mais velhos já
tinham vindo, ai eu vim pra cá em 74.
Henrique - E começou a morar em Perus?
Marcio – Não. Ai eu morei na Penha, na Vila Prudente, e vim pra cá, Perus depois
que eu casei.
Henrique- E quando você chegou aqui em Perus como você começou a conhecer a
questão da fabrica e da greve?
Marcio – Interessante isso, conhecer Perus a gente sempre conheceu, desde que eu era
criança que eu já sabia, na minha casa eu aprendi a ler lendo jornal, meu pai assinava Folha de
São Paulo algumas revistas, e eu me lembro muito da luta dos trabalhadores contra a poluição
do pó de cimento. Perus pra mim já era conhecido pela questão do pó de cimento.
Henrique - E isso saia no jornal?
Marcio – Saia no jornal chegava à informação lá no interior 400 km daqui. Eu vim pra
São Paulo por exemplo, eu comecei a trabalhar no bairro do Polvilho em Cajamar bem
próximo daqui , eu morava em Santana nessa época, e quando falava em Perus eu já tinha a
localização espacial, a localização histórica na minha cabeça do que era o bairro, quando
cheguei aqui já tinha uma noção do que ia encontrar.
41
Sobre o acidente: http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2014/10/onibus-com-adolescentes-teve-lateral-
arrancada-em-acidente-com-10-mortos.html Acesso em 02/11/2014 às 17:28.
67
Henrique – Só por curiosidade, você falou da geografia, porque fez geografia?
Marcio – Ih cara essa historia é tão complicada, você tem tempo pra ouvir?
Henrique - Sim!
Marcio – Então vou te contar minha história cara. Eu fui pra educação sem querer,
antes de fazer geografia eu fiz biomedicina, terminei fiz alguns estágios e não arrumava
emprego, sempre estagio, eu queria trabalhar não como estagiário e não arruava nada. Ai
chegou um momento que eu falei não vou fazer mais nada, vou arrumar outra coisa. Ai uma
cunhada minha era diretora de escola ela chegou e falou assim, ela era diretora do Paulo
Prado. Ela falou Marcio lá no bairro do Polvinho em Cajamar tem uma professora lá que dá
aula e disse que não tem professor, vai lá, se não quer dar aula ? Eu nunca fiz isso na minha
vida. Ué você não tá sem trabalho, quem tá sem trabalho vai dar aula (risos). Falei vou lá ver
o que é isso. Na escola Tenente Marques, uma diretora muito boa dona Lúcia, hoje ela é
secretaria da educação em Cajamar. Ela falou tem aula de tudo aqui, realmente não tinha
professor, ai ela falou você fez o que? Eu fiz biomedicina. Então você pode dar aula de
biologia, peguei, mas têm as de física, matemática e química, eu nunca dei aula disso nem sei
o que é isso. Eu te dou uns livros você estuda e vai dar aula pro ensino médio. Eu falei ah
então tá bom, naquela época a gente preparava aula (risos) hoje não sei se o professor tem
tempo pra preparar aula, chegava no fim de semana eu estudava pra dar aula sem ter
formação. Cara descobri o que eu queria, é ser professor só que eu não tinha licenciatura, fui
fazer. E na época eu já tinha essas ligações políticas e comecei a despertar mais pelas leituras
de geografia. Falei bom já que eu vou fazer uma licenciatura vou fazer biologia. O cara falou
vai na PUC que o cara aceita seu diploma. Ai comecei a fazer física na PUC, fiz uns dois anos
e meio, mas ai falei não é isso que eu quero não. Ai sempre fazendo leitura de humanas, lendo
um monte de coisa, falei cara vou fazer história ou geografia, vou fazer geografia, foi uma
opção do nada, vai fazendo leituras, pô isso daí deve ser legal. Ai fiz o vestibular, passei na
USP, e cara é isso to aqui. E por coincidência eu peguei uma época da geografia lá na USP
onde eu fui aluno do Milton Santos, do Aziz, da Maria Helena Simmielli, da Odette Seabra,
só fera, falei cara como eu não tinha despertado pra isso. Assim despertei pra duas coisas ao
mesmo tempo a geografia e a educação. Fui aluno da Nídia, a gente começou a fazer muito
estudo de meio, eu falei fiquei tanto tempo sem fazer o que queria, ai comecei a dar aula
porque não tinha o que fazer, ai comecei a dar aula no Polvilho, ai fui fazer a minha formação
em geografia, depois em pedagogia, ai já tinha claro pra mim o que era. Então eu passei pelas
três, humanas, biológicas e exatas. Mas o despertar da geografia venho pelas leituras, pela
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universidade, e a educação foi sem querer , foi entrar numa escola e gente do céu é isso que
eu tinha que fazer, foi uma história complicada (risos).
Henrique – Foi uma historia diferente da minha, que já sai do ensino médio querendo
fazer geografia. E quando você entrou na prefeitura dando aula?
Marcio – Eu comecei a dar aula no estado em 84. Fiz concurso passei no estado fiquei
efetivo um tempão. Depois comecei a dar aula em escolas particulares e no estado na época
não queria prefeitura por que o salário era mais baixo que o estado. Fiz concurso da prefeitura
não assumi, depois fiz outro concurso da prefeitura em 98, ai assumi na prefeitura exonerei no
estado. Então to na prefeitura desde 98.
Henrique – Antes de começar a falar do CEU, eu queria falar da gestão da Erundina,
por que você lembra da gestão dela de 89 a 92 ? Porque acho que é interessante pra Perus né?!
Pelo tombamento da fábrica e a questão da vala comum de Perus, o que você lembra dessa
fase da Erundina? E a questão da educação também, que o Paulo Freire era o secretário nessa
época.
Marcio – Só lembrando Erundina teve, secretário da educação era Paulo Freire, da
cultura Marilena Chauí, só por ai não precisa falar nada. Paul Singer também acho que era
secretário de planejamento
Henrique- Adaílsa Sposati, Ermínia Maricato.
Marcio – Isso, e na época da Erundina eu me lembro de coisas legais, eu trabalhava
no Polvilho já morava em São Paulo, mas militava politicamente no PT no Polvilho. Me
lembro da fábrica que acabou na questão de utilidade publica e depois a questão da vala
comum de Perus. E a questão da educação, que me marcou na época a questão da valorização
do professor. Eu me lembro que no estado eu ganhava quase o dobro da minha esposa que
trabalhava na prefeitura. E três anos depois ela ganhava o dobro que eu no estado (risos), pelo
tamanho da valorizaçao. Mas não foi só o salário foi todo um pensar diferente na educação.
Eu não estava na época dela na prefeitura na educação, mas acompanhei porque minha esposa
era prefeitura. E eu me lembro muito de uma palestra de Paulo Freire, quando eu me lembro
da valorização, ele falava que a escola tem que ter duas coisas tem que ser bonita e gostosa.
Ele não falava nestes termos, ele falava tem que ser uma gostosura e uma belezura, tinha todo
um jeito característico de falar. E eu sempre usei isso, na periferia a escola tem que ser bonita
tem que está limpa, tem que ter flor, ela tem que ta organizadinha, o aluno tem que gostar de
estar na escola, dessa forma vamos atrair os alunos e a gente consegue trabalhar. E na época
da Erundina começou a trabalhar dessa forma, ai depois venho catástrofe, venho Maluf venho
Pitta ai foi um caos.
69
Henrique- Ai pulando, tem essa fase o Suplicy acaba perdendo a eleição em 92 para o
Maluf. Ai tem Maluf e Pitta e em 2000 a Marta ganha do Maluf. Queria pegar esta parte da
formação dos CEUs do governo da Marta. Queria saber se você lembra da época aqui como
foi à formação do CEU Perus, participação, consulta popular, reuniões?
Marcio - Quando a Marta assumiu eu já era professor da rede, já trabalhava na
prefeitura, eu me lembro claramente naquela época não era subprefeito era administração
regional, na época era o Mario Bortoto você conhece. E um dia ele chegou e falou , tão
querendo construir um CEU em Perus, até então a gente não sabia qual seria a concepção do
CEU o que seria aquilo. Ai começamos a participar dos debates, ai a concepção é essa e tal.
Ai precisamos achar um lugar. Porque Perus era um dos primeiros, tanto é que esse CEU era
pra ser o primeiro a ser inaugurado, foi o Jambeiro esse foi o terceiro. Vamos procurar lugar
ai, e saiu todo mundo junto com ele. E esse terreno aqui tava abandonado, uma localização
primorosa né! Do lado da estação no centro próximo ao recanto, uma localização ideal, e tava
dentro do mapa da exclusão da Adailsa Sposati. Ai o local foi escolhido e começou o debate
de como seria esse CEU, e tivemos varias reuniões sim. Eu me lembro disso daqui crescendo
e a gente entrava o povo acompanhou, teve pessoal que acompanhou dia a dia a construção do
CEU, as obras desde o começo, porque era uma coisa nova uma coisa que a gente não tinha
ideia, nos da educação do PT a gente perguntava pó vai ser bom? E lembro que a folha de são
Paulo batia pesado, olha ta construído um escolão, mais um escolão.
Henrique – Na época tinha as escolas de lata né. Ai tinha toda a polêmica de não
retirar essas escolas.
Marcio - Tinha, ao invés de tirar lata vai construir escolão. Hoje ainda tenho dúvidas
se a Emei, Emef e CEI é adequado estar aqui dentro né? Mas pesando os prós e contras acho
que é. Desde que a Emei, CEI e Emef saibam qual a função deles aqui dentro, geralmente eles
não sabem, eles pensam que a concepção do CEU é voltada só pra eles. Por que depois da
época da Marta, isso daqui passou oito anos abandonado, isso daqui virou o que? Um
condomínio das três unidades. O teatro era prioridade das três unidades. Não podia vir outra
escola.
Henrique - Não era aberto pra comunidade?
Marcio – Não era aberto. E ano passado eu abri, se você for hoje no Emei, CEI e
Emef, eles vão me xingar pra cacete (risos) porque eu tirei privilégios que eram deles, eu tirei,
não, nos tiramos aí, porque eu não faço nada sozinho.
Henrique – Umas das críticas que o Jornal Estadão faz é que o aluno daqui seria a
“elite” porque os alunos do entorno não são atendidos também.
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Marcio – E a gente pensa justamente o inverso, todo este complexo cultural esportivo,
é pra todas as escolas do entorno. É isto que a gente faz hoje a gente abre pra todas. Uma
diretora daqui chegou a usar o seguinte termo numa reunião, por isso que eu falo porque foi
numa reunia aberta, “ - Pô vocês tão abrindo CEU desse jeito daqui a pouco o morro vai
descer pra cá” . Pô eu falei pra ela se o morro descer pra cá é isso que eu quero né! (risos).
Este complexo não é de vocês. O Gestor do CEU era um zelador de condomínio das três
unidades.E eles não perceberam ate hoje a dimensão do que é a concepção do CEU. Eu uso
um termo que eu ouvi num curso que eu fiz, lá atrás o arquiteto que planejou ele dizia que o
CEU tem que ser a esquina do bairro, o que é a esquina do bairro ? Onde os movimentos
sociais, a população, se encontram pra debater. Ao invés de debater no boteco, vem aqui no
CEU. Por exemplo, hoje a noite vai ter a reunião da fabrica do movimento da fabrica. De
manha teve na biblioteca o curso caminhos da UBS, na sala da UAB uma reunião do conselho
gestor de saúde Pirituba/ Perus e no teatro um evento DST/AIDS, é isso a Esquina do Bairro
todos os movimentos convergindo pra cá e ele sendo ponto de efervescência de todos os
movimentos populares. Mas voltando lá, a participação aqui em Perus, não sei os outros como
foi, mas aqui teve um grupo de moradores que acompanhou pari passou a construção do CEU,
o debate sobre a concepção do CEU. Teve um debate agora sobre a comemoração do CEU a
Marta falou, chegou pra mim uma maquete feita pela associação de construtores de obras. Oh
isso pode ser o CEU, nos analisamos aquilo lá e falamos não isso é um escolão. Depois venho
um pessoal da Edif., e de uma secretaria, tem um cara lá com uma concepção diferente e isso
foi apresentado para as pessoas. Quando ela fez o Ceci ela levou a mesma concepção para os
índios, o que vocês acham disso? Eles falaram não queremos piscina, mas queremos a
biblioteca, tanto é que o Ceci não tem piscina. Isto a marta contando, então a maquete foi
mostrada, uma concepção do que seria o CEU, e o Ceci também foi isso. Eu me lembro que a
primeira escolha de gestão do CEU foi feita também uma comissão eleitoral tirado de
moradores movimentos sociais, alunos, era um colégio eleitoral. Quem queria ser gestor se
candidatava, ai sai uma lista tríplice, esses três fizeram um curso na FIA e a secretaria da
educação escolheu dos três mais votados um. Eu participei dessa. Me lembro que eram três
candidatos, eu, a Suely e o professor Francisco. Dos 15 votos eu tive 14, a Suely 11 e o
Francisco 3. Mas a secretaria escolheu a Suely. Mas eu participei de todo o debate da
construção, vim na inauguração, foi um processo construtivo acredito eu.
Henrique – Ai em 2005 entra o Serra, depois ele sai e entra o Kassab. Ai esse período,
você falou rapidamente, mas o que acontece com o CEU neste período? Ele vira um escolão?
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Marcio – Tem uma piada, não sei se é piada ou se é verídico. Dizem que o Serra
quando assumiu reuniu seus secretários e falou vou fechar os céus. Ai o pessoal saiu foi pros
bairros que tinha CEU, Serra é bom não fechar. Ai ele então não vou construir mais nenhum,
ai o pessoal saiu pros bairros voltou, Olha Serra é bom fazer (risos). Vou fazer mas vou fazer
mal feito.
Henrique – Foi o que ele fez (risos)
Marcio – Foi o que ele fez. E o CEU foi uma coisa tal impactante, pra periferia, que
eu achava que a Marta não perderia jamais a eleição. Na época tinha 21 CEUS construídos, a
Marta fez 21 teatros na periferia, 21 cinemas E não é qualquer teatro, é uma coisa de
qualidade uma coisa boa, 11 anos depois você desce lá, ele ta lá bonitinho. Não tinha como
perder essa eleição, mas eleição se perde nos detalhes (risos). E a população se apropriou
porque ela sabia na gestão Marta, eu acompanhava, frequentava o CEU direto, que toda sexta
e sábado a noite tinha um filme, que todo mês um sábado tinha uma peça de teatro. Criou um
hábito. Tem um rapaz aqui do lado o Mario que ele falava “ –E u sabia que toda sexta ou
sábado eu podia ir lá que tinha um filme, mas quando o Serra/ Kassab entrou acabou com
isso”. Isso daqui virou um condôminio fechado. Eu conto umas historias aqui e passo por
mentiroso cara, mas é verdade. No primeiro mês que entrei aqui, eu recebi uma denuncia de
uma pessoa do recanto dos humildes que tava lendo e foi expulso da biblioteca. Eu falei vem
cá me conta esta historia direito. Ele falou eu sou cassado e tenho filho pequeno, eu gosto de
ler, e o único lugar que eu consigo ler tranquilo é aqui na biblioteca, e nesse dia me tiraram da
biblioteca eu tava lendo, não sei por que falaram que eia ter um evento. Ai chamei à
bibliotecária e perguntei por que tiraram o rapaz da biblioteca? Ela falou que toda ultima sexta
feira do mês a natura faz uma exposição na biblioteca pra vender produtos!
Henrique- Apropriação privada do bem público!
Marcio – Isso. Era isso que acontecia isso daqui foi desmantelado. Tanto é que teve
uma inversão, quem começou a frequentar o CEU não era mais os moradores do Recanto,
eram moradores da Vila Nova Perus, moradores de Caieiras, com poder aquisitivo melhor
vamos dizer assim. Houve uma inversão, o CEU que foi feito para uma população passou a
ser utilizado por outra. Pôr exemplo teve uma peça aqui , acho que Mulheres Iradas, e eu tava
fazendo uma reforma na minha casa, falei pro pedreiro pô cara vai ter uma peça de teatro,
autor global peça legal porque você não vai lá ? “- A não tem que pagar”, não cara o CEU é
de graça, “ - A não o CEU não é pra gente”, como assim cara , eu vou te dar três ingressos pra
você, sua esposa e sua filha, na primeira fileira você vai lá. Ele venho agora é frequentador.
Teve um evento aqui logo no começo que a gente chegou aqui da fabrica de cimento, um
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morador chegou e falou “- Pô a gente não fica sabendo só fiquei sabendo por que faço
ginástica ai vi o evento aqui. Meu pai era queixada”. Então, porque essa desinformação que
passou no bairro era de propósito mesmo, pra não ter ninguém aqui, só vir os escolhidos.
Quando tinha evento aqui, vinha Toquinho, Gloria Menezes, quem tava na primeira fileira
eram as famílias ricas de Caieiras, famílias da Vila Nova Perus, das escolas particulares, você
não via as famílias da Candido Portinari, do Recanto dos Humildes, do Jair de Almeida. Foi
uma inversão total do principio norteador que o CEU foi criado, e desconstruir isso é difícil.
Henrique – E pegando isso que você ta falando, como você vê o Haddad, até pelo fato
dele ter participado no começo da gestão da Marta. Você acha que está retomando o projeto?
Marcio – O Haddad ele tem um olhar sobre o CEU, que eu acredito, muito legal. Na
primeira reunião ele disse o seguinte, o CEU tem que ser a menina de olhos dessa prefeitura,
O CEU tem que ser o lugar onde eles vão falar mudou, O PT ta ali mudou, não só o PT
porque nem todos os gestores são do PT, mas a administração do PT ta ali mudou a relação da
comunidade. Então vocês gestores tem que ter esta visão de que o CEU retome esta sua visão
original. È difícil, mas eu vejo que ele pessoalmente tem um olhar muito legal sobre o CEU.
Teve aqui o balé da cidade este mês a esposa dele Ana Estela venho aqui assistir. E sempre
que ele pode ele vai ele gosta dos céus. Mas política é política né cara!Nem sempre o que o
prefeito quer acontece aqui em baixo, muitas vezes a coisa se dispersa, mas ele, a pessoa
Fernando Haddad tem um olhar diferente pro CEU.
Henrique – E a questão do conselho gestor, tem uma participação ou ele ta meio
esvaziado?
Marcio- Teve um desencontro, e a culpa é da prefeitura, quando nos assumimos
praticamente não existia conselho gestor. Ele estava meio esvaziado. Cada CEU tinha um
vigência de conselho gestor, tinha CEU que no ano passado tinha que fazer eleição, outros
que ainda tinham dois anos. No nosso caso tinha que fazer ano passado. Chamaram a gene
pra uma reunião e falaram pra não fazer eleição por que sairia uma nova legislação, porque a
original ta ultrapassada. A lei não foi feita ainda, assim conseguimos eleger um conselho
gestor só no meio do ano, mas mesmo assim ele não é um conselho gestor participativo pleno,
mas isso daí é outra coisa que a gente retomar aos poucos a participação no conselho, as
pessoas tão retornando a participar agora do CEU, é uma coisa lenta, a gente quer que se
apresse, mas é lento, mas ta voltando a participação é uma coisa legal isso.
Henrique - Você falou da relação com a CEI Emei e Emef, e como é a relação com as
diferentes secretarias, educação, cultura e esporte? É difícil?
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Marcio – Difícil não vou dizer que é difícil, com as secretarias é uma relação mais
distante, mas a gente tem recebe coisas aqui do esporte, por exemplo, estas três caixas de som
foi à secretaria de esporte que mandou, porque o CEU não tem verba, a gente não tem
dinheiro pra comprar nada aqui, a secretaria de cultura com eventos uma parceria interessante
tal. E agora tamos tendo uma parceira legal com a Secretaria de direitos humanos, já tivemos
vários eventos aqui junto dessa secretaria que ta bem participativa. Vamos ter agora semana
que vem um festival de cinema, o entre todos que é muito interessante, todas as seções já
estão lotadas. É uma coisa que ta retornando a participação das escolas do entorno
interessante.
Henrique – Eu queria que você comentasse a perspectiva de futuro né! Você na
gestão e o retorno da comunidade, e também esta ligação com fabrica de saindo à
desapropriação, esta relação da fabrica com o CEU também.
Marcio – A gente tem uma motivação, eu não to aqui por que impuseram, eu to aqui
porque eu quero, por que eu gosto do que faço, e a minha motivação, as pessoas falam pó
você deve ter um salário legal pra ta ai né, eu sou diretor de escola se eu tivesse como diretor
na minha escola eu estaria ganhando mais do que pra aqui então a motivação pra ta como
gestor do CEU com certeza não é financeira, são outras coisas, que muita gente não entende o
que é isso, esta motivação ideológica, política, social. Quando eu vejo as pessoas saindo daqui
que fizeram alguma atividade falando pô Marcio que legal, pô valeu pra mim já pagou o mês.
Por exemplo quando a gente chegou aqui no ano passado a pista de skate tava detonada e a
gente não tinha dinheiro pra consertar. Ate recebi denuncia que tinha ferro solto, tava
perigosa. Falei quer saber d alguma coisa chama essa molecada. Esta pista é muito usada,
num mês fizemos uma medição passam por dia em torno de 100 a 200 crianças jovens e
adultos. Chama essa molecada pra conversar. Temos que fazer a reforma que reforma eles
querem que faça. E tem um menino ai campeão brasileiro de skate, o Feijão, que já foi pra
Barcelona, já foi pra Dinamarca. Falei coordena a molecada ai e vamos conversar. Ai nos
vimos que o problema era maior, alem da pista de skate tinha uma molecada que usava
bicicleta. Eles falaram porque a gente não faz uma pista de bicicleta do lado? Eu falei beleza
vamos fazer juntos porque sozinho eu não consigo. Fomos na diretoria regional, Olah tem que
reformar. Vai custar caro? Não, então a diretoria banca. Tinta, quem vai pintar? Chama o
coletivo de grafite de Perus, chama o Danilo chama o Bonga chama o Perusferia e vamos
fazer. O feijão coordenando tudo. No dia do Emicida aqui no teatro nos fizemos à
inauguração da pista lá, todos os grupos de hip hop da região vieram tocar, cara a molecada
chorava, porque quem fez as reforma foram eles. Ai venho o pessoal da bicicleta e nossa
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pista? Bem vamos lá na diretoria, o que precisa. Precisa terra, se a sub prefeitura autorizar a
gente faz. A subprefeitura autorizou. Pegaram terra no rodo anel com o caminhão do deposito
aqui de baixo, e pronto fizeram a pista de bicicleta. Nos apenas intermediamos quem fez foi
eles. Isto pra mim já valeu a pena, um negocio assim indescritível. Quando eu cheguei aqui,
um negocio interessante rapaz, ai eu conto e passo por mentiroso rapaz. La na escola do
Recanto que eu sou diretor, lá tinha uma família Tenório, 5 crianças, toda serie tinha um
Tenorinho. Ai eu encontrei com eles perguntei por que vocês não vão no CEU? Ah tem que
fazer carteirinha. Eu vai lá e faz. Mas tem que tirar fotografia. Pô a mãe do menino não tem
dinheiro pra tirar pra um que dirá pra sete. Eu falei vai lá que eu dou um jeito. Eles vieram um
dia que eu não tava aqui, falaram a mesma coisa pra eles, tem que éter foto. Cara eles foram
pra casa eu acho que eles pegaram a única foto que eles tem da família, porque eles são
paupérrimos e recortaram a carinha de cada um. Este dia eu estava aqui, tava eu a Carol a
Elisangêla que trabalhava aqui, ai eles chegaram com aquela fotinha recortada de uma foto de
família, cara quase todo mundo chorou ai. Não, não o CEU não foi feito pra isso, a partir de
hoje precisa de foto vem aqui (mostrando o celular pra tirar foto), TUC!! , vai lá imprime põe
na carteirinha e vai embora. O pessoal da equipe antiga aqui dava pulo dessa altura porque
eles não queriam trabalhar, não queriam ninguém na piscina. Depois que nos fizemos isso
aumentou. Por final de semana fazíamos aqui 100 a 200 carteirinhas. Ai um dia eu cheguei,
tava a família Tenório dentro da piscina, eles pulavam ae diretor !!!! (risos) Isso daí já valeu a
pena, vou querer mais o que da vida (risos) pra isso que a gente ta aqui ,facilitador, cara eles
não podiam fazer carteirinha por causa de uma foto. Existia uma coisa dentro do CEU que
não pode, porque não pode , ah é uma ordem. Eu percebi isso um dia que eu cheguei num fim
de semana deixei o carro no estacionamento e tinha um casal lá no parquinho com duas
crianças brincando no parquinho. Daqui a pouco sobe alguém fala Marcio vai lá embaixo
porque ta tendo briga lá embaixo o pessoal ta bravo gritando. Cheguei o que ta acontecendo, o
guarda tirou a gente do parquinho, o que ele argumentou, ele falou que era ordem do novo
gestor ,eu falei caraça eu sou o novo gestão não dei essa ordem. Então os caras inventavam
ordens pra expulsar as pessoas daqui. Se você chegar aqui no CEU entrada com catracas,
tinha um portaozinho ali do lado eternamente fechado. Se conhece o SESC Pompeia, quando
você passa lá parece que ele t abraça e t leva pra dentro, é agradável é aberto. Você passa em
frente o CEU parece que tem uma mãozinha que te empurra,é catraca e segurança, nãoé isso ?
É uma repulsa. Eu falei deixa pelo menos o portãozinho aberto, eu subia o portaozinho aberto,
a ta bom seu Marcio. Chegava aqui olhava o portaozinho fechado, eu descia cara não falei pra
deixar o portão aberto, ah fechou seu Marcio, foi o vento, ou alguma criança que passou ai.
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Foi quase um mês pra conseguir deixar o portão aberto, não podia por que se ta aberto entra
gente, não podia entrar gente aqui. Ate hoje as diretoras acham que não podem, pra elas tem
que deixar o RG lá e falar aonde vai. Um dia tinha um casal namorando,sentados no
banquinho, que coisa mais bonita. Ai ta vendo tão namorando !!!! Se ta com inveja, pó o
pessoal não pode nem namorar (risos).
Henrique –È como se fosse uma praça né ?
Marcio – É uma praça. Eles não veem que isso daqui é um lugar que as pessoas tem
que passar, tem que se apropriar de tudo isso. Por exemplo quando eu cheguei aqui ano
passado tinha um grupo o Street Dance que vinha ensaiar, e o povo queria tirar, esses caras
vem aqui todo dia encher o saco, quase me convenceram a fechar o espaço pra essa moçada.
Ai conversando com eles fui entendendo a lógica deles, falei vamos abrir um espaço pra eles.
Esse ano eles ganharam um Festival Latino Americano ,essa chegaram da Alemanha semana
passada , levaram o nome do bairro, saíram daqui. Tem o Grupo Pandora que faz o “Relicário
de Concreto” começou aqui. Tem uma sala de xadrez ali em baixo, tem dois professores com
turma de xadrez, juntando os dois sabe quantos alunos eles tem? Dois. Por que nunca
ninguém divulgou que tem um curso de xadrez, e não é pra divulgar se não eles vão ter que
trabalhar.
Henrique – Vai vir mais de dois (risos)
Marcio – La tem quinze mesas cabe ali trinta né!!! Então cara é difícil, mas
justamente por que pé difícil que você me perguntou, que me move a querer continuar, se é
fácil não tem graça com embate que é legal. E a gente ta conseguindo, quando digo a gente ,
falo de todas as pessoas que participam, que não são da equipe e ajudam também. Por
exemplo a Quilombaque não vinha pra cá, hoje eles já participam já são parceiros. Outra
pergunta que você fez, quando o CEU foi concebido, conversando com o Alexandre o
arquiteto que fez o CEU, ele falou olha, o que nos pensamos do CEU vai desde o rio passando
pelo CEU chegando ate a fabrica de cimento, então na concepção inicial do CEU a fabrica
fazia parte. Formando uma passarela cultural, passando pela escola de samba, o Quilombaque
não tava ali mas depois se integrou, chegando a fabrica de cimento. Então já se falava
originalmente no projeto esta interligação com a fabrica de cimento.
Henrique – Interessante, e pra encerrar, obrigado, você deseja falar mais alguma coisa
?
Marcio – Não ,assim obrigado o que cara, acho que a gente ta aqui pra isso mesmo. O
que eu queria falar é que o desafio é grande. Mas a gente tem respaldo na Diretoria de Ensino
com o diretor regional, na SME com o prefeito. O que eles querem, e o prefeito quer é que
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isso daqui se abra. Uma coisa que parou aqui também que tinha de dois em dois meses era o
CEU é Show. Isso acabou. O que a gente quer e a orientação do prefeito é que se vem alguém
famoso as manifestações locais tem que ta presente. Por exemplo quando venho o Edi Rock
aqui quem abriu o show foi um grupo local o Cartel Central. E depois disso daí quando venho
o Emicida, os grupos locais se apresentaram em um palco aqui fora. Então é formar aquilo
uma concepção do Território CEU. Fazer com que o CEU seja um núcleo de todas estas
territorialidades, todas estas instituições que estão em torno do CEU, trazer isto pra cá. O
CEU não tem que ser preponente, tem que ser participe de fomentar pra que as coisas
aconteçam. Então o Jongo que acontece toda terça feira na praça a gente ta participando.
Agora no novembro negro toda terça feira o Jongo vai ser aqui dentro ali no pátio central. È
esta interligação, as pessoas daqui usando o CEU, que ficaram oito anos sem. Eu fico muito
feliz de ta participando de um movimento que tá devolvendo o CEU pra quem deva realmente
usar. Quando eu tomei posse aqui, o secretario orientou pra que a gente fizesse uma posse
simbólica. Aquilo lá me marcou muito, porque nos chamamos no dia pra fazer uma palestra o
Dom Angélico, você conhece ?
Henrique – Eu estava aqui.
Marcio – Então foi muito legal e ele me falou uma frase que me marcou muito.
Marcio você tem que ser o gestor do povo !!! Ele é muito enfático, falando Marcio você tem
que ser o gestor do povo. Pô aquilo lá me marcou. Pô tenho que ser igual o Mujica do
Uruguai (risos). Aquilo dali (apontando um papel na parede com uma frase de Paulo Freire)
todo lugar que eu vou eu ponho : “è fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o
que se faz, de tal forma que em um dado momento sua fala seja sua pratica” . Por que eu
coloco isso, porque todo dia eu chego aqui leio e me cobro, ó companheirinho Marcio, o que
você fala você ta fazendo ? Na sala de aula, na escola, è fácil falar em democracia , agora
você exercer democracia, você reunir o conselho gestor, você como gestor e perder a votação
e implantar aquilo que eles decidiram que não é a sua vontade, pra algumas pessoas isto é o
fim,. Mas se eu prego a democracia eu tenho que exercer a democracia, então eu deixo aquela
frase ali e levo ela pra todo lugar que vou e me cobro todo dia, todo lugar que vou eu levo esta
frase.
Assim se encerrou a entrevista, pois o Gestor Marcio precisava atender uma
pessoa com problemas trabalhistas com a empresa terceirizada da limpeza.
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Anexo 2 - Mapa indicando os 45 CEUs por Diretoria de Ensino.
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Anexo 2 - Endereços das 45 Unidades dos Centro Educacionais Unificados :
1- CEU ÁGUA AZUL (inaugurado em 20/10/2007)
Email: [email protected]
Endereço: Avenida dos Metalúrgicos, 1262
Bairro: COHAB Cidade Tiradentes
CEP: 08471-000
Fones: (11) 2016-4476 (gestão) / 2016-4479
Diretoria Regional de Educação – Guaianases
2- CEU ALTO ALEGRE (inaugurado em 29/11/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Bento Guelfi, s/n
Bairro: Jardim Laranjeira - Iguatemi
CEP: 08381-001
Fones: (11) 2075-1000 (gestão) / 2075-1012
Diretoria Regional de Educação – São Mateus
3- CEU ALVARENGA (inaugurado em 09/12/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Estrada do Alvarenga, 3752
Bairro: Balneário São Francisco - Pedreira
CEP: 04474-340
Fones: (11) 5672-2544 (gestão) / 5672-2541 / 5672-2542
Diretoria Regional de Educação – Santo Amaro
4- CEU ARICANDUVA – Professora Irene Galvão de Souza
(inaugurado em 07/09/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Olga Fadel Abarca, s/nº
Bairro: Vila Aricanduva
CEP: 03527-000
Fones: (11) 2723-7549 (gestão) / 2723-7543 / 2723-7557
Diretoria Regional de Educação – Itaquera
5- CEU AZUL DA COR DO MAR (inaugurado em 27/10/2007)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Ernesto de Souza Cruz, 2171
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Bairro: Cidade Antonio Estevão de Carvalho
CEP: 08225-380
Fones: (11) 3397-9000 / 3397-9014
Diretoria Regional de Educação – Itaquera
6- CEU BUTANTÃ - Professora Elizabeth Gaspar Tunala
(inaugurado em 27/09/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Av. Engenheiro Heitor Antônio Eiras Garcia 1.870
Bairro: Jardim Esmeralda
CEP: 05588-001
Fones: (11) 3732-4551 / 3732-4557
Diretoria Regional de Educação – Butantã
7- CEU CAMINHO DO MAR – Profª Dulce Salles Cunha Braga
(inaugurado em 12/10/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Av. Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 5.241
Bairro: Jabaquara
CEP: 04325-001
Fones: (11) 3396-5544 / 3396-5540
Diretoria Regional de Educação – Santo Amaro
8- CEU CAMPO LIMPO – Cardeal Dom Agnelo Rossi
(inaugurado em 17/04/2004)
E-mail: [email protected]
Endereço: Av. Carlos Lacerda, 678
Bairro: Pirajussara
CEP: 05789-000
Fones: (11) 5843-4801 / 5843-4838 / 5843-4837
Diretoria Regional de Educação - Campo Limpo
9- CEU CANTOS DO AMANHECER (inaugurado em 22/06/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Av. Cantos do Amanhecer, s/nº
Bairro: Jardim Eledy
CEP: 05856-020
Fones: (11) 3397-9720 (gestão) / 9729 / 9732
80
Diretoria Regional de Educação - Campo Limpo
10- CEU CAPÃO REDONDO - Prof. Dr. Celso Seixas Ribeiro Bastos
(inaugurado em 14/12/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Daniel Gran, s/nº
Bairro: Capão Redondo
CEP: 05867-380
Fones: (11) 5873-8067 / 5873-8093 / 5873-8090
Diretoria Regional de Educação – Campo Limpo
11- CEU CASA BLANCA – Professor Sólon Borges dos Reis
(inaugurado em 27/06/2004)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua João Damaceno, s/nº
Bairro: Vila das Belezas
CEP: 05841-160
Fones: (11) 5519-5201 (gestão) 5519-5212 / 5519-5206 / 5519-5208
Diretoria Regional de Educação - Campo Limpo
12- CEU CIDADE DUTRA - Dr. Adib Salomão
(inaugurado em 30/08/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Avenida Interlagos, 7.350
Bairro: Interlagos
CEP: 04777-000
Fones: (11) 5668-1955 / 5668-1954 / 5668-1952
Diretoria Regional de Educação – Capela do Socorro
13- CEU FEITIÇO DA VILA – Deputado Professor José Freitas Nobre
(inaugurado em 07/06/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Feitiço da Vila, s/nº
Bairro: Chácara Santa Clara – Capão Redondo
CEP: 05879-000
Fones: (11) 3397-6550 (gestão) / 3397-6559
Diretoria Regional de Educação - Campo Limpo
14- CEU FORMOSA
81
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Sargento Claudiner Evaristo Dias, s/n
Bairro: Parque Santo Antônio - Vila Formosa
CEP: 03385-150
Fones: (11) 2216-4622
Diretoria Regional de Educação – Itaquera
15- CEU GUARAPIRANGA - Florinda Lotaif Schahin
(inaugurado em 24/05/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Estrada da Baronesa, 1.120
Bairro: Jardim Ângela
CEP: 04919-000
Fones: (11) 3397-9550 / 3397-9571
Diretoria Regional de Educação - Campo Limpo
16- CEU INÁCIO MONTEIRO (inaugurado em 21/11/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Barão Barroso do Amazonas, s/nº
Bairro: COHAB Inácio Monteiro
CEP: 08472-721
Fones: (11) 2518-9048 / 2518-9043
Diretoria Regional de Educação – Guaianases
17- CEU JAÇANÃ (inaugurado em 06/10/2007)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Antonio Cezar Neto, 105
Bairro: Jardim Guapira
CEP: 02274-100
Fones: (11) 3397-3979 (gestão) / 3958 / 3975
Diretoria Regional de Educação – Jaçanã/Tremembé
18- CEU JAGUARÉ - Professor Henrique Gamba
(inaugurado em 28/11/2009)
E-mail: [email protected]
Endereço: Avenida Kenkiti Simomoto, 80
Bairro: Jaguaré
CEP: 05347-010
82
Fones: (11) 3719- 2250 / 2343
Diretoria Regional de Educação – Pirituba
19- CEU JAMBEIRO (inaugurado em 01/08/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Av. Flores do Jambeiro s/nº
Bairro: Jardim Moreno
CEP: 08430-810
Fones: (11) 2960-2055 / 2960-2057 / 2960-2059 (fax)
Diretoria Regional de Educação – Guaianases
20- CEU JARDIM PAULISTANO - Professor Samuel Murgel Branco
(inaugurado em 15/06/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Aparecida do Taboado, s/nº
Bairro: Jardim Paulistano - Brasilândia
CEP: 02814-000
Fones: (11) 3397-5410 (gestão)
Diretoria Regional de Educação – Freguesia do Ó / Brasilândia
21- CEU LAJEADO (inaugurado em 17/05/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Manuel da Mota Coutinho, 293
Bairro: Lajeado
CEP: 08451-420
Fones: (11) 3397-6950 (gestão) / 6948 / 6954
Diretoria Regional de Educação – Guaianases
22- CEU MENINOS - Professor Pr. Artur Alberto de Mota Gonçalves
(inaugurado em 28/10/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Barbinos, s/nº
Bairro: São João Clímaco
CEP: 04240-110
Fones: (11) 2945-2560 / 2559 / 2558
Diretoria Regional de Educação – Ipiranga
23- CEU NAVEGANTES – Professor José Everardo Rodrigues Cosme
(inaugurado em 12/12/2003)
83
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Maria Moassab Barbour, s/nº
Bairro: Parque Residencial Cocaia
CEP: 04849-330
Fones: (11) 5976-5527 / 5976-5531
Diretoria Regional de Educação – Capela do Socorro
24- CEU PARAISÓPOLIS (inaugurado em 13/12/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Doutor José Augusto Souza e Silva, s/nº
Bairro: Jardim Parque Morumbi
CEP: 05712-040
Fones: (11) 3501-5660 / 5666
Diretoria Regional de Educação – Campo Limpo
25- CEU PARELHEIROS (inaugurado em 06/12/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua José Pedro de Borba, 20
Bairro: Jardim Novo Parelheiros
CEP: 04890-090
Fones: (11) 5921-4479
Diretoria Regional de Educação – Capela do Socorro
26- CEU PARQUE ANHANGUERA (inaugurado em 20/12/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Pedro José de Lima, s/nº
Bairro: Jardim Anhanguera
CEP: 05267-174
Fones: (11) 3911-5274
Diretoria Regional de Educação – Pirituba
27- CEU PARQUE BRISTOL - (inaugurado em 21/03/2009)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Professor Arthur Primavesi, s/nº
Bairro: Parque Bristol
CEP: 04177-070
Fones: (11) 2334-1405
Diretoria Regional de Educação – Ipiranga
84
28- CEU PARQUE SÃO CARLOS (inaugurado em 03/12/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Clarear, 141
Bairro: Jardim São Carlos
CEP: 08062-590
Fones: (11) 2045-4250 / 4248
Diretoria Regional de Educação – São Miguel Paulista
29- CEU PARQUE VEREDAS - João Antônio da Silva
(inaugurado em 15/09/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Daniel Muller, 347
Bairro: Chácara Dona Olívia
CEP: 08141-290
Fones: (11) 2563-6247 / 2563-6248 / 2563-6210 (fax)
Diretoria Regional de Educação – São Miguel Paulista
30- CEU PAZ (inaugurado em 15/05/2004)
E-mail: [email protected]
Endereço: Daniel Cerri, 1549
Bairro: Jardim Paraná
CEP: 02876-170
Fones: (11) 3986-3404 / 3986-3405 / 3986-3407
Diretoria Regional de Educação – Freguesia do Ó / Brasilândia
31- CEU PÊRA MARMELO (inaugurado em 13/11/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Pêra Marmelo, 226
Bairro: Jardim Santa Lucrecia
CEP: 05185-420
Fones: (11) 3948-3967 / 3948-3964 / 3948-3956
Diretoria Regional de Educação – Pirituba
32- CEU PERUS (inaugurado em 25/08/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Bernardo José de Lorena, s/nº
Bairro: Vila Malvina
CEP: 05203-200
85
Fones: (11) 3915-8745 / 3915-8752 / 3915-8753
Diretoria Regional de Educação – Pirituba
33- CEU QUINTA DO SOL (inaugurado em 19/04/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Avenida Luiz Imparato, 564
Bairro: Cangaíba
CEP: 03819-160
Fones: (11) 3396-3430 / 3433
Diretoria Regional de Educação – Penha
34- CEU ROSA DA CHINA (inaugurado em 10/08/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Clara Petrela, s/nº
Bairro: Jardim São Roberto
CEP: 03978-500
Fones: (11) 2701- 2300/ 2357/ 2701-2311
Diretoria Regional de Educação – São Mateus
35- CEU SÃO MATEUS (inaugurado em 08/11/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Curumatim, 201
Bairro: Parque Boa Esperança
CEP: 08341-240
Fone: (11) 2732-8139 / 2732-8158 / 2732-8154
Diretoria Regional de Educação – São Mateus
36- CEU SÃO RAFAEL (inaugurado em 28/03/2004)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Cinira Polônio, 100
Bairro: Jardim Rio Claro
CEP: 08395-320
Fones: (11) 2752-1001 / 2752-1006 / 2752-1064
Diretoria Regional de Educação – São Mateus
37- CEU SAPOPEMBA (inaugurado em 28/06/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Manuel Quirino de Mattos, s/nº -
Bairro: Jardim Sapopemba
86
CEP: 03969-000
Fones: (11) 2075-9100 / 9110 / 9111
Diretoria Regional de Educação – São Miguel Paulista
38- CEU TIQUATIRA (inaugurado em 15/11/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Avenida Condessa Elizabeth Robiano com a Rua Kampala, 270
Bairro: Penha
CEP: 03704-015
Fones: (11) 2227-0516
Diretoria Regional de Educação – Penha
39- CEU TRÊS LAGOS (inaugurado em 12/12/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Estrada do Barro Branco, s/nº
Bairro: Barro Branco
CEP: 04852-320
Fones: (11) 5976-5642 / 5976-5643 / 5976-5644
Diretoria Regional de Educação – Capela do Socorro
40- CEU TRÊS PONTES - Profª Nilzete Letícia Bispo dos Santos Lima
(inaugurado em 31/08/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Capachós, s/nº
Bairro: Jardim Célia
CEP: 08191-330
Fones: (11) 3397-6410 (gestão) / 6420 / 6421
Diretoria Regional de Educação – São Miguel Paulista
41- CEU UIRAPURU
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Nazir Miguel, s/nº
Bairro: Jardim João XXIII
CEP: 05569-010
Fones: (11) 3782-3143
Diretoria Regional de Educação – Butantã
42- CEU VILA ATLÂNTICA – Professor João Soares Filho
(inaugurado em 12/10/2003)
87
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Coronel José Venâncio Dias, 840
Bairro: Jaraguá
CEP: 05160-030
Fones: (11) 3901-8743 / 3901-8744 / 3901-8746
Diretoria Regional de Educação – Pirituba
43- CEU VILA CURUÇÁ - Irene Ramalho
(inaugurado em 28/11/2003)
E-mail: [email protected]
Endereço: Av. Marechal Tito 3.400
Bairro: Jardim Miragaia
CEP: 08115-000
Fone: (11) 2563-6146 / 2563-6150 / 2563-6151
Diretoria Regional de Educação – São Miguel Paulista
44- CEU VILA DO SOL (inaugurado em 31/05/2008)
E-mail: [email protected]
Endereço: Avenida dos Funcionários Públicos, 369
Bairro: Vila do Sol - Jardim Angela
CEP: 04962-000
Fones: (11) 3397-9800 / 3397-9811 / 3397-9868
Diretoria Regional de Educação - Campo Limpo
45- CEU VILA RUBI – Jornalista Alexandre Kadunc
(inaugurado em 29/09/2007)
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Domingos Tarroso, 101
Bairro: Vila Rubi - Grajaú
CEP: 04823-090
Fones: (11) 5661-6518 / 5662-6512
Diretoria Regional de Educação - Capela do Socorro