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o CENTENARJO Para comemorar o l.0 Centenario da Inde pendencia Política do Brasil houve muito quem pensasse numa Exposição Nacional; de- pois numa Continental Americana; não sei como prevaleceu, em 1921, a idéa de uma Ex- posição Universal. Desde logo se tratou do logar onde deve- ria ser instalada a Exposição ; e, nesta Cidade de 1116 kilometros quadrados, com tanto ter- reno desocupado, areas vastissimas na zona suburbana - tão necessitada de melhoramen- tos, teve surto e realização a lembrança de se crear lima superficie nova para o grande cer- tame comemorativo ! O Prefeito, Professor das Escolas Poli- tecnica e Naval, homem instruido, viajado, imaginoso e pratico, dispuzera-se a realizar o muito desejado e' necessario arrazamento do "Castelo", um morro sem higiene, sem estetica, sem utilidade, antes rude obstaculo ao areja- mento da zona comercial. Não faltaria onde lançar a terra dêle proveniente; mas como ha- via pressa, pareceu mais cornodo e expedito lança-Ia mesmo ali, por assim dizer, no sopé do morro, dentro dagua, na baía do Rio de Janeiro! . A estranheza do publico foi grande; mas divulgada a noticia de que sobre o terreno com que se ampliasse a Avenida Beira-mar (Santa Luzia. Lapa, Gloria) se traçaria, formosa, a "Avenida das Nações" da Grande Exposição do Centenario, a surpresa converteu-se em es- pectativa. Todos se conformaram. O desmonte já estava iniciado. O aterro foi-se alastrando. A ponta Leste da Cidade avançou rapido, puxando quinhentos metros na direcção de Vilegagnon. Ao mesmo tempo o Morro da Viuva era contornado por uma bela Avenida talhada no granito : É a A venida Ruy Barbosa, novo trecho da Avenida Beira- mar. Saneava-se e embelezava-se a Lagoa Ro- drigo de Freitas ; canalizava-se o Rio Mara- canã, no Engenho Velho, pelo centro de outra nova Avenida; traçava-se a «Avenida do Exer- cito", em S. Christovão; e outras muitas obras simultaneamente se executaram neste ano. Afluiram trabalhadores de todos os cam- pos, desprezando a Lavoura por amor dos altos salarios que a pressa oferecia. Reveza- vam-se turmas ele milhares de operarios, noite e elia ; e fez-se atabalhoadamente, ofegante- mente, dispeneliosissimamente, em poucos mezes o que - está fóra de duvida - se poelia ter feito com mais tempo, mais estudo, mais calma, mais acerto, e muito menos dinheiro. * No dia 7 de Setemro ele 1922, sobre c aterro de Santa Luiza, onde fôra a Avenida Wilson, estava lançada, realmente, a Avenida das Nações. Na area que fôra elo antigo Ar- senal de Guerra avultavam palacios ele grandio- sa arquitectura, composição graciosa de artistas nacionaes. Procedeu-se oficialmente á inaugu- ração da Exposição, havendo, apenas prontos, acabados na vespera, o "Palacio das Festas", e os pavilhões ela Belgica, Dinamarca, Ingla- terra, França, Japão, e Grandes Inc\ustrias Na- cionaes. Estavam por acabar, a meio construi- dos ou apenas esboçados, o Pavilhão dos Esta- dos, o das Pequenas Industrias e o da Esta- tistica (nacionaes), e os pavilhões do Me- xico, dos Estados Unidos da Ame rica do Norte, da Argentina, de Portugal, da Suécia. da Noruega, ela Italia e da Tcheco-Slovaquia . * Ao Rio de Janeiro chegavam diariamente forasteiros do interior e do exterior. Desde Agosto que desembarcavam no Rio de janeiro representantes diplomaticos de nações amigas. Até 6 de Setembro estavam acreditados junto do Presidente da Republica elo Brasil os De- legados Especiaes da Alemanha, Argentina.

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Page 1: O Centenário (da Independência do Brasil - 1922)...cipação, para o dia da Independencia. De facto, Sr. Presidente, quando, ás margens do Ypiranga ecoou o grito da liber-dade,

o CENTENARJO

Para comemorar o l.0 Centenario da Independencia Política do Brasil houve muitoquem pensasse numa Exposição Nacional; de-pois numa Continental Americana; não seicomo prevaleceu, em 1921, a idéa de uma Ex-posição Universal.

Desde logo se tratou do logar onde deve-ria ser instalada a Exposição ; e, nesta Cidadede 1116 kilometros quadrados, com tanto ter-reno desocupado, areas vastissimas na zonasuburbana - tão necessitada de melhoramen-tos, teve surto e realização a lembrança de secrear lima superficie nova para o grande cer-tame comemorativo !

O Prefeito, Professor das Escolas Poli-tecnica e Naval, homem instruido, viajado,imaginoso e pratico, dispuzera-se a realizar omuito desejado e' necessario arrazamento do"Castelo", um morro sem higiene, sem estetica,sem utilidade, antes rude obstaculo ao areja-mento da zona comercial. Não faltaria ondelançar a terra dêle proveniente; mas como ha-via pressa, pareceu mais cornodo e expeditolança-Ia mesmo ali, por assim dizer, no sopédo morro, dentro dagua, na baía do Rio deJaneiro! .

A estranheza do publico foi grande; masdivulgada a noticia de que sobre o terreno comque se ampliasse a Avenida Beira-mar (SantaLuzia. Lapa, Gloria) se traçaria, formosa, a"Avenida das Nações" da Grande Exposiçãodo Centenario, a surpresa converteu-se em es-pectativa. Todos se conformaram.

O desmonte já estava iniciado. O aterrofoi-se alastrando. A ponta Leste da Cidadeavançou rapido, puxando quinhentos metrosna direcção de Vilegagnon. Ao mesmo tempoo Morro da Viuva era contornado por umabela Avenida talhada no granito : É a A venidaRuy Barbosa, novo trecho da Avenida Beira-mar. Saneava-se e embelezava-se a Lagoa Ro-drigo de Freitas ; canalizava-se o Rio Mara-canã, no Engenho Velho, pelo centro de outra

nova Avenida; traçava-se a «Avenida do Exer-cito", em S. Christovão; e outras muitasobras simultaneamente se executaram neste ano.

Afluiram trabalhadores de todos os cam-pos, desprezando a Lavoura por amor dosaltos salarios que a pressa oferecia. Reveza-vam-se turmas ele milhares de operarios, noitee elia ; e fez-se atabalhoadamente, ofegante-mente, dispeneliosissimamente, em poucos mezeso que - está fóra de duvida - se poeliater feito com mais tempo, mais estudo, maiscalma, mais acerto, e muito menos dinheiro.

*

N o dia 7 de Setemro ele 1922, sobre caterro de Santa Luiza, onde fôra a AvenidaWilson, estava lançada, realmente, a Avenidadas Nações. Na area que fôra elo antigo Ar-senal de Guerra avultavam palacios ele grandio-sa arquitectura, composição graciosa de artistasnacionaes. Procedeu-se oficialmente á inaugu-ração da Exposição, havendo, apenas prontos,acabados na vespera, o "Palacio das Festas",e os pavilhões ela Belgica, Dinamarca, Ingla-terra, França, Japão, e Grandes Inc\ustrias Na-cionaes. Estavam por acabar, a meio construi-dos ou apenas esboçados, o Pavilhão dos Esta-dos, o das Pequenas Industrias e o da Esta-tistica (nacionaes), e os pavilhões do Me-xico, dos Estados Unidos da Ame rica doNorte, da Argentina, de Portugal, da Suécia.da Noruega, ela Italia e da Tcheco-Slovaquia .

*

Ao Rio de Janeiro chegavam diariamenteforasteiros do interior e do exterior. DesdeAgosto que desembarcavam no Rio de janeirorepresentantes diplomaticos de nações amigas.Até 6 de Setembro estavam acreditados juntodo Presidente da Republica elo Brasil os De-legados Especiaes da Alemanha, Argentina.

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Belgica. Bolivia. Bulgaria. Canadá, Chile,China, Colombia, Cuba, Dinamarca. EstadosUnidos da America do Norte, Equador, Espa-nha, Gran-Bretanha. Iralia, Japão, México, Ni-caragua. Noruega, Paraguay, Perú. Portugal.S. Salvador, Suecia, Suissa, Tcheco-Slova-quia. e Uruguay ; assim como o PontificadoRomano.

Foi perante esses diplomatas, e mais es-trangeiros e brasileiros distintos que o Sr.Presidente da Republica, no dia 7 de Setem-bro de 1922, depois de passar Revista ástropas em Parada, assistio na Praça Deodoroao desfile das mesmas, vendo-se em primeirologar os contingentes estrangeiros em frater-nal solidariedade com as forças nacionaes :

Marinheiros e soldados navaes dos encou-raçados norte-americanos ~Maryland e Nevada;

Marinheiros japonezes dos encouraçadosItuate, Isuno e Aeuma ;

Marinheiros ingleses dos encouraçadosH ood e Repulse "

Marinheiros argentinos do encouraçadoMoreno;

Marinheiros Uruguayos do cruzador Uru-guay;

Marinheiros portugueses dos cruzadoresRepublica e Carvalho Araujo; e

Colégio Militar de Mexico ,

Cada bandeira era precedida da suabanclade musica. Era um extraordinario e emocio-nante espectaculo ,

Depois desfilaram as forças brasileiras:Brigada de Marinha, composta da Escola

Naval, Marinheiros Nacionaes, Reserva Naval,Tiro Naval de Santos e Batalhão Naval;

Companhia de Carros de Assalto ; Colé-gio Militar do Rio de Janeiro; I." Brigaáa di':Infantaria - I,o e 2.° Regimentos de Infan-taria, I,a Companhia de Metralhadoras; 2.aBrigada de Infantaria - 3.° Regimento de In-fantaria, 3.a Companhia de Metralhadoras Pe-sadas, 1.0, 2.° e 3.° batalhões de caçadores, 1..Batalhão de Engenharia; I,a Brigada de Ar-tilharia - 1.0 e 5.° grupos de Artilharia Mon-tada, 1.0 Regimento de Artilharia de Monta-nha, 15.°. Regimento de Cavalaria Independen-te. Policia Militar. Total 20.000 homens.

A Parada terminou por uma carga de ca-valaria de impressionante efeito.

*Regressando da Parada o Sr. Presidente

da Republica assisti o na Prefeitura ao patrio-

tíco Juramento da Bandeira pelos alunos dasescolas publicas municipaes.

*

Ás 14 horas o Sr. Presidente recebeu emPalacio os cumprimentos das Embaixadas Es-trangeiras em missão especial, Corpo Diplo-matico, Cornissarios Geraes, membros do Con-gresso Nacional, oficiaes de terra e mar. ealto funcionalismo. Era a segunda solenidadeimportante do dia.

Nesta ocasião Monsenhor Francisco Che-rubini, representante de S. S. o Papa Pio XI,e na qualidade de Decano dos Embaixadoresem missão especial, assim falou :

"Senhor Presidente! - É com a maiorsatisfação que dirijo a palavra a V. Ex. nestedia, que será inscripto em letras de ouro nosanaes do Brasil ; e é para mim uma honra todaparticular ser junto a V. Ex., nesta solenida-de. o interprete dos meus ilustres colégas, em-baixadores em missão especial. Considerocomo a nota mais agradavel de minha missãoa de trazer, antes de tudo. as mais respeitosashomenagens ao ilustre Presidente, que, peloseu saber, sua actividade, sua habilidade, seudevotamento, dirige o povo brasileiro para osseus gloriosos destinos.

Afirmo - gloriosos destinos; taes, comefeito, foram sempre os destinos deste grandepovo depois da primeira pagina, que escreveuna historia. até a época mais gloriosa ainda dasua independencia ; deste povo que atingio avirilidade sem passar pela infancia.

É um facto conhecido, que em todos ostempos os povos, que não gozaram de liber-dade, aspiraram sempre a urna existencia nacio-nal independente e trabalharam com todas assuas forças para a conquistar. Mas, ah!quanto sangue, quantas lagrimas, não custouessa independencia !

Felizmente não aconteceu assim para aN ação Brasileira em 1822.

Porque o povo português, que lhe desco-briu o genio e cultivou a nobreza, a considerouantes como filha do que coionia .

Elle lhe deu a educação moral, social, re-ligiosa ; desenvolveu suas excelentes disposi-ções para as artes, sciencias, comercio; emuma palavra, preparou-a para o dia da eman-cipação, para o dia da Independencia.

De facto, Sr. Presidente, quando, ásmargens do Ypiranga ecoou o grito da liber-dade, esta grande Nação obtinha a sua inde-pendencia sem derramar uma gota de sangue,

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RIO DE JANEIRO

nem mesmo uma lagrima; porque era osangue português que csrria nas veias dojovem e nobre principe que acabava de pronun-ciar a frase historica: "Independencia ouMorte !"

Desde então a generosa' Nação Brasileira,tão jovem ainda. se lançava sobre o caminhoda gloria ou mesmo de todas as glorias.

De José Bonifacio ao Barão do Rio Bran-to, é toda uma série de passagens ilustres, qUE

revelam, ao mundo inteiro o desenvolvimentointelectual e ascendente moral, desta nobreNação

A Histeria repetiráá Posteridade as pagi-nas sublimes, onde estão escritos em caracte-res indeleveis os feitos gloriosos do nobre povobrasileiro:

O grande gesto da Princeza Izabel, pro-clamando a abolição da escravatura, fez co-ríhecer os sentimentos delicados da civilizaçãoe do progresso deste paiz ,

Na Conferencia da Paz, em Haya, a dele-gação brasileira chamou sobre' si a atençãouniversal; e o nome do eminente jurisconsultoRuy Barbosa será respeitado tanto pelo histo-riador como pelo homem de Estado. E. mConferencia de Paris, Sr. Presidente, o, tactoe a habilidade com que V: Ex. dirigiu a delega-ção do Brasil grangearam para V_ Ex . asmaiores sympatias do estrangeiro, e um logarde maior realce. É, portanto, justo, Sr . Presi-dente, que todas as nações estejam aqui repre-sentadas nas festas do Centenario da Indepen-dencia de sua nobre Patria, e lhe tenham tra-zido o tributo de sua admiração,

Sr. Presidente! E'm nome de Sua San-tida-de o Papa Pio XI. em nome dos demaisaugustos soberanos e chefes de. Estado, quetemos a honra, de aqui representar, nós nos as-sociamos com alegria ás. festas, que recordamdias tão gloriosos par;! o Brasil, e ao mesmotempo formulamos votos 'os mais sinceros pelaprosperidade, cada vez maior, para a felicidadesempre' mais completa, deste nobre paiz.

E, se bem que é da união dos espíritos queresultam os grandes beneficios, peço a Deusrealiza-Ios sempre com vantagem, removendotudo que lhe possa· servir de obstaculo.

Que o Cruzeiro do Sul. que brilha sobreesta terra privilegiada, possa, para o futuro,como no passado não a iluminar senão decousas nobres, generosas e admiraveis ."

*Ás 16 horas Ioi solenemente inaugurada

a Exposição. Era a terceira grande solenidadecomemorativa.

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Na presença dos representantes de naçõesamigas, Ministerio, militares, magistrados, pro-fessores, senhoras, oomerciantes, industriaes,congressistas, logo que o Sr. Presidente daR'epublica declarou aberta a Exposição, o Sr.Ministro do Interior proferio o seguinte dis-curso :

"Sr. Presidente! Srs , Embaixadores eEnviados das Nações amigas i Minhas Senho-ras ! Meus Senhores!

O começo do Seculo XX é a época fes-tiva da America Latina, como o começo do se-culo dezenove é a época dolorosa das suas lutaspela independencia e pela liberdade.

Dir-se-ia que ela passou cem anos acrescer e a robustecer-se, e agora celebra a suamaioridade no meio das nações mais velhas domundo, gentilmente associadas a essa come-moração

É tão longa a idade dos povos, que menosde um sec}110 parece apenas a aelolescencia, 9começo da juventude.

O Brasil já teria chegado áqueia fase elavida, se tivesse querido contar a sua entradano convivio internacional, desde 1815, quando.unido _a Portugal e Algarves, passou a fazerparte do Reino-Unido e. aqui se constitui o aséde do governo. comum.

Ao fim de seis anos, porem,. foi interrom-pida a cordialidade existente entre os membrosda União, e começou a luta porfiada, donderesultou separarem-se pelo interesse particularde cada um, para depois se encontrarem irma-nados 110 futuro pelos destinos identicos damesma origem e as tendencias iguaes damesma civilização.

O Brasil quiz .mostrar ao mundo comousou da liberdade nesse seculo que passou.

Recebendo a visita de Chefes de Estados.de Embaixadores e Enviados das NaçõesAmigas. quiz dizer-lhes, pOr factos, como tra-balhou e quanto produzio ; como foi digno elaindependencia que logrou e deixar julgar semerece, ainda mais, a confiança dos que espe-ram do seu porvir.

Nenhuma linguagem falará melhor do queo certame que hoje inauguramos .

Ele não se realiza como pretexto parafestins, mas como demonstração de esforçosextraor dinarios de .inteligencia consumidosnum seculo de actividade, em quasi todos osramos de trabalho.

Haverá aí mostras desse passado.Umas servirão para acentuar como os

povos elevem -guardar certos patrirnonios lega-cios por seus maiores, exemplos do seu bomgosto e da sua personalidade tecnica ; outras

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servirão para abrir os olhos aos que se aferramá rotina e hão de constituir, pela comparaçãocom os produtos aperfeiçoados aqui expostos,benefico estimulo para melhorar e progredir.

Esse ultimo efeito ha de vir, sobretudo, dalição que nos trazem os povos mais adiantadosdo mundo. cultores das maravilhas de todogenero que facilitaram o bem estar dos homense concorreram para leva-Ios, com rapidez. deum a outro extremo da Terra, aproximando-osreunindo-os, tornando possivel conhecerem-semelhor. para um dia. que praza aos céos játenha chegado, abandonarem as suas descon-fianças e prevenções, geradoras de males, e en-frentarem uns aos outros, somente C01110 hoje,nestes campos de combate do pensamento edo trabalho. donde só resultam beneficios paraa humanidade e brilho para a civilização.

Em nome do Governo da Republica; ag-ra-deço aos Chefes de Estados; Embaixadores eEnviados das Nações Amigas, a honra qllefazem ao Brasil de realçar com a sua presen-ça a solenidade deste acto ; e a~s represen-tantes da indústria e de todas as mani festa-cões do trahalho v.nclos de tão longe o con-curso que nos trouxeram para o bom exito daExposição comemorativa do primeiro Ceute-nario da Independencia Politica do Brasil".

*

Á noite houve espectaculo sunrptuoso noTeatro "Municipal. com uma assistencia bri-lhantissima ele convidados do Sr. Presidenteda Republica. sendo cantada a opera Il Gua-ran:y, inspiracla composição do Maestro bra-sileiro Antonio Carlos Gomes.

Continuou por dias a comemoração fes-tiva do Centenario da Independencia, reali-zando-se consecutivamente solenidades e re-uniões cuja enumeração é dificil fazer completa:

Missa Campal no campo que se estendeonde foi a Praia do Russell ;

Te Deum, na Catedral Arquiepiscopal :Banquete oferecido pelo Presidente da

Republica do Brasil aos chefes das missõesespeciaes; e Recepção concorridissima, emPalacio ;

Revista Naval.O Secretario de Estado da Republica

-Ios Estados Unidas da América do Norteassistio ao lançamento da pedra fundamentaldo monumento que o seu paiz oferece aoBrasil.

Houve na Embaixada norte-americanaRecepção ás altas autoridades, Corpo Diplo-matico, delegações estrangeiras 'e SociedadeBrasileira.

A bordo do Mary/and foi pela Delegaçãonorte-americana oferecido 11m almoço ás altasautoridades brasileiras. embaixadores espe-ciaes e Corpo Diplomatico .

A União cios Empregados no Comercioreunio-se para ouvir a Oração Civica deCoelho Neno .

O Embaixador cio l\lexico ofereceu aoBrasil a imponente estátua de Cuhautemoc,inaugurando-a no local em que está.

Houve mais

Recepção na Embaixada cio Chile;Recepção e Baile na Embaixada da In-

glaterra ; "Baile a bordo cio encouracado H ood ,Banquete da Embaixada Especial da Rc-

publica Argentina em homeriagem ao Sr.Presidente da Republica do Brasil ;

Sessão solene da Universidade do Rio deJaneiro em homenagem aos delegados uni ver-sitarios nossos hospedes ;

Banquete das delegações municipaes deBuenos Aires. Montevideo, Córdoba, Santiagoe Valparaiso ao Conselho Municipal cio Riode Janeiro •.

Recepção do Embaixador Francês aos di-plomatas presentes no Rio de Janeiro, e áSociedade brasileira ;

Almoço oferecido pela Marmha Brasi-leira á oficialidade dos navios de guerra surtosna Baía de Guanabara ;

Recepção e Baile oferecido ao Governoe á Sociedade Brasileira pelo "EmbaixadorExtraordinario da Belgica ;

Jantar oferecido pelo Ministro do Japãoás autoridades brasileiras, embaixadores espe-ciaes e Corpo Diplomatico ;

Baile oferecido pelo nosso Ministro dasRelações Exteriores ás missões especiaes eao Corpo Diplomatico ;

Cardo! Part» oferecido pelo CongressoNacional Brasileiro aos congressistas e par-lamentares estrangeiros ;

Banquete em caracter intimo do Sr. Pre-sidente da Republica ao Embaixador Espe-cial da Santa Sé ;

Gardcn Party oferecida pelo Dr. Linneude Paula Machado, Presidente do J ockey

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RIO DE JANEI~O

Club do Rio de Janeiro á Directoria do JockeyClub de Buenos Aires ;

Sessão especial do Congresso Nacionalpara votação de uma Moção Cc ngratulatoria ;

Recepção oferecida pelo Presidente doBrasil á Sociedade Carioca em homenagem aoPresidente de Portugal ;

Parada Infantil, desfilando pela AvenidaRio Branco, militarizados, 4.600 alunos di'.institutos e colégios oficiaes e particulares, es-coteiros, e patronatos agricolas ;

Corridas, nos hipodromos do Derby to ~:JJockey Club ; Festa Veneziana. na Enseadade Botafogo ; exposições agrícola e pecuaria ;Olimpiadas; grandes fogos de artificio emvarios pontos da Cidade.

Enriquecendo o programa comemorativo,reuniram-se no Rio de Janeiro as seguintescolectividades, celebrando sessões regularescum variado e sempre grande numero demembros vindos de toda parte :

CongressoCongresso

do Brasil ;Congresso Americano de Expansão Ecoe

nornica e Ensino Comercial ;Congresso Brasileiro do Carvão ;Congresso Brasileiro de Ensino Secunda-

TIO e SuperiorCongressoCongressoCongressoCongressoCongresso

cundarias ;CongressoCongressoCongressoCongressoCongressoCongresso

canistas ;Congresso Internacional de Engenharia;Congresso Internacional de Febre Aftosa :Congresso Internacional de Historia Ó

America;CongressoCongresso

cuaria ;Congresso de Operarios em r abricas de

Tecidos no Brasil ;Congresso Nacional de Praticos (Me-

dicos ) ;Congresso de Protecção e Assistencia á

Infancia (com Inauguração do Museu da Iri-fancia fundado pelo Dr. Moncorvo) ;

Americano da Criança ,das Associações Comerciaes

Brasileiro de Esperanto ;Brasileiro de Farrnacia :Brasileiro de Quimica; ,de Estradas de Rodagem ;de Estudantes de Escolas Se-

Carmelitano Nacional ;Espírita Internacional ;Eucaristico ;Ferro- Viario Sul Americano'de Inspectores Agricolas; ,

Internacinonal de Ameri-

Juridico ;Nacional de Agricultura e Pe-

18-3

Congresso Regional de Igrejas Evarrge-licas ;

Conferencia Americana da Lepra;Conferencia Brasileira de Mulheres;Conferencia do Ensino Prirnario ;Conferencia Internacional Algodoeira,

** *

Verdadeiro acontecimento, como o Iôra,dois anos atrás, a vinda do Rei Alberto, di!

Belgica, foi a visita do Presidente da Repu-blica de Portugal, Sr. Dr. Antonio José deAlmeida.

Não lhe foi possivel estar aqui no dia 7,mas chegou no dia 17,. havendo de bordodo Porto que o transportava, desferido, pelotelegrafo sem fio, esta Mensagem que logopenetrou no coração do povo brasileiro:

"Ao entrar na baía de Guanabara, a me-lhor baía do mundo tenho a honra de saudaro Brasil. uma das mais possantes e formosaspatnas que tem existido sobre a Terra. Venhovisitar este paiz de maravilhas com a tremulaemoção de quem pratica um acto religioso,em que o espírito se sente arrebatado paraalem do espaço e do tempo, contemplandoabsorto, o esforço sobr-e-humano das - g-era-ções predestinadas. Colaboradores ela mesmaobra de civilização. tão juntos ternos traba-lhado, brasileiros e portugueses, que parasempre ficámos Irmãos; irmãos, mais nosaproximamos ainda no momento do centena-rio da vossa independencia, em que as duaspatrias como que suspendem o vôo na sequen-cia de um destino eterno, para se unirem soba asa da sua tradição ancestral. como duasaguias oriundas dos cerros da Lusitania quequizessem sentir por um instante o calor eagasalho comum. Homem simples e modesto,figura transitaria da vida publica do meu paiz.por mim, brasileiros, nada vos posso trazerque tenha valor. Mas no meu coração con-,iuzo até' vós um sentimento imorredouro queé o amor dos portugueses á vossa patria aco-lhedora e resplandecente, Patria fecunda e ge-nerosa onde, como se Iôra na sua, devotadosá terra e respeitando as leis, trabalham hon-radamente tantos filhos queridos de Portugal.E mais, ainda, se é possível, do que o proprioorgulho de ser chefe do grande povo que,outrora, fez uma patética criação de mundos,experimento a imerecida fortuna de ser omensageiro da fraternidade inviolada que a

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minha terra sente pela vossa terra admiravel ,Aguas brasileiras, 16 de setembro de 1922. -'ANTONIO JOSÉ DE ALMEIDA."

A bordo do Porto chegou pouco depoiseste radiograma:

"Rio de Janeiro. 16 de Setembro de 1922Tenho grande prazer em apresentar a

V. Ex.", Senhor Presidente da RepubIicaPortuguesa, os cumprimentos de boas vindas

A estada do Presidente de Portugal noRio de Janeiro. entre 17 e 27 de Setembro de1922 foi uma sucessão quotidiana de de-monstrações afectuosas , S. Ex.", -poude apre-ciar o espirito fraternal das duas nacionalida-des. a alta cultura elo povo que descendia daradiante cultura lusiada, e o grande esplendorda metrópole, que, ha 355 anos, portuguesesf nndaram nesta parte ela America. S. Ex."reconheceu o trabalho dos ultimes cem anosde viela nacional. a obra genui'namente brasi-)eira elo ultimo quarto de seculo trans íorrnau-

OR. EPITACIO PESSOA

e as saudações muito cordiaes do povo doBrasil. no momento em que o Porto. nave-gando em aguas brasileiras, se aproxima destaCapital. que espera V. Ex." com demonstra-ções da mais viva simpatia e cordialidade. --EPITACIO PESSOA. JJ

o desembarque do Presidente ele Por-tugal. recebido pelo Presidente do Brasil, numDomingo luminoso, passando por deante dasforças militares que em duas alas guarnece-ram o trajecto desde o Arsenal de Marinhaaté o Palacio Guanabara, e sob as aclamaçõesdo povo que afluira para vê-Io e sauda-lo, foiuma nota galantissima que brilhou nos brilhosfestivos da comemoração do Centena rio .

do. saneando. embelezando a Capital do Brasil.() Presidente ele Portugal con f essou-

'se deslumbrado em discursos calorosos. elo-quentissimos que de improviso proferio naFesta Popular da Exposição. no Grernio Rc-puhlicano Português. no Supremo TribunalFederal. no Gabinete Português de Leitura,na Sociedade Portuguesa de Beneficencia. naAcademia Nacional de Medicina, na CamaraPortuguesa de Comercio. no Congresso Legis-lativo, na Escola .l\aval. no Banquete que lheofereceu o Presidente do Brasil.

Estão publicados alguns «lêles . O quefoi pronunciado no Congresso mostra bem agrandeza e a formosura do orador ; mas re-produzirei aqui somente o da pragmática. res-pondendo á saudacâo do Presidente do Brasil

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RIO DE JANEIRO

no banquete que lhe ofereceu em Palacio nodia seguinte ao da chegada. E como a sauda-ção é tambem um primor de eloquencia cor-dial. estampo gostosamente as duas orações.

Assim. falou o Dr. Epitacio Pessoa .

"Sr. Presiclente!A visita de V. Ex.a a esta Capital, no

momento em que o Brasil comemora o pri-meiro centenario de sua independencia poli-tica, tem tão alta signi ficação, e importancia

185

se, mesmo em 1822. tantos portugueses denascimento se bateram ao laelo dos brasileirospela obra da Independencia ?

Não ! A guerra da Independencia não foiuma luta de brasileiros contra portugueses.mas de brasileiros e portugueses. aliados entresi, contra a orientação retrogracla e impoliticadas Côrtes de Lisboa, empenhadas em de~-truir a obra que varios séculos haviam já con-solidado - a unidade nacional dentro daimensa vastidão do nosso territorio.

Ninguem mais trabalhou pela independen-

DR. ANTONIO JOSE: DE ALMEIDA

transcendente, que bem justifica a profundacomoção com que é recebida por todos osbrasileiros.

Espíritos menos observadores poderão.talvez. acreditar que. nessa comemoração. áqual a presença de V. Ex." dá excepcional re-levo. se dissimula o jubilo nacional pela vito-ria que os brasileiros alcançaram contra os por-tugueses ern 1822. 1.]m exame menos super-ficial do acontecimento. porem. logo dissipao equivoco. e mostra a toda a luz que o queestamos festejando. neste momento histor ico.é antes uma data da raça.

Porque não haveria Portugal de come-morar hoje conosco a emancipação politica 'eleU111 paiz que elle descobrio, povoou e defen-deu contra. a' cobiça cios invasores? Porque,

era cio Brasil cio que D. João VI que. nosseus treze anos de administração. cuidou exa-ctarnente de preparar o paiz para o Governode s: mesmo. abrindo-lhe os portos. dando-lhe arte. escolas. academias. bibliotécas. im-prensa: liberdade de comercio e ele indnstria,meios de transporte. vias de comunicação.exercito. armada. cultura. em uma palavra.tudo quanto podia conduzir-nos ávida' desoberania. Fe-lo C0111 o proposito declarado efirme de formar. no Brasil. o grande imper iodo futuro. Quando êle partio, em 1821, já onosso paiz tinha seis anos de vida como Reino.com a sua politica, a sua justiça. a sua admi-nistração e o seu credo religioso' - condi-ções essenciaes á formação da nova nacionali-dade. Essa formação já o velho monarca a

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previa, tanto que, ao deixar as nossas plagas,aconselhava o filho a pôr na cabeça a novacorôa antes que o fizesse qualquer aven-tureiro.

Assim, pois, o grito do Ypiranga - dadopelo filho ás margens dó ribeirão paulista -nada mais foi do que a consequencia logicados actos do pai. Esse grito, partido da almaportuguesa de D. Pedro, com aplausos deportugueses e filhos de portugueses, não foinem podia ser um brado de guerra contra Po,-'tugal, mas um protesto vibrante contra osdesatinos das Côrtes de Lisboa.

Fez-se a Indepenrieneia ,As relações entre os dous povos ou, me-

lhor, entre os dous ramos do mesmo pOYO.que a força irresistivel da evolução naturaldesunira sem separar, ou eu] os corpos sepa-rara sem as almas desunir, nem foram, a bemdizer. interrompidas. Os portugueses que fi-caram conosco não se sentiram, em 1822C01110 não se sentem hoje, em terra estranha.As forças mandadas de Lisboa pelas Côrteshostis, não tiveram contra si apenas os bra-sileiros feridos no seu orgulho, mas tambemos portugueses liberaes, indignados com a di-ctadura colectiva dos deputados da Rege-neração.

Portugal. pelo seu Rei, preparara o Brasilpara a Independencia. como o pae 'prepara ofilho para a maioridade. O 7 de Setembro de1822 é; pois, uma data luso-brasileira, é umadata da Riaça. E, assim, nada mais naturalque os dous povos,' unidos outrora por esseespirito de justiça e de liberdade, ele progressoe de empreendimentos ousados que levaramos portugueses ao descobrimento e impeliramos brasileiros á Independencia, se reunam hojetambem, com a amizade e o carinho de sempre,para festejarem juntos um aconteciniento. quea ambos deve encher ele orgulho.

É. portanto, Sr. Presidente, com o maisintimo regosijo que, em nome da Nação Brasi-leira. e no meu proprio nome, saudo ao glo-rioso Portugal, na pessoa de V. Ex.", em eu iahonra levanto a minha taça." '

Assim respondeu o Sr. Dr. AntanioJ~sé de Almeida :

"Sr. Presidente!A emancipação politica ela grande Patria

que é hoje o Brasil foi um facto espontaneo enormal, consequencia de uma evolução lnexo-ravel, que nenhuma força seria capaz deimpedir'.

A Independencia do Brasil não data dogrito de Ypiranga, como á primeira vistapodia supor-se; ela partio de mais longe,porque se vinha formando lentamente naconsciencia nacional, visto que, de facto, oBrasil, apesar de colonia, foi desde cedo nação,tendo maio condições de vida, propria do quetantos outros povos que, ao longo da Histeria,com aparencia de independentes, mais nãoforam do que organismos subordinados a'outros mais poderosos que os dominaram.

O nervosismo, mais feito, afinal, de deso-lação e despeito do que de má vontade. que.em Portugal, se manifestou logo após o actodefinitivo da Independencia, desapareceu semdemora, porque aqueles, que lá lutavam contral111'd f orrna de governo retrograda e reaciona-ria. compreenderam que se, para êles, afórmula da propria independencia individuale colectiva era a revolução liberal, aqui, noBrasil, a revolta contra a mesma opressão sópod.a revestir um aspecto - o da Inde-pendencia ,

Como V. Ex.", acaba de dizer, com firmeexactidâo e escrupulosa verdade, Portugal des-cobria, povoou e defendeu contra a cobiça, dosestrangeiros o vasto territorio do Brasil.

O Brasil independente de hoje tem poisque agradecer a Portugal o facto de êle lheter legado. intacto, á custa de torrentes elesangue e torrentes de lagrimas;' tamanho t

tão rico património. Mas Portugal tem queagradecer ao Brasil independente de hoje aenergia, a bravura, a inteligencia e o amorda Raça com que elle tem sustentado, au-mentando-a, desenvolvendo-a e dourando-a deuma maior majestade e heleza, a sua obra. quefoi a maior gloria do seu grande passado.

Creio que estamos pagos perante aHistoria.

N enhurn povo deve menosprezar as hon-radas origens que teve; e 'nenhum povo temo dire.to de olhar com resentimento ou tris-teza sequer a separação do seu todo daquellaparte que, no exacto cumprimento dos desti-nos nístcricos, urna vez sentio em si a acçâoele forças indomavei"l que a levaram ao legiti-mo afastamento.

É esse o motivo que determinou V. Ex.'a render, neste momento, ,lt111 sentido culto aPortugal. É essa a razão que me impele amim, a prestar profunda e comovida homena-gem ao Brasil.

V. Ex." o disse ~ o Sete de Setembro f:uma data luso-brasileira; e celebra-lo é reali-zar uma festa da Raça.

Em verdade. nesta data ha gloria quechegue para todos. Sómente eu. Senhor Presi-dente Dr. Epitac:o Pessoa. <le~o declarar

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francamente que não vim aqui com man-dato da minha Patria para tomar a porção degloria que lhe pertence. Eu vim aqui no ex-clusivo intuito de reconhecer aquella outra, ebem grande ela é, que cabe em partilhaao Brasil.

E nesta missão de que venho investido, eque teve ontem tão auspicioso inicio na ma-neira inexoedivel de entusiasmo. e carinhoCOIll que V. Ex.", o seu governo, as autorida-eles civis e militares e o povo quizeram recc-her-rne, ao entrar nesta formosa Cidade, estoureconhecendo por mim proprio, o que já sabiapor depoimentos alheios, isto ~, que o Brasiltem sabido crear uma civilização propria queé. em parte. feita da velha tradição portuguesa,em parte devida ao forte e sadio ambienteamericano ; mas. sobretudo, é o resultado does forço intrepido e inteligente dos homens re-solutos que o povoam. e na verdade se for-maram um estado de alma colectivo, poderosoe resplandecente, a que, com justeza se devechamar brasilidade. - força nova, serena cousada que está intervindo eficazmente nosdestinos do mundo.

Brasil e Portugal são duas Patrias irmãs,cada uma vivendo em sua casa, tendo um pas-sado até ha cem anos comum, e um futuro, emmuitos pontos, diverso. mas, em tantos outrosequivalente.

Os brasileiros sentem-se em Portugal comona sua Patria.

Os portugueses. em vastos nucleos de tra-balhadores, sentem-se no Brasil, como na suapropria terra. As mesmas instituições repu-blicanas. embora sob aspecto diferente, gover-nam e .dirigem as duas Nações, que têm dadoprovas de amar sinceramente a Democracia.

Urna lingua incomparavel que retine omelhor ouro de linguagem humana, e dispõede um poder plastico sem igual, serve - ma-ravilhoso instrumento ele civilização e solida-riedade - os elois povos que se sentempresos nas espiras desse verbo quasi divino.

Que outra cousa é preciso para que êlesse auxiliem sempre e se entendam cada vezmais? Creio que cousa nenhuma, já que osentimento fraterno que enleia os seus cora-ções, perenemente. alvoroçados' pela estimacomum. é tão forte, que em caso nenhum avontade dos homens o pode quebrar. E onosso encontro aqui, Senhor Presidente, é um-Icquente testemunho ·elessaesplendida rea-lidade.

Senhor Presidente !Em nome da Nação Portuguesa, e no

rneu proprio nome. agradeço a V. Ex.", e aoBrasil, a entusiástica e comovida recepção queme fizeram, e ele que guardarei perdurável

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recordação; e erguendo a minha taça emhonra a V. Ex. a, e do grande povo de que échefe eminente, faço votos sinceros pelas suasmutuas felicidades,"

* *

A Exposição completou-se demorada-mente. Os pavilhões estrangeiros que margea-vam a Avenida das Nações, e que. tambem, seergueram. atraentes, na P-raça Mauá. atesta-ram o já oonhecido poder industrial e capaci-dade creadora de nações europeas. asiaticas l.

americanas ; assim como os pavilhões nacio-naes afirmaram possibilidades surpreendentesda nossa Industria ; e as riquezas naturaes düBrasi'l foram brilhantemente expostas

O Pavilhão de Estatistica agraelava e em-polgava ; ali o visitante era, por meio de sim-bolos e de algarismos, levado ao conhecimentode realidades que ignorava.

Imigração, nacionalidades, nascimentos,casamentos, obitos. instrução, agricultura. in-dustria, importação, exportação, estatistica pe-cuaria, tudo ali se mostrava impressionante-mente; sob todos os pontos de vista o Brasilfoi estudado e exposto aos olhos do visitante.

De lá transporto para aqui somente algunsalgarismos referentes ao Rio de J aneiro , Sãodo recenseamento de 1920 :

População: 1.157.873 individuos; 917.481brasileiros, 239.129 estrangeiros, sendo 172.338portugueses; 21. 929 italianos; 18.221 espa-nhoes ; 6.121 arabes ; 3.538 franceses; 2.885alemães; 2.057 ingleses; 1.370 argentinos,1 .022 norte-americanos ...

Podem-se distinguir, ainda, 598.307 adul-tos masculinos; 559.566 mulheres adultas;540. 877 brasilei~os letrados; 200.925 analfa-betos ! 163.086 estrangeiros letrados e 73.150analfabetos !

Esta secção da Exposição foi organisadapelo Director Geral de Estatistica, Dr. Bu-lhões Carvalho.

*Notáveis concertos se realizaram no Pa-

lacio das Festas, interior e exteriormente. Aconcurrencia ele visitantes á Exposição. sempregrande, mantinha cheios de admiradores ospavilhões ela Argentina, America elo Norte.Inglaterra. México, Noruega, Tcheco-Slova-quia. Portugal. Japão, Italia, Belgica, França- cada qual com suas especialidades, seu cunho

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caracteristico, seus primores manufactureiros,seus engenhos, suas utilidades. Fizeram-se co-nhecidos muitos artigos novos, houve intercam-bio de relações comerciaes. Lucrou o nossomercado, lucraram os mercados estrangeiros,todos alargando a esfera de suas transacções. Eo fino espirito de quem sabe gozar as belas ar-tes extasiou-se com a mobiliario e tapeçaria doPavilhão de Honra da França, com os for-mosos quadros e soberba prataria artística dePortugal e com as delicadas esculturas italia-nas. Todos os produtos da prodigiosa activi-dade humana apareceram neste certame faus-

toso que pela primeira vez se abrio em cidadebrasileira.

Ao estandarte da lndependencia que desfraldámos em 1822 trouxeram em 1922 seuconvivio afectuoso os lindos estandartes detantas nações laboriosas. Oxalá que esta har-monia. esta associação de esforços nunca des-faleçam ; que as nacionalidades que nos visi-taram sempre nos estimem como nós- as pre-zamos, e sempre, todas as bandeiras se encon-trem reunidas para o Progresso, c para .a feli-cidade humana.